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"ttttl NESol
Currculo Resumido dos Autores
Adrienne de Capdeville Psicloga - Centro Universitrio de
Braslia, Especialista em Gesto Cooperativista - UCB, Mestranda em
Agronegcios - UnB. Professora da UCB.
Airton Cardoso Canado Administrador de Cooperativas - UFV,
Mestre em Administrao - UFBA, Coordenador do NESol/UFT. professor
da UFT e da Faculdade Catlica do Tocanns.
Anne Caroline Moura Guimares Canado Turismloga - FIE,
Especialista em Gesto de Cooperativas - UCSAL
Denise Gomes Alves Engenheira Agrcola - UFLA, Mestre em
Engenharia Agrcola - UNICAMP, Doutora em Engenharia de Alimentos -
UNICAMP, professora da UFT.
Devarte Rocha Graduando em Arquitetura ~ Urbanismo - UFT.
Elida Suzete Ramos Barbosa Monteiro Graduanda em Administrao -
UFT.
Fernanda Bartolomeu Dias Abadio Nutricionista - UFRJ, Mestre em
Cincia e Tecnologia de Alimentos - UFRRJ, professora da UFT.
Fernando Gomes da Silva Graduando em. Geografia - UFT.
Helga Midori lwamoto Licenciada em Matemtica - UFES, Mestre em
administrao - UFES, professora da UFT. . lgor Galvo Silva Graduando
em Engenharia de Alimentos - UFT.
Jacqueline Elisa Furtado Barreto de Carvalho Graduanda em
Administrao - UFT.
Jenny Ftima Barp Cappellesso Graduanda em Administrao -
UNITINS.
Ncleo de Economia Solidria ' UNIVERSIDADE FEDERAL DO
TOCANTINS
Coordenador: Airton Cardoso Canado
Membros Efetivos Anne Caroline Moura Guimares Canado Fernanda
Bartolomeu Dias Abadio ' Helga Midori Iwamoto Denise Gomes Alves
Marcus Vincius Alves Finco Mnica Cristina Rovaris Machado Sandra
Alberta Ferreira
Membros Discentes Devarte Rocha Elida Suzete Ramos Barbosa
Monteiro Fernando Gomes da Silva Geilianny Peres da Silva Gimenes
Quezado Carvalho Igor Galvo Silva Jacqueline Elisa Furtado Barreto
de Carvalho Jenny Fdma Barp Cappeilesso Laudeci Lopes Maciel
Leonardo Conceio Cruz Mbia Borges Sousa Maria Salete Freire Vanuzia
Nunes Pereira
El94 Economia solidria. cooperativismo popular e autogesro : as
Experincias de Palmas-TO/ Arton Cardoso Canado, Jos Roberto
Pereira, Jeov Torres Silva Jnior, organizadores._ Palmas-To NESol;
UFT, 2007
320p. : 11. , 49,lcm.
I.Cooperatvsmo Popular 2. Autegesto 3. Econornla solidria !.
Canado, Ainon Cardoso 11. Pereira. Jos Roberto m. Silva Jnior, Jeov
Torres.
CDU 334
Ficha Catalogrfica elaborada pela Bibliotecria da Catlica do
Tocantins Maria Paixo Souza-CRB-2n20 Ano: 2007
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Parte 3: Contribuies para a reflexo sobre o tema
ENCONTRO DA REDE BRASILEIRA DE BANCOS COMUNITRIOS. 2, 18-20 de
abril de 2007, Fortaleza, Cear, 2007.
___ ; LAVILLE, Jean-Louis. Economia Solidria: uma abordagem
internacional. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.
JPDC - Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Comrcio. Taras
de endividamento do consumidor de Fortaleza. Fortaleza:
JPDCIFECOMEROO, 2006. set. 2006.
MELO NETO, Joo Joaquim; MAGALHES, Sandra (Org). Bairros pobres -
ricas solues: Banco Palmas ponto a ponto. Fortaleza: Lamparina,
2003.
