UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE ALAGOAS PROGRAMA ASSOCIADO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA FLÁVIA FERREIRA LEMOS INTERVENÇÃO NA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E VOCABULÁRIO EXPRESSIVO EM CRIANÇAS DE BAIXA RENDA EM FASE DE ALFABETIZAÇÃO. NATAL 2021
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INTERVENÇÃO NA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E VOCABULÁRIO ...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE ALAGOAS
PROGRAMA ASSOCIADO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA
FLÁVIA FERREIRA LEMOS
INTERVENÇÃO NA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E VOCABULÁRIO
EXPRESSIVO EM CRIANÇAS DE BAIXA RENDA EM FASE DE
ALFABETIZAÇÃO.
NATAL
2021
FLÁVIA FERREIRA LEMOS
INTERVENÇÃO NA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E VOCABULÁRIO
EXPRESSIVO EM CRIANÇAS DE BAIXA RENDA EM FASE DE
ALFABETIZAÇÃO.
Projeto de Pesquisa apresentado ao Programa
Associado de Pós-Graduação em
Fonoaudiologia da Universidade Federal da
Paraíba, Universidade Federal do Rio Grande
do Norte e Universidade Estadual de Ciências
da Saúde de Alagoas - PPgfon/ UFPB / UFRN/
UNCISAL, como requisito parcial para a
obtenção do título de mestre em
Fonoaudiologia, sob orientação da Profa. Dra.
Cíntia Alves Salgado-Azoni.
NATAL
2021
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS
Lemos, Flavia Ferreira.
Intervenção na consciência fonológica e vocabulário
expressivo em crianças de baixa renda em fase de alfabetização
/ Flavia Ferreira Lemos. - 2021.
100f.: il.
Dissertação (Mestradoem Fonoaudiologia) - Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde,
Programa Associado de Pós-Graduação em Fonoaudiologia-
6. Classe social - Dissertação. I. Salgado-Azoni, Cíntia Alves.
II. Título.
RN/UF/BSCCS CDU 612.78-053.2
Elaborado por Adriana Alves da Silva Alves Dias - CRB-15/474
AGRADECIMENTOS
Agradeço primordialmente à Deus pela oportunidade de concluir mais uma
etapa da minha vida, sendo um ciclo de bastante aprendizado e evolução tanto
pessoal quanto profissional. Aos meus pais que devo tudo que sou hoje, Dalva e
Lourival, pelos direcionamentos e por sempre estarem ao meu lado independente
das circunstâncias, eles são minha inspiração e minha força.
À minha orientadora, professora Cíntia, por ter me dado a oportunidade de
conhecer um pouco do universo da linguagem escrita. Sou grata por ter me aceitado
em seu projeto de extensão, ainda na graduação, e pela longa caminhada que já
percorremos juntas até esse momento. Ela tem sido uma importante fonte de
inspiração que transformou minha vida e ofereceu oportunidades únicas. Só tenho a
agradecer pela paciência e ensinamentos.
À minha família, em especial minha avó Francisca por me mostrar a força de
uma mulher, sua determinação, coragem e ideal vão me guiar para sempre; vocês
todos são meu alicerce, minha madrinha, tias, primos e afilhada.
Aos meus amigos, que são como um ar puro em meio a todas as adversidades
da vida. Eles acalentam meu coração e me fazem acreditar em um mundo melhor,
mais generoso, igualitário e diverso. Aqui destaco alguns amigos como, Letícia
Amaral, Raphael, Poliana.
A vida acadêmica ainda me permitiu conhecer pessoas maravilhosas, das
quais, eu quero levar por toda minha caminhada profissional. Em especial, agradeço
aos meus companheiros de pós-graduação.
Agradeço também às crianças e suas famílias, aos colaboradores e
pesquisadores do laboratório LEIA. A eles minha eterna gratidão por fomentar e
construir os meus sonhos profissionais. Sem a parceria e respeito, não seria possível
desenvolver este trabalho.
