1 Pesca, Aqüicultura, Tecnologia do Pescado e Ecologia Aquática R E P E S C A ISSN 1980-587X Engenheiro de Pesca: perfil profissional no Brasil Tambaqui: larvicultura em diferentes densidades Tainhas: Pesca em Porto das Pedras, Alagoas Mercúrio: ocorrência em ambientes naturais Tucunaré: condicionamento alimentar Tilápia: prolificidade em diferentes tamanhos Comunidades ribeirinhas: perfil sócio- econômico, rio Coreau, CE Volume 2, Número Especial - setembro de 2007 Manaus: sede do XV Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca Foto: Leocy Cutrim Para navegar use “marcadores” à esquerda
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[Esp.]
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Pesca, Aqüicultura, Tecnologia do Pescado e Ecologia Aquática
R E P E S C A ISSN
1980-587X
Engenheiro de Pesca: perfil profissional no Brasil Tambaqui: larvicultura em diferentes densidades Tainhas: Pesca em Porto das Pedras, Alagoas Mercúrio: ocorrência em ambientes naturais Tucunaré: condicionamento alimentar Tilápia: prolificidade em diferentes tamanhos Comunidades ribeirinhas: perfil sócio-econômico, rio Coreau, CE
Volume 2, Número Especial - setembro de 2007
Manaus: sede do XV Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca
Foto: Leocy Cutrim
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REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PESCA VOLUME 2, NÚMERO ESPECIAL, 2007
Eds.: José Milton Barbosa e Haroldo Gomes Barroso
DIRETOR
Haroldo Gomes Barroso - UEMA
EDITORES
José Milton Barbosa - UFRPE
Haroldo Gomes Barroso - UEMA
EDITORES ADJUNTOS
Adierson Erasmo de Azevedo - UFRPE
Emerson Soares - UFAL
DIRETOR DE MARKETING
Rogério Bellini - Netuno
ASSISTENTES DE EDIÇÃO
Manlio Ponzi Junior - UFRPE
Dimonique Bezerra de França - UFRPE
Regina Coeli de Oliveira C. e Silva -
UFRPE
Webmaster
Junior Baldez - UEMA
Revisão do texto
Adierson Erasmo de Avezedo - UFRPE
José Milton Barbosa - UFRPE
COMISSÃO EDITORIAL
Athiê Jorge Guerra dos Santos - UFRPE
Fernando Porto - UFRPE
Emerson Soares - UFAL
Fábio Hazin - UFRPE
Heiko Brunken - Hochschule Bremen, Alemanha
Joachim Carolsfeld - World Fisheries Trust, Canadá
Leonardo Teixeira de Sales - FAEP-BR
Maria do Carmo Figueredo Soares - UFRPE
Maria do Carmo Gominho Rosa - Unioeste
Maria Nasaré Bona - UFPI
Neiva Maria de Almeida - UFPB
Paula Maria Gênova de Castro - Instituto de Pesca/SP
Ficha catalográfica Setor de Processos Técnicos da Biblioteca Central – UFRPE
A REPESCA É FILIADA A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDITORES CIENTÍFICOS
R454 Revista Brasileira de Engenharia de Pesca Nacional / editores José Milton Barbosa, Haroldo Gomes
Barroso -- São Luís, Ed. UEMA, 2007. V.2. N. Especial : 81p : il.
Semestral
1. Pesca 2. Aqüicultura 3. Ecossistemas Aquáticos, 4. Pescados – Tecnologia I. Barbosa, José Milton II. Barroso Haroldo Gomes III. Universidade Estadual do Maranhão
CDD 639
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ISSN-1980-587X
REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PESCA
Volume 2 Setembro, 2007 Número Especial
EDITORIAL
ste número da Revista Brasileira de Engenharia de Pesca trás de lambuja
algumas boas notícias, uma delas é a indexação da nossa REPesca a base de
dados: sumarios.org (www.sumarios.org), o que foi possível a partir dos
contatos realizados no XI Encontro Nacional Editores Científicos, realizado em
Ouro Preto, MG (outubro de 2007), a outra é a participação efetiva do Prof.
Adierson Erasmo de Azevedo - idealizador da Engenharia de Pesca no Brasil -
como revisor de nossa revista.
No âmbito profissional, estamos vivendo em Manaus o XV Congresso
Brasileiro de Engenharia de Pesca (outubro de 2007), o maior evento de nossa
classe. Ademais, dois fatos certamente marcarão este evento: a criação do
Sindicato Nacional de Engenharia de Pesca e da Associação Brasileira de
Engenharia de Pesca.
A caminhada é difícil, mas vamos seguindo passo a passo nas pegadas do trabalho e da persistência.
José Milton Barbosa
Editor Chefe
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Sumário
I - ARTIGOS CIENTÍFICOS
Caracterização da pesca de tainhas no município de Porto de Pedras, Estado de Alagoas, Brasil Carolina Martins TORRES; Paulo TRAVASSOS; Marina B. FIGUEIREDO; Fábio HAZIN; Daniele F. CAMPOS & Francisco ANDRADE
6
Larvicultura de tambaqui em diferentes densidades de estocagem Sandra Soares dos SANTOS; José Patrocínio LOPES*; Miguel Arcanjo dos SANTOS-
NETO & Luciana Silva dos SANTOS
18
Prolificidade da tilápia-do-nilo, variedade chitralada, de diferentes padrões de desenvolvimento Luciana Silva dos SANTOS; Daniel Ribeiro de OLIVEIRA FILHO; Sandra Soares dos SANTOS; Miguel Arcanjo dos SANTOS NETO & José Patrocínio LOPES
26
Condicionamento alimentar no desempenho zootécnico do tucunaré Emerson Carlos SOARES; Manoel PEREIRA- FILHO; Rodrigo ROUBACH & Renato Carlos Soares e SILVA
35
ocorrência de mercúrio em camarões em diferentes ambientes aquáticos Geovana Lea Fernandes PAIVA; Maria Lúcia NUNES; Antonio Diogo LUSTOSA-NETO
& José Milton BARBOSA
49
II - ARTIGOS TÉCNICOS
Perfil do Engenheiro de Pesca do Brasil Neiva Maria de ALMEIDA1 * ; Leonardo Teixeira de SALES2 & Maria do Carmo Figueiredo SOARES3
57
Diagnóstico socioeconômico de duas comunidade ribeirinhas do rio Coreau, Estado do Ceará, Brasil
Sandra Carla Oliveira do NASCIMENTO & Rogério César Pereira de ARAÚJO
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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO 79
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I – ARTIGOS CIENTÍFICOS
CARACTERIZAÇÃO DA PESCA DE TAINHAS NO MUNICÍPIO DE PORTO DE PEDRAS,
ESTADO DE ALAGOAS, BRASIL
Carolina Martins TORRES, Paulo TRAVASSOS, Marina B. FIGUEIREDO, Fábio HAZIN, Daniele F.
