Jacira & Ronaldo
IntroduoA presente monografia refere-se a um caso que sugere
reen-carnao. Trata-se dos resultados das investigaes realiza-das
pela equipe do Instituto Brasileiro de Pesquisas Biof-sicas - IBPP,
acerca das recordaes e do comportamento deuma garota nascida em
Penpolis, no dia 31 de outubro de1956.
Esclarecemos que os nomes verdadeiros das personagens, bemcomo
os dos locais onde os factos se passaram, foram neces-sariamente
mudados. O IBPP tem o mximo cuidado em mantersigilo a respeito da
identidade de seus pacientes, a fim deevitar que sejam molestados
por curiosos indesejveis.
O presente trabalho no novidade no concernente
pesquisacientfica. Atualmente tal categoria de investigao
estincorporada crescente rea da Parapsicologia. O maisproeminente
investigador de casos que sugerem reencarnao o Dr. Ian Stevenson,
professor de psiquiatria e neurologiana Escola de Medicina da
Universidade de Virgnia, U.S.A.Este professor j levantou quase dois
mil casos que sugeremreencarnao, tendo publicado extenso material
sobre oreferido assunto. Aos interessados, oferecemos
umabibliografia, logo a seguir.
O IBPP j possui em seus arquivos mais de cinquenta casosque
sugerem reencarnao. Alguns desses casos so fracos eapenas tm
significncia pelo fato de se classificaremdentro dos modelos
correntes j assinalados na pesquisa.Outros permitem estabelecer a
evidncia completa, como o deJacira e Ronaldo. Entretanto, o IBPP
conta com a boa vontadedos leitores, no sentido de lhe serem
comunicados mais casosdeste tipo.
A importncia da pesquisa da reencarnao no precisa serressaltada.
Ela inclui-se em uma investigao mais profundae ampla a respeita da
natureza - do homem , da sua origem edo seu destino final.
Provavelmente, conforme opinio deStevenson, "um caso perfeito de
reencarnao seria a provadecisiva a favor da sobrevivncia aps a
morte do corpofsico." S esta perspectiva j justifica
plenamentesemelhante busca.
So Paulo, 1976
H.G.A.
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O autor solicita aos senhores leitores a gentileza deremeterem
ao I.B.P.P. informaes acerca de casossemelhantes a este ou de
outros tipos, mas que sugeremreencarnao.
O I.B.P.P. garante absoluto sigilo a respeito das
pessoasenvolvidas nas ocorrncias, semelhana do que foi
feitorelativamente ao caso objecto desta monografia.
Endereo do I.B.P.P., para remessa de comunicaes:
INSTITUTO BRASILEIRO DE PESQUISAS PSICOBIOFSICAS - IBPP Rua Dr.
Diogo de Faria, 239 04037 ( Vila Clementino ) So Paulo - SP
BRASIL
Jacira & RonaldoPreliminares(parcial)Em 1971, na cidade de
Curitiba,Paran, fomos informadosacerca deste caso, pela Sra. Isaura
Leite do Canto. Elaforneceu-nos o endereo de seu irmo, o qual
conhecia afamlia da paciente, em Penpolis, no interior do Estado
deSo Paulo.Naquele mesmo ano, dia 26 de setembro,foi obtido
oprimeiro depoimento gravado do pai da paciente pelo
nossocorrespondente,Sr.Joaquim Norberto de Camargo, morador
nareferida localidade. O depoimento era animador. Devido a umasrie
de imprevistos passaram-se quase dois anos sem quepudssemos tratar
do presente caso.
Somente em 14 de fevereiro de 1973, conseguimos entrar emcontato
direto com o Sr.Antnio B.Munhoz, pai da paciente ,solicitando, por
carta, uma entrevista pessoal em data queseria por ele escolhida.
Fomos amavelmente atendidos.Entretanto, o Sr.Antnio B. Munhoz
declarou em sua resposta:-"A nica coisa que quero observar que a
Jacira no sabee eu prefiro que ela continue ignorando o facto."
(sic).
Pela observao do Sr.Munhoz,percebemos que a pacientetivera as
recordaes na primeira infncia, tendo-as esque-cido aps a puberdade.
Esse fato comum nos casos de lem-branas reencarnatrias surgidas
nesse perodo. Entretantono atinamos com o motivo do segredo mantido
pelos pais.Posteriormente ficamos sabendo que a personalidade
anteriorcometera suicdio.
[...]
Em 17 de agosto de 1973 fizemos a primeira visita pessoal famlia
de Jacira, em sua residncia. Naquela ocasioobtivemos amplas
informaes sobre o caso, e o segundodepoimento gravado. Aps ganhar a
confiana dos familiares,pudemos convencer os pais de Jacira de
permitir querevelssemos a ela o motivo da nossa visita. A
pacientemostrou-se agradavelmente surpresa ao certificar-se de
quesupnhamos ser ela prpria a reencarnao de seu falecidotio
Ronaldo. Disse-nos que, embora seus pais tivessemevitado at ento
revelar-lhe aquele segredo, ela recebiacom prazer a informao que
lhe transmitamos. Disps-secordialmente a colaborar conosco.
Todavia, cientificou-nosde que j no se recordava mais dos factos de
sua vidapassada, embora tivesse vago pressentimento de que
tiverauma outra encarnao relacionada com sua av, Da.Odila.
Jacira uma bonita adolescente de aspecto sadio eesportivo. bem
humorada, educada e comunicativa. Gosta devestir-se muito
simplesmente, preferindo camiseta e calacomprida. No usa e parece
no apreciar enfeites. Pelo quesoubemos no teve, at aquela ocasio
(17 anos), nenhumnamorado, aparentando certo desinteresse pelo sexo
oposto.Embora fisicamente feminina e bela, manifesta um modo de
sermenos feminil que o normal. No usa enfeitar-se e nem pareceser
vaidosa. Quando a reencontramos, em nossa segundavisita, dia 14 de
maio de 1974, ela nos contou que j tinhaum namorado. Mas no notamos
grande entusiasmo de sua parte,relativamente a esse facto.
A famlia de Jacira de padro mdio, do tipo tradicionaldo
interior, gente simples, educada e acolhedora. O ambientefamiliar
tranquilo e muito afetivo. Nota-se amorosacordialidade no
relacionamento entre todos os membros dafamlia. O pai, Sr.Antnio
B.Munhoz, nasceu em 1916.Mecnico especializado em aparelhos de
refrigerao, umhomem aparentemente calmo e carinhoso para com os
filhos. Ame da paciente, Da. Martha G.Munhoz, uma eficiente eafvel
dona de casa, normalmente rodeada pelos filhos enetos, aos quais
dedica todo o seu tempo. O casal realmente muito simptico. Talvez
por isso, alguns dosfilhos j adultos ainda moram com os pais ou
frequentammuito a sua casa. Ao todo, so seis os filhos do
casal.
A maior parte das informaes foram fornecidas pelos pais.Devido
ao cuidado que sempre tiveram em ocultar de sua filhaos
acontecimentos ligados personalidade anterior,obviamente evitaram
comentar, at mesmo com os demais filhose parentes, as perguntas e
as referncias concernentes aofalecido Ronaldo, que a paciente fazia
aos progenitoresquando era pequena ainda. Nos relatos de Da.
Martha, arespeito dos episdios relativos s recordaes de
Jacira,percebe-se o extremo cuidado da me em no estimular osdilogos
com a filha, desviando o assunto ou fazendo-se dedesentendida. Esse
facto provocava certa irritao emJacira, quando criana, a qual
insistia em ser esclarecidaacerca dos episdios relembrados e
relacionados com apersonalidade anterior.
Os parentes da Da.Martha so catlicos-romanos. Para eles
areencarnao no tem sentido. Este era mais um motivo paraque o
assunto ficasse restrito apenas aos pais da paciente.Quando, em 15
de maio de 1974, visitamos Da.Odila, av deJacira e residente na
cidade de Lins, notamos que elaignorava o fato. Da.Martha j nos
havia alertado a esserespeito tambm.
[...]
