Co leção TE AT RO HOJE Di r eção d e DIAS GOMES Série A utores Estrangei ros Volume 2 0 VO LUMES PUBLIC ADOS: Série Autores Nacionais: .. Oduv aldo Viann a Filho e Ferreira G ullar - SE CoRRER o BICHO PEGA, SE FICAR o BICH O COME Flávio R a n g e l e Millôr Fe r nand s - LIB ER DADE , LIBERDADE ( 2 ~ ed i ção) J orge Andrade - SENHOR A N A BÔ CA D O LIXO S é rie A uto1· es Estra ng e i r os : Bertolt B recht - SR. P U N T IL LA E S E U C RIA DO MATTI Sófocles - É D IPO RE I Sófocles - ANTÍ GONA Jean Ge net - O BALcÃo Jo a h n S t r indbe rg - SENHORITA J ÚL I A e 0 PAI William S h a k espea re - M ACBETH . CCdnor Cruise O'Brien - ANJO S AssASSI N os Série Te o ri a Histó ria: Paolo C h iarini - BERTOLT BRECHT Bertol t B re c h t - TEA T RO DIALÉTICO Er w i n Pi.s cator ~ T E ATRO POLÍTICO Cons tantin S tanisla vski A PREP ARAÇÃo DO A TO R (2?- e dição) , Constan ti n Stanislavski - A CONSTRUÇ Ã O DA PERSONAGEM J erzy G r o towsky- EM Bu sc A D E UM T EAT RO POBRE P róxim o Lançamento Cons tantin S tanis lavski A C R IAÇ Ã O D E UM P APEL J I I A l f r e d J a r r y U B U R E I o u O S P O L O N E SE S Dr a m a e m cm co atos T radução de . FERREIRA G U LLAR i c i vili zaçã o br a sileira C o l eç ã o E u d i n y r Fraga
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TEATRO HOJEDireção de DIAS GOMESSérie Autores Estrangeiros
Volume 20
VOLUMES PUBLICADOS:
Série Autores Nacionais:
..
Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar - SE CoRRERo BICHO PEGA, SE FICAR o BICH O COMEFlávio Rang e l e Millôr Fernande s - LIBERDADE, LIBERDADE ed ição)
J orge Andrade - SENHORA NA BÔ CA DO LIXO
S érie A u to1 ·es Estrangeiros:
Bertolt Brecht - SR. P UNTIL LA E S EU CRIADO MATTISófocles - ÉDIPO RE ISófocles - ANTÍGONA
Jean Genet - O BALcÃo Jo ahn Strindberg - SENHORITA J ÚLIA e 0 PAI
William Shakespeare - MACBETH .CCdnor Cruise O'Brien - ANJOS AssASSINos
Série Teori a e História:
Paolo Chiarini - BERTOLT BRECHTBertolt Bre ch t - TEATRO DIALÉTICOErwin Pi.scator ~ TEATRO POLÍTICOConstantin Stanislavski - A PREPARAÇÃo DO ATO R(2?- edição) ,
Constan ti n Stanislavski - A CONSTRUÇÃO DA PERSO
NAGEMJ erzy G ro towsky - EM BuscA DE UM T EATRO POBRE
Título do original francês:UBU ROI ou Les Polona isPub li cado em língua portuguêsa medi an te acô rd o firmado com
La Societé de s Édit ions Grasse t e Fasque lle . 61, Rue des Saints-Pêres , Paris, VIe
Montagem de capa :DOUNÊ
Diagramação: ·LÉA CAULL IRAUX
Direi tos universais para a lín gua portuguêsa adqui ridos pela EDITORA CIV IL IZA ÇÃ O B R A SIL E IR A S. A.Rua da Lapa, 12 0 - 12Q andar RIO DE JANEIRO,
Ü DI A 10 de de zem bro de 1896 é um a grande da tapa história do te atr o francês - com algum exagêrodir-se-i a qu e é mesmo um a data histórica . Lugné-Poe, o grande renovado r do teatro parisiense, já tinha surpre -
. en dido a gente com representações de Pel léas et Mélisande, de Maeter l inck , de Rosmersholm, de Ibsen, daSalomé, de Wilde, obras que passavam en tão po r exces
sos de modernidade. Naqu el e 10 de de ze mbro convidou a crítica hostil e o pú blico desconcertado para o Théâtr ede l'O eu vre , prometendo uma peça inédi ta de autor des
conhec ido: Ubu -ROi, de um certo Alfred Jarry. O título,lembrando vagamente o Oedipe-Roi, de Sófocl es , pareci a anunciar uma t ragédia c lássica . Rea lmente, ao le
vantar-se o pano, os espectadores viram as co lu nas de
um templo grego, embora com a palavra École na ar-
um a peça bur le sca contra instituições sagradas , defendi das po r todos os podêres? U m pensador alemão co nt emporâneo, Gu en ther Ande rs , explica: ((Happenings
são encenados por aquêles qu e não têm poder nenhum
e não poss u em ou ainda não possuem fôrça para . mo-
dificar radicalmente ou abolir instituicões execráveis .