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Expresso Grfica, 2005. SENAES. Atlas da economia solidria no Brasil
2005. Braslia: MTE/SENAES, 2006.
SILVA JNIOR, Jeov Torres. Gesto, fato associativo & economia
solidria: a experincia da ASMOCONP/ Banco Palmas, 2004. 99 f.
Dissertao {Mestrado em Administrao) - Escola de Administrao,
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2004.
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Salvador, Bahia. Anas.; Salvador, 2006.
___ ; FRANA FILHO, Genauto C. Fato associativo e economia
solidria: a experincia do banco palmas no Ceara. ln: Colquio
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Salvador, Bahia. Anas.; Salvador, 2003. REDES de Bancos
Comunitrios. Banco comunitrio: servios solidrios em rede.
Fortaleza: lnstituto Banco Palmas, 2006a.
. Memria das reunies da rede na J mostra de cultura e economia
solidria. Fortaleza: lnstituto Banco Palmas, mai. 2006. 2006b.
,,
, 232
Parte 3: Contribuies para a reflexo sobre o tema
Autogesto: origens, tendncias e experincias
Helga Midori Iwamoto
1. Introduo
Tem havido um certo abuso na utilizao da expresso autogesto na
literatura corrente, principalmente do meio acadmico. H diversos
autores em engenharia de produo utilizando a palavra autogesto para
denominar participao dos trabalhadores em como realizar seu
trabalho, mas sem poder de deciso nos assuntos centrais da empresa.
Uma autora portuguesa utilizou a expresso autogesto denotando
"auto-controle" do usurio de drogas sobre a quantidade a ser
utilizada, e mais de uma dezena de autores na rea de sade denominou
autogesto a gesto participativa da instituio de sade (pblica ou
privada) pelos seus funcionrios, mesmo que os detentores do capital
da instituio, no caso privado sejam um determinado grupo seleto
deles.
Pretendeu-se, portanto, realizar uma reviso de literatura a
respeito do tema "autogesto". Nessa reviso pretendeu-se identificar
as origens do movimento e da utilizao da expresso "autogesto" em
si, assim como algumas tendncias, em termos de paradigmas e
movimentos sociais, que originaram o termo e outras que tentaram se
apropriar do mesmo.
2. Origens da palavra e do conceito de autogesto
Para Nascimento (2000), as idias que geraram o conceito de auto
gesto que apareceu no maio de 1968 na Frana podem ser encontradas
nos socialistas considerados utpicos pelos outros socialistas
(Owen, Fourier, Proudhon), sob a forma de uma mudana gradual da
sociedade capitalista' para uma sociedade autogestionria, sem
Estado.
Para Mndez e Vallota (2005), o conceito de autogesto aparece nas
cincias sociais a partir da dcada de 1950, com as experincias
233
.. -~ -~- .. - . ,:f.-- ,,.-~"'' - --- ~ -. "'..!.. -
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Parte 3: Contribuies para a reflexo sobre o tema
dos kibbutzim (plural de kibbutz) em Israel, do modelo econmico
da Iugoslvia e, no comeo dos anos 60, em iniciativas anlogas na
Arglia e na Tanznia.
Para Mndez e Vallota (2005), a autogesto, no sentido de
autonomia, uma caracterstica do ser humano que se reflete ao longo
de toda a cultura ocidental, ainda que sempre reprimida por quase
todos os modelos de institucionalizao da vida coletiva,
especialmente pelas formas estatais. No entanto, o termo
"autogesto" aparece aproximadamente na metade do sculo XX, junto
com o maio de 1968 na Frana. No sentido da revoluo de 68, a
autogesto um movimento social que, aspirando a autonomia do
indivduo tem como fim e meio que as empresas e a economia sejam
dirigidas por quem est diretamente vinculado produo, distribuio e
uso de bens .e servios. Para alguns, esse movimento deve se
estender a. todas as instituies de participao coletiva.
A autogesto, assim entendida, ope-se heterogesto, na linha do
sentido piagetiano do termo heteronomia. Piaget (1977) defendia que
o processo de maturao do ser humano ocorria numa direo da
heteronomia (controle pelos outros) at a autonomia do individuo. Em
termos de organizaes, a heterogesto significa gerenciar numa posio
externa aos diretamente afetados pelas decises. Alguns exemplos
simples desse ltimo conceito so as guerras e os programas de
downsizing.