Uma observao interessante feita pelo Sr. Hlio Alves dizrespeito
ao comportamento da me de Jacira: -"A esposa doSr. Munhoz foi
sempre uma senhora muito reservada. Ela nuncaera expansiva em
contar as artes dos filhos, nem nada. Elaera uma pessoa muito
fechada." Talvez esse facto sejaexplicado pelo seu receio de que o
caso viesse a serdivulgado.
Solicitados a descrever o comportamento da paciente nainfncia, o
Sr.Hlio e sua esposa afirmaram que ela tinhaatitudes e modo de ser
que lembravam antes um menino do queuma menina. -"Tipo garoto",
mais disposta, modo de cortaro cabelo curtinho. Ela vivia correndo
pelos quintais,terrenos baldios, subindo em rvores, pulando muros;
enfim,brincadeiras mais violentas do que as de uma
menina...Entretanto era uma criana muito carinhosa e muito meiga"
,comentaram eles. O Sr. Hlio e sua esposa declararam, ainda,que
Jacira fora estrbica quando pequena. Esse defeitocorrigiu-se
espontaneamente. Ronaldo fora estrbico tambm,informaram eles.Jacira
& RonaldoFactos Relevantes Que Antecederamo Nascimento de
Jacira(parcial)No dia 15 de janeiro de 1951, faleceu na cidade de
Lins,Estado de So Paulo, Brasil, com a idade de 28 anos, o
jovemRONALDO GOMES BARROSO. A "causa mortis" foi suicdio
porenvenenamento com "formicida" dissolvido em guaran.
Ronaldo era filho do Sr.Joo Gomes Barroso e de
Da.OdilaA.Barroso. Ele tinha nove irmos. Um deles era seu irmogmeo,
e tinha o nome de Romildo.
A irm mais velha de Ronaldo chama-se Martha G.Munhoz. Ela casada
com o Sr. Antnio B.Munhoz. Da.Martha fora a pajemdos seus irmos
mais novos, dentre os quais distinguia oRonaldo, com especial
afeio.
Ronaldo no revelou a ningum os motivos de seu acto dedesespero.
Ele estava noivo de uma moa, Alice (atualmentecasada). Mas, ao que
parece, no havia nenhuma divergnciaentre eles que pudesse ter dado
motivo ao suicdio. Ronaldotinha uma sobrinha de criao, filha
adotiva de Da.Martha,cujo nome Juraci e qual votava muita afeio.
Juraci foia nica pessoa a quem ele confessou sua inteno
desuicidar-se. Dois dias antes, dissera sua sobrinha:- "Juraci, eu
vou me matar. Mas voc no dever contar issoa ningum. Se o fizer eu
ficarei de mal com voc."
Da.Martha morava em Penpolis, cidade prxima de Lins.Ronaldo
achava-se em visita irm. Ele se despediu na noitede uma
sexta-feira, dia 13 de janeiro de 1951, dizendo queiria para Lins.
Na realidade ele seguiu para essa cidadesomente no domingo, dia 15,
noite. Chegou em Lins s 21horas mais ou menos. Tomou um banho e foi
encontrar-se comseus amigos. Mais tarde regressou para casa.
Recolheu-se aoleito e, aps ter-se levantado e dirigido ao banheiro
ondepreparou o veneno, entrou no seu quarto e da a instantesgritou
por socorro, depois de haver ingerido o formicida.Manifestando
contores e nsias dolorosas, expirouassistido pela me e alguns
parentes .
[...]
Aps o parto, todos os sintomas mrbidos, o gosto e cheirode
formicida, a irritao da boca e do tubo digestivo, asensao de
queimao provocada pelos alimentos, os vmitosftidos que ocorriam
frequentemente noite, os desmaios,tudo desapareceu como que por
encanto.
Jacira nasceu pesando cinco quilos. Era uma menina sadia esem
defeito algum.
Jacira & RonaldoA Infncia de Jacira(Parcial)A primeira
infncia de Jacira decorreu sem incidentes.Notou-se apenas que ela
apresentava estrabismo em ambas asvistas, defeito este que se
corrigiu naturalmente aps umano de idade. relevante relembrar que
Ronaldo sofria deestrabismo duplo tambm.
Ela revelou-se uma garota precoce. Aos nove meses aprendeu
aandar. Aos dez meses j pronunciava algumas frases. Aos onzemeses
comeou a fazer as primeiras referncias suaencarnao anterior,
inquirindo a me acerca da dualidade doseu relacionamento
familiar.
Nessas ocasies mostrava estranheza quanto ao seu novoparentesco
com os tios, que foram irmos de Ronaldo, e com aprpria av e
Da.Martha: - "Voc era minha irm. Como queagora minha me ? E aquela
minha outra me que mora emLins ? Como ela minha av agora, se ela
era minha meantes ?", inquiria ela.
As referncias da paciente a fatos de sua vida anteriorcomearam a
ter maior frequncia aps os 18 meses de idade,crescendo de
intensidade at os quatro anos, mais ou menos.Posteriormente, ao
atingir a puberdade, a memria dos factosextinguiu-se totalmente,
restando apenas certos reflexos ecaractersticas de
comportamento.
Seus pais sempre cuidaram para que o caso no transpirasse,pois
temiam que Jacira se conscientizasse da sua condio eviesse a
reincidir na mesma falta da personalidade anterior.E conforme Da.
Martha mesmo explicou, Jacira preferiaesclarecer suas dvidas com os
pais: - "Ela gostava deconversar apenas entre ns. s vezes ela
falava assim:
-"Martha, voc no se lembra, voc no pode lembrar. Vocnem sabe
onde ns morvamos, s a mame que sabe."
Referia-se Da.Odila (a av) como sendo sua verdadeira mee
mostrava, por essas palavras, o seu desapontamento quandoDa.Martha
fingia estar esquecida dos episdios ocorridos nachcara em So
Bernardo do Campo, onde moraram inicialmente.Esta preferncia em
procurar seus pais para esclarecer suasdvidas era perfeitamente
natural. E isso facilitava, atcerto ponto, a manuteno do sigilo.
Mas, assim mesmo,Da.Martha angustiava-se com a possibilidade de
asrecordaes de Jacira se avultarem e, mais tarde, ela vir acometer
o suicdio[...]
fcil compreender o drama da me da paciente e o seuconsequente
comportamento diante dessa situao. O Sr.Munhozdeclarou-nos, em 17
de agosto de 1973, quando da nossaprimeira visita: - "s vezes eu
chegava do servio eencontrava minha esposa desesperada, chorando, e
a causa eraa conversa havida entre ela e Jacira, que comeava
arecordar-se dos fatos anteriores em que ela dizia ter moradoem
cidade grande, em So Bernardo do Campo, numa chcara eque se
lembrava da casa e da cor da casa... Lembrava-se dacasa, do local,
do aude onde pescavam e lavavam roupa.Tinha todas as recordaes e
comeava a fazer perguntas paraa me sobre essas coisas... e a me
comeava a chorar, poisficava nervosa, pensando que ela poderia vir
a morrer maistarde ou suicidar-se como havia se suicidado o
Ronaldo."
As descries de Jacira, concernentes ao local em que apersonagem
anterior vivera, eram muito precisas, incluindo aforma e as divises
da casa, o caminho em declive queconduzia ao aude e outros
detalhes.
Alm dos acidentes da paisagem onde Ronaldo passara suameninice,
Jacira recordava-se das ocorrncias que deviamter-se marcado mais na
lembrana da personalidade anterior.Um dos episdios que ela mais
evocava inclua uma vaca decujo nome ela se lembrava perfeitamente.
Era a vaca"Morena", que certa vez escapou do curral e investiu
contraRonaldo e seus irmos, pondo-os em pnico. Salvaram-segraas
interveno do irmo mais velho de Da.Martha, oJoo, o qual conseguiu
empurr-los para dentro de casa,evitando um desastre srio. O susto
deve ter-se gravadoprofundamente na memria do Ronaldo, pois Jacira
repetidasvezes mencionou o incidente Da.Martha e ao Sr. Munhoz.
