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Introdu˘c~ao a Geometria Hiperb olica Plana e · 2013. 11. 6. · Introdu˘c~ao a Geometria Hiperb olica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincar e - Parte Te orica 5

Mar 03, 2021

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Introducao a Geometria Hiperbolica Plana eatividades via o Modelo do Disco de Poincare no

software GeoGebra - Parte Teorica

Edson Agustini

Universidade Federal de Uberlandia

IBILCE - UNESPSao Jose do Rio Preto

Outubro de 2013

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Introducao a Geometria Hiperbolica Plana eatividades via o Modelo do Disco de

Poincare no software GeoGebra- Parte Teorica -

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Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica 1

Antes de Comecar...

Este texto-resumo e baseado em parte da dissertacao de Mestrado Profissional em Matematica referenciada em [1]de Inedio Arcari, sob orientacao de Edson Agustini. Todas as demonstracoes dos resultados aqui apresentados podemser encontradas nessa referencia. Essa dissertacao, por sua vez, foi baseada em diversas fontes na qual pretendeu-sedar uma visao bastante completa para um primeiro estudo sobre Geometria Hiperbolica. Sendo assim, para o leitorinteressado em mais detalhes, recomendamos fortemente sua leitura.

Neste texto vamos abordar basicamente tres assuntos:- Modelos Euclidianos para a Geometria Hiperbolica Plana;- Principais Teoremas da Geometria Hiperbolica Plana;- Trigonometria Hiperbolica.

Assim como na Geometria Euclidiana Plana, construcoes geometricas hiperbolicas sao possıveis de serem feitascom o auxılio de softwares de Geometria Dinamica, como o GeoGebra. Tais construcoes geometricas sao exercıciosmuito interessantes mas nao sao o foco dessas notas (daı o subtıtulo “Parte Teorica” que estamos adotando).

Alertamos que um curso de Geometria Euclidiana Plana com enfoque axiomatico e pre-requisito para a leituradessas notas. Vamos admitir que o leitor possui familiaridade com o sistemas axiomaticos de Hilbert e Birkhoff, quesao adotados de forma parcial (e adaptada) pelos principais autores de textos de Geometria Euclidiana Plana. Alias,uma recomendacao ao leitor entusiasta e estudioso da Geometria: procure os enunciados originais dos axiomas nossistemas de Euclides, Hilbert, Birkoff e Tarsky (que sao os principais). Trata-se de uma leitura muito instrutiva.

Por fim, recomendamos fortemente que o leitor procure estudar o desenvolvimento historico do chamado “Problemadas Paralelas”, que levou ao descobrimento das Geometrias Nao Euclidianas. Trata-se de um dos mais belos episodiosda Matematica e que teve origem na contestacao do “Quinto Postulado de Euclides”. O leitor se supreendera com otrabalho de varios matematicos importantes que ao longo de mais de 2000 anos se envolveram com esse problema.

[email protected] Universidade Federal de Uberlandia Edson Agustini

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2 Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica

Edson Agustini Universidade Federal de Uberlandia [email protected]

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Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica 3

Capıtulo 1

Modelos Euclidianos para a GeometriaHiperbolica Plana

Embora um estudo mais detalhado da Geometria Hiperbolica Plana seja objeto dos dois proximos capıtulos, cremosque uma introducao de alguns modelos, ou seja, ambientes nos quais e possıvel visualizar construcoes geometricasenvolvendo essa geometria, sera bastante util. As construcoes geometricas advindas de demonstracoes de teoremasque serao apresentados posteriormente poderao ser, em nossa opiniao, melhor compreendidas nos modelos.

Alem disso, existem alguns programas computacionais envolvendo Geometria Dinamica como, por exemplo, oGeoGebra, o NonEuclid e o Cabri-Geometre, nos quais podemos trabalhar com alguns dos modelos que citaremos, oque faz com que a compreensao acerca de tais teoremas seja consideravelmente melhorada.

O Modelo do Disco de Poincare, para a Geometria Hiperbolica, sera apresentado com um pouco mais de detalhes.Os demais modelos serao apresentados de forma bastante resumida.

1.1 O Conceito de Modelo para uma Geometria

Um modelo para um sistema axiomatico de uma geometria e um conjunto no qual podemos representar e interpretaros conceitos primitivos, em relacao aos quais os axiomas passam a ser afirmacoes aceitas como verdadeiras.

Exemplo: o Plano Euclidiano tal qual o conhecemos e um modelo para o sistema axiomatico de Hilbert (ou deEuclides) pois nele e possıvel representar ponto e reta de tal modo que os Axiomas de Hilbert passam a ser afirmacoesaceitas como verdadeiras.

Vamos usar a existencia de um sistema axiomatico para a Geometria Euclidiana e apresentar modelos para aGeometria Hiperbolica (1) que e uma geometria na qual nao vale o Quinto Postulado de Euclides e, portanto, nao valequalquer um de seus equivalentes.

Esquematicamente podemos dispor os axiomas, bem como a negacao do Quinto Postulado de Euclides, conformequadro a seguir (2):

1Veremos em capıtulo posterior um estudo resumido da Geometria Hiperbolica.2Quadro extraido do artigo “Costa, S. I. R. & Santos, S. A. “Geometrias Nao-Euclidianas”. Ciencia Hoje. Vol. 11, no. 65, agosto

de 1990, pp. 14-23.”

[email protected] Universidade Federal de Uberlandia Edson Agustini

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4 Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica

5o. Postulado No. paralelas = 1 −→ Geometria Euclidiana

Axiomas de: IncidenciaOrdem

CongruenciaContinuidade

No. paralelas > 1 −→ Geometria HiperbolicaNegacao 5o. Postulado

No. paralelas = 0 −→ Geometria ElıpticaAxiomas de: IncidenciaSeparacao

CongruenciaContinuidade

1.2 Principais Modelos

O Modelo Euclidiano do Disco de Poincare para a Geometria Hiperbolica Plana

Fixemos um disco euclidiano D de raio 1 e seja H seu interior. Usando os Axiomas de Hilbert e teoremas daGeometria Euclidiana podemos provar que:

(i) Dados os pontos nao colineares A, B e O, sendo O o centro de D, existe um unico cırculo euclidiano c que passapelos pontos A e B e intersecta o bordo de D ortogonalmente (3), conforme ilustrado na Figura 1.1 a esquerda.

D

c

D

O

B

AA BO

Figura 1.1

(ii) Se os pontos A, B e O sao colineares, entao existe uma unica reta euclidiana r passando por eles. Essa reta eortogonal ao bordo de D, conforme Figura 1.1 a direita a direita.

Pode-se provar que a interseccao nao vazia, em H, de dois cırculos distintos ortogonais ao bordo de D ocorre emum unico ponto de H. Analogamente, a intersecao nao vazia entre um cırculo e uma reta, ou entre duas retas distintas,todos(as) ortogonais ao bordo de D, tambem ocorre em um unico ponto de H.

Facamos as seguintes interpretacoes em H:Pontos: os pontos hiperbolicos sao os “pontos euclidianos” de H.Retas: as retas hiperbolicas sao interseccoes de H com um diametro de D ou interseccoes de H com um cırculoperpendicular ao bordo de D.Plano: o plano hiperbolico e a regiao H, interior de D.

Com as interpretacoes dadas acima, juntamente com a observacao previa, concluımos que a interseccao nao vaziade duas retas hiperbolicas distintas ocorre em apenas um unico ponto, permitindo verificar o primeiro axioma deincidencia de Hilbert, que diz que dois pontos distintos determinam uma unica reta.

3Isso significa que as retas tangentes a circunferencia que e bordo de D e a circunferencia c, nos pontos de interseccao dessas duascircunferencias, sao perpendiculares.

Edson Agustini Universidade Federal de Uberlandia [email protected]

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Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica 5

A nocao de “estar em”: a nocao de um ponto estar em uma reta (no sentido hiperbolico) coincide com a nocao de“estar em” no sentido euclidiano.

A nocao de “estar entre”: a nocao de um ponto estar entre outros dois pontos (no sentido hiperbolico) coincidecom a nocao de “estar entre” no sentido euclidiano.

Dado um segmento hiperbolico TU (Figura 1.2 a esquerda), sejam R e S os pontos de D que sao as “extremidades”da reta hiperbolica que contem TU. Definimos o comprimento hiperbolico d (T,U) do segmento TU por:

d (T,U) = ln

(UR · TSTR ·US

),

sendo que UR, TS, TR e US acima denota os comprimentos euclidianos dos respectivos segmentos (euclidianos) UR,TS, TR e US. O logaritmando acima e chamado de razao cruzada e observemos que ele e sempre maior do que ou iguala 1 (a igualdade ocorre quando T = U), fazendo com que d (T,U) ≥ 0.

D

S

R D

tangente a ems P

tangente a emr P

s

P

r

a

T

U

Figura 1.2

Notemos que, com essa definicao de comprimento em H, a reta, ou semirreta, hiperbolica tem comprimento infinito,pois a medida que T tende a R ou U tende a S, d (T,U) tende a infinito. No contexto geral, o segmento hiperbolicoligando dois pontos T e U e a curva em H de menor comprimento hiperbolico ligando estes pontos.

