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Jan 08, 2019

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KUYA, O DIA-A-DIA DE UM CÃO

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Edição - dezembro 2018Edição limitada a amigos e apoiantes.

Autoria: Margarida MeiraRevisão: Diana DuarteEdição: Sofia Bairrão

Ilustração: Maria Côrte-Real

e-book em www.alemdatrela.comISBN 978-989-20-9121-1

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KUYA, O DIA-A-DIA DE UM CÃO

Margarida Meira

Aprenda a comunicar para educar o seu cão.

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AgradecimentosSobre este livroI. Primeiras Impressões

Loucura à distância de um toque Portáteis avariados e o mito do não forte Onde é o botão do reset? As vantagens da força O que dizemos sem falarConclusões - Que impressões ganha a Kuya deste mundo humano?

II. Hábitos e Aprendizagem Vale a pena o esforço? E se estiver aborrecido? Como assim? Quando a esperança ganha à probabilidade O jogo do quente e frio Sentidos preguiçosos Fora do contexto A importância da iniciativa Criar degraus do tamanho de cada um Arrancar o penso rápido? A lengalenga da tabuada

Conclusões - O que é a Kuya começa a aprender?III. Relação por um fio É normal Um mundo à mão de apertar Bexiga distraída Se funciona, porque não? Sei que estás aí Em modo zapping O impacto gigante de uma melga minúscula

Conclusões - O que aprende a Kuya sobre a rua e sobre a trela no seu corpo?Nota final da autora

Kuya, o dia-a-dia de um cão

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Índice

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Agradecimentos

A todos os cães com quem tive o prazer de partilhar o meu caminho, que me permitiram aprender tanto.

A todas as pessoas que me deram a oportunidade de aprender com os seus cães. Toda a riqueza que ganhei em experiência e conhecimento é graças à aposta que fizeram em mim. Alguns por apenas umas horas, outros por mais de um ano.

A todos os que trabalham com cães de forma apaixonada. Ver os vossos olhos brilhar quando dão uma explicação ou estão a treinar algum cão, acende e reacende esta paixão que partilho convosco.

Aos eternos sábios que, por ser tão óbvio para eles quanto os cães são espetaculares, não fazem estardalhaços intelectuais e simplesmente vivem esse amor com os cães.

A todos os que tornaram este livro possível. Em todas as suas dimensões ao longo dos últimos dois anos. No apoio que precisei para acreditar que seria possível, no ouvir das minhas ideias, na revisão das minhas palavras, na dádiva do vosso próprio trabalho em áreas que eu não conseguiria fazer sozinha, na participação do crowdfunding para a publicação do livro. Muitos de vós são pessoas tão fantásticas, que nem sequer vivem com cães, e mesmo assim apostam em mim desta forma incondicional – é impossível expressar a gratidão que tenho por vocês. Principalmente à minha família, e amigos próximos, por caminharem ao meu lado, e abrirem todas as portas que têm ao vosso alcance, para que eu continue a concretizar os meus sonhos.

À Kuya, companheira do meu coração.

Kuya, o dia-a-dia de um cão

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Sobre este livro

Conviver com cães é comum e familiar para a maioria de nós. Ou temos cães, ou tivemos cães quando éramos crianças, ou convivemos com cães de amigos e familiares. Fosse em quintas, em apartamentos, ou na rua, lidámos com cães que, assim que se escapavam da trela, nunca mais ninguém lhes punha a vista em cima. Lidámos com cães que andavam sempre colados às nossas pernas e que, sob qualquer vislumbre de atenção, atiravam todo o corpo e baba para cima de nós, numa dança bestialmente animada… E, antes de nós, várias gerações de humanos e cães partilharam as suas vidas.

Com uma história tão antiga, parece-nos ser fácil interpretar o que eles sentem e pensam. E pode-se dizer que, da parte deles, acontece o mesmo. Parece que ambos desenvolvemos uma capacidade extraordinária de interpretar o que o outro expressa. Contudo, ainda há potencial para melhorar.