No sentido de tornar mais objetivo o presente
relatrio,organizamos uma Tabela das Recordaes da Paciente ,
ondeprocuramos grupar por categorias as principais
lembranasmanifestadas por Jacira, durante o perodo de sua
infncia.Jacira & RonaldoTabela das Recordaes da
Paciente(Parcial)
1 - Desde pequena, manifestava averso a lquidos de colo- rao
vermelha. Relacionava com o veneno a cor verme- lha de um lquido
qualquer.
OBSERVAES:
Da.Martha declarou que Jacira, desde que comeou a falar, ao ver
um lquido vermelho dizia:
-"Pe isso para l que eu no quero tomar este veneno"
Quando Da.Martha fazia groselha, ela dizia:
-"Vocs podem morrer; eu no quero morrer."
Se a obrigassem a tomar o refresco, ela imediatamente vomitava o
lquido ingerido . Jacira declarou pessoal- mente a ns, em
14/5/1974, que ainda sente forte aver- so pela cor vermelha em
objectos ou vesturios.
Na entrevista pessoal que tivemos com o Sr.Munhoz, em Penpolis,
dia 14/5/1974, este contou-nos que verifi- cou pessoalmente que a
cor da mistura ingerida pelo Ronaldo era vermelha:
- "Debaixo da cama estava a garrafa de guaran, tirado s um
pouquinho numa xcara de ch, e tinha um resto l completamente
vermelho da mistura do formicida com o guaran", esclareceu o Sr.
Munhoz
2 - Desde a idade de um ano, Jacira evitava ver a fotogra- fia
da personalidade anterior.
OBSERVAES:
Da.Martha declarou:
- "Ela no queria ver a fotografia do Ronaldo. E quando ns a
mostravamos, ela dizia:" -"Tire isso para l, leva isso para l!"
Actualmente no manifesta mais esta averso.
3 - Quando ainda pequena, Jacira mostrava desagrado ao ver o
carto de lembrana da "missa do 7 dia", referente morte de Ronaldo.
Costumava rasgar os que cassem em suas mos.
OBSERVAES:
Da. Marta referindo-se a este episdio esclareceu: -"Era aquela
lembrana que a gente faz da missa do 7 dia e que tinha fotografia
dele(do Ronaldo). Os que ela pegou, ela rasgou. Ela dizia:" -"Pr'a
que!? Eu no morri! Por que est isto aqui?" -"Quando ela via, pois
tinha a fotografia dele, ela rasgava e jogava fora. Era bem
pequena."
4 - Referia-se a traquinagens da personalidade anterior,
particularizando os cuidados da Da.Marta para que ela no corresse e
viesse a cair em um rio que passava pelo stio onde viveram seus
pais e irmos.
OBSERVAES:
Da.Martha fora pajem do Ronaldo e cuidava para que ele no caisse
no rio que existe no local onde moraram anteriormente. Jacira
referia-se a esse lugar dizendo:
-"Me, a senhora lembra daquele dia em que eu corria e a senhora
gritava que eu ia cair no rio? Sempre quando a senhora nos mandava
parar e eu no parava? Mas nunca ca no rio!"
De outra feita, referindo-se a esse episdio ela acres-
centou:
-"Antes eu tivesse morrido l; assim eu no teria tomado
veneno..."
5 - Quando ainda tinha um ano e meio de idade, lembrava-se de
que em certa ocasio uma vaca chamada "Morena" investiu contra as
crianas, o que obrigou um dos irmos, o Joo, a acudi-los,
atirando-os apressadamente para dentro de casa.
OBSERVAES:
Uma vez ela disse:
- "Me, a senhora lembra daquela vez que a vaca quis pegar-nos e
o Joo correu, nos agarrou e nos jogou para dentro?"
Lembrava-se da histria da vaca, quando j tinha um ano e meio de
idade. Estava sentado perto de Da.Martha e disse:
- "Ah! me, a senhora lembra daquele dia em que ns estvamos
sentados na grama e a vaca escapou?"
Da.Martha perguntou:
- "Que vaca?"
Ela respondeu:
- "A vaca Morena."
Da.Martha perguntou-lhe como ela se lembrava disso, ao que
Jacira respondeu:
- "No se lembra que o Joo nos pegou e jogou dentro da sala e a
senhora chorava?"
Ento Da.Martha disse que se recordava, ao que Jacira
replicou:
- "Ento como a senhora fala que no se lembra? Eu estava l!"
Este episdio foi recordado pela paciente, quando tinha apenas um
ano e meio de idade!
6 - Devido talvez ao incidente com a vaca "Morena", Jacira tem,
at hoje, um medo incoercvel de vacas.
OBSERVAES:
Jacira contou-nos pessoalmente o seguinte, durante a entrevista
do dia 14/5/1974 [ 17 anos de idade nota ed. ]
- "Eu fui a uma fazenda com o meu irmo, perto da cida- de de
Piraju. Ns queriamos ir at o rio, mas havia algumas vacas a uma
distncia aproximadamente de 3 (trs) Km. Mas a meio do caminho
tivemos de voltar, porque eu no conseguia prosseguir de jeito
nenhum, nem com meu irmo me amparando no dava!"
Embora as recordaes vivas da vida anterior tenham se apagado de
sua memria consciente, restou esse reflexo em forma de medo
incoercvel.
7 - Lembrava-se dos sustos que pregava em sua irm Laurinda, no
stio em que viviam em So Bernardo do Campo, a quem Ronaldo
apavorava, dizendo que o "esprito" da vaca "Morena" iria
peg-la.
OBSERVAES:
Na chcara em que viveram em So Bernardo do Campo, havia uma das
irms do Ronaldo, de nome Laurinda. Naquela ocasio a vaca de
estimao, "Morena", havia morrido. Laurinda costumava ir ao aude
para lavar o coador de caf. Ronaldo, ento gostava de pregar peas em
Laurinda, apavorando-a. Dizia:
- "Olha a vaca, Laurinda!"
A menina corria de medo do "esprito" da vaca. Jacira, quando
ainda pequena, recordando-se desse episdio, disse Da.Martha:
- "Lembra-se, mame, quando eu falava assim: Olha a vaca,
Laurinda!"
Ao que Da.Martha perguntou:
- "Que vaca?"
E Jacira respondeu:
- "A vaca "Morena", n? A senhora no se lembra? L na chcara!"
A nica coisa que ela tinha mais gravada era esta histria da vaca
- informou Da.Martha:
-"s vezes eu estava triste e ela dizia:" -"Me, lembra-se de
quando a Laurinda tinha medo da vaca? a vaca havia morrido e ela
tinha medo da vaca!"
8 - Quando tinha dois anos e meio de idade recordava-se de
quando o seu tio Joo (irmo mais velho do Ronaldo) caiu dentro do
aude.
OBSERVAES:
Certa ocasio ao chegar em casa, de seu trabalho, o Sr. Munhoz
surpreendeu-a dizendo para a me:
- "A senhora se lembra quando o tio Joo caiu dentro do aude,
molhou-se todo e deu trabalho para tir-lo?"
Nessa ocasio ela estava com dois anos e meio de idade.
9 - Entre dois e sete anos, costumava brincar com o Sr.Munhoz,
de maneira um tanto estranha, dando a impresso de que era a
personalidade do Ronaldo que se extravasava atravs de suas palavras
e atitudes.
OBSERVAES:
Ronaldo sempre fora brincalho e tinha muita liberdade com o
Sr.Munhoz, ento seu cunhado. Aos 2 anos Jacira tinha um
comportamento semelhante. Quando o Sr. Munhoz, por qualquer razo,
mostrava-se aborrecido, ela acerca- va-se dele e dava-lhe leves
pancadinhas em sua perna e dizia:
- "No adianta, velho... Voc tem que me aguentar. Voc quis, voc
aceitou, agora aguenta."
Quando mais velha, ao ir escola pedia dinheiro. O Sr. Munhoz
ento brincava com ela dizendo:
- "Mas voc est ficando cara, heim?"
Ento ela respondia:
- "No tem nada de cara. Quem pe a cruz nas costas carrega-a at
ao fim."
Esse seu comportamento durou at os sete anos, mais ou menos.
