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LABORATÓRIO CONTÁBIL: O USO DESSA ESTRATÉGIA DE ENSINO
CONTRIBUIU PARA MINHA APRENDIZAGEM PRÁTICA?
Geovane Camilo dos Santos
Especialista em Planejamento e Gestão Tributária
Universidade Federal de Uberlândia/Pontifícia Universidade
Católica de Goiás
Av. João Naves de Ávila, 2121, Bairro Santa Mônica, Uberlândia
(MG), CEP: 38400-902/Av.
Universitária, 1440, Bairro Setor Universitário, Goiânia(GO),
74605-010,
[email protected]
Marli Auxiliadora da Silva
Doutora em Educação e Mestre em Contabilidade e
Controladoria
Universidade Federal de Uberlândia
Rua Vinte, nº 1.600, Bairro Tupã, Ituiutaba (MG), CEP:
38304-042, [email protected]
Derley Júnior Miranda Silva
Graduado em Ciências Contábeis
Av. João Naves de Ávila, 2121, Bairro Santa Mônica, Uberlândia
(MG), CEP: 38400-902,
[email protected]
RESUMO
Investigou-se, neste estudo, a opinião de egressos do curso de
Ciências Contábeis quanto à
contribuição da estratégia de ensino em laboratório no processo
de ensino-aprendizagem
prático, para integralização do componente curricular
Laboratório Contábil, em uma
instituição de ensino superior (IES) pública federal do interior
de Minas Gerais. O estudo
exploratório usou, após análise documental no projeto
pedagógico, ficha da disciplina e plano
de ensino, a técnica do discurso do sujeito coletivo (DSC) para
análise qualitativa das
entrevistas realizadas com os egressos da referida instituição.
Os resultados apontam que os
discentes ao cursarem o componente curricular utilizam um
software contábil, que já está
parametrizado, não permitindo aos estudantes esse aprendizado,
embora esta prática seja
prevista como conteúdo curricular. O discurso coletivo relata
ausência de prática relativa à
elaboração e manuseio de diversos documentos fiscais, o que
resulta em desconhecimento
quanto ao cumprimento de várias obrigações ou normas legais. Com
relação à elaboração das
demonstrações financeiras, os discentes confeccionam apenas o
Balanço Patrimonial e a
Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). Os controles
financeiros e de custos,
exigidos no contexto real das empresas, são realizados em uma
planilha do Excel, porém, os
alunos não fazem todos os controles financeiros, além de não
aprenderem a formar preço de
venda, por exemplo. Os egressos, apesar de concordarem sobre a
contribuição do componente
curricular para sua formação ainda sentem uma carência quanto à
aprendizagem prática
experiencial, oportunizada pelo estágio supervisionado
integralizado na forma de componente
curricular.
Palavras-chave: Processo ensino-aprendizagem; Aprendizagem
prática; Estratégias de
ensino; Laboratório contábil.
Área Temática: Educação e Pesquisa em Contabilidade (EPC).
mailto:[email protected]
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1 INTRODUÇÃO
A estratégia esteve, historicamente, vinculada à arte militar no
planejamento das ações
a serem executadas no período de guerras e, nos dias atuais, é
um vocábulo largamente
utilizado no ambiente empresarial (Petrucci & Batiston,
2006). No campo educacional a
estratégia refere-se ao procedimento utilizado para a
transmissão do conteúdo e, por isso, tais
procedimentos são designados como métodos de ensino, métodos
didáticos, técnicas
pedagógicas, técnicas de ensino, atividades de ensino e outras
(Gil, 1999a). Para facilitar a
aprendizagem dos alunos, o professor se vale de estratégias,
utilizando os meios disponíveis a
fim de atingir os objetivos educacionais de conteúdos
curriculares diversos. (Cunha, 1988;
Oliskovicz & Dal Piva, 2012).
Mazzioni (2013) explica que o uso de estratégias de ensino
refere-se aos meios
utilizados pelos docentes na articulação do processo de ensino,
de acordo com cada atividade
e os resultados esperados. Martins (2011) complementa que as
estratégias buscam facilitar o
alcance dos objetivos, sendo relevante que os sujeitos da
aprendizagem – alunos e professores
tenham claros quais são esses objetivos, visto que as aulas
podem ocorrer, de acordo com
Beppu (1984), CNE (2004a), Morais Júnior e Araújo (2009),
Moreira (2013) em dois
contextos: prático e teórico e diferentes estratégias podem ser
usadas em cada tipologia.
Em relação ao ensino prático a estratégia de ensino em
laboratório visa à eficiência na
aprendizagem vinculada ao conteúdo já ministrado (Masetto,
2003). As aulas práticas são
consideradas uma estratégia que “consiste em mostrar aos alunos
o lado prático da disciplina,
e [...] uma das formas sugeridas é uma parte do curso ser
desenvolvida no laboratório
contábil, utilizando processo eletrônico. Toda disciplina
contábil poderá ser alvo de
laboratório” (Marion, Garcia & Cordeiro, 1999, p. 31). Nas
Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCNs), como proposta de uma formação que contemple os aspectos
específicos da atuação
profissional, é prevista a inserção da prática por meio da
frequência à laboratórios contábeis
e/ou escritórios modelos, geralmente nos anos finais do curso,
quando os alunos poderão
praticar os conhecimentos teóricos (CNE, 2004a).
A dosagem equilibrada de atividades de ensino aplicada em
ambientes de sala de aula
e laboratórios constitui bom aprendizado para alunos (Marion,
2001) e facilitarão não só o
processo ensino-aprendizagem, mas o desempenho dos egressos de
cursos de Ciências
Contábeis quando de sua inserção no mercado, de forma que não
sejam surpreendidos pela
constatação de limitações no desempenho de funções,
percebendo-se inaptos de competências
para o exercício profissional. Essa visão é corroborada por
Rocha (2007, p. 27) ao citar que
“laboratório também é ambiente comum de aprendizagem, em que
ocorre a experiência ou
vivência por meio de atividades práticas de alguns ramos do
conhecimento [...]”.