Ao contrario do comprimento hiperbolico em H, que difere do comprimento euclidiano, a medida de angulohiperbolico em H coincide com a medida de angulo euclidiano. Isso significa que, se em H, duas retas hiperbolicasr e s sao concorrentes em P, os quatro angulos que elas formam possuem medidas que coincidem com as medidasdos angulos que as duas retas euclidianas tangentes a r e s em P formam. Na Figura 1.2 a direita, α e a medida(em graus ou radianos) de um dos angulos que r e s formam, que coincide com a medida de um dos angulos que astangentes a r e s em P formam. (4)

O interior H do disco D com as definicoes e interpretacoes expostas acima e chamado de Modelo Euclidiano doDisco de Poincare para a Geometria Hiperbolica Plana. (5)

Temos, portanto, um modelo para o sistema axiomatico da Geometria Hiperbolica Plana, onde o Axioma dasParalelas de Hilbert e trocado pelo Axioma de Lobachewsky: “Por um ponto fora de uma reta existem pelo menosduas retas distintas passando pelo ponto e paralela a reta dada.” (Figura 1.3)

D

rs

P

D

rs

P

Figura 1.3

O Modelo Euclidiano do Semiplano para a Geometria Hiperbolica Plana

4Um angulo hiperbolico e definido exatamente como o angulo euclidiano, ou seja e uma figura formada por duas semi-retas hiperbolicasde mesma origem. Entretanto, o angulo hiperbolico em H possui aspecto geometrico diferente do angulo euclidiano, pois em H, o angulohiperbolico e formado por arcos de circunferencia euclidiana ortogonais ao bordo de H. O que ocorre em H e que a medida dos angulos(hiperbolicos e euclidianos-tangentes) coincidem.

5Na verdade, precisarıamos provar que todos os Axiomas de Hilbert (exceto o das paralelas) tornam-se verdadeiros em H com asdefinicoes e interpretacoes acima.

Mais especificamente:(i) considerando H como parte do plano euclidiano;(ii) utilizando os Axiomas de Hilbert para o plano euclidiano e;(iii) considerando as definicoes e interpretacoes feitas no texto;deverıamos provar, como teoremas euclidianos, que os Axiomas de Hilbert sao validos em H.

Por ser este um trabalho longo, nao faremos essas demonstracoes aqui.

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6 Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica

Consideremos um semiplano euclidiano fechado (ou seja, que contem reta fronteira). Neste modelo as retas hi-perbolicas sao semicırculos contidos no semiplano euclidiano e com centro na fronteira do mesmo, ou semirretaseuclidianas contidas no semiplano e perpendiculares a fronteira do mesmo. (Figura 1.4)

H

r

s H

sr

s¢P

Figura 1.4

Consideracoes:(i) A reta euclidiana que e fronteira do semiplano nao faz parte do “plano hiperbolico”.(ii) A nocao de distancia e diferente daquela do Disco de Poincare.(iii) A medida de angulos coincide com a medida de angulo euclidiana, como no Disco de Poincare.

Modelo Euclidiano de Klein para a Geometria Hiperbolica Plana

Neste modelo temos um disco aberto de raio 1 e as retas hiperbolicas sao cordas desse disco. (Figura 1.5)

r

s

P

Figura 1.5

Consideracoes:(i) A fronteira nao pertence ao “plano hiperbolico”.(ii) A nocao de distancia e diferente daquelas dos outros modelos de Poincare.(iii) A nocao de medida de angulo entre as retas hiperbolicas desse modelo e diferente da nocao de medida de anguloeuclidiana.

Modelo Euclidiano da Pseudo-esfera de Beltrami para a Geometria Hiperbolica Plana

A pseudo-esfera e a superfıcie obtida pela rotacao de uma curva denominada tratriz em torno de um eixo. Estacurva pode ser concebida mecanicamente do seguinte modo: consideremos um segmento AB de comprimento unitarioperpendicular ao eixo cartesiano x no ponto A, conforme a Figura 1.6. A medida que o extremo A do segmento etracionado deslocando-se pelo eixo x no sentido positivo, o extremo B, “livre” (6), descreve uma curva no plano. Essacurva e uma tratriz, cuja parametrizacao pode ser dada por:

α :]0, π

2

[−→ R2

t 7−→ (− cos (t) − ln

(tg(t2

)), sen (t)

) ,

A pseudo-esfera nao e um modelo plenamente adequado para a geometria hiperbolica, pois nao e completo, isto e,apresenta “pontos singulares” que impedem o prolongamento das “retas hiperbolicas”.

B

xA

B

A

B

A

tratrizpseudo-esfera

Figura 1.6

6Matematicamente, “livre” significa que a reta que contem o segmento AB e tangente a curva que o ponto B descreve no plano.

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Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica 7

Capıtulo 2

Principais Teoremas da GeometriaHiperbolica Plana

Tomando-se os quatro primeiros grupos de axiomas de Hilbert, a saber:

(i) Axiomas de Incidencia;

(ii) Axiomas de Ordem;

(iii) Axiomas de Congruencia;

(iv) Axiomas de Continuidade;

juntamente com a negacao do 5o. Postulado de Euclides conhecida como Postulado de Lobachewsky :

“Por um ponto nao pertencente a uma reta dada, podem ser tracadas pelo menos duas retas distintas que naointersectam a reta dada”,

temos o sistema axiomatico que origina a chamada Geometria Hiperbolica.

A Figura 2.1 ilustra o Postulado de Lobachewsky no Modelo do Disco de Poincare. (1)

r

ssʹ

P

Figura 2.1

A semelhanca da Geometria Euclidiana, temos que ponto, reta e plano na Geometria Hiperbolica sao conceitosprimitivos, portanto, nao definidos.

2.1 Paralelismo na Geometria Hiperbolica

Proposicao 2.1 Sejam r uma reta e P um ponto nao pertencente a r.

(1) Entao, existem infinitas retas que passam por P e nao intersectam r.

(2) Consideremos:

C1: conjunto das retas que passam por P e nao intersectam r;

C2: conjunto das retas que passam por P e intesectam r.

Entao, existem exatamente duas retas distintas s e s′ de C1 que determinam no plano hiperbolico dois pares R1 eR2 de regioes angulares opostas pelo vertice P de modo que Ci = Ri, i = 1, 2.

Com o intuito de ilustrar os conjuntos C1 e C2, bem como as regioes angulares R1 e R2 temos a Figura 2.2. Nela,os setores angulares opostos pelo vertice P rotulados pelos numeros 2 e 4 correspondem ao conjunto C1. O interiordos setores angulares opostos pelo vertice P rotulados pelos numeros 1 e 3 correspondem ao conjunto C2.

1Procuraremos, sempre que possıvel, fazer as construcoes geometricas e ilustracoes vinculadas a Geometria Hiperbolica utilizando oModelo do Disco de Poincare.

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8 Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica

ssʹ

P

r

2

3

4

1

Figura 2.2

Observemos que, embora estejamos chamando os conjuntos R1 e R2 de pares de regioes angulares, eles nao possuema mesma natureza. De fato, R1 e um par de setores angulares (2) opostos pelo vertice e, portanto, e um conjuntofechado no plano hiperbolico, tendo por fronteira os angulos opostos pelo vertice P formados pelas retas s e s′. Ja R2

e a reuniao do interior de um par de setores angulares opostos pelo vertice com o ponto P. Portanto, R2 nao e umconjunto fechado (e nem aberto) no plano hiperbolico. Sua fronteira, que tambem e constituida pelos angulos opostospelo vertice P formados pelas retas s e s′, nao esta contida em R2.

Por fim, observemos que a decomposicao do plano hiperbolico em R1 e R2 nao e disjunta pois R1 ∩ R2 = P.

Devido a infinidade de retas que passam por P e nao intersectam r, iremos alterar a definicao de retas paralelasproveniente da Geometria Euclidiana.

Sejam r uma reta e P um ponto nao pertencente a r. As retas s e s′ da Proposicao 2.1, chamamos de retasparalelas a r por P, enquanto que as demais retas que passam por P e nao intersectam r chamamos de retashiperparalelas a r por P.

Proposicao 2.2 Sejam r uma reta e P um ponto nao pertencente a r. Entao, as duas retas paralelas a r pelo pontoP determinam angulos congruentes com o segmento perpendicular a reta r baixado de P. Alem disso, os anguloscongruentes mencionados sao agudos.

Consideremos P um ponto nao pertencente a uma reta r dada e as retas s e s′, passando por P e paralelas a r. Auma das retas paralelas, s ou s′, chamamos de reta paralela a r por P no sentido positivo. A outra chamamosde reta paralela a r por P no sentido negativo.

Deste modo, uma reta paralela a uma reta dada por um ponto em um determinado sentido e unica.Seja Q o pe do segmento perpendicular a r baixado de P. Os angulos agudos enunciados na Proposicao 2.2 (3) sao

chamados de angulo de paralelismo entre s e r em P e de angulo de paralelismo entre s′ e r em P. (Figura2.3).

aaʹ

Q r

P

s sʹ

A B

Figura 2.3: APQ e angulo de paralelismo entre s′ e r em P, enquanto que QPB e angulo de paralelismo entre s e r

em P.

Como existem exatamente duas retas s e s′ paralelas a r por P, existem exatamente dois angulos de paralelismo α

e α′ em P (que sao congruentes), sendo α determinado por s e α′ determinado por s′. Desta forma, podemos associarcada angulo de paralelismo a um sentido de paralelismo e vice-versa.