10 - Aos trs ou quatro anos, lembrando-se do seu suicdio, ps-se
a chorar muito. Referiu-se ento ao facto de haver contado antes
Juraci (irm de criao da paci- ente) sua inteno de pr fim vida.
Depois explicou, Da.Martha, que havia bebido "daquela gua vermelha"
(veneno diludo em guaran).
OBSERVAES:
Com trs ou quatro anos, um dia ela estava sentada e comeou a
chorar. Ela chorava muito. Da.Martha pergun- tou-lhe o porqu do
choro. Ento Jacira explicou:
- "Sabe do que estou me lembrando? Por que eu fui fazer o que
fiz? Eu contei Juraci e disse que se ela con- tasse eu ficaria de
mal com ela. Se eu tivesse conver- sado com o pai, no teria feito o
que fiz!"
Da.Martha perguntou-lhe o que ela havia feito. Ela
respondeu:
- "Eu bebi daquela gua vermelha."
11 - Mostrava arrependimento de no haver revelado Da. Martha
(ento sua irm) a inteno de cometer o suicdio.
OBSERVAES:
Da.Martha relatou-nos o seguinte episdio:
-"Um dia eu fiz refresco, e era vermelho. Ela comeou a chorar.
Mas chorava mesmo! Eu perguntei por que ela estava chorando e ela
disse:" -"A senhora pensa que eu sou boba? Eu no quero morrer
mais!" -"Eu perguntei: morrer mais como? Ela respondeu:" -"Isto a
veneno; no beba!"
Logo mais, abraando a me, disse:
-"O que eu mais me arrependo de no ter contado para a senhora o
que eu ia fazer, o que eu ia beber. Eu contei para a Juraci, mas
para a senhora no tive coragem de contar que eu ia me
suicidar."
Quando o Sr.Munhoz chegou em casa, encontrou-a ainda muito
emocionada. Da.Martha revelou-lhe a causa. Ento o Sr.Munhoz
aconselhou a esposa a disfarar o incidente, mas demorou bastante
tempo para a Jacira acalmar-se.
12 - Mostra ntida repulsa e preocupao pelo suicdio. Nor-
malmente procura revelar a culpabilidade dos suicidas, como se
estivesse tentando justificar um acto praticado em um momento de
insensatez.
OBSERVAES:
Da.Martha, ao ser inquirida a respeito da atitude de Jacira com
relao ao suicdio, respondeu:
-"Tem repulsa e no quer ouvir falar de pessoas que se
suicidaram. Quando se fala nisso e fica-se cogitando do motivo, ela
diz:" -"Vai ver que foi sem querer, foi obrigada a fazer!" -"Sempre
justifica. s vezes, quando conversando sobre isso, algum diz que a
pessoa no devia ter-se suici- dado, ela argumenta:" -"Ela fez sem
saber o que estava fazendo."
[...]
15 - Quando era criana (6 anos) Jacira referia-se a um episdio:
Ronaldo havia ido pescar em companhia de Margarida e caiu ao correr
atrs de um tatu, fazendo-a rir muito.
OBSERVAES:
Relatando esse episdio, Da.Martha disse que o Ronaldo correra
atrs de um tatu e cara, machucando-se. Nessa poca ele j era moo.
Jacira perguntou Da.Martha se ela se lembrava desse facto,
dizendo:
-"A senhora se lembra daquele dia em que eu corri atrs do tatu e
a tia Margarida at sentou para rir?"
Da.Martha perguntou-lhe:
-"Voc ento se lembra da tia Margarida?"
Ao que ela respondeu:
-"Sim, eu me lembro."
E descreveu-a correctamente. Jacira referia-se a ela como tia
Margarida, tal qual o Ronaldo o fazia. Margarida morreu no dia 9 de
outubro de 1956 e Jacira nasceu no dia 31 do mesmo ms; 22 (vinte e
dois) dias depois.
16 - Do episdio da queda do Ronaldo ao tentar apanhar a tatu,
Jacira recordava-se de que Da.Martha quem lavou sua camisa que se
sujara na ocasio.
OBSERVAES:
Em uma outra ocasio e referindo-se ao incidente do seu tombo,
Jacira disse Da.Martha, num momento em que estava fazendo
"crochet":
-"Bem feito, n me?"
Surpreendida, Da.Martha perguntou a que se referia. Ela ento,
explicou:
-"Aquele dia em que eu ca l e sujei toda a minha camisa branca.
O azar foi seu, n? Porque ns chegamos em casa e voc teve que lavar
e passar."
Da.Martha, fazendo-se de desentendida perguntou quem lhe havia
contado aquilo. Ela retrucou:
-"A senhora no se lembra? Eu me lembro."
17 - Lembrava-se do Sr.Joo Gomes Barroso, pai do Ronaldo e av da
paciente.
OBSERVAES:
o Sr.Barroso faleceu no dia 17 de setembro de 1932, quando o
Ronaldo tinha 9 (nove) anos de idade. Dirigindo-se me, Jacira
dizia:
-"Lembra-se de como o papai ficava bravo, no querendo que ns
fssemos para o lado do rio?"
E quando Da.Martha lhe perguntava como era o av, ela o descrevia
correctamente, dizendo que ele era "igualzi- nho ao tio Joo" (irmo
de Da.Martha, o qual se asseme- lha muito ao seu falecido pai).
Quando o Sr. Barroso morreu, a me de Jacira tinha 14 anos de
idade.
18 - Referindo-se Da.Odila (av da paciente), dizia que ela era
tambm sua me.
OBSERVAES:
Quando Da.Martha anunciava Jacira que iriam a Lins, onde reside
Da.Odila, ela exclamava:
-"Oba! hoje eu vou ver a outra me!"
Quando pequena, dizia tambm:
-"Olha vav, eu tenho duas mes: a senhora e a mame."
Inquirida pessoalmente por ns sobre este particular, Jacira
afirmou:
-"Vejo minha av como se fosse minha prpria me. Eu no a sinto
como minha av."
19 - Lembrava-se de ter sido do sexo masculino, ligando a
personalidade anterior ao episdio do suicdio.
OBSERVAES:
Jacira dizia:
-"Ainda bem que eu nasci mulher."
Ao ser inquirida porque achava mais vantajoso ter nascido
mulher, respondeu:
-"Para fazer o que eu fiz? No queria ser homem no. Eu no quero
fazer mais o que foi feito. Sendo mulher a gente aguenta mais; no
mame?"
Da.Martha esclareceu que ela falava que tinha sido homem:
-"Eu fui homem; s que fui um homem covarde."
20 - Mostrava, entretanto, preferncia pelas calas compri- das e,
para justificar seu gosto, dizia que seria melhor ter voltado como
homem. Sua atitude nessas ocasies era contraditria com a assinalada
no item 19.
OBSERVAES:
Quando pequena, Jacira gostava muito de usar cala comprida.
Da.Martha advertia-a:
-"Voc tem que pr vestido, Jacira!"
E ela exclamava:
-"Ah... por que eu no voltei homem outra vez?... Eu no era
homem? A gente devia ser o que a gente foi; a mesma coisa."
21 - Manifestava, quando pequena, momentos de forte identi-
ficao com a personalidade anterior, chegando a reclamar por que no
tinha o mesmo nome que Ronaldo.
OBSERVAES:
Jacira, quando pequena, reclamava por no lhe terem posto o nome
de Ronaldo. Por isso os parentes caoavam com ela, levando-a a
justificar-se assim:
-"Gozado... Ronaldo e Jacira tem tanta diferena assim?"
Por que ? Perguntava-lhe Da.Martha. E ela respondia:
-"V! Se fosse Ronaldo no era a mesma coisa?"
Da.Martha explicava-lhe que Ronaldo era nome masculino e Jacira
era nome feminino. Ento ela retrucava:
-", mas eu podia ter continuado com o mesmo nome."
Sua me insistia que no, pois ela era mulher, ao que Jacira
replicava:
-"Ento por que no me pe outro nome combinado com o meu ?"
(referia-se a Ronaldo).
Dava a impresso de que ela tinha preferncia pelo nome da
personalidade anterior, o qual considerava como sendo o seu
verdadeiro nome.
