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E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, JUNHO/2016 - ANO XIX - N o 233 O ESTAFETA Pelos jornais, televisão e internet, o mundo acompanha o esfacelamento da democracia brasileira, afundada em corrupção escandalosa escancarada nas investigações da Operação Lava Jato. O país está passando por um terre- moto. Depois do afastamento da Presi- dente da República, após abertura de processo de impeachment, a cada dia novas denúncias ganham as manchetes envolvendo pessoas cada vez mais im- portantes no cenário político, todas sus- peitas de envolvimento em corrupção. A governabilidade continua frágil. O governo tem que negociar. Acima de tudo, o descrédito continua a atingir a elite política envolvida na Lava Jato, in- vestigação de um esquema de corrupção ligado, principalmente, à estatal Petrobras. O governo interino, em pou- cas semanas já demitiu três ministros após denúncias comprometedoras. O que se expõe é o apodrecimento do sis- tema político brasileiro. A corrupção não é inerente a esse ou àquele partido – o sistema inteiro está corrompido. As acu- sações contra políticos graúdos se acu- mulam. Mais de um terço dos parlamen- tares são alvo de processos ou de in- vestigações judiciais. O cenário é desas- troso e sombrio. Muda-se o governo, mas a prática, antiga, permanece. A so- ciedade brasileira, no entanto, mudou. Certos comportamentos não são mais aceitos. Novas denúncias vindas de grandes empreiteiras poderão implodir o país. A corrupção é tema constante no dia a dia nacional. A perspectiva de melho- ra é praticamente nula, pelo menos em curto prazo. Vivemos, sem dúvidas, uma das maiores ou, senão a maior crise mo- ral e política de nossa história. É preciso que a sociedade se mobilize e busque apoiar a Operação Lava Jato. Esta se consolida por ser independente e apartidária. Tornou-se derradeiro bastião na luta contra a corrupção, que se mostra infiltrada nas entranhas da administração pública brasileira. Esta é a oportunidade de o Brasil ser passado a limpo. Piquete completou no dia 15 de junho mais um aniversário. São 125 anos de cida- de. Ao longo desse tempo, foram várias as suas administrações – umas tiveram mais brilho, outras nem tanto. Todas, porém, bus- caram, cada uma a seu jeito e dentro de suas possibilidades, trabalhar para o crescimen- to da cidade e atender as expectativas dos munícipes. Dessas diferentes administra- ções ficaram como registros arquitetônicos na paisagem urbana algumas construções que se tornaram simbólicas e merecedoras de cuidados como patrimônio histórico pela sua importância para os piquetenses. Ao comemorarmos mais um aniversário de Piquete, a cidade ganhou da atual admi- nistração municipal a recuperação de um conjunto arquitetônico singular, único no Vale do Paraíba: o conjunto formado pelo Pórtico da FPV, a Praça Duque de Caxias, o Cine Estrela do Norte e o Grêmio Duque de Caxias. A administração cuidou, ainda, da antiga matriz de São Miguel e vem se empe- nhando pela restauração e adaptação do Hospital da FPV, também estes patrimônios arquitetônicos históricos de Piquete. Cien- te de que preservar esses bens culturais é garantir sua integridade e perenidade, a Pre- feitura não mediu esforços e os vem recu- perando com recursos próprios. Em mais um 15 de junho, cabe-nos uma reflexão a respeito do presente e do futuro: Que cidade queremos deixar para as futu- ras gerações? Nosso município é um dos mais desprovidos de recursos do estado de São Paulo. Seu orçamento é quase todo comprometido com a folha de pagamento do funcionalismo municipal, restando mui- to pouco para ser investido em obras de grande vulto, como saneamento básico. Os repasses mais importantes são provenien- tes de parcelas do ICMS e do Fundo de Participação dos Municípios, que vêm ocorrendo em valores cada vez mais bai- xos e tendem a diminuir ainda mais com a crise econômica. Apesar dos tempos difíceis, a atual ad- ministração é referência na região no que tange ao trato do bem público: está em dia com as contas municipais, bem como com a folha de pagamento de seus funcionários, enquanto a maioria das prefeituras do país encontra-se inadimplente. Estamos em ano eleitoral. A próxima elei- ção municipal irá, seguramente, se revestir de peculiaridades e é possível afirmar, des- de já, que propostas tradicionais e genéri- cas têm grande chance de não agradar os eleitores. Em outras palavras, não será mais suficiente o candidato simplesmente prome- ter mundos e fundos sem mostrar como cum- prirá suas promessas. Em tempos de Lava- Jato, em que a cam- panha contra corrupção está na pauta de todo brasileiro, os eleitores estarão aten- tos aos candidatos honestos, sem pendên- cias judiciárias e comprovadamente com- prometidos com as causas públicas – a velha política já não encontra espaço entre os eleitores. Piquete completa mais um aniversário de emancipação político-administrativa. A Fundação Christiano Rosa e O ESTAFETA desejam votos de felicidades ao seu povo honesto e trabalhador e aos poderes cons- tituídos. Piquete: 125 anos de cidade Fotos Laurentino Gonçalves Dias Jr. Ciente de que preservar nossos bens culturais é garantir sua integridade e perenidade, a Prefeitura Municipal não vem medindo esforços e os vem recuperando com recursos próprios.
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JUNHO 2016

Aug 03, 2016

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Edição 233, de Junho de 2016, do informativo O ESTAFETA, órgão da Fundação Christiano Rosa, de Piquete/SP.
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Page 1: JUNHO 2016

E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, JUNHO/2016 - ANO XIX - No 233

O ESTAFETA

Pelos jornais, televisão e internet, omundo acompanha o esfacelamento dademocracia brasileira, afundada emcorrupção escandalosa escancarada nasinvestigações da Operação Lava Jato.

O país está passando por um terre-moto. Depois do afastamento da Presi-dente da República, após abertura deprocesso de impeachment, a cada dianovas denúncias ganham as manchetesenvolvendo pessoas cada vez mais im-portantes no cenário político, todas sus-peitas de envolvimento em corrupção.

A governabilidade continua frágil. Ogoverno tem que negociar. Acima detudo, o descrédito continua a atingir aelite política envolvida na Lava Jato, in-vestigação de um esquema de corrupçãoligado, principalmente, à estatalPetrobras. O governo interino, em pou-cas semanas já demitiu três ministrosapós denúncias comprometedoras. Oque se expõe é o apodrecimento do sis-tema político brasileiro. A corrupção nãoé inerente a esse ou àquele partido – osistema inteiro está corrompido. As acu-sações contra políticos graúdos se acu-mulam. Mais de um terço dos parlamen-tares são alvo de processos ou de in-vestigações judiciais. O cenário é desas-troso e sombrio. Muda-se o governo,mas a prática, antiga, permanece. A so-ciedade brasileira, no entanto, mudou.Certos comportamentos não são maisaceitos. Novas denúncias vindas degrandes empreiteiras poderão implodiro país.

A corrupção é tema constante no diaa dia nacional. A perspectiva de melho-ra é praticamente nula, pelo menos emcurto prazo. Vivemos, sem dúvidas, umadas maiores ou, senão a maior crise mo-ral e política de nossa história. É precisoque a sociedade se mobilize e busqueapoiar a Operação Lava Jato. Esta seconsolida por ser independente eapartidária. Tornou-se derradeirobastião na luta contra a corrupção, quese mostra infiltrada nas entranhas daadministração pública brasileira. Esta éa oportunidade de o Brasil ser passadoa limpo.

Piquete completou no dia 15 de junhomais um aniversário. São 125 anos de cida-de. Ao longo desse tempo, foram várias assuas administrações – umas tiveram maisbrilho, outras nem tanto. Todas, porém, bus-caram, cada uma a seu jeito e dentro de suaspossibilidades, trabalhar para o crescimen-to da cidade e atender as expectativas dosmunícipes. Dessas diferentes administra-ções ficaram como registros arquitetônicosna paisagem urbana algumas construçõesque se tornaram simbólicas e merecedorasde cuidados como patrimônio histórico pelasua importância para os piquetenses.

Ao comemorarmos mais um aniversáriode Piquete, a cidade ganhou da atual admi-nistração municipal a recuperação de umconjunto arquitetônico singular, único noVale do Paraíba: o conjunto formado peloPórtico da FPV, a Praça Duque de Caxias, oCine Estrela do Norte e o Grêmio Duque deCaxias. A administração cuidou, ainda, daantiga matriz de São Miguel e vem se empe-nhando pela restauração e adaptação doHospital da FPV, também estes patrimôniosarquitetônicos históricos de Piquete. Cien-te de que preservar esses bens culturais égarantir sua integridade e perenidade, a Pre-feitura não mediu esforços e os vem recu-perando com recursos próprios.

Em mais um 15 de junho, cabe-nos umareflexão a respeito do presente e do futuro:Que cidade queremos deixar para as futu-ras gerações? Nosso município é um dosmais desprovidos de recursos do estadode São Paulo. Seu orçamento é quase todocomprometido com a folha de pagamentodo funcionalismo municipal, restando mui-

to pouco para ser investido em obras degrande vulto, como saneamento básico. Osrepasses mais importantes são provenien-tes de parcelas do ICMS e do Fundo deParticipação dos Municípios, que vêmocorrendo em valores cada vez mais bai-xos e tendem a diminuir ainda mais com acrise econômica.

Apesar dos tempos difíceis, a atual ad-ministração é referência na região no quetange ao trato do bem público: está em diacom as contas municipais, bem como com afolha de pagamento de seus funcionários,enquanto a maioria das prefeituras do paísencontra-se inadimplente.

Estamos em ano eleitoral. A próxima elei-ção municipal irá, seguramente, se revestirde peculiaridades e é possível afirmar, des-de já, que propostas tradicionais e genéri-cas têm grande chance de não agradar oseleitores. Em outras palavras, não será maissuficiente o candidato simplesmente prome-ter mundos e fundos sem mostrar como cum-prirá suas promessas.

Em tempos de Lava- Jato, em que a cam-panha contra corrupção está na pauta detodo brasileiro, os eleitores estarão aten-tos aos candidatos honestos, sem pendên-cias judiciárias e comprovadamente com-prometidos com as causas públicas – avelha política já não encontra espaço entreos eleitores.

Piquete completa mais um aniversáriode emancipação político-administrativa. AFundação Christiano Rosa e O ESTAFETAdesejam votos de felicidades ao seu povohonesto e trabalhador e aos poderes cons-tituídos.

Piquete: 125 anos de cidade

Fotos Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Ciente de que preservar nossos bens culturais é garantir sua integridade e perenidade, a PrefeituraMunicipal não vem medindo esforços e os vem recuperando com recursos próprios.

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Página 2 Piquete, junho de 2016

Fotos Arquivo Pró-Memória

O ESTAFETA

Imagem - Memória

Há setenta e cinco anos, quando docinquentenário de emancipação de Piquete,em 15 de junho de 1941, encontrava-se àfrente da administração municipal o prefei-to José Monteiro de Brito Júnior. Jovem eidealista, Juca Brito foi o responsável porum dos melhores momentos da administra-ção pública de Piquete. A Fábrica de Pólvo-ra, parceira da administração, proporcionoumelhorias no traçado urbano da cidadedisponibilizando o desenhista Dogmar daCosta Ribeiro e outros funcionários paracolaborarem no arruamento e desenho depraças e outros logradouros públicos. Vári-as edificações foram erguidas nesse perío-do: o prédio da prefeitura, o Grupo EscolarAntônio João, as igrejas de São José eMetodista, as praças da Bandeira e Cel.Wiedman, em frente ao Antônio João, entreoutras. Isso na área civil... Na área militar, asvilas operárias em construção davam outroar à paisagem urbana.

Festejando os cinquenta anos do muni-cípio, comemoraram-se, também, os cinquen-ta e três anos de criação da Paróquia de SãoMiguel – dois fatos de grande repercussãonos meios social e religioso de nossa terra.Os piquetenses tiveram, então, duplo moti-vo para se alegrar. Aliaram aos festejos ci-vis os festejos religiosos, que fizeram, as-sim, multiplicar as alegrias da população.

Para essa data jubilar foi montada umacomissão de pessoas gradas da sociedadepara a organização dos festejos. Dela fazi-am parte, principalmente, a Prefeitura local,a Fábrica de Pólvora e a Companhia Cons-trutora Nacional, além de representantes dasescolas e associações religiosas.

Toda a população for convidada a parti-cipar dos eventos. Convites foram emitidospara piquetenses que moravam fora da ci-

dade. O bispo diocesano, Dom FranciscoBorja do Amaral, foi convidado especial paraas cerimônias. A paróquia organizou festivaquermesse, realizada próxima à Vila Duquede Caxias. O prefeito municipal, o major VitorFrançois, subdiretor administrativo da Fá-brica de Piquete e Brás Pereira de Olivas,secretário da Prefeitura, se desdobraram emesforços e dedicação para o brilhantismodas festividades.

Para marcar a festividade, foi construídoum belo jardim em frente à praça do GrupoEscolar Antônio João, para o qual contribu-íram com bancos de mármore diversos co-merciantes da cidade.

A Igreja Metodista também participoudas solenidades organizando um programareligioso com o qual se associou aospiquetenses. Desse programa constavamdiscursos e conferências de oradores con-sagrados que vieram abrilhantar a data.

Para maior brilho das festividades, o bispodiocesano, que havia preparado uma visitapastoral entre os dias 20 e 24 de junho, poriniciativa própria estendeu-a por mais dias,iniciando-a no dia 14, véspera das solenida-des, e finalizando-a no dia programado. Nodia 14, à tarde, juntamente com um sacerdo-te salesiano e diversos clérigos, chegaram àcidade e a encontrou em festa. Foi recebidopelo pároco, padre Septímio Ramos Arantes,e autoridades civis e militares, além de as-sociações religiosas e uma multidão de fi-éis. Paramentou-se na casa de CustódioVieira Bittencourt com as vestes pontificiais,tendo sido saudado por Brás Pereira deOlivas, que lhe deu as boas-vindas em nomedas autoridades locais. Acompanhado porgrande cortejo seguiu para a Matriz de SãoMiguel, onde foi aberta a visita e dada abênção pontificial. Em seguida, nova bên-

ção, agora com o Santíssimo Sacramento.Às 20h desse mesmo dia, houve no salãonobre da Prefeitura sessão de homenagenscom a presença de vários oficiais do Exérci-to e diversos convidados. Falou em nomedos homenageados da noite o bispodiocesano.

No dia 15, domingo, Dom Francisco ce-lebrou, às 10h, uma missa campal em açãode graças pelo jubileu do município e daparóquia. Estavam presentes as autorida-des locais e grande massa popular. Crian-ças cantaram as partes litúrgicas da missa eo sermão gratulatório proferido pelo padreMiguel Laquis. Após as solenes cerimôniasreligiosas, houve a cívica, no mesmo lugar– em frente ao Grupo Escolar, quando fala-ram vários oradores, que demonstraram agrandeza da Igreja no desenvolvimento daspovoações. Por ocasião do “Te Deum”, àtarde, o bispo falou sobre o padroeiro, SãoMiguel.

As comemorações do cinquentenárioforam inesqueciveis, principalmente paraos remanescentes do 15 de junho de 1891,quando da instalação do município: Geral-do Porfírio e sua esposa, Dona Eulalia, Fran-cisco Máximo Ferreira, Valentim Silva, PedroPinto de Miranda, Dona Rosa Paulino, DonaLaura Mendes Amorim, Vital José de Maga-lhães, José Sebastião Jr., João DomingosCardoso, João Chrispim, BenevenutoBittencourt, Dona Mariana Relvas e MariaJosé Pereira Gonçalves. Esses cidadãos, portodos conhecidos e reverenciados pelospiquetenses, testemunhas oculares da his-tória, receberam homenagens de respeito eadmiração. Festa igual àquela, de grandesimbologia para os piquetenses, só viriaacontecer em 1991, quando do centenáriodo município.

Quando do cinquentenário de Piquete

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O ESTAFETA Página 3Piquete, junho de 2016

XerosoGENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Piquete tem em sua história diversosnomes que contribuíram para o seu cresci-mento e progresso. São pessoas que, nas-cidas ou não em nossa cidade, aqui vive-ram, formaram família e têm histórias de su-cesso que dividem com o município.

Um desses nomes é, sem dúvidas, o deAgnaldo Almeida Mendes, carinhosamenteconhecido por “Xeroso”, atualmente umdos empresários de maior sucesso e maisconceituado de Piquete.

O piquetense Agnaldo Almeida Mendesnasceu em no dia 25 de abril de 1962. É umdos quatro filhos do casal José MonteiroMendes e Eunice Almeida Mendes.

Iniciou os estudos na escola AntônioJoão e deu continuidade na escola de 1º e 2ºgraus da FPV, atual Escola LeopoldoMarcondes de Moura Netto. Formou-se naescola Leonor Guimarães Rosa. A infânciafoi a de uma criança que gostava de brincarcom os amigos. “Tínhamos muitatranquilidade para brincar... Ser molequemesmo... É assim que fui criado: com a liber-dade que toda criança deve ter”, afirma.

Pensando em seu futuro, formou-se Téc-nico em Contabilidade. “Eu sabia que preci-saria me organizar financeiramente... Pra isso,pensei na Contabilidade, que me ajudoumuito na vida...”, conta.

Xeroso começou a trabalhar aos 13 anosde idade como servente de pedreiro. Depoisfoi pedreiro. “A vida não era fácil para a fa-mília e sempre busquei ajudar em casa e tam-bém garantir minha independêcia...”. Aosquinze anos abriria um cantina na escolaLeonor Guimarães. Foi aí o início de umacarreira vitoriosa como comerciante.

O cantina ficaria sob sua responsabili-dade até os dezoito anos, quando, ingres-sou na Fábrica Presidente Vargas. “Umagrande empresa para a cidade, mas não erameu lugar... O comércio é que me atraía”.

Xeroso ficou por dois anos apenas naFPV. De lá sairia para abrir uma sorveteria“Tô à Toa”, que, em pouco tempo, se torna-ria um dos pontos mais conhecidos na re-gião... “Era um movimento muito grande...Jovens de todos os lugares frequentavam asorveteria e depois a lanchonete”, conta,visivelmente feliz por recordar um períodoimportante de sua vida.

Foram cerca de dez anos com o bar, queseria fechado para a abertura de um super-mercado e de um restaurante, o “Xero Ver-

de”, mais uma mostra do empreendedorismoque marca a vida desse piquetense.

Logo em seguida, em 12/03/1994, Xerosocasou-se com Adriana Auxiliadora ChagasAlmeida Mendes, com quem teve um casalde filhos. “Aí iniciou um período de aindamais trabalho, de poupança e de planos”.Não tínhamos finais de semana eu e aAdriana... Foi a época em que consolida-mos nossa família, nossa união...”.

Em paralelo às atividades de comercian-te, Xeroso foi investindo em Piquete: cons-truiu casas e adquiriu imóveis. “Sempre in-vesti em Piquete; quero ver o progresso dacidade em que nasci”, afirma.

O “Supermercado Xeroso” e o “XeroVerde” cresceram... Hoje, excluindo-se aFPV/IMBEL e a Prefeitura Municipal, sãoas duas empresas que mais empregam nomunicípio, com mais de cinquenta funcio-nários”. Seus colaboradores o têm como umpatrão participativo que comanda o dia adia das empresas. É comum vê-lo no coman-do das caixas registradoras, atendendo atodos com a cordialidade necessária de umcomerciante, mas com o carinho de quem vêcomo amigos a grande maioria de seus fre-gueses. A carreira, com lutas e vitórias, ren-deu a Xeroso, neste 2016, o prêmio “Placa

de Prata”, concedido pela Câma-ra Municipal pelos relevantesserviços prestados a Piquete.

Xeroso considera-se um ho-mem realizado: “Tenho ao meulado uma mulher que foi esposae companheira de batalhas emeus dois filhos encaminhadosna vida... Sou feliz!”, afirma, combrilho nos olhos... “Enfrenteimuitos obstáculos e conside-ro-me um vitorioso. Tenho cer-teza de que participei do cres-cimento de Piquete e querocontinuar participando comoum cidadão que colabora parao engrandecimento de sua ter-ra natal e dela se orgulha”,completa, empolgado. Quesejam de mais sucessos ospróximos desafios de Xeroso!

Toda comunidade nasce e vive em fun-ção de seus cidadãos. Do trabalho delesdependem o progresso, as vitórias e o su-cesso do local. A história de nosso muni-cípio é repleta de cidadãos que doaram seutrabalho em prol da cidade e garantirammuito do que Piquete se tornou. Não é di-ferente da história de muitas outras cida-des, pequenas como a nossa. Também nãoé diferente do nosso país, que tem umalista de personalidades sem as quais nãoseríamos a nação que somos.

E atualmente? Como estamos de pes-soas, em Piquete, que se doam para o bemda cidade, que buscam o melhor para omunicípio, relegando ao segundo plano olado pessoal?

São muitos, não há dúvida. Há entida-des como a Liga Piquetense de Combateao Câncer, que congrega senhoras em proldos que precisam de apoio no tratamentode enfermidades... Há os abnegados da So-ciedade São Vicente de Paulo... Temos asatividades ligadas à Igreja Católica, comoa Oficina Santa Rita, o trabalho exemplardo Centro Espírita Deus e Caridade... En-fim, são muitos...

Piquete, ao completar 125 anos deemancipação político-administrativa, con-ta com índices favoráveis em alguns seto-res e outros ainda carentes de melhoria. Aresponsabilidade maior é, certamente, daPrefeitura Municipal. Alguns desses índi-ces, porém, sofrem influência das açõesda comunidade: limpeza das ruas, polui-ção dos rios e córregos, manutenção dospatrimônios históricos...

Quem não gosta de uma cidade limpa?Pois não joguemos lixo nas ruas!

Quem não gosta de uma cidade orga-nizada, com prédios novos e arrumados?Pois que sejam denunciados os picha-dores e que eles mereçam sanções! Quedemos destino correto aos nossos entu-lhos... Que cuidemos de praças e jardinspróximos às nossas casas... São açõessimples, mas que dependem do compor-tamento da população e têm impacto di-reto na vida da cidade.

Um cidadão consciente ama e respeitasua cidade... Um cidadão do bem torce parao progresso de sua cidade...

A administração municipal lançou,como já o fez nos dois últimos anos, uminformativo em que lista parte de suas ati-vidades e homenageia alguns cidadãosque “têm um histórico de ações em prol dacomunidade piquetense”. Uma lembrançaque merece destaque... Por uma Piquetemelhor, é necessário que se multipliquemos cidadãos merecedores de homenagens!

Que nossa Piquete se transforme sem-pre, que se transforme para melhor! E quetenhamos cada vez mais orgulho de ser ede mostrar piquetenses exemplos.

Por uma Piquetemelhor!

Laurentino Gonaçalves Dias Jr.

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O ESTAFETA Piquete, junho de 2016Página 4

Disse Adélia Prado, nossa grande poetamineira: “O fio indesmanchável da vida te-ceu seu curso”. A que acrescento, para amemória, com afeto:

Era uma vez uma menina que gostavade colher moranguinhos silvestres à beirados caminhos, no alto da serra onde nas-ceu e viveu a infância. Jovem, a família láda linha de fronteira entre Minas e São Pau-lo mudou-se. Desceu o anteplano daMantiqueira e se instalou na cidade do péda serra. Acompanhou o caminho dos va-les e deixou a região frutífera onde se dedi-cavam os membros familiares ao cultivo dosmarmelos e framboesas. As crianças cata-vam o que ia ao chão, colocando-os em umsaquinho para saboreá-los depois. Nos me-ses do tempo quaresmal, eram os pinhõesque forravam o solo espatifado, frutos ca-ídos das araucárias. Belos pinhões na suacor natural que iam para as panelas cozi-nhar e gerar guloseimas apetitosas. Muitagente da cidade abaixo subia à busca, àcata tradicional através de gerações.Pinhões e paçoca de amendoim sempre fo-ram iguarias no decorrer da quaresma e dotempo pascal.

Ainda lá nos altos serranos, a meninafoi à escola. Aprendeu a ler e a escrever, afazer continhas e a escutar as histórias das

Memória da menina que gostava de colher moranguinhos silvestresprofessoras, além daquelas domésticas chei-as de encanto, magia e virtuosidades. Apren-deu bem as lendas. Cultivou os mitos e osrituais. Foi ensinada a trabalhar, filha maisnova de muitos irmãos. Perdi a conta donúmero que me foi dado. Todos tornadoshábeis, produtivos.

Ela, os irmãos e a criançada das vizinhan-ças respiravam o ar puro. Aprendiam a tra-balhar na terra e em casa.

Moradores de áreas rurais, aprendiam detudo, como método de subsistência.

Aprendiam a reconhecer a natureza ecom ela trocar ações. Sabiam plantar, colher,cozinhar, armazenar, comercializar, muitasvezes em trocas de produções.

As meninas eram educadas para o lar, secasar, ter filhos, educá-los e criá-los dentrodos princípios religiosos.

As festas comunitárias eram um saudá-vel e apreciado ponto de encontro.

A menina a que me refiro tornou-se umaartesã aprimorada. Sabia se aproveitar dosmateriais disponíveis e torná-los peças ad-miráveis.

Até do lixão urbano, quando já na cida-de, adulta e casada, aproveitava para remo-ver velhos e estropiados brinquedos. Bo-necas recebiam novos vestidos, sapatinhos,cabelos e adereços.

Recuperava louças e as tornava comonovas. Chegou a ter um ateiliê preparadopara guardar as peças artesanais – o cha-mado quarto das bonecas.

Brinquedos reformados e roupas eramlavados, limpos, higienizados, levados porela e o marido lá para o local de origem, ondeoutras crianças os recebiam como presen-tes. Sempre aguardados, lá chegavam nosfinais dos anos.

Viveu tranquila uma bela vida familiar.Não teve filhos, mas criou vários sobrinhos.A casa sempre aberta para os familiares eamigos. Acolhedora.

Os quitutes, as peças artesanais, frutase flores.

Trabalhou e viveu muito.Feliz no matrimônio, foi um exemplo de

mulher na tradicional vida doméstica.Cultivando flores, um orquidário, e aves

com as quais se comunicava em longas con-versas diárias, encantava quem com ela con-vivia.

Agora, está em paz entre os anjos.Deixou-nos saudosos e reverenciados.Está presente em nosso coração e me-

mória.O nome dela era Hilda.

Dóli de Castro Ferreira

Ame o Senhor seu Deus com todo oseu coração, com toda a sua alma e comtoda a sua mente. Esse é o primeiro e maiormandamento. E o segundo é semelhante aele: Ama seu próximo como a ti mesmo.

Assim nos ensinou Jesus, o nazareno.Quando ouvimos muito um ensinamento,há o risco de nos acostumarmos com aspalavras e deixar de ouvir, de ser afetadospor seu conteúdo. Esse ensinamento en-contrado no Evangelho de Mateus, no ca-pítulo 22, versos de 37 a 39, tem sido farta-mente lido, pregado, transmitido, ao lon-go dos séculos, sobretudo em nossas igre-jas, pelos cristãos. Vemos, porém, indivi-dualismo, indiferença, intolerância, violên-cia de todas as montas, miséria e riquezaexcessivas, acúmulo e falta de partilha,saciedade e fome convivem nas socieda-des. Ouvimos as palavras, mas não temossido afetados pelo mandamento do amortransmitido por Jesus.

Amar o próximo como a si mesmo é maisque a atitude moral e virtuosa de fazer parao outro o que queremos primeiro para nósmesmos. Já seria um avanço conquistar-mos essa elevação moral, mas ainda estarí-amos no centro, seríamos o objeto primeirode nosso próprio amor, a referência para oamor que dedicamos aos outros. O que Je-sus nos transmite é algo ainda mais pro-fundo, ele nos quer fazer experimentar quesomos parte de uma mesma humanidade,de uma mesma existência, de uma mesmavida. A vida de outro ser humano é parteconstitutiva de minha própria vida.

Existimos como humanidade, somosem coletividade. Somos cristãos, budistas,

muçulmanos, dançamos os pontos do can-domblé. Somos gays, lésbicas, simpatizan-tes, heterossexuais. Temos família bemconstituída, não sabemos quem é o nossopai. Somos índios, brancos, negros, mesti-ços, temos olhos puxados de orientais. Vi-vemos nas montanhas, em distantesgrotas, em grandes centros urbanos, embairros periféricos, em condomínios luxuo-sos, em florestas soberbas, em pequenosvilarejos escondidos nos sertões. Temoscomida de sobra, passamos fome, nos sui-cidamos. Temos boa saúde, estamos emestado terminal, lutando para viver. Ama-mos, odiamos. Somos generosos, pratica-mos atrocidades. Pagamos duras penas empresídios desumanos, de onde talvez nãosaiamos vivos. Cantamos mantras e can-tos gregorianos em harmoniosos mostei-ros, cercados por vida e beleza. Somosmaldosos, somos bons e santos.

Em cada ser humano está uma parcelada mesma vida, da mesma humanidade. So-mos parcelas, não totalidade. Amar a vidado próximo como parte de minha vida, ahumanidade do próximo como parte de mi-nha própria humanidade, ser capaz de mereconhecer no outro e reconhecer o outroem mim... Isso é vivenciar o mandamentodo amor. Não existem realidades humanasque não nos digam respeito, que não se-jam objeto de nossa compaixão, que nãonos causem alegria ou tristeza, que não nosinterpelem. Isso é amar o próximo comoamamos a nós mesmos, reconhecer o outrocomo parte de nós, não como um ser estra-nho, fora de nossa humanidade.

Quando ainda havia meses que tinha me

ordenado padre, um homem ainda jovemveio me pedir que rezasse por ele. Sentei-me por um instante ao seu lado e permane-ci em silêncio esperando que se acalmassee que pudesse falar. Estava em pranto. De-pois de alguns instantes conseguiu dizer omotivo de sua tristeza. Sua esposa haviafalecido antes de completarem um ano decasamento. Ela engravidou, tinha saúde frá-gil, fora avisada pelos médicos, decidiu,porém, gestar até o fim. Teria dito antes defalecer que sorriria e viveria em sua menina.O parto lhe tirou a vida. Ela, porém, com-preendia que a vida de sua filha era tambémsua vida. Sentia que se decidisse interrom-per a gestação, a morte de sua menina seriatambém sua morte. Preferiu morrer e sorrirem sua menina. Disse a ele que deveríamospedir a Deus que nos ensinasse a amarcomo sua esposa havia amado. Rezamosjuntos em silêncio por alguns minutos eentão o abençoei. Nunca me esqueci disso.Quando o mandamento do amor nos afetaem profundidade, penetra nossa compre-ensão e fecunda nossos sentimentos. Po-demos ser capazes, até mesmo, de nos im-portar mais com a vida dos outros de quecom a nossa própria vida, de nos doar pe-los outros e sacrificar a própria vida, comofez aquela mãe, como fez Jesus em seu vi-ver e em sua entrega na cruz.

Vivemos tempos de intolerância, violên-cia, indiferença, desintegração social. Pre-cisamos voltar a nos reconhecer como ir-mãos, como filhos do mesmo Pai, como par-tes da mesma vida.

Pe. Fabrício Beckmann

O Mandamento maior

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O ESTAFETA Página 5Piquete, junho de 2016

Piquete / 125

Aureolada de safiras azuisIncrustradas na Mantiqueira,Entre o Marins, o Cão e o Cabrito,Essas montanhas antigas,Se mostra nossa Piquete. EmNovo aniversário de vida.

Safiras durasDe um tempo milenar,Feitas de fogo e do gelo.Pedras ígneasDo centro da Terra erguidas,Blocos resistentesÀ ação erosiva,Desenham nas águas de encosta,Quais Medusas enlouquecidas,Riachinhos e ribeirões,Fios de água e musgos,E mais, árvores e arbustos,Madeiras de lei e rijas.Bromélias, orquídeas e maisRamificações floridas:Ipês, quaresmeiras, sibipirunas,E mais outras, floridas.De cores a mata tingida eMais, os guinchos, os pios e os cantosDe poemas escondidos.

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira Netto

Redação:Rua Professor Luiz de Castro Pinto, 22Tels.: (12) 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues RamosLaurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETA

Fundado em fevereiro / 1997

Dóli de Castro Ferreira

Gosto de andar a péPelas ruas do nosso Piquete,Ouvir os cantos dos ventos,O chilreado da passarada,As vozes das gentes e gritos da meninada.Lembrar, lembrar, lembrar...

Saio de casa pela Major Carlos Ribeiro,Em direção à Américo Brasiliense,Figuras históricas de nossa emancipaçãoPolítica, Que tem, ao lado, a pracinha,Chamada 9 de julho, homenagemÀ data magna paulistaDa Revolução Constitucionalista (1932).Chego à rua São Miguel,Lembrando o lugar do Cartório de

/ Registro Civil; um poucoAntes, e da família Arantes.Faz-se uma curva, onde, lá no canto,Estão entroncadas as duas ruas citadas.Era onde morava a amigaNeycir Pfeil, filha de Lourdes,Neta de Dona Mariana Relvas.Onde, depois, morou Prometheu

/ da SilveiraCom Yayá. Ele, arquiteto da nova Matriz,Da qual acompanhou a construção,O tetraedro de Miguel Arcanjo,Nosso arcanjo protetor.Ali, onde morava e finou seus dias,Se interceptavam o velho caminhoDa Matriz antiga, e depois a rua daMatriz nova. A tradicional dos galinhosSinalizadores dos ventos, e a moderna,A dos vitrais angelicais.A antiga, testemunha documental daInstalação da Freguesia do Piquete

/ (1875).Que depois foi emancipada como

/ Vila VieiraDo Piquete (15 de junho de 1891).Cidade ou sede de municípioHoje, mais do que centenária.Cidade, em seguida denominada

/ de forma simplificada Piquete.Prossigamos pela rua São Miguel.Do lado direito, um pouco mais abaixoDo nível do arruamento, a casa deDindinha Laura, ou Dona Laurinha,Para quem, eu levava docesMandados por minha mãe,Sua afilhada.Do lado oposto, a família Luz,Do João, do Juca e da queridaDona Julietinha, que, da janela,Me acenava, e perguntava de toda

/ a genteDe casa, pais, avô, tia Mariquinha,

PiqueteRuas antigas. Tempos diferentes.

Adelina, tios e primos.Seguindo. À esquerda, o Largo da Cadeia

/ e da Prefeitura Municipal, eMais, o Grupo Escolar Antônio João.Edifícios do alto da colina,Lugares da obediência às leis e

/ aos costumes.À frente, descido o morro, o “Buraco”Do Barão, o salão da banda,

/ prédio marcante.Para cima, à direita, a antiga casa deAzer Arantes, amigo de

/ meu avô Chiquinho.Para lá, eu menina levava e trazia recados,Recomendações, notícias familiares.Subindo mais, à esquerda, a casa deSeu Manoel Vilar, ancestral de famíliaAntiga, que tinha próxima a casa deAlcides Vilar, seu filho, e da

/ professora Melita e,Os filhos. Ela, da família (filha) do

/ Capitão José de Brito,Que, com o Coronel Luiz Relvas,

/ disputavaA política contra o Coronel José Mariano.Dos Ribeiros da Silva. Este, dissidente

/ do mesmo Partido Conservador.Em querelas eleitorais.No bar e armazém de seu Manoel Vilar,Nós, a criançada saída do Grupo Escolar,Admirávamos as frutas e guloseimas.“Põe na conta!” gritava Vonir, maçã na mão.Imitei e fui chamada à atençãoPor meu pai, à falta de sua autorização.Nunca mais. Aprendi.Lembrei-me de Dona Eudóxia,

/ marido Leopoldo eFilhos, dos quais, Alba era minha colegaDa Escola Normal, ou do Ginásio.E mais gente, muita gente que se sucedeuNesse caminho de São MiguelProlongado por outras ruas, em direçãoÀ Mantiqueira pelos vales dela emanados.Formadores do Ribeirão Piquete,Eixo do plano urbano da cidade.Agora, sob a luz crepuscularDo outono cheio de sombras,As esquadrilhas de garças,Em busca de seus ninhais,Me dizem – Piquete é bela! Concordo!Das casas bem conservadas da atualRua São Miguel surge um passadoRemoto, mas não nostálgico.A garça, solitária, atrasada do bando,Cultivava sonhos? Seguia asas amplas.Ah! Minha rua São MiguelAntigo caminho de tropas e boiadas!

Dóli de Castro Ferreira, 2016

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O ESTAFETAPágina 6 Piquete, junho de 2016

Gostaria de ser um cavaleiro medieval.De armadura e uma espada reluzente em mi-nha mão direita. No braço esquerdo um es-cudo de aço todo ornado de uma mistura dedragão, cavalo e unicórnio. Pela viseira demeu elmo que brilha ao sol eu olho essemundo. Olhos indignados e tristes. Pé direi-to à frente. O esquerdo em apoio se faz plan-tado ao chão. Então, faço a espada girar qualSão Miguel, o arcanjo de Deus. Nos ouvi-dos meio tapados pelo elmo, ouço o som dovoo da lâmina a rasgar o ar. Som da asa deum colibri da justiça. Os demônios dessemundo vindo um a um em minha direção.Meu subconsciente percebe a voz da rai-nha de Alice: ‘cortem-lhe as cabeças’. En-tão, vejo ali ao chão a cabeça decepada ajorrar o sangue negro. O coração ainda odi-oso a bombear o sangue que lhe resta. Masnão existe descanso para nenhum guerrei-ro. Eis que surgem outro e outro. Num girode calcanhar, um golpe fatal. Outra cabeçarola solta pelo campo de batalha.

O calor sufocante do esforço e da lutaenche o peso da couraça. A cota de malha

Eu guerreirode aço tintila. O cheiro acre do sangue en-che o ar. Um rodopio e lá se vai mais umacabeça de outra besta. Bem no meio daque-le cerrado quente e sufocante os golpes seouvem ao longe. O pó se levanta em tornode meu corpo, como se fora um tornado agirar seus ventos. A cidade em forma de cruzque está ao meu lado silencia ao som detantos golpes. Os lagos que a permeiam aospoucos recebem um filete de sangue. Aolonge pode-se ver os dois candangos se-gurando suas varas. Observam-me imóveis.Num relance, por entre o pó, me parecemsorrir. O tinhoso que defende o estupro vemcom sua bocarra de rebordo solto. Balbuciapalavras disformes. A espada anavalhadalhe crava o coração. Suas garras estendidasbuscam meu braço e o seguram. Mas a luvade ferro é escorregadia. Uma leve torção dalâmina e tudo se consuma. E seguem um aum: o traidor, o dissimulado, o ladrão dospobres, o saqueador. Cada um dos demoní-acos seres vai tombando. Os abutres rodo-piam os céus que já nem se vê. Minha men-te faz-me lembrar das palavras do salmista:

‘mil cairão a tua direita, dois mil a tua es-querda. Tu, porém, não serás atingido’. Aluta se prolonga deixando meu escudocravejado de setas envenenadas. Os demô-nios que esperam têm ódio, mas se afastam.Até que em um momento os demais demôni-os, assustados, debandam ao inferno. Eu,cansado, apoiado sobre a pesada espadacruzada, vejo a poeira baixar arrastada. Osol aparece devagar atrás da nuvem amare-la de pó. Os pássaros que se resguardaramnos arbustos começam a trinar lentamente.Logo se distingue o som do vento que levaa poeira pra longe. A lama vermelha que sefaz ao chão começa a secar com o sol arden-te. A carniça saciará os abutres. Os ossos eo sangue seco nutrirão a terra. O céu volta ase tornar azul. No horizonte distante, entreos prédios, ouve-se o bur-burinho das pes-soas. Tiro meu elmo, minha balaclava sua-da. Solto minha armadura e minha cota demalha. A espada cai de minhas mãos. Atiroo escudo ao longe. Cansado e quase semfôlego. A batalha acabou. Por enquanto.

Luiz Flávio Rodrigues

É preciso reconhecer que todo pique-tense, em maior ou menor grau, carrega con-sigo certo “complexo de vira-lata”. Com opassar dos anos, a tese de que nosso muni-cípio já não seria sequer sombra de seu pas-sado tornou-se consenso. O peso da nos-talgia e a marca da descrença quanto ao fu-turo fizeram-se presentes até nos discursosdos munícipes mais apaixonados. No entan-to, em que pese nosso estado de espírito,em que patamar está, de fato, nossa cidade?O que os principais indicadores sobre de-senvolvimento humano dizem sobre nós?Seguem, a partir dos dados produzidos peloCenso 2010, algumas observações.

Levando em conta o IDHM (Índice deDesenvolvimento Humano Municipal), den-tre as 5.565 cidades brasileiras, Piquete ocu-pa a posição 434°. Apesar da ideia recorren-te de que retrocedemos em relação ao pas-sado, nosso índice diz o oposto: passamosde 0,563, em 1991, para 0,757, em 2010. Umaumento considerável que, em termos com-parativos, equivale a alguém que muda, nosdias atuais, de Bangladesh para o México.Dado que o IDH se vale de índices de ex-pectativa de vida, educação e PIB percapita, pode-se afirmar que nós, pique-

Raio-X piquetensetenses, estamos vivendo mais, somos maisescolarizados e possuímos, em média, ren-das maiores do que em 1991.

No âmbito educacional, somos excep-cionais nos indicadores referentes à edu-cação de crianças e adolescentes: 99% dapopulação entre cinco e seis anos frequen-tam a escola e 97% dos que possuem entre11 e 13 anos estão completando ou já com-pletaram o ensino fundamental – númerosesses superiores, inclusive, aos da cidademais desenvolvida do país, São Caetanodo Sul (SP), que possui 96% e 91%, res-pectivamente. Nossos índices começam acair, no entanto, quando falamos da edu-cação para jovens e adultos: apenas 55%da população entre 18 e 20 anos possuemo ensino médio completo e somente 61%dos adultos com dezoito anos ou mais pos-suem ensino fundamental completo. En-quanto isso, Águas de São Pedro (SP),pequeno município detentor do segundomaior IDH do país, possui, respectivamen-te, taxas de 74% e 75%.

No plano dos indicadores referentes àsaúde, temos a expectativa de vida de 74anos. Número próximo à média brasileira, queera de 73 anos em 2010, mas inferior a cente-

nas de outros pequenos municípios comoJoaçaba (SC), que tem expectativa de 78anos. Se levarmos em conta, ainda, que aestressante São Paulo (SP), repleta de pro-blemas que atacam diretamente as saúdesfísica e mental, possuía expectativa de 76anos em 2010, deduzimos que nosso muni-cípio pode, mesmo com poucos recursos,valer-se de suas virtudes para avançar nalongevidade de seus cidadãos.

Fechando esse breve raio-x, temos osindicadores econômicos. E é justamenteaqui que as coisas se tornam preocupantes.Nossa renda per capita é de apenas R$ 665,valor inferior aos de inúmeros outros pe-quenos municípios, como os catarinensesRio Fortuna (SC) e Treze Tílias (SC), comíndices de, respectivamente, R$ 1570 e R$1471. Num ano eleitoral, é elementar que adiscussão de um projeto de desenvolvimen-to para o município entre na agenda doscandidatos. Piquete possui potencialidadesque precisam ser discutidas. Ter em mente,no entanto, nossas debilidades e virtudes épasso fundamental para encontrarmos nos-sos possíveis remédios.

Rafael Domingues de Lima

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O ESTAFETAPiquete, junho de 2016 Página 7

Se nos detivermos no estudo do subsolobrasileiro, vamos ter de registrar a presençade grande número de aquíferos e de provín-cias minerais.

O rio Amazonas, que nasce fora do país,pode ser afetado por degelo, mas seus por-tentosos afluentes no território nacionalgarantem o poder descomunal de seu volu-me de água.

Os aquíferos brasileiros são renováveis.Isto significa que cada um deles tem suaszona de recarga por onde entra a água dachuva.

O afloramento pode ser múltiplo; ou úni-co. Pode ser inexpressivo, uma pequenamina. Ou pode romper o solo com muita for-ça, como acontece no Jalapão (TO), no qualos turistas tentam mergulhar, mas o jato deágua os expulsa imediatamente.

Os minerais ficam bem escondidos, a nãoser em casos como Carajás em que o ferropôs a cara para fora.

Até aqui, tudo simples. O problema écombinar o subsolo com o solo para que anatureza não seja prejudicada.

Os rios dependem dos aquíferos. Osaquíferos precisam da água da chuva.

Se as zonas de recarga não estão prote-gidas, a poluição pode comprometer oaquífero.

Um rio limpo pode ter suas águas preju-dicadas pelo esgoto das cidades ou por re-síduos da mineração ou da agropecuária.

A devastação das florestas afeta o regi-me de chuvas. E a destruição das matasciliares leva ao assoreamento do leito dorio. Assoreado, o rio despeja suas águascausando enorme prejuízo.

Na escola, comparamos o PantanalMato-grossense com o “Chaco” dos paísesvizinhos.

A enchente do Pantanal ocorre anual-mente; no Chaco, geralmente de quatro (4)em quatro anos.

A gente paulista nutre uma simpatia par-ticular pela região pantaneira seja pela pes-ca no rio Miranda, seja pelas espontâneasnarrativas da música sertaneja – chega aépoca de chuva, a comitiva sai em busca debons pastos; a enchente acaba, a comitivavolta. Se o terreno não seca, não há possi-bilidade de retorno.

O Programa Globo Rural apresentou re-centemente um trabalho muito oportunosobre o rio Taquari.

Brasil das ÁguasQuando lecionei em Mato Grosso, esta-

do onde nasce o rio, parei várias vezes nolocal em que o Taquari recebe seu afluenteCoxim, rio que dá nome ao município, já emMato Grosso do Sul.

Daí o Taquari segue em direção ao Pan-tanal.

Por se encontrar em plano superior, es-tourando as margens, o Taquari está inva-dindo fazendas, inviabilizando a pecuária.

Os mais jovens abandonam as proprie-dades. Velhos teimam em permanecer comalgumas cabeças de gado.

Conhecemos a mata de igapó da Amazô-nia. Ela resiste à inundação. Aqui a vegeta-ção não resiste, apodrece. Não há pasto parao gado.

Faz-se necessária uma providência ur-gente do Poder Público, porque uma esta-ção chuvosa muito longa pode arrancar orio de seu leito e causar sérios danos aoambiente.

A mineração também inspira cuidados.A extração de caulim gera pobreza e morte.O garimpo de ouro assoreia os rios e enve-nena a água com mercúrio.

Nossa Meteorologia é competente. Apesquisa agropecuária está no rumo certo.

A Engenharia Civil no que respeita abarragens, eclusas e elevatórias dá contado recado. Só que constrói onde o governoquer.

Sabe o apelido do rio Tocantins? RioAfogado.

Chegou a hora e a vez da Geologia e daHidrologia.

O sul do Maranhão é um aguaceiro. Orio Parnaíba, o do delta famoso; o Jaguaribe,o Apodi, o Paraíba, o Beberibe, o Capiberibenão caem do céu – nascem em algum lugar.

Quando se discute o semiárido, é o cris-talino que não sai bem na foto.

Você sabe o que é o cristalino?Em São Paulo, o mar avançou, cobriu

parte da Mata Atlântica e formou ilhas.Como se comportou o mar no Nordeste?

Por enquanto o Brasil é o País dasÁguas.

Mas, não se esqueça de que já foi Paísdo Futebol.

Agora é o país do Vôlei e do Surf.Parabéns às moças e rapazes que sacam

e cortam!Parabéns aos meninos da elite caiçara!Abigayl Lea da Silva

Laura Chaves

Recentemente, nas minhas andançaspor aí, palestrando aos professores, acon-teceu algo bem interessante, digno de re-lato. A pedido da rede de ensino que mecontratou, minha fala tratava da implanta-ção de um sistema de avaliação, o qualcompreende a avaliação feita pelos pro-fessores e a avaliação externa, com vistasa apurar o resultado da aprendizagem edirecionar o trabalho escolar. Um modeloque há tempos foi adotado por países queavançaram na educação e que vem, demansinho, sendo implantando no Brasil.É, sem dúvida, um trabalho técnico, alta-mente qualificado e que requer preparo dosprofessores e da escola como um todo.

Avaliação nesta perspectiva, assimcomo um projeto educacional voltado pararesultados alcançados por meio de metasclaramente estabelecidas, de antemão soaaos ouvidos dos professores como um re-denção ao capitalismo, e, na ocasião a queme refiro, um professor reagiu de pronto: -Já vi tudo, nossa rede de ensino está ren-dendo-se ao capitalismo. Deixaremos deser uma escola, passaremos a ser uma em-presa.

Essa reação não é única, ela está dis-seminada em muitas escolas e se revelaem chavões normalmente usados comoluta pelo poder, divisão de classes, eles enós, educação elitizada, opressor... e poraí vai. Qualquer proposta que difere dodiscurso da escola para todos, escola paraformar cidadãos, escola para a transfor-mação social... esbarra na resistência.Quem perde? A escola, a educação e espe-cialmente os menos privilegiados social-mente. Um paradoxo que não se deveriaadmitir.

O fato de adotar ações de uma empre-sa. Sim, trabalhar com metas e resultadosé imperativo às empresas, não deve ser en-carado, a princípio, como algo negativo.Ao contrário, a escola tem a muito a apren-der com o mundo coorporativo inseridonuma sociedade altamente complexa, a quala escola limita-se a intitular sociedade declasses.

De maneira geral, a escola é vista comouma escada para subir na vida. Isso por-que todos almejam uma vida confortável,um bom emprego e um bom salário e, semmedo de errar, eu diria que o sucesso es-colar é a oportunidade efetiva para com-pensar as desigualdades sociais, umas dasprincipais críticas ao capitalismo. Para tan-to, tem que trabalhar duro, avaliar de ver-dade e estabelecer metas claras, exatamentecomo fazem as empresas de sucesso.

A escola é uma escadapara subir na vida

A Fundação Christiano Rosa e O ESTAFETA

parabenizam os poderes constituídos e a população

piquetense pela passagem dos 125 anos de

Emancipação Político-Administrativa de Piquete.

Salve 15 de Junho de 2016!

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O ESTAFETA Piquete, junho de 2016Página 8

Neste mês de junho, quando comemora-mos mais um aniversário de Piquete, home-nageamos um cidadão que dedicou grandeparte de sua vida a registrar, por meioda fotografia, diferentes momentosda história do município.

Dogmar Brasilino documentoude maneira ininterrupta o cotidianoda cidade desde 1945. Foram quasesetenta anos de trabalho que resul-taram em um patrimônio imensu-rável de imagens que testemunhamo crescimento e o desenvolvimen-to de Piquete.

Muito mais do que um bom fo-tógrafo, Dogmar era um artista. Ha-bilidoso e sensível, captou momen-tos únicos de nossa sociedade,eternizados em imagens que somente umolhar apurado como o seu seria capaz deregistrar.

Em seu ofício enveredou por uma gamavariada de temas – fotografou diferentesângulos da paisagem serrana o cotidiano dacidade, passando por retratos posados for-mais e episódios alegres e tristes que como-veram a população. Foi presença marcantena vida dos piquetenses. Captou por meiodas lentes de sua câmera as belezas daMantiqueira e da cidadezinha serrana.Eternizou momentos únicos na vida de mui-tos, como batizados, primeiras comunhões,

O fotógrafo, a memória e a cidadeformaturas e casamentos. Personalidadespolíticas, religiosas e militares foram por eleclicadas, além de cidadãos anônimos que

dele receberam o mesmo tratamento profis-sional. Todos, indiscutivelmente, tornaram-se personagens de nossa história. Ajuda-ram a construir a cidade.

Entre seus trabalhos memoráveis, deve-mos a Dogmar Brasilino o registro da visitado Presidente Dutra a Piquete, em 1948, e,nesse mesmo dia, 28 de agosto, a inaugura-ção do Hospital da FPV. Ainda uma imageminesquecível: a do time estrelino, campeãodo interior de São Paulo. Fotografou, tam-bém, a inauguração do Elefante Branco e daPraça Duque de Caxias, em 1952; os cente-nários da Paróquia de São Miguel, em 1988,

e do município, em 1991.São milhares os negativos por ele guar-

dados com carinho ao longo dos anos. Sa-bia identificá-los, bem como as pes-soas e os fatos neles registrados,quando colocados a contraluz. Es-tão lá comícios políticos, procis-sões, casamentos, desfiles cívico-militares, bailes... Nada escapava deseu olhar...

Para os apaixonados por Pique-te e por tudo o que lhe diz respeito,é sempre um prazer poder viajar atra-vés das fotografias de DogmarBrasilino. O acervo deixado por eledá-nos uma série de informaçõessobre nossa cidade e nossa gente.

Neste 125º aniversário de eman-cipação do município, são mais do que me-recidas as homenagens que prestamos aDogmar Brasilino, verdadeiro repórter foto-gráfico da Cidade Paisagem.

Por meio de seu trabalho conseguimosrecriar o nosso passado, reviver o cotidia-no de nossa sociedade, reencontrar pesso-as que nos foram tão caras, hoje esmaecidasna memória e revividas quando folheamosálbuns de fotografias.

Parabéns, Piquete, por mais um aniver-sário!

Parabéns, Dogmar Brasilino, por seu tra-balho e amor pela Cidade Paisagem!

Oratório Domingos Sávio em festaO Oratório Domingos Sávio irá come-

morar 50 anos em nossa cidade em 17 dejunho de 2017. Para iniciar as celebrações,haverá missa festiva no dia 17/06/2016. Aagenda e a programação estão sendo pre-paradas, mas estão previstos o lançamen-to de um site e banners comemorativos aserem distribuídos pela cidade. Desde já, a

organização solicita fotos do Oratório, coma finalidade de reunir um acervo.

O Oratório São Domingos Sávio foi ins-talado em Piquete por meio do Padre MárioBonatti, em 17 de junho de 1967. Atendia aopedido dos salesianos cooperadores da ci-dade e tinha como objetivo proporcionar aosmeninos da Vila Barão educação religiosa e

lazer sadio, já que, para as meninas, havia,à época, o Orfanato Madre Maria Mazza-rello. Hoje o Oratório Domingos Sávio é re-ferência na cidade na formação de criançase jovens, abrigando a Obra Social São Do-mingos Sávio que desde o ano 2000 atendea população carente que vive em situaçãode risco ou exclusão.

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