INTERPRETAO DA PALAVRA DE DEUS E A HERMENUTICA
Neste livro voc, alm do estudo INTERPRETANDO A BBLIA, encontrar
tambm figuras de retrica.HERMENUTICAREGRAS DE INTERPRETACODAS
SAGRADAS ESCRITURASLivro de: E. LUND e P.C. NELSONTraduzido por
Etuvino Adiers da 7 ediodo original castelhano:HERMENUTICA -
Regrasde Interpretaodas Sagradas EscriturasDr. E. Lund, fecundo e
prestigioso professor da Bblia nalngua espanhola, conhecido no
mundo evanglico e no mundo das letras por sua erudio e sua
publicaes. Alm das lnguas em que a Bblia foi originalmente escrita,
o professor Lund dominava vrios idiomas modernos e vrios dialetos
falados no arquiplago das Filipinas. A Editora Vida tem a grata
satisfao de apresentar aos seus leitores esta edio de HERMENUTICA,
de grande necessidade entre o povo de lngua portuguesa. HERMENUTICA
por E. Lund uma obra de grande utilidade, no somente para pastores
e evangelistas, mas tambm para todo crente que seja um zeloso
estudante da BbliaAPRESENTAOUm livro como o presente de grande
necessidade nos pases onde se fala a lngua portuguesa. Cremos,
pois, que ele vem preencher uma lacuna.Seu autor, o Dr. Lund, pode
ser considerado como o mais fecundo e prestigioso mestre deestudos
bblicosem lngua portuguesa, e seu nome de h muito conhecido pela
erudio e valor de suas produes. Alm das lnguas em que foi escrita a
Bblia, o Dr. Lund dominava seis ou sete idiomas europeus; mais
tarde, porm, havendo empreendido obra missionria nas Filipinas,