RESUMO
A proficiência de leitura dos estudantes brasileiros é considerada insuficiente e crianças de níveis socioeconômicos mais baixos são mais propensas a apresentarem dificuldades na aprendizagem da leitura. Programas de intervenção na escola tem trazido resultados benéficos para o sucesso na leitura. Objetivo: Verificar a efetividade da intervenção em consciência fonológica e vocabulário expressivo em crianças com baixa renda no início da alfabetização. Método: estudo intervencional, longitudinal, retrospectivo e documental, realizado por meio da coleta de um banco de dados de avaliações de crianças do 1° ano do Ensino Fundamental I de três Escolas Municipais da Cidade de Natal/RN. Participaram 127 crianças com idades entre 6 e 7 anos, de ambos os sexos, distribuídos em dois grupos: grupo intervenção (GI): 40 escolares submetidos a um programa de intervenção em consciência fonológica e vocabulário expressivo e, grupo controle (GC): 87 por crianças não expostas ao programa, mas que foram expostas ao processo de alfabetização no contexto escolar no mesmo período. Para as avaliações comparativas de pré e pós intervenção foram analisadas as habilidades de consciência fonológica, nomeação automática rápida, memória operacional fonológica, identificação de letras e vocabulário expressivo. As intervenções ocorreram durante 15 encontros, aplicadas pelo pesquisador juntamente com o professor em sala de aula, 3 vezes por semana durante 5 semanas, com duração de 60 minutos, no horário da aula. As atividades eram lúdicas e multissensoriais, seguiam sequência hierárquica das habilidades silábicas e fonêmicas, bem como vocábulos seguidos por livros infantis selecionados pela equipe de pesquisadores e escola. Os dados foram analisados por estatística descritiva e inferencial, testes não paramétricos: teste Mann-Whitney, para comparação intergrupos, e Wilcoxon, para comparação intragrupo, com valor significativo de p<0,05 e intervalos com 95% de confiança estatística. Resultados: No GI houve melhora de desempenho estatisticamente significante após a intervenção em consciência fonológica (silábica, fonêmica e total), RAN de dígitos e letras, memória operacional fonológica em dígitos de ordem direta e inversa e identificação de letras. No GC, houve melhora em todas as habilidades do processamento fonológico e de vocabulário expressivo nas categorias semânticas vestuário, alimentos, animais, transportes, locais e brinquedos. Tanto na comparação intra-grupos quanto na comparação entre os mesmos, foi possível observar a eficácia do programa de intervenção focado nessas habilidades, no qual proporcionou ganhos tanto para as habilidades estimuladas como para as demais do processamento fonológico (como RAN, memória operacional fonológica) e identificação de letras que não foram trabalhadas no processo interventivo. Conclusão: O estudo demonstrou a eficácia de um programa de intervenção em consciência fonológica e vocabulário expressivo desenvolvido no ambiente escolar e como esse estimulo pode impactar positivamente a aprendizagem de escolares, principalmente de níveis socioeconômicos mais baixos, nas práticas acadêmicas dos professores. Assim, possibilita o planejamento e formulação de políticas públicas que possam contribuir com o processo de aprendizagem, além da importância da inserção do fonoaudiólogo no ambiente escolar.
INTERVENTION IN PHONOLOGICAL AWARENESS AND EXPRESSIVE
VOCABULARY IN LOW-INCOME CHILDREN IN LITERACY PHASE.
The reading proficiency of Brazilian students is considered insufficient and children from lower socioeconomic levels are more likely to present difficulties in the reading learning process. School-based intervention programs have brought beneficial results for reading success. Objective: To verify the effectiveness of intervention in phonological awareness and expressive vocabulary in low-income children at the beginning of literacy. Method: an interventional, longitudinal, retrospective, and documental study, carried out by collecting a database of assessments of children in the 1st year of Elementary School I in three Municipal Schools in the city of Natal/RN. The participants were 127 children of both sexes, aged between 6 and 7 years old, distributed into two groups: the intervention group (IG): 40 children who underwent an intervention program in phonological awareness and expressive vocabulary; and the control group (CG): 87 children not exposed to the program, but who were exposed to the literacy process in the school context during the same period. For the pre- and post-intervention comparative evaluations the phonological awareness, rapid automatic naming, phonological operational memory, letter identification and expressive vocabulary skills were analyzed. The interventions occurred during 15 sessions, applied by the researcher together with the classroom teacher, 3 times a week for 5 weeks, lasting 60 minutes during class time. The activities were playful and multisensorial, following a hierarchical sequence of syllabic and phonemic skills, as well as vocabulary followed by children's books selected by the research team and the school. Data were analyzed by descriptive and inferential statistics, non-parametric tests: Mann-Whitney test, for intergroup comparison, and Wilcoxon test, for intragroup comparison, with significant value of p<0.05 and intervals with 95% statistical confidence. Results: In GI there was statistically significant performance improvement after the intervention in phonological awareness (syllabic, phonemic and total), digit and letter RAN, phonological operational memory in direct and reverse order digits and letter identification. In the CG, there was improvement in all phonological processing skills and expressive vocabulary in the semantic categories clothing, food, animals, transportation, places, and toys. In the intra-group comparison and in the comparison between groups, it was possible to observe the effectiveness of the intervention program focused on these skills, in which it provided gains both for the stimulated skills and for the others of phonological processing (such as RAN, phonological working memory) and identification of letters that were not worked on in the intervention process. Conclusion: The study brings relevant data about the efficacy of an intervention program in phonological awareness and expressive vocabulary developed in a school environment and how this stimulus may positively impact the learning process of students, especially those from lower socioeconomic levels, in the teachers' academic practices, in planning and formulating public policies that may contribute to the learning process, in addition to the importance of the phonoaudiologist's insertion in the school environment.