A proxima proposicao sera util para simplificar algumas das definicoes envolvendo paralelismo.

Proposicao 2.3 (1) Seja s reta paralela a r por P em um determinado sentido. Entao, a reta s e paralela a r nessemesmo sentido por qualquer um de seus pontos.

(2) Se s e paralela a r, entao r e paralela a s.(3) Se as retas s e t sao paralelas a reta r em um determinado sentido, entao a reta s e paralela a reta t.

2Um setor angular e a reuniao de um angulo nao raso com seu interior.3Um desses angulos e formado por uma das semirretas de s com origem em P, enquanto que a outra semirreta tem origem em P e passa

por Q. O outro angulo de paralelismo e formado pela mesma semirreta com origem em P passando por Q e por uma das semirretas de s′

com origem em P.

Edson Agustini Universidade Federal de Uberlandia [email protected]

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Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica 9

O Item (1) da proposicao acima permite-nos livrar do ponto P em algumas das definicoes envolvendo paralelismoque temos ate agora, ou seja: dizemos que a reta s e paralela a reta r em um determinado sentido quando s forparalela a r neste mesmo sentido por qualquer um de seus pontos. Tambem e usual omitir a expressao “em umdeterminado sentido”, ficando implıcito que quando se diz “s e paralela a r” significa que s e paralela a r em um doisdois possıveis sentidos.

Ja o Item (2) significa que a propriedade simetrica envolvendo paralelismo e valida.Finalmente, o Item (3) significa que vale a propriedade transitiva na nocao de paralelismo em um determinado

sentido.

2.2 Pontos Ideais e Triangulos Generalizados

Pontos Ideais

Dizemos que duas semirretas s1 =−−→OA e s′1 =

−−−→O′A′ sao paralelas em um mesmo sentido quando suas

retas suportes s e s′ sao paralelas e, alem disso, qualquer semirreta s′′1 =−−→OA′′ contida no interior do setor angular

determinado pelo angulo AOO′ intersecta s′1 (ou, equivalentemente, qualquer semirreta s′′′1 =−−−→O′A′′′ contida no interior

do setor angular determinado pelo angulo A′O′O intersecta s1), conforme ilustrado na Figura 2.4.

O

Aʹʹ

Aʹʹʹ

A

s1ʹ

s1ʹʹ

s1ʹʹʹ

s1

Figura 2.4

Assim como nas retas, e comum omitir a expressao “em um mesmo sentido” no caso de semirretas paralelas.

Indiquemos o plano hiperbolico por H e consideremos o conjunto S de todas as semirretas de H.Embora o conceito de paralelismo entre retas introduzido na secao anterior nao admita que duas retas paralelas

possam ser iguais (pois aı terıamos apenas uma reta e nao duas), vamos convencionar, por enquanto, que uma retapossa ser paralela a ela mesma para podermos introduzir uma relacao de equivalencia ∼ em S envolvendo tal conceito.

Sejam s1, s2 ∈ S. Definimoss1 ∼ s2 ⇐⇒ s1 e paralela a s2.

Considerando a convencao de que uma reta ou semirreta pode ser paralela a ela mesma e as duas ultimas proposicoesacima, temos que a relacao ∼ e uma relacao de equivalencia em S.

As classes de equivalencia da relacao ∼ definida acima no conjunto S das semirretas do plano hiperbolico H saochamadas de pontos ideais ou pontos no infinito ou pontos omega de H. Na Figura 2.5 a esquerda temosalgumas semirretas que representam uma mesma classe de equivalencia da relacao ∼.

WW-

W+

A

Br

Figura 2.5

Geralmente uma classe de equivalencia acima e indicada pela letra Ω.E bastante util pensar em um ponto ideal Ω como um ponto do bordo do modelo do Disco de Poincare e considera-

lo como o “ponto de convergencia” de todas as semirretas da classe que o define, conforme ilustrado na Figura 2.5ao centro.

Sejam r uma reta e A ∈ r. Logo, A define duas semirretas em r que podem ser representantes de duas classes deequivalencia acima definidas. Qualquer outro ponto B ∈ r definira as mesmas classes que A define. Assim, podemosdizer que uma reta r determina dois pontos ideais, um para cada sentido de paralelismo em r. Indicando tais pontosideais por Ω− e Ω+, podemos imagina-los com os mesmos papeis dos pontos −∞ e +∞ associados a reta dos numeros

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10 Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica

reais. Neste sentido, tendo a nocao de reta orientada com sentido positivo e negativo em mente, e conveniente pensarem Ω− como sendo um ponto que vem “antes” de todos os pontos de r e Ω+ como sendo um ponto que vem “depois”de todos de r. A Figura 2.5 a direita ilustra a reta r com seus dois pontos ideiais Ω− e Ω+.

Por fim, e conveniente observar que pontos ideais nao sao pontos do plano hiperbolico (assim como +∞ nao eponto da reta real). Para distingui-los e comum chamar os pontos do plano hiperbolico de pontos ordinarios.

Triangulos Generalizados

Sejam:

(i) A,B pontos ordinarios e Ω ponto ideal do plano hiperbolico (Figura 2.6 a esquerda). A figura geometrica formadapelas semirretas AΩ, BΩ e o segmento AB e chamada de triangulo generalizado (ou triangulo com um verticeideal , ou triangulo omega) ABΩ.

A

B

WW1

A

W2

W2

W3

W1

Figura 2.6

(ii) A ponto ordinario e Ω1, Ω2 pontos ideais do plano hiperbolico (Figura 2.6 ao centro). A figura geometricaformada pelas semirretas AΩ1, AΩ2 e a reta Ω1Ω2 e chamada de triangulo generalizado (ou triangulo comdois vertices ideais, ou triangulo omega) AΩ1Ω2.

(iii) Ω1, Ω2, Ω3 pontos ideais do plano hiperbolico (Figura 2.6 a direita). A figura geometrica formada pelas retasΩ1Ω2, Ω1Ω3 e Ω2Ω3 e chamada de triangulo generalizado (ou triangulo com vertices ideais, ou trianguloomega) Ω1Ω2Ω3.

Dadas as semirretas PΩ e QΩ, consideremos suas retas suportes Ω′Ω e Ω′′Ω. A figura geometrica formada porΩ′Ω e Ω′′Ω e chamada de angulo ideal Ω′ΩΩ′′ e sua medida e definida como sendo nula . Tal angulo pode sertambem indicado por PΩQ.

Desta forma, um triangulo generalizado possuira pelo menos um angulo interno ideal, cuja medida e nula.

Seja S1 o semiplano originado por Ω′Ω e que contenha Ω′′Ω. Seja S2 o semiplano originado por Ω′′Ω e quecontenha Ω′Ω. Ao conjunto (S1 ∩ S2) − (Ω′Ω ∪Ω′′Ω), ou seja, intersecao dos semiplanos S1 e S2 excetuando-se as

retas que os originam, e chamado de interior do angulo ideal Ω′ΩΩ′′.

A interseccao dos interiores dos angulos internos de um triangulo generalizado chamamos de interior do triangulogeneralizado.

Polıgonos convexos generalizados podem ser definidos de modo analogo.

Dizemos que uma reta entra em um triangulo generalizado quando a interseccao desta reta com o interior dotriangulo generalizado for nao vazia.

Seja ABΩ um triangulo generalizado. Dizemos que uma reta r passa por um dos vertices de ABΩ quando A ∈ r

ou B ∈ r ou Ω e um dos pontos ideais de r. Analogamente, este conceito estende-se para triangulos generalizadosAΩ1Ω2 ou Ω1Ω2Ω3.

Proposicao 2.4 (1) Se uma reta r entra em um triangulo generalizado ABΩ, AΩ1Ω2 ou Ω1Ω2Ω3 passando por umde seus vertices, entao r intersecta o lado do triangulo generalizado oposto a esse vertice.

(2) Se uma reta r entra em um triangulo generalizado ABΩ, AΩ1Ω2 ou Ω1Ω2Ω3 intersectando um de seus ladosmas nao passando por nenhum de seus vertices, entao r intersecta um dos outros dois lados do triangulo generalizado.

Devido a analogia com o que ocorre com na Geometria Euclidiana, a proposicao acima e, as vezes, chamada de“Axioma de Pasch” para triangulos generalizados.

Seja ABΩ triangulo generalizado. Os angulos externos de ABΩ sao os angulos suplementares de BAΩ e ABΩ

construıdos sobre as retas suportes de AB, AΩ e BΩ. Desta forma, ha dois pares de angulos externos no trianguloABΩ, sendo cada par composto por angulos opostos pelo vertice (Figura 2.7 a esquerda, na qual α1 ≡ α2 e α3 ≡ α4).

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Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica 11

W1

W2

A

B

W

a4

a1

a2

a3

A a1

a2

Figura 2.7

Seja AΩ1Ω2 triangulo generalizado. Os angulos externos de AΩ1Ω2 sao os angulos suplementares de Ω1AΩ2

construıdos sobre as retas suportes de AΩ1 e AΩ2. Desta forma, ha um par de angulos externos no triangulo ABΩ,opostos pelo vertice A (Figura 2.7 a direita, na qual α1 ≡ α2).

Triangulos generalizados Ω1Ω2Ω3 nao possuem angulos externos.