São sucedâneos de ação verdadeira, às vê ze s atos de de
sespêro, embora parecend o humoríst icos. O s que pos
suem ou r epresentam o poder nunca en ce na m happe-
nings (embora suas cerimônias, des files , proc is sões erecepções se apres.entem tão ab su rd a s como happenings).
Não precisam. Mas tampouc o po de m . Pois o ex ercíciodo po der torna tão lamentàvelmente sérios os podero
so s qu e ficam incapazes de co mp re e n d e r o humor desta
co isa ou de qualquer co isa" - e, para citar outra vez
os versos de Racine: insistem em co me ter atos d e "im-
pr udência e ê rr o , precedentes fu nestos da ca ída do s
re is" . A resposta de Jarr y só podia ser esta: " M erde!"
Ubu-..Roi é uma "coisa" humorística daquela ca te goria. Seu v a lo r literário po de se r discutido e at é contestado . Mas fica ac ima de qua lquer dúvida a atuali-dade de UBu-Ro r.
Mãe Ubu, veja como êles .disputam o ouro. É uma verdadeira batalha.
MÃ E UBU
C oisa horrível . Veja aquêle lá co m o crânio p ar ti d o .
PA I UBU
Que espetáculo maravi lhoso! Tragam mais .caixas de ouro, t rag·am .
B O R D A D U RA
E se promovêssemos um a dispu a?
PA I UBU
Boa idéia. Uma corrida.
(Ao povo. )
PAI UBU
Amigos, aq u i está uma .caixa cheia d e ouro. Ela
contémt rezentos mi l n o b res -d a - ro s a em ouro, m oe
da polonesa de bom quilate. Os d es e j a rem pa r-ticipar da di sputa coloquem-se n ofim do pát io .Quando eu der o sina l com o lenço, comecem acorrer, e quem ch egar pr imei ro ganhar á a caixa
64
•ouro. Quanto aos demais, te rão como consola
çao esta outra caixa que será dividida entre todos.
TODOS
Viva Pa i Ubu ! R ~ bo m está aí! No tempo Ven-
ces lau , a g en t e nao ganhava tanto dinh ei ro . ·
PAr UBu
(A ~ ã e Ubu, entusias.mado.) Ouve o .que êles d iz ~ m . (Todo o povo va z se colocar no fu ndo "do. pá -tw.)
PAr UBu
U m , dois, três. Todos a postos?
TODOS
Sim, sim!
PAr UBu
Já (Partem un s tentando derrubar os ~ u t r o s . Gri -tos e tumulto.)
R ecu s am o-n os a julgar em semelhantes condições.
PAI UBU
Joguem os ju ízes no alçapão . (Êles se debateminutilmente.)
MÃE UBU
Que diabo estás fazendo, Pai Ubu? Quem vai ag oraministrar a justiça?
PAI UBU
Ora, quem! Eu. E verás como tudo caminharáb em .
MÃE UBU
Sim, co m isenção total!
80
.,
i
PA r UBu
Vamos, cala-te, idio tra . Agora , sen hores , tr atare-mos d as finanças.
FI NANCISTAS
Não há o que mudar.
PAr UBu
C o m o n ão há, se eu quero mudar tudo? De saída,reservarei para mim a metade dos impostos.
FI NA NCISTAS
Ora, não se acanhe!