Este livro pretende revelar, através de comparações entre cães e pessoas em histórias simples e fictícias, o que acontece entre nós e o cão, que possibilita ou dificulta a interpretação correcta do que estamos a expressar um ao outro. Com estas comparações, não se pretende definir uma forma correcta e única de ver e lidar com o cão. Aliás, este livro não é um manual de treino. É um livro que vem potenciar a educação que é dada aos cães, através da identifi-cação e descrição de padrões de interacção que existem entre humanos e cães. Detectando estes padrões, podemos perceber onde e como é que a comuni-cação pode melhorar. Quanto melhor comunicarmos, melhor seremos enten-didos pelos cães. A comunicação é a chave para o sucesso do treino e para um bom convívio entre cães e pessoas!

Kuya, o dia-a-dia de um cão

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PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Primeiras impressões

I

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LOUCURA À DISTÂNCIA DE UM TOQUE

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Primeiras impressões – Loucura à distância de um toque

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Kuya por todo o lado

Agarrava-se à mala que tinha ao colo, quando o que queria era poder pegar na cachorrinha que estava prestes a adoptar. Chamá-la-ia Kuya, que em crioulo significa coisa boa. Finalmente, a funcionária do canil entrou no gabinete de adopção com uma grande caixa de cartão. Pousou-a levemente no chão, ao lado da Rita. A Rita pôde ver a Kuya dormitando, enroscada lá dentro. Sem sair da cadeira à frente da secretária, retirou rapidamente uma manta que tinha na mala. O toque leve das suas mãos, para levantar a Kuya e pôr a manta por baixo, teve o efeito equivalente a uma sirene de bombeiros. A Kuya desatou aos pulos, a querer ir ter com a Rita, que cedeu logo, trazen-do-a para o seu colo.

A funcionária começou a explicar os termos de adopção, pedindo a atenção da Rita. Ela bem tentou, mas entre mordidelas nos brincos, patas enroladas no cabelo e puxões na roupa, estava deliciada e completamente distraída.

Passado um tempo, pousou-a na caixa, para conseguir manejar a caneta com a qual preencheria os papéis da adopção. Reparou, ao fim de uns minutos, que a pequenita tinha adormecido. A funcionária explicou que tinham sido uns dias muito intensos no canil, e que era normal ela precisar de dormir. Daqui para a frente seria importante fazer tudo com calma e espaçadamente. A Rita ficou enternecida e debruçou-se sobre a Kuya o mais silenciosamente possível, como um militar a entrar em campo inimigo, sob perigo de ser descoberto, e verificou os estragos: a Kuya ainda tinha uma das pulseiras da Rita (agora da Kuya), na boca, com vários fios desfeitos. Com muita calma e carinho deu uma festa no pêlo fofo da Kuya. Parecia que tinha tocado no botão de ligar, porque a Kuya, de repente, não parava quieta!

— Estavas tão bem a dormir, linda, acalma-te! Deita aqui, deita. Está quieta tonta!

Mas a Kuya não parava. Quanto mais a Rita a tentava acalmar, pondo-a na manta, dando-lhe festas, mais ela disparava unhas e dentinhos às suas mãos.

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Tinha de as retirar para que a Kuya não a magoasse. E assim que se aproxi-mava de novo para lhe dar carinho, lá voltava ela a mordiscar. Isto aconteceu várias vezes: sempre que Rita a via quieta e aproximava a mão, a Kuya ligava o turbo e voltava à carga. Depois de uns momentos demorados neste liga/desliga, a Kuya suspirou um bocadinho e deixou-se adormecer novamente.

Primeiras impressões – Loucura à distância de um toque

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Rita e o vício do telemóvel

Enquanto a Kuya estava com a veterinária, a Rita estava à espera no gabi-nete. Lá se demoravam, por isso pegou no livro que trazia na mala e abriu-o na última página que lera. O telemóvel tocou. Era o Gonçalo a perguntar ao grupo onde queriam jantar no sábado. Tinham um grupo no WhatsApp com alguns amigos, para combinarem saídas e jantares. A Rita queria ver como corria a semana com a Kuya antes de se comprometer, por isso não ia responder ainda. Arrumou o telemóvel.

