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O Corpo
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04.08.2013
ISSN: 2236-8221
Edição n. 59, Agosto de 2016. Vitória da Conquista, Bahia.
O corpo é discurso
A edição 59 de O Corpo é Discurso inaugura suas seções com o Pockets Comix: barreiras e
separações na modernidade. Em seguida, uma poesia: dos clássicos orgasmos. O artigo dessa
edição trata do discurso e identidades na publicidade de um refrigerante... é o Guaraná Jesus.
Convite imperdível para o I Encontro Foucault e Discurso na Bahia - Outras palavras: o nó na
rede. O grupo de pesquisa Labedire - Laboratório de Estudos do Direito e do Discurso apresen-
ta seus objetivos e seus componentes. A psicóloga Layanne Mussy entrevista a psicóloga Ana
Cândida Lôbo: domínios do adoecimento e conhecimento de si. Convite para o X SEPEL- Seminá-
rio de Pesquisa em Literatura que acontecerá na UFU - Universidade Federal de Uberlândia. Dica
de vídeo-aula no canal do Labedisco no Youtube. Por fim, a dica de leitura do livro “Michel Fou-
cault: a Literatura e as Artes”, organizado por Philippe Artières. Boa leitura!
ISSN: 2236-8221
FUNDADORES
(15/03/2011)
Nilton Milanez
Cecília Barros-Cairo
EXPEDIENTE DE O CORPO É DISCURSO
Editores
Nilton Milanez
(LABEDISCO/CNPq/UESB)
Ricardo Amaral
(PPGMLS/FAPESB)
Vilmar Prata
(PPGMLS/FAPESB)
Organizador
Matheus Vieira
(IC/CNPq)
Samene Batista
(PPGMLS/LABEDISCO)
Revisão
George Lima
(PPGLIN/CAPES)
Layanne Mussy
(LABEDISCO/PSINEMA/CNPq)
Vinícius Reis
(PPGMLS/LABEDISCO)
Coordenação da Seção de
Literatura
Jamille da Silva Santos
(GPEA/LABEDISCO/UFU)
Coordenação da Seção de
Ensino e Tecnologia
Jaciane Ferreira
(IFGoiano-Campus Iporá)
Diagramador
Gilson Santiago
(IC/LABEDISCO)
Estagiário
Nathan Soares
(Cinema e Audiovisual/UESB)
Secretária
Géssica Soares
Editoração eletrônica
(MARCA DE FANTASIA)
Henrique Magalhães
Jornal de popularização científica
Acesse o site do Labedisco: www2.uesb.br/labedisco Contato: [email protected]
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Renato Lima é graduado em Pintura pela Escola de Belas Artes - UFRJ. Para saber mais sobre o autor e
suas produções, acesse também o site Pockets - Histórias de Bolso ou a página de Facebook Pocketscomics.
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Realização:
Ela invade o salão delicada e firme.
Pelos arrepiando.
Corpos levitando.
Almas que se deslocam de sua estabilidade quotidiana.
Epifania.
Ela se prepara para te levar à
sublimação.
De suas curvas sonoras,
a sinuosa canção se alonga
pelas notas que saem do instrumento. Uma aveludada clave de sol que
atravessa a de fá
em um movimento semifuso colérico
serenando os inconscientes impacientes e cansados.
Sopro de brisa que passeia pelo contrário dos corpos
esfriando por dentro o sangue quente
que corre latente pelas veias tortas do
pensamento. Como o eco de uma voz
que sussurra languida e cálida.
Prazer que começa ao pé do ouvido
e escorre por todos os outros sentidos.
No ápice da orgia,
um frenesi coletivo.
Palmas e muitas salvas. A multidão se vai extasiada.
Como gozar é bom!
DOS CLÁSSICOS ORGASMOS
GABRIELA GUIMARÃES JERONIMO: DOUTORANDA EM LINGUÍSTICA E LÍNGUA PORTUGUESA NA UNI-
VERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO (PPGLL/FCLAR), MESTRE EM ESTUDOS DA
LINGUAGEM PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS-CAMPUS CATALÃO (PMEL/UFG-CAC) E GRADUADA
EM LETRAS-LICENCIATURA EM PORTUGUÊS PELA MESMA INSTITUIÇÃO. É MEMBRO DO GRUPO DE ESTUDOS E
PESQUISAS EM HISTÓRIA DO PORTUGUÊS - GEPHPOR (CNPQ/UFG), INTEGRANTE DO GRUPO DE ESTU-
DOS EM ANÁLISE DO DISCURSO DE ARARAQUARA - GEADA; E DO NÚCLEO DE PESQUISAS EM SOCIOLIN-
GUÍSTICA DE ARARAQUARA— UNESP (SOLAR). CURRÍCULO LATTES: Clique Aqui!
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“O Sabor de Viver o Maranhão” no
Youtube
Na pós-modernidade, Gregolin
(2008) destaca que a mídia em geral é
essencial para essa efervescência de
identidades que surgem, em especial
nos meios eletrônicos, pelo fato de tra-
zer a possibilidade de jogos identitários.
Em seu ponto de vista, a mídia é grande
responsável pela intensa produção
identitária atualmente, e é entendida
aqui como prática discursiva
(GREGOLIN, 2007). Por prática discursi-
va entendemos um dos conceitos pro-
postos nos estudos de Foucault (2008)
de grande produtividade na Análise do
Discurso (AD). Segundo Foucault
(2005), uma prática discursiva não é
uma simples expressão/formulação de
ideias ou desejos, nem uma atividade
racional ou uma competência. O filósofo
explica que prática discursiva relaciona
-se a: “um conjunto de regras anôni-
mas, históricas, sempre determinadas
no tempo e no espaço, que definiram,
em uma dada época e para uma deter-
minada área social, econômica, geográfica
ou linguística, as condições de exercício da
função enunciativa” (FOUCAULT, 2005,
p.133). O que significa que exercer uma
prática discursiva é falar/enunciar segun-
do determinadas regras, e fazer manifes-
tarem-se as relações que se estabelecem
dentro de um discurso.
Verificação importante nessa
investigação sobre identidade é a de Hall
(2006), segundo o qual junto com o impac-
to da globalização surge também um inte-
resse pelo que é local, pela alteridade, pela
diferença. “A globalização (na forma da
especialização flexível e da estratégia de
criação de ‘nichos’ de mercado), na verda-
de, explora a diferenciação local” (HALL,
2006, p.78), o que leva a uma articulação
entre o global e o local, e cria novas identi-
ficações. Nessa perspectiva, analisamos a
publicidade do Guaraná Jesus com vistas a
reflexões acerca da articulação dos meca-
nismos linguísticos, discursivos e de dife-
rentes linguagens (verbais e não-verbais;
“reais” e virtuais) na intensa construção
de identidades locais.