Ainda para Mndez e Vallota (2005), a autogesto um movimento
social, pois ainda que sua meta seja a autonomia do indivduo, no o
entende como ser isolado, e sim um ente que convive com seus
iguais, em interdependncia com eles. Em contrapartida, pode-se
citar Thoreau (1986), que considerava a questo da autonomia do ser
humano um ponto crucial, que ele tentou realizar se isolando do
mundo durante alguns anos, fora da "civilizao". Esse autor, que se
inquietou com vrias questes sobre obrigaes sociais do cidado para
com o Estado, inspirou Gandhi em seu conceito de Ahimsa
(no-violncia), gerando consequentemente o movimento social da
"desobedincia pacfica" na ndia.
Segundo Kropotkin (2000), o desenvolvimento da raa humana na
Terra se deu atravs de um equilbrio entre as tendncias competitivas
e cooperativas, representadas pelos imperativos biolgicos de
diferenciao e adaptao. Para ele, o ser humano no s competitivo e
violento por natureza, pois tambm possui tendncias no sentido
contrrio.
r 234 l
Parte 3: Contribuies para a reflexo sobre o tema
Segundo Nascimento (2000), muitos intelectuais brasileiros foram
influenciados por esse tipo de movimento, entres eles: Antnio
Cndido, paulo Emlio, Paul Singer, Srgio Buarque de Holanda, Edmund
Moniz, fulvio Abramo, Febus Gikovate, Azis Simo, o qu, levou vrios
deles a ingressar na fundao do PT, no inicio dos anos 80. Nesse
contexto cultural :floresceram diversas iniciativas com enfoques
diferenciados em torno da autogesto, autonomia e controle operrio,
como: Oposio Sindical Metalrgica de So Paulo (MOSP); Centros de
Educ~o Popular como o CEDAC-RJ; grupos como o da Desvios, tendo a
frente Eder Sader e Marilena Chau; grupos sobre autonomia ( como o
de Gois, em torno de Augusto Franco); o Centro de Cultura
Anarquista de So Paulo; a FNT (Frente Nacional dos Trabalhadores).
Com os metalrgicos houve debates vrios com Paul Singer, Ladislaw
Dawbor, Marcos Arruda, Alosio Mercadante e , assessores da ANTEAG
(Aparecido Faria, Marilena Nakano ).
3. Tendncias em autogesto
Rosanvalln (1980) ressalta que pode haver diferentes usos para a
expresso autogesto, de cordo com o enfoque terico de cada autor.
Ele identifica vrios enfoques distintos para utilizao da palavra,
como o tecnocrtico, libertrio, comunista e humanista. Nos pargrafos
seguintes sero descritos esses enfoques, com adaptaes realizadas
pela autora com base na reviso de literatura.
Em linguagem tecnocrtica, a autogesto pode se configurar
efetivamente como um modelo de gesto descentralizada que se
contrape ao modelo centralizado e hierrquico, ou simplesmente um
modelo em que os trabalhadores decidem sobre aspectos metodolgicos
do trabalho, mas a autonomia de deciso sobre os aspectos realmente
relevantes deixada para as altas esferas da empresa. Nessa
corrente, uma empresa, mesmo que efetivamente de autogesto,
avaliada principalmente segundo seus parmetros econmicos e
quantitativos.
Seguindo essa linha de atuao, Azevedo (2003) descreve atravs de
uma perspectiva econmica a experincia da Corporacin Cooperativa
Mondragn, localizada no Pas Basco (Espanha), existente h 60
anos,
235 l
-
Parte 3: Contribuies para a reflexo sobre o tema
com ramificaes internacionais. Segundo a autora, o complexo d
Mondragn rene 86 fbricas entre outros empreendimentos, num total de
mais de 60.000 postos de trabalho e um faturamento de 13 bilhes de
euros, respondendo por quase 5% do PIB e 3,5% dos empregos de sua
regio de origem.