Diante da necessidade do aprendizado prático do aspirante a
contador, e tendo como
hipótese de que para que o aprendizado prático nesta estratégia
de ensino é necessário o
aprendizado teórico, esta pesquisa se ancora na Teoria da
Assimilação de Ausubel ou teoria
da aprendizagem significativa. Em conformidade com Ausubel
(2002) o aprendizado irá
ocorrer de forma significativa, ao constatar uma estrutura
cognitiva, em que a pessoa possua
conceitos base com os quais ideias novas possam ser
relacionadas.
Santos (2003) afirma que uma das formas de proporcionar a
prática no curso de
Ciências Contábeis, é mediante o Laboratório Contábil, assim, no
contexto do uso da
estratégia de ensino em laboratório e, de forma específica da
disciplina de Laboratório
Contábil, ofertada como componente curricular. A disciplina,
comumente ofertada ao final do
curso, aborda conteúdos curriculares apresentados e discutidos
nos períodos antecedentes.
Assim, quando da apresentação de conteúdos ‘novos’, o aluno
estará apto a assimilá-lo devido
à sua “bagagem intelectual”. (Ausubel, Starger & Gaite,
1968; Ausubel, 2002).
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Embora o componente curricular seja ofertado nos períodos finais
do curso e vise à
aprendizagem prática, não há consenso sobre qual a forma mais
eficaz para sua integralização
- se em contexto real de trabalho, em empresas, ou como
componente curricular, na própria
instituição de ensino (Jacomossi, 2015), embora em contexto
brasileiro, as DCNs orientem
que esta seja ofertada por meio de componente curricular
específico. Acredita-se, por isso,
que os resultados deste estudo trarão novas contribuições às
discussões.
Estudos que investigaram a opinião de discentes sobre a
metodologia usada para a
realização da aprendizagem prática (Lousada & Martins, 2005;
Rocha, 2007; Nassar, Al-
Khadash & Mah’d 2013) concluíram que, mesmo sua oferta como
componente curricular, os
alunos sentem falta da experiência prática durante o período da
graduação. A prática contábil
proporcionada aos alunos, para Santos (2003), tem sido um dos
problemas recorrentes e
discutidos em diversos periódicos nacionais e internacionais, em
congressos e encontros
especializados na área. Quanto aos laboratórios contábeis esta
não é considerada os como o
tipo de aula mais eficaz por não desenvolverem as habilidades
esperadas dos profissionais de
contabilidade (Mazzioni, 2013).
Diante do exposto, objetivo geral é investigar a opinião de
egressos do curso de
Ciências Contábeis quanto à contribuição da estratégia de ensino
em laboratório no processo
de ensino-aprendizagem prático, para integralização do
componente curricular Laboratório
Contábil, em uma instituição de ensino superior (IES) pública
federal do interior de Minas
Gerais. Buscou-se responder à questão: qual a opinião dos
egressos do curso de Ciências
Contábeis de uma IES pública federal localizada no Triângulo
Mineiro quanto à contribuição
da estratégia ensino em laboratório para integralização do
componente curricular Laboratório
Contábil, no processo de ensino-aprendizagem prático de
contabilidade?
As avaliações de corte qualitativo tem uma dimensão claramente
simbólica (Lefreve,
Crestana & Cornetta, 2003) e são recomendadas, explicam as
autoras retro mencionadas,
quando se pretende avaliar, por exemplo, como alunos se sentem e
descrevem sua experiência
com diferentes aspectos de um curso.
Diante do exposto, considera-se que pesquisas cujas temáticas
abordam o processo de
ensino-aprendizagem são relevantes, pois resultam em discussões
que, no curto ou longo
prazo, podem provocar mudanças ou intervenções no processo, no
sentido de ajustá-lo ou
melhorá-lo. Existem várias maneiras de se ensinar: métodos
tradicionais e inovadores que se
bem aplicados podem fazer diferença na formação profissional
(Marion et al, 1999). Nesse
sentido, o estudo se justifica, por discutir sobre a utilização
de uma estratégia no ensino da
contabilidade que vai além das teorias e que busca proporcionar
ao discente o conhecimento
prático necessário à profissionalidade.
Em relação à forma como os egressos descrevem a estratégia
ensino em laboratório e o
componente curricular Laboratório Contábil e, por conseguinte o
que pensam acerca dos
conhecimentos adquiridos – cuja hipótese é de que sejam
minimamente suficientes para o
exercício profissional -, os achados deste estudo trarão novas
contribuições às discussões e
poderão resultar em indicações, em sugestões, para aprimorar o
currículo do curso, refletindo,
no aperfeiçoamento da estratégia ensino em laboratório.
O estudo encontra-se estruturado em quatro seções, além desta
introdução. Na segunda
seção expõe-se o referencial teórico. Na terceira e quarta
seções apresentam-se os
procedimentos metodológicos e a análise e discussão dos
resultados, respectivamente e, por
fim, sintetizam-se as considerações finais do estudo.
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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Breve contextualização da legislação atinente ao ensino de
contabilidade
No Brasil, os cursos técnicos foram os precursores do ensino
superior em
contabilidade (Bernardo, Nascimento & Nazareth, 2010),
surgindo da necessidade de uma
maior regulamentação no mercado do país, devido ao fato de que a
partir da década de 1930 o
processo de industrialização e a formação de maiores empresas
cresciam em larga escala. À
época, as disciplinas com caráter técnico na área contábil do
ensino comercial ficavam
restritas à utilização do escritório modelo (Rocha, 2007).