Keywords: child language, reading, learning, vocabulary, early educational intervention, social class.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Resultado do índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb) das escolas participantes da pesquisa.........................................................................................................43
Tabela 2. Distribuição dos alunos por sexo nas escolas participantes e grupos (GI e GC) ....46
Tabela 3. Valores de referência do ABFW-vocabulário expressivo (BEFI-LOPES,2004), para crianças de 6 anos de idade....................................................................................................49
Tabela 4. Dados normativos do Teste CONFIAS (MOOJEN et al. 2015), conforme a hipótese de escrita.................................................................................................................................50
Tabela 5. Comparação das médias em processamento fonológico entre grupos na pré-
Tabela 7. Desempenho do GC no processamento fonológico e identificação de letras pré e pós intervenção..............................................................................................................................61
Tabela 8. Comparação das médias em processamento fonológico entre grupos GI e GC no período pós-intervenção..........................................................................................................62
Tabela 9. Comparação das médias percentuais em vocabulário expressivo entre GI e GC no período pré-intervenção...........................................................................................................64
Tabela 10. Comparação das médias percentuais de desempenho em vocabulário expressivo nos períodos pré e pós intervenção no GI............................................................................................................................................ 65
Tabela 11. Comparação das médias percentuais pré e pós intervenção no GC .................................................................................................................................................66
Tabela 12. Comparação das médias em vocabulário expressivo entre GI e GC no período pós-intervenção............................................................................................................................. 67
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1. População alvo dos estudos de intervenções nacionais............................39
Gráfico 2. Média do desempenho dos grupos GI e GC nas habilidades de
processamento fonológico e identificação de letras no período pré-intervenção
figuras); meios de transporte (contendo 11 figuras); moveis e utensílios (24
figuras); profissões (10 figuras); locais (12 figuras); formas e cores (10 figuras) e
brinquedos instrumentos musicais (11 figuras). Em cada campo semântico,
calcula-se o percentual de Designação por Vocábulo Usual (DVU),
correspondente ao percentual de nomeação de figuras que a criança realizou
corretamente, de Não-Designação (ND), corresponde ao percentual de imagens
não nomeadas pelas crianças ou que ela referiu não saber o nome e Processos
de Substituição (PS), refere-se ao percentual de figuras nomeadas que a criança
substituiu a figura apresentada por outro nome. Os processos de substituição
são analisados mediante a tipologia dos processos, denominados: - Numérica:
média percentual de não-designações (ND) e processos de substituições (PS).
Sendo os valores de referência do teste, para crianças com 6 anos de idade para
cada categoria semântica, apresentados na tabela 2.
49
Tabela 3 - Valores de referência do ABFW-vocabulário expressivo (BEFI-LOPES,2004), para crianças de 6 anos de idade.
Categorias semânticas
DVU (%) ND(%) PS(%)
Vestuário 80 0 20
Animais 70 20 10
Alimentos 90 5 5
Meios de transporte
70 5 25
Móveis e utensílios
65 5 30
Profissões 45 25 30
Locais 70 5 25
Formas e cores 85 5 10
Brinquedos e instrumentos
musicais 70 10 20
Legenda: DVU=designações por vocábulos usuais, ND=não-designações e PS=processos de substituição. Fonte: Elaboração da autora, tendo como base os dados do instrumento ABFW (BEFI-LOPES, 2004).
b) Consciência Fonológica: avaliada por meio do teste de “Consciência
Fonológica: Instrumento de Avaliação Sequencial (CONFIAS)” de Moojen et al.