O telemóvel tocou. A Sara sugeria a pizzaria BellaVita e o Gonçalo enviou um emoji a sorrir. Pousou o telemóvel, que voltou a tocar antes que pudesse afastar o olhar de volta para o livro. A Luísa dizia que algo mais perto do centro era melhor, para irem depois a pé beber um copo. Pousou o telemóvel. Leu a primeira frase do capítulo e pegou no telemóvel, que, entretanto, tinha tocado de novo. O Luís lembrava a fantástica tasca do Zé Borrego. A Rita fechou a aplicação e passeou uns segundos pelo Facebook. O telemóvel tocou, era o Gonçalo a lembrar que a Rita era vegetariana. Absteve-se de comentar e pegou no livro. Já conhecia bem esta grupeta, iam ficar horas a aparvalhar. Lá está, o Luís tinha posto quatro emojis de seguida, uma cara a chorar, uma faca, um coração e um polícia. Já que estava com o telemóvel na mão foi, sem pensar, ao Instagram, ver o que havia por lá. O telemóvel tocou. A Sara sugeria o Folha, restaurante vegetariano. A Luísa disse que era muito caro.

A Rita já sabia que esta conversa ia durar a semana toda, até ao próprio dia do jantar. Pousou o telemóvel e pegou no livro. Releu a primeira frase do capítulo. O telemóvel tocou, com uma resmunguice da Sara. Dizia que a Luísa só criticava e não dava sugestões. Voltou ao Facebook só para ver e fazer scroll-down. Após uns momentos, o Luís fazia piadas de como era a Rita que estragava tudo com a sua dieta freak e radical. Voltou a pousar o telemóvel e a reler a primeira frase. Continuou a ler, mas teve de voltar ao início, para

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apanhar o sentido do que lera. Não terminou, porque o telemóvel tocou e ela queria ver se continuavam a mandar vir com o facto de ser vegetariana. A Luísa tinha feito uma lista com seis restaurantes que, dizia ela, teriam provavelmente opções vegetarianas e eram suficientemente perto do centro. Desta vez, demorou-se ainda mais tempo no telemóvel. Passou pelo Face-book e pelo Instagram e acompanhou a parvoeira da conversa. Agora todos gozavam: entre milhões de emojis e memes, ora românticos, ora de lutadores de artes marciais, a brincar sobre o facto de a Luísa e a Sara serem perfeitas uma para a outra. A Rita procurou a segunda frase do capítulo, mas lembrou-se de um gif perfeito para usar, com dois cães de trela a ladrarem ferozmente um ao outro, mas que, assim que as trelas quebram, baixam as orelhas e vai cada um à sua vida. Dizia Pessoas no Facebook versus pessoas cara a cara.

Reparou que tinha fechado o livro sem o marcador. Folheou-o até ver o capítulo II, releu as mesmas frases pela quinta vez. O telemóvel voltou a tocar, mais notificações. Era a Luísa a queixar-se de como quando ela tinha inicia-tiva ninguém alinhava e só atrofiavam. O Gonçalo foi em seu auxílio e fez uma sondagem com as várias hipóteses, para cada um votar. Quase de certeza que venceria a hamburgueria, foi aí que a Rita votou. Tinha uns hambúr-gueres de seitan deliciosos.

A fome deixou-a aborrecida por estar ali parada à espera. Levantou-se e foi espreitar pelo vidro da janela do gabinete, na esperança de ver chegar a sua cachorrinha.

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Os cachorros são tão amorosos que fica difícil não lhes mexermos imediata e continuamente. Além disso, parecem viver para ficarem abso-lutamente colados a nós, encostando-se, abocanhando as nossas mãos, atirando-se para o nosso colo ou saltando para a nossa cara. Contudo, são bebés. Ainda não sabem muito bem como é que esta coisa de interagir connosco pode ser levada a cabo. Assim, vão experimentando. Cabe-nos a nós ensinar-lhes a forma ideal de interagirmos.