CAMPOS & Francisco ANDRADE
Departamento de Pesca e Aqüicultura, Universidade Federal Rural de Pernambuco
O Estado de Alagoas possui um litoral de cerca de 230 km, que se estende da foz do rio
Persinunga, ao norte, divisa com Pernambuco, até a foz do rio São Francisco, ao sul, divisa com o
Estado de Sergipe. Ao longo desse litoral estão localizados 17 municípios costeiros e 57 comunidades
pesqueiras (IBAMA, 2007), dentre os quais, o município de Porto de Pedras, no litoral norte do estado,
possui 12 km de costa e distando aproximadamente 130 km de Maceió. A atividade pesqueira praticada
no município é de pequena escala e totalmente artesanal, contribuindo com uma produção média anual
da ordem de 100 t/ano de pescado de origem marinha e estuarina para a economia do Estado de
Alagoas (IBAMA, 2003, 2006). Apesar da pequena quantidade de pescado produzido, a pesca em Porto
de Pedras desempenha um importante papel sócio-econômico, sendo uma das principais fontes de
emprego e renda para os seus habitantes.
Dentre as espécies capturadas, as tainhas (Mugil spp.) é a mais importante, com cerca de 20%
na produção anual do município (IBAMA, 2006). A importância das tainhas para a pesca costeira pode
ser observada ao longo de todo o litoral alagoano. Em 2005, por exemplo, a produção de tainhas para
todo o Estado foi de 1.766,4 t, sendo a espécie mais capturada do total de pescado marinho e estuarino
produzido, com 18,1% da produção (IBAMA, 2006). Em Porto de Pedras, as tainhas são as espécies-
alvo de três métodos de pesca utilizados pelos pescadores locais: a rede de cerco, a rede de espera e a
tarrafa, cuja utilização se dá em áreas próximas à costa, nas imediações da foz do rio Manguaba.
As espécies da família Mugilidae têm ampla distribuição geográfica, ocorrendo em águas
tropicais e subtropicais, principalmente em águas costeiras e estuarinas (Figueiredo e Menezes, 1985).
No Brasil, ocorrem em todo o litoral, do Maranhão ao Rio Grande do Sul. São espécies pelágicas
costeiras, de águas rasas, que nadam sempre em cardumes, perto da superfície (Fischer, 1978).
Neste contexto, à luz da importância das tainhas para a pesca artesanal do Município de Porto
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de Pedras, o presente trabalho tem como objetivo principal caracterizar os aparelhos de pesca utilizados
na sua captura, descrevendo as respectivas operações de pesca, as embarcações utilizadas, os locais
para este fim e identificação das principais espécies capturadas.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado no município de Porto de Pedras (Figura 1), o qual possui 12 km de
costa e localiza-se a cerca de 130 km de Maceió.
Para a caracterização e descrição dos aparelhos e operações de pesca e das embarcações
utilizadas, foram realizadas visitas periódicas ao município no primeiro trimestre de 2003, nas quais
foram efetuadas entrevistas com os pescadores locais, assim como alguns embarques e amostragens dos
materiais utilizados na confecção dos aparelhos de pesca. Registros fotográficos das embarcações, dos
aparelhos de pesca e dos exemplares capturados de cada espécie foram também realizados. Nos
desembarques foram amostrados exemplares das principais espécies de tainhas capturadas, visando
avaliar o tamanho dos peixes capturados. Informações relativas às capturas foram obtidas do Boletim
Estatístico da Pesca Marítima e Estuarina do Nordeste do Brasil (IBAMA, 2006).
A identificação das espécies da família Mugilidae e da fauna acompanhante capturada foi
realizada in loco, baseada em manuais de identificação de espécies marinhas e estuarinas (Menezes,
1983; Figueiredo e Menezes, 1985). Em caso se dúvidas, a identificação final dos espécimes coletados
foi concluída no Laboratório de Ecologia Marinha, da Universidade Federal Rural de Pernambuco,
através das chaves de identificação da FAO (Fischer, 1978).
Figura 1 - Localização do Município de Porto de Pedras, no litoral de Alagoas (09º10,5’S e 35º17,5’W)
Fonte: Carta Náutica Nº 900. DHN – Marinha do Brasil.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
A ATIVIDADE PESQUEIRA EM PORTO DE PEDRAS: AS TAINHAS COMO ESPÉCIES-ALVO
A pesca desenvolvida para a captura das tainhas no município de Porto de Pedras é tipicamente
artesanal, sendo realizada a partir do emprego de canoas, movidas a remo ou a vela, que operam na
zona estuarina e no “mar de dentro”, como é denominada a parte interna da barreira de recifes naturais
que ocorrem ao longo deste litoral. Esse fato foi também observado em estudos realizados em estados
vizinhos, como Pernambuco e Sergipe (IBAMA, 2003), ocorrendo também em boa parte do Nordeste
do Brasil (IBAMA, 2006). Dias-Neto e Marrul Filho (2003) afirmam que os tipos de embarcações para
este tipo de pesca são predominantemente de pequeno porte, as quais, em muitos casos, não são
necessariamente usadas de forma exclusiva como meio de produção, mas também de deslocamento.
Normalmente, o proprietário é um pescador ativo como os demais, participando de forma efetiva da
pescaria. Outra característica típica dessa atividade é a interferência de intermediários no processo
produtivo, principalmente na comercialização do pescado, obtendo lucros mais altos e diminuindo a
renda dos pescadores.
Ainda de acordo com Dias-Neto e Marrul Filho (2003), a pesca artesanal pode estar voltada
essencialmente para a comercialização do pescado capturado, como também para a obtenção de
alimento para as famílias dos participantes, ou ainda um misto desses dois objetivos. Dias-Neto e
Dornelles (1996) afirmam que esta atividade pode ser uma alternativa sazonal, a qual o praticante se
dedica apenas um período do ano desempenhando outra atividade produtiva em seguida, geralmente
vinculada à agricultura ou ao comércio. A presente pesquisa constatou que a pesca no município de
Porto de Pedras é a segunda atividade econômica do local, ficando atrás apenas da agricultura, sendo
ambas praticadas para o sustento familiar, havendo pescadores em tempo integral e também aqueles
que se dedicam a esta atividade apenas em alguns meses do ano.