(2015). Seu uso é indicado para crianças a partir de 4 anos. Este protocolo é
composto por duas partes uma referente à consciência silábica constituída por
nove provas (S1:síntese; S2: segmentação; S3: identificação de silaba inicial;
S4: identificação de rima; S5: produção de palavra com a sílaba dada; S6:
identificação de silaba medial; S7: produção de rima; S8: exclusão e S9:
transposição) e a segunda pertencente à consciência fonêmica composta por
sete provas (F1: produção de palavras que inicia com o som dado; F2:
identificação de fonema inicial; F3: identificação de fonema final; F4: exclusão;
F5: síntese; F6: segmentação e F7:transposição). As respostas validas
contabilizam um ponto e as incorretas zero. Na parte silábica a pontuação
máxima é 40 pontos e a parte fonêmica 30 pontos, totalizando 70 pontos que
50
correspondem a 100% de acertos. Valores de referência para cada hipótese de
escrita, abaixo na tabela 3. A utilização deste instrumento possibilita a
investigação das capacidades fonológicas, considerando a relação com a
hipótese da escrita de Ferreiro e Teberosk (1985).
Tabela 4-Dados normativos do Teste CONFIAS (MOOJEN et al. 2015), conforme a hipótese de escrita.
Nível do teste
Hipótese de
escrita
Sílaba Fonema Total
Média Dp Média Dp Média Dp
Pré-silábica 23,52 5,51 8,28 2,21 31,8 6,52
Silábica 27,56 4,55 9,28 3,21 36,84 6,48
Silábico-
alfabética 31,8 4,58 15,2 3,25 47 5,66
Alfabética 35,8 4,41 20,6 5,32 56,4 8,96
Legenda: Dp=desvio-padrão. Fonte: elaboração da autora, tendo como base os dados do
instrumento CONFIAS (MOOJEN et al. 2015).
c) Nomeação Automática Rápida: habilidade avaliada pelo “Teste de
Na comparação das médias do desempenho nas habilidades do
processamento fonológico, nos momentos pré e pós-intervenção, no GI,
observou-se que houve aumento significativo da média nas habilidades de
consciência fonológica nível da sílaba, nível do fonema e no resultado total,
demostrando na comparação inferencial entre os dois períodos dados
estatisticamente significante (p<0,05). Entretanto, os valores obtidos na pré e
pós-intervenção não chegaram próximo aos valores de desempenho esperado
referentes no teste, conforme a hipótese de escrita silábico-alfabética na pré-
intervenção e alfabética na pós-intervenção (Tabela 6).
Com relação a nomeação automática rápida (RAN), as crianças obtiveram
melhora estatisticamente significativas na diminuição das médias de
desempenho, pré e pós-intervenção, em dígitos e letras. No entanto, as crianças
apresentaram tempo maior na nomeação destes dois subtestes, ao comparar
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
CF sílabas
CF fonemas
CF total
RAN dígitos
RAN letras
RAN objetos
RAN cores
MOP
IDENT. Letras
Média de Desempenho nas habilidades do processamento Fonológico e identificação de letras.
GC GI
58
com o desempenho esperado para a faixa etária, de acordo com Araujo, Ferreira
e Ciasca (2016). É possível notar ainda que o número de estudantes que
responderam ao teste aumentou, considerando que no momento pré intervenção
algumas crianças não conseguiram realizar o teste por não saberem letras e
números. Sendo assim, nos dígitos 7 (17,5%) crianças não identificavam o
símbolo visual apresentado e, na pós-intervenção, essa porcentagem diminuiu
para 4 (12,5%) crianças; em letras 11 (27,5%) crianças não reconheciam e, na
pós-intervenção, esse percentual diminuiu para 4 (10,0%). Em objetos e cores,
houve melhora no tempo de nomeação ao comparar pré e pós intervenção,
porém não houve diferença estatisticamente significativa. Vale atentar que, em
objetos, as crianças mostraram tempo de nomeação menor que a média
esperada na pré intervenção, e manteve-se próxima da normalidade no pós
intervenção (Tabela 6).
Quanto à memória operacional fonológica, na repetição de
pseudoplavras, tanto no período antes e após o processo interventivo, as
crianças obtiveram médias abaixo do esperado de acordo com Grigol, Hage
(2011), para a faixa etária. No subtestes de dígitos em ordem direta e inversa
houve melhora quando comparados os dois tempos (Tabela 6).
No teste de identificação de letras (nomear o som ou nome das
letras), ao comparar as médias de desempenho nos dois períodos, as crianças
apresentaram melhora estatisticamente significativa, todavia os valores se
mantiveram abaixo do valor de referência do teste (CAPELLINI, OLIVEIRA,
CUETOS, 2014) que é 20 (Tabela 6).
59
Tabela 6- Desempenho do GI no processamento fonológico e identificação de
letras pré e pós intervenção.
