Maria Goretti Matias Análise Social, vol. XXIII ( 9 9 ) , 1987-5.°, 1019-1044 Inventário da imprensa patronal: 1850-1970* A imprensa constitui, sem dúvida, um dos meios de informação mais poderosos nos últimos cem anos. Operários e patrões utilizaram-na fre- quentemente como órgão de defesa dos seus interesses e como veículo de divulgação de novos conhecimentos. Entre as razões que presidiram à cria- ção de jornais feitos por patrões e para patrões, algumas são constantes: a necessidade de instrução da classe, a ausência de estatísticas industriais e a discussão à volta da promulgação das pautas. Detenhamo-nos num exemplo: o Progresso Industrial, órgão da indústria portuguesa. Publicou- -se em Lisboa durante um ano, 1896-97; ao todo saíram 24 números. Diri- gido por Eduardo Coelho e M. A. Branco, contou com um notável elenco de colaboradores: Sousa Viterbo, Simões de Almeida, Esteves Pereira, Brito Aranha, Eduardo Faria. No editorial do primeiro número, saído a 15 de Fevereiro de 1896, pode ler-se: «O Progresso Industrial procurará satis- fazer plenamente a obrigação que a si próprio se impôs, porque a imprensa ocupa também o seu lugar respectivo entre os industriais e deve ser, pelo papel que lhe cabe na sociedade, a primeira, pela sua voz autorizada, a proteger, estimular e aconselhar as outras indústrias.» Tribuna dos interes- ses da indústria portuguesa, boletim dos seus progressos, indicador das suas necessidades, esta revista quinzenal, com 16 páginas, contém notícias variadas sobre a indústria nacional, novos inventos, traduções de manuais técnicos, da história industrial, exposições, correspondência, uma secção de «Bolsa industrial» e publicidade. Os artigos sobre algumas das mais importantes fábricas do País, essencialmente descritivos, são acompanha- dos de elementos estatísticos, fornecidos pelos próprios industriais, e ilus- trados com fotogravuras das oficinas, dos motores, etc. No n.° 9, Eduardo Coelho anuncia a realização de um inquérito industrial, afirmando assim responder ao «pedido de muitos assinantes». Pretendia, com esta inicia- tiva, avaliar o estado de progresso, de estacionamento ou de definhamento da indústria nos últimos cinco anos, comparativamente ao Inquérito de 1891. No número seguinte publica o questionário, constituído por 17 per- guntas, e visita duas fábricas: a Fábrica de Cimento de Portland Tejo, de A. Moreira Rato e Filhos, e a Fábrica a Vapor de Camisas, Ceroulas, Colarinhos e Punhos, de Pereira da Costa e C. a , em Linda-a-Velha. Tal como a maioria da imprensa patronal, esta revista teve uma vida curta: ao fim de um ano foi obrigada a suspender a publicação por falta de dinheiro. O balanço é amargo: «Fazer uma publicação industrial num * Este trabalho foi feito, sob a orientação da Doutora Maria Filomena Mónica, no .... âmbito do projecto «História Social da Industrialização Portuguesa». 1019
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Inventário da imprensa patronal: 1850-1970*analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223028673H6eGR4mj0Se42EH3.pdf · com 2, e, por último, ... 2 — 3 — Lisboa 4 — 1822; 1823-36;
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Maria Goretti Matias Análise Social, v o l . XXIII ( 9 9 ) , 1987-5.°, 1019-1044
Inventário da imprensapatronal: 1850-1970*
A imprensa constitui, sem dúvida, um dos meios de informação maispoderosos nos últimos cem anos. Operários e patrões utilizaram-na fre-quentemente como órgão de defesa dos seus interesses e como veículo dedivulgação de novos conhecimentos. Entre as razões que presidiram à cria-ção de jornais feitos por patrões e para patrões, algumas são constantes:a necessidade de instrução da classe, a ausência de estatísticas industriaise a discussão à volta da promulgação das pautas. Detenhamo-nos numexemplo: o Progresso Industrial, órgão da indústria portuguesa. Publicou--se em Lisboa durante um ano, 1896-97; ao todo saíram 24 números. Diri-gido por Eduardo Coelho e M. A. Branco, contou com um notável elencode colaboradores: Sousa Viterbo, Simões de Almeida, Esteves Pereira,Brito Aranha, Eduardo Faria. No editorial do primeiro número, saído a 15de Fevereiro de 1896, pode ler-se: «O Progresso Industrial procurará satis-fazer plenamente a obrigação que a si próprio se impôs, porque a imprensaocupa também o seu lugar respectivo entre os industriais e deve ser, pelopapel que lhe cabe na sociedade, a primeira, pela sua voz autorizada, aproteger, estimular e aconselhar as outras indústrias.» Tribuna dos interes-ses da indústria portuguesa, boletim dos seus progressos, indicador dassuas necessidades, esta revista quinzenal, com 16 páginas, contém notíciasvariadas sobre a indústria nacional, novos inventos, traduções de manuaistécnicos, da história industrial, exposições, correspondência, uma secçãode «Bolsa industrial» e publicidade. Os artigos sobre algumas das maisimportantes fábricas do País, essencialmente descritivos, são acompanha-dos de elementos estatísticos, fornecidos pelos próprios industriais, e ilus-trados com fotogravuras das oficinas, dos motores, etc. No n.° 9, EduardoCoelho anuncia a realização de um inquérito industrial, afirmando assimresponder ao «pedido de muitos assinantes». Pretendia, com esta inicia-tiva, avaliar o estado de progresso, de estacionamento ou de definhamentoda indústria nos últimos cinco anos, comparativamente ao Inquérito de1891. No número seguinte publica o questionário, constituído por 17 per-guntas, e visita duas fábricas: a Fábrica de Cimento de Portland Tejo, deA. Moreira Rato e Filhos, e a Fábrica a Vapor de Camisas, Ceroulas,Colarinhos e Punhos, de Pereira da Costa e C.a, em Linda-a-Velha.