As pescarias dirigidas às tainhas são realizadas através do uso de três métodos de pesca: a rede
de cerco, a rede de espera e a tarrafa, cujas malhas, de diferentes tamanhos, associadas às áreas de
atuação, capturam espécies diferentes de tainhas, em associação com uma fauna acompanhante local
bem diversificada (Tabela 1). De acordo com o IBAMA (2006), as principais artes de pesca utilizadas
região no norte do Estado de Alagoas, além das mencionadas acima são o arrasto duplo, a rede de
caceia, a rede de cerco, as linhas e o arrastão de praia. Estes aparelhos de pesca capturam diversos tipos
de pescado, como camarão, peixe-agulha, xaréu, vermelho, tainha, lagosta vermelha e lagosta verde,
entre outros.
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Outro fato observado na pesca local foi a divisão das tarefas entre os pescadores no decorrer das
pescarias, configurando, assim, uma estratégia de pesca que reflete o grau de organização no
desenvolvimento da atividade, fato também observado no estado do Ceará (Castro e Silva et al., 2005).
EMBARCAÇÕES E APARELHOS DE PESCA
As embarcações utilizadas na captura das tainhas são canoas de madeiras, movidas a remo e a
vela (Figura 2), de aproximadamente 8 m de comprimento e 0,85 m de boca. Estas canoas são operadas
normalmente por dois pescadores, em pescarias desenvolvidas no “mar de dentro”, principalmente nas
imediações da desembocadura do rio Manguaba.
Figura 2 - Canoas utilizadas na operação de pesca no município de Porto de Pedras, estado de Alagoas.
No que se refere aos aparelhos de pesca, são três os utilizados em Porto de Pedras na pesca das
tainhas, cujas principais características encontram-se discriminadas abaixo:
REDE DE CERCO: varia de 80 a 140 m de comprimento e 1,5 a 2,5 m de altura, com malha de 25 mm ou
35 mm, confeccionadas com nylon de 0,30 mm de diâmetro. Foi a responsável por 55,0% das capturas
realizadas no município.
REDE DE ESPERA: varia de 40 a 120 m de comprimento e 2 a 3 m de altura, com malha variando de
30 mm a 35 mm, confeccionada com nylon de 0,30 mm de diâmetro. Utilizam-se mourões (madeira de
beriba ou canela), adquiridos na flora local, com tamanhos variando de 3 a 6 m, os quais são fixados ao
substrato para amarração da rede.
TARRAFA: é confeccionada pelo próprio pescador, com malha de 25 mm e nylon de 0,25, 0,30 e
0,35 mm de diâmetro. Os cabos usados para entralhar a rede possuem normalmente uma espessura de
2,5 mm, sendo de nylon ou seda. As redes são de comprimentos variáveis, podendo chegar a até 8 m,
com a boca e a quantidade de chumbos usados variando de acordo com o seu tamanho. A maioria dos
pescadores utiliza um tenso de aproximadamente 15 cm para formar o saco da rede.
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OPERAÇÕES DE PESCA
REDE DE CERCO
Semicerco
Nessa operação utilizam-se duas canoas tripuladas por dois pescadores cada. Após a saída para
o mar, o pescador que fica na proa da embarcação (proeiro) é o responsável pela avistagem do cardume
na superfície do mar. Em seguida, as canoas aproximam-se para unirem as extremidades de suas redes,
dando início à operação de pesca com o lançamento da rede no mar. Neste momento, os proeiros, com
um porrete de madeira ou o próprio remo, começam a bater na água com o intuito de direcionar o
cardume de tainhas para a rede. As canoas vão fechando o cerco, o qual ganha um formato helicoidal
(Figura 3), dificultando a fuga dos peixes. Após alguns minutos, inicia-se o recolhimento da rede e as
tainhas emalhadas são retiradas cuidadosamente e colocadas no fundo das canoas. A rede recolhida é
mantida sobre pranchas de madeira colocadas sobre os bordos da canoa, sob a qual está o pescado, com
o objetivo de protegê-lo do sol. Nos casos de elevada captura, as canoas voltam imediatamente à praia
para desembarcar o pescado e comercializá-lo. Caso contrário, a pescaria continua, com os pescadores
buscando novos cardumes e preparando novamente as redes para serem lançadas ao mar.
Cerco completo
O cerco ocorre com as mesmas redes e embarcações do semicerco, embora com a utilização de
quatro canoas, com dois pescadores cada. A operação de pesca também é semelhante e desenvolve-se
da seguinte forma: (i) após a localização do cardume, as canoas posicionam-se de forma oposta (duas
de cada lado), mantendo o cardume entre elas; (ii) em seguida, cada parelha de canoas une suas redes,
dando início à operação de pesca; (iii) o cerco começa a ser fechado em torno do cardume, com cada
canoa lançando ao mar as suas redes; (iv) da mesma forma que no semicerco, duas das canoas
procedem à formação dos dois ganhos helicoidais, fechando o cerco; (v) todas as canoas ficam no seu
interior, com todos os pescadores batendo na água com os remos (Figura 4). Caso o cardume seja muito
grande, as outras duas canoas procedem também à formação dos ganchos, visando minimizar a
tentativa de fuga das tainhas, assim como provocar o emalhe de forma mais rápida.
Esta operação é realizada a uma profundidade média de 2 a 3 m, durando geralmente de três a
seis horas, dependendo da área de captura e, principalmente, da quantidade de peixes capturados.
Geralmente esta pescaria é realizada na baixa-mar, com os pescadores partindo no início da maré baixa
e retornando no inicio da preamar. A espécie de tainha mais capturada nessas duas operações de pesca
com cerco é a M. incilis, vulgarmente conhecida na região como tainha-do-olho-amarelo. Toda a fauna
acompanhante desta pescaria é recolhida e também comercializada.
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A
B
Figura 3 - Desenho esquemático da operação de pesca de tainhas com rede de cerco, na modalidade semicerco, utilizando duas canoas (A: início do cerco; B: fim do cerco).
Figura 4 - Desenho esquemático da operação de pesca de tainhas com rede de cerco, na modalidade de cerco completo, utilizando quatro canoas (A: início do cerco; B: fim do cerco).
REDE DE ESPERA
Essa pescaria é realizada geralmente nas luas de quarto crescente e minguante, utilizando-se
apenas uma canoa, dois pescadores, duas redes e dois mourões (Figura 5).
Figura 5 - Esquema da pescaria com rede de espera de superfície usada na pesca de tainhas em Porto de
Pedras, Alagoas.