Em linguagem libertria, auto gesto significa a negao de qualquer
instncia do Estado e a supresso de qualquer forma de autoridade,.
em algumas correntes mais radicais. Nessa corrente, o mbito mais
prtico de aplicao da autogesto mais o indivduo e o grupo no qual
est inserido do que a sociedade como um todo, como nos casos de
ecovilas e outras formas de comunidades ditas auto-suficientes.
Em termos comunistas, a autogesto mais um fim que um meio. o fim
ao qual desejam chegar os tericos dessa corrente, atravs de formas
de Estado como a ditadura do operariado, entre outras menos
radicais.
Por exemplo, para Nascimento (2000), o movimento operrio-
sindical, as condies e a organizao do trabalho so objetos de
reivindicaes a curto e mdio prazos, em que se tenta conseguir
contratos coletivos, organizar convenes, etc. Contudo, a longo
prazo algumas correntes operrias ainda tm com horizonte a
autogesto, a propriedade social dos meios de produo, entre outros
ideais socialistas. Numa das correntes do movimento operrio, o
ludismo, os operrios quebravam as mquinas que geravam desemprego
estrutural e procuravam organizar formas autogestionrias.
Em linguagem humanista, a autogesto geralmente se confunde com o
conceito de autonomia individual, em contraposio ao de heteronomia
(PIAGET, 1977). Nesse sentido, ela acba influenciando nas formas de
relacionamento humano em geral em direo a uma aut~omia de
comunidade, numa interdependncia voluntria com base em valores mais
"altrustas" e "fraternais".
Em linguagem sistmica, no sentido da Teoria dos Sistemas de
Bertalan.ffy (1975), autogesto se confunde com auto-regulao,
caracterstica dos seres vivos e sistemas dinmicos em geral. Nessa
concepo, os sistemas autogestionrios possuem partes
interdependentes entre si, que se auto-organizam conforme as
necessidades impostas pela relao entre essas partes e o sistema com
o meio. Outra caracterstica que nos sistemas descritos por
Bertalanffy, o todo mais que a soma das partes.
.--------------' 236 l . --
Parte 3: Contribuies para a reflexo sobre o tema
Em termos da literatura estudada, foi identificada uma outra
corrente de origem americana para a cfenominao de autogesto, no
sentido de Terceiro Setor (Frana Filho, 2002). Ainda segundo o
autor, ocorre uma certa confuso entre os termos economia popular,
economia solidria e terceiro setor, sendo necessrio esclarecer que
a origem do termo economia popular est na literatura
latino-americana da rea de gesto social, de economia solidria, nas
teorias francesa!' e terceiro setor, nas escolas norte-americanas
de administrao. No caso do conceito de Terceiro Setor, corre-se o
risco de se cair num assistencialismo, como em Dahl-Ostergaard et
al (2003), na obra publicada pelo BID (Banco Inter-Americano de
Desenvolvimento). Os autores dessa obra chamam de autogesto o ato
de pesquisadores do BID trabalharem em conjunto com as comunidades,
ensinando-as a gerir projetos da rea rural com o know-how dos
EUA.
4. Experincias em autogesto no mundo
. Nascimento (2000) relata vrias iniciativas com idias afins
s
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Parte 3: Contribuies para a reflexo sobre o tema
nicaragense (1979), em vrios momentos crticos da luta social,
trabalhadores e camponeses deram forma concreta a idia da
autogest()' e do poder popular. Outro exemplo foi a Revoluo dos
Cravs (Portuga 1974); o famoso "outono quente" do movimento
operrio-SlIJ.dicar: italiano, entre 1976- 77; a experincia de luta
das comisses operrias na: Espanha; a experincia dos cordes
industriais no Chile de Allende (1970- 73 ); a assemblia popular na
Bolvia de Torres, as iniciativas de rea de propriedade social no
Peru de Alvarado. No final da dcada, a Revoluo Sandinista com
intensa participao popular. Enfim, em agosto de 1980 o movimento
social polons Solidarnsc, que defendeu em seu congress~ nacional a
Repblica Autogestionria, refletindo um amplo movimento social que
tinha em suas mos a gesto de 3000 grandes fbricas do pas.