O objetivo deste artigo, um re-
corte do projeto “Do Sonho Cor de Rosa
ao Sabor de Viver o Maranhão: língua,
discurso e identidades na publicidade do
Guaraná Jesus”, desenvolvido no âmbito
das discussões do Grupo de Estudos de
Linguagem e Discurso (GPELD), é avaliar a
produção de sentidos sobre as identida-
des maranhenses nos discursos que
constroem o Guaraná Jesus como marca
de identidade local, especificamente em
um vídeo circula na internet, no site You-
tube.
O intuito de analisar a constru-
ção de identidades que circulam nas mí-
dias eletrônicas (vídeos do Youtube) deri-
va da observação de que, com as trans-
formações operadas pela globalização,
mais especificamente no campo da tecno-
logia, novas mídias insurgiram, formando
novos espaços discursivos com novas
formas de interlocução, interação e cons-
trução de identidades. É certo que as mí-
dias tradicionais não foram substituídas,
pois ainda é perceptível a enorme influên-
cia da mídia impressa, por exemplo, sobre
a sociedade. Todavia, a convergência e o
“sentimento de nós” (GREGOLIN, 2008)
Mônica da Silva Cruz (PGLetras-UFMA)
Thayane Soares da Silva (PGLetras-UFMA)
“O SABOR DE VIVER O MARANHÃO” NO YOUTUBE:
DISCURSO E IDENTIDADES NA PUBLICIDADE DE
UM REFRIGERANTE
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que se forma como resultado de novas
formas de interação faz o ciberespaço
um novo espaço de práticas discursivas
de produção identitária, atraindo,r tam-
bém, olhares das investigações da AD. As
questões que norteiam este artigo bus-
cam responder: como a identidade do
Guaraná Jesus se associa à identidade
local e é constituída no Youtube? Que
efeitos essa mídia produz na constituição
dessas identidades? Quais os lugares que
as peças publicitárias deste produto atri-
buem para a identidade maranhense?
A fórmula do Guaraná Jesus: contexto
sócio-histórico-cultural
É indispensável que se conhe-
çam as condições de possibilidades do
aparecimento do Guaraná Jesus sem
separá-las do espaço sócio-histórico-
cultural no qual sua identidade vem sendo
constituída para alcançarmos o objetivo
proposto neste artigo. É importante des-
tacar também a figura do criador da fór-
mula do Guaraná Jesus como parte fun-
damental da análise.
Jesus Noberto Gomes (1891-
1963), natural da cidade maranhense de
Vitória do Mearim, mudou-se para a capi-
tal, São Luís, em 1905, onde conseguiu um
emprego na farmácia Marques, do Dr.
Augusto César Marques. Além do seu
produto mais famoso, Jesus criou vários
remédios que também levavam o seu nome
como o Antigripal Jesus, Peitoral Jesus,
“Gomegaya Jesus” (injetável intramuscular
contra gripe), Jesulina (pasta dentifrícia),
além da Agocida, Água de Mesa, Água Tôni-
ca Três Quinas, Licor de Mate, Lupo Mate
(GOMES, 2010).
Em 1920 foi criado o refrigerante
Guaraná Jesus e, sete anos depois, “Jesus
Norberto Gomes recebeu do Departamento
Nacional de Saúde Pública um laudo con-
clusivo: ‘No gênero, bom para o consu-
mo’.” (GOMES, 2010, p.60). Segundo Elir
Gomes, filho de Jesus, em entrevista ao
jornal O Estado do Maranhão:
[...] foi para produzir um medicamen-
to, uma magnésia fluida, que Jesus
Gomes adquiriu algumas máquinas
gaseificadoras. Contudo, o produto já
era patenteado e as máquinas ficaram
paradas, sem utilidade. Surgiu então a
idéia de produzir águas gasosas e
refrigerantes, para dar utilidade às
máquinas. Para produzir os refrige-
rantes ele iniciou estudos e várias
experiências de mistura de sabores.
(GOMES, 2010, p.60)
Nessa época o Brasil ainda vivia
sob influência da chamada Belle Époque,
um “[...] período historicamente tênue, que
alguns estudiosos situam entre 1871 e 1914,
quando o homem acreditou no progresso e
na tecnologia como redentores de todos os
males. O ocidente e áreas de influência se
deliciavam com a efervescência das artes
e da ciência. Paris, com suas largas aveni-
das (boulevard) era a referência urbanís-
tica que outras cidades aventuraram imi-
tar.” (MARTINS, 2011, p.22).
São Luís não fugiu à regra, sen-
do afetada pelas práticas discursivas
desse momento. Como ainda era conside-
rada muito “antiga” para sua época, deu-
se início um tímido processo de moderni-
zação da cidade, em razão da escassez de
recursos para financiá-lo, pois, segundo
Martins (2011), a cidade não possuía uma
economia suficientemente forte e intensa
para arcar com os gastos em reformas
de ruas e avenidas. Nessa situação, São
Luís foi sendo modernizada aos poucos,
com alguns arranjos, a exemplo do uso de
suportes nas fachadas dos casarões ao
invés de postes para fiações de telégrafo.
Essas tentativas de moderniza-
ção certamente constituíram a formação
de Jesus Gomes, que, atento a essas no-
vos conceitos, contribuiu sobremaneira
para o progresso científico da cidade no
que se refere à indústria farmacêutica: foi
um dos responsáveis pela fundação da
Faculdade de Farmácia do Maranhão, na
qual se formou em 1925, além de ter com-
prado a Pharmácia Sanitária, onde iniciou
a produção de remédios patenteados e
desenvolveu a fórmula do Kola Guaraná
Jesus.
Após a morte de Gomes, em
1963, a família do farmacêutico vendeu a
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fórmula do Guaraná Jesus, em 1980, para
a Companhia Maranhense de Refrigeran-
tes, empresa responsável por engarrafar
a Coca-Cola, no Maranhão. Já em 2001, a
Coca-Cola comprou a fórmula do refrige-
rante e, em 2006, comprou também toda
a companhia responsável pelo seu engar-
rafamento. Oficialmente, a relação entre
as duas marcas tem apenas treze anos
(2001-2014) de existência, entretanto,
podemos vislumbrar uma “relação não-
oficial” anterior, já que os dois produtos
foram inventados por farmacêuticos. Ou
seja, a partir da observação do contexto
de criação e de surgimento das primeiras
formas de publicidade da Coca-Cola, po-
demos inferir muitas informações do
contexto sócio-histórico-cultural da cria-
ção do Jesus e observar a consonância
entre as histórias das duas marcas.
Campos-Toscano (2009), em
seu livro O percurso dos Gêneros do
Discurso publicitário: uma análise das
propagandas da Coca‑Cola, elabora um
trajeto histórico deste produto com vis-
tas a analisar a construção discursiva
que lhe constitui como ícone do capitalis-
mo norte-americano. A autora afirma que
a Coca-Cola foi criação de um farmacêu-
tico chamado “John Pemberton, que vivia
em Atlanta, Geórgia, nos EUA.” (CAMPOS-
TOSCANO, 2009, p.73), fato que ocorreu
após um erro do farmacêutico que tenta-
va sintetizar um remédio para dor de ca-
beça (ao contrário do que aconteceu com
Gomes, que teve a intenção de criar um
refrigerante).