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A pescaria se inicia sempre na baixa-mar e, de acordo com os ventos e as correntes existentes, os
pescadores definem o local ideal para cravar os mourões no substrato, em uma faixa de profundidade
que varia normalmente de 4 a 5 m. A parte inferior da rede é amarrada próxima à extremidade inferior
do mourão, com um nó de porco, e a parte superior é amarrada próxima a sua metade, com dois nós: o
primeiro é um nó de porco e o segundo um nó de laçada, distando cerca de 20 cm de um do outro. Isto
é feito por segurança, garantindo que a rede se mantenha presa ao mourão caso o primeiro nó seja
desfeito. Após a colocação do mourão e fixação da rede ao mesmo, inicia-se o lançamento da rede ao
mar. Ao final desta operação, uma bóia de isopor é fixada à extremidade da rede, a qual fica à deriva,
ao sabor das correntes. Este mesmo procedimento é efetuado com a segunda rede, após o qual os
pescadores retornam à praia.
A operação de recolhimento inicia-se 12 horas após, durante a baixa-mar, localizando–se a bóia
fixada na extremidade das redes. Dois pescadores procedem ao recolhimento, operação que dura em
torno de 2 horas, dependendo do estado do mar. Os peixes são mantidos emalhados, sendo retirados
apenas após o desembarque. No retorno à terra, a canoa navega com as velas içadas para chegar com
rapidez ao ponto de desembarque e iniciar a comercialização do pescado.
Na chegada, toda rede é lavada diretamente na praia, momento em que todos os peixes
capturados são retirados. A espécie de tainha mais capturada nessa operação é a M. liza, conhecida na
região como “cambiro”.
TARRAFA
A pesca de tarrafa é realizada com o auxílio de uma pequena bóia (ou outro objeto flutuante
qualquer, como um coco seco ou um pedaço de madeira), a qual é lançada na água para atrair as
tainhas. Quando o cardume se concentra em torno da bóia, a tarrafa é lançada sobre o mesmo. Em
outras ocasiões, o pescador, através da visualização direta do cardume na superfície da água, efetua o
lançamento da tarrafa, sem recorrer ao uso da bóia. Este procedimento é executado com dois
pescadores a bordo da canoa, sendo um o responsável pelo lançamento da tarrafa e o outro pela
condução da embarcação e pelo da mesma na hora do lançamento da tarrafa. Esta pescaria é feita no
início da baixa-mar ou preamar e, ao contrário das duas acima descritas, ocorre tanto no interior do
estuário, como nas proximidades da desembocadura do rio Manguaba ou no mar de dentro. A pescaria
dura em torno de 3 a 4 horas, numa profundidade de até 10 m.
As espécies de tainhas mais capturadas nessa operação são a M. curema e M. curvidens,
vulgarmente conhecidas na região como sauna do olho preto e negrão, respectivamente.
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COMPOSIÇÃO DAS CAPTURAS
Embora os métodos de pesca acima descritos direcionem suas capturas para as tainhas, uma
grande diversidade de outras espécies é também capturada nestas pescarias. Uma lista com as espécies
da fauna acompanhante desta pescaria, por cada método de pesca, é apresentada na tabela abaixo
(Tabela 1).
No presente estudo foi registrada a ocorrência de quatro espécies de tainhas na região: Mugil
curema, M. curvidens, M. incilis e M. liza. As espécies M. incilis e M. liza atingem maior tamanho e
são capturadas em áreas mais distantes da praia, enquanto que as de menor tamanho, M. curema e M.
curvidens, são capturadas próximas ao estuário e dentro do rio Manguaba.
Foram amostrados 559 indivíduos durante todos os meses de coleta, dos quais 326 foram da
espécie M. curvidens, com 170 fêmeas e 156 machos, e 233 da espécie M. incilis, sendo 106 fêmeas e
127 machos. As distribuições de freqüência de comprimento dessas espécies mostraram que o
comprimento zoológico (CZ) de M. incilis variou de 24 cm a 35 cm para os machos (moda na classe de
31 a 33 cm) e de 23 cm a 42 cm para as fêmeas, (moda nas classes de 31 a 33 cm e de 33 a 35 cm)
(Figura 6).
Para M. curvidens, os machos variaram de 22,5 cm a 31,5 cm (moda na classe de 23 a 25 cm),
enquanto as fêmeas apresentaram CZ de 21 cm a 37,5 cm (moda na classe de 25 cm a 27 cm) (Figura
7).
CONSERVAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DO PESCADO
Em Porto de Pedras, a comercialização é feita logo na chegada das canoas nos pontos de
desembarque, atendendo apenas à comunidade local. Desta forma, quando os pescadores retornam de
suas pescarias, os consumidores locais ou atravessadores já estão aguardando na praia para comprarem
o pescado capturado. Em muitas ocasiões, os pescadores saem para o mar com a produção totalmente
vendida. É importante mencionar que a divisão da produção é feita geralmente em três partes iguais:
uma para o dono da canoa e do material de pesca e as outras duas para os respectivos pescadores (mão-
de-obra). Quando o proprietário da embarcação e dos aparelhos de pesca participa efetivamente da
pescaria, ele recebe 2/3 do valor obtido com a comercialização do pescado.
Todo o pescado é comercializado fresco logo após o desembarque, não havendo nestas
pescarias nenhum método de conservação a bordo. A parcela não comercializada pós-desembarque é
congelada em freezers domésticos, sem qualquer evisceração e/ou beneficiamento, sendo o pescado
apenas lavado com água doce. Apenas uma pequena parte do pescado capturado é salgada para
consumo familiar.
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Tabela 1 - Principais espécies capturadas como fauna acompanhante da pescaria de tainhas, em Porto
de Pedras, Estado de Alagoas.