PAr UBu
S en h o res , es tabelece rem o s um im pôsto de dez por cento sôbre a propr ied ad e , outro sôbre o comércioum t e r ~ e ~ r o sôbre os casamentos e um quartobre os ob1tos, de quinze francos ca da um .
Deus do céu! que va i ser de nós? Pa i Ubu é umcrápula e d izem qu e sua mulher é realm ent e abo
minável.
UM CA MPONÊS
Escu'tem: parece qu e es tão ba tend o .
UMA Voz
(De fora.) Cornupapança! * Abram em nome d e
minha. merdra, po r São João , São Pedro e São Ni
colau! A b r am , pela espada das finanças, côrnotu-tu venho arrecadar os impos tos! (A poTta é ar -
, -rombada, Ubu entTa seguiào de um a legiao de co -
letores de impostos.)
* Corneg idouil/e, palavra cunhada por Jarry para expressar as três
partes do poder de Ubu: cabeça, co ração e ventre, sendo que, nêle,
só o ventre n ão se encontra em es tado emb rionário. Gidoui / le , deno -
minação do ventre monstruoso de Ubu: "o po der ' dos ap eti tes in fe-
riores".
84
•
Cena IV
PAr UBu
Qual é o mais velho de vocês? (Um camponês se
apTesenta.) Com o te chamas?
CAMPONÊ S
Stanislau Lecz insk i.
PAr UBu
Pois b em , cornupapança, pr est a atenção ao quevou dizer , senão êstes senhores aq ui te co rtarãoas orrelhas. M as, afinal de contas , vais ou não vais
Como nã o disse nada! fa lo há mais de uma hora.O u pensas que v im aq ui para pregar no deserto?
STANISLAU
Longe de mim ta l pensamento.
PA I UBU .
Pois muito que be m, estou aqui par a te dize r , te ordenar e t e intimar a declarar e pagar imediamente teu im pôsto de renda, sob pena de sêres
trucidado . Va mos, senhores porcalh inos da s finan ça s, carrocem para cá a carroça-das-f inanças.(Trazem a carroça.)
ST ANISLAU
Sire, no ssa inscrição no registro .nos obriga a pagar apenas cento e cinqüenta e dois rixdales, que
já pagamos faz sei s semanas em Saint Mathieu.
PA r UBu
É bém possív el, mas mudei o regime e avisei pelo
jornal qu e todos os impostos se rão pagos dua.s vê
zes, e tr ês vê zes a.quêles que assim determinarmosposteriormen te. Com · êsse si stema de arrecadação,ficare i rico ràpidam ente, mat arei em seguida todo
mu ndo e irei embora .
86 '
.
I•
CAMPÓNESE S
Senhor U bu , tenha piedade de nós. Somos gentepobre.
PA r UBu
. E daí? P aguem.
CAMPONESES
Não temos com que pa.gar, P a i Ubu , já pa ga mos .
PA r U Bu
P a ~ u e m ! ou ponho vocês no papo, depo is de to rtura-los , com degolação do pe scoço e da cabeça!
Cornupapança , parece qu e o rei aqui sou eu!
Tonos
Ah , assim? Às armas, pessoal! Viva Bugrelau,pela graça de D eu s rei da Polônia e da Lituân ia !
PA I UBU
Senhores das finanças , atacar, cumpri com o vos-.so . dever! (L utam entTe s i, a ca sa é de struídd e o
Senhora merdra m i n h a ~ tome cuidado porque nãoto lerarei mais su as to l ices. Dizia eu , senhor.es, que
as finanças vã o mais ou menos. Um n s i d e r á v ~ ~número·de cães miseráveis se espalha tôda manhapelas ruas e os porcalhinhos fazem maravilhas. Por to dos os lados há casas incendiadas e gente dobrando-se ao pêso de no ssos impostos.
CoNSELHEIRo
E os novos impos to s , Sr . Ubu, estã o dando re sultado?
MÃ E UBU
Vão de mal a pior. O impôs to sôb re casamentos rendeu até agora apenas onze sou s, e assin: m e s moporque Pai U bu persegue as pessoas por tod a parte para obrigá-las a se c a s a re m .