Pemberton era um farmacêutico
que criava e patenteava remédios, assim
como o foi Jesus Gomes. Esses remédios
patenteados, no final do século XIX, segun-
do Campos-Toscano (2009, p.73), “[...]
eram muito populares, sobretudo pela
publicidade feita em jornais. Eram remé-
dios falsos, placebos, como pílulas, bálsa-
mos, xaropes, cremes e óleos. Alguns
eram inofensivos, entretanto, outros conti-
nham grande quantidade de álcool, cafeína,
ópio ou morfina”. Essa prática, comum nos
Estados Unidos, também se tornou popular
no Brasil, o que podemos observar pela
própria história do farmacêutico mara-
nhense, que também patenteava remédios
por ele criados e que, sempre atento às
inovações na área, logo depois também
passou a tentar produzir águas com gás e
refrigerante.
No próximo tópico, antes de pas-
sarmos à análise do vídeo de uma das
campanhas publicitárias do Guaraná Je-
sus, buscaremos entender algumas rela-
ções entre língua(gem), discurso e mídia
na produção de novas identidades.
Discurso, mídia e produção de identi-
dades
Neste trabalho, compreendemos
as identidades como construções discur-
sivas (GREGOLIN, 2008) e avaliamos essa
categoria a partir da ótica da Análise do
Discurso (AD). O discurso, para a AD, é
efeito de sentido, pois é o resultado da
interlocução entre sujeitos que vivem em
sociedade, que estão inseridos na história
e que recorrem à língua(gem) para signi-
ficar. A natureza complexa do discurso
explica o caráter transdisciplinar da AD.
As pesquisas desse campo de saber visam
à investigação da heterogeneidade dis-
cursiva, a relação do dizer com o seu
“exterior discursivo, seus pré-
construídos” (PÊCHEUX, 2011, p. 102) e ao
mesmo tempo avalia os confrontos dessa
heterogeneidade com o campo sócio-
histórico ao qual ela se opõe.
“O discurso, para a AD,
é efeito de sentido, pois
é o resultado da inter-locução entre sujeitos que vivem em socieda-
de, que estão inseridos na história e que recor-rem à língua(gem) para
significar.“
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A noção de sujeito na AD tam-
bém é singular. A AD não concebe “a no-
ção de sujeito epistêmico, ‘mestre de sua
morada’ e estrategista nos seus atos
(salvo nas coerções biossociológicas);
ela supõe a divisão do sujeito como mar-
ca de sua inscrição no campo do simbóli-
co” (PÊCHEUX, 2011, p.103). Como uma
posição no discurso, o sujeito está sem-
pre se construindo nas tramas da histó-
ria e “a identidade, assim como o sujeito,
não é fixa, ela está sempre em produção,
encontra-se em um processo ininterrupto
de construção e é caracterizada por muta-
ções”. (FERNANDES, 2005, p. 43).
A mobilidade singular das identi-
dades só se tornou real com o advento da
globalização e toda a reorganização es-
paço-temporal operada pelo desenvolvi-
mento e expansão da mídia (impressa e
eletrônica), dos veículos de comunicação
em massa (TV, celular, internet) e das
instituições modernas. Este trabalho
segue essa abordagem na medida em que
busca “[...] acompanhar trajetos históri-
cos de sentidos materializados nas for-
mas discursivas da mídia” (GREGOLIN,
2007, p.13). E para esta reflexão, tomam-
se também alguns conceitos e princípios
propostos por Michel Foucault, Michel
Pêcheux e Jean J. Courtine.
Michel Foucault afirma que o
“discurso é formado por um conjunto de
enunciados (suas unidades mínimas)
pertencentes à mesma formação discursi-
va (FD)” (FOUCAULT, 2008, p.132-133), ou
seja, o discurso na concepção foucaultiana
é um acontecimento que só pode ter seus
sentidos apreendidos através da reconsti-
tuição das condições de produção que
possibilitaram sua emergência. Como ob-
serva Foucault (2010), a produção discur-
siva se dá dentro de um sistema de con-
trole e delimitações que acontecem por
meio de três principais procedimentos:
separação, interdição e a vontade de ver-
dade. Então, podemos questionar: o que
define o que pode ser dito sobre o Guaraná
Jesus? Qual o já-aí que irrompe na super-
fície desse discurso identitário e permite
que este produto seja reconhecido como
marca da cultura maranhense?
A história da criação do Guaraná
Jesus nos permite compreender que o fato
de este produto ter sido criado no Mara-
nhão aparece como “evidência” da cons-
trução discursiva do guaraná como ícone
do Maranhão, ou seja, é um acontecimento
histórico que define o que cada sujeito
“sabe” e “pode ver” desse discurso em
determinada situação, é o pré-construído,
um princípio da formação desses discur-
sos que edificam o Guaraná Jesus como
ícone cultural. Assim, através de uma aná-
lise, que não descarta a heterogeneidade
discursiva, entendemos como os efeitos de
sentido que constroem as identidades são
historicamente constituídos e como outras
vozes surgem na voz do sujeito enunciatá-
rio de dado discurso.
O enunciado, segundo Foucault
(2008), não pode ser confundido com uma
frase, uma proposição e um ato de fala
(speech act), pois se constitui como "uma
função que cruza um domínio de estrutu-
ras e de unidades possíveis e que faz com
que apareçam, com conteúdos concretos,
no tempo e no espaço" (FOUCAULT, 2008,
p. 98). O enunciado, como acontecimento
que não se esgota nem na língua nem em
seu sentido (FOUCAULT, 2008, p.32), esta-
rá sempre filiado às relações históricas
que o perpassam e a um campo de memó-
ria, o que permitirá a existência de liga-
ções, transferências e identificações.
Conforme marcado anterior-
mente, com as transformações operadas
pela globalização, em especial no campo
das tecnologias da informação, novas
mídias formaram novos espaços discursi-
vos e com eles novas formas de interlo-
cução, interação e construção de identi-
dades apareceram. A convergência e o
“sentimento de nós” (GREGOLIN, 2008)
resultantes de novas formas de interação
fazem insurgir o ciberespaço como novo
espaço de práticas discursivas de produ-
ções identitárias interessantes para pes-
quisadores da AD.
