UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA Laís Giuliani Felipetto Perfil populacional e sanitário de cães e gatos associado ao perfil socioeconômico dos proprietários em áreas assistidas por Estratégias de Saúde da Família Santa Maria, RS, Brasil 2018
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA
Laís Giuliani Felipetto
Perfil populacional e sanitário de cães e gatos associado ao perfil
socioeconômico dos proprietários em áreas assistidas por
Estratégias de Saúde da Família
Santa Maria, RS, Brasil
2018
2
Laís Giuliani Felipetto
PERFIL POPULACIONAL E SANITÁRIO DE CÃES E GATOS ASSOCIADO AO
PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS PROPRIETÁRIOS EM ÁREAS ASSISTIDAS
POR ESTRATÉGIAS DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
do Programa de Pós-Graduação em Medicina
Veterinária, Área de Concentração em
Sanidade e Reprodução Animal, da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM,
RS), como requisito parcial para obtenção do
grau de Mestre em Medicina Veterinária
Orientador: Luís Antônio Sangioni
Santa Maria, RS
2018
3
Laís Giuliani Felipetto
PERFIL POPULACIONAL E SANITÁRIO DE CÃES E GATOS ASSOCIADO AO
PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS PROPRIETÁRIOS EM ÁREAS ASSISTIDAS
POR ESTRATÉGIAS DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
do Programa de Pós-Graduação em Medicina
Veterinária, Área de Concentração em
Sanidade e Reprodução Animal, da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM,
RS), como requisito parcial para obtenção do
grau de Mestre em Medicina Veterinária
Aprovado em: 07 de fevereiro de 2018:
______________________________________
Luís Antônio Sangioni, Dr. (UFSM)
(Presidente/Orientador)
_______________________________________
Alexander Welker Biondo, PhD. (UFPR)
_______________________________________
Gustavo Cauduro Cadore, Dr.
Santa Maria, RS
2018
4
AGRADECIMENTOS
À minha família, ao meu pai Luiz, minha mãe Fátima e meu irmão Marcelo, pelo incentivo,
amor, auxílio financeiro, mates e cafés.. sem vocês nada seria possível.
Ao meu orientador Prof. Luís Antônio Sangioni, pela confiança, paciência, ensinamentos e
ajuda no desenvolvimento desse projeto. Ao meu co-orientador Prof. Eduardo Furtado Flores,
obrigada por acreditar em mim e por sempre ter a palavra certa na hora certa. À Prof.
Fernanda Silveira Flores Vogel, pela amizade, disponibilidade e preocupação nesses 2 anos!
Ao Laboratório de Doenças Parasitárias, meus queridos, vocês foram fundamentais nessa
trajetória, escutando meus choros e preocupações. Obrigada pela amizade e carinho!
Aos amados bolsistas e colaboradores, que aceitaram o desafio de se aventurarem nas áreas
mais distantes tanto em km, como de realidade, do município, o meu muito obrigada! Aprendi
diariamente com cada um e nada seria possível sem a participação de vocês!
Aos agentes de saúde, obrigada pela disponibilidade e pelo auxílio para chegar até a casa dos
entrevistados. Vocês confiaram em mim e me ensinaram muito!
À população, obrigada por me receberem tão bem nas casas, pelos cafés, mates, bolos,
histórias de vida, sonhos compartilhados, reconhecimento e conhecimento repassado. Esses
oito meses de experimento só conseguiram ser mais leves, por causa de vocês, que
iluminaram meus dias e me davam forças para continuar! Todo meu estudo é em prol de
vocês e para vocês!
À Prefeitura de Santa Maria, à Secretária de Saúde, às Estratégias de Saúde da Família e ao
Núcleo de Educação Permanente em Saúde (NEPeS), obrigada por acreditarem no projeto.
Agradecimento em especial ao querido Fabiano, que exportou os dados do programa para que
conseguíssemos realizar a amostragem de domicílios.
Aos meus amigos, feliz de mim, que tenho tantas pessoas especiais, de perto e de longe, das
mais diferentes profissões. Obrigada por escutarem minhas angústias e preocupações, por
compartilharem momentos de descontração regados àquela cervejinha marota na locadora ou
em outros bolichos da vida. Agradeço também aos que me auxiliaram com ideias na formação
do projeto, na aplicação dos questionários, nas análises estatísticas, no georreferenciamento e
no inglês. “A amizade é maior que tudo, já diziam os antigos.”
5
“Um povo não deve ter vergonha de sua
pobreza, e sim de não combatê-la.”
(Péricles)
6
RESUMO
PERFIL POPULACIONAL E SANITÁRIO DE CÃES E GATOS ASSOCIADO AO
PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS PROPRIETÁRIOS EM ÁREAS ASSISTIDAS
POR ESTRATÉGIAS DE SAÚDE DA FAMÍLIA
AUTOR: Laís Giuliani Felipetto
ORIENTADOR: Luís Antônio Sangioni
Aproximadamente 60% dos domicílios brasileiros possuem, ao menos, um animal de
estimação, o que representa 52 e 17 milhões de cães e gatos domiciliados, respectivamente. A
crescente aquisição de pets como animais de companhia, aliada ao fato de conviverem com
seus tutores nos domicílios e frequentarem áreas públicas, aumenta o número de pessoas
expostas ao risco de contrair infecções zoonóticas. O conhecimento acerca da presença,
número e hábitos dos animais, assim como, os cuidados que são dispensados a eles são
fundamentais para o planejamento de estratégias de profilaxia para prevenir ou minimizar
infecções zoonóticas. Este estudo teve por objetivo realizar uma análise situacional de áreas
assistidas por Estratégias de Saúde da Família (ESF) no município de Santa Maria, RS.