APARELHO DE PESCA ESPÉCIE NOME VULGAR Abudefduf saxatilis Saberé Acanthurus bahianus Caraúna Acanthurus coeruleus Caraúna azul Caranx hippos Xaréu branco* Caranx lugubris Xaréu preto Centropomus parallelus Camorim peba** Centropomus undecimalis Camorim flecha Larimus breviceps Pescada boca mole Lutjanos synagris Ariocó Oligoplistes saurus Tibiro Sardinella brasiliensis Sardinha Selene vômer Galo de penacho Sparisoma rubripinne Budião
PRESENCE OF MERCURY IN SHRIMPS IN ACQUATIC INVIRONMENTS
Abstract - The present work had as its objective to compare levels of mercury in different species of
shrimps of commercial preoccupation, in their habitats during the dry season (January-March/1999)
and the rainy season (April-June/1999), in the State of Paraíba, Brazil, being tested: the white-shrimp
and its habitat (Paraíba do Norte State River’s estuary), and the fresh water shrimp (Macrobrachium
amazonicus) and your habitat (Mãe d´Água dam). The amount of mercury was estimated by means of a
spectrofotometric technique of atomic absorption. The amounts of mercury of the several ecosystems
shown significant differences (p<0.05), but were not observed differences as to the interation
ecosystem/mounth. The levels of mercury found in several habitats or ecosystems were very few
higher than to those observed in the shrimps, but all of them were below the maximum limit established
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by the governamental organizations. Statistically specking, the species of L. vannamei L. was the sole
that presented levels of mercury significantly different, as to the dry and the rainy seasons.
Keywords - Enviromental poluition, Public health, Toxity
INTRODUÇÃO
A presença de metais em efluentes industriais é de grande relevância em todo o mundo, por
serem tóxicos e interferirem na ecologia do ambiente. Um dos metais mais estudados é o mercúrio e
seus derivados. Sua grande importância deve-se ao fato de ser um agente tóxico que ocasiona danos a
saúde devido ao efeito cumulativo, progressivo e irreversível, em conseqüência da ingestão repetitiva
de pequenas quantidades (Connell, 1988). Segundo Mariño e Martin (1976), metade da produção
mundial anual de mercúrio (10 mil toneladas) vai para o mar, água e solo e por isso torna-se o mesmo
um dos principais contaminantes do ambiente marinho.
O estuário do rio Paraíba do Norte, município de Cabedelo, PB, vem sofrendo uma constante
degradação causada pelo aporte de esgotos domésticos, resíduos agrícolas e de usinas sucroalcooleiras,
além da devastação da vegetação local, prejudicando os recursos naturais e provocando sua escassez,
como vem sendo constatado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis do Ministério do Meio Ambiente (IBAMA) órgão responsável pela sua conservação e
fiscalização (Oliveira, 1990). Em grandes açudes o aporte de resíduos agrícolas também é preocupante.
Na literatura são inúmeros os trabalhos realizados sobre contaminação do meio ambiente por
mercúrio. No Brasil, a maioria dos trabalhos envolvendo a contaminação do pescado pelo mercúrio,
também atende a propósitos ambientais (Chicourel, 1993). Na região Nordeste este estudos são ainda
insipientes, especialmente com respeito a contaminação em camarões, embora a produção e consumo
de camarões marinhos (Litopenaeus spp.) no Brasil, e em especial no Nordeste, crescem de forma
significativa. Considerando que estes animais são úteis na indicação de poluição originada por
atividades antropogênicas, necessário se faz a avaliação do teor de mercúrio nos mesmos.
Neste trabalho, foi avaliado o teor de mercúrio nos camarões capturados, cultivados e na água
dos seus respectivos habitats, considerando as estações de chuva e estiagem no Estado da Paraíba.
MATERIAL E MÉTODOS
AMOSTRAS E LOCAIS DE COLETA
As amostras de água e dos camarões Litopenaeus schimitti, Litopenaeus vannamei e
Macrobrachium amazonicus foram coletadas no Estuário do rio Paraíba do Norte (Cabedelo, PB); em
uma fazenda de cultivo de camarão marinho (João Pessoa, PB) e no açude Mãe D’Água (Coremas,
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PB), respectivamente, durante as estações de estiagem (janeiro-março de 1999) e a estação chuvosa
(abril-junho de 1999).
As amostras de camarão após coleta foram acondicionadas em sacos plásticos de polietileno,
transportadas em recipiente isotérmico (±10,00C), contendo gelo e armazenados em freezer (-10,0 0C).
As amostras de água foram coletadas em frascos estilizados, nos mesmos locais das amostras de
camarão a 10cm de profundidade, transportadas em recipiente isotérmico (±10,00C), contendo gelo e
armazenadas em geladeira (± 5,0 0C) até serem analisadas.
PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS
Inicialmente, as amostras de camarão foram descongeladas e trituradas, pesadas e analisadas.
As amostras de água não sofreram nenhum tratamento prévio.
Os teores de mercúrio foram quantificados pelo método analítico (A.O.A.C., 1990), através de
espectrofotometria de absorção atômica. O branco analítico, utilizado no set-up do equipamento, serviu
para eliminar possíveis contaminações provenientes dos reagentes utilizados. Toda a vidraria utilizada
nas análises foi preparada e limpa por imersão em solução de ácido nítrico a 10% por 24h, para
descontaminação.
ANÁLISES ESTATÍSTICAS
Os resultados foram analisados através de estatística descritiva, utilizando programa
‘Statistica®6.0, através de análises de variância (ANOVA) (∝ = 0,05), com um fator (estação de
coleta) nas amostras dos camarões Litopenaeus vannamei, L. schimitti e Macrobrachium amazonicus e
com dois fatores (local e mês de coleta) nas amostras de água dos habitats.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os níveis de mercúrio encontrados nos camarões nos respectivos pontos de coleta e época de
captura variaram de 0,031ppm no mês de janeiro em Litopenaeus schimitti a 0,067ppm no camarão
Macrobrachium amazonicus no mês de abril (Tabela 1). Estes níveis, independente da estação de
captura, encontram-se muito abaixo do limite de 0,5ppm estabelecido pela legislação em vigor no
Brasil (Resolução CNNPA, no 18/75), bem como com os da legislação alemã: uma das mais exigentes.
De forma que todas estavam em condições adequadas para consumo, não representando perigo de
contaminação por mercúrio (Figura 1).
Cada espécie pertence a um habitat diferente, o que pode sugerir a ocorrência de diferenças
entre os resultados, pois a presença de mercúrio pode estar associada aos níveis de poluição. No
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[Esp.]
52
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
Teor
de
Hg
(ppm
)
A B C Al Br Fr
Estiagem Chuva Legis lação
entanto, o camarão-branco (Litopenaeus schimitti), apesar de capturado no Estuário do Rio Paraíba do
Norte, considerado poluído do ponto de vista microbiológico (Lima, 1999), e por resíduos da
agroindústria sucroalcooleira, foi o que apresentou os menores teores de mercúrio (0,031 e 0,045ppm,
nas estações de estiagem e chuvosa, respectivamente). Vale ressaltar que neste trabalho, as amostras de
camarão foram analisadas por inteiro, visto que camarões podem ser consumidos de várias formas
(inteiro, sem cabeça, com ou sem casca).