22 - Quando o Romildo (irmo gmeo do Ronaldo) faleceu, em 1970,
Jacira deu mostras de ter, ainda, sentimentos ligados sua encarnao
anterior.
OBSERVAES:
[Jacira com 14 anos, j sem as memrias directas] [declaraes
prestadas 4 anos depois nota ed.]
Jacira sempre manifestava forte apego ao Romildo, irmo gmeo do
Ronaldo. De todos os irmos de Da.Martha era aquele com o qual
Jacira mais tinha afinidade. Ao receber a notcia de sua morte,
Jacira abraou-se me e disse:
- "Me, ele cumpriu a misso dele, foi mais feliz do que eu que no
cumpri a minha misso."
Referindo-se morte de Romildo, Jacira afirmou:
-"Senti algo muito diferente, que nunca havia sentido em minha
vida. Foi como ter tirado uma parte de mim."
(Declarao aos 18 anos de idade, feita a ns).
23 - Quando pequena, Jacira referia-se Alice, a qual fora noiva
do Ronaldo. Ela mostrava grande predileo por aquele nome. Dizia que
a Alice no se esquecia dela, perguntando se ela ter-se-ia
casado.
OBSERVAES:
Quando era pequena, Jacira perguntou:
-"Ser que a Alice se casou?"
Da.Martha disse-lhe:
-"Quem Alice?"
Ela replicou:
-"Ah! at parece que a senhora no sabe..."
Ela se mostrava zangada quando Da.Martha fingia desco- nhecer
tais factos. Em seguida acrescentou:
-"Mas ela no se esqueceu de mim, no."
A afirmao de Jacira, de que Alice no a teria esque- cido,
provavelmente se prende ao facto de Ronaldo ter ouvido da noiva tal
jura de amor. De facto, certa ocasio, o irmo gmeo de Ronaldo, o
Romildo, encontrou Alice em So Paulo. Ela j se havia casado e era
mo de filhos. Chorou ao ver o Romildo e disse-lhe que s se
esqueceria do Ronaldo, depois de morta.
Em 14/5/1974, quando da nossa 2.a visita a Penpolis, inquirimos
Jacira, pessoalmente, acerca do nome "Alice". Ela afirmou que
gostava muito desse nome. Por que? Perguntamos; ao que ela
respondeu:
[portanto Jacira com 18 anos, sem memrias directas nota ed.]
- "No sei. Acho legal o nome. Tambm tem hora em que sinto uma
diferena pelo nome. Um coisa passageira."
24 - Quando tinha cerca de trs a quatro anos de idade, Jacira
chorou ao saber que a ex-noiva do Ronaldo iria casar-se.
OBSERVAES:
Da.Martha relatou este episdio a ns, em 14/5/1974, da seguinte
forma:
-"Ela estava assistindo a conversa. Minha me contou-me que a
Alice ia casar-se. Eu perguntei se o moo era de Lins, e minha me
disse que no, que era de So Paulo. Ela (Jacira) estava tomando
leite e nem acabou. Deitou na cama e comeou a chorar. Minha me
perguntou por que ela estava chorando e eu disse que no sabia. A
perguntei a ela se estava sentindo alguma dor, mas ela no quis
falar. Quando minha me foi embora, eu pergun- tei por que ela
chorara. Ela disse:" -"Mas ela no tinha nada que casar!" -"Eu
perguntei quem no tinha que casar, e ela respondeu:" - "A Alice;
ela tinha que me esperar!" -"Eu perguntei por que esperar por ela,
e ela retrucou: -"V! Ns no eramos noivos? Ela tinha que me
esperar!" -"Ento eu fiquei quieta e, quando o pai dela (Sr.Munhoz)
chegou, ela correu e contou-lhe o caso, chorando."
Este episdio muito importante, pois mostra de maneira flagrante
a identificao de Jacira com a personalidade anterior, o
Ronaldo.
25 - Jacira, quando criana, mencionava inmeras passagens
referentes chcara do av, em So Bernardo do Campo, descrevendo
detalhes dessa propriedade.
OBSERVAES:
Jacira jamais esteve em So Bernardo do Campo e nunca visitou a
antiga propriedade do av. Essa propriedade fora vendida ao
Cel.Rufino, um primo do Sr. Barroso (av). Entretanto, Jacira
recordava-se de factos passados h mais de trinta anos antes, quando
o sogro do Sr. Munhoz era fazendeiro em So Bernardo do Campo -
Est.de So Paulo - e ali possua uma casa branca de alvenaria, bem
como um aude onde se criavam peixes. Quando Jacira se acomodava
junto Da.Martha, em um sof, costumava referir-se quela chcara,
descrevendo com mincias precisas a respectiva casa, mencionando sua
cor, assim como o nmero e detalhes dos cmodos da mesma. Referia-se
ao aude onde pescava em companhia das demais pessoas da famlia.
Mencionava, tambm, o pomar e o local em que brincava com outras
crianas. Ao falar desses acontecimentos, inquiria a me dizendo:
- "Como que naquele tempo ns brincvamos juntos e, hoje, a
senhora minha me?"
As recordaes acerca da chcara do av (pai de Ronaldo) surgiram
quando Jacira tinha cerca de um ano de idade. Foi com um ano de
idade que comeou a referir-se quele lugar.
[...]
27 - Quando era pequena, Jacira considerava Da.Martha como sendo
sua irm e no como me.
OBSERVAES:
Da.Martha informou que Jacira,quando pequenina, falava: -"Voc
minha irm! Voc no minha me!"
(Empregava o tratamento "Voc"). Quando Da. Martha esclarecia que
era sua me, ela respondia:
-"Que me nada! Voc minha irm! Voc quer mandar em mim?"
Jacira & RonaldoAnlise dos Dados ObservadosANLISE DE
ASPECTOS RELEVANTES OBSERVADOS NAS RECORDAESE NO COMPORTAMENTO DE
JACIRA.[ contedo integral e idntico a nvel 3 ]No caso de Jacira, a
sua identificao com a personalidadeanterior um dos aspectos mais
notveis. Essa identificaoacentua-se principalmente no perodo de
afloramento dasrecordaes. Para melhor anlise dessa
particularidade,vamos tabular apenas os tens que consideramos
maismarcantes.
1 - Durante sua infncia, Jacira referia personalidade anterior,
empregando o pronome na primeira pessoa do singular ou do
plural.
COMENTRIOS:
Quando Jacira insistia com sua me para recordar-se de certos
episdios passados com Da.Martha e seus irmos na chcara do av,
empregava a primeira pessoa:
- "Me, a senhora lembra daquele dia em que eu corria e a senhora
gritava que eu ia cair no rio?" (sic) - "Me, a senhora lembra
daquela vez que a vaca quis pegar-nos e o Joo correu, agarrou-nos e
nos jogou para dentro" (sic)
Inquirida a respeito dessa particularidade, Da.Martha afirmou
que Jacira nunca dizia ele, mas sim ns. Dizia:
Lembra, me, quando em tal lugar ns fazamos isso? Citava os nomes
dos ns como se fossem seus irmos e e falava: ns brincvamos no
parque; ns subamos naquela rvore; ns amos no aude... Era ns. Ela
nunca falava ele; dizia ns.
2 - Jacira manifestava, e ainda manifesta, forte averso por
bebidas de cor vermelha ou semelhante. Se for obri- gada a ingerir
lquidos de cor vermelha, vomita logo a seguir. Este reflexo
mantem-se at hoje.
Tabela das Recordaes da Paciente: [1] [11]
COMENTRIOS:
Pensamos que a paciente conservou o reflexo, sob a forma de
nusea, que a personalidade anterior teria adquirido ao ingerir a
mistura venenosa cuja cor era vermelha.
Sua averso limita-se exclusivamente aos lquidos. Quanto aos
demais objectos vermelhos, no manifesta repulsa. Ela chega a
mostrar preferncia por esta cor nos trajes.
A repugnncia pelos lquidos vermelhos relacionada com a ideia de
veneno. Quando menor, mostrava seu horror s bebidas vermelhas
dizendo:
-"Pe isso para l, que eu no quero tomar este veneno." (sic).