Estimou-se o perfil populacional e sanitário dos cães e gatos das residências, associado ao
perfil socioeconômico do entrevistado. A metodologia utilizada foi o emprego de
questionários, em um estudo transversal de base populacional. Para determinar o número de
residências participantes da pesquisa foi realizada uma amostragem estratificada aleatória,
conforme o número de famílias que estavam registradas no Cadastro Domiciliar Analítico de
cada ESF. Os resultados apresentados são os primeiros descritos na literatura com relação aos
animais de companhia em área de ESF no Brasil. Foram investigadas 414 residências, sendo
que 85,5% dos entrevistados declararam ter animais, destes 55,6% possuíam somente cães,
6% somente gatos e 38,4% cães e gatos. O número médio de animais por residência foi de 3
(2,2 cão e 0,8 gato) e o de moradores foi de 3,3; com a proporção de 1 homem para cada 0,9
animal, a proporção apresentada no estudo foi a maior já descrita na literatura nacional e
internacional. Não houve associação significativa entre a quantidade de animais (cão e/ou
gato) e a família ter, em sua composição, crianças ou idosos. A escolaridade do entrevistado e
a renda da família não estavam associadas à quantidade de animais. No entanto, estiveram
associadas a esterilização, ao acompanhamento veterinário, à vacinação, ao tratamento
endoparasiticida e ao tratamento para ectoparasitas dos cães e gatos. Os resultados deste
estudo demonstraram a necessidade de adoção de políticas públicas em saúde e educação que
orientem a população sobre a guarda responsável de animais, a importância do controle
populacional e os riscos de zoonoses. Além disso, a pesquisa reforça a necessidade da
inclusão do médico veterinário na atenção básica em saúde, por meio do Núcleo de Apoio a
Saúde da Família (NASF), a fim de promover a saúde humana e animal, no contexto da saúde
única.
Palavras-chave: população de cães, população de gatos, posse responsável, sanidade, ESF.
7
RESUMO
POPULATION AND HEALTH PROFILE OF DOGS AND CATS ASSOCIATED
WITH THE SOCIOECONOMIC PROFILE OF OWNERS IN AREAS ASSISTED BY
FAMILY HEALTH STRATEGIES.
AUTOR: Laís Giuliani Felipetto
ORIENTADOR: Luís Antônio Sangioni
Approximately 60% of Brazilian households have at least one pet, which represents 52 and 17
million dogs and cats domiciled, respectively. The increasing acquisition of these as pets,
coupled to the fact that they are living with their tutors in homes and attending public areas,
increases the number of people exposed to the risk of contracting zoonotic infections.
Knowledge about the presence, numbers, and habits of animals, as well as the care given to
them, are essential for the planning of prophylaxis strategies to prevent or minimize zoonotic
infections. This study aimed to carry out a situational analysis of areas assisted by Family
Health Strategies (FHS) in the municipality of Santa Maria, RS. The population and health
profile of the dogs and cats of the residences was estimated, associated with the
socioeconomic profile of the interviewee. The methodology used was the use of
questionnaires, in a cross-sectional population-based study. To determine the number of
residences participating in the survey, randomized stratified sampling was performed,
according to the number of families that were registered in the Analytical Household
Registration of each FHS. The results presented are the first described in the literature
regarding pet animals in the FHS area in Brazil. 414 households were investigated, with
85.5% of the respondents reporting having pets, of which 55.6% had only dogs, 6% only cats
and 38.4% dogs and cats. The average number of animals per residence was 3 (2.2 dog and
0.8 cat) and the number of inhabitants was 3.3; with the proportion of 1 man for each 0.9
animal, the proportion presented in the study was the largest already described in the national
and international literature. There was no significant association between the amount of
animals (dog and / or cat) and the family have in their composition children or elderly. The
interviewee's schooling and family income were not associated with the amount of animals.
However, they have been associated with sterilization, veterinary monitoring, vaccination,
endoparasiticidal treatment and treatment for ectoparasites of dogs and cats. The results of
this study show the need to adopt public health policies and education that guide the
population about responsible ownership animal, the importance of population control, and the
risks of zoonoses. In addition, the research reinforces the need to include the veterinarian in
basic health care, through the Family Health Support Center (FHSC), in order to promote
human and animal health in the context of single health.
Keywords: population of dogs, population of cats, responsible ownership, sanity, FHS.
8
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ESF Estratégia de Saúde da Família
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia
MS Ministério da Saúde
NASF Núcleo de Apoio à Saúde da Família
NEPeS Núcleo de Educação Permanente em Saúde
OMS Organização Mundial da Saúde
OPAS Organização Pan-Americana da Saúde
PNS Pesquisa Nacional de Saúde
SIG Sistema de Informação Geográfica
SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificação
UFSM Universidade Federal de Santa Maria
WSPA World Society for the Protection of Animals
9
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 10
2 GEORREFERENCIAMENTO 16
3 CAPÍTULO 1: POPULATION AND HEALTH PROFILE OF DOGS
AND CATS ASSOCIATED WITH THE SOCIOECONOMIC PROFILE
OF OWNERS IN AREAS ASSISTED BY FAMILY HEALTH
STRATEGIES.
19
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 49
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 46
6 ANEXOS
ANEXO A- MAPA DO NÚMERO DE CÃES DOS ENTREVISTADOS
POR ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF) NO MUNICÍPIO DE
SANTA MARIA, RS.
55
ANEXO B- MAPA DO NÚMERO DE GATOS DOS ENTREVISTADOS
POR ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF) NO MUNICÍPIO DE
SANTA MARIA, RS.
56
ANEXO C- MAPA DA ESCOLARIDADE DOS ENTREVISTADOS POR
ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF) NO MUNICÍPIO DE
SANTA MARIA, RS.
57
ANEXO D- MAPA DA RENDA (SALÁRIO MÍNIMO) DOS
ENTREVISTADOS POR ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF)
NO MUNICÍPIO DE SANTA MARIA, RS.
58
10
INTRODUÇÃO
Os animais tem uma grande importância na saúde humana, pois contribuem no
bem-estar físico, mental e social, tornando-se relevantes na promoção da saúde. Em
contrapartida, os humanos são determinantes para a saúde dos animais de companhia, pois
estes, ao serem domésticos, apresentam uma dependência para suprir as suas necessidades
nutricionais, sociais e de habitat (SANTOS BAQUERO, 2015).
Segundo a World Society for the Protection of Animals (WSPA), a posse responsável
implica por parte dos proprietários, no cuidado da saúde física, psicológica e ambiental do
animal, bem como, zelar pelo seu bem-estar, reduzir o potencial de agressão e prevenir riscos
que este possa trazer à comunidade, tanto do ponto de vista individual quanto coletivo (WHO,
2005). Desta forma, a posse responsável compreende a manutenção do animal dentro do
espaço doméstico, concedendo espaço e higiene adequados, evitando a procriação
descontrolada, promovendo a vacinação em tempo oportuno, segurança e proporcionar-lhes
atividades físicas e de interação saudável com as pessoas (DOMINGUES et al., 2013).