PA I UB U
Espada . das finanças, corn a de min ha pa nça , se nhora financista eu tenho or.relhas para falar e' . . - ,tu t ens bôca para escutar. (RtSos.) A ll a s, na o e
isso! Tu me atrapalhas e me fazes parecer idiotra .
M as , côrno de Ubu! (Entra um mensagei1·o.) Bem ,va m os, que que r aquêle al i? Vai-te embora, porc alhão, ou te bato, te degolo e te torço as pern as.
MÃE UBU
Bem, já se foi, ma s deixou uma carta.
PAr UBu
Lê. Até parece que estou pe rde ndo o juízo ou quenão se i le r. Vamos, id io tra, lê, deve se r de B o r d a ~dura.
MÃE UBu
É dê le m esmo. Diz que o czar o acolheu muito be m,que vai invadir teus domínios para restaurar o
po det de Bugrelau e qu e serás executado.
PAr UBu
Não! Tenh o mêdo! Tenho mêdo! A c ho que vou.morrer. Coitadinho de mim! Que vai me acontece r,meu Deus? Êsse homem m a l va do vai me matar.Santo Antônio e todos o s santos , p ro tegei -me , prometo dar esmolas e acender velas a todos vós. Senhor , o que me espera ainda? (Chora e 80luça.)
Ah, isso é qu e não! Eu te mato! Não vou darnheiro algum . Tom em de outro! A guerra já es tápaga e ninguém va i guerrear às minhas custãs.Pe los meus chi fres , façam a guerra mas porq uevocês es tã o com ra iva . Nada de gastar dinheiro.
Que ótima bab á el a é! Então gasto doze sous pordia com êsse animal e êl e não tem fôrças para mecarregar? Será que te enganaram, corna d'Ubu,ou es tá s me roubando? (Mãe Ubu enrubesce e
baixa os olhos.) Me tragam, então, outro cavalo. A pé_ que não vou , cornupapança! ·
(T razem-lhe um enorme cavalo.)
PA I UB U
Vou montar nêle. Oh! Aliás, ac ho que vo u cair. (O ·cavalo anda.) Pára, pára êsse bicho, meu D eus ,
• I 11 vou ca i r , vou morrer . .
MÃE U:Bu
É um imbec il, sem dúvida alguma. Ah, conseguiumontar. Mas já caiu no chão.
PA I UB U
Cornofísico estou m eio morto! Mas não faz dife-.reriÇa, vou 'pra guerra e matarei todo mundo. Ai
de quem não marchar direito! Será rebenta do depancada com torção do nariz e dos dentes e ex -tração da língua.
M Ã E UBU
Boa sor te , Sr . Uou.
·. .. .
•
PAI U B U
Esqueci de te dizer que te confio o govêrn o. Ma slevo comigo o livro de Finanças. S e me roubarespagarás caro . O Pa lhadino Girão fica aqui _para te
ajudar. Ade us , Mã e Ubu. ·
MÃE UB u
A deus , Pa i Ubu. Não deixa de máta r o Czar .
PAI UBU
Não te preocupes. Torção do nariz e dos dentes ,extração da língua, e in trodução do bastão erre-lhas a dentro.
( O exército se afasta ao som das fanfarras. )
MÃE UBu
(Sàzinha.) Ago ra que êsse bonecão de engonço fo iembora, trate mos de nossos in terêsses: matar Bu-grelau e nos apossar do te souro .
Bravos! Avante! Ataquemos o palácio e acabemoscom essa canalha!
BUGRELAU
Pessoal, Mãe Ubu está saindo com seus guardas
pela escadaria.
MÃE UBU
Que querem comigo? Oh, é Bugrelau.
(A multidão joga pedras.)
PRIMEIRO GUARDA
Todos os carros estão quebrados.
SEGUNDO GuARDA
Vão acabar comigo, meu São Jorge.
TERCEIRO . GUARDA
Cornão-bleu vou morrer *
* Cornebleu, palavra cunhada por Jarry partindo da exl?ressão ve!t-trebleu (ventredieu, ventre de deus). Come, c o ~ n e plzyszque, alusaoao "bastão de Física" do prof. Hébert; alude amda a Cordon Bleue a côrno. traído.
106
BUGRELAU
Pedra nêles, pessoal.