Da.Martha no manifesta semelhante averso s bebidas de cor
vermelha. Nenhum parente de Jacira possui este reflexo. Em suas
entrevistas gravadas, Da.Martha reve- lou que usa regularmente a
groselha como refrigerante em sua casa, Entretanto Jacira, at hoje,
nega-se a beber desse refresco.
relevante assinalar que Da.Martha no assistiu morte do Ronaldo.
Na ocasio ela se achava na cidade de Penpolis.
3 - Jacira manifestava cimes de Alice, que fora noiva de
Ronaldo.At hoje mostra preferncia pelo nome de Alice.
Tabela das Recordaes da Paciente: [23] [24]
COMENTRIOS:
Jacira nunca teve contacto com Alice. Esta moa inici- almente
morou em Lins e, mais tarde, mudou-se para So Paulo, onde se casou
e fixou residncia.
Alm de sua noiva, Ronaldo teve uma amante cujo nome tambm era
Alice. Quando ele ficou noivo e estava pres- tes a casar-se, houve
um rompimento entre Ronaldo e a Alice II (a amante). Pelo que se
deduz, ele amava real- mente a Alice I (a noiva). Jacira nunca se
referiu Alice II. Seus cuidados dirigiam-se exclusivamente noiva da
personalidade anterior.
Em nossa entrevista, dia 14 de maio de 1974, inquirimos Jacira
acerca do nome feminino de sua preferncia: [Jacira com 18 anos de
idade sem memrias directas nota ed.]
P.-"Voc tem preferncia por algum nome feminino?" J.-"Tenho. Eu
gosto muito do nome daquela noiva do meu tio: Alice. Acho que s. No
tenho preferncia por mais nenhum" (sic).
Nesta resposta nota-se que Jacira no empregou mais o possessivo
minha noiva . Usou a expresso noiva do meu tio. Deve observar-se
que, aos 18 anos de idade, a paciente j tinha sido informada acerca
da sua condi- o. Sua forma de responder foi, portanto, congruente.
A preferncia pelo nome Alice identifica-a com a per- sonalidade
anterior porquanto permaneceu em forma de sentimento. Aos 18 anos
de idade as recordaes dos factos pretritos j se haviam apagado da
memria de Jacira.
4 - Jacira conserva, at data das nossas entrevistas, um medo
incoercvel de bovinos.
Tabela das Recordaes da Paciente: [5] [6]
COMENTRIOS:
Na idade adulta Jacira j no conserva mais a lembrana dos
episdios passados com a personalidade anterior. Entretanto deve ter
mantido, em forma de reflexo adqui- rido, o terror que manifestava
pelos bovinos.
provvel que o incidente da vaca "Morena" tenha cau- sado uma
impresso muito forte em Ronaldo. Este era ainda muito jovem e, por
isso, deveria ter-se apavorado intensamente ao ver o animal
investir contra ele e seus irmos. Da.Martha, referindo-se s
recordaes de sua filha na infncia, declarou:
-"A nica coisa que ela tinha mais gravada era esta histria da
vaca." (sic)
5 - Jacira identificava-se com o sexo masculino, no s na
primeira infncia como na puberdade.
Tabela das Recordaes da Paciente: [19] [20] [21]
COMENTRIOS:
Actualmente, Jacira no se assemelha personalidade anterior.
Mesmo que isso ocorresse, seria normal, pois Ronaldo era seu
tio.
Entretanto, nos primeiros meses de vida, sua semelhana fsica com
o Ronaldo era notria. Fora estrbica at quase os dois anos de idade.
Ronaldo possua tambm esse defeito.
Mas sua identificao com o sexo oposto era mais forte quanto ao
comportamento e mesmo quanto ao fsico, at os 15 anos de idade
aproximadamente.
O Sr.Hlio Alves e sua esposa afirmaram que o comporta- mento de
Jacira se assemelhava muito ao de um garoto. Preferia folguedos de
meninos. Usava cabelo curto. Seus brinquedos prediletos at os 10
anos no eram as bonecas ou outros objectos preferidos pelas
meninas. Ela gostava de brincar com um estojo para pr pesos de
balana, feito de madeira. Quando Da.Martha jogou fora o referido
estojo de madeira, Jacira mostrou-se muito magoada.
Sua tendncia a usar calas masculinas e trajes espor- tivos
manifestou-se desde a infncia, perdurando ainda hoje.
Mostrava preferncia pelo nome do Ronaldo. Quando pequena,
reclamava por no lhe terem posto este nome ou um nome combinado com
o mesmo.
Presentemente Jacira uma bonita moa, com formas acentuadamente
femininas. Entretanto menos feminil que o normal quanto ao modo de
andar e vestir-se. Parece no preocupar-se muito com o sexo oposto,
pois at aos 17 anos no tinha namorado. Quanto sua maneira de
comportar-se em famlia, percebe-se que recebeu uma excelente educao
ao estilo tradicional brasileiro, favorecida pelo ambiente
harmonioso em que cresceu. Da Jacira ter atitudes tpicas de uma
adoles- cente afvel, dedicada aos afazeres domsticos e s pessoas da
famlia, como o normal das moas de sua idade. Ronaldo tambm foi
muito unido aos parentes.
Convm observar que, no tocante aos gostos e prefern- cias
relativos a alimentos, dinheiro, viagens, msicas, carreira a
seguir, etc., no se assinalaram coincidn- cias significantes.
A aplicao de testes psicolgicos comparativos mais rigorosos foi
prejudicada, devido precariedade de informaes acerca da
personalidade de Ronaldo. Entre- tanto, cremos que este facto no
afecta, de maneira significante, a anlise em questo.Jacira &
RonaldoHipteses Explicativas(parcial)HIPTESES EXPLICATIVAS PARA AS
RECORDAESE O COMPORTAMENTO DE JACIRA
Fraude DeliberadaInformao Directa - CriptomnsiaTelepatia -
ESPMemria GenticaIncorporao MedinicaReencarnaoConclusoAntes de
tentar uma explicao para o presente caso, devemosanalisar as
diferentes hipteses que poderiam ser propostaspara o mesmo.
Escolheremos aquelas que nos parecem mais adequadas e quesejam
fundamentadas em razes consideradas vlidas. Emseguida procuraremos
experimentar a hiptese escolhida, afim de verificar se ela poder
explicar todas as situaesou pelo menos um grande nmero delas.
Aquela que cobrirmaior extenso de situaes ser por ns eleita como a
maisadequada. Esclarecemos, todavia, que tal escolha
estarcondicionada a futuras mudanas, caso surjam hiptesesmelhores.
Portanto, seu carcter ser provisrio.
FRAUDE DELIBERADASer necessrio comear pela hiptese da fraude.
Ela temcarcter eliminatrio. Uma vez que fosse demonstrada afraude,
o caso perderia totalmente sua validade.
Ser necessrio comear pela hiptese da fraude. Ela temcarter
eliminatrio. Uma vez que fosse demonstrada afraude,o caso perderia
totalmente sua validade.
A fraude normalmente pode ser motivada por razes vrias.
Asprincipais seriam: interesse em ganhar dinheiro ou
vantagenseconmicas; desejo de notoriedade; proselitismo a favor
deuma crena ou doutrina filosfica; necessidade de forardeterminada
situao a fim de neutralizar escndalos; promo-ver campanhas
ideolgicas, etc. Raramente se encontrariaoutro motivo alm desses,
especialmente numa circunstnciasemelhante da famlia de Jacira.
Os dois primeiros motivos so prontamente eliminados, poiso
Sr.Munhoz e sua esposa procuraram justamente abafar ocaso. Eles
tentaram sempre evitar que Jacira viesse ainteirar-se de sua
condio. Temiam que a filha, mais tarde,cometesse o suicdio. Assim
foram advertidos pelo Guiaespiritual de Da.Angelina (a mdium). No
cremos que esti-vessem usando de um ardil, a fim de levar-nos
habilmente aaceitar os fatos narrados. No iriam esperar tantos
anospara efetuarem essa manobra. Quando se decidiram a concederas
entrevistas, nenhuma oferta em dinheiro ou vantagensfuturas lhes
foram por ns acenadas. Nem os pais, nem apaciente poderiam lucrar
qualquer coisa em inventar seme-lhante drama.