Variáveis
Pré – interveção
Pós-intervenção
N Média (Dp)
Mediana DE Média (Dp)
Média (Dp)
Mediana DE Média (Dp)
Valor de p
Consciência fonológica
Confias silábico 40 17,75 (4,98)
18 31,8 (4,58) 24,00 (5,28)
23 35,8 (4,41)
0,000*
Confias fonêmico 40 3,13 (3,51)
2 15,2 (3,25) 5,75 (4,99)
5 20,6 (5,32)
0,001*
Confias total 40 20,63 (7,51)
21 47 (5,66) 29,75 (9,31)
29 56,4 (8,96)
0,000*
Nomeação automática rápida
n pré/ n pós
RAN Dígitos 33/35 79,21 (37,88)
68 56,50 (27,69)
57,94 (21,50)
54 42,76 (11,96)
0,001*
RAN Letras 29/36 77,31 (28,55)
67 58,31 (17,14)
64,08 (27,71)
60 42,93 (13,66)
0,002*
RAN objetos 40/40 75,55 (20,04)
69 81,08 (14,23)
72,00 (21,41)
70 71,11 (20,50)
0,090
RAN cores 38/38 90,29 (38,20)
79 67,21 (14,57)
82,13 (27,29)
78 53,16 (8,41)
0,130
MOP
Pseudopalavras 40 52,30 (14,56)
53 -- 53,65 (15,0)
52 69,43 0,290
Digitos Ordem direta 40 11,03 (2,87)
11 -- 12,23 (3,74)
12 13,87 0,043*
Digitos de Ordem inversa
40 2,50 (2,79)
2 -- 3,33 (2,62)
4 6,20 0,046*
Identificação de Letras
40 7,43 (3,90)
8 -- 10,20 (4,36)
10 20 0,000*
Legenda: Teste de Wilcoxon p*<0,05; DE=desempenho esperado do teste para a idade; n=número de crianças avaliadas, Dp= desvio-padrão, Med.=mediana, n pré= amostra na pré-intervenção e n pós= amostra na pós-intervenção, MPO: memória operacional fonológica.
60
No que se refere ao GC, ao comparar as médias nos momentos pré e pós-
intervenção houve melhora estatisticamente significativa nas habilidades do
processamento fonológico. Na consciência fonológica houve melhora da média
entre pré e pós intervenção, porém os resultados estão abaixo do desempenho
referente ao teste, de acordo com a hipótese de escrita (MOOJEN et al. 2003).
No RAN todos os subtestes apresentaram diferença ao comparar as médias nos
dois períodos, entretanto os valores de RAN dígitos, letras e cores nos dois
períodos encontram-se com tempo de nomeação maior que o desempenho
esperado conforme o estudo de Araujo, Ferreira e Ciasca (2016) que traz valores
referentes à idade e escolaridade. Em todos os subtestes o número de alunos
que não conseguiam nomear os estímulos nos dois momentos diminuiu,
destacado o RAN dígitos que passou de 22 (25,3%) para 5 (5,7%) e RAN letras
que passou de 28 (32,2%) para 11 (12,6%). Na memória operacional fonológica
e na identificação de letras, também houve melhora estatisticamente significante
nos dois tempos. Todavia, os desempenhos nas provas de pseudopalavras,
dígitos em ordem direta e inversa e identificação de letras ficaram abaixo do valor
esperado para a idade conforme estudos que trazem valores de referência para
idade e escolaridade Grigol, Hage (2011) e Capellini, Oliveira, Cuetos, (2014)
(Tabela 7).
É possível observar melhora significativa no desempenho do grupo GC
em todas as habilidades do processamento fonológico e identificação de letras,
no entanto, essa melhora ao comparar com os dados de referência se manteve
abaixo do esperado pelos testes, para outras populações as quais os testes
foram validados.
61
Tabela 7- Desempenho do GC no processamento fonológico e identificação de letras pré e pós intervenção.
Legenda: Teste de Wilcoxon p*<0,05; DE=desempenho esperado do teste para crianças; n=número de crianças avaliadas; Dp=desvio-padrão; n pré= amostra na pré-intervenção e n pós= amostra na pós-intervenção, MPO: memória operacional fonológica.
Em relação ao período pós intervenção, não foi observada diferença
estatisticamente significativa ao comparar as médias obtidas nas habilidades de
processamento fonológico e identificação de letras entre os grupos, ao utilizar o
teste inferencial de Mann-Whitney (Tabela 8). É possível notar que o GI
melhorou, especialmente na consciência silábica, que apresentava desempenho
inferior no período pré intervenção na comparação com o grupo GC. O grupo GC
62
obteve uma melhor média de desempenho em consciência fonêmica ao
comparar com o GI, podendo ser explicado pelo melhor desempenho no período
pré intervenção em consciência silábica que esse grupo obtinha previamente,
diferentemente do GI. Ainda assim, as crianças deste estudo apresentaram
desempenho inferior ao comparar com os valores esperados pelos instrumentos
utilizados para coleta de dados, com exceção de RAN objetos no grupo GC, que
obteve médias menores que as esperadas para essa faixa etária.