Das garrafas ao youtube: língua, dis-
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curso e identidades na publicidade do
Guaraná Jesus
Nesta seção, com base nos con-
ceitos discutidos anteriormente e na
Semiologia Histórica¹, avaliamos a produ-
ção de sentidos sobre identidades mara-
nhenses, a partir dos dizeres sobre o
Guaraná Jesus. Nestas análises nos foca-
mos na compreensão do funcionamento
dos mecanismos linguísticos e discursi-
vos que constroem um sentimento de
pertencimento no sujeito/leitor das pro-
pagandas do Guaraná, e também em veri-
ficar qual(is) o(s) lugar(es) do(s) sujeito
nos discursos que constroem o Guaraná
Jesus como marca de identidade local,
especificamente em vídeos que circulam
na internet, no site Youtube. Ou seja, jul-
gamos necessário investigar como mani-
festações culturais locais (Bumba-meu-
boi, festa de São João, pontos turísticos
maranhenses, o próprio Português falado
no Maranhão) são mobilizadas e postas
em evidência como marcas do Maranhão
através das propagandas do refrigerante,
fazendo parte da construção de identida-
des do Guaraná e do Estado. Dessa for-
ma, segue-se o princípio da dispersão
dos discursos (FOUCAULT, 2008), segun-
do o qual um discurso se faz a partir de
uma diversidade de outros discursos, em
diferentes textos, em distintos momentos
da história.
Não podemos deixar de observar
a importância da escolha das redes sociais
como foco desta campanha e sua relação
com práticas empresariais. Conforme ob-
serva Jenkins (2009, s/p), o marketing
contemporâneo não se preocupa em pro-
mover as marcas que identifiquem seus
produtos apenas. Em sintonia com o atual
momento das mídias, a publicidade busca
“criar experiências de envolvimento, de
participação e de interação para cativar
consumidores”. Os leitores e “fãs de uma
marca se cansaram de esperar que as
grandes companhias definissem o destino
de seus personagens e franquias favoritos,
iniciando a produção de suas próprias
histórias alternativas” e, por isso, campa-
nhas publicitárias têm tornado fluidas as
fronteiras entre os espectadores e os
produtores. Nesse processo, também de-
vemos atentar ao fato de que existe uma
produção incessante de identidades opera-
da nessas experiências midiáticas atuais.
Segundo Gregolin (2008), o sujeito, na
contemporaneidade, consome identidades
que lhes estão disponíveis nas formas
midiáticas. Assim, a campanha publicitária
do Guaraná Jesus vende não só um refri-
gerante, mas uma identidade, um
“sentimento de nós” (GREGOLIN, 2008),
reforçado por essa possibilidade maior de
interação via redes sociais da internet.
A utilização das redes sociais é
importante neste ponto, mas essa escolha
se articula a outros recursos. Por exem-
plo, o sujeito enunciador desse discurso,
posição ocupada por uma “associação”
entre a Coca-Cola e a Dia Comunicação
(agência responsável pela campanha),
lança mão de elementos da cultura local
que marcam essa identificação: o Centro
Histórico de São Luís; a fala dos persona-
gens marcada por variedades linguísticas
maranhenses, como – “élas!” (interjeição
que expressa espanto); “pequeno” (nome
empregado como vocativo em São Luís ou
forma de tratamento); além da música de
fundo, que se aproxima do reggae – ritmo
que tem sido constituído também como
marca da identidade ludovicense.
Notamos que sentidos da cultura
maranhense (expressões linguísticas,
símbolos da cultura popular, músicas do
repertório local etc.) são associados ao
refrigerante, e transferidos para seu
consumo. Assim, apresentamos um vídeo
“Assim, a campanha pu-
blicitária do Guaraná
Jesus vende não só um refrigerante, mas uma
identidade, um
‘sentimento de nós’.”
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que foi parte de uma peça publicitária, do
Guaraná Jesus, veiculada a partir do dia
24 de junho de 2013, nas redes sociais
oficiais (Youtube, Facebook, Twitter) do
refrigerante, televisão, mídia externa, e
em uma lata comemorativa, em edição
limitada. Nessas práticas discursivas e
não discursivas uma identidade mara-
nhense é constantemente reforçada.
Observamos também que o ví-
deo “Campanha São João - Guaraná Je-
sus 2013” (Fig. 1), elaborada e veiculada
pela agência Dia Comunicação no Youtu-
be, utiliza elementos típicos da festa juni-
na do Maranhão, como: bandeiras de São
João em cores vibrantes que se mistu-
ram ao azul e à cor rosa, que são cores
características da marca anunciada;
espectadores e brincantes das festas
juninas e o próprio Boi, do Bumba-meu-
boi, dançando uma música que se asse-
melha a um tipo de música não específica
do São João maranhense, mas sim do
nordeste como um todo, o forró pé-de-
serra. Nessa materialidade sonora uma
memória se instaura e faz diálogos com a
memória do que é ser nordestino, abrindo
a possibilidade do local se manifestar no
que é mais regional. No lado esquerdo do
vídeo, a marca “Coca-Cola Brasil” aparece
do começo ao fim como uma marca d’água.
Um carimbo marcando o Guaraná Jesus
como um território local já incorporado
pela empresa global.
O São João é uma festa popular
no Maranhão que se diferencia das festivi-
dades que ocorrem no mês de junho em
outros estados em razão de sua diversida-
de de danças e apresentações artísticas
(cacuriá, bumba-meu-boi, tambor de cri-
oula, dança portuguesa, etc). Esse contexto
específico no qual foi produzido esse con-
junto de enunciados/elementos verbais e
não verbais tem também como elementos
característicos a devoção e alegria do
público e dos brincantes que assistem e
participam, as ornamentações da festa
também se destacam pela diversidade de
cores e produção minuciosa.
Pensando nesse contexto nota-
mos na propaganda a retomada dessa
memória da festa junina maranhense como
época de alegria e encantamento na qual o
Guaraná Jesus aparece como elemento
que evoca não só o consumo, mas a união
em primeiro plano. Podemos analisar ainda
nessa propaganda a relação entre corpo,
identidade e discurso, mais especifica-
mente na mesma imagem final do vídeo.
Se considerarmos o conceito
foucaultiano de práticas discursivas como
“conjunto de regras anônimas, históricas,
sempre determinadas no tempo e no es-
paço, que definiram, em uma dada época e
para uma determinada área social, econô-
mica, geográfica ou linguística, as condi-
ções de exercício da função enunciati-
va” (FOUCAULT, 2008, p.136), podemos
dizer então que o corpo também é discur-
so.
Nesse vídeo do Guaraná Jesus,
de 2013, notamos que o corpo (palma da
mão – Fig. 2) aparece como uma das ma-
terialidades discursivas não-verbais. A
mão aparece na propaganda como marca
de identidade, mas por que não um rosto?
O anúncio do refrigerante silencia uma
das marcas mais comuns de identidade do
sujeito, o rosto, usado para “reconhecer
de imediato uma identidade, distinguir os
indícios que autentificam uma pessoa,
Figura 1 - Vídeo “Campanha São João - Guaraná
Jesus 2013” (00:00). Fonte: Dia Comunicação,
Figura 2 - “Campanha São João - Guaraná Jesus
2013” (00:19). Fonte: Dia Comunicação, 2013.
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indicar sem erro ‘quem é quem’, uma vez
apagado os nomes e os primeiros aspec-
tos” (COURTINE; VIGARELLO 2006 apud
MILANEZ, 2009, p. 217)². Enfim, no lugar
de um rosto o que funciona como materi-
alidade discursiva central nessa peça é
uma mão.