NaArglia, o sistema de autogesto dos trabalhadores foi
implantado a partir de 1962, logo aps a independncia, nas chamadas
"empresas vazias", isto , propriedades industriais, agrcolas e
comerciais abandonadas pelos proprietrios europeus. Na Argentina,
durante a crise econmica que houve na dcada de 1990, houve
movimentos de trabalhadores que recuperavam as fbricas falidas,
assim como houve no Brasil. Ao contrrio dos trabalhadores dos
Estados Unidos, a idia era recuperar a fbrica e mant-la nas mos dos
trabalhadores.
Nos pargrafos seguintes so apresentadas algumas correntes de
autogesto em mbitos distintos da sociedade: o municipalismo
libertrio, que aplica as idias de autogesto no mbito urbano; e a
autogesto pedaggica, que provoca prticas autogestionrias nas
instituies educativas; autogesto em construo e ocupao de moradias
populares, etc.
5. Municipalismo libertrio
Uma das principais contribuies para o debate sobre autogesto e
cidades vem do anarquismo libertrio, principalmente, da obra de
Murray Bookchin, que desenvolveu diversas teses acerca da ao direta
do cidado na vida e na gesto da cidade. Esse tipo de embasamento
terico pode ser utilizado na formao de associaes de moradores em
locais como bairros, vilas, cidades.
238
Parte 3: Cortribui~ para a reflexo sobre o tema
Bookchin (1999) apontava que a luta de classes tinha se
propagado das fbricas para o resto dos contextos urbanos, dentro
dos municpios. ;\..t por isso, o nome da linha terica de Bookchin
"Municipalismo Libertro". Para esse autor, a idia de autogesto
aplica-se sociedade corno um todo, e no apenas economia. Isso
significa que sua essncia ( autonomia do indivduo enquanto ser que
convive coletivamente), de uma [orroa ou de outra, est presente em
diversos graus na gesto das aldeias, dos bairros e das cidades, na
forma de gesto participativa e outras formas de participao popular.
Nas duas grandes revolues que abriram-a poca roodema, a revoluo
francesa e a independncia americana, foi possvel assistir o emergir
de uma autogesto popular, nas assemblias de cidados de algumas
cidades dos EUA e nas sees de bairro em Paris.
Na viso de Bookchin (1999), a fbrica como no pode ser o lugar '
da autogesto, pois nela geralmente se aprende hierarquia,
autoridade e submisso, no a emancipao. Nesse sentido ele sugere que
sejam procuradas formas de prxis da autogesto, como hortas e
pomares comunitrios em associaes de bairro, e outras formas de
participao em sociedade como ocorrem nos movimentos sociais, etc.
Para Bookchin,
. esse tipo de iniciativa faz renascer dentro dos indivduos um
sentimento de autocompetncia que, em geral, negado ao cidado comum,
mesmo que essas iniciativas no consigam suprimir a necessidade de
um supermercado e outras instncias polticas, por exemplo.
6. Autogesto pedaggica
Segundo Lapassade (1986), a auto gesto pedaggica um sistema de
educao na qual os educados decidem em que deve consistir sua formao
e eles a dirigem. Apesar do nome "autogesto pedaggica" ter sido
dado por Lapassade, h numerosas experincias desde o incio do sculo
XX, como a da Escola descrita por Makareoko (1987) e Summerhill
(NEILL, 1968), em que a autogesto o princpio regente da instituio,
dando voz inclusive aos estudantes das escolas na deciso de
contedos e normas do regimento interno. Em Summerhill, onde esse
princpio radicalizado, os
239
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Parte 3: Contribuies para a reflexo sobre o tema
educadores funcionam como consultores que s participam do proc
quando chamados pelos estudantes.
Lapassade relata que a teoria e prtica da corrente franc de
autogesto pedaggica foram elaboradas na dcada de 1960 experincias
como as do Grupo de Pedagogia Institucional, fundad~ 1963. Na
prtica, a corrente de Lapassade em autogesto procura consm
contrainstituies dentro de instituies tradicionais de ensino, de
fonna ai que as pessoas nela inseridas consigam analis-la de forma
critica.