Tabela 8- Comparação das médias em processamento Fonológico entre grupos GI e GC no período pós-intervenção.
Variáveis Grupo N Média (Dp) Mediana
DE Média (Dp)
Valor de p
Consciência silábica
GI 40 24,00 (5,28)
23 35,8
(4,41)
0,767
GC
87
24,33 (7,89)
23
Consciência fonêmica
GI
40
5,75 (4,99)
5
20,6 (5,32)
0,679
GC
87
6,13 (6,86)
5
Consciência
fonológica Total
GI
40
29,75 (9,31)
29
56,4 (8,96)
0,928 GC
87
30,48
(13,87)
29
RAN Dígitos
GI
35
57,94
(21,50)
54
42,76
(11,96)
0,814
GC
82
60,05 (34,43)
52
RAN Letras
GI
36
64,08
(27,71)
60
42,93 (13,66)
0,322
GC
76
61,96
(31,53)
56
RAN objetos
GI
40
72,00
(21,41)
70
71,11 (20,50)
0,297
GC
87
66,85 (16,0)
64
63
RAN cores
GI
38
82,13
(27,29)
78
53,16 (8,41)
0,100
GC
86
75,91
(31,32)
69
MPO
GI
40
53,65 (15,0)
52
69,43
0,927
GC
87
53,73
(16,76)
55
Digitos Ordem direta GI
40
12,23 (3,74)
12
13,87
0,436
GC
87
13,03 (3,35)
12
Digitos de Ordem
inversa
GI
40
3,33 (2,62)
4
6,20
0,759 GC
87
3,53 (2,85)
4
Identificação de Letras
GI
40
10,20 (4,36)
10
20
0,082
GC 87
11,69 (5,64)
12
Teste de Mann-Whitney p*<0,05. Legenda: GI=grupo intervenção; GC=grupo controle; Dp=desvio-padrão; n=número da amostra, DE=desempenho esperado, MPO: memória operacional fonológica.
No comparativo entre as médias no período anterior ao processo
terapêutico na avaliação do vocabulário expressivo entre os grupos GI e GC,
observado na Tabela 9, não houve diferença significativa entre as médias
percentuais de DVU de todas as categorias semânticas, exceto a categoria
animais, que apresentou diferença estatisticamente significativa (U=1323,500;
p=0,023). Nos dados descritivos é possível verificar que a média percentual de
desempenho dos estudantes em todas as categorias semânticas foi maior da
considerada padrão no teste (BEFI-LOPES, 2004), para crianças com faixa
etária de 6 anos, exceto nas categorias vestuário, alimentos, locais e formas e
cores nos dois grupos (GI e GC).
64
Tabela 9- Comparação das médias percentuais em vocabulário expressivo entre GI e GC no período pré-intervenção.
Variável Vocabulário expressivo
Grupo n DVU ± Dp VR
Valor de p
Vestuário (DVU)
GI 40 67 ± 20 80
0,445
GC
87
64 ± 16
Animais (DVU)
GI
40
92 ± 8
70 0,023*
GC
87
90± 11
Alimentos (DVU)
GI
40
81 ± 8
90
0,821
GC
87
78 ± 13
Transportes (DVU)
GI
40
90 ± 7
70
0,076
GC
87
88 ± 9
Móveis e Utensílios (DVU)
GI
40
80 ± 7
65
0,457
GC
87
80 ± 10
Profissões (DVU)
GI
40
56 ±16
45
0,740
GC
87
55 ±14
Locais (DVU)
GI
40
43 ±18
70
0,724
GC
87
44 ±19
Formas e Cores (DVU)
GI
40
81 ±19
85
0,477 GC
87
79 ± 19
Brinquedos e
Instrumentos musicais (DVU)
GI
40
85 ±15
70
0,902
GC 87
85 ±14
Teste de Mann-Whitney p*<0,05. Legenda: DVU=designações por vocábulo usual (ABFW); GI=grupo intervenção; GC=grupo controle; Dp=desvio-padrão, n=número da amostra, VR= valor de referência dado pelo teste para crianças com idade de 6 anos.