Apesar de ser início da década de
1930, Rocha (2007) explica que havia uma preocupação de
proporcionar, mediante o ensino,
a prática profissional, com o uso do escritório modelo, sendo
este um ambiente apropriado
para o desenvolvimento de atividades práticas, e que atendia a
necessidade dos cursos.
De forma lenta e gradual, os cursos superiores de contabilidade
foram criados como
em 1931, quando tiveram início os cursos técnicos de Atuária e
Perito Contador, ou ainda em
1945, quando na Faculdade de Ciências Econômicas e
Administrativas da Universidade de
São Paulo (FCEA/USP) foi criado o curso de Ciências Contábeis e
Atuariais (Bonini &
Martins, 1981). Moraes Júnior & Araújo (2009) e Passos
(2004) possuem percepções
semelhantes ao afirmarem que o ensino superior de Contabilidade
no Brasil, iniciou-se no ano
de 1945, com foco no aprendizado técnico, para a escrituração
dos livros contábeis.
Com a criação dos novos cursos, mudanças quanto à interpretação
do ensino da
contabilidade, também foram feitas. Destacam-se as discussões
sobre a necessidade de fazer
aplicações das teorias vistas no campo pragmático por meio da
oferta de disciplinas com parte
da carga horária exclusivamente prática, como os casos
desenvolvidos nos laboratórios de
contabilidade (Ribeiro, 2009). Ao longo dos anos a legislação
relativa ao ensino de
contabilidade evidencia referências à prática necessária para a
formação do perfil profissional
do contador, como exposto no Quadro 1.
Quadro 1 – Formação do perfil profissional do contador conforme
legislações Legislação Descrição
Decreto nº
17.329/1926
Aprovou o regulamento para os estabelecimentos de ensinos
técnicos comerciais reconhecidos
oficialmente pelo Governo Federal, mencionando no artigo 7º que
o ensino seria
principalmente prático.
Decreto nº
20.158/1931
Organizou o ensino comercial regulamentando a profissão de
contador. Estabelece, no Artigo
30, que os estabelecimentos de ensino comercial deveriam possuir
instalações de escritório
modelo para execução dos respectivos exercícios, observações,
experiências e escriturações, de
acordo com finalidade de cada curso.
Parecer CNE
n° 776/1997
Oferece informações sobre as diretrizes curriculares dos cursos
de graduação e cita no item 7 a
necessidade de fortalecer a articulação da teoria com a
prática.
Parecer CNE
nº 67/2003
Manteve como princípio o fortalecimento da articulação da teoria
com a prática, valorizando a
pesquisa individual e coletiva, assim como os estágios e a
participação em atividades de
extensão, as quais poderão ser incluídas como parte da carga
horária.
Parecer CNE
nº 289/2003*
destaca que na elaboração dos projetos pedagógicos dos cursos de
Ciências Contábeis deve
prevalecer como elemento estrutural os modos de integração entre
teoria e prática.
Resolução
CNE/CES nº
10/2004
Atualmente em vigência, evidencia que os cursos de graduação em
Ciências Contábeis devem
ensejar condições para que o futuro contador integre a teoria e
a prática.
* O Parecer CNE nº 289/2003 foi alterado pelo Parecer CNE nº
269/2004.
Fonte: Adaptado de Brasil (1926; 1931); CNE (1997; 2003a; 2003b;
2004a; 2004b).
A legislação educacional brasileira, aplicável ao curso de
Ciências Contábeis, tem
promovido alterações necessárias para acompanhar as
transformações ocorridas no mundo
globalizado (Bernardo et al, 2010), e em linha com essas
alterações o processo de ensino-
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aprendizagem deve ser articulado de forma que as estratégias de
ensino possam integrar a
teoria a prática, de forma a desenvolver competências técnicas,
habilidades profissionais e
atitudes éticas.
2.2 A aprendizagem prática no contexto do processo
ensino-aprendizagem contábil
O ensino consiste na resposta planejada às exigências naturais
do processo de
aprendizagem e, segundo Santos (2001) há distinção e
indissociabilidade destes termos, pois
ao discorrer sobre o processo de ensino, naturalmente, remete-se
ao processo de
aprendizagem. Sob essa perspectiva Pimenta e Anastasiou (2008,
p. 205) argumentam que
“este processo reside de uma prática social, efetivada pela
interação entre os sujeitos, alunos e
professor, tanto na ação de ensinar quanto na de aprender”.
Ferreira e Frota (2002) discorrem sobre esse processo expondo
que para que o ensino
seja um ato de conhecimento, é necessário existir entre educador
e educando uma relação
dinâmica de autêntico diálogo mediatizado pelo objeto a ser
conhecido. Os autores explicam
que “aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta,
isto é, de uma situação real
vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta de uma
aproximação crítica dessa
realidade”. (Ferreira & Frota, 2002, p. 7). Bordenave e
Pereira (2004) contribuem às
discussões, ao explicarem que o ensino pode ser considerado como
um processo deliberado
para facilitar que as pessoas aprendam e cresçam intelectual e
moralmente, dando-lhes
situações planejadas de modo que os aprendizes vivam
experiências para que se produzam
neles as modificações desejadas.
Quanto ao contexto do processo de ensino-aprendizagem, Behling,
Rebelo, Kraemer,
Goede (2005) mencionam que esse processo deve ser idealizado e
planejado, sendo
indispensável que seja efetivado mediante o desenvolvimento das
competências e habilidades
tanto dos professores quanto dos alunos, visto que se o aluno é
o sujeito do processo, o
professor é o agente facilitador da aprendizagem (Ghedin, 2012).