Proposicao 2.5 (Teorema do Angulo Externo para Triangulos Generalizados) Um angulo externo de um triangulogeneralizado e sempre maior do que os angulos internos que nao lhe sejam adjacentes.

Dizemos que dois triangulos generalizados ABΩ e A′B′Ω′ sao congruentes quando AB ≡ A′B′, A ≡ A′ e B ≡ B′.Indicaremos por ABΩ ≡ A′B′Ω′.

Dizemos que dois triangulos generalizados AΩ1Ω2 e A′Ω′1Ω

′2 sao congruentes quando A ≡ A′. Indicaremos por

AΩ1Ω2 ≡ A′Ω′1Ω

′2.

Definimos que todos os triangulos generalizados Ω1Ω2Ω3 sao congruentes entre si.Dizemos que o triangulo generalizado ABΩ e isosceles de base AB quando A ≡ B. (4)A proposicao abaixo estabelece tres casos de congruencia envolvendo triangulos generalizados.

Proposicao 2.6 (1) (Caso “lado-angulo” - LA - de congruencia para triangulos generalizados) Sejam ABΩ e A′B′Ω′

triangulos generalizados. Se AB ≡ A′B′ e A ≡ A′, entao ABΩ ≡ A′B′Ω′.(2) (Caso “angulo-angulo” - AA - de congruencia para triangulos generalizados) Sejam ABΩ e A′B′Ω′ triangulos

generalizados. Se A ≡ A′ e B ≡ B′, entao ABΩ ≡ A′B′Ω′.(3) (Caso “triangulos isosceles” de congruencia para triangulos generalizados) Todos os triangulos generalizados

isosceles com bases de mesma medida sao congruentes entre si, ou seja, se ABΩ e A′B′Ω′ sao tais que AB ≡ A′B′,

A ≡ B e A′ ≡ B′, entao ABΩ ≡ A′B′Ω′.

2.3 O Angulo de Paralelismo

Consideremos, conforme ja definido, o angulo α de paralelismo entre as retas s e r no ponto P, conforme ilustrado naFigura 2.3.

Notemos que a nocao de angulo de paralelismo esta associada a um triangulo retangulo generalizado PQΩ e queseu angulo interno P e exatamente o angulo α de paralelismo entre s e r em P. Sendo assim, iremos chamar o anguloP tambem de angulo de paralelismo do triangulo retangulo generalizado PQΩ relativo a altura PQ, deacordo com a Figura 2.8 a esquerda.

a

Q

P

W

q( )h = a

Q

P

Wh

q(- )h = p - a

h

a

a

Figura 2.8

Notemos que o angulo de paralelismo P depende apenas da altura PQ do triangulo retangulo generalizado PQΩ.Logo, podemos definir uma funcao, chamada de funcao angulo de paralelismo, do seguinte modo:

θ : R+ −→ Rh 7−→ α

4Observe que essa definicao difere da definicao de triangulo isosceles ordinario (dois lados de mesmo comprimento) pois, nesse caso,angulos congruentes na base e consequencia da definicao.

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12 Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica

tal que h e a medida da altura PQ do triangulo retangulo generalizado PQΩ e α e a medida, em radianos, de seuangulo de paralelismo relativo a PQ.

Sobre a funcao angulo de paralelismo temos a seguinte proposicao.

Proposicao 2.7 A funcao angulo de paralelismo e:

(1) Estritamente decrescente e, portanto, injetiva.

(2) Sobrejetiva se restringirmos seu contra-domınio ao intervalo aberto]0, π

2

[⊂ R.

(3) Contınua.

Podemos estender o domınio da funcao angulo de paralelismo ao conjunto dos numeros reais R. Para tanto, fazemosθ (0) = π

2e quando x < 0, definimos θ (x) = π − α, sendo −x = h > 0 a medida da altura PQ do triangulo retangulo

generalizado PQΩ e α a medida, em radianos, de seu angulo de paralelismo relativo a PQ. A Figura 2.8 a direitamostra uma interessante interpretacao geometrica de θ (x) para x negativo.

Assim, a chamada funcao angulo de paralelismo estendida θ e dada por:

θ : R −→ R

x 7−→ α, se x > 0

π/2, se x = 0

π− α, se x < 0

Observemos que o fato de θ ser contınua em R+ implica em θ ser contınua em R− 0.

Tambem somos induzidos, pela representacao geometrica de θ dada na Figura 2.8 a direita, a considerar quelim

x→0+θ (x) = π

2. Como

limx→0−

θ (x) = limx→0+

θ (−x) = limx→0+

(π− θ (x)) = π− limx→0+

θ (x) = π−π

2=

π

2,

somos levados a crer que limx→0

θ (x) = π2= θ (0), ou seja, que θ seja contınua em 0 e, portanto, contınua em R.

Na proxima proposicao apresentamos uma (na verdade duas) expressao(oes) analıtica(s) para θ, onde podemosconstatar que θ e, de fato, contınua, decrescente e bijetiva quando restringimos o contra-domınio ao intervalo aberto]0, π[ ⊂ R. Esse resultado esta antecipado no desenvolvimento natural da teoria que estamos apresentando, uma vezque sua demonstracao depende de formulas de Trigonometria Hiperbolica.

Proposicao 2.8 Seja

θ : R −→ ]0, π[a 7−→ θ (a) = α

a Funcao Angulo de Paralelismo. Entao:

(1)

θ (a) = arccos (tgh (a)) ,

ou seja,

cos (α) = tgh (a) ,

sendo tgh (a) = ea−e−a

ea+e−a .

(2)

θ (a) = 2 arctg(e−a

),

isto e,

tg(α2

)= e−a .

2.4 Quadrilateros de Saccheri e de Lambert e Consequencias

Um quadrilatero convexo ABCD e dito Quadrilatero de Saccheri de base AB, topo DC e laterais AD e BC quandoos lados laterais sao congruentes e perpendiculares ao lado base, ou seja, AD ≡ BC, AD ⊥ AB e BC ⊥ AB (Figura2.9 a esquerda).

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Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica 13

A

B

D

C

B

a

A

C

D

Figura 2.9

Sobre Quadrilateros de Saccheri temos a seguinte proposicao.

Proposicao 2.9 (1) O segmento ligando os pontos medios da base e do topo de um Quadrilatero de Saccheri ABCD

e perpendicular a esses lados. Alem disso, os angulos do topo C e D sao congruentes(2) A base e o topo de um Quadrilatero de Saccheri fazem parte de retas hiperparalelas.(3) Os angulos do topo de um Quadrilatero de Saccheri sao agudos.

Dizemos que dois Quadrilateros de Saccheri ABCD e A′B′C′D′ com bases AB e A′B′ e lados AD, BC ⊥ AB eA′D′, B′C′ ⊥ A′B′, respectivamente, sao congruentes quando AB ≡ A′B′ e AD ≡ A′D′.

Um quadrilatero e dito Quadrilatero de Lambert quando possuir tres angulos internos retos (Figura 2.9 adireita).

Sobre Quadrilateros de Lambert temos a seguinte proposicao.

Proposicao 2.10 (1) O angulo interno nao conhecido de um Quadrilatero de Lambert e agudo.

(2) Seja ABCD um quadrilatero convexo com base AB e laterais AD e BC perpendiculares a base, ou seja, A ≡B = π

2. Entao,

C < D⇐⇒ AD < BC.

Construcao Geometrica de Uma Reta Paralela a Uma Reta Dada

A construcao com “regua e compasso” de uma reta paralela a outra na Geometria Hiperbolica nao e tao trivialquanto a construcao semelhante que estamos acostumados a fazer na Geometria Euclidiana. O interessante dessaconstrucao, e que ela faz uso de um Quadrilatero de Lambert. A proposicao abaixo estabelece essa construcao, quepode ser acompanhada na Figura 2.10.

Proposicao 2.11 Sejam r uma reta e B /∈ r.Trace o segmento perpendicular BE a r com E ∈ r.Trace um segmento perpendicular BC a BE.Trace o segmento perpendicular CD a BC de modo que D ∈ r.Trace o cırculo de centro B e raio ED. Esse cırculo determina um ponto A ∈ DC.

Entao, a reta s =←→AB e para a r passando por B.

A

r

B

C

E D

s

Wa

a

a

Figura 2.10

A Soma dos Angulos Internos de Triangulos e Polıgonos

Um dos resultados mais conhecidos de Geometria Hiperbolica e o teorema que afirma que a soma das medidas dosangulos internos de um triangulo hiperbolico e menor do que a medida de um angulo raso. Sintetizamos esse resultadoe outros relacionados na proposicao abaixo.

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14 Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica

Proposicao 2.12 (1) A soma dos angulos internos de um triangulo ordinario e menor do que dois retos.

(2) A soma dos angulos internos de um polıgono convexo ordinario de n lados possui medida (em radianos) menordo que (n− 2)π.

(3) A soma dos angulos internos de um triangulo generalizado e menor do que dois retos.

(4) A soma dos angulos internos de um polıgono convexo generalizado de n lados possui medida (em radianos)menor do que (n− 2)π.

Sabemos que ha 5 casos de congruencia de triangulos na Geometria Euclidiana que tambem valem para triangulosordinarios na Geometria Hiperbolica (pois nao dependem do Quinto Postulado de Euclides). Os casos de congruenciasao os conhecidos LAL, LLL, ALA, LAA0 e o caso exclusivo para triangulos retangulos “cateto-hipotenusa”. Tambemvimos que para triangulos generalizados ha 3 casos de congruencia, a saber: LA, AA e o caso exclusivo para triangulosisosceles generalizados.