Quanto ao vocabulário expressivo do grupo GI houve um aumento das
65
médias percentuais de designações por vocábulo usual (DVU), ao comparar os
períodos pré e pós intervenção, no entanto, esse aumento não foi
estatisticamente significante segundo o teste inferencial. Ao comparar os
resultados das médias percentuais com o percentual estabelecido no teste
ABFW (BEFI-LOPES, 2004), para crianças de 6 anos é possível deter-se ao fato
de que quatro categorias (vestuário, alimentos, locais, formas e cores) se
mantiveram abaixo do esperado para idade (tabela 10).
Tabela 10- Comparação das médias percentuais de desempenho em vocabulário expressivo nos períodos pré e pós intervenção no GI.
Vocabulário Expressivo
Pré intervenção
Pós Intervenção
DVU ± Dp DVU ± Dp VR Valor de p
Vestuário (DVU) 67 ±20 69 ±16 80 0,494
Animais (DVU) 92 ± 8 94 ± 8 70 0,227
Alimentos 81 ± 8 81 ± 9 90 0,587
Transportes 90 ± 7 91 ± 8 70 0,838
Móveis e Utensílios 80 ± 7 81 ± 8 65 0,618
Profissões 56 ±16 58 ±16 45 0,297
Locais 43 ±18 46 ±17 70 0,124
Formas e cores 81 ±19 83 ±17 85 0,282 Brinquedos e instrumentos
musicais 85 ±15 87 ±12 70 0,246
Legenda: Teste de Wilcoxon p*<0,05. DVU=designações por vocábulo usual (ABFW), VR= valor de referência dado pelo teste para crianças com idade de 6 anos; Dp=desvio-padrão.
No vocabulário expressivo do GC ao comparar as médias percentuais de
designações por vocábulo usual (DVU), nos dois períodos, houve um aumento
nesses valores em todas as categorias semânticas, no entanto, as que obtiveram
resultados estatisticamente significantes segundo o teste de Wilcoxon foram as
categorias semânticas: vestuário, animais, alimentos, transportes, locais e
brinquedos e instrumentos musicais. Demostrando haver um aumento
significativo das médias percentuais, ou seja, maiores resultados de acertos
nessas categorias. Mesmo assim, ao comparar os resultados de DVU com o
percentual estabelecido no teste nas categorias semânticas: vestuário,
66
alimentos, locais e formas e cores, esses se encontram abaixo do esperado para
crianças de 6 anos de idade, segundo o teste ABFW (BEFI-LOPES, 2004)
(Tabela 11).
Tabela 11- Comparação das médias percentuais pré e pós intervenção no GC.
Vocabulário Expressivo
Pré intervenção
Pós Intervenção
DVU ± Dp DVU ± Dp VR Valor de p
Vestuário (DVU) 64 ± 16 70 ±15 80 0,000*
Animais (DVU) 90 ± 11 93 ± 8 70 0,015*
Alimentos (DVU) 78 ± 13 81 ±11 90 0,016*
Transportes (DVU) 88 ± 9 91 ± 8 70 0,004*
Móveis e Utensílios (DVU) 80 ± 10 81± 9 65 0,173
Profissões (DVU) 55 ± 14 58 ± 16 45 0,097
Locais (DVU) 44 ± 19 51 ± 18 70 0,000*
Formas e cores (DVU) 79 ± 19 82 ± 19 85 0,053
Brinquedos e instrumentos musicais (DVU)
85 ±14 89 ±11 70 0,001*
Legenda: Teste de Wilcoxon p*<0,05. DVU=designações por vocábulo usual (ABFW). VR= valor de referência dado pelo teste para crianças com idade de 6 anos; Dp=desvio-padrão.
No vocabulário expressivo, no período pós intervenção, não foi observada
diferença estatisticamente significativa, conforme comparação do teste
inferencial, nas médias percentuais de DVU, atingidas entre os grupos em todas
as categorias semânticas. Ambos atingiram o desempenho esperado ao
comparar com o valor de referência do teste ABFW (BEFI-LOPES, 2004), nas
categorias semânticas: animais, transportes, móveis e utensílios, profissões e
brinquedos e instrumentos musicais (Tabela 12).
67
Tabela 12. Comparação das médias em vocabulário expressivo entre GI e GC no período pós-intervenção.