Nesse processo, vários são
os fatores que interferem nos resultados esperados: as condições
estruturais da instituição de
ensino, as condições de trabalho dos docentes, as condições
sociais dos alunos e os recursos
disponíveis (Mazzioni, 2013). Fatores adicionais como a
legislação influenciam esse
processo, em especial no ensino superior. Também influenciam o
processo de ensino-
aprendizagem as estratégias ou métodos de ensino utilizados.
Para a formação do contador conforme previsto pela Lei nº
9.394/96 vários métodos
de ensino precisam ser utilizados (Brasil, 1996). Os métodos
estão inseridos dentro das
estratégias de ensino e constituem-se em meios utilizados pelos
docentes na articulação do
processo de ensino, de acordo com cada atividade e os resultados
esperados (Mazzioni, 2013).
Nos cursos de Ciências Contábeis são previstas aulas práticas
como aquelas ministradas em
laboratórios de ensino ou escritórios modelos como uma das
formas de realizar a integração
entre teoria e prática.
A estratégia do ensino em laboratório visa à eficiência na
aprendizagem ao vincular a
prática com o conteúdo já ministrado (Masetto, 2003). “Os
aspectos teóricos nunca estarão
dispensados, mas será mais interessante e motivador tratá-los e
aprendê-los de forma
integrada com a realidade profissional do que apenas
subjetivamente” (Masetto, 2003, p.
130). A estratégia de laboratório é adequada para o objetivo de
“aprender fazendo e
resolvendo problemas com intervenção de recursos humanos
competentes [...]” (Bordenave &
Pereira, 2004, p. 152). Rocha (2007, p. 73) complementa que o
ensino em laboratório é
“perfeitamente aplicável como uma técnica ao ensino de
contabilidade, pois proporciona que
o aluno esteja diante de uma situação prática da área
contábil”.
Na área contábil, desde o estágio inicial dos cursos técnicos,
já se constatava o uso dos
escritórios modelos a fim de aliar a teoria à aprendizagem
prática (Bonini & Martins, 1981).
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Essa prática foi estendida ao ensino superior (CNE, 2004a)
mediante a utilização de
laboratório de contabilidade ou escritório modelo para que os
alunos do curso de Ciências
Contábeis pudessem compreender na prática o que foi ensinado na
teoria (Marion, 2001). As
atividades desenvolvidas na forma de laboratório, utilizando
processo eletrônico, é uma forma
de dirimir a distância entre a academia e mercado de trabalho,
permitindo aos alunos conhecer
um pouco da prática da profissão contábil (Rocha, 2007).
Componentes curriculares podem, legalmente, serem desenvolvidos
em laboratórios
como previsto pela Resolução CNE/CES n°10/2004, no Artigo 5°,
inciso III, que determina a
prática em laboratório de informática utilizando softwares
atualizados para contabilidade.
(CNE, 2004a). Entretanto, embora relevante como estratégia de
ensino, por vezes, percebe-se
deficiência no uso de estratégias de ensino que privilegiem
atividades práticas em laboratórios
ocasionadas por inexistência ou precariedade de instalações
físicas e equipamentos nesse
ambiente de ensino-aprendizagem ou ainda por falta de
professores adequadamente
preparados (Meneghini, 1996; Silva, 2001; Rocha & Côrtes,
2009).
Pesquisadores como Rocha e Côrtes (2009) que investigaram as
contribuições do
ensino-aprendizagem do curso de Ciências Contábeis, mediante a
disciplina de Laboratório de
Contabilidade concluíram que coordenadores de curso veem que a
disciplina é importante
para a integração da teoria e da prática, sendo uma estratégia
que favorece o aprendizado
prático, pois reflete a realidade das empresas, o que permite a
união da formação acadêmica
com as atividades profissionais. Como contraponto, na percepção
de alunos os laboratórios
contábeis não são considerados como o tipo de aula mais eficaz
e, ainda, não desenvolvem as
habilidades esperadas dos profissionais de contabilidade
(Mazzioni, 2013).
Também Jacomossi (2015), ao investigar a aplicação de normas
internacionais de
educação contábil ao contexto brasileiro, tece considerações
interessantes sobre a
aprendizagem prática, que no Brasil, é desenvolvida em
laboratórios de ensino: para
coordenadores de curso, docentes, discentes e profissionais
liberais a experiência prática
deveria ser obtida, de forma obrigatória, em contextos reais,
mediante os estágios realizados
em empresas idôneas, que possibilitassem condições suficientes
para auxiliarem as
instituições de ensino superior nesse processo e, não nas
instituições de ensino, por meio de
componente curricular, em situações simuladas.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A presente pesquisa com abordagem qualitativa é exploratória
quanto aos objetivos,
visto que buscou investigar, para discutir em profundidade, a
opinião de egressos do curso de
Ciências Contábeis quanto à contribuição da estratégia de ensino
em laboratório no processo
de ensino-aprendizagem prático, para integralização do
componente curricular Laboratório
Contábil, em uma IES pública federal do interior de Minas
Gerais.
Os dados qualitativos de natureza verbal, obtidos por meio de
entrevista
semiestruturada, foram organizados e tabulados utilizando-se a
técnica do Discurso de
Sujeito Coletivo (DSC). Lefreve, Lefreve & Teixeira (2000)
explicam que a técnica consiste
na apresentação dos resultados sob a forma de um ou vários
discursos-síntese, escritos na
primeira pessoa do singular, a fim de expressar a opinião de uma
coletividade, como se esta
fosse o emissor de um discurso.
Na técnica do DSC são selecionadas as expressões-chave de cada
resposta individual
a uma questão, que correspondem aos trechos mais significativos
das respostas,
correspondendo a ideias centrais que são a síntese do conteúdo
discursivo. “Com o material
das expressões chave das ideias centrais constroem-se
discursos-síntese, na primeira pessoa
do singular, que são os DSCs, onde o pensamento do grupo ou
coletividade aparece como se
fosse um discurso individual”. (Lefreve, Crestana &
Cornetta, 2003, p. 70).
