Interpretação teológica de Israel a partir do exílio babilônico Prof. Ms. Natalino das Neves www.natalinodasneves.blogspot.com.br
Interpretação teológica de
Israel a partir do exílio
babilônico
Prof. Ms. Natalino das Neves
www.natal inodasneves.blogspot.com.br
INTRODUÇÃO
• A história do povo de Israel é construída por
meio da crença em um Deus presente na rotina
diária da nação e com promessas para um
mundo real.
• A perda da independência e as várias diásporas
desse povo mudaram a forma de pensar e de
registrar por meio dos escritos.
• Conflitos com a influência estrangeira.
• Influência que vai impactar também na formação
do cristianismo.
I. ESPERANÇA TEOLÓGICA DE ISRAEL NO PERÍODO PRÉ-EXÍLICO
• A história do povo de Israel é baseada na
esperança:
• Em um Deus presente na história e não um Deus
espiritualizado e inatingível.
• Concreta e histórica.
• Em um Deus presente que se interessa em atender
seus anseios concretos.
• Dinâmica da esperança que começa com a
revelação de um Deus que promete terra e um
lugar para viver a um homem chamado Abraão e
sua descendência.
I. ESPERANÇA TEOLÓGICA DE ISRAEL NO PERÍODO PRÉ-EXÍLICO
• Transmissão da fé pelos patriarcas.
• Após um período de opressão em terra
estrangeira (Egito) surge a promessa que
desperta a esperança numa libertação
sociopolítica, que se concretiza com a libertação
da opressão (Ex 3,6-10).
• Na caminhada pelo deserto, o povo tem a
convicção da presença de Deus, caminhando
junto ao seu povo.
I. ESPERANÇA TEOLÓGICA DE ISRAEL NO PERÍODO PRÉ-EXÍLICO
• O reino de Deus com o seu povo escolhido =formação de um sistema igualitário das dozetribos.
• Esperança que “baseada nas promessas deDeus, ela se torna o motor que incentiva o agir”.Não é uma fé inativa.
• Reinado de Davi = promessas são concretizadas.O povo se torna grande e respeitado e vivem emcerta liberdade e paz.
• Situação que passa a ser lembrada em váriasoportunidades na história futura deste povo.
I. ESPERANÇA TEOLÓGICA DE ISRAEL NO PERÍODO PRÉ-EXÍLICO
• A dinâmica da esperança cede lugar à instituição quese julga cada vez mais independente, a realeza(monarquia).
• O fracasso desta instituição culmina com:
• A destruição dos muros da grande cidade deJerusalém;
• A destruição de seu majestoso templo;
• Na dispersão do povo;
• Na deportação da elite judaica para a Babilônia em587 a.C.;
• O fim da monarquia;
• A cessação do oferecimento de sacrifícios.
I. ESPERANÇA TEOLÓGICA DE ISRAEL NO PERÍODO PRÉ-EXÍLICO
• A queda do Estado de Judá foi o evento que tevemaior efeito de transformação sobre o javismo.
• Os impactos são explicitados na literatura daépoca, como exemplos:
• Livro de Lamentações (05 lamentações – ver Lm 2.1-8s; ); e
• Alguns salmos: LC – 44, 60, 74, 79, 123; LI – 77, 1-15,102).
• Até o exílio a teologia preponderante é de um Deusque age e controla a história, um senhor absoluto,cujo projeto escatológico é construído dentro dopróprio tempo contínuo do mundo.
O futuro da Babilônia é vosso futuro: Jr 29.4-7
4 - Assim diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel, atodos os que foram transportados, que eu fiz transportar deJerusalém para a Babilônia:
5 - Edificai casas e habitai-as; plantai jardins e comei o seufruto.
6 - Tomai mulheres e gerai filhos e filhas; tomai mulherespara vossos filhos e dai vossas filhas a maridos, para quetenham filhos e filhas; multiplicai-vos ali e não vos diminuais.
7 - Procurai a paz da cidade para onde vos fiz transportar; eorai por ela ao SENHOR, porque, na sua paz, vós tereis paz.
Advertência contra os falsos profetas Jr 29.7-8
II. O IMPACTO DO EXÍLIO NA ESPERANÇA TEOLÓGICA DE ISRAEL
• O episódio do exílio babilônico, no entendimento
dos judeus, põe em prova o poder de Iahweh e a
fidelidade com seu povo.
• Onde está o Deus presente, que caminha e
protege seu povo?