Uma forma de realizar esse intento de construo de uma contra,
instituio dentro da escola resgatar a imprensa dentro dela (FREINEt
1974), construindo-se os textos de forma coletiva por todos os
envolvidosn: instituio. Nessa metodologia, faz-se a redao do texto,
leitura, discusso e, em seguida, vota-se para aprovao da verso
final. H uma experincia no Centro Cultural do Cariri que se utiliza
de meios de comunicao, arte e cultura nas mos de crianas e
adolescentes para resgatar a cultura popular da comunidade.
7. Moradias populares no sistema de autogesto
Aristondo (2003) relata casos de construo de moradias populares;
. atravs de mutires de cooperados promovidos por cooperativas para
esse fim no Uruguai, com direo tcnica das prprias cooperativas.
Depois de prontas, as casas e os servios atrelados a elas tambm so
geridos em regime de autogesto. Uma caracterstica importante que a
propriedade desses conjuntos habitacionais e outros recursos
utilizados em sua gesto so coletivos.
No caso dos materiais utilizados para construo dessas casas, so
utilizadas cotaes para levantar as melhores relaes custo-beneficio
para compra, e, em alguns casos, so utilizados materiais produzidos
pelas prprias cooperativas, como prtas, janelas, tijolos, etc.
Outra linha de auto gesto em termos de habitao popular do
Uruguai relatada pelo autor a reutilizao de edifcios urbanos
desocupados para realocao de famlias, depois de reformas no mesmo
esquema de mutiro de cooperados nos edificios.
240 . - ~
Parte 3: Contribuies para a reflexo sobre o tema
s. Educao para a autogesto
Galvo e Cifuentes (7001) ressaltam a importncia da educao para a
autogesto de empresas recuperadas no sentido de uma formao poltica
e humanista, mas tambm de uma formao profissional que capacite
tambm para a gesto. Isso minimizaria as conseqncias das aes
anteriores nas empresas recuperadas no sentido de distanciamento
entre concepo e execuo de suas atividades.
Tiriba (2002) relata que os trabalhadores urbanos tm em mdia trs
anos e meio de escolaridade. A autora ressalta que em
empreendimentos e aes autogestionrias, como na Guerra Cvil
Espanhola (1936-1939), na Usina de Catende, entre outras
experincias, a questo da educao dos trabalhadores vem se tomando um
dos pontos frgeis dos ditos empreendimentos. Isso ocorre porque no
adianta tomar os meios de produo sem que cada trabalhador do
empreendimento saiba o que fazer com eles, em termos de execuo do
trabalho e de gesto. Em alguns desses empreendimentos, faz-se um
rodzio entre as funes para evitar que se caia na separao entre
_gesto e execuo. Uma fala interessante que ilustra a profundidade
da separao entre concepo e execuo do trabalho nos prprios
trabalhadores relatada por Rosenfield (2003) :
No incio da cooperativa., eles diziam isso a nas Assemblias:
'Ah! Porque vocs no vm bater marreta aqui'. Eu disse: 'Tudo bem, ns
vamos; pega vinte nosso que tem l dentro, n? Eu sei bater marreta!
Ns vamos pega vinte l onde tem homens e mulheres, vamos trazer aqui
pra dentro, ns bate marreta, vamos lixar, vamos montar, vamos
solda. Agora, ns vamos pegar vinte da fbrica e vamos botar l! E
algum tem que tocar, algum tem que fazer oramento, algum tem que
mexer nos computador, algum tem que liga pro fulano e vo fazer
isso'. Entendeu? Talvez tem que fazer alguma coisa pra eles
perceberem de que cada um faz a sua funo.
A autora relata que, de inicio, nas empresas recuperadas h uma
minoria de trabalhadores com essa formao poltica e profissional
necessria transio do paradigma taylorista para o
autogestionrio,
241
-
Parte 3: Contribuies para a reflexo sobre o tema
vindo da a necessidade da formao proposta por Verardo (1999).