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A entrevista constituiu-se em um roteiro visto que inicialmente
coletaram-se
informações relativas ao perfil sociodemográfico do egresso e,
na sequência, questões abertas
sondaram sua opinião em relação à estratégia de laboratório,
usada integralmente para a
integralização do componente curricular Laboratório Contábil,
onde a aprendizagem prática e
experiencial é realizada. A questão selecionada para a
construção do discurso-síntese foi: O
modo como o componente curricular Laboratório Contábil é
ministrado contribuiu, a
seu ver, para sua aprendizagem experiencial? Fale um pouco sobre
isso.
Responderam a este questionamento e aos demais, egressos da
instituição de ensino
superior pesquisada. Para composição da amostra solicitou-se a
listagem com os nomes de
todos os concluintes à coordenação do curso de Ciências
Contábeis. O recorte temporal, para
seleção dos participantes da pesquisa, considerou o período a
partir de 2011, visto que o
Projeto Político Pedagógico (PPC), na IES, foi reestruturado em
2007, sendo a primeira turma
concluinte em 2011. No período de 2011 a 2016, concluiu o
componente curricular o total de
477 discentes. Destes 357 são egressos do curso noturno e 120 do
curso integral
representando assim a população da pesquisa.
A amostragem, probabilística e intencional, foi sorteada
mediante o uso do software
BioEstat 5.3, utilizando-se a função aleatório sem reposição. Em
cada semestre letivo sorteou-
se três egressos e, após conhecer seus nomes, nova solicitação
foi encaminhada à coordenação
do curso para acesso ao contato de e-mail, telefone e endereço
destes egressos e posterior
convite à participação na entrevista. Ressalta-se que nesse
primeiro momento foram
escolhidos aleatoriamente 48 respondentes.
Esse número de participantes sorteados no primeiro momento foi
reduzido mais uma
vez, pois no momento do contato telefônico e convite à
participação fazia-se uma pergunta
“filtro” visando saber se a pessoa já havia trabalhado ou estava
trabalhando na área de
Contabilidade. A pergunta era formulada tendo em vista que o
objetivo era a análise do DSC a
respeito da contribuição do componente curricular para a
aprendizagem profissional. Caso a
resposta fosse negativa o egresso era retirado da amostra. Em
decorrência da quantidade de
pessoas que aceitaram participar da pesquisa e/ou não atendiam
ao requisito filtro, a amostra
ficou reduzida a sete pessoas. Assim, realizou-se uma nova
amostragem, não probabilística e
por conveniência, com pessoas conhecidas pelos pesquisadores e
que atendiam às exigências
metodológicas propostas. Ao final a amostra totalizou 12 (doze)
egressos.
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS
Apresenta-se, inicialmente, o perfil descritivo dos respondentes
que em sua maioria
(61,5%) são do sexo feminino (Quadro 2). Para preservar a
confidencialidade de suas
identidades os entrevistados estão elencados por números.
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Quadro 2 – Perfil dos respondentes Entrevistado Conclusão
Situação ao cursar a disciplina Situação atual
N Sexo (semestre/ano) Trabalhava? Qual a área? Trabalha? Qual a
área?
Entrevistado 1 F 1/2016 Sim Analista
financeiro/contábil Sim
Analista
Contábil
Entrevistado 2 M 1/2015 Sim Estagiário Sim Assistente
contábil
Entrevistado 3 F 1/2013 Não Não se aplica Sim Professora
Adjunta
Entrevistado 4 M 2/2016 Não Não se aplica Não Não se aplica
Entrevistado 5 F 2/2016 Sim Assistente Contábil Sim
Assistente
Contábil
Entrevistado 6 M 2/2014 Sim Assistente Contábil Sim Suporte
Fiscal
Entrevistado 7 M 2/2012 Sim Iniciação Científica Sim
Professor
Substituto
Entrevistado 8 F 2/2012 Sim Assistente Fiscal Não Não se
aplica
Entrevistado 9 F 1/2016 Sim Estagiária Sim Assistente Fiscal
Entrevistado 10 F 2/2016 Sim Estagiária Sim Analista de
crédito
Entrevistado 11 M 2/2016 Sim Gerente Sim Gerente
Entrevistado 12 F 1/2012 Sim Assistente Contábil Sim
Contadora
Entrevistado 13 F 2/2015 Não Não se Aplica Sim Assistente
Contábil e Fiscal
Fonte: Dados da pesquisa.
Como diversos egressos sorteados não atenderem aos requisitos
apresentados como
condição para participar da pesquisa, não se observa, no Quadro
2, respondentes do ano de
2011. Verifica-se que 76,9% dos entrevistados quando realizaram
a disciplina de Laboratório
Contábil estavam trabalhando, e a maior parte na área contábil e
fiscal, ou seja, ao cursar o
componente curricular, os egressos já possuíam algum
conhecimento contábil prático.
Quando da realização da entrevista, em dezembro de 2016, apenas
dois respondentes não
estavam trabalhando. Outra observação apresentada no Quadro 2
confirma que os dez
egressos que trabalham estão atuando em sua área de formação,
com predominância de
analistas/assistente contábeis e fiscais, professores e
contadores.
Os resultados qualitativos apresentados, na sequência sob a
forma de DSCs, foram
construídos com base nos discursos considerados mais
significativos e ancoram-se nas
expressões-chave dos depoimentos. São as seguintes as ideias
centrais:
1 – A estratégia de ensino em laboratório, na integralização do
componente curricular
Laboratório Contábil, atende parcialmente à orientação de se
utilizar softwares contábeis.
2 – A estratégia de ensino não reflete o contexto real de
trabalho, pois quando as turmas são
grandes, a prática é realizada em duplas e não é isso que ocorre
nos escritórios e empresas.