• Os profetas têm um papel importante para
apresentar respostas.
• Projeto de Deus Vs comportamento do povo.
II. O IMPACTO DO EXÍLIO NA ESPERANÇA TEOLÓGICA DE ISRAEL
• Profetas - A realização do projeto de Deus não é
linear e constantemente progressivo, mas ocorre
na história de forma dialética, podendo haver
progressos e retrocessos, aceleração e
estagnação.
• Os resultados não são condicionais à ação de
Deus, mas sim ao agir do povo.
• Durante o exílio, os profetas continuam
lembrando o povo da aliança com Iahweh,
exigindo conversão de rumo, visando a
concretização do plano de Deus.
II. O IMPACTO DO EXÍLIO NA ESPERANÇA TEOLÓGICA DE ISRAEL
• Todavia, a cultura que passa a predominar é a da
desconfiança, pois grandes impérios da surgem
com controle mundial, inclusive sobre a Palestina.
Sofonias 1,12b “[...] homens que, concentrados em
sua borra, dizem em seu coração: ‘Iahweh não pode
fazer nem o bem nem o mal”.
‘Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos
filhos embotaram-se’ (Jr 31,29; Ez 18,2).”
Ver afirmação de Jeremias: Jr 7.26; 16.12.
II. O IMPACTO DO EXÍLIO NA ESPERANÇA TEOLÓGICA DE ISRAEL
• O sincretismo e a multiplicidade de cultos florescena Palestina, a ponto da religião cananeiaprevalecer sobre o javismo, Iahweh passa a sermais um dos deuses a serem adorados.
• Outro impacto neste período foi a queda dapopularidade da teologia profética devido àsmudanças no curso da história do povo judaico.
• Remanescente fiel:
• O que surge é o questionamento da duração destejuízo de Deus (Sl 74,9-10; 102,14).
• Muitas pessoas ainda mantinham o oferecimento desacrifícios nas ruínas do Templo (Jr 41,5-6; Zc 7,5; Zc8,19; 2 Rs 25,18-9,25).
II. O IMPACTO DO EXÍLIO NA ESPERANÇA TEOLÓGICA DE ISRAEL
• Momentos de crise são momentos de
questionamentos, bem como oportunidades de
crescimento e amadurecimento
• Crença popular: lutas entre as nações eram
conduzidas pelos deuses, portanto responsáveis
pelo sucesso ou fracasso.
• Os profetas agora têm a incumbência de enfatizar
a fidelidade de Deus, apesar de tudo o que
estava acontecendo, e resgatar a esperança do
povo.
II. O IMPACTO DO EXÍLIO NA ESPERANÇA TEOLÓGICA DE ISRAEL
• No entanto esses profetas, no período do exílio,
continuam enfatizando uma esperança de
concretização do projeto de Deus dentro da
história concreta.
• Nesta nova realidade, o modelo histórico-
escatológico não poderia ser mantido como
modelo predominante.
• A perspectiva escatológico-histórica, que
predominava no período pré-exílio, passa a ser
substituída paulatinamente pela perspectiva
apocalíptica.
RESUMO CRONOLÓGICO PERÍODO PÓS-EXÍLIO
• 538 a.C. – inicio do regresso dos exilados;
• 520 a.C – início da reconstrução do Templo (Ed 5.1;Ag1.1; Zc 1.1);
• 515 a.C. – término da construção do Templo (Ed 6.15),mas Jerusalém continua em condições de semi-abandono;
• 458 a.C. – Chegada de mais uma caravana derepatriados chefiada por Esdras (Ed 7.7). É promulgadocomo lei cívil o Pentateuco (Ne 10.30);
• 445 a.C. – Neemias lidera a reconstrução dos muros (Ne1.3; 1.8-18). Jerusalém ainda com escassez de habitantes(Ne 7.4; 11.1-2).
• 433 a.C. – Última data fornecida pelos textos bíblicos (Ne13.6).
II. A ESPERANÇA TEOLÓGICA PÓS-EXÍLICA E O SURGIMENTO DO JUDAISMO
• Nos primeiros dois séculos após o exílio formou-
se o judaísmo a partir de Israel, passando de
Estado para a comunidade, e de religião cultual a
religião de escritura.
• Ênfase para: Esdras e Neemias.
• 538 a.C. - O império persa, diferente dos impérios
anteriores, permitia que os exilados voltassem
para suas terras para reconstruir as cidades e
instituições religiosas.