Tabela 1 - Concentração de mercúrio nas espécies de camarões, conforme o habitat e época de captura.
TEOR DE MERCÚRIO (ppm) ESTAÇÃO MESES L. vannamei L. schimitti M. amazonicus Janeiro 0,040 0,031 0,041 ESTIAGEM Fevereiro 0,041 0,040 0,042 Março 0,048 0,039 0,061
MÉDIA ± σ 0,043+0,004 0,037+0,004 0,048+0,011 Abril 0,060 0,039 0,067 CHUVOSA Maio 0,059 0,034 0,043 Junho 0,043 0,045 0,045
MÉDIA ± σ 0,054+0,009 0,039+0,005 0,051+0,013
σ = Desvio padrão
Figura 1 - Comparação dos teores médios de mercúrio (Hg) em camarões (A) Litopenaeus vannamei;
(B) Litopenaeus schimitti e (C) Macrobrachium amazonicus em relação aos teores
permitidos pela legislação Alemã (Al), Brasileira (Br) e Francesa (Fr).
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[Esp.]
53
Relacionando os teores de mercúrio das três espécies (Tabela 2) em relação às estações de
estiagem e chuvosa, Litopenaeus vannamei foi a única que apresentou diferença significativa (p<0,05)
entre as duas. Estes resultados são interessantes, no entanto não é possível discuti-los com maior
profundidade, pois trabalhos sobre a concentração de mercúrio em camarão são raros na literatura
brasileira, como destacou Mársico (1997).
TEORES DE MERCÚRIO DA ÁGUA DOS HABITATS DAS ESPÉCIES ANALISADAS
Os teores de mercúrio na água onde habitam os camarões analisados apresentaram-se levemente
superiores aos encontrados nos camarões (Tabela 2), porém abaixo do limite estabelecido pelo
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) (1984-1991) que é de 0,2ppm para a água doce
(classe 1) e de 0,1ppm para água salobra (classe 7) (Figura 2), O menor valor encontrado ocorreu no
Estuário do Rio Paraíba do Norte, enquanto os outros dois habitats apresentaram teores próximos,
porém um pouco superior aos valores do Estuário. Entretanto, todos os valores encontraram-se abaixo
da legislação em vigor.
Tabela 2 - Teores de mercúrio da água coletada nos diferentes habitats das espécies analisadas de
camarão no Estado da Paraíba.
LOCAL MESES TEORES DE MERCÚRIO (PPM) Março 0.063 Fazenda de cultivo de Abril 0,066 Camarão Maio 0,070 (Litopenaeus vannamei ) Junho 0,072 Média±σ 0,068+0,004
Março 0,054 Rio Paraíba do Norte Abril 0,056 (Litopenaeus schimitti) Maio 0,060 Junho 0,059 Média±σ 0,057+0,003
Março 0,064 Açude Mãe D’Água Abril 0,066 (Macrobrachium amazonicus) Maio
Junho 0,070 0,068
Média±σ 0,067+0,002
σ=Desvio padrão
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[Esp.]
54
Os menores níveis de mercúrio foram observados no Estuário do Rio Paraíba do Norte (Figura
2). Os outros dois habitats apresentaram teores bastante próximos, um pouco superiores aos valores do
Estuário. Porém, abaixo dos padrões da legislação em vigor.
Classe 1 - Para águas doces
Classe 7 - Para águas salobras
Figura 2 - Comparação dos teores médios de mercúrio (Hg) das amostras em relação as estações de
captura, e aos teores permitidos pelo CONAMA (1984-1991).
Relacionando os teores de mercúrio da água com os meses de coleta (março a junho), os valores
apresentaram-se significativos (p<0,05) porém, a interação local de captura e época do ano não foi
significativa (p>0,05).
Comparando os resultados dos teores de mercúrio na água dos respectivos habitats das espécies
analisadas com os encontrados nos camarões Litopenaeus vannamei, Litopenaeus schimitti e
Macrobrachium amazonicus observou-se conforme Figura 3, que acumularam os mesmos, apenas
63,23; 64,91 e 71,64 % do mercúrio encontrado nos seus habitats, respectivamente.
0
0,1
0,2
Teor
de
Hg
(ppm
)
Fazendade Cultivo
RioParaíbado Norte
AçudeMãe
D'Água
Classe 1 Classe 7
Estiagem Chuva CONAMA
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[Esp.]
55
Figura 3 - Comparação dos teores médios de mercúrio em camarões Litopenaeus vannamei (Fazenda
de cultivo), Litopenaeus schimitti (Rio Paraíba do Norte) e Macrobrachium amazonicus
(Açude Mâe D´água) e de água dos três locais de coleta.
Quanto as possíveis diferenças na concentração de mercúrio nas águas em relação as estações,
observou-se que nos meses de muita precipitação pluviométrica (maio e junho), os teores de mercúrio
foram mais elevados, talvez em decorrência do arraste de agrotóxicos e outros poluentes mercuriais
para os açudes, rios e zonas estuarinas.
CONCLUSÕES
Os teores de mercúrio na água, dos três ambientes, são ligeiramente superiores aos encontrados
nos camarões. No entanto, todos situam-se abaixo do limite máximo fixado pelos órgãos
governamentais.
Há pequena variação nos teores de mercúrio entre as diversas espécies analisadas. Litopenaeus
schimitti apresenta menor concentração.
As espécies estudadas apresentam maior concentração de mercúrio, durante a estação chuvosa,
embora apenas a L. vannamei apresenta diferença significativa neste período.
Ocorre diferentes teores de mercúrio da água dos habitats analisados, porém não há diferença
significativa entre os períodos de coleta.
0
Teor
de
Hg
(ppm
)
Fazenda decultivo
Rio Paraiba doNorte
Açude MãeD'Água
Camarão Água
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[Esp.]
56
REFERÊNCIAS
Association Of Official Analytical Chemists-A.O.A.C. (1990). Official methods of analysis. 10ed.
Washington: Association of Official Agricultural Chemists.
Chicourel, E. L. Mercúrio em pescado – Quantificação e o efeito do preparo para o consumo (1993).
[Dissertação de Mestrado]. São Paulo(SP): Universidade de São Paulo.
CONAMA (1991) Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente 4ª ed. Brasília: CONAMA.
Connel, J. J. (1988). Control de la calidad del pescado. Zaragoza: Acribia.
IBAMA-Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Lagosta,
caranguejo-uçá e camarão no Nordeste. Série Estudos Pesca. Coleção Meio Ambiente, Brasília:
IBAMA.