Este tema foi abordado e discutido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), após a
constatação dos enormes gastos despendidos pelos países que adotavam o método de captura
e extermínio de animais, sem qualquer resultado prático para o controle da raiva e outras
zoonoses. A partir destas experiências fracassadas, foi elaborado o 8º Relatório do Comitê de
Especialistas em Raiva da OMS, que teve por intenção promover políticas públicas para
controle das zoonoses e da superpopulação dos animais de companhia abandonados nas ruas.
Neste documento foi descrito que o método da captura e extermínio não é mais considerado
eficiente, porque não atuava na raiz do problema que era a questão do excesso de nascimentos
(OMS, 1992).
11
Em 2003, foi organizada no Rio de Janeiro a “Primeira Reunião Latino-Americana de
Especialistas em Posse Responsável de Animais de Companhia e Controle de Populações
Caninas”, que foi promovido pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS)/ OMS e a
WSPA. Este encontro definiu que:
1) Capturar e eliminar animais de companhia são métodos amplamente
utilizados em diversas localidades na América Latina, não sendo práticas eficientes e
éticas e, muito menos, de promoção da posse responsável. Pelo contrário, reforçam a
posse sem responsabilidade. Em vista disso, esses métodos devem ser coibidos;
2) Priorizar a implementação de programas educativos visando promover a
posse responsável de animais o que reduziria, de imediato, a quantidade de cães
abandonados nas ruas e a consequente disseminação de inúmeras zoonoses;
3) Promover esterilização (castração) e vacinação contra raiva;
4) Incentivar a interação homem-animal a fim de diminuir o número e a
gravidade das agressões;
5) Realizar o monitoramento epidemiológico de zoonoses para controlar e
reduzir a sua ocorrência.
Segundo a OMS, o convívio com animais requer cuidados que, se ignorados, podem
trazer consequências indesejadas aos seres humanos como doenças, além de agressões,
acidentes de trânsito e poluição (WHO, 2005). Estima-se que, no mínimo 60% das doenças
infectocontagiosas que acometem os seres humanos e aproximadamente 75% de doenças
novas ou reemergentes em todo o mundo são zoonoses. Isto é resultado da convergência de
fatores, com destaque para as mudanças climáticas, a urbanização crescente, a invasão
humana em zonas selvagens e o estreitamento da relação com seres humanos (USAID, 2009).
O convívio entre animais de companhia e pessoas também inclui uma série de riscos.
Os animais de companhia podem ser reservatórios e transmissores de agentes patogênicos
como vírus, bactérias e parasitas (ACHA; SZYFRES, 2001). Além disso, as mordeduras
provocam danos físicos e emocionais para as vítimas, acarretando elevados custos associados
aos tratamentos (AVMA, 2001). Apesar da menor ocorrência observada nos últimos anos, a
raiva humana continua sendo a zoonose de maior importância para o MS, devido a alta
letalidade e custo na assistência, profilaxia e controle da doença (BRASIL, 2011a). As
mordeduras estão associadas à principal forma de transmissão do vírus da raiva, e o
atendimento antirrábico no Brasil está atualmente entre os três agravos de saúde de maior
12
número de notificações do país, com mais de 500 mil notificações incluídos no Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (SINAN) ao ano (BRASIL, 2016). Também destaca-
se o número de agravos de notificação obrigatória do município de Santa Maria, sendo este
com o maior número de notificações compulsórias. O número elevado de atendimentos
antirrábicos pós-exposição gerou um valor elevado de tratamentos antirrábicos, estes
tratamentos quando realizados de maneira errônea denotam custos desnecessários ao Sistema
Único de Saúde (SUS) (VASCONCELLOS, 2017). Principalmente no contexto de doenças
infecciosas emergentes e reemergentes, há esforços cooperativos interdisciplinares
impulsionando a Saúde Única- “One Health” (Webster et al. 2016, Paige et al. 2014, Coker et
al. 2011).
Da crescente aquisição de cães e gatos como animais de companhia emergem, pelo
menos, dois problemas: aumento do número de animais abandonados e a disseminação de
zoonoses. A interação desses dois elementos potencializa os prejuízos socioambientais,
favorece a disseminação de doenças e a ocorrência de agressões. Logo, afetam diretamente na
saúde pública da população (DOMINGUES et al., 2013). No entanto, o risco de infecção
humana não está limitado apenas ao âmbito doméstico, pois, frequentemente, os cães são
levados para passear em áreas públicas destinadas à recreação humana (CAPUANO;
ROCHA, 2006).
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), demonstrou que 44,3% dos domicílios possuem ao menos um cão, o
equivalente a 28,9 milhões de residências (IBGE, 2015b). Segundo a PNS, estima-se que a
população de cães e gatos em domicílios brasileiros situa-se em torno de 52,2 e 22,1 milhões,
respectivamente. Uma vez que, o número de crianças com até 14 anos é de 44,9 milhões (IBGE,
2015), conclui-se que no Brasil existem mais cães de estimação do que crianças. A taxa de
crescimento de animais domiciliados é de 3% ao ano quando comparado a mais de 1% do crescimento
da população humana brasileira (DRISCOL, 2007). Com isso, o Brasil ocupa o segundo lugar quanto
13
ao número de cães e gatos entre todos os países, perdendo apenas para os Estados Unidos (ABINPET,
2013). Com relação aos efeitos ambientais associados aos animais de companhia, é constatado
que estes realizam a predação de fauna (GALETTI; SAZIMA, 2006), transmissão de doenças
para populações selvagens e contaminação ambiental por excreções e carcaças no ambiente
(CARTER, 2006).
A OMS definiu saúde como o completo bem-estar físico, mental, psicológico e social
e não apenas a ausência de doença ou enfermidade. Esse conceito clássico ainda encontra
resistência, quando se contrapõe com a ideia de que animais podem proporcionar o bem-estar
ou provocar o surgimento de zoonoses (WHO, 2005). A proximidade da relação entre seres
humanos e animais está inter-relacionando à medicina humana e veterinária, uma vez que,
desde 2007, a associação médica americana vem incentivando esta cooperação com o objetivo
de facilitar a detecção, manejo, tratamento e controle de inúmeras zoonoses (RABINOWITZ,
2007).