Tal como a maioria da imprensa patronal, esta revista teve uma vidacurta: ao fim de um ano foi obrigada a suspender a publicação por faltade dinheiro. O balanço é amargo: «Fazer uma publicação industrial num
* Este trabalho foi feito, sob a orientação da D o u t o r a Maria F i lomena Mónica , n o . . . .âmbito do projecto «História Social da Industrialização Portuguesa». 1019
país onde existem milhares de industriais, para se chegar a obter apenasque 144 desses industriais se interessam por um jornal de especialidade, éo mesmo que estar a semear batatas numa folha de papel pardo.» Para ver-gonha dos demais, é publicada a lista dos 144 beneméritos e anunciantes,entre os quais se contavam a Associação Industrial Portuguesa, a Compa-nhia Lisbonense de Estamparia, a Companhia de Papel do Prado, Frede-rico Colares; no Porto, a Companhia Fabril do Cávado, a Fábrica de Fia-ção e Tecidos (Jacinto); a Companhia de Lanifícios em Tomar, etc.
A presente lista é o resultado de uma consulta sistemática feita nosficheiros da sala de periódicos da Biblioteca Nacional: é um inventário pro-visório, sujeito a melhorias e rectificações. Não foram consultados os catá-logos de outras bibliotecas, nem feito um exame exaustivo de todos os jor-nais indicados1. O critério utilizado foi o de considerar todos os jornaisque, no título ou subtítulo, incluíssem os vocábulos «comércio» e «indús-tria» e ainda os que, pela definição editorial, propriedade e corpo redacto-rial, fossem susceptíveis de ser identificados com a classe e os interessespatronais.
Na segunda metade do século xix era difícil separar o industrial docomerciante, o banqueiro do grande proprietário. Nem sempre foi fácilestabelecer fronteiras; em particular, a interligação entre indústria e comér-cio era notória. Como Eduardo Coelho escrevia no Progresso Industrial,em 1896, «estas duas classes têm que andar constantemente ligadas, porquenem uma nem outra pode viver de per si —o Comércio e a Indústria—,que são como que irmãos gémeos, têm fatalmente que procurar por umaunião estreitíssima o seu desenvolvimento». Só a partir dos começos desteséculo começa a demarcação a ter realidade.
Aqui fica registado um século de imprensa patronal: são, no total, 320títulos. Os limites cronológicos não são rígidos: alguns jornais iniciaram apublicação na década de 1840, interromperam-na e recomeçaram, maistarde, com novo título: nestas circunstâncias foram recenseados 9 títulos:a partir de 1960, os ficheiros são muito incompletos; depois deste ano só en-contramos quatro títulos novos. A sua distribuição cronológica por décadasé a seguinte:
185018601870188018901900
1920193 01S4Q . . . .195Q . . . .
Anos Unidades
2431335333181520521010
Como se verifica, a década que mais títulos registou foi a de 1880, com18%; em segundo lugar vem a de 1930, com 17%.