Nesse caso, o foco dos sentidos
enunciados no vídeo não está na identifi-
cação de um sujeito, em particular, mas
em uma letra “m” maiúscula desenhada
nas linhas da mão. Dessa forma a identifi-
cação se constrói de forma mais abran-
gente e menos pessoal, pois não tem
como escopo um único indivíduo, ela
compreende a marca proeminente do
Guaraná Jesus publicizando-a como o
símbolo maior de identificação cultural
do estado do Maranhão.
O M da imagem, além criar essa
identificação do refrigerante ligada ao
estado maranhense, também remetea
uma memória, inscrita em uma prática
muito antiga, a quiromancia, leitura feita
a partir das linhas da palma das mãos.
Essa memória reforça-se quando o enun-
ciador cita “Minha vida, minha história,
meu sabor”, dialogando com a proposta
da quiromancia segundo a qual as linhas
das mãos podem indicar o destino das
pessoas, sua história e sua vida, portan-
to. Por esse viés, pode-se ler na publici-
dade que o Guaraná ou o Maranhão está
no destino do consumidor.
Considerações finais
Neste recorte da pesquisa Do
sonho cor de rosa ao sabor de viver o
Maranhão: língua, discurso e produção de
identidades na publicidade do Guaraná
Jesus, as análises permitiram-nos eviden-
ciar como a identidade do Guaraná Jesus
vem sendo (re)construída historicamente,
além de perceber como ocorre o desloca-
mento da identidade deste produto, que
hoje é propriedade de uma empresa global
e, ao mesmo tempo, identificado como
ícone local.
Conforme observado em outras
análises, as primeiras fórmulas de publici-
dade do Guaraná, nos primeiros rótulos
feitos pelo seu próprio inventor, vendia-se
ao enunciatário uma bebida de proprieda-
des médicas, que mais se parecia com um
remédio, apoiando-se em um discurso
médico que tinha sua ancoragem na mate-
rialidade verbal. Hoje, a campanha publici-
tária do refrigerante vale-se da conver-
gência de diferentes mídias e de recursos
discursivos sofisticados aliando o verbal e
o não-verbal, o ‘real’ e o virtual, na aproxi-
mação entre enunciador e enunciatário. A
mídia mobiliza elementos linguísticos
(como pronomes possessivos “minha”,
“meu”), imagéticos (centro histórico de
São Luís e festa de São João nos vídeos) e
musicais para reforçar a marca Guaraná
Jesus como emblema da identidade local,
na peça publicitária, e para legitimar a
identidade e tradição do produto no Esta-
do do Maranhão.
Esse movimento discursivo além
de (re)construir a identidade do produto,
constrói também uma identidade para o
maranhense, ou seja, o que está à venda
não é apenas um refrigerante, mas um
valor, a identidade do maranhense torna-
se um produto também. A emergência
dessa identidade surge de uma rede de
significações que emerge com fatores
como a globalização, movimento pensado
inicialmente como o responsável por
transformar a sociedade em uma grande
aldeia, tornando as culturas homogêneas.
Entretanto, conforme Hall (2008), a glo-
balização forçou as sociedades a demar-
carem suas identidades. Por meio desse
movimento, artefatos como o Guaraná
Jesus são levados a funcionar como sím-
bolos de identidades locais.
Pudemos identificar, também,
pela a análise da peça publicitária de co-
memoração à festa de São João de 2013,
a presença de imagens simbólicas da
festa junina do Maranhão, junto às quais o
Guaraná Jesus também figura como um
produto representativo da cultura mara-
nhense. Desse modo, a propaganda não
apenas recita símbolos da cultura mara-
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Página 11 O Corpo
nhense, mas também cria uma identifica-
ção com o consumidor maranhense, pro-
movendo o espaço local, e o refrigerante,
dentro de um mercado maior, o cenário
global, o que atrai, consequentemente,
turistas para o estado e novos consumi-
dores para o Guaraná Jesus.
NOTAS
¹ Teoria semiológica mobilizada para dar
conta da variedade de materialidades discursivas abarcando todas as especifi-
cidades semiológicas sem perder-se da
dimensão social, histórica e cultural, bem
como da problematização do sujeito. Se-
gundo Gregolin (2011), a análise do dis-
curso começa a voltar-se para a proble-
matização dos seus objetos de estudo
com os trabalhos de Courtine e também
com Pêcheux, em alguns de seus traba-
lhos, como o ensaio O papel da memória
(1999).
² COURTINE, J.; VIGARELLO, G. Identificar
traços, indícios, suspeitas. In: CORBIN, A.;
COURTINE, J.; VIGARELLO, G. (Ed.). A Histó-
ria do corpo: as mutações do olhar. Pe-
trópolis: Vozes, 2006. v. 3, p. 341-361.
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percurso dos gêneros do discurso pu-
blicitário: uma análise das propagandas
da Coca-Cola. São Paulo: Cultura Acadê-
mica, 2009.
DIACOMUNICAÇÃO. Campanha São João -
Guaraná Jesus, 2013. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=jNcB
zQ1odMk>. Acesso em: 14 jul. 2015.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do sa-
ber. Tradução: Luiz Felipe Baeta Neves.
7.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2008.
______. A ordem do discurso. São Paulo:
Loyola, 1999.
FERNANDES, Cleudemar. Análise do Dis-
curso: reflexões introdutórias. Goiânia:
Trilhas Urbanas: 2005.
GOMES, Roberta. O sabor de São Luís. O
Estado do Maranhão, São Luís, 08 set.
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GREGOLIN, Maria do Rosário Valencise.
Análise do discurso e mídia: a
(re)produção de identidades. Comunica-
ção, mídia e consumo. São Paulo v.4, n.11,
p.11-25, 2007.
______. Identidade: objeto ainda não iden-
tificado? Estudos da Lingua(gem). Uni-
versidade Estadual do Sudoeste da Bahia,
Vitória da Conquista. v.6, n.1, p.81-97,
2008.
HALL, S. A identidade cultural na pós-
modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1997.
JENKINS, Henry. Cultura da convergên-
cia. São Paulo: Aleph, 2009.
MARTINS, José Reinaldo. São Luís da
Belle Époque na visão de Gaudêncio
Cunha. O Estado do Maranhão, São Luís,
08 set. 2011. p. 22-23.
MILANEZ, Nilton. Corpo cheiroso, corpo
gostoso. In: Acta Scientiarum: Language
and Culture, v.31, n.2, 2009, p. 215-222.
MONICA DA SILVA CRUZ: DOUTORADO E MESTRADO EM LINGUÍSTICA E LÍNGUA PORTUGUESA pela UNIVERSI-
DADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO (UNESP/ARARAQUARA). POSSUI GRADUAÇÃO EM
LETRAS PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO (1997). ATUALMENTE É PROFESSORA ADJUNTA, NÍVEL
IV, DO DEPARTAMENTO DE LETRAS, PROFESSORA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO E INSTITUIÇÕES DO
SISTEMA DE JUSTIÇA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO (UFMA) E PROFESSORA DO PROGRAMA DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS (UFMA). Currículo Lattes: Clique Aqui!