Por fim, vamos ao oitavo e ultimo caso de congruencia de triangulos hiperbolicos: o caso AAA (que e caso desemelhanca na Geometria Euclidiana).

Proposicao 2.13 (Caso de Congruencia AAA da Geometria Hiperbolica) Se ABC e A′B′C′ sao triangulos ordinarios

tais que A ≡ A′, B ≡ B′ e C ≡ C′, entao ABC ≡ A′B′C′.

Variacao da Distancia entre Duas Retas

Um Quadrilatero de Saccheri pode ser dividido em dois Quadrilateros de Lambert por meio de um segmento queliga os pontos medios de sua base e topo. Isso significa que ha retas hiperparalelas que possuem uma reta perpendicularcomum. Este resultado esta enunciado abaixo.

Proposicao 2.14 Duas retas hiperparalelas possuem uma, e somente uma, reta perpendicular em comum.

Observacoes.

(i) Duas retas concorrentes nao possuem uma reta perpendicular em comum. Caso contrario, terıamos um trianguloordinario com dois angulos internos retos ou um angulo raso com medida diferente de π radianos.

(ii) Duas retas paralelas nao possuem uma reta perpendicular em comum. Caso contrario, terıamos um triangulogeneralizado com dois angulos internos retos.

A distancia de um ponto P a uma reta r e o comprimento do segmento PQ sendo Q o pe da perpendicular baixadade P a r. Indiquemos a distancia de P a r por d (P, r).

Proposicao 2.15 (1) Sejam r e s retas concorrentes em um ponto O. Seja P ∈ r. A distancia de P a s crescequando P se afasta de O, tornando-se arbitrariamente grande, e decresce quando P se aproxima de O tornando-searbitrariamente pequena.

(2) Sejam r e s retas paralelas com ponto ideal Ω em comum. Seja P ∈ r. A distancia de P a s decresce quandoP se move no sentido de Ω, tornando-se arbitrariamente pequena. A distancia de P a s cresce quando P se move nosentido oposto de Ω tornando-se arbitrariamente grande.

(3) Sejam r e s retas hiperparalelas e RS o segmento perpendicular comum a r e s com R ∈ r e S ∈ s. Seja P ∈ r.A distancia de P a s decresce quando P se aproxima de R, tornando-se igual a RS quando P = R. A distancia de P as cresce quando P se afasta de R tornando-se arbitrariamente grande.

2.5 Horocırculos e Curvas Equidistantes

Sejam r e s retas distintas e P ∈ r, Q ∈ s pontos distintos. Dizemos que P e Q sao pontos correspondentes quandoo segmento PQ forma com r e s angulos congruentes em um mesmo lado de PQ. Tambem podemos dizer que P

corresponde a Q. Na Figura 2.11 temos a ilustracao de pontos correspondentes nas 3 posicoes relativas de r e s

no plano hiperbolico: r e s concorrentes, paralelas e hiperparalelas, respectivamente.

W

P

Q Q

P

Q

P

r

s r

srs

Figura 2.11

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Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica 15

Proposicao 2.16 (1) Dadas duas retas paralelas, existe um ponto ordinario equidistante dessas duas retas.(2) Sejam r e s retas paralelas com o ponto ideal Ω em comum. Seja M um ponto ordinario equidistante de r e s.

Entao, a reta←−→MΩ e equidistante de r e s.

(3) Sejam r e s retas paralelas e P ∈ r. Entao, existe um unico ponto Q ∈ s tal que P e Q sao pontos correspon-dentes.

(4) Sejam r, s, t retas paralelas distintas em um mesmo sentido e P ∈ r, Q ∈ s, R ∈ t. Se P corresponde a Q e Q

corresponde a R, entao P,Q e R sao pontos nao colineares.(5) Sejam r, s, t retas paralelas distintas em um mesmo sentido e P ∈ r, Q ∈ s, R ∈ t. Se P corresponde a Q e Q

corresponde a R, entao P corresponde a R.

A reta←−→MΩ do Item (2) da proposicao acima e chamada de reta bissectora das retas paralelas r e s.

Observacoes.(i) Os Itens (1), (2), (4) e (5) da proposicao acima podem ser adaptados para retas concorrentes. Os Itens (1), (2),(3) e (5) da proposicao acima podem ser adaptados (com o auxılio da Proposicao 2.14) para retas hiperparalelas.(ii) O Item (4) da proposicao acima e falso para retas hiperparalelas. De fato, se r e s sao retas hiperparalelas ePR e o segmento perpendicular a ambas, entao a reta t perpendicular a PR passando pelo ponto medio Q de PR ereta hiperparalela a r e a s. Assim, r, s, t sao hiperparalelas, P e Q sao pontos correspondentes, Q e R sao pontoscorrespondentes e P,Q, R sao pontos colineares, conforme Figura 2.12.

Q

P

R

r

s

t

Figura 2.12

Sejam o feixe (conjunto) de todas as retas paralelas em um mesmo sentido com um ponto ideal Ω em comum e P

um ponto ordinario em uma reta desse feixe. O lugar geometrico de todos os pontos correspondentes a P nas demaisretas do feixe chamamos de horocırculo (ou horociclo) de centro Ω e raio PΩ, conforme ilustrado na Figura 2.13a esquerda.

W

P11223

34

4

5

5

6

6

7

7

88

99

W

P

AA

A

AAAA

Figura 2.13

Observemos que um horocırculo fica determinado por um ponto ideal Ω (centro) e um ponto ordinario P.

Se tomarmos um cırculo com centro em A ∈ PΩ e raio AP e fizermos A “tender” a Ω, entao o cırculo de centro A eraio AP “tende” ao horocırculo de centro Ω e raio PΩ (Figura 2.13 a direita). Esta interpretacao geometrica significaque, no Modelo do Disco de Poincare, um horocırculo possui a forma de um cırculo euclidiano tangente ao bordo domodelo, uma vez que cırculos hiperbolicos no referido modelo coincidem com cırculos euclidianos (naturalmente comcentros diferentes).

Dados um horocırculo H e uma reta r, dizemos que r e tangente a H quando r ∩H for um conjunto constituıdopor apenas um ponto.

Devido a interpretacao geometrica acima, a proposicao seguinte e natural.

Proposicao 2.17 Uma reta e tangente a um horocırculo se, e somente se, for perpendicular a um de seus raios emsua extremidade.

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16 Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica

Seja r uma reta. Consideremos o conjunto P de todas as retas perpendiculares a r. Seja P um ponto pertencentea uma dessas retas e P /∈ r. O lugar geometrico C de todos os pontos correspondentes de P nas demais retas de P echamado de curva equidistante de r. A distancia de P a r e chamada de distancia de C a r, conforme a Figura2.14.

P

112

23

34455

6

6

7788

W2

W1

C

r

Q

Figura 2.14

Observacoes:(i) C nao e uma reta hiperbolica.(ii) Se P, P′ ∈ C e Q,Q′ sao os pes das perpendiculares baixadas de P, P′ a r, entao PQQ′P′ e um Quadrilatero deSaccheri. Como em tais quadrilateros os lados laterais sao congruentes, concluımos que todos os pontos de C estao amesma distancia de r, o que justifica o nome “curva equidistante”.

2.6 Areas

A diferenca entre π e a soma dos angulos internos de um triangulo ordinario ou generalizado, medida em radianos, echamada de defeito do triangulo.

O conceito de defeito esta intimamente relacionado ao conceito de area, conforme proposicao abaixo.

Proposicao 2.18 Dados dois triangulos (ordinarios ou generalizados), se eles possuem o mesmo defeito, entao elespossuem a mesma area.

Seja um triangulo ABC e D ∈ AB, como na Figura 2.15. O que podemos dizer da relacao entre o defeito de ABC

e os defeitos de ACD e BCD?

a

b

de

lq

g

A

B

C

D

Figura 2.15

Temos

[π− (α+ ε+ λ)] + [π− (β+ δ+ θ)] = 2π− (α+ β+ λ+ θ+ ε+ δ)

= 2π− (α+ β+ γ+ π)

= π− (α+ β+ γ)

Deste modo, concluımos que o defeito de ABC e a soma dos defeitos de ACD e BCD.

Esse procedimento pode ser estendido para uma decomposicao qualquer de um triangulo ∆ em uma quantidadefinita de triangulos menores ∆i; i = 1, ..., n; e, assim, o defeito do triangulo ∆ sera a soma dos defeitos dos triangulos∆i.

Na verdade, a recıproca da proposicao acima e verdadeira. Isto e decorrencia do Teorema de Gauss Bonnet, quetem por corolario, que a integral da curvatura gaussiana do plano hiperbolico sobre um triangulo ∆ e igual a diferencaentre a soma das medidas dos angulos internos do triangulo e π, isto e:

(α+ β+ γ) − π =

∫∫∆

kdσ,

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sendo α,β, γ, medidas dos angulos internos do triangulo ∆, k curvatura gaussiana do plano hiperbolico (que e sempreconstante e negativa) e dσ elemento de area hiperbolica, isto e, dσ =

√EG− F2dxdy, sendo E, F,G coeficientes da

Primeira Forma Quadratica relativa a uma parametrizacao local do plano hiperbolico que contem ∆. Deste modo,

A (∆) = k ((α+ β+ γ) − π) .

