Jardim perdido, a grande maravilha Pela qual eternamente em mim A tua face se ergue e brilha Foi esse teu poder de não ter fim, Nem tempo, nem lugar e não ter nome. Sophia de Mello Breyner Andresen Jardim Perdido Sempre me abandonaste à beira duma fome. As coisas nas tuas linhas oferecidas Sempre ao meu encontro vieram já perdidas. Em cada um dos teus gestos sonhava Um caminho de estranhas perspectivas, E cada flor no vento desdobrava Um tumulto de danças fugitivas. Os sons, os gestos, os motivos humanos Passaram em redor sem te tocar, E só os deuses vieram habitar No vazio infinito dos teus planos. 1944