THAYANE SOARES DA SILVA: MESTRANDA EM LETRAS PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO (PGLETRAS -
UFMA) E LICENCIADA EM LETRAS (LÍNGUA PORTUGUESA, LÍNGUA INGLESA E RESPECTIVAS LITERATURAS) PELA MESMA
INSTITUIÇÃO (2014). Currículo Lattes: Clique Aqui!
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Página 12 O Corpo
Dica de O Corpo
Para acessar, clique na imagem acima.
Foucault esteve na Bahia, em 1976, na Faculdade de Filosofia na UFBA e proferiu sobre as malhas que tecem o poder nos nossos tem-
pos. Discutir sobre as redes dos discursos, entre sujeitos e poderes, é celebrar a voz de Foucault, que ecoou em meio a um sufoca-
mento de plena ditadura naquela época. Queremos com o I Encontro Foucault e Discurso na Bahia. Outras palavras: o nó na re-
de retornar à história do sujeito cotidiano para reencontrar novas formas de atualidade e fatos do discurso contemporâneo que evo-
cam a coragem dos dizeres e das imagens, hoje, 40 anos depois, em 2016. O convite a um Encontro, em nosso caso, é a festividade de
um Reencontro de Grupos de pesquisa que problematizam as experiências discursivas de Michel Foucault nas Universidades Baianas
e seu entrelaçamento com Universidades de norte a sul, em especial, nesta ocasião, com o GEADA – Grupo de Estudos de Análise do
Discurso de Araraquara, da UNESP, e o CIDADI – Círculo de Estudos em Análise do Discurso, da UFPB. A rede entre Grupos de Pesqui-
sas é, portanto, o nó que acolhe o laço dos saberes. A possibilidade de se dizer de outra maneira são as palavras que furam o espaço
do território Baiano atravessando todo o Brasil. O I Encontro com Foucault na Bahia é o lugar da malha de vontades de saber entre
o LABEDISCO – Laboratório de Estudos do Discurso e do Corpo, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e do LINSP – Lingua-
gem, Sociedade e Produção de Discursos, na UEFS - Universidade de Feira de Santana, no quadro dos trabalhos do Programa de Pós-
Graduação em Estudos Linguísticos, o PPGEL. O enredamento dos dizeres em instâncias midiáticas, literárias, jurídicas, históricas e
educacionais são as marcas do intercâmbio desse Encontro Baiano para pesquisadores, estudantes e estudiosos das Outras Pala-
vras que Michel Foucault nos dá a possibilidade de dizer. É nessa orla do discurso que desejamos encontrar vocês nos dias 20 e 21
de outubro na UEFS em Feira de Santana, na Bahia.
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Página 13 O Corpo
Atualmente, a ciência jurídica impõe aos estudantes, juristas e acadêmicos da área uma análise que consideramos superfici-
al e largamente pragmática. O estudo das leis, da jurisprudência e das doutrinas fixa-nos ao objeto jurídico sem questioná-lo no interi-
or de outras ciências ou até mesmo em relação aos processos históricos de sua formação. A partir da análise das materialidades
jurídicas sob a perspectiva discursiva de Michel Foucault, torna-se factível uma pesquisa profunda sobre os processos (históricos,
políticos) que levam à constituição de um saber jurídico. O projeto tem relevância a partir do momento que incita o acadêmico da
área ao aprofundamento do saber jurídico em dimensões filosóficas, e portanto, questionadoras. No interior dos estudos Foucaultia-
nos sobre o funcionamento das categorias jurídicas, a pesquisa leva em conta: sua constituição, seu (re)aparecimento no interior da
história, seus efeitos de poder e sua validação em regimes de verdade na sociedade.
Michel Foucault (1926-1984), com sua vasta e multifacetada obra, renovou as possibilidades teóricas das ciências humanas
ao criticar nossa visão naturalizada da história, do corpo, da sexualidade, da soberania, do direito e do poder. Ele propôs novas formas
de construção de estratégias de poder, de verdade e de subjetividade, constitutivas da modernidade. Embora sua ênfase tenha s ido
sempre a compreensão da construção dos dispositivos institucionais, com seus saberes e suas práticas de poder, o legado da obra
problematizou a história do nosso presente, suas evidências estabelecidas. Seus estudos foram particularmente influentes e, de certa
forma, mudaram a maneira como concebemos saberes ligados à prisão e à criminologia, às práticas judiciárias, ao hospício e à psi-
quiatria, à sexualidade e à psicanálise.
Foucault remodelou nossa forma de compreender as instâncias sociais, agora vistas a partir de um novo conceito de poder.
Múltiplas relações de poder constituem o corpo social e o poder só existe mediante a produção da verdade. A produção da verdade
parte de uma rede social. Os indivíduos numa determinada sociedade são constituídos por redes de poder e de saber: “os discursos
verdadeiros trazem consigo efeitos específicos de poder”. Foucault destaca as práticas de poder, antes mesmo que o Estado, as práti-
cas de encarceramento, antes mesmo que as prisões, as práticas de segregação dos loucos, antes mesmo que os hospitais psiquiátri-
cos. Para ele, portanto, não há práticas sociais sem um determinado regime de racionalidade e de verdade por elas engendrado. Tal
relação não é diferente nas práticas jurídicas, e é a partir delas que o autor chega aos seus conceitos, explicando o funcionamento da
sociedade (corpo social) na atualidade.
Delineia-se, em sua obra, uma não-identidade entre Estado e poder, não para minimizar o papel do Estado nas relações de poder
existentes na sociedade, mas demonstrar que o Estado não detém o poder e sobre ele não tem privilégios. Na verdade, o poder não
existe, existem práticas ou relações de poder, que são constitutivas do corpo social. Foucault recusa, assim, as representações jurídi-
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Página 14 O Corpo
cas do poder e o exercício do poder como violência e repressão. A partir dessas relações de poder e de saber, podemos chegar às
condições de possibilidade e de existência de determinadas categorias jurídicas sem necessariamente buscar sua origem, mas questi-
onar, assim como fez Foucault na “A Arqueologia do saber”: “por que este e não outro em seu lugar?”.
Foucault propõe, assim, uma analítica ascendente do poder que pretende observar o funcionamento concreto das redes de
poder em nossa sociedade, numa perspectiva minuciosa, objetivando os mecanismos infinitesimais, as técnicas, os procedimentos, os
métodos e jamais a ideologia ou o discurso da soberania. Foucault não nega a importância dos discursos e dos saberes, mas ele julga
que antes de olharmos para as grandes formações culturais de nossa época, devemos prestar atenção às técnicas concretas de for-
mação e de acumulação do saber, que são, na verdade, métodos de observação, de registro, de inquérito e de pesquisa.