O novo conceito One World, One Health tem sido contemplado recentemente,
indicando que a comunidade científica tem discutido a ligação entre doenças dos animais,
saúde pública, meio ambiente e tempo. Devido a isso, os países estão fazendo acordos
internacionais, por meio de base jurídica, para tornar a situação sanitária transparente e criar
mecanismos para a detecção precoce de surtos de doenças. O objetivo é estabelecer padrões
sanitários, especialmente no que se refere aos serviços veterinários (OIE, 2016).
O meio ambiente e a saúde não podem mais ser compreendidos separadamente. O
aquecimento global, os animais, a destruição de mananciais, contaminação do solo e da água
atuam no equilíbrio da saúde- doença. Exercer a promoção da saúde, a prevenção de doenças
e agravos, intervir em reservatórios de doenças, transcende competências de uma ou outra
profissão. A saúde, de fato, necessita relevar dos saberes de muitas profissões, tanto as do
campo das ciências biológicas, como fora dela. Materializar estes entendimentos passou a ser
14
função de um conjunto de profissões atuantes no segmento saúde, e, entre elas, a Medicina
Veterinária. (BARCELOS; QUITÉRIO, 2006).
O SUS é reconhecido pela OMS como o maior sistema gratuito e universal do mundo
de saúde pública. De cada dez brasileiros, sete recorrem ao sistema quando há algum
problema de saúde, o que gera mais de 1 bilhão de consultas médicas e mais de 4 bilhões de
procedimentos ambulatoriais, executados anualmente. No entanto, com um investimento de
menos de R$ 120 bilhões, o que, de acordo com a OMS, é considerado bem abaixo da média
mundial (GRAGNOLATI, 2013). O SUS foi criado com o objetivo de ser um sistema público
de saúde de cobertura universal, de corte liberal que se caracteriza por financiamento público
por meio de impostos gerais, universalidade de acesso, gestão pública e prestação de serviços
por setor público e privado, com especificação de obrigações e direitos dos cidadãos e dos
órgãos prestadores de serviços. O modelo liberal tem como fundamento a saúde como direito
humano e como direito constitucional, e tem como objetivo a universalização da atenção à
saúde e o aumento da coesão social. Nele, o sistema público provê uma ampla prestação de
serviços sanitariamente necessários, havendo a possibilidade de os cidadãos adquirirem, no
setor privado, serviços suplementares. Esse modelo é originário do Reino Unido (National
Health Service- NHS), e foi implementado em diferentes países, como Canadá, Dinamarca,
Espanha, Finlândia, Itália, Noruega, Nova Zelândia, Portugal e Suécia (MENDES 2013). O
NHS é reconhecido como um dos sistemas de saúde estatais mais eficientes e acessíveis,
sendo o pioneiro na universalização do acesso a serviços de saúde, assim como na
hierarquização de um sistema de cuidados baseado em evidências e na atenção primária
(STUCKLER, 2015).
A ESF visa a reorganização da atenção básica no País, de acordo com os preceitos do
SUS, tendo como objetivo a expansão, qualificação e consolidação da atenção básica por
favorecer uma reorientação do processo de trabalho com maior potencial de aprofundar os
15
princípios, diretrizes e fundamentos da atenção básica, ampliando a resolutividade e impacto
na situação de saúde das pessoas e coletividades, além de propiciar uma importante relação
custo- efetividade (PORTAL DO DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA, 2018).
As situações de saúde e adoecimento no Brasil são díspares, com isso, existem
doenças definidas pelo perfil epidemiológico da população e outras que, frente à globalização,
emergem e reemergem fazendo com que a população apresente uma pluralidade de agravos à
saúde, também há os problemas relacionados a violência, saúde mental, pobreza, uso abusivo
de drogas lícitas e ilícitas, acidentes externos, entre outros. Essa realidade tão complexa
necessita de um olhar multifacetado, em que diferentes profissionais possam apoiar a inserção
da ESF na rede de serviços, garantindo a continuidade e a integralidade da atenção. Dentro
desse escopo foram criados os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), compostos por
profissionais de diferentes áreas de conhecimento que atuam de maneira integrada com as
Equipes de Saúde da Família, equipes de Atenção Básica para populações específicas e com o
Programa Academia da Saúde (BRASIL, 2011b).
A partir do conceito de saúde única, o Ministério da Saúde (MS), por meio da Portaria
nº 2488, autorizou a inclusão do médico veterinário no NASF, onde reconheceu o profissional
como integrante da equipe de saúde. Compete a ele, conhecer, identificar, dimensionar e
intervir sobre os fatores de risco existentes, de natureza física, química, biológica, ambiental e
social envolvidos com espécies animais e seres humanos em seus espaços/ambiente de
convivência, promovendo, preservando e aprimorando a saúde coletiva (BRASIL, 2011).
Nos termos da Portaria do MS n° 154, existem duas modalidades de NASF: o NASF
1, composto por no mínimo cinco profissionais com formação universitária e o NASF 2
composto por no mínimo três profissionais, sendo que o médico veterinário pode atuar nas
duas modalidades (BRASIL, 2008). A definição dos profissionais que irão compor cada tipo
de NASF é de responsabilidade do gestor municipal, seguindo, entretanto, critérios de
16
prioridade identificados a partir dos dados epidemiológicos, principalmente os indicadores de
saúde, das necessidades locais e da disponibilidade de profissionais de cada uma das
diferentes ocupações (BRASIL, 2009b).
De acordo, com o Conselho Federal de Medicina Veterinária (2013).
A Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária do Conselho Federal de
Medicina Veterinária (CNSPV/CFMV) recomenda uma série de ações que podem
ser desenvolvidas pelo médico veterinário nos territórios atendidos pelo NASF. São
eles: avaliação de fatores de risco à saúde, relativos à interação entre os humanos,
animais e o meio ambiente; prevenção, controle e diagnóstico situacional de riscos
de doenças transmissíveis; educação em saúde com foco na promoção da saúde e na
prevenção e controle de doenças de caráter antropozoonótico e demais riscos
ambientais; ações educativas e de mobilização contínua da comunidade, relativas ao
controle das doenças/agravos na área de abrangência, no uso e manejo adequado do
território com vistas à relação saúde/ambiente; estudos e pesquisas em saúde pública
que favoreçam a territorialidade e a qualificação da atenção; orientações quanto à
qualificação no manejo de resíduos; prevenção e controle de doenças veiculadas por
alimentos; orientação nas respostas às emergências de saúde pública e eventos de
potencial risco sanitário nacional de forma articulada com os setores responsáveis;
identificação e orientações quanto a riscos de contaminação por substâncias tóxicas;
além de ações conjuntas elaboradas e executadas de forma interdisciplinar do campo
de atuação comum de todos os profissionais em apoio às equipes de saúde cobertas
pelo NASF.
Assim, o objetivo do presente trabalho foi realizar uma análise situacional em áreas
assistidas por ESF no município de Santa Maria, RS, estimando a população de cães e gatos
por residência, avaliando a posse responsável e cuidados com os aspectos sanitários dos
animais, associados à análise do perfil socioeconômico da população.
O trabalho teve como metodologia a aplicação de questionários em 16 áreas que eram
assistidas por ESF no município. As residências foram amostradas conforme o número de
famílias registradas no Cadastro Domiciliar Analítico de cada ESF e sorteadas aleatoriamente.
Foram aplicados 414 questionários nas residências, todos os pontos foram georreferenciados
para posterior análise espacial.
2 GEORREFERENCIAMENTO
17
O geoprocessamento é definido como um conjunto de tecnologias de coleta de dados
que produz informação demográfica e contribui para o reconhecimento das condições de risco
no território. Transformou-se em um instrumento válido para auxiliar na construção de mapas
e ajudar no planejamento, monitoramento e na avaliação das ações em saúde (CHIESA,
2002).
Durante a aplicação dos questionários com a população, foi realizada a marcação com
ponto em cada residência dos entrevistados por meio de dois receptores Garmin Etrex 20.
Posteriormente, para a elaboração dos mapas, as variáveis dos questionários foram tabuladas e
inseridas no software QGIS 2.18.15, assim como, os pontos coletados pelos receptores. O
QGIS é um Sistema de Informação Geográfica (SIG) gratuito e licenciado sob a General
Public License (GNU), na qual permite edição, visualização e análise de dados
georreferenciados (RIZZATTI, 2016).
Nesse estudo foram gerados quatro mapas com análise espacial das áreas de ESF. Para
os mapas quantitativos, como o de número de cães e gatos e faixas de renda das famílias dos
entrevistados, foi utilizado o método de círculos proporcionais com cores, que demostrou a
relação de proporcionalidade entre quantidades e foi elaborado com uma variação visual de
mesma propriedade perceptiva (MARTINELLI, 2014, p.64), tendo por base que, determinado
tema apresenta unidades/quantidades. Contudo, para o mapa de escolaridade, utilizou-se uma
manifestação de pontos em uma representação qualitativa- ordenada, isto é, demonstração de
uma ordem (com base nas cores).
Destaca-se que, as áreas de abrangência das ESF estão contidas em um raio de
aproximadamente 1.500 metros da sede da unidade. Nesse sentido, optou-se por adaptar os
mapas, definindo-os com base nos questionários e no limite dos setores censitários do censo
demográfico do IBGE. Desta forma, foi determinada uma área de abrangência de formato
18
poligonal, sendo uma delimitação não oficial, válida somente para este estudo, visto que, um
dos critérios da demarcação geográfica foram as residências entrevistadas.
19
FHS: Family Health Strategies
FHSC: Family Health Support Center HDI: Human Development Index MW: minimum wage NHS: National Health Service PHC: Primary Health Care SINAN: Notification of Injury Information System SUS: Unified Health System
WHO: World Health Organization
4 CAPÍTULO 1
(Artigo a ser submetido à revista Preventive Veterinary Medicine)
POPULATION AND HEALTH PROFILE OF DOGS AND CATS ASSOCIATED 1
WITH THE SOCIOECONOMIC PROFILE OF OWNERS IN AREAS ASSISTED BY 2
Considering all the households sampled, 907 dogs were counted, of which 226
51% (462/907) were males and 49% (443/907) were females. The number of cats 227
was 348, 42.2% (144/341) were males and 57.8% (197/341) were females. There 228
was no difference between the sexes of the animals (p> 0.05). The mean age of the 229
animals was 3.9 years for dogs and 3.1 for cats. Among the dog and cat population, 230
29
only 18.4% (228/1.241) of the animals were sterilized. The percentage of dogs in 231
which the sterilization procedure was performed was 15.1% (135/891) (21.2%- 232
92/434 of females and 9.4%- 43/45 of males), and females were significantly more 233
sterilized (p <0.0001). Regarding the total number of cats, 26,7% (93/348) were 234
sterilized, 28,4% (56/197) of the females and 25,7% (37/144) of the males performed 235
the surgical procedure, however, the sex did not influence statistically (p> 0.05) 236
(Table 2). 237
Table 2. Biological, nutritional, health and prophylactic characteristics of dogs and 238
cats surveyed in Family Health Strategy areas. 239
Variables N ofdogs (%)¹ n=907
N ofcats (%)¹ n=358
Sex Female 443 (49%) 197 (57.8%) Male 462 (51%) 144 (42.2%) Age < 1 year old 90 (13.2%) 37 (13,1%) 1-4 years old 253 (37.2%) 176 (62.4%) 4- 10 years old 263 (38.7%) 63 (22.3%) > 10 years old 74 (10.9%) 6 (2.1%) Feeding Dog/Cat food 197 (22%) 140 (40.3%) Prepared food 38 (4.2%) 8 (2.3%) Leftover food 83 (9.2%) 25 (7.2%) Dog/Cat food, prepared food and leftover food
547 (60.8%) 168 (48.4%)
Prepared food and leftover food 34 (3.8%) 6 (1.8%) Sterilization of animals Yes 135(15%) 93 (27%) No 768 (85%) 254 (73%) Sterilization of female 92 (20.8%) 56 (28.4%) Sterilization of male 43 (9.3%) 37 (25.7%) Place where the animals live Onlyinsidethehouse 68 (7.5%) 32 (9.2%) HouseandYard 181 (20.1%) 47 (13.6%) Only Yard 346 (38.3%) 19 (5.5%) Chained in the Yard 119 (13.2%) 0 (0%) Free access to the street 158 (17.5%) 231 (66.8%) Street access for walking tour only 31 (3.4%) 17 (4.9%) Animals were had veterinarian care Yes 296 (32.6%) 69 (20%) No 579 (63.9%) 260 (75.6%) Periodically 32 (3.5%) 15 (4.4%)
30