3 – A estratégia possibilita, ainda que de forma superficial a
interface entre teoria e prática.
4 – O conhecimento acumulado em períodos anteriores (Teoria da
Assimilação de Ausubel)
foi destacado, mas acaba-se ‘esquecendo muitas informações’
porque a prática não é contínua
ao longo do curso e ‘na disciplina tudo é visto
(revisto/praticado) de forma muito rápida’.
5 – O conteúdo do componente curricular ‘é superficial’ e, não
desenvolve como deveria, as
habilidades profissionais de um contador.
6 – Aspectos negativos que devem ser revistos.
7 – Sugestões para melhorias.
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A discussão apresentada a seguir, atendendo à metodologia do DSC
é apresentada
como um discurso-síntese, na primeira pessoa do singular, onde o
pensamento do grupo ou
coletividade aparece como se fosse um discurso individual.
DSC 1 – A estratégia de ensino em laboratório, na integralização
do componente
curricular Laboratório Contábil, atende parcialmente à
orientação de se utilizar
softwares contábeis
O software utilizado não é atualizado e é quase off-line, pois
não há integração entre
as áreas contábil, fiscal e pessoal, por exemplo. O sistema já é
parametrizado e isso é ponto
negativo nessa estratégia de ensino, pois os alunos não têm
oportunidade de fazer os cadastros
dos empresários, da empresa, dos sócios, e vários outros, uma
vez que na prática eles terão
que tomar essa atitude, e acaba que no período que deveriam ter
aprendido eles não nos foi
dada essa oportunidade.
O aluno deve aprender a utilização de um software desde a sua
parametrização, pois
quando for trabalhar em contextos práticos, ele precisa saber
realizar essa atividade, para
facilitar o desenvolvimento de suas rotinas e o cadastro de
informações novas – tipo códigos
de municípios, fornecedores, clientes, produtos etc.
DSC 2 – A estratégia de ensino não reflete o contexto real de
trabalho, pois quando as
turmas são grandes, a prática é realizada em duplas e não é isso
que ocorre nos
escritórios e empresas
As aulas práticas no laboratório são realizadas em duplas e
sempre tem um que
entende mais, é claro que você vai deixar ele tomar a frente,
você não vai ‘ferrar com o cara’,
com a nota dele. Não dá tempo de você aprender tudo.
Outro ponto destacado é que o rendimento é maior, quando as
aulas são realizadas de
forma individual, pois não é preciso ficar esperando o colega
que apresenta maior grau de
dificuldade na realização das tarefas.
DSC 3 – A estratégia possibilita, ainda que de forma superficial
a interface entre teoria e
prática
Bom seria se os alunos tivessem uma vivência de como que as
empresas trabalham
hoje em dia, por que como nós fazemos na faculdade nós vimos
tudo manual, lançamento em
razonete, balanço, contabilização tudo manual: a gente não tinha
nenhum tipo de visão de
programa que já te dá o balanço pronto, uma DRE pronta e
detalhada. Então no Laboratório
Contábil, a gente jogava os lançamentos lá e no final já tinha
tudo pronto, então assim era
mais para que o aluno conhecesse mesmo como funciona na
realidade.
As atividades desenvolvidas no Laboratório Contábil I e II
consistiam em realizar uma
contabilização de uma indústria de confecção, cuja empresa era a
mesma para os dois
períodos, com a realização das transações do mês de março e no
segundo de abril. A empresa
já estava aberta e não aprendemos o passo a passo da abertura de
uma empresa durante essa
disciplina, tanto na forma legal, com todos os documentos
necessários quanto na forma de
lançamento no sistema. Eu acho isso uma coisa muito importante
hoje em dia, pois a gente vai
trabalhar e isso é o que a gente vê nas empresas, eu acharia
também importante incluir na
disciplina essa parte de abertura de empresas, entrar no site da
JUCEMG e verificar como é a
abertura de uma empresa, por que a gente teve essa disciplina
apenas na teoria, acharia
interessante incluir no início disciplina essa prática.
A empresa era do regime Lucro Real e até fazíamos as apurações
dos tributos, mas os
cálculos eram superficiais. Para a folha de pagamento, não
usávamos o sistema folha, pois os
cálculos eram realizados num arquivo do Excel e posteriormente
os lançamentos contábeis
-
eram realizados no software. Cálculos adicionais de
insalubridade e periculosidade etc., nunca
fizemos. As obrigações acessórias, como a entrega de
declarações, nunca fizemos nenhuma,
nenhuma declaração acessória, nenhuma.
No departamento fiscal, o professor simulava a emissão de uma
nota fiscal, porém
esse processo ocorria num arquivo do Excel, em que o modelo já
era fornecido aos alunos, e
os mesmos tinham que fazer o preenchimento para chegar-se aos
valores dos tributos, valores
da venda, etc. “Ele (professor) tinha uma planilha, e nessa
planilha tinha como se fosse
modelo, aí a gente teve que preencher. A empresa vai vender tal
coisa, aí a gente observava
quantas unidades, a gente tinha que chegar nos custos, nos
preços, aí a gente fazia a nota
fiscal, mas lá na planilha do Excel .... propriamente a nota
fiscal não”.
4 – O conhecimento acumulado em períodos anteriores (Teoria da
Assimilação de
Ausubel) foi destacado, mas acaba-se ‘esquecendo muitas
informações’ porque a prática
não é contínua ao longo do curso e ‘na disciplina tudo é visto
(revisto/praticado) de
forma muito rápida’
O início da disciplina de Laboratório Contábil é ruim porque,
por mais que a gente
tenha assimilado o conteúdo das disciplinas teóricas, após 2, 3
anos a lembrança já não é a
mesma, e acaba que se esquece de muita coisa durante as aulas.