Kolm, H. E.; Giamberardino Filho, R. E. & Kormann, M. C. (1997). Spatial distribution and temporal
variability of heterotrophic bacteria in the sediments of Paranaguá and Antonina bays, Paraná, Brazil.
Rev. Microbiol. 28 (4): 230-238.
Lima, T. C. S. (1999). Ocorrência de bactérias fecais e patogênicas na carne do carangueiro-uçá
(Ucides cordatus), água e sedimentos do mangue do Rio Paraíba do Norte, PB [Dissertação de
Mestrado]. João Pessoa (PB): Universidade Federal da Paraíba.
Mariño, M.; Martín, M. (1976).Contenido de mercurio en distintas especies de moluscos y pescados.
Anales de Bromatologia 28 (2): 155-178.
Mársico, E. T. (1997) Determinação do teor de mercúrio em camarões coletados nas baías de
Guanabara (Penaeus notialis) e Sepetiba (Penaeus schmitti). [Dissertação de Mestrado]. Niterói (RJ):
Universidade Federal Fluminense.
Oliveira, R. B. (1990). Indicadores de poluição e taxonomia de leveduras do estuário do rio Paraíba
do Norte, João Pessoa [Tese de Doutorado]. Rio de Janeiro (RJ): Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[Esp.]
57
II - ARTIGOS TÉCNICOS
PERFIL DO ENGENHEIRO DE PESCA DO BRASIL
Neiva Maria de ALMEIDA1 * ; Leonardo T. de SALES2 & Maria do Carmo Figueiredo SOARES3
1 Universidade Federal da Paraíba 2 Universidade Federal do Piauí
5. Bahia/ Paulo Afonso UNEB Estadual 04/09/1998 1999
7. Pará/ Belém UFRA Federal 06/03/2000 2000
8. Rio de Janeiro/ Niterói-RJ UNIPLI1 Particular 27/09/1999 2000
9. Pará/ Bragança UFPA Federal 03/09/2004 2005
10. Bahia/ Cruz das Almas UFRB Federal 31/08/2004 2005
11. Rio Grande do Norte/ Mossoró UFERSA Federal 13/02/2006 2006
12. Piauí/ Parnaíba UFPI Federal 2006 2006
13. Maranhão/ São Luís UEMA Estadual 2006 2006
16. Pernambuco/ Serra Talhada UFRPE Federal 17/10/2005 2007
15. Alagoas/ Penedo UFAL Federal 2006 2007
16. Amapá/ Macapá UEAP Estadual 2006 2007
17. Sergipe/ Aracaju UFS Federal 30/08/2006 2007
18. Paraíba/ Mamanguape UFPB Federal Em estudo Em estudo
19. Rio de Janeiro/ Cabo Frio FERLAGOS2 Particular Suspenso Suspenso
19. São Paulo/ Santos3 ? Federal Comentário Mídia Fonte: (FAEP-BR – 2007)
1. Uma única turma concluiu o Curso e a UNIPLI desativou o Curso. 2. A FERLAGOS anunciou que seria criado o Curso de Engenharia de Pesca, mas na prática não
aconteceu. 3. Comentários na mídia (2007) - Criação de um curso de Engenharia de Pesca em Santos – SP.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse levantamento revelou subsídios considerados relevantes, abordando informações gerais em
nível pessoal e profissional, para o acompanhamento do perfil do profissional da engenharia de pesca.
Os resultados da pesquisa possibilitaram mostrar um universo mais aproximado do perfil deste
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[Esp.]
65
profissional no cenário nacional. Sugere-se que seja realizado um acompanhamento consecutivo e mais
amplo dos profissionais da engenharia de pesca a partir dessa iniciativa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CONFEA (1983). Acessado em 30 ago. 2007.em: http://normativos.confea.org.br/downloads/0279-
83.pdf .
Diário Oficial da União (1983). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto/1980-
1989/D88911.htm . Acesso em: 29 ago. 2007.
Nogueira, A.J.; Barbosa, J.M. & Sales, L.T. (2005). A Engenharia de Pesca no Brasil e sua
organização. In: XIV Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca. Fortaleza: Resumos... CD Rom.
Sales, L.T. et al. (2006). Histórico da Associação dos Engenheiros de Pesca do Estado do Amazonas.
Revista Brasileira de Engenharia de Pesca. 1(1): 23-25.
Soares, M.C.F. (2004). Engenharia de Pesca: A profissão, os cursos e o programa especial de
treinamento (PET). Recife: Imprensa Universitária da UFRPE.
Soares, M.C.F. et al. (2006). Levantamento do perfil do Egresso de 2005 e do Ingresso de 2006 do
Curso de Engenharia de Pesca da Universidade Federal Rural de Pernambuco. In: XI Encontro
Nacional dos Grupos PET. Florianópolis: Resumos. CD Rom (Resumo Expandido 75).
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[Esp.]
66
ANEXO 1
QUESTIONÁRIO ENCAMINHADO POR E-MAIL AO GI PESCA E AQÜICULTURA PESQUISA SOBRE ENGENHEIROS DE PESCA - ANO 2007
1) Nome:
2) Ano nascimento ( ) País ( ) Estado ( ) Cidade ( )
3) Estado de Atuação: Favor citar o nome da cidade onde trabalha.
4) Em que área atua presentemente?
a) Aqüicultura (camarão) ( ) g) Beneficiamento ( )
10) Freqüentou outro curso superior? Não ( ) Sim ( ) Qual ( )
Freqüenta outro curso superior? Não ( ) Sim ( ) Qual ( )
11) Exerceu outra atividade profissional antes de trabalhar como Engenheiro de Pesca?
Não ( ) Sim ( ) Qual: ( )
12) Exerce atualmente outra atividade profissional?
Não ( ) Sim ( ) Qual: ( )
13) Durante sua vida profissional já prestou concursos públicos? Quais? Informe o ano.
Não ( ) Sim ( ) Quais ( ) Ano ( )
14) Qual a sua faixa de salário mensal bruto?
1) Até R$ 800,00 ( ) 5) Até R$ 4.500,00 ( )
2) Até R$ 1.200,00 ( ) 6) Até R$ 8.000,00 ( )
3) Até R$ 2.400,00 ( ) 7) Até R$ 10.000,00 ( )
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[Esp.]
67
4) Até R$ 3.200,00 ( ) 8) Acima de R$ 10.000,00 ( )
15) Na sua opinião, quais são as características mais relevantes para ser um bom profissional da
Engenharia de Pesca?