Nenhuma notoriedade adviria para eles da divulgao dessesfatos.
Eles prprios solicitaram-nos sigilo, desde o inciodo nosso contato
com a famlia. No fomos sequer autorizadosa divulgar os nomes
verdadeiros das pessoas e dos lugaresneles implicados. A quebra do
sigilo com relao a Jacira sfoi concedida aps demorada argumentao
com os pais.
Levando-se em conta que os pais de Jacira so espritas,poderia
cogitar-se de uma inteno dos mesmos em fazerproselitismo religioso.
Para quem conhece bem o Brasil e aextenso do movimento esprita
neste pas, tal suposio notem cabimento. A divulgao das obras de
Allan Kardec e deFrancisco Cndido Xavier (Chico Xavier) de tal
vulto, queum facto como o de Jacira equivaleria a uma gota d'gua
nooceano.
Finalmente, quando entramos em contato com a famlia dapaciente,
encontramos todos em perfeita paz e harmonia, semoutros problemas
alm dos comuns a todas as famliasmodestas do interior. Tanto o
Sr.Munhoz como Da.Martha eseus filhos so pessoas tranquilas,
honestas e devotadas aoestudo e ao trabalho. A tragdia do suicdio
de Ronaldohavia ocorrido h mais de vinte anos e no deixara
reminis-cncias muito alm do mbito familiar. No notamos
quaisquerproblemas de ordem moral ou material que exigissem soluo
aser buscada desta forma. A iniciativa do levantamento docaso
partiu de ns. No cremos que a hiptese da fraudedeliberada seja
adequada ao presente caso.
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INFORMAO DIRETACRIPTOMNSIAA primeira suposio que cabe ao
presente caso a de que apaciente teria obtido as informaes acerca
da personalidadeanterior, atravs dos meios normais. Seria a hiptese
dainformao direta. Tais informaes, embora aparentementeesquecidas,
estariam latentes na subconscincia de Jacira.Em determinadas
circunstncias viriam conscincia, sobforma de personificao ou
dramatizao. Estaramos diantede uma possvel manifestao de
criptomnsia.
evidente que a morte trgica do Ronaldo, bem como suaspassagens
na infncia e na adolescncia deveriam ter sidoobjeto de comentrios
entre os membros da famlia. Devemacrescentar-se a isso os fortes
laos de relacionamento deDa.Martha e seu esposo, com o falecido
Ronaldo. Seria,portanto,difcil descartar a suposio de alguma
transmissode informaes paciente por parte dos membros da
famlia.
Entretanto, precisamos examinar mais atentamente as condi-es em
que Jacira manifestou sua identificao com a perso-nalidade de
Ronaldo, bem como a natureza de suas refernciasa situaes e episdios
relativos personalidade do faleci-do tio.
O primeiro ponto a ponderar a precocidade manifestada porJacira.
Ela comeou a pronunciar as primeiras frases aos dezmeses de idade.
Aos onze meses j fazia referncias a epis-dios concernentes
personalidade de Ronaldo e inquiria ame acerca do seu
relacionamento familiar imediato com aprpria me e com aqueles que
eram os irmos da personalida-de anterior. Nessas ocasies ela se
colocava na posio dapersonalidade do falecido. No se tratava de
meras perguntasacerca do tio, o que seria mais lgico em um caso de
infor-mao verbal concernente referida pessoa e acerca da quala
criana desejasse, eventualmente, satisfazer sua curiosi-dade.
importante, tambm, avaliar as condies inerentes pouqussima idade da
paciente naquela ocasio. Quem temexperincia no trato com crianas
sabe perfeitamente queseria pouco provvel que uma menina de um ano
de idadeviesse a dramatizar a lembrana de uma informao
verbal,colocando-se na posio da pessoa a respeito da qualdesejasse
melhores detalhes. Talvez isso fosse admissvel emse tratando de um
gnio. Entretanto, Jacira, sem embargo daprecocidade no andar e no
falar, no revela, em absoluto,traos de genialidade. Seus progressos
na escola e em outrascondies equivalentes so normais. Tivemos a
oportunidadede observ-la demoradamente, conversamos com ela
sobrediversos assuntos, e a impresso que nos deixou foi a de
umajovem normal.
Acresce notar que a diversidade de sexo seria mais outromotivo
para que tal personalizao se tornasse improvvel.[...]Admitindo-se,
assim mesmo, a hiptese da informao verbaldirecta, ela por si s no
explica a averso de Jacira peloslquidos de cor vermelha. Menos
ainda, a repugnncia queculmina nos vmitos se for ingerida qualquer
bebida com essacor
Tabela das Recordaes da Paciente: [1] [11]
Outro facto dificilmente explicvel pela hiptese da infor-mao
directa a averso que Jacira manifestava, desde aidade de um ano,
com relao ao retrato da personalidadeanterior. Particularmente
relevante o comportamento dapaciente relativamente aos cartes de
lembrana da "missa do7 dia"
Tabela das Recordaes da Paciente: [2] [3]
Nessa ocasio ela mostrava forte identificao com o faleci-do
Ronaldo e procurava contradizer a situao sugerida peloscartes
dizendo:
-"Pr qu!? Eu no morri! Por que est isto aqui?"
Acreditamos que a simples informao a respeito de umparente morto
jamais poderia gerar semelhante comportamentopor parte de uma
criana de um a dois anos de idade.
[...] relevante a preocupao de Jacira com respeito ex-noiva do
Ronaldo (item 23). A cena de cime, quando elasoube que Alice iria
casar-se (item 24), dificilmente seexplicaria pela criptomnsia,
sobretudo em se tratando deuma menina de trs a quatro anos de
idade. Como transferirpara uma criana todos os fatores subjetivos
necessrios manifestao do cime em relao a uma pessoa desconhecida
?
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TELEPATIA - (ESP)A hiptese da telepatia ou da percepo
extra-sensorialseria uma das melhores explicaes para o presente
caso. particularmente relevante o clima de intensa emoo queprecedeu
o nascimento de Jacira.
[...]
Acrescentem-se a isso os laos naturais de ligao e influ-ncia
entre me e filha, e teremos as condies ideais parao estabelecimento
de um possvel relacionamento telepticoentre elas. Jacira captaria
as imagens mentais de Da.Martha,dramatizando-as e representando o
papel do falecido Ronaldo.Poderia, inclusive, captar por ESP
(percepo extra-sensori-al) os demais detalhes relativos ao local
onde viveram osseus parentes. Teremos a a retrocognio.
No queremos, logo de incio, descartar a hiptese em anli-se,
argumentando que as experincias acerca da percepoextra-sensorial no
so de molde a autorizar a crena emtamanha facilidade de captao
paranormal. Conviria assina-lar que Jacira no demonstra ser uma
sensitiva destecalibre. Os que lidam com os testes de ESP sabem
como sodifceis as boas marcas de acerto com cartas Zener ou
emquaisquer outros tipos de experimentao.
Admitindo-se, entretanto, que estejamos diante de um
dessesrarssimos casos de transmisso e captao teleptica osten-sivas,
causa estranheza que tal situao se mantivesse portempo to longo,
vindo a extinguir-se quase totalmente s noincio da puberdade. As
ocorrncias de ESP muito ntida emuito intensa so, normalmente, de
pouca durao e ocorremem determinados instantes ligados a situaes
dramticas ouem razo de forte motivao. Basta compulsar a vasta
litera-tura referente a casos extraordinrios de ESP para
perceber--se logo tal caracterstica. Ainda que faamos uma
concessoao caso de Jacira, considerando-o uma notvel excepo
nessesentido, restaro os bices apontados anteriormente comrelao
hiptese da informao directa paciente. Nodevemos perder de vista que
a ESP , de certa maneira, umainformao tambm.