Logo, juntando a proposicao acima ao Teorema de Gauss-Bonnet, podemos enunciar a proposicao abaixo.

Proposicao 2.19 Dois triangulos (ordinarios ou generalizados) possuem mesmo defeito se, e somente se, possuemmesma area.

Como a curvatura do plano hiperbolico e constante e negativa, concluımos que a area de um triangulo T nageometria hiperbolica e proporcional ao seu defeito. Tomando a curvatura gaussiana k igual a −1 (que corresponde atomarmos o modelo do disco de Poincare com raio euclidiano igual a 1), temos que a area de um triangulo hiperbolicoT sera exatamente o seu defeito. Sintetizamos esse resultado na proposicao abaixo.

Proposicao 2.20 Fazendo a curvatura gaussiana do plano hiperbolico igual a −1, temos

A (∆) = π− (α+ β+ γ) .

Seja um polıgono convexo de n lados. Chamamos de defeito do polıgono a diferenca entre (n− 2)π e a soma dosangulos internos do polıgono. Deste modo, podemos generalizar o resultado acima para polıgonos

Area (polıgono) = k (−defeito (polıgono)) .

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Capıtulo 3

Trigonometria Hiperbolica

O objetivo deste capıtulo e introduzir a Lei dos Senos, Leis dos Cossenos (sao duas) e Teorema de Pitagoras Hiperbolico,bem como uma expressao analıtica para a Funcao Angulo de Paralelismo, ja introduzida no capıtulo anterior. Essesresultados permitirao “fazer contas” na Geometria Hiperbolica Plana.

As ilustracoes foram inspiradas nas construcoes geometricas realizadas no Modelo do Disco de Poincare paraa Geometria Hiperbolica Plana. As mesmas podem ser reproduzidas com o auxılio de um software de geometriadinamica, como o GeoGebra.

3.1 Arcos Correspondentes de Horocırculos Concentricos e Distancias

Sejam

AB e

A′B′ arcos de horocırculos H e H′, respectivamente, com extremos nos mesmos raios AΩ e BΩ de H (comona Figura 3.1 a esquerda). Tais arcos sao chamados de arcos correspondentes de horocırculos concentricos(ou, simplesmente, arcos correspondentes, quando o contexto nao deixar duvidas).

A

B

H

WP

A

B

H

W

s0 sd

d

Figura 3.1

Proposicao 3.1 Segmentos de raios entre arcos correspondentes de horocırculos concentricos sao congruentes.

Tendo por base a Figura 3.1 a esquerda, a proposicao acima garante que para qualquer P ∈

AB temos PP′ ≡AA′ ≡ BB′. Isto permite definir inequivocamente a distancia entre os arcos correspondentes

AB e

A′B′ deforma inequıvoca, como sendo o comprimento de qualquer segmento de raio de horocırculo de H que liga um ponto de

AB a um ponto de

A′B′.

Proposicao 3.2 A razao entre as medidas dos arcos correspondentes

AB e

A′B′ de horocırculos concentricos depende

somente da distancia d entre eles, ou seja,AB

A′B′= f (d).

Assim como na Geometria Euclidiana, o analogo dessa proposicao para “arcos correspondentes de cırculos hi-perbolicos concentricos” e falsa.

A importancia da proposicao acima reside no fato de que, podemos estabelecer uma unidade de medida hiperbolicaque nao seja convencionada, como ocorre com quase todas as unidades de medida na Geometria Euclidiana. Calculandof (1), toda vez que tomamos arcos correspondentes de horocırculos concentricos cuja razao entre seus comprimentosseja f (1), estamos definindo a unidade de distancia hiperbolica, que e a distancia entre esses arcos. Notemos que essaideia de definir unidade de medida por meio de quociente e analoga a definicao de radiano na Geometria Euclidiana(alias uma das poucas medidas da Geometria Euclidiana que surge de maneira natural e nao e convencionada).

E possıvel mostrar (utilizando Geometria Diferencial) que quando

AB

A′B′= e,

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20 Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica

a distancia hiperbolica entre

AB e

A′B′ e 1, sendo

AB e

A′B′ arcos correspondentes de horocırculos concentricos, ouseja,

d(

AB,

A′B′) = 1⇐⇒

AB

A′B′= e.

A proxima proposicao generaliza a discussao acima, tendo por base a Figura 3.1 a direita.

Proposicao 3.3 Se s0 e sd sao comprimentos hiperbolicos de dois arcos correspondentes em horocırculos concentricoscom sd < s0, sendo d a distancia entre eles, entao

s0

sd= ed.

A unidade de medida hiperbolica tambem pode ser obtida sob a forma de um arco de horocırculo construıdo demodo muito simples, conforme estabelece a Proposicao 3.5 adiante. Antes porem, necessitamos das duas proximasproposicoes, que apresentam as propriedades da construcao geometrica simples de que precisamos.

Proposicao 3.4 Sejam m = Ω1Ω2 e n = Ω3Ω4 retas perpendiculares em A e H horocırculo com centro em Ω1

passando por A. Seja r = Ω1Ω3. Entao, r intersecta H em um ponto B e a reta t perpendicular a r por B e paralelaa m.

A Figura 3.2 a esquerda ilustra a construcao geometrica associada a esta proposicao.

B

A

H

W2

r

t

m

n

W3

W4

W1

E

W1

W3

W2

B

D

A

C

u

y

H

D

A

C

s

W4

Figura 3.2

A construcao geometrica da Figura 3.2 a esquerda ira desempenhar um papel importante na obtencao de formulastrigonometricas. Entretanto, cabe ressaltar o resultado bastante curioso que citamos acima, cuja demonstracao fazuso da Geometria Diferencial.

Proposicao 3.5 Nas condicoes das proposicoes acima, o comprimento do arco de horocırculo

AB e unitario.

Mais usa vez, temos a unidade de medida universal na Geometria Hiperbolica sendo obtida com o auxılio doconceito de horocırculo.

Estamos em condicoes de estabelecer algumas relacoes bastante importantes.

Consideremos a Figura 3.2 a direita deriva da Figura 3.2 a esquerda, sendo C um ponto de AΩ3 eD a interseccaode CΩ1 com o horocırculo H.

Observemos que construımos uma figura ACD muito interessante (cuidado: nao e um triangulo hiperbolico) que eobjeto da proxima proposicao.

Proposicao 3.6 Nas condicoes estabelecidas na Figura 3.2 a direita, sendo s o comprimento do arco de horocırculo

AD, AC = y e CD = u, entao 1− s = e−y−u

1+ s = ey−u .

Edson Agustini Universidade Federal de Uberlandia [email protected]

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Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica 21

Com o objetivo de simplificar as expressoes que surgirao doravante, definamos

senh (y) =ey − e−y

2, cosh (y) =

ey + e−y

2,

tgh (y) =senh (y)

cosh (y), sech (y) =

1

cosh (y), cosech (y) =

1

senh (y),

sendo que na funcao cossecante hiperbolica devemos ter y = 0.

Veremos adiante que a nomenclatura adotada acima, inspirada nas funcoes trigonometricas euclidianas, sera con-veniente quando do estabelecimento de formulas trigonometricas hiperbolicas.

Proposicao 3.7 Nas condicoes da proposicao acima valem as seguintes formulas:

eu = cosh (y) e s = tgh (y) .

Consideremos a Figura 3.3, sendo D ∈

AB, DE perpendicular a m = Ω1Ω2, s o comprimento do arco

AD eDE = a.

W1

W3

W2A

H

D

A E

s

W4

aE

D

m

Figura 3.3

Proposicao 3.8 Nas condicoes da Figura 3.3 vale

s = senh (a) .

3.2 Um Sistema de Coordenadas para o Plano Hiperbolico

Existem varios sistemas de coordenadas que podem ser definidos no plano hiperbolico. Um dos mais usuais e o quepassamos a descrever.

Consideremos duas retas perpendiculares em O e orientadas a partir de O. Chamemos estas retas orientadas deeixos coordenados hiperbolicos e os indiquemos por Ox e Oy. Seja P um ponto do plano hiperbolico. Associemosa P dois numeros reais a e b tais que:

(i) |a|: distancia da projecao ortogonal Px de P em Ox ate O, sendo:

a > 0 se Px situa-se na semirreta de orientacao positiva de Ox.

a < 0 se Px situa-se na semirreta de orientacao negativa de Ox.

(ii) |b|: distancia de P a Px.

b > 0 se P estiver no semiplano determinado por Ox que contem a semirreta de orientacao positiva de Oy.

b < 0 se P estiver no semiplano determinado por Ox que contem a semirreta de orientacao negativa de Oy.

Chamamos a e b de coordenadas hiperbolicas de P, sendo a a abscissa e b a ordenada de P, conforme a Figura3.4.

[email protected] Universidade Federal de Uberlandia Edson Agustini

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22 Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica

-d

PX

QX

P = (a,b)

Q = (c,d)

a

-c

b

-

-

+

+Oy

OXO

4° Quadrante

1° Quadrante2° Quadrante

3° Quadrante

Figura 3.4

Observemos que, deste modo, existe uma correspondencia biunıvoca entre os pontos do plano e os pares ordenados denumeros reais.

