Resumo dos trabalhos arqueológicos realizados nas seguintes obras: IC 3 - Tomar / Santa Cita EN 118 - Variantes a Gáfete e Alpalhão Variante à EN 365-2 - Cartaxo / Nó de Aveiras de Cima Autores: Laurent Caron, André Freitas e Luíz Oosterbeek Abril de 2010 INTERVENÇÕES ARQUEOLÓGICAS EFECTUADAS PELO CEIPHAR Acompanhamento e Sondagens realizadas em contexto de obra
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INTERVENÇÕES ARQUEOLÓGICAS EFECTUADAS PELO CEIPHAR
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Resumo dos trabalhos arqueológicos realizados nas seguintes obras:
IC 3 - Tomar / Santa Cita
EN 118 - Variantes a Gáfete e Alpalhão
Variante à EN 365-2 - Cartaxo / Nó de
Aveiras de Cima
Autores:
Laurent Caron, André Freitas e Luíz
Oosterbeek
Abril de 2010
INTERVENÇÕES ARQUEOLÓGICAS EFECTUADAS PELO CEIPHAR
Acompanhamento e Sondagens realizadas em contexto de obra
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IC3 - Santa Cita / Alviobeira
L. Caron e L. Oosterbeek
Em Junho de 1999, iniciou-se o acompanhamento arqueológico da construção do IC3, troço
Santa Cita / Alviobeira, sendo um dos objectivos principais desta obra desviar uma grande
parte do tráfego que transitava pela cidade de Tomar.
Fig. 1 - Vista geral da escavação.
No Estudo de Impacte Ambiental (EIA) realizado o qual foi disponibilizado pela empreiteira da
obra, a Construdora do LENA, foram apontados elementos patrimoniais na área de
intervenção que estavam ameaçados de destruição. Perante esta situação, foi contactado o
CEIPHAR que disponibilizou de imediato o arqueólogo, Laurent Caron, encarregado de
proceder ao acompanhamento das obras sob a coordenação do Doutor Luíz Oosterbeek.
Fig. 2 - Camada C (mousteriense inferior)
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Foram identificados neste traçado 10 sítios, quase todos de cariz etnográfico sendo a maior
parte deles constituídos por poços antigos. No nó de Santa Cita foi necessário proceder a
realização de uma escavação de emergência uma vez que a obra iria destruir um sítio
arqueológico já previamente registado e que tinha sido parcialmente escavado em pelo
arqueólogo Nuno Bicho.
Tratava-se de um sítio pré-histórico com três níveis de ocupação: Mustierense Inferior,
Mustierense Superior (140.000 ac. – 40.000 a.C.) e Mesolítico (10.000 a.C. – 6.000 a.C.), que
tinha sido estudado anteriormente pelos arqueólogos João Zilhão e Anthony Marks (1991 e
1994) e ainda Nuno Bicho (1997) e que foi, assim, alvo de uma escavação integral.
Fig. 3 - Realização da moldagem do paleosolo.
Os resultados da intervenção de emergência confirmaram a anterior estratigrafia (observada
pelo Arqueólogo Nuno Bicho), assim como a tipologia do espólio. A intervenção teve, também,
como objectivo conservar um testemunho da ocupação musteriense de Santa Cita através da
moldagem de uma superfície de 4m2 relativa ao nível musteriense inferior, e da extracção de
uma coluna estratigráfica. A recolha foi integral, para efeitos museográficos (o molde está
exposto no Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo em Mação).
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Variante à E.N. 118, Gáfete e Variante à E.N. 18, Alpalhão
L. Caron e L. Oosterbeek
A construção do troço da E.N. 118 e E.N. 18, variantes de Gáfete e Alpalhão, teve por objectivo
principal a supressão do tráfego nestas localidades, tornando-as mais seguras para a
população.
O acompanhamento arqueológico das variantes começou em Janeiro de 2002, tendo acabado
em Março. A construção das duas variantes podia implicar uma eventual destruição de sítios
arqueológicos, podendo haver necessidade de uma intervenção arqueológica de emergência.