GmÃo
Ah, é assim!? (Desembainha a espada e avançaprovocando verdadeira ·carnificina.)
BUGRELAU
Deixem por minha conta. (A Girão. ) Defende-te,covarde!
(Lutam os dois.)
G rR Ã o
Vou morrer!
BUGRELAU
Vencemos, companheiros! Abaixo Mãe Ubu! Avante!
(Ouvem-se clarins.)
BUGRELAU
Estão chegando os nobres. Vamos, pessoal, agarremos essa maldita harpia!
(Mãe Ub"u escapa perseguida por todos os po -loneses. Tiros de fuzi l e chuva de pedras.) .
108
Cena III
O exército polonês em marcha na Ucrtlnia.
PAI UBuCornão-bleu, vôte, cabeça de vaca! A sêde e o cansaço vão nos matar. Senhor soldado, tenha a gen
tileza de segurar nosso capacete-de-finanças e, tuaí , senhor lanceiTo, cuida da tesoura-de,..cortar-orrelhas e do bastão-de-física, pra me dar um pouco
de folga. Repito que estamos muito cansados. (Ossoldados obedecem.)
PILA
Ei, Senhore! É supriendente que os russos nãoapaireçam .
Lamentável é que a situação financeira não nospermita possuir uma viatura digna de nós; commêdo de demolir nossa montaria, fizemos todo ocaminho a pé, puxando o cavalo pela brida. Masquando voltarmos à PolÇmia, inventaremos, graçasaos nossos conhecimentos de física. e às luzes de
nossos conselheiros, uma viatura movida a ventopara transportar todo o Exército.
COTICA
Nicolau Rensky acaba de chegar e parece aflito.
PAI UB U
Que é que tem êsse rapaz?
RENSKY
Está tudo perdido, Senhor, poloneses.se revolta-ram. Mataram Girão, e Mae Ubu fugiu para asmontanhas.
PAI UB U
Ave agoureira, coruja de polainas, donde" tirastantas asneiras? E ma:is essa agora! Quem fez tu-do isso? Aposto que fo i Bugrelau. Donde estásvindo?
110
RENSKY
De Varsóvia, senhor.
PAr U Bu
Rapazola de meTdra, se acredito no que dizes terei
de ordenar o retôrno de todo o Exército. Mas, se,..
nhor rapazola, como vejo que tens acima dos oro.,
bros mais plumas que miolos, creio qu e imaginastebobagens. Vai para a linha de frente, os russosestão perto e teremos de usar contra êles tôdas asnossas armas, tanto as de merdra, como as de fi-nanças e as de física.·
GENERAL LASCY
Pai Ubu, nã o estais vendo os russos na planície?
·PAI UBU
É verdade, os russos! Estou metido em boa. Se aomenos houvesse um jeito·de me arrancar, mas nãodá pé : e s ~ a m o s numa colina e ficaríamos expostosao fogo inimigo.
teira de descer daqui. Vou ficar no centro comol,lma cidadela viva e vocês à minha volta. Recomendo-lhes carregar os fuzis com o máximÓ debalas, pois oito balas podem matar oito russos e
s ~ : r ã o menos oito a me atacar. Mandaremos a in -fantaria lá .para baixo a fim de que recebam os
~ u s s o s e matem alguns dêles; a cavalá.ria ir á logoatrás para entrar na confusão e a artilharia ficará em tôrno do moinho aqui presente para atirarem cima. do bôlo. Quanto a nós, ficaremos dentrodo moinho .e atiraremos com a pistola-de-finanças
pela janela, colocaremos de través na porta o bas
tão-de-física, e se alguém tenta entrar, gancho-demerdra nêle!!!
OFICIAIS
Sr . Ubu, Vossas ordens serão executadas.
PAr UBu
ótimo. Tudo· corre bem, venceremos. Que horassão?
GENERAL LASCY
Onze horas da manhã:
112
•
IPAr U Bu
Vamos, então, almoçar porque os russos não ata
carão antes do meio-dia. General, diga aos soldados que façam suas necessidades e entoem a Canção das Finanças.
SOLDADO E P ALHADINOS
Viva Pai Ubu, nosso grande Financista! Ting, ting,ting; ting, t ing, ting; ting, ting, ting, tating !