Esse autor relata que, nesse processo de formao, a estrutura
arquitetnica d empresa costuma ter influncias prejudiciais nos
trabalhadores, pois ela favorece a separao entre concepo e
execuo.
Outro problema relatado na transio de paradigma dentro das
empresas recuperadas a falta de capital de giro, conforme relatam
Tauile e Debaco (2002). Essa condio ocorre 'devido falta de
patrimnio pessoal por parte dos trabalhadores que possuem as
empresas de autogesto. Ess limitao influencia tambm na dificuldade
em acompanhar as modificaes tecnolgicas de outros empreendimentos
do setor, principalmente em casos nos quais os trabalhadores herdam
empresas com maquinrio ultrapassado.
Tiriba (2002) ressalta que o maior feito realizado pelas
empresas de autogesto que os trabalhadores saltem do paradigma da
"educao para a empregabilidade" para a educao para a prpria
autonomia, que ela chama de "pedagogia da produo associada". No
entanto, essa mudana nem sempre realizada de forma consciente,
pois, muitas vezes essas empresas se constituem principalmente em
alternativas para o desemprego.
9. Empresas recuperadas brasileiras
Verardo (1999) relata que a ANTEAG (Associao Nacional dos
Trabalhadores em Empresas de Autogesto e Participao Acionria)
nasceu em 1991, na implantao de um projeto de autogesto na empresa
Calados Makerly, que havia encerrado suas atividades e eliminado
482 empregos diretos. Mas, de fato, foi no incio de 1994 que ela
constituiu- se como associao. Na poca em que o autor escreveu o
artigo, aAnteag acompanhava 57 projetos om aproximadamente 17.500
trabalhadores em todo o Brasil.
Na perspectiva da ANTEAG (2000), autogesto significa que o nmero
de funcionrios contratados no pode ultrapassar 1 % do efetivo da
empresa; a reestruturao de cargos e salrios deve diminuir o grau de
desigualdade existente nas retiradas mensais que substituem os
salrios dos trabalhadores, de forma que a maior retirada no
ultrapasse em mais de
'-
r 242 lL--------:--~ .-1 ~--~-~
Parte 3: Contribuies para a reflexo sobre o tema
seis vezes a menor; transparncia de aes para todos na organizao.
Segundo Gonalves (2005), essas empresas assumem vrias
formas jurdicas, de acordo com a lei Lei 10.406, de 10 de
janeiro de 2002, geralmente com mais de 20 trabalhadores. Segundo o
autor, a diferena entre empresa de autogesto e empreendimento
autogestionrio que as primeiras foram formadas por empresas
recuperadas e as ltimas renem pessoas como catadores, artesos,
entre outros.
10. Consideraes finais
Espera-se que esse captulo, ainda que de forma incipiente, tenha
auxiliado no esclarecimento das origens e tendncias do movimento de
autogesto, no Brasil e no mundo. Foram retomadas experincias
autogestionrias em diversas reas como educao, associaes de bairro,
cooperativas habitacionais, etc. no sentido de retomar o
"sentimento", ou "essncia" que gerou o conceito de autogesto.
No caso do Ncleo de Economia Solidria da Universidade Federal do
Tocantins (NESol-UFT) pretende-se contribuir na forma de projetos
de extenso com programas de fomento e incubao de cooperativas
populares. Esto sendo acompanhadas diversas comunidades e
empreendimentos com tendncias autogestionrias, como produtores da
etnia Xerente de artesanato, pequenos produtores rurais, entre
outros.
Referncias
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243
-~-- - -- --- ,,._ ... :.:~~
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Parte 3: Contribuies para a reflexo sobre o tema
BERTALANFFY, Ludwig von. Teoria geral dos sistemas. Petrpolis:
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KROPOTKIN, Peter, As origens da virtude. So Paulo: Record,
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FEDERAL DO TOCANTINS Currculo Resumido dos Autores
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reflexo sobre o tema Autogesto: origens, tendncias e experincias 2.
Origens da palavra e do conceito de autogesto Helga Midori Iwamoto
1. Introduo ,, Parte 3: Contribuies para a reflexo sobre o tema ,
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