Entretanto, o professor exige
um seminário, no Laboratório I, abordando praticamente todos os
temas que serão trabalhados
na disciplina, e isso eu achei bastante interessante, por que lá
na frente quando você esquecia
como fazer alguma coisa, você não precisava ir lá na internet e
procurar a informação, você
voltava lá no grupo e tinha uma informação mais fidedigna do
assunto que você precisava.
O aluno vai acumulando conhecimento, acumulando conhecimento e
depois de quatro
anos você não lembra mais de um detalhe muito específico que viu
em custos, ou uma coisa
muito específica que viu em introdutória ou intermediária, aí
você não trabalha com aquilo e
você vai esquecendo e aí deixa para fazer a prática toda lá no
final. E às vezes um pouco das
dificuldades é a falta de prática que você tem durante o curso.
O laboratório deveria ser
realizado em períodos anteriores, pois o aluno acaba esquecendo
o que já havia visto
anteriormente.
5 – O conteúdo do componente curricular ‘é superficial’ e, não
desenvolve como deveria,
as habilidades profissionais de um contador
No máximo dá pra ser “um assistente, um auxiliar, para iniciar
uma carreira de
contador ela ajuda sim, mas você sair de lá e você falar que é
um contador... Por que têm
diversas outras atividades de um contador que não é exercida,
como análise de balanço,
análise da própria DRE, algumas coisas mais complexas da
atividade operacional da empresa
que a gente não estudava”.
Não dá para dizer que saí preparado para atuação profissional,
pois os sistemas são
divergentes, sendo que a capacitação em mais de um sistema seria
interessante. Se o discente
conseguisse trabalhar com a realidade, o aprendizado seria
maior, do que o estudante ficar
resolvendo uma lista de exercício levada pelo professor. Se a
gente trabalhasse com coisas
reais, teria outro olhar em relação à realização daquela
atividade. Eu acredito que a gente vê
muita teoria, a gente vê muita teoria repetida e pouca
prática... Porque se for ver prática
mesmo é só Laboratório 1 e 2, num curso de 5 anos você ter duas
disciplinas práticas é muito
pouco. E fora que a nossa legislação muda constantemente, o que
eu aprendi, eu terminei o
curso agora em 2016, o que eu aprendi tenho certeza que muita
coisa já mudou. Então assim,
ter dois semestres só de prática, não te deixa preparado para
ser um contador, de sair daqui
para ir para um escritório.
-
6 – Têm aspectos negativos que devem ser revistos
As habilidades de liderança, de trabalho em grupo e comunicação
não são
desenvolvidas nessa aula não. Mesmo quando a gente trabalha em
dupla cada um faz o que
sabe, para não perder tempo, porque não dá para ficar ensinando
como mexer no software
para fazer as atividades. Lembro-me que no Laboratório I, um
assumia o papel de líder na
dupla e não havia discussões entre a dupla não gerando a
habilidade de comunicação.
Tem pontos negativos sim: foi tudo muito corrido, então você ia
lá fazer um
lançamento e ficava tudo muito automatizado e você não conseguia
absorver o que era
necessário. Eu saí de lá sabendo o que tinha que fazer naquela
disciplina, mas se me pedisse
aplica o que você aprendeu fora daqui, eu não saberia aplicar.
[...] ficou muito automático,
muito corrido nós nos sentimos meio pressionados a terminar a
matéria. Então, não foi
proveitoso não. Tudo era muito mecânico.
Pode ser que a gente não aprenda muito, e por isso não
desenvolva as competências
técnicas e habilidades profissionais porque “como é superficial,
tudo que é superficial fica
pouco na cabeça e vai embora rápido: você não aprende; você não
leva nada para o mercado
de trabalho, a verdade é essa”. Mas isso acontece “por que foi
muito pouco tempo, eu acho
que essa disciplina deveria ter em todos os períodos... Acho que
essa disciplina deveria ser
colocada como uma interdisciplinar. Cada período o aluno aplica
o que ele aprendeu em todas
as outras disciplinas na sala, por que assim a pessoa vai
criando prática desde o começo da
faculdade”.
7 – Sugestões de melhorias
Deveria haver mais aplicabilidade de Laboratório Contábil como
ocorre em outras
disciplinas, tornando mais real, mas desde o começo do curso. O
que aprendemos na
disciplina para o mercado de trabalho é pouco, deixa a desejar
em todas as outras disciplinas,
por que a gente não tem vivência do que é real. Às vezes, se
fosse, por exemplo, assim, se
dividisse a carga horária, 80% é teórica, mas tem uns 20%
dedicado para a prática... pelo
menos uma por semestre... O curso está voltado para a área
acadêmica, mas a maioria acaba
indo para o mercado na área contábil.
As aulas práticas deveriam ser realizadas por áreas. Por
exemplo, se o aluno tem
interesse de trabalhar com auditoria, ele deveria ter uma
disciplina prática de auditoria. Essa
aula é muito importante então deveria ser referência,
referência, para os escritórios de
contabilidade. Referência, tipo assim, se o cara fez laboratório
na universidade, ele sai de lá
com referência para trabalhar em qualquer lugar, mas tinha que
ser referência, para o
estudante sair da faculdade e já trabalhar em qualquer
empresa.
É preciso aumentar disciplinas práticas, aumentar carga horária
e as aulas práticas
serem aplicadas em todo o período. Seria essencial, por exemplo,
a faculdade poderia ser
segregada em várias outras matérias, podia ter um ano de
trabalhista, desde a legislação
trabalhista, assim calculando folha de pagamento, um ano de
tributária até você ter vivência
de um laboratório, até dois anos para você constituir uma
empresa, demitir funcionários, fazer
planejamento tributário. Os professores de todas as disciplinas,
no mínimo, deveriam mostrar
uma tela de um software, de como faria os lançamentos, além de
apresentar as guias aos
alunos, isso nunca foi visto na minha graduação.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa investigou a opinião de egressos do curso de
Ciências Contábeis quanto
à contribuição da estratégia de ensino em laboratório no
processo de ensino-aprendizagem
prático, para integralização do componente curricular
Laboratório Contábil, em uma
instituição de ensino superior (IES) pública federal do interior
de Minas Gerais.