Avance m os, to do vigor, pessoal , at ravessemos o fôsso. A vitória é noss a!
PAr UBu
A cha m esm o , general? Até o m om en to , sin to naf ron te mais "galos" que lauréis.
C A V A LEIR O S Ru ss os
Afaste·m -se !. Abram passagem para o Czar!
(Chega o Czar acompanhado de Bordadura,disfarçado .)
U M PO LON ÊS
Noss a mãe! Chegou o C zar, salve-se quem puder !
ÜUTR O POLONÊS
D eus do céu ! Êle transpôs o fôsso.
TER CEIRO POL ONÊS
Pif ! Paf! O velhaco do tenen te já desancou qua-tro.
BO RDADURA
Ah, ainda não ac abaram com vo cês? ! Pois to ma o
116
que m ereces , Jean Sobiesky. (Bordadura o abate.)A15ora, os ou tros! (Mata uma po rção de o n e s
PA I UBU
Avante , camaradas. Peguem êsse bil tre! Compo ta
de m oscovita s! A vi tór ia é nossa. Viva a águi a verm elh a! .
Too os
A vançar! Hurra! C aspité! Peguemos o safadão!
BO RDADUR A
Meu São Jorge, caí no chão.
PAr UBu
(Reconhecendo -o . ) Ah, és tu, Bordadura! Es tamosto do s fel izes de te rever, meu caro am ig o. Vou te cozinhar em fo go le nto . Senhore s das Fi nan ças,acendam o fo go! Oh! Ai! Ui! Estou morto. D evo te r recebido pelo menos um ti ro de canhão. Oh ;meu D eus, perdoai meus pecados. É, fo i mesmo um tir o de ca nhã o.
batido e anul ad o em nós os efeitos de nossa bra vura. Mas tivemos que, s u b i t ~ m e n t e , virar casaca, e .devemos nossa salvação à nossa habilidez decavaleiro assim como à solidez das pernas de nosso cavalo-de-finanças, cuja rapidez só se igualaàquela solidez e à su a já famosa ligerez assimcomo à profundez do fôsso qu e se abriu muitotês sob os passos do inimigo soez do aqui presente Mestre da s Finanças, como o veis. É, tudo issoé muito bonito 'mas ninguém me e s c u t a Vamos, aguerra continua!
(Os dragões russos dão uma carga e salvam oCzar.)
GENERAL LASCY
Desta vez é a debandada.
PA r UBu
Chegou a hora de baixar o cacête. Portanto, senhores poloneses, avançar, ou melhor, botar o ga lho dentro.
POLONESES
Salve-se quem puder!
PA r UBu
Vamos, em marcha! Que cambada, que fuga, qu e
120
multidão, como vou sair dêste lodaçal? (É empur-·rado.) Ah, mas és tu! Presta atenção se não queres experimentar o ardente valor do Mestre dasFinanças. Bem, foi-se embora, vamos nos arranca r daqui enquanto Lascy nã o está vendo: (Sai.Em seguida, vê-se passar o Czar com o exércitorusso perseguindo os poloneses.)
nanças, que se esforçou, largou a pele, se matou arecitar padres-nossos por vossa salvação, e com
tanta coragem empunhou a espada espiritual d é ~ -prece quanto vocês manejaram,o temporal sôco ex-
:1:28
I
plosivo do aqui presente Palhadino Cotica. Tã o
longe levamos nosso devotamento, que não hesi
tamos em subir numa pedra bem alta para qu e1nais depressa nossas preces chegassem ao céu.
PILA
Asno asqueroso!
PA r U Bu
Aqui está um enorme animal. Graças a mim vocêsterão o que comer. Que barriga tem o bicho, gente ! Os gregos aí teriam ficado be m mais à von ta,dedo que no ventre do cavalo de Tróia, e por pouco,caros amigos, íamos ter a oportunidade de veri
Até que enfim um re fúgio . Aqui es ta re i sõziril;la, oqu e não é ma u, mas que corrida desenfreada: atravessar tôda a Po lônia em qu atro d ia s! Tôdas asdesgraças caíra m sôb re inim de uma só vez. A ssimqu e aque la bê sta par tiu , fui à crip ta apa nh ax - o te sou ro . Logo ·depois, · Bu'grelau e seu grupo en fu rec ido quase me mat am a pedradas. P erco meu cavale iro, o Palh
adino G ir ão , qu e era tão fascinado por meus encantos qu e desmaiava só de me ver e, segu nd o alguns, me-smo sem me ver, o que é ocúm ulo da te rnura. Por minh a causa , seria capaz de se de ixa r cortax -- ao meio, o po bre rapaz. A pro-
137
va disso é que fo i cor tado em quatro por Bugrelau.