Treatment for ectoparasites in the last 12 months
Yes 214 (23.7%) 137 (40.2%) No 161 (17.9%) 33 (9.7%) Periodically 526 (58.4%) 171 (50.1%) Treatment for endoparasites in the last 12 months
Yes 198 (22%) 165 (48.8%) No 156 (17.4%) 104 (30.8%) Periodically 545 (60.6%) 69 (20.4%) Vaccination Yes 601 (66.4%) 98 (28.3%) No 304 (33.6%) 248 (71.7%) Vaccines administered Rabie 222 (37.9%) 30 (32.6%) Polyvalent 108 (18.5%) 24 (26.1%) Rabie vírus andpolyvalent 255 (43.6%) 38 (41.3%) Frequency of rabies vaccination Only at year of birth 24 (5.6%) 0 (0%) Once a year 405 (94.4%) 67 (100%) Frequency of poly valente vaccination Only at year of birth 248 (72%) 50 (82%) Once a year 96 (28%) 11 (18%) Where the vaccination was carried out Agricultural store 100 (13.6%) 11 (10.8%) Vaccination campaigns 356 (48.5%) 33 (32.4%) Veterinary clinic 194 (26.4%) 49 (48%) At home 84 (11.5%) 9 (8.8%) 1Totals may differ depending on missing data. 240
When investigated the places where the animals lived and where they 241
circulated, 38.3% (346/903) of the dogs were kept in the yard, which is higher (p 242
<0.05) than the other categories. There was no statistical difference between the 243
frequency of dogs that were only in the house and yard (20.1%- 181/903) and those 244
who had access to the street (17.5%- 158/903). The number of dogs that were kept 245
chained (13.2%- 119/903) was lower when compared to the previously mentioned 246
categories (<0.0001). However, there was a significant difference between the 247
number of animals that only lived inside the house (7.5%- 68/903) and other 248
categories, and those who had access to the street for walking alone (3.4%- 31/903) 249
(p <0.0001). Regarding cats, the number of animals that had access to the street 250
(66.8%- 231/346) was significantly higher than the other categories (in the yard only, 251
31
yard and house, inside the house only, street access only for walking and chained) (p 252
<0.0001) (Table 2). 253
3.2 Sanitary and immunological profile 254
Regarding the monitoring and treatment of the animals, the majority of canines 255
(63.9%- 579/907) and felines (75.6%- 260/344) had never received veterinary care (p 256
<0.0001).Only 32.6% (296/907) of dogs and 20% (69/344) of cats have ever been 257
attended to by a veterinarian and only 3.5% (32/907) and 4.4% (15/344), 258
respectively, had periodic visits (p <0.0001) (Table 2). However, most of the dogs 259
received endoparasiticidal treatment (60.6%- 545/899), which is significantly different 260
(p = 0.0151) from those who received it sporadically (22%- 198/899) or those who did 261
not receive it at all (17.4%- 156/899). A different situation was observed for cats, 262
where only 20.4% (69/338) received endoparasiticidal treatment periodically, differing 263
(p <0.0001) from animals that were treated sporadically (48.8%- 165/338) and from 264
those that did not receive treatment (30.8%- 104/338).In addition, most dogs 265
received periodic treatment for ectoparasites (58.4%- 526/901), which is significantly 266
greater (p <0.0001) than those who received it sporadically (23.7%- 214/901) or 267
those who did not receive treatment (17.9%- 161/901). Among cats, about half of the 268
animals (50.1%- 171/341) received periodic treatment, 40.2% (137/341) received it 269
sporadically, which differed (p<0.0001) from the 9.7% (33/341) that had never 270
received treatment (Table 2). 271
Regarding vaccination, 66.4% (601/905) of the dogs were vaccinated, 272
whereas non-vaccinated dogs prevailed (71.7%- 248/346) (p <0.0001). It was 273
observed that 43.6% (255/585) of the vaccinated dogs received two types of 274
vaccines (polyvalent and rabies) and 37.9% (222/585) were only vaccinated for 275
rabies. The two categories cited, differed (p <0.0001) from the 18.5% (108/585) who 276
32
were vaccinated only with the polyvalent vaccine. Among the vaccinated cats, 32.6% 277
(30/92) received the anti-rabies vaccine and 26.1% (24/92) received the polyvalent 278
(p= 0.5431).However, the percentage (41.3%- 38/92) of cats receiving the two types 279
of vaccines were higher (p <0.0001). Regarding the frequency of vaccinations, for 280
both animals, the polyvalent vaccine was administered at birth significantly more 281
(72%- 248/344 dogs and 82%- 50/61 cats) (p <0.0001), whereas the rabies vaccine 282
was administered once a year (94.4%- 405/429 dogs and 100% cats) (p <0.0001). 283
Regarding the location or period in which the vaccination took place, most dogs were 284
vaccinated during vaccination campaigns (48.5%- 356/734) (p <0.0001), followed by 285
vaccination in veterinary clinics (26.4%- 194/734). These results differed (p <0.0001) 286
from the 13.6% (100/734) vaccinated in agricultural stores and from the 11.5% 287
(84/734) vaccinated at home, where there was no significant difference (p> 0.05). 288
However, in cats, vaccination performed in clinics was predominant (48%- 49/102) 289
compared to other locations (p <0.021). In addition, there was no statistical difference 290
in the comparison between the locations of where the vaccination took place (Table 291
2). 292
Most of the dogs were fed with food and leftovers (60.8%- 547/899) (p <0.0001); 22% 293
(197/899) of the dogs received only dog food, which is significantly higher than those 294
receiving only leftovers (9.2%- 83/899) (p <0.0001). The number of animals receiving 295
prepared food, such as a meal based on corn flour (4.2%- 38/899) was lower when 296
compared to the categories mentioned previously (p <0.0001). Regarding the feeding 297
of cats, 48.4% (168/347) received food and food leftovers and 40.3% (140/347) were 298
fed only with cat food. There was no significant difference between them (p <0.05), 299
however they differ from the other categories (leftover food, prepared foods) (p 300
<0.0001) (Table 2). 301
33
3.3 Characteristics of dogs and cats associated with socioeconomic profile 302
When considering the education level of those interviewed and its association 303
with the sterilization of dogs, it can be observed that the higher the level of education, 304
the greater the number of sterilized animals (p = 0.004), whereas in cats there was 305
no association between having the procedure done andthe education level of the 306
interviewees (p > 0.05). Families with an income greater than 2 minimum wages (U$ 307
295.05) had the surgical procedure performed more frequently in dogs and cats, than 308
families with an income lower than 1 MW (p <0.05). Feeding exclusively of dog/cat 309
food was offered more frequently by people with a higher level of education, for dogs 310
(p = 0.0003) and cats (p = 0.0209) as well as owners who had a higher income (p 311
<0.0001). As for the monitoring and treatment of animals, respondents with a higher 312
education level and greater income took more dogs (p = 0.0003 and p = 0.0037) and 313