A primeira coisa que é interessante ensinar aos nossos cães é que a nossa pele é sensível e que os seus dentinhos aguçados causam dano. Há cachorros que, apesar de serem novinhos, têm patorras que magoam só de passagem. O ideal, nos primeiros dias, é que o contacto com as nossas mãos seja associado a um contexto de tranquilidade.

Mas o que é que os cachorros fazem assim que lhes pomos a mão em cima para uma festa? Mordiscam a nossa mão. Parece que o nosso toque, ou melhor, a própria aproximação da nossa mão, é como um botão para que activem a energia toda e desatem a mordiscar, rebolar e saltar em cima de nós – como o toque do telemóvel. Torna-se quase impossível, para qualquer um, resistir a pegar no telemóvel poucos segundos depois de este tocar. E, já que o temos na mão, muitas vezes continuamos a explorar as aplicações. O telemóvel da Rita tocava e lá pegava ela nele sem pensar. A Rita queria genuinamente ler o livro, mas parecia ter um vício automático. Sempre que alguém falava no grupo do WhatsApp, lá queria ela ir ver o que tinham dito.

Talvez com os cachorros seja assim: mal vêem a nossa mão aproxi-mar-se, atiram-se automaticamente para interagir com ela o melhor que sabem – com a boca, claro está. Mais vale assumir que, de cada vez que a nossa mão se aproximar do nosso cachorrinho, ele vai activar o modo brincadeira e mordidelas. Ele é um bebé. Não consegue resistir. Nasceu

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para interagir com o mundo. E se o mundo está literalmente a tocar nele, é razão para soltar a loucura. O ideal é pararmos de lhes mexer assim que começam a pôr a boca.

Caso contrário, se continuarmos a interagir desta maneira, a brincar com as nossas mãos enquanto o cão nos mordisca, ele vai aprender que é assim que se interage com a espécie de duas patas. Contudo, muito em breve, nomeadamente quando o cão tiver um tamanho que realmente pode magoar, haverá com certeza uma mudança astronómica da nossa parte. E se não partir da família do cão, com certeza virá das visitas ou de outras pessoas com quem ele terá de interagir no futuro. Quão injusto é, depois de tantos meses iludido, que o cão tenha de aprender que inter-agir afinal não envolve os dentes nas nossas mãos?

O mesmo acontece com as festas – convém dar apenas em momentos de mimo e sono. Se usarmos as mãos quando está com vontade de brincar, o cachorro não vai aprender que a nossa pele é sensível. Queremos, com o tempo, que ele associe que o contacto connosco deve ser feito com calma e sem dentes e garras à mistura.

Primeiras impressões – Loucura à distância de um toque

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Dica de treino

Se o seu cão está a magoá-lo, ao mordiscar a sua mão, retire calmamente a mão e pare o contacto físico. Trans-forme a vossa interacção para algo que envolva mais a sua voz e menos o seu corpo, ou utilize brinquedos para ele morder.

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Margarida Meira

Com a missão de entender a mente, começou por estudar Psicologia na Universidade de Lisboa, concluindo com um mestrado em Cognição Social. Depois, passando por cursos de Treino e Comportamento Canino, de Terapias Assistidas por Cães e outros temas caninos como Agressividade, Detecção de Odores, Medo, foi-se consolidando uma visão do cão com uma maior compreensão e respeito por este. A gestão de grupos de cães (em canil e ATL) tornou clara a necessidade de estudo contínuo sobre a comunicação canina. O trabalho com a dupla humano-cão intensificou a necessidade de uma abordagem pedagógica, construída com a ajuda de um curso de Formação de Formadores. Nos últimos anos, o padrão de problemáticas colocadas pelos clientes que procuram um treinador, faz entender que mais do que conhecer a espécie canina, é necessário espelhar a espécie humana, para que esta se aperceba, e se eduque, para uma convivência harmoniosa com a primeira.

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