De facto, no Estudo de Impacte Ambiental (EIA) realizado e que foi disponibilizado pela
empreiteira da obra (Construdora do LENA), foram referidos elementos patrimoniais na área
de intervenção, directamente ameaçados de destruição. Perante esta situação, foi contactado
o CEIPHAR que disponibilizou o arqueólogo. Laurent Caron, encarregado de proceder ao
acompanhamento das obras, sob a coordenação do Doutor Luiz Oosterbeek.
Fig. 4 - Sepultura após limpeza e escavação.
Na variante de Gáfete, foram identificados, no traçado ou perto dele, 14 sítios, quase todos de
cariz etnográfico (poços, eira e pedreira). Nenhum vestígio arqueológico foi descoberto
durante as obras. Por seu lado e fora do alcance das obras encontrava-se a Capela de S.
Marcos e duas sepulturas escavadas na rocha, as quais foram novamente registadas.
12 sítios, de cariz etnográfico (poços e eiras), foram registados, na variante de Alpalhão, com
excepção de uma sepultura escavada na rocha que se encontrava no meio do traçado. Uma
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vez que a estrutura ía ser destruída, efectuou-se uma acção de limpeza em que se utilizou uma
quadrícula, tendo-se verificado, rapidamente, que a sepultura tinha sido remexida e esvaziada,
apenas tendo sido descoberto um fragmento de cerâmica (bordo) de cronologia provável
medieval. Fora da sepultura, nos três quadrados a Sul, foram recolhidos mais fragmentos da
mesma cerâmica, um deles (bordo) encaixando-se ao primeiro que tinha sido encontrado.
Fig. 5 - Sepultura após deslocação e restauro.
Mais tarde, durante as obras de escavação do local, surgiu a hipótese da sua deslocação,
tendo-se optado por esta via, ao verificar-se que o bloco de granito se tratava, afinal, de um
enorme bloco solto, susceptível de ser removido. Deste modo, no dia 12 de Março de 2003,
realizou-se uma operação de deslocação e de reconstituição da sepultura num local mais
afastado, na margem do caminho paralelo à variante. Estiveram presentes no local técnicos do
Lena, do IEP e do CEIPHAR. Os dois blocos foram deslocados com a ajuda de uma máquina
escavadora e colocados numa vala, previamente aberta para esse efeito. A operação realizou-
se com algumas dificuldades devido ao peso da estrutura, não se tendo conseguido evitar que
algumas partes da sepultura fossem partidas. Salienta-se igualmente que a sepultura não
conservou a sua orientação exacta, apesar de continuar orientada na direcção Este-Oeste.
No entanto, podemos considerar que o resultado final excedeu as expectativas iniciais,
aproveitando para louvar todos os esforços, feitos pelas equipas presentes, com vista à
recuperação da estrutura, apesar da sua previsível destruição.
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Variante à E.N. 365-2 – Cartaxo / Nó de Aveiras de Cima
L. Caron e L. Oosterbeek
Em Junho de 2002, iniciou-se o acompanhamento arqueológico da variante à E.N. 365-2 –
Cartaxo / Nó de Aveiras de Cima, cuja obra tinha por objectivo melhorar a acessibilidade entre
o Cartaxo e a Auto-estrada do Norte (A1). No Estudo de Impacte Ambiental (EIA) realizado, que
foi disponibilizado pela empreiteira da obra (Construtora do LENA), foram apontados
elementos patrimoniais na área de intervenção, directamente ameaçados de destruição.
Perante esta situação, foi contactado o CEIPHAR que logo disponibilizou o arqueólogo, Laurent
Caron, encarregado de proceder ao acompanhamento das obras sob a coordenação do Doutor
Luíz Oosterbeek.
Fig. 6 - Panorâmica da zona B do sítio arqueológico.