Assim, a partir do olhar sobre as minúcias e as práticas cotidianas no interior de uma história quase “desprezada” podemos
observar as redes de poder, de saber e a constituição de verdade(s) jurídica(s) em todas as esferas sociais.
O objetivo deste projeto de pesquisa é analisar a aplicação do Direito a partir das práticass jurídicas atravessadas de categori-
as estudadas por Michel Foucault. Este pensador francês elaborou ricas teorizações para se entender a constituição de verdade(s) no
interior da história e as relações de poder e de saber nela desenvolvidas, as quais produzem os chamados sujeitos de direito, cerne
dos estudos em torno da teoria do Direito.
Componentes:
Samene Batista Pereira Santana - Coordenadora do grupo de pesquisa Labedire/Fainor, pesquisadora do PPGMLS/Labedisco/UESB
Jorge Raphael Rodrigues de Oliveira Cotinguiba (Fainor/Pivic)
Rafaela Pacifico Carvalho (Fainor/Pivic)
Rahíssa Azevedo Gomes (Fainor/Pibic)
Raquel Fróes Borges (Fainor/Pivic)
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Página 15 O Corpo
Layanne Mussy: Sabe-se da im-
portância do psicólogo estar pre-
sente juntamente com outros pro-
fissionais na relação e cuidado do
paciente “adoecido”, elevando a
importância dos aspectos psicos-
sociais, integrando a doença e o
doente na totalidade do ser, como
uma unidade: mente, corpo e senti-
mento. Qual a visão da psicologia
sobre o processo de adoecimento
no contexto hospitalar?
Ana Cândida Lôbo: A doença é uma
consequência de um desequilíbrio,
de alguma alteração no funciona-
mento normal do indivíduo, seja
físico ou mental. Inicialmente o pa-
ciente internado chega com uma
demanda física a qual deseja se
livrar por meio de cuidados e tera-
pêuticas médicas. Porém o psicólo-
go como profissional de saúde e
membro da equipe multidisciplinar,
ofertará ao paciente uma escuta da
subjetividade desta demanda física
inicial, identificando e mostrando ao
mesmo o sentido da doença, quais
de suas questões internas podem
estar sendo causa, consequência,
desencadeador, ou manutenção des-
te adoecer. Há uma corrente psi-
cossomática que afirma que todas
as doenças são de etiologia psíquica,
exceto as de mau formação congêni-
ta, porém estas trarão significativas
implicações psicológicas e emocio-
nais. Sendo causa ou consequência,
não importa! O que importa é com-
preender que toda e qualquer doen-
ça possuem significativas questões
psicológicas e emocionais que preci-
sam ser identificadas, interpretadas
e elaboradas, pois há um efeito dire-
to dos afetos sobre o corpo.
Layanne Mussy: Sendo a doença
uma manifestação da subjetividade
psíquica, podemos pensar na doen-
ça como uma via de acesso as
questões internas do indivíduo, co-
mo uma linguagem, um “algo” a ser
dito?
Ana Cândida Lôbo: Com certeza!
Groddeck já afirmava que “a doença
é o caminho para o conhecimento
de si”, pois a partir dela podemos
ter acesso ao que o indivíduo es-
conde de si, ou que não dá conta de
trazer a consciência, e a partir do
sintoma físico há uma manifestação
psíquica que traz uma mensagem a
ser decifrada, como se a doença
fosse uma linguagem, uma comuni-
cação do indivíduo sobre suas do-
res e conflitos internos que não
conseguem expressar e elaborar
por outras vias. A linguagem verbal
humana não dá conta de traduzir
exatamente tudo que o indivíduo
pensa, sente, fantasia, teme, deseja,
LAYANNE MUSSY ENTREVISTA ANA CÂNDIDA LÔBO
Domínios do Adoecimento e
Conhecimento de Si
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Página 16 O Corpo
reprime, ou seja, ela por si só não
é capaz de exprimir, de expor todos
os pensamentos e sentimentos do
indivíduo, por isso a linguagem se
apresenta em diversas outras for-
mas e meios, sendo o corpo um
deles. O ser humano pode fazer uso
da sua doença como uma lingua-
gem para expressar suas experi-
ências subjetivas, seus conflitos,
suas dores e assim demandar aju-
da. Muitas vezes o indivíduo não
tem consciência desta forma de
linguagem, sendo que para ele um
sintoma orgânico é algo objetivo,
que ele vê, sente no corpo e quer
se livrar. Porém este sintoma or-
gânico está inter-relacionado ao
mundo simbólico e experiências
subjetivas do indivíduo e que tem
muito o que revelar sobre si mes-
mo.
Layanne Mussy: Observa-se que
as pessoas diante de dificuldades e
conflitos do dia-a-dia buscam mei-
os de manifestação e expressão
destas dores, seja no uso e abuso
de vícios, atos compulsivos, pro-
cesso de somatização, entre outros.
Tais meios quando identificados são
vistos como sintomas a serem deco-
dificados que proporcionam acesso
ao inconsciente, ao que o indivíduo
quer e precisa dizer, porém não dá
conta de se expressar pela via cons-
ciente e verbal. Como se dá este
processo?
Ana Cândida Lôbo: Ao longo da vida
o indivíduo vai formando e estrutu-
rando suas crenças, valores, identi-
ficações. Todas estas terão signifi-
cados individuais e peculiares que
podem ser representados por meio
de símbolos. Estes são um meio do
qual o inconsciente se dirige a cons-
ciência. É quando uma experiência
interior é objetivada em objetos do
mundo externo e através deles per-
cebe-se a manifestação simbólica
do psiquismo. Os símbolos não são
universais, mas sempre relativos e
individuais. O corpo é um símbolo da
mente. Ele fala. Manifestamos nos-
sas atitudes e sentimentos por mo-
vimentos e gestos de maneira tão
precisa que muitas vezes os outros
nos reconhecem melhor pelos ges-
tos do que por nossas palavras. E a
doença é um símbolo que se con-
cretiza, se apresenta por meio dos
sintomas físicos e que para cada
paciente estes possuem um signifi-
cado individual, condizente com sua
subjetividade. Na medicina, o sinto-
ma está ligado à manifestação de
uma doença no sentido biológico,
fisiológico. Apresenta uma relação
de causa e efeito sendo este último
o próprio sintoma, o qual o médico
visa eliminar de maneira objetiva,
com tratamentos específicos e me-
dicamentos. Os sintomas são vistos
como partes de uma doença, e a
remoção destes como caminho à
cura. Na psicologia, o sintoma é a
concretização da subjetividade,
possui um sentido e está direta-
mente ligado à experiência de vida
do paciente. É a partir da observa-
ção do sintoma da medicina no ân-
gulo subjetivo que o indivíduo em-
presta sentido e significado ao es-
tar “doente”. Além disso, o sintoma
é impositivo, não há controle cons-
ciente sobre sua expressão, ou se-
ja, independe da vontade consciente
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Página 17 O Corpo
do indivíduo. É uma representação
de algo recalcado que encontra,
por exemplo, um meio de se apre-
sentar na descompensação fisioló-
gica.