.Pi f paf pan! Puxa, pensei que ia m orrer! Em seguida , fugi perseguida pela multidão enfurecida.D eixo o palácio, chego ao Vístula, tôdas as po ntesvigiadas. Atravesso o rio a nado, na esperanç a de.fazer meus perseguidores desistirem. D i s s i m ~ lentre polo neses dispostos a aca ba r comigo , ~ s t i v emil vêzes a um passo da morte. Mas terminei es
capando-lhes à fúria, e depo is de quatro dias decaminhadas pela neve do que fôra meu re ino, co n
.s igo me esconder aqui . Não bebi nem com i na.da
.du rante t odos êsses dias. Bugrelau , no meu ra sto ,o te m po todo . . . E nf i m , es tou salva. Ai, estou quase morta de frio e de cansaço . Mas gostaria de.saber que fim levo u meu gordo polichinelo, is to é,
meu respeitável espôso. T om ei muito d inheiro dêle .
:Roube i - lhe rixdales. Enga ne i-o com mentiras. E
se u cavalo de finanças morreu de fome: não viacomida com muita freqüênc ia . A história de sem-'Pre! M as co itada de mim que perdi meu tesouro.Ficou em Varsóvia, e quem se arriscaria a ir buscá- lo?
PA I UB U
( Começando a acordar. ) .Agarrem a Mãe Ubu, cortem-lhe as orrelhas!
MÃE UBU
De us do céu! Onde estou? Enlouqueço. Ah, na o,S e nhor!
138
Senhor Pai Ubu que dorme perto de mim
PAr .UBu
Mui t o mal! Êsse danado dêsse urso não é molefC om bate dos v:Ç>rácios càm os cur iá cios, mas os vorácio s comera m e devoraram os curiácios co mo
, 'veras a o amanhecer. Entendestes , nobres palha-dinos?
Quem é que ê le está gozando ass im? Ficou maisi.diota do que era antes de partir . Q ue será qu e êletem?
PAr UB u
Cot ica, P ila , respondam, sacos de m erdra! Ond eestão vocês? Ai, tenho mêdo. Mas ouvi alguém fa la r aí . Que f o!? O u rso não pode se r. Merdra! MeusfósforoS, onde es tão? Ah, perdi-os na guerra.
MÃE UB U
(A parte.) A prove i temo s a situação e a noite, si mulemos uma aparição sobrenatural e façamoscom que êle nos perdoe os furtos.
Meu Santo Antônio, quem fa la aí ? C ruz cr edo! Vã ome enforcar!
MÃE U ~ u
(Eng rossa ndo a voz.) Sim, S r. Ubu, alguém realn : t ~ falando aqui, e a tr ombeta do ar canj oqu.e e rgue os mor tos da. cinza e do pó final nã o fS:laria · çie outra maneira! Escuta i esta voz grave.E a voz de São Gàbriel que só dá bons conse lh os .
PAr Usu:
Só fal tava essa!
MÃE UB U
Não me interromp ei, Pai Ub.u, ou eu me ca lo e será pior pa ra você !
PAr UBt r
.Ai, minha _ n ç a ! ·Não .digo mais uma palav a. Continue, senhora aparição!
MÃE Usu
Dizían.ws, ·.·Sr:-Ubü, . que ·ére is . um patet a. ta manh o fam íl ia ! , .. . : ·. ·. · • :···. :. · . ·· · · ·
140
PAI Usu
Muito família, não res ta dúvida.
MÃE UBu
Calai-v o s, por Deus!
PA I UBU
Uai, nu nca vi anj o se exalta r.
MÃE Usu
Merdra! (Con tinuando.) Sois casado, Sr. Ubu?