Nas condicoes estabelecidas acima dizemos que os eixos coordenados hiperbolicos estabelecem um sistema decoordenadas hiperbolicas no plano hiperbolico.

Observacoes:

(1) Se definıssemos b como sendo a distancia da projecao ortogonal Py de P em Oy ate O (como nas coordenadascartesianas da Geometria Euclidiana), nao haveria uma correspondencia biunıvoca entre os pontos do plano e os paresordenados de numeros reais. Por exemplo, seja a ∈ R tal que θ(a) = π

4(θ: funcao angulo de paralelismo). Nao

existiria o ponto do coordenadas (a, a) (Figura 3.5 a esquerda).

a

W

Ox

Oy

+

+-

-

a b

P

Ox

Oy

+

+-

-

a Px

Py

O O

Figura 3.5

Por outro lado, se partirmos do ponto P, sempre existiria Px e Py e, portanto, existiriam as coordenadas a e b comona Geometria Euclidiana.

(2) nas condicoes como definimos o sistema de coordenadas na Geometria Hiperbolica, um ponto P = (a, b) e talque d(O,Py) < b, como na Figura 3.5 a direita. De fato, OPxPPy e um Quadrilatero de Lambert e, portanto,d(O,Py) < d(P, Px) = b.

De posse de um sistema de coordenadas no plano hiperbolico, e natural o estudo de equacoes de curvas nessesistema. A proxima proposicao estabelece as equacoes do horocırculo H e da reta r que utilizamos para deduzir asimportantes relacoes do final da secao anterior.

Proposicao 3.9 (1) Seja Ω+ ponto ideal do eixo coordenado Ox no lado de orientacao positiva. A equacao dohorocırculo de centro Ω+ passando pela origem O no sistema de coordenadas hiperbolicas e

ex = cosh (y) .

(2) A equacao da reta paralela aos eixos coordenados hiperbolicos situada no 1o quadrante e

ex tgh (y) = 1 .

3.3 Versao Hiperbolica do Teorema de Pitagoras, Lei dos Senos e Leidos Cossenos

Teorema 3.1 (Teorema de Pitagoras Hiperbolico) Em um triangulo retangulo com hipotenusa medindo c e catetosmedindo a e b vale

cosh (c) = cosh (a) cosh (b) .

Edson Agustini Universidade Federal de Uberlandia [email protected]

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Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica 23

Exemplo. Seja um triangulo retangulo hiperbolico com catetos medindo 3 e 4. A hipotenusa mede aproximadamente6, 30966. De fato, temos cosh (c) = cosh (3) cosh (4) ∼= 274, 93 o que fornece c = 6, 30966.

Observemos que a hipotenusa e “maior” no caso hiperbolico do que no caso euclidiano.

Teorema 3.2 (Primeira Lei dos Cossenos) Em um triangulo hiperbolico ordinario com lados medindo a, b, c e angulointerno de medida λ oposto ao lado de medida a, vale

cosh (a) = cosh (b) cosh (c) − senh (b) senh (c) cos (λ) .

Teorema 3.3 (Lei dos Senos) Em um triangulo hiperbolico ordinario com angulos internos de medidas λ, µ, ν opostosaos lados de medidas a, b, c, respectivamente, vale

senh (a)

sen (λ)=

senh (b)

sen (µ)=

senh (c)

sen (ν).

Exemplos:

(1) A area de um triangulo retangulo com catetos medindo 3 e 4 na Geometria Hiperbolica e 1, 43488196 unidades dearea.

De fato:Precisamos encontrar os angulos internos na Figura 3.6 a esquerda.

a

b

3

4

c

30o

b

1 2

a

a

Figura 3.6

Pelo Teorema de Pitagoras Hiperbolico,

cosh (c) = cosh (3) cosh (4) =⇒ c ∼= 6, 30966.

Pela Lei dos Senos,

senh (3)

sen (β)∼=

senh (6, 30966)

sen(π2

) =⇒ sen (β) ∼= 0, 036438166 =⇒ β ∼= 0, 036446234 rad (ou β ∼= 2, 088) .

Analogamente,

senh (4)

sen (α)∼=

senh (6, 30966)

sen(π2

) =⇒ sen (α) ∼= 0, 099262 =⇒ α ∼= 0, 0994257 rad (ou α ∼= 5, 6966).

Assim,

Area(ABC) ∼= π−(π2+ 0, 036446234+ 0, 0994257

)∼= 1, 43488196 unidades de area.

Observacao: se o triangulo fosse euclidiano, β ∼= 36, 87; α ∼= 53, 13 e Area(ABC) = 6.

(2) Um triangulo possui lados medindo 1 e 2 e o angulo entre eles e de 30, conforme a Figura 3.6 a direita. Amedida do terceiro lado e 1, 380472 unidades de area e os demais angulos medem 18, 3887 e 76, 7979.

De fato, pela Primeira Lei dos Cossenos,

cosh (a) = cosh (1) cosh (2) − senh (1) senh (2) cos (30) ∼= 2, 1141193 =⇒ a ∼= 1, 380472.

Pela Lei dos Senos,senh (a)

sen (30)=

senh (1)

sen (β)=⇒ β ∼= 0, 320944 rad ∼= 18, 3887

[email protected] Universidade Federal de Uberlandia Edson Agustini

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24 Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica

esenh (a)

sen (30)=

senh (2)

sen (α)=⇒ α ∼= 1, 340376 rad ∼= 76, 7979.

(3) O comprimento de uma circunferencia hiperbolica de raio r e c = 2π senh (r).

De fato, consideremos um polıgono hiperbolico regular com n lados inscrito em um cırculo hiperbolico de raio r.Logo, este polıgono pode ser decomposto em 2n triangulos retangulos com hipotenusa medindo r, catetos medindo a

e b e angulos internos medindo π2, π

ne α, sendo o angulo de medida α oposto ao cateto de medida a. Observemos

que o comprimento da circunferencia sera melhor aproximado quanto maior for o numero de lados do polıgono regularinscrito, ou seja,

c = limn→∞ 2nb.

Pela Lei dos Senos Hiperbolica,

senh (b)

sen(πn

) =senh (r)

sen(π2

) =⇒ b = senh−1(senh (r) sen

(πn

)).

Logo,

c = 2 limn→∞

senh−1(senh (r) sen

(πn

))1n

.

Embora n seja uma variavel real discreta, para efeito de computo do limite acima, vamos substituir n pela variavelreal contınua x para podermos aplicar a Regra de L’Hospital. Logo,

c = 2 limx→∞

senh(r) cos(πx )(−

π

x2 )cosh(senh−1(senh(r) sen(π

x )))

− 1x2

= 2π senh (r) limx→∞

cos(πx

)cosh

(senh−1

(senh (r) sen

(πx

)))= 2π senh (r) .

(4) A area de um cırculo hiperbolico de raio r e A = 4π senh2(r2

).

De fato, consideremos um polıgono hiperbolico regular com n lados inscrito em um cırculo hiperbolico de raio r.Logo, este polıgono pode ser decomposto em 2n triangulos retangulos com hipotenusa medindo r, catetos medindo a

e b e angulos internos medindo π2, π

ne α, sendo o angulo de medida α oposto ao cateto de medida a. Observemos que

a area do cırculo sera melhor aproximada quanto maior for o numero de lados do polıgono regular inscrito, ou seja,

A = limn→∞ 2n

(π−

(π2+

π

n+ α

))= 2 lim

n→∞n(π2−

π

n− α

).

Pela Lei dos Senos Hiperbolica,

senh (b)

sen(πn

) =senh (r)

sen(π2

) =senh (a)

sen (α)=⇒

senh (a) = senh (r) sen (α) e senh (b) = senh (r) sen(πn

).

Pelo Teorema de Pitagoras Hiperbolico,

cosh (r) = cosh (a) cosh (b) =⇒cosh2 (r) =

(1+ senh2 (a)

)(1+ senh2 (b)

)=⇒

cosh2 (r) =(1+ senh2 (r) sen2 (α)

)(1+ senh2 (r) sen2

(πn

))=⇒

cosh2 (r) = 1+ senh2 (r) sen2 (α) + senh2 (r) sen2(πn

)+ senh4 (r) sen2 (α) sen2

(πn

)=⇒

senh2 (r) = senh2 (r)(sen2

(πn

)+ sen2 (α)

(1+ senh2 (r) sen2

(πn

)))=⇒

cos2(πn

)= sen2 (α)

(1+ senh2 (r) sen2

(πn

))=⇒

α = arcsen

cos(πn

)√1+ senh2 (r) sen2

(πn

) .

Edson Agustini Universidade Federal de Uberlandia [email protected]

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Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica 25

Desta forma,

A = 2 limn→∞

π2− π

n− arcsen

(cos(π

n )√1+senh2(r) sen2(π

n )

)1n

.