II. A ESPERANÇA TEOLÓGICA PÓS-EXÍLICA E O SURGIMENTO DO JUDAISMO
“[...] eu devolvi a seus respectivos lugares os deuses que lá
haviam residido e (0s) fiz habitar uma moradia perpétua, eu
reuni todos os deuses dos povos e os devolvi às suas
respectivas localidades. Quanto aos deuses da região de
Sumer e de Akkad que Nabunaid introduziria na Babilônia
com a ira do Senhor dos deuses, sob as ordens de Marduk, o
grande Senhor, eu fiz com que encontrassem nas suas
moradas uma habitação agradável com o bem-estar. Que
todos os deuses que eu fiz voltar a seus lugares sagrados
falem todos os dias a Bel e a Nabu do prolongamento de
minha vida, que pronunciem palavras a meu favor [...]”
Cilindro de argila descoberto na Babilônia, denominado pelos
arqueólogos como “cilindro de Ciro”.
II. A ESPERANÇA TEOLÓGICA PÓS-EXÍLICA E O SURGIMENTO DO JUDAISMO
• De início Judá era governado por um sumosacerdote sob a supervisão do governador persa.
• Em 538 a. C. a elite de Israel exilada na Babilôniaretorna para Judá e traz consigo o seu próprioprojeto religioso.
• O regresso à “Terra Santa” não obteve oentusiasmo que muitos esperavam (adesão emmassa). Muitos hebreus ficaram na Babilônia.
• Colônia de hebreus na ilha de Elefantina (Egito) –existência de um templo dedicado ao Deus deIsrael – relacionamento por cartas com Palestina.
II. A ESPERANÇA TEOLÓGICA PÓS-EXÍLICA E O SURGIMENTO DO JUDAISMO
• Entretanto, a realidade da Judéia estava bem
longe daquilo que haviam sonhado (Sl 137).
• No retorno, vários problemas:
• Dificuldades para reconstruir o Templo (Ed 3-4.5) e;
• Reconstrução da cidade de Jerusalém (Ed 4.12-16),
• Queda da monarquia e a falta de um descendente deDavi (último Zorobabel).
• O grupo que retorna do exílio babilônico começa
um primeiro movimento de reforma com base em
uma escatologia e um mundo simbólico
apocalíptico.
DU
II. A ESPERANÇA TEOLÓGICA PÓS-EXÍLICA E O SURGIMENTO DO JUDAISMO
• Entretanto, migra de sua dimensão escatológica
apocalíptica para um movimento de controle da
comunidade.
• Em aproximadamente 445 a.C., Judá se torna
província separada com governadores judaicos,
período iniciado por Neemias.
• Em 438 a.C. chega Esdras, sacerdote e escriba,
aliado ao governo de Neemias, juntos
reconquistam a identidade de povo comunidade
organizada para Judá.
II. A ESPERANÇA TEOLÓGICA PÓS-EXÍLICA E O SURGIMENTO DO JUDAISMO
• Essa nova fase é importantíssima para o estudo,
pois essa nova situação trouxe novamente o
desenvolvimento intelectual e literário.
II. A ESPERANÇA TEOLÓGICA PÓS-EXÍLICA E O SURGIMENTO DO JUDAISMO
• Neemias:
• Contribui com a manutenção externa (muro); e
• interna (remissão geral das dívidas, resgate do
recebimento dos dízimos aos levitas, a observância do
shabbath e oposição aos casamentos mistos).
II. A ESPERANÇA TEOLÓGICA PÓS-EXÍLICA E O SURGIMENTO DO JUDAISMO
• Esdras:
• Contribui para a reforma religiosa;
• Ampla autoridade do rei persa para organizar os
negócios da comunidade em Jerusalém “com base
num código de leis que Esdras tinha à mão”;
• Destaca a hierarquia sacerdotal que tem forte
liderança na comunidade;
• Assessorado por um grupo de escribas-levitas
(mestres espirituais) na leitura e interpretação da Lei.
II. A ESPERANÇA TEOLÓGICA PÓS-EXÍLICA E O SURGIMENTO DO JUDAISMO
• Após o exílio babilônico as reuniões nas casas e
sinagogas passaram a ser um espaço importante
para a formação religiosa como nas orientações
rotineiras.
• A família e o espaço do lar voltam a ser
valorizados.
• A obra de Esdras “lançou base para o períodoseguinte, de modo que, mais tarde, ele chegou a sercomparado a Moisés e glorificado como o finalizadorda obra de Moisés” (FOHRER, 1982, P. 448).