Layanne Mussy: Para todo ser
humano o processo de adoecer
possui uma função, uma razão no
seu desencadeamento e manifesta-
ção. Muitas pessoas só olham para
si mesmas, só refletem sobre o
que são, sentem e pensam, quando
estão diante de indícios de estar
doente ou quando a doença já está
instalada. Sendo a doença uma lin-
guagem, como entendê-la? Como
compreender seu discurso?
Ana Cândida Lôbo: A doença funci-
ona como uma linguagem num pro-
cesso de comunicação do inconsci-
ente. Por meio dela, o indivíduo pode
ter acesso a sua subjetividade, tra-
zendo a consciência por meio da
interpretação, os seus conflitos in-
ternos e assim poder elaborá-los.
Mas para isso é primordial que o
indivíduo deseje a busca deste senti-
do, do que tal sintoma ou doença
pode estar representando interna-
mente e assim compreendendo o
seu processo de adoecer, deixe vir à
tona as questões internas mal ela-
boradas. A doença é um sinal de
algo inconsciente que pode ser deci-
frado dando sentido e significado e,
consequente a esta elaboração, o
indivíduo poderá estagnar ou sanar
a doença. Ao contrário disto, se vi-
ver a doença sem elaborá-la, pode-
rá chegar à cronificação e até a
morte. É primordial observar o sen-
tido da doença na vida das pessoas,
pois para cada indivíduo a doença
tem um significado, um sentido,
uma função e um destino diferente.
Muitas vezes a doença é escolhida
pelo sujeito para projetar aquilo
que ele desconhece ou nega existir
em si mesmo, e a busca do sentido
da doença é a busca de um enfren-
tamento consigo próprio. A doença
proporciona ao indivíduo a possibili-
dade de reflexão sobre sua vida, o
que fez, deixou de fazer e o que ain-
da poderá fazer. É um momento de
conscientização e revisão de sua
trajetória de vida e, a partir desta
reflexão, poder realizar mudanças.
LAYANNE MUSSY: POSSUI GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA (2008) PELA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊN-
CIAS - FTC. ATUALMENTE ATENDE EM CONSULTÓRIO PARTICULAR. É INTEGRANTE DOS GRUPOS DE PESQUISA LA-
BEDISCO - LABORATÓRIO DE ESTUDOS DO DISCURSO E DO CORPO, E PSINEMA: CORPO, AUDIOVISUALIDADES,
PSICANÁLISE E ANÁLISE DO DISCURSO. OS ASSUNTOS DE EMPENHO E QUE CONSTITUEM SUAS INVESTIGAÇÕES SÃO
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ANA CÂNDIDA LÔBO: PSICÓLOGA CLÍNICA E HOSPITALAR, ESPECIALISTA EM PSICOLOGIA HOSPITALAR PELO
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA; PSICÓLOGA HOSPITALAR DO HOSPITAL UNIMEC; DOCENTE E SUPERVISORA
DE ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA HOSPITALAR DA FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU – VITÓRIA DA CON-
QUISTA – BA. CURRÍCULO LATTES: Clique Aqui!
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Página 18 O Corpo
Dica de O Corpo
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Página 19 O Corpo
Dica de O Corpo
Assista a aula “A Formação e Constituição do Sujeito” ministrada pela
Profa. Drnda. Cecília Barros-Cairo (PPGMLS/Labedisco/UESB/FAPESB)
no I Encontro do Ciclo de Estudos:
"Corpo e Audiovisual: Aportes Teóricos para Estudos em Análise do Discurso".
Para acessar, clique na imagem abaixo.
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Leitura do livro “MICHEL FOUCAULT: A LITERATURA E AS ARTES”
Organização: Philippe Artières
Dica de O Corpo
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O corpo é discurso
Conselho Editorial Internacional
Beatriz de Las Heras (Universidad Carlos III de Madrid)
Jean-Jacques Courtine (University of Auckland)
Martha Guadalupe Loza Vazquez (Universidad Autônoma de Guadalajara)
Philippe Dubois (Sorbonne Nouvelle – Paris 3)
Conselho Editorial Nacional
Adilson Ventura da Silva (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Amanda Batista Braga (Universidade Federal da Paraíba)
Anderson de Carvalho Pereira (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Antônio Fernandes Júnior (Universidade federal de Goiás)
Conceição de Maria Belfort de Carvalho (Universidade Federal do Maranhão)
Denise Gabriel Witzel (Universidade Estadual do Centro-Oeste)
Edvania Gomes da Silva (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Elmo José dos Santos (Universidade Federal da Bahia)
Flávia Zanutto (Universidade Estadual de Maringá)
Francisco Paulo da Silva (Universidade do Estado do Rio Grande do Norte)
Ilza do Socorro Galvão Cutrim (Universidade Federal do Maranhão)
Ivânia dos Santos Neves (Universidade Federal do Pará)
Ivone Tavares Lucena (Universidade Federal da Paraíba)
Leda Verdiani Tfouni (Universidade de São Paulo)
Luzmara Curcino Ferreira (Universidade Federal de São Carlos)
Maíra Fernandes Martins Nunes (Universidade Federal de Campina Grande)
Maria do Rosário Gregolin (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho)
Maria Regina Baracuhy Leite (Universidade Federal da Paraíba)
Marisa Martins Gama-Khalil (Universidade Federal de Uberlândia)
Mônica da Silva Cruz (Universidade Federal do Maranhão)
Nádia Regia Maffi Neckel (Universidade do Sul de Santa Catarina)
Nilton Milanez (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Nirvana Ferraz Santos Sampaio (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Paula Chiaretti (Universidade do Vale do Sapucaí)
Pedro Luis Navarro Barbosa (Universidade Estadual de Maringá)
Sandra Márcia Campos Pereira (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Simone Hashiguti (Universidade federal de Uberlândia)
Vanice Maria Oliveira Sargentini (Universidade Federal de São Carlos)
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O Corpo é Discurso
é o primeiro jornal
eletrônico de
popularização
científica da Bahia.
Colaboradores
Popularização da Ciência
A pesquisa científica gera conhecimentos, tecnologias e inovações que benefi-
ciam toda a sociedade. No entanto, muitas pessoas não conseguem compreender a
linguagem utilizada pelos pesquisadores. Neste contexto, a grande mídia e as novas
tecnologias de comunicação cumprem o papel de facilitadores do acesso ao conhe-
cimento científico. Para contribuir com esse processo, em sintonia com o espírito
que anima o Comitê de Assessoramento de Divulgação Científica do CNPq, criamos
esta seção no portal do CNPq. Seja bem-vindo ao nosso espaço de popularização da
ciência e aproveite para conhecer as pesquisas dos cientistas brasileiros e os bene-
fícios provenientes do desenvolvimento científico-tecnológico.