cats (p = 0.0469 and p = 0.0469) to the vet for health care. Education level was not 314
associated with the administration of endoparasiticides to dogs and cats (p> 0.05), 315
however, income influenced the frequency of dosages for the animals (p <0.05). A 316
higher education level influenced the treatment for ectoparasites in dogs (p = 0.0346) 317
and cats (p = 0.0139) and is more frequent in families receiving more than 3 MW, for 318
both dogs (p = 0.0157) and cats (p = 0.0408). The animals that were vaccinated the 319
most were associated with the interviewee having a higher level of education and a 320
greater income (p <0.0001) (Table 2). 321
4. DISCUSSION 322
In the municipality of Santa Maria, in areas assisted by FHS, 85.5% of the 323
households had pets, with an average of 3.0 (2.2 dogs and 0.8 cats) per household. 324
In contrast to another study carried out in a municipality in the southern region of the 325
state, all census tracts were sampled and the average number of animals presented 326
34
per household was 1.4 (DOMINGUES, 2013). The average number of people per 327
residence was 3.3, in line with the 2010 IBGE census. However, the average in 328
habitant: animal (1:0.9) is way beyond the recommendation of eight in habitants for 329
each animal (8:1), proposed by the National Health Foundation (Brazil, 2002).This 330
average is also above the recommendation of seven inhabitants for each animal (7:1) 331
proposed by the WHO for emerging countries (WHO, 1992). With this data it is 332
observed that areas assisted by EFS need to implement public policies for the 333
population control of dogs and cats. The ratio of human: dog was 1:0.66 and human: 334
cat ratio was 1:0.24 per household. In developing countries, the proportion of 335
humans: dogs/cats is varied according to the region of study (Martins, 2013). 336
However, the proportion presented in this study was the largest ever described in the 337
national and international literature. Dallazen (2018) suggests that one of the ways to 338
obtain an integral and national census of the number of dogs and cats is to include 339
the variable number of dogs and cats in the household at the next IBGE 2020 340
census. 341
The high number of animals per household may be a factor that has 342
determined the large number of notifications for rabies and its treatment in the 343
municipality of Santa Maria. The Physical Financial Report and Annual Indicators 344
Management, dated March 2015, show that there is an annual growth of these 345
reports, with 611 cases in 2013 to 703 in 2014. The figures stand out among the not 346
ifiable diseases of the municipality registered in SINAN, with rabies having one of the 347
largest numbers of compulsory notifications. The high number of anti-rabies 348
treatments post- exposure, has caused an increase in the cost of treatment. These 349
treatments when performed erroneously denote unnecessary costs to the SUS 350
(Vasconcellos, 2017).This study has also demonstrated a greater preference for 351
35
users to breed dogs rather than cats, which is in agreement with other studies in 352
Brazil (Paranhos, 2002; Dias et al., 2004; Garcia, 2009; Martins, 2013). These 353
findings contrast with developed countries, which reported similar distributions of 354
dogs and cats, with 25% of households with dogs and 17% with cats in the United 355
Kingdom (PFMA, 2017) and 44% of households with dogs and 35% of households 356
with cats in the USA (APPA, 2016). 357
Households with one person own fewer dogs than households with two or 358
more people. In Ireland, Downes et al. (2009) reported that dog possession was 359
associated with family composition and is significantly higher in families with children. 360
In addition, a higher number of cats was associated with households with more than 361
2 people. It is possible to associate there being a lower number of animals in 362
households where only one person lives, because the animals need attention and 363
care. In addition, they also generate further costs. In this case, there is no shared 364
responsibility and all the needs of the dog must be met by a single owner, beyond 365
which, currently, most people have a lifestyle with less free time. There was no 366
significant association between the number of animals (dog and / or cat) and whether 367
the family was comprised of more children (from 1 to 14 years) or the elderly (people 368
aged over 60), agreeing with Costa et al. (2017). In developed countries such as 369
Australia (Baldock et al., 2003), England (Murray et al., 2010; Westgarth et al., 2010) 370
and Ireland (Downes et al., 2009), families with children are more likely to have a pet. 371
Murray et al., (2010) have reported that the age group between 11-15 years is the 372
most significant to families having animals. This is probably because they have more 373
time available to take on the responsibility of looking after the animals. Regarding the 374
elderly, the results differ from other studies conducted in Brazil, which reported that 375
36
the elderly (> 60 years) had more animals when compared to other age groups 376
(Martins, 2013). 377
There was no significant difference in the number of dogs and cats when 378
comparing the different levels of education of the interviewees and the family income 379
categories of the households. Thus, we have verified that the socioeconomic factors 380
in this study are not correlated with the ratios of humans: dog and humans: cat (Dias, 381
2001; Dias et al., 2004; Alves et al., 2005).These results are in agreement with 382
another study conducted in the Paraná state, where it was shown that families with a 383
higher income were more likely to have dogs (but not cats) when compared to low 384
income families. This is contrary to the consensus that the lower the family income, 385
the greater the number of animals (Martins, 2013). 386
The mean age of the dogs was 3.9 years and of the cats it was 3.1 years. This 387
is much greater when compared to the average age of the animals of the city of Sao 388
Paulo (Canatto et al., 2012). The large population of young animals is a variable that 389
may indicate a high rate of population renewal. This can be attributed to a lack of 390
adequate health care, which correlates directly with the absence of responsible care 391
(Fielding et al., 2012), as well as the acquisition of new animals and high 392
reproductive rates. Another variable that may be contributing to the low average age 393
of the animals is that 17.5% (158/903) of the dogs and 66.8% (231/346) of the cats 394
had access to the street. This is in agreement with Trapp et al. (2017), who reported 395
that cats had more access to the street than dogs. The population of dogs and cats 396