A consulta do Progresso Industrial originou informação sobre outros títulos, algunsdos quais, infelizmente, não constam nos ficheiros da BN. A sua existência ficou, no entanto,
Quanto à distribuição de títulos por locais de publicação, a capitalocupa o primeiro lugar: 60% dos títulos foram editados em Lisboa. Segue--se o Porto, com 19%; depois, os distritos de Braga e Évora, ambos com3 % , e o resto do País, com
Distribuição de títulos por distritos
•
•
tia
DlBJ
Lisboa
Porto
Braga
Évora
Resto do País
A partir da década de 1890 surgem alguns títulos por ramos de indús-tria: A Sapataria Portuguesa (1890), Jornal de Minas e da Indústria Meta-lúrgica (1892), A União, órgão da panificação, etc. É contudo com o cor-porativismo, na década de 1930, que a especialização por sectores é maisnítida: o têxtil, a moagem e a panificação, ambos com 4 títulos; a cortiçacom 3; o calçado e curtumes, as conservas, os lanifícios e a ourivesaria,com 2, e, por último, a cerâmica e construção civil, com 1 título. Jornaispublicados por empresas encontrámos quatro: Boletim Phillips, CUF,Quatros Empresas, propriedade da Fábrica de Porcelana da Vista Alegree a Revista Portuguesa de Moagem e Panificação, dirigida por João deBrito, director da Companhia Industrial Portugal e Colónias, criada em1919. 1021
A Sapataria Portuguesa é um bom exemplo deste tipo de imprensa pro-fissional. O seu primeiro número saiu em Lisboa, no dia 12 de Janeiro de1890. Fundado por iniciativa da Associação Industrial dos Lojistas de Cal-çado, apresenta-se como um jornal profissional, interessando à indústriado calçado e aos sectores afins. O redactor principal, Manuel Gomes daSilva, era proprietário de um importante estabelecimento de sapataria, naRua dos Fanqueiros, fundada em 1843. Com 6 páginas, este jornal incluíauma secção técnica, uma secção industrial, uma secção colonial, uma sec-ção associativa, notícias de exposições e publicidade. A tiragem era de 1000exemplares, 600 distribuídos em Lisboa, 200 nas províncias e os restantes200 eram enviados para o estrangeiro, colónias e Brasil. O jornal durouquatro anos, até 1894. Mais uma vez se comprova a fragilidade deste tipode imprensa.
A ficha obedeceu aos seguintes itens:
1 — Título da publicação2 — Subtítulo, definição editorial, lema3 — Local de publicação4 — Datas de publicação (início-termo)5 — Periodicidade6 — Proprietário7 — Origem da referência
1 — Anais da Sociedade Promotora da In-dústria Nacional
1 — Boletim da Associação Comercial e In-dustrial do Concelho de Cascais
1 — Braga Moderna2 — «seu comércio e sua indústria»3 — Braga4 — Junho de 19305 — Número único6 — Editor: Virgílio Ferreira da Conceição7 — BN (J.23683B)
1 — Caloiro (O)2 — Folha comercial, industrial, literária e
noticiosa3 — Lisboa4 — 18635 —6 —7 — BN (J.542M)
\ — Capital (A)2 —- Revista contemporânea dos sucessos po-
líticos, económicos, sociais e literários3 — Lisboa4 — 1886-875 —6 — Director: Cândido de Figueiredo7 —BN (J.1265A; J.504M)
1 — Carteira Biográfica (A)2 — Perfis ligeiros dos cidadãos mais distin-
tos na política, comércio, agricultura,indústria, etc.
3 — Lisboa4 — 1885-865 —6 —7 — BN (J.2551V)
1 — Casa Portuguesa (A)2 — «o seu diário na Feira das Indústrias
1 — Revista das Obras Públicas e Minas2 — Órgão da Associação dos Engenheiros
CivisLisboa1870; 1926-35Mensal
3456 —7 — BN (J.5159B)
1 — Revista Popular2 — Semanário de literatura e indústria3 — Lisboa4 — 1848-555 — Semanal6 — Propriedade: Fradesso da Silveira e Ri-
beiro de Sá7 — BN (J.348B)
1 — Revista Portuguesa2 — Mensário ilustrado de comércio, indús-
tria e turismo3 — Lisboa4 — 19255 — Mensal6 — Directores: Alberto Gomes Roque e
Santos e José Guilherme CarvalhoDuarte
1042 7 — BN (J.2777B; J.2773B)
1 —
2 —3-4-5-67-
Revista Portuguesa de Moagem e Pa-nificação
Lisboa1925-26MensalDirector: João de Brito, L.da
BN(J.27134B)
1 — Revista Semanal (A)2 — Comércio e indústria, literatura, tea-
tro, tauromaquia, desporto, etc.Lisboa1902
345 —6 —7 — BN (J.1838G; J.909M)
12-
3-4 •
5-6-
7 —
• Revista Universal Lisbonense• Ciências, agricultura, indústria, litera-tura, belas-artes, notícias e comércio
• Lisboa• 1851-57
Redactor e proprietário: S. J. Ribeirode SáBN (J.31423P; J.973 12P; J.1637 21V)
3-4 —5 —6 —
7 —
• Sapataria Portuguesa (A)• Jornal profissional interessando à in-dústria do calçado e a outras que lhesão relativas. Fundado por iniciativa daAssociação Industrial dos Lojistas deCalçado
- Lisboa- 1890-94
- Redactor principal: Manuel Gomes daSilvaBN (J.253B; J.1638 8V)
Seguros e FinançasRevista económica industrialLisboa1906-7
12345 —6 —7 — BN (J.1222M)
12-
3 -4 —5 —6 —
7 —
- Sentinela do Progresso• Segue com o título do Jornal Comer-cial
- Lisboa- 1868
- Proprietários e directores: Paulo daGama e M. S.BN (J.508M)
- Sertório• Jornal de propaganda comercial e in-dustrial