Variável Vocabulário expressivo
Grupo N DVU ± Dp VR
Valor de p
Vestuário (DVU)
GI
40
69 ± 16
80
0,666 GC
87
70 ±15
Animais (DVU)
GI
40
94 ± 8
70
0,481 GC
87
93 ± 8
Alimentos (DVU)
GI
40
81±9
90
0,613 GC
87
81± 11
Transportes (DVU)
GI
40
91 ± 8
70
0,355
GC 87 91± 8
Móveis e Utensílios
(DVU)
GI
40
81± 8
65
0,709
GC
87
81 ± 9
Profissões (DVU)
GI
40
58 ± 16
45
0,835
GC
87
58 ± 16
Locais (DVU)
GI
40
46 ± 17
70
0,070
GC
87
51± 18
Formas e Cores (DVU)
GI
40
83 ± 17
85
0,955
GC
87
82 ± 19
Brinquedos e
Instrumentos musicais (DVU)
GI
40
87 ± 12
70
0,308
GC 87
89 ± 11
Teste de Mann-Whitney p*<0,05. Legenda: DVU=designações por vocábulo usual (ABFW); GI=grupo intervenção; GC=grupo controle; Dp=desvio-padrão, n=número da amostra, VR= valor de referência dado pelo teste para crianças com idade de 6 anos.
68
6 DISCUSSÃO
Os grupos GI e GC obtiveram ganhos, ao comparar os períodos pré e pós-
intervenção em consciência fonológica e vocabulário expressivo, ressaltando
que o suporte escolar juntamente com o processo interventivo, promove
melhoras nos desempenhos dos estudantes.
Quanto à consciência fonológica, é relevante ressaltar que, embora
ambos os grupos tenham apresentado melhoras significativas, esses não
atingiram a pontuação estabelecida pelo CONFIAS (MOOJEN et al., 2003) nos
dois momentos, considerando o desempenho baseado na fase de escrita
silábico-alfabética que estes possuíam antes da intervenção e alfabética na pós-
intervenção.
Estudos levantam hipóteses que fatores socioeconômicos podem
interferir no desempenho em consciência fonológica (SOARES, JACINTO,
CÁRNIO, 2012; CÁRNIO et al., 2015; ROSAL et al. 2016). Pesquisas
desenvolvidas com crianças no início do processo de alfabetização ou no final,
de níveis socioeconômicos considerados médio/baixo, apresentam resultados
inferiores ao comparar com os preconizados pelo teste, pois o teste foi validado
para populações de nível socioeconômico médio/alto (MOOJEN et al. 2003).
Uma pesquisa realizada em Maceió, com crianças do primeiro e quinto
ano escolar, classificadas como sendo de classe econômicas D e E, avaliou as
habilidades de fluência de leitura de palavras, consciência fonológica,
vocabulário receptivo, consideradas preditoras para a aquisição de leitura, nas
quais mantiveram relação positiva com o desempenho de leitura, mesmo as
crianças apresentando baixo nível socioeconômico (BANDINI; BANDINI; NETO,
2017).
No tocante às habilidades pertencentes a consciência fonológica, estudos
nacionais (ROSAL et al. 2016; ROSAL, CORDEIRO, QUEIROGA, 2013),
apontam que as crianças apresentam melhores resultados em consciência
silábica do que fonêmica, corroborando os dados observados neste estudo nos
69
diferentes períodos da avaliação, visto que o foco da intervenção em consciência
fonológica foi no nível de sílaba. A maior dificuldade com a consciência fonêmica,
pode ser justificada pelo fato de o método de alfabetização, predominantemente
utilizado pelo sistema de ensino brasileiro não prioriza a instrução dos sons das
letras e suas relações (SANTOS, VIDAL, GUTIÉRREZ, 2018; JUSTINO,
BARRERA, 2012; SEABRA, DIAS, 2011)
Anteriormente ao ensino formal da alfabetização, as crianças possuem
níveis primários de consciência fonológica, no nível silábico, o qual auxilia na
aprendizagem e se aprimora com base nela. A consciência fonológica no nível
fonêmico é desenvolvida e aprimorada somente quando a criança inicia o
processo de alfabetização, tendo contato com as letras, destacando uma ligação
de reciprocidade entre a consciência fonológica e aquisição de leitura e escrita
(TENÓRIO, ÁVILA, 2012; SOARES, CÁRNIO, 2012). Assim, é possível notar
que as crianças deste estudo, especialmente a do grupo de intervenção precisou
desenvolver primeiramente a consciência da sílaba, não trabalhada previamente
na educação infantil. Este dado torna alarmante a necessidade de estimulação
destas habilidades precocemente no tocante ao processo de desenvolvimento
da leitura e escrita durante a alfabetização.
Processos interventivos, com foco na remediação fonológica, trabalham
habilidades diversas da consciência fonológica, tais como: síntese,
segmentação, aliteração, rima, transposição e manipulação a nível silábico à
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APENDÍCE- INTERVENÇÃO
Quadro 5. Atividades realizadas na intervenção de consciência fonológica e