that move through the streets is not only composed of wandering animals, but also 397
by semi-domiciled animals (Ramón et al., 2010). Wandering, semi-domiciled animals 398
present greater risks to the population in the transmission of zoonoses, since the 399
animals circulate in public areas such as leisure and recreational areas. In addition, 400
37
these animals can cause injuries due to accidents (involving automobiles, for 401
example) and aggressive behavior (to other animals and humans) (Lord et al., 2007). 402
It was observed that 63.9% of the dogs and 75.6% of the cats did not receive 403
veterinarian care in the last 12 months according to the study by Domingues et al. 404
(2013) and Silva et al. (2010). Only 3.5% (32/907) of the dogs and 4.4% (15/344) of 405
the cats received veterinary assistance periodically, in contrast to those reported in 406
Italy by Slater et al. (2008), where 79% of the dogs received veterinary assistance at 407
least once a year. The small percentage of animals that received veterinarian care in 408
the last 12 months could be correlated with the low education level and the small 409
income of the population interviewed, since the variables are associated. 410
Most dogs (82.6%- 743/899) and cats (69.2%- 234/338) received 411
endoparasiticidal treatment, according to the results described by Silva (2016) and 412
Langoni et al. (2011). This frequency showed that a large part of the interviewees 413
considered that the practice of endoparasiticidal treatments is important for their pets. 414
Periodic treatment was more prevalent for dogs (60.6%- 545/899) when compared to 415
cats (20.4%- 69/338).This management could be facilitated by the free access to 416
endoparasiticides, its low cost and unrestricted commercialization in agricultural 417
stores and petshops, which are usually located near homes. On the other hand, 418
Langoni et al. (2011) has emphasized the risks of administering inadequate doses, 419
which may lead to intoxication, underdosing, and insufficient control of parasitic 420
burden. It was observed that income influenced the frequency of treatments. 421
Households with lower purchasing power performed fewer treatments due to their 422
purchasing power being limited by other family economic priorities (Silva et al., 2016). 423
The control of ectoparasites was performed in 82.1% (740/901) of the dogs and 424
90.3% (308/ 341) of cats. These results are similar to those observed by Domingues 425
38
et al. (2013). More than 50% of the animals received treatment periodically. The high 426
percentage of treatments can be justified by the fact that fleas and ticks bring 427
discomfort and inconvenience to homeowners. However, even with the majority of 428
animals receiving treatment, the respondent's level of education and family income 429
statistically influenced this decision. 430
According to the results found, it can be verified that the higher the level of 431
education received by the interviewee and the greater the income of the family, the 432
more likely the animals were vaccinated. Studies carried out in Brazil did not find a 433
statistical difference when comparing the education level of the interviewees with the 434
practice of rabies vaccination. However, when considering polyvalent vaccines, there 435
was a greater percentage of vaccination for animals, when owners had a higher 436
educational level (Magnabosco, 2006; Suhettet al. 2013). The percentage of 437
vaccinated dogs was 66.4% (601/905), while among non-vaccinated dogs, 71.7% 438
(248/346) prevailed, agreeing with McKay et al. (2009) who reported a higher 439
frequency of vaccination in dogs than in cats. 440
Approximately 80% of canines have received a rabies vaccination. Great 441
attention to the rabies virus can be justified because the disease has a fatal 442
prognosis in humans and animals, in almost 100% of cases. This represents a 443
serious public health problem which has gained media focus (Seis Acha and Szyfres, 444
2003). In addition, many cities in Brazil, including Santa Maria, carry out massive 445
immunization campaigns against rabies, which are widely disseminated and 446
accepted by users, and can reach the different socioeconomic extracts of the 447
community. The polyvalent vaccine was administered less in dogs (62.1%- 363/585) 448
and cats (67.4%- 62/92).This may be associated with the lack of information for the 449
population in relation to the vaccine protocols, corroborating with the high prevalence 450
39
of infectious diseases (Lima et al., 2010). In addition, the polyvalent vaccine has a 451
high cost and is not offered in campaigns, which limits the purchasing power of the 452
population (Suhett et al., 2013). Regarding the period when dog vaccinations 453
happened, 48.5% (356/734) of the vaccines were applied during vaccination 454
campaigns. This is believed to have occurred because in most of the country, annual 455
immunization of dogs against rabies has become a voluntary initiative or in some 456
cases can be carried out by non-governmental organizations. However, these 457
initiatives are not officially coordinated and therefore do not follow strict guidelines 458
regarding immunization strategies and periodic evaluation (Fernandes et al., 2016). 459
5. CONCLUSION 460
The results of this study highlight the need to adopt public health education 461
policies that guide users about responsible animal care, the importance of population 462
control, and the dissemination of information about zoonoses. In addition, there is a 463
need for the implementation of subsidized sterilization programs for the low-income 464
population, due to the high mean population of the animals in the area. This research 465
reinforces the importance of the veterinarian in the SUS, through basic care, to guide 466
health professionals and the population about the diseases that animals can transmit 467
to humans, the care that needs to be given to them and to enable the promotion of 468
health education. Futhermore, this suggests that the veterinarian should be included 469
into FHSC in the municipality of Santa Maria, in order to promote human and animal 470
health in the context of the single health principle. 471
Conflict of interest 472
None 473
Acknowledgements 474
40
We thank the Municipality of Santa Maria, the Municipal Health Department, the 475
Permanent Health Education Center and the Family Health Strategy teams of the 476
municipality, which allowed the research to be carried out. To the people who 477
welcomed us into their homes and CAPES / CNPq for financial support. 478
iologicadaraivanobrasil2017-andreperes02out17.pdf> Acesso em 08 jan. 2018. BRASIL. Portaria MPS nº 154, de 24 de janeiro de 2008. Criação dos Núcleos de Apoio à
Saúde da Família. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília. Seção 1 -