Embora n seja uma variavel real discreta, para efeito de computo do limite acima, vamos substituir n pela variavelreal contınua x para podermos aplicar a Regra de L’Hospital. Logo,

A = 2 limx→∞

πx2 −

− sen(πx )(− π

x2 )√

1+senh2(r) sen2(πx )−cos(π

x )2 senh2(r) sen(π

x ) cos(πx )(− π

n2 )2

√1+senh2(r) sen2(π

x )1+senh2(r) sen2(π

x )√√√√1−cos2(π

x )1+senh2(r) sen2(π

x )

− 1x2

=⇒

A = −2π limx→∞

1−

sen(πx )

√1+senh2(r) sen2(π

x )+senh2(r) sen(π

x ) cos2(πx )√

1+senh2(r) sen2(πx )

1+senh2(r) sen2(πx )√

1+senh2(r) sen2(πx )−cos2(π

x )1+senh2(r) sen2(π

x )

=⇒

A = −2π limx→∞

1−

sen(πx )(1+senh2(r) sen2(π

x ))+senh2(r) sen(πx ) cos

2(πx )√

1+senh2(r) sen2(πx )(1+senh2(r) sen2(π

x ))√sen2(π

x )+senh2(r) sen2(πx )√

1+senh2(r) sen2(πx )

=⇒

A = −2π limx→∞

1−

sen(πx )(1+senh2(r) sen2(π

x )+senh2(r) cos2(πx ))

1+senh2(r) sen2(πx )√

sen2(πx

) (1+ senh2 (r)

) =⇒

A = −2π limx→∞

1−

sen(πx )(1+senh2(r))

1+senh2(r) sen2(πx )

sen(πx

)cosh (r)

=⇒A = −2π lim

x→∞(1−

cosh (r)

1+ senh2 (r) sen2(πx

)) =⇒A = −2π (1− cosh (r)) =⇒A = −2π

(1− cosh2

( r2

)− senh2

( r2

))=⇒

A = 4π senh2( r2

).

3.4 Uma Segunda Lei dos Cossenos

Proposicao 3.10 (Segunda Lei dos Cossenos) Seja um triangulo ABC tal que BC = a, AC = b, AB = c, A = α,

B = β e C = γ. Entao,

cosh (c) =cos (α) cos (β) + cos (γ)

sen (α) sen (β).

Exemplos:

(1) Um triangulo possui angulos internos 30, 45 e 60 (Figura 3.7 a esquerda). Os lados opostos a esses angulosmedem 1, 3120735; 1, 6230837 e 1, 8130936; respectivamente.

[email protected] Universidade Federal de Uberlandia Edson Agustini

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26 Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica

a

c30

o

1a b60

o

45o

1

1

11

1

b

r

B

C

A

h

a

bc

d

Figura 3.7

De fato,

cosh (a) =cos (30) cos (45) + cos (60)

sen (30) sen (45)∼= 3, 146264 =⇒ a ∼= 1, 8130936

cosh (b) =cos (60) cos (45) + cos (30)

sen (60) sen (45)∼= 1, 991563 =⇒ b ∼= 1, 3120735

cosh (c) =cos (60) cos (30) + cos (45)

sen (60) sen (30)∼= 2, 632993 =⇒ c ∼= 1, 6230837

(2) O raio da circunferencia inscrita em um triangulo equilatero hiperbolico de lados medindo 1 (Figura 3.7 aocentro) e 0, 2637354 unidades de medida.

De fato, temos α = π3. Pela Lei dos Senos,

senh(12

)sen(

β2

) =senh (1)

sen(π2

) =⇒sen

2

)=

senh(12

)senh (1)

∼= 0, 44340944 =⇒β

2∼= 0, 4593989 rad =⇒

β ∼= 0, 9187978 rad ∼= 52, 643

Assim,

senh (r)

sen(

β2

) =senh

(12

)sen(π3

) =⇒ r ∼= 0, 2637354.

(3) Dado um triangulo ABC, seja h a altura relativa ao vertice A (Figura 3.7 a direita). Entao, colocando h emfuncao dos lados a, b, c temos

h = cosh−1

√2 cosh (a) cosh (b) cosh (c) − cosh2 (b) − cosh2 (c)

senh (a)

De fato,

cosh (c) = cosh (h) cosh (d− a) = cosh (h) (cosh (d) cosh (a) − senh (d) senh (a))

cosh (b) = cosh (h) cosh (d)

cosh2 (d) − senh2 (d) = 1

Edson Agustini Universidade Federal de Uberlandia [email protected]

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Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica 27

Logo,

cosh (c) = cosh (h)

cosh (b)

cosh (h)cosh (a) −

√−1+

(cosh (b)

cosh (h)

)2

senh (a)

= cosh (b) cosh (a) −

√− cosh2 (h) + cosh2 (b) senh (a) =⇒

cosh (c) − cosh (b) cosh (a)

senh (a)= −

√− cosh2 (h) + cosh2 (b)⇒

− cosh2 (h) + cosh2 (b) =

(cosh (c) − cosh (b) cosh (a)

senh (a)

)2

=⇒cosh (h) =

√2 cosh (a) cosh (b) cosh (c) − cosh2 (b) − cosh2 (c)

senh (a).

3.5 Comparacao Entre as Trigonometrias Hiperbolica e Euclidiana

Estamos tomando como unidade de medida a distancia entre dois arcos correspondentes de horocırculos concentricoscujo quociente e e.

Temos, por proposicao ja vista, que se x e a distancia entre

AB e

CD, entao

CD =

ABe−x. Tomemos x = 1kcom

k > 0.Podemos considerar 1

kcomo sendo unidade de medida. Logo, para k grande, a unidade de medida e pequena e os

arcos

AB e

CD possuem quase o mesmo comprimento.Com esta unidade de medida, as formulas trigonometricas ficam do seguinte modo.

(1) Teorema de Pitagoras Hiperbolico:

cosh( ck

)= cosh

(b

k

)cosh

(ak

).

(2) Lei dos Senos:senh

(ak

)sen (α)

=senh

(bk

)sen (β)

=senh

(ck

)sen (γ)

.

(3) Primeira Lei dos Cossenos:

cosh( ck

)= cosh

(ak

)cosh

(b

k

)− senh

(ak

)senh

(b

k

)cos (γ) .

(4) Segunda Lei dos Cossenos:

cosh(ak

)=

cos (β) cos (γ) + cos (α)

sen (β) sen (γ).

Note que, fazendo k grande, nossos triangulos sao “pequenos”.

Da Formula de Taylor para senh(xk

)em torno do zero temos

senh(xk

)=

∞∑n=0

senh(n) (0)(xk

)nn!

=x

k+

x3

3!k3+

x5

5!k5+ · · ·

Analogamente,

cosh(xk

)=

∞∑n=0

cosh(n)(0)(xk

)nn!

= 1+x2

2!k2+

x4

4!k4+ · · ·

Deste modo, para valores grandes de k podemos considerar

senh(xk

)≃ x

k

e

cosh(xk

)≃ 1+

x2

2k2

[email protected] Universidade Federal de Uberlandia Edson Agustini

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28 Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica

(1) Teorema de Pitagoras Hiperbolico:

cosh( ck

)= cosh

(b

k

)cosh

(ak

)=⇒

1+c2

2k2≃(1+

b2

2k2

)(1+

a2

2k2

)=⇒

1+c2

2k2≃ 1+

a2

2k2+

b2

2k2+

a2b2

4k4=⇒

c2 ≃ a2 + b2 +a2b2

2k2.

Para k grande temosc2 ≃ a2 + b2

que e, aproximadamente, o Teorema de Pitagoras Euclidiano.

(2) Lei dos Senos:

senh(ak

)senα

=senh

(bk

)sen (β)

=senh

(ck

)sen (γ)

=⇒ak

sen (α)≃

bk

sen (β)≃

ck

sen (γ)=⇒

a

sen (α)≃ b

sen (β)≃ c

sen (γ)

que e, aproximadamente, a Lei dos Senos Euclidiana.

(3) Primeira Lei dos Cossenos:

cosh( ck

)= cosh

(ak

)cosh

(b

k

)− senh

(ak

)senh

(b

k

)cos (γ) =⇒

1+c2

2k2≃(1+

b2

2k2

)(1+

a2

2k2

)−

a

k

b

kcos (γ) = 1+

a2

2k2+

b2

2k2+

a2b2

4k4−

ab

k2cos (γ) =⇒

c2 ≃ a2 + b2 − 2 cos (γ) +a2b2

2k2=⇒

c2 ≃ a2 + b2 − 2 cos (γ)

para k grande, que e, aproximadamente, a Lei dos Cossenos euclidiana.

(4) Segunda Lei dos Cossenos:

cosh(ak

)=

cos (β) cos (γ) + cos (α)

sen (β) sen (γ)=⇒

1+a2

2k2≃ cos (β) cos (γ) + cos (α)

sen (β) sen (γ)=⇒

1 ≃ cos (β) cos (γ) + cos (α)

sen (β) sen (γ)=⇒

sen (β) sen (γ) ≃ cos (β) cos (γ) + cos (α) =⇒− cos (α) ≃ cos (β+ γ) =⇒

cos (π− α) ≃ cos (β+ γ) =⇒π− α ≃ β+ γ =⇒

π ≃ α+ β+ γ.

Conclusao: Para unidades de medida muito pequenas, os triangulos hiperbolicos sao “quase” euclidianos, ou entao, oplano hiperbolico e “localmente euclidiano”.

Edson Agustini Universidade Federal de Uberlandia [email protected]

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Introducao a Geometria Hiperbolica Plana e atividades via o Modelo do Disco de Poincare - Parte Teorica 29

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[email protected] Universidade Federal de Uberlandia Edson Agustini