II. A ESPERANÇA TEOLÓGICA PÓS-EXÍLICA E O SURGIMENTO DO JUDAISMO
• A obra de Esdras contribuiu para que o judaísmoprimitivo fosse determinado pela lei, com posiçãocentral ao ritual cultual, tanto na Judéia como nadiáspora babilônica.
• No chamado “século obscuro” que, provavelmente,foram formadas partes consideráveis da literaturaveterotestamentária (DONNER, 2006, P. 494).
• Da tradição oral para a escrita: ‘Investigai a Escriturade Javé e lede!’ (Is 34.16)”.
II. A ESPERANÇA TEOLÓGICA PÓS-EXÍLICA E O SURGIMENTO DO JUDAISMO
• “Os textos formam cada vez mais o centro da
religião. Começam a ser lidos no culto”, dando
início gradativo à “substituição do culto de
sacrifício pelo culto da palavra, o pressuposto
para o surgimento da sinagoga”.
• Com o judaísmo firma-se o monoteísmo na vida
religiosa de Israel.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O entendimento da transformação do
pensamento teológico a partir da
evolução histórica do povo de Israel
tem muito a ver com os textos bíblicos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No pós-exílio, muitos textos foram
elaborados e complementaram a
tradição oral e textos escritos
originalmente, uma releitura
influenciada pelo contexto do último
redator bíblico;
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os acontecimentos durante a história
do povo da Bíblia influenciaram na
maneira de se relacionar e ver Deus,
como por exemplo, a evolução do
politeísmo para o monoteísmo e num
Deus universal.
BLANK, Reinol J. Escatologia do mundo: o projeto cósmico de Deus(Escatologia II). São Paulo: Paulus, 2001.
CAZELLES, Henri. História política de Israel: desde as origens atéAlexandre magno. São Paulo: Paulinas, 1986.
DONNER, H. História de Israel e dos povos vizinhos: Da época dadivisão do reino até Alexandre Magno. V 2. São Leopoldo: Sinodal,1997.
FOHRER, G. História da religião de Israel. São Paulo: Paulinas, 1983.
GOTTWALD, N.K. Introdução sócio-literária à Bíblia Hebraica. São Paulo:Paulinas, 1988.
KLEIN, Ralph W. Israel no Exílio: uma interpretação teológica. SantoAndré: Academia Cristã; São Paulo: Paulus, 2012.
REFERÊNCIAS
Lienemann-perrin, Christine. Missão e diálogo inter-religioso. São Leopoldo: Sinodal; CEBI, 2005.
PIXLEY, Jorge. A História de Israel a partir dos pobres. Petrópolis: Vozes, 1989.
SCHWANTES, M. Breve história de Israel. São Leopoldo: Oikos, 2008.
SCHWANTES, M. Sofrimento e esperança no exílio. São Leopoldo:Sinodal, 1987.
STORNIOLO, Ivo. Como ler o Livro de Jó: o desafio da verdadeira religião. 5. ed. São Paulo: Paulus, 2008.
REFERÊNCIAS
GRATO PELA ATENÇÃO.
NATALINO DAS NEVES
BLOG
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Fones contato(41) 8409 8094 (41) 3076 3589
APÊNDICE
• Sistema teológico par explicar a história do povo: Is
41.8-16; 42.18-25; ... Monoteísmo Is 44.24ss e Is
52.1;
• Promessas à descendência de Davi: 2 Sm 7.16-16; 1
Cr 17.11-14; Sl 89.27;
• Tradição da legitimação do sacerdócio sadoquista:
Sadoc recebe o cargo de sumo sacerdote como
prémio na proclamação de Salomão como rei (1 Rs
2.35; Ez 40.46; 44.15-16).
• Neemias: casamento com estrangeiras (Ed 9-10; Ne
13.23-30); exclusão de estrangeiros (Ne 13.3);
fechamento das portas para guardar o sábado (Ne
13.15-22).
APÊNDICE
• Lamentações: confissões de pecado (1.18,20,22;
3.42; 5.7,16) ao contrário de Jr 31.29-30; Ez 18.2; e sl
44.18; sl 74.19);
• Jeremias afirma que a atual geração era pior do que a
dos pais Jr 7.26; 16.12.
• Jeremias: mensagem de submissão à Babilônia (21.9;
27.10-14; 38.19; 39.9; 42.7ss). O futuro da Babilônia é
seu futuro (Jr 29.4-7)