Assim, foram identificados neste traçado 8 sítios, quase todos de cariz etnográfico e a maior
parte deles sendo constituídos por poços antigos. No local da ponte, que passa por cima da
Ribeira da Fonte da Telha (freguesia de Pontével, concelho de Cartaxo) foram identificados
vestígios arqueológicos no decorrer do acompanhamento da obra (mancha negra com
fragmentos de cerâmica e peças líticas). Em Julho de 2002, uma equipa arqueológica,
coordenada pelo Doutor L. Oosterbeek e dirigida no terreno pelo arqueólogo L. Caron, iniciou
trabalhos de escavação de emergências a fim de melhor avaliar a situação.
O sítio situava-se a alguns metros da ribeira, na sua margem direita. Apesar do sítio se
encontrar destruído na sua quase totalidade, foi possível observar no corte estratigráfico oeste
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a existência de uma vala, de alinhamento sub-rectilíneo, com orientação Este-Oeste,
preenchida por um depósito pardo escuro, rico em materiais arqueológicos tais como
cerâmica, manual e feita ao torno, e artefacto líticos.
Fig. 7 - Vestígios de restos de comida associados á fragmentos de cerâmica.
Esta vala, de origem natural (linha de água) foi remodelada pelo homem com a provável
finalidade de servir de depósito de lixo (foram encontrados restos de comida: ossos,
associados fragmentos de cerâmica). Os materiais encontrados (cerâmicos e líticos) foram
atribuídos à Idade do Bronze Final – Inicio da Idade do Ferro.
Podemos concluir que os elementos arqueológicos observados neste local apontam para a
existência na zona (provavelmente perto da margem oeste da ribeira, em local elevado) de um
sítio arqueológico (quinta ou povoado) da Idade do Bronze Final - início da Idade do Ferro.
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Variante à E. N. 238 entre a E. N. 110 (IC3) e proximidades
de Ferreira do Zêzere
L. Caron, A. Freita e L. Oosterbeek
A construção da Variante à E. N. 238, entre a E. N. 110 (IC3) e proximidades de Ferreira do
Zêzere iniciou-se nos primeiros meses de 2005, sendo previstos impactes ao nível do
património, apenas em relação às estruturaras etnográficas (na sua maioria poços e estruturas
de apoio às actividades agrícolas). A evolução da obra, a cargo da Construtora do Lena, foi
acompanhada pelos arqueólogos Laurent Caron e André Freitas, ao serviço do CEIPHAR
(Centro de Interpretação Pré-Histórica do Alto Ribatejo), sob a coordenação do Doutor Luiz
Oosterbeek.
Durante o acompanhamento arqueológico foram identificados 3 sítios arqueológicos, 2 de
Época Pré-histórica e 1 de Época Romana, todos na zona da Quinta do Paço. No primeiro sítio,
“Quinta do Paço I”, identificado na
fase inicial de prospecção precedente
aos trabalhos mecânicos, foi registada
a presença de 4 monólitos todos eles
de forma apontada, associados à
presença de peças líticas em sílex,
quartzo e quartzito, assim como a
presença de escassos fragmentos de
cerâmica. Foi realizada uma sondagem
arqueológica junto do único menir que
se encontrava dentro da zona atingida
pela obra, a qual revelou uma
completa destruição dos possíveis
estratos arqueológicos até à rocha
mãe (que se encontrava, em termos
médios, a apenas 20cm da superfície).