-
Pode-se dizer que, de maneira geral, para a questão selecionada
a fim de construção do
discurso-síntese, que os alunos reconhecem a importância do
laboratório contábil, tanto como
estratégia de ensino quanto como componente curricular onde se
vivencia a aprendizagem
prática. Contudo, os egressos não avaliaram positivamente a
contribuição do ensino para sua
aprendizagem experiencial e atuação profissional. Há um discurso
coletivo importante que
revela críticas agudas, quanto (i) ao software, (ii) à interface
entre teoria e prática; e (iii) à
aquisição de competências técnicas e habilidades
profissionais.
Constataram-se opiniões divergentes sobre o software usado, pois
alguns o consideram
bom, enquanto outros afirmam que ele tem uma série de defeitos.
Talvez porque o software já
esteja instalado e parametrizado sente-se uma carência de
aprendizagem quanto à atividade de
parametrização, prevista inclusive na ficha da disciplina.
Quanto à interface teoria e prática o discurso coletivo é de que
há um acúmulo de
conhecimento teórico por vários períodos antecedentes ao
componente curricular, com uma
reduzida aplicação prática. Ao cursar essa estratégia de ensino,
o estudante já não lembra com
detalhes daquilo que foi visto confirmando-se o consenso de que
se a prática fosse ofertada ao
longo do curso, em todos os períodos haveria, possivelmente,
mais facilidade para a aquisição
do conhecimento prático.
Os egressos possuem a opinião que o objetivo da estratégia de
ensino em laboratório e
que o componente curricular Laboratório Contábil seja preparar o
aluno para a atuação
profissional em contextos reais. Todavia, há uma percepção
generalizada de que o objetivo
não é atingido porque “os alunos tem saído sem prática”, sendo
sugerido que a estratégia seja
repensada, no sentido de capacitar, de fato, os estudantes ao
exercício da prática contábil.
Em relação à formação prática dos alunos da IES estudada a
avaliação é de que as
competências técnicas mais cobradas de um profissional contábil
não têm sido ensinadas na
graduação. Usando como exemplo a elaboração de uma folha de
pagamento, além da
parametrização de situações cotidianas reais, como adicional de
insalubridade, periculosidade,
adicional noturno, vale transporte e outros, que não é
praticada, o discente deve conferir os
lançamentos e os valores apurados pelo sistema, pois não há
confiabilidade.
Outra questão relativa à competência técnica destacada é que a
contabilidade, em
contextos reais de trabalho, exige que os profissionais gerem
uma série de guias e obrigações,
além de diversas declarações de natureza federal, estadual e até
mesmo municipal, e no
processo ensino-aprendizagem do componente curricular nota-se a
ausência desse
aprendizado prático.
Quanto às habilidades profissionais é consenso de que a
aprendizagem prática e
experiencial não é suficiente para a atuação do egresso como um
contador. Minimamente, a
habilidade seria de um auxiliar contábil. Sugestões de melhorias
foram apresentadas pelos
egressos que mencionaram que essa disciplina deveria ser
interdisciplinar, ou seja, todo o
conteúdo aprendido nas disciplinas de um semestre deveria ter a
aplicação prática no
Laboratório Contábil, além de que o conteúdo deveria ter uma
carga horária maior para sua
integralização.
Diante dos resultados sugere-se que a IES busque alternativas
para a melhoria da
estratégia de ensino, inclusive a partir das sugestões dos
egressos. Uma delas é que o
componente curricular não fique adstrito aos períodos finais do
curso, mas que seja
intercalado ao longo da grade curricular, de forma a ficar mais
próximo de discussões teóricas
de disciplinas, cujo conteúdo é exigido, de forma mais pontual,
quando da prática contábil.
Citam-se, por exemplo, conteúdos de disciplinas como
Contabilidade Introdutória,
Contabilidade Intermediária, Contabilidade Comercial, Direito
Empresarial, Direito
Comercial, Contabilidade Tributária, de forma que a
interdisciplinaridade também seja
oportunizada nesse processo.
-
Uma segunda sugestão é a criação de um laboratório modelo ou de
parcerias com
escritórios reais, para que, se possível, fossem executadas
atividades que de fato ocorrem no
cotidiano dessas organizações. Nessa impossibilidade, por meio
de palestras e minicursos,
contadores atuantes no mercado profissional, poderiam apresentar
em tempo real, a
elaboração de guias e declarações, entre outros documentos além
da transmissão aos órgãos
competentes destes documentos, para que o egresso experienciasse
seus modus operandi.
Este estudo apresenta limitações. Cita-se dentre elas o tamanho
da amostra e, também
o fato de ter sido realizada com egressos de uma única
instituição de ensino que integraliza o
componente curricular onde o estágio supervisionado é exigido,
por meio de uma disciplina.
Considerando que em outras IES essa prática ocorra de forma
diversa, não há possibilidade de
generalização dos resultados. O espaço temporal, também é um
limitante, visto que a opinião
de egressos de períodos anteriores pode divergir dos achados
relatados nesta pesquisa.
Para futuras pesquisas recomenda-se ampliar não só a amostra
investigada como
também o espaço temporal, de forma a abranger egressos de todas
as turmas concluintes.
Outra possibilidade de pesquisa é a realização de um estudo
entre IES de outros estados e
regiões brasileiras e, até mesmo um estudo cross-country entre
IES brasileiras e
internacionais, a fim de comparar o processo ensino-aprendizagem
prático.
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