Características Muito importante
Importante Pouco importante
Sem importância
Sem opinião
Ter outros conhecimentos que o curso não proporciona
Ter conhecimento técnico Dominar outro idioma (Inglês)
Ter ambição Saber sorrir e ser amável (boa disposição de relacionamento no trabalho)
Ser Eficiente Dinâmico Feliz Gentil Honesto Inteligente Justo Lutador Notável Organizado Responsável Sensato Visionário Zeloso Trabalhador Perspicaz 16) Que fatores influenciaram sua decisão de cursar / exercer a profissão de Eng. Pesca?
Fatores Muito importante
Importante Pouco importante
Sem importância
Sem opinião
Remuneração Prestigio / reconhecimento Espírito de aventura Parentes Professores Vestibular mais fácil Contato com a natureza Possibilidade de viajar Contato com o mar 17) Como avalia a atuação dos Eng. Pesca de seu Estado?
Caso sua área de atuação não esteja aqui citada, favor nos informar.
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[Esp.]
68
Áreas Muito Boa
Boa Regular Ruim Péssima Sem opinião
Aqüicultura Tecnologia de Pesca (Captura) Tecnologia Pescado (Beneficiamento) Ensino Extensão Carcinicultura Meio Ambiente
18) Na sua opinião, dentre essas profissões, quais têm maior / menor prestígio social?
Utilize a escala de 1 a 10, circulando ou fazendo um X no número escolhido.
Coleta de Mariscos 4 26,7 1 10,0 Cultivo de Camarão - - 1 10,0
Pesca 11 73,3 - - Salina - - 3 30,0
Renda Média Familiar (R$) N % N % 60,00 a 180,00 5 33,3 2 20,0 180,00 a 300,00 9 60,0 7 70,0 300,00 ou maia 1 6,7 1 10,0
Total 15 100,0 10 100,0
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[Esp.]
77
ANÁLISE COMPARATIVA DAS COMUNIDADES
Com relação aos indicadores demográficos, ambas as comunidades apresentaram características
semelhantes quanto a número de filhos e número de pessoas por domicílio, a maioria dos entrevistados
declararam ter entre 3 e 5 filhos e suas famílias constituídas de até 6 membros. A comunidade de
Sambaíba apresentou relativamente o pior nível de escolaridade, com um nível de analfabetismo em
torno de 70%, enquanto o Quilômetro Quatro mostrou apenas 20%. Com relação a condição de
domicílio, tanto Sambaíba quanto Quilômetro Quatro, praticamente todos os respondentes moravam
em casa própria e eram abastecidas por poços artesianos. Neste aspecto, a comunidade de Quilômetro
Quatro apresentava uma melhor provisão de infra-estrutura tais como saneamento básico e rede
elétrica. No que se referem às atividades geradoras de renda, as famílias da comunidade de Sambaíba
tinham sua economia mais ligada às atividades agrícolas e extrativistas (pesca e mariscos), enquanto a
comunidade de Quilômetro Quatro dependia mais de atividades de agricultura e mineração (salina).
Apesar das diferentes atividades geradoras de renda, ambas as comunidades apresentaram níveis de
renda média familiar com a mesma distribuição.
COMENTÁRIOS CONCLUSIVOS
Supõe-se que a relativamente baixa qualidade de vida de Sambaíba seja determinada pela maior
distância desta comunidade à sede do município, Camocim. O isolamento de Sambaíba pode estar
contribuindo também para uma maior dependência das famílias às atividades relacionadas aos recursos
naturais (agricultura e extrativismo), mostrando assim que, as comunidades mais isoladas mantêm uma
ligação estreita com o meio ambiente.
Camocim, embora possua áreas propícias a atividade com ostras, o extrativismo destas mostrou-
se pouco expressivo tanto com relação ao consumo quanto como fonte de renda. Entretanto, a
exploração deste recurso, através do extrativismo ou cultivo, pode contribuir significativamente para
complementação alimentar ou como fonte de renda para as comunidades estuarinas.
Observou-se que o município de Camocim apresenta condições favoráveis do ponto de vista
ambiental para a ostreicultura, tendo em vista que em seus estuários encontra-se constantemente a
presença de ostras fixadas às raízes do mangue.
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[Esp.]
78
AGRADECIMENTOS
Esta pesquisa foi financiada pelo Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico –
FUNDECI do Banco do Nordeste – BN, e com o apoio da Prefeitura Municipal de Camocim, por
intermédio da Secretária de Desenvolvimento Sustentável, na pessoa do secretário Dr. Julênio Braga
Rodrigues.
Nossos sinceros agradecimentos à agência financiadora, parceiros institucionais, e colaboradores,
sem os quais esta pesquisa não teria sido realizada.
REFERÊNCIAS
Dantas-Neto, M. P. (2001). A Ostreicultura como Atividade Sustentável em Fortim, Ceará.
[Dissertação de Mestrado] Fortaleza (CE): Universidade Federal do Ceará.
HISSA N. (1998) Arquitetos Associados. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Camocim. Camocim, Nasser Hissa Arquitetos Associados. Camocim: Documento Básico de Camocim.
PINHEIRO, M..M.L. (1994). Diagnostico Socioeconômico da Comunidade de Moradoras do Manguezal do Rio Ceará, Município de Caucaia, Ceará [Trabalho de Monografia]. Fortaleza (CE): Universidade Federal do Ceará.
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[Esp.]
79
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO NA REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PESCA
OBJETIVO - A Revista Brasileira de Engenharia de Pesca (REPesca) tem por objetivo publicar artigos
científicos e técnicos/informativos, abordando temas de interesse na área de Recursos Pesqueiros e
Engenharia de Pesca.
INFORMAÇÕES GERAIS - Os originais devem ser redigidos em português, inglês ou espanhol, de forma
concisa, com a exatidão e a clareza necessárias à sua fiel compreensão. Devem ser enviados à
Comissão Editorial pelo e-mail: [email protected] ou em CD, rigorosamente de acordo com estas
normas, donde serão enviados aos consultores “ad hoc”, membros da Comissão Editorial ou indicados
pelo Editor. Os pareceres serão transmitidos anonimamente aos autores. Em caso de recomendação
desfavorável, poderá ser pedida a opinião de um outro assessor. Os trabalhos serão publicados na
ordem de aceitação, ou pela sua importância e podem ser de três tipos: Artigos Científicos, Artigos
Técnicos e Resenhas e devem ter os seguintes itens:
Artigos Científicos - Resumo (+ Palavras-chave), Abstract (+ Keywords), Introdução, Material e
Métodos, Resultados e Discussão (estes dois juntos ou separados), Conclusões (opcional),