Um segundo local, “Quinta do Paço II”
foi identificado durante a fase de
desmatação e decapagem, revelando à
superfície algumas lajes de gneiss, e
materiais líticos e cerâmicos que,
desde logo, apontaram para uma
cronologia situada entre o Calcolítico e a Idade do Bronze Inicial. As sondagens mecânicas
realizadas na área revelaram um cenário de destruição idêntico ao da “Quinta do Paço I”,
essencialmente devido à plantação de eucaliptos no local. Contudo, durante o
acompanhamento das obras de escavação foi verificada a existência de 4 estruturas em
Fig. 8 - Menir 1-
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negativo (e de uma 5ª numa sondagem mecânica posterior), englobando materiais
arqueológicos tipologicamente idênticos aos recolhidos à superfície. A escavação arqueológica
aí realizada revelou o carácter ritual destas estruturas, sugerido pelo preenchimento idêntico
verificado em quase todas elas, pela utilização sucessiva de fogo, tanto em estruturas próprias
(lareiras) como sobre pisos em torno de uma estela-menir, a qual ainda se conservava na sua
posição vertical (fig.1). O grau de destruição em que o sítio se encontrava não permitiu uma
classificação morfológica completa destas estruturas, sendo apenas possível registar os seus
perfis côncavos e bases planas. As datações de luminescência, realizadas a partir de
sedimentos das estruturas em negativo, apontam para uma cronologia entre finais do
6ºmilénio a.C. e meados do 4º milénio a.C., o que não parece, no entanto, concordante com a
cronologia relativa, baseada na tipologia cerâmica aqui recolhida, a qual aponta para um
momento de transição entre o Calcolítico e o início da Idade do Bronze da região, entre
meados do 3º milénio a.C. e meados do 2º milénio a.C. De facto, as datações obtidas poderão
ter sido alteradas devido ao elevado nível de radiação dos minerais constituintes destes
sedimentos, pelo que se esperam novas datações, desta vez recorrendo aos materiais
cerâmicos
Por fim, a poucos metros deste último sítio, as obras de escavação revelaram a existência de 2
fossas de forma esférica, escavadas no substrato rochoso deteriorado, nas quais se
encontravam blocos de gneiss, telhas, e alguma cerâmica comum, de cronologia romana
“Quinta do Paço III”. Não foram detectadas quaisquer outras estruturas ou vestígios
associados a este último sítio, dentro da área afectada pela obra.
Fig. 9 - Vista das estruturas sobrepostas.
Fig . 10 - Levantamento de amostras para datações.
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Fig. 12 - Sepultura 2.
Fig. 11 - Sepultura 1.
Acompanhamento Arqueológico da Variante à ponte sobre a
Ribeira de Figueiró (E.N. 18, Nisa)
L. Caron, A. Freitas e L. Oosterbeek
A variante em causa apresenta uma extensão total de 700 metros, aproximadamente, e
abrange o distrito de Portalegre, concelho de Nisa, constituindo um traçado que evita a
travessia de uma estreita ponte e de duas curvas perigosas, tornando mais segura esta mesma
estrada. No Estudo de Impacte Ambiental (E.I.A.) realizado,
concedido pela empreiteira da obra (Construtora do LENA),
foram apontados elementos patrimoniais na área de
intervenção, directamente e indirectamente ameaçados de
destruição, pelo que foi contactado o CEIPHAR que
imediatamente disponibilizou os arqueólogos Laurent Caron
e André Freitas, encarregados de proceder ao
acompanhamento das obras.
No total, ao longo do troço, e no decorrer dos trabalhos de
acompanhamento arqueológico, foram identificados, e
consequentemente registados e inventariados, 6 registos
patrimoniais, sendo 4 destes de carácter etnográfico, e 2 de
cariz arqueológico. Nenhum dos sítios sofreu impacto
directo.
Num terreno que foi “concedido temporariamente” à
construtora, para extracção de terra, foram descobertas duas sepulturas antropomórficas
escavadas na rocha (granito). Estas sepulturas encontravam-se preenchidas apenas com alguns
sedimentos de deposição natural, revelando que teriam sido violadas e o seu conteúdo
esvaziado. Foram, também, realizadas duas sondagens
mecânicas de avaliação no terreno contíguo a estes
afloramentos mas que não revelaram quaisquer vestígios
arqueológicos. O levantamento topográfico das sepulturas
não foi efectuado, uma vez que se tratava de um terreno
privado, cujo proprietário quis que a acção dos arqueólogos
se restringisse apenas e unicamente à zona de escavação.
No traçado, foram recolhidos 3 fragmentos de cerâmica de
época moderna/recente, e 4 peças líticas, sendo a peça de
sílex a única que se pode afirmar, com toda a segurança, ser
um produto de debitagem, tratando-se certamente de
casos isolados. As restantes 3, em quartzo, matéria que
abunda na zona, apresentam fracturas que poderão ter sido