Consideramos difcil de explicar, por exemplo. como Jaciracaptou
por ESP a sua averso s bebidas vermelhas, ao pontode vomitar logo
aps tentar ingerir um inocente refresco degroselha. Admitamos que
isso fosse a consequncia de havercaptado telepaticamente da me que
a cor do veneno tomadopelo Ronaldo era vermelha. A ideia de veneno
aliada corvermelha do lquido poderia desencadear um reflexo
defensivode vmito. Admitamos isso. Mas Da. Martha no viu o
Ronaldomorrer, nem viu a cor da mistura venenosa. Soube-o
porinformao de seu marido. Quem transmitiu o telepatema seisanos
depois? Sabemos que Da.Martha teve uma gravidez marcadapor inmeros
sintomas mrbidos muito mais intensos epersistentes, que ela
considerava ligados ao envenenamentodo irmo. Por que no foram
aqueles sintomas os captados porJacira? Sabe-se que Da. Martha s
vezes tinha vmitos noite, mas no relacionados com lquidos
vermelhos. Ossintomas predominantes eram outros, tais como a boca
emferidas, dores no esfago e no estmago, gosto estranho aodeglutir
os alimentos, tonturas, etc. Mas Jacira nunca osmanifestou.
No vemos como explicar por ESP a dramatizao de Jacira,com relao
ex-noiva do Ronaldo (Alice). Como uma crianade trs a quatro anos de
idade poderia manifestar, emvirtude de captao teleptica, uma crise
de cime, apsouvir o relato de que a ex-noiva do falecido tio
iriacasar-se?
Tabela das Recordaes da Paciente: [24]
Ou ento, como se explicariam os cuidados de Jacira quanto sorte
de Alice, perguntando se ela ter-se-ia casado?
Tabela das Recordaes da Paciente: [23]
Achamos desnecessrio estender-nos mais na anlise destahiptese
(ESP-Telepatia), pois para admiti-la como ajustvelao presente caso,
teramos que fazer concesses inaceitveispelo bom senso e pelo que se
conhece como vlido acerca daESP.
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MEMRIA GENTICAEsta hiptese poderia apoiar-se na transmisso de
caracteresde comportamento por via gentica. Poderia
pensar-se,tambm,na informao gentica transportada atravs do RNA, aps
aaquisio de um reflexo condicionado.
As objees apontadas anteriormente para as hipteses dainformao
directa ou por ESP aplicam-se tambm da memriagentica. Por outro
lado, achamos muito discutvel saltar-sedo caso de herana de
comportamento e de reflexos para os delembranas carregadas de
imagens ntidas dos episdiosvividos ou assistidos por um dos
progenitores. Como e porque a paciente iria escolher justamente a
experincia da me? Por que ela e somente ela herdou apenas as
experinciasreferentes ao Ronaldo? Da.Martha teve mais um filho
apsJacira e este no herdou tais caractersticas.
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INCORPORAO MEDINICAA hiptese da manifestao da personalidade do
falecidoRonaldo, atravs de Jacira, em forma de incorporao
medi-nica, deve ser examinada. Teramos que distinguir doiscasos:
incorporao ocasional de durao limitada; e incor-porao com possesso
de longa durao.
Em nossa experincia pessoal (mais de 40 anos) no trato como
fenmeno da incorporao medinica, sempre assinalamos umasrie de
alteraes na pessoa do mdium, devidas influn-cia do agente
desencarnado, antes e depois de tomar osensitivo. De um modo geral,
o transe mediunico se manifestacom caractersticas tpicas que o
tornam imediatamenteidentificvel. Na maioria das vezes precedido
por modifi-caes no ritmo respiratrio, seguidas de estado
semelhanteao sonamblico. Em outras ocasies o mdium se
debate,precisando ser contido pelos circunstantes, a fim de
noferir-se ou sofrer quedas. Quando o mdium j adquiriusuficiente
prtica, consegue controlar grande parte dosmovimentos involuntrios,
e a incorporao se faz maissuavemente, mas mesmo assim podem
notar-se as transformaesmanifestadas no paciente. Qualquer
frequentador assduo desesses medinicas distinguir facilmente os
sintomas daincorporao. muito tpica e facilmente identificvel.
Os casos de incorporaes em crianas so rarssimos. Emtoda a minha
experincia no assinalei nem um s caso decriana de tenra idade ser
tomada por um esprito. E se issoocorresse, no seria apenas um nico
esprito que iriaincorporar-se de vez em quando. O mdium
desenvolvido e semcontrole sistematicamente assediado por entidades
desen-carnadas. Se no aprender a controlar sua faculdade,
possi-velmente ir cair em obsesso total.
A possesso uma incorporao a longo prazo. Nesse estado opaciente
fala e age como se fosse a personalidade do desen-carnado. A
identificao tambm fcil, pois alm dossintomas prvios em tudo
semelhantes incorporao medini-ca, a transformaao da personalidade
do mdium flagrante.
H variantes nos aspectos do fenmeno da incorporao com ousem
possesso, os quais no cabem ser tratados aqui.Entretanto relevante
assinalar que Jacira no apresentou enem apresenta quaisquer
caractersticas que autorizemadmitir-se tal hiptese de
trabalho.[...]
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REENCARNAOA hiptese da reencarnao exige a demonstrao da
sobrevi-vncia de pelo menos parte da personalidade, aps a morte
docorpo fsico. Esta parte sobrevivente deveria ser o reposi-trio da
lembrana de algumas ou de todas as experinciasvividas pelo falecido
e transmitidas personalidade suces-siva. Cremos que, acerca da
demonstrao da sobrevivncia,no h falta de evidncia e sim de aceitao
dos inmerostestemunhos aduzidos at agora. Tal resistncia no afeta
aeventual realidade do facto, apenas impede sua admisso comocoisa
provada. Assim, por exemplo, a relutncia em aceitar--se o
heliocentrismo, defendido por Galileu em sua poca,no impediu que a
Terra gravitasse ao redor do Sol. Era umfato real e ainda continua
sendo, apesar das opinies emcontrrio manifestadas pelos sbios
peripatticos de outrora
Se tomarmos a reencarnao como hiptese de trabalho e aaplicarmos
a um facto observado, como o presente caso,podemos pr prova sua
eficincia para explic-lo. Se ahiptese da reencarnao cobrir todos os
episdios ou amaioria deles, ela dever ser mantida como a mais
provvel,ainda que em carter provisrio. Entretanto esta hiptesenunca
descartar definitivamente as demais, desde que semostrarem,
ulteriormente, mais adequadas.[...]
Ela adequada para explicar a manifestao da repulsa sbebidas
vermelhas e do reflexo de vmito correlato. Explicaas demonstraes de
preocupao e cime relacionados com apessoa de Alice. Igualmente ela
esclarece a estranheza deJacira, na infncia, com respeito ao seu
aparente dualismode parentesco relativo me, av e aos irmos.
Alm dos aspectos subjetivos manifestados atravs das
iden-tificaes de Jacira com o Ronaldo, a hiptese da reencarna-o
justifica as caractersticas fsicas manifestadas pelapaciente nos
primeiros meses de vida. O estrabismo, porexemplo, seria uma das
manifestaes classificveis na cate-goria das marcas de nascena
("Birthmarks"). Tais ocorrn-cias j foram assinaladas pelo Dr.Ian
Stevenson e tambm porns em nossa modesta coleo de outros casos que
sugeremreencarnao. Jacira, na meninice, mais se assemelhava a
umgaroto, tanto no fsico como no comportamento.
Reconhecemos que a hereditariedade poderia
perfeitamenteresponder por essas caractersticas fsicas. Entretanto
importante assinalar que nenhum dos filhos de Da.Marthaapresentou
estrabismo na infncia. O ltimo filho, do sexomasculino, jamais
manifestou caracteres de comportamento oupersonalizao que
lembrassem o falecido Ronaldo. Os anteri-ores tambm no. O
estrabismo manifestado por Ronaldo noera congnito. Conforme
afirmou-nos o Sr.Munhoz, Ronaldotornara-se estrbico quando criana,
aps uma congesto. Nose conhece nenhum caso de estrabismo entre os
parentes deRonaldo e de Jacira.
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CONCLUSOSem considerar "a priori" as demais hipteses como sendo
semvalor, a nossa opinio pessoal favorvel hiptese dareencarnao.
Achamos que h considervel evidncia de queJacira a reencarnao do
falecido Ronaldo.