PA r UBu
Exato, com a últ im a das megeras.
MÃE UBU
Q uere is d izer com uma mulher encantadora
PAi. Usu
Um m onst ro . Tem esp orõ es pqr todp o cor po , não há por onde pegá -la .
que, na pior d as h ipó teses , e la é igual à Vênus d eCápua.
PAr UB u
Caspa? Quem tem caspa?
MÃE UBU
Não me escutastes be m, Sr . Ubu. Prestai melhor atenção. (A pm·te.) Tenh o de me apressar po is já
amanhece. (A lto.) Sr. Ubu, vos sa mulher é adorável e delic iosa , e la não tem ·um só defeito.
PAr UB u
Estais enganada, não há um só defei to que ela nãotenha.
:MÃE UBU
Silêncio ! V ossa mulher é fiel!
PAr UBu
Seria difícil aquela gralha me t ra ir . · Não ia achar com quem .
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MÃE UBU
Ela não bebe!
PAr UBu
Sim, depois que lhe tomei a · chave da adega. An-
tigamente, sete da manhã já estava bêbeda, recendendo a cachaça. Agora que se perfuma co mhel io t ropo , nã o cheira mal. Pra mi m ta nto faz.Quem se em bebeda agora sou eu .
MÃE UB u
Homem tolo! Vossa mulher não toca em vosso ouro.
PAr U Bu
Não me diga! Isso é piada!
MÃE UBu
Ela nã o desvia um único centavo!
PAr U Bu
Q ue si rva de testemunha meu nobre e desgraçado
cavalo-de-finanças que, ten do passado três meses
sem comer, teve de fazer tô da a campanha puxadopelas rédeas através da Ucrânia. Também f ize ram
Hon! turnamos a nos veire, senhoire das Finanças.Vamos, force a passagem, trate de chegar à portae, um a vez lá fora, só há uma coisa a fazer: darno pé.
PAr UsU
Nisso eu sou bom. Ai, êle bate com fôrça!
BUGRELAU
Meu Deus, estou ferido!
STANISLAU LE:CZINSKI
Não foi nada, senhor.
BUGRELAU
É, só fiquei um pouco tonto.
154
Ijl
I!
1
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Batam, batam pra valer, êles fogem pela porta, osmiseráveis.
COTICA
Estamos perto, siga os outros. Em conseqüência ·
do qu e, estou vendo o céu. -
PILA
· Coragem, Sr. Ubu!
PAI UBU
Sim já fiz na s calças. Vamos, cornopapança! Mat r e ~ ,sangrem,. esfolem, matem, côrno de Ubu! Asituação melhora!
Convés de um na vio navega ndo à bolina no Báltico.No convés , Pai Ubu e se u bando.
COMANDANTE
Sop ra ót imo vento.
PAI UBU
D'e fato, navegamos com prod igio sa rapidez. Devem os esta r fazendo no mínimo um milhão de nóspor hora, e êsses nós têm a vantagem de que, umavez feitos, não se desfazem m ais . Bem, é ve rda deque temos muito vento no traseiro .
PILA
É UII} pobre im be cil .
(Uma raj ada faz o nav io adernar.)
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U ai! Meu Deus! V am os afundar. ~ . l e está indo todotorto , va i v irar, o .ba rco va i v ir ar!
COMANDANTE
To .do mundo a so ta-vento, amarrem o m ezena!
PAI UBU
Essa não! N ão fiquem todos do mesmo lado ! É umaimprudência. E se o vento mudar de d ireção ? Iremos todos ao fundo e os peixes nos com em .
COMANDANTE
Devagar, amainar as vela s.
PA I UBU
Devagar, o quê! Nada disso! Tenho pressa, ouviu? A culpa é tua, cap itão de merdra, se não chegarmos, a cu lpa é tua. Já devíam os te r chegado, pô!Àssumo o com ando! Evit ar de virar, fé em Deus ee pé na tábua1 Ancorar, virar de vento em pôpa, virar .d e ven to -em proa! Icem as ve las , arreiem asvelas , leme a bar raven to, lem e a sota-vento, le m e
de18 .
do. .
. Estamos indo bem ? Nã o? Então, cortar a onda pelo m eio , e pron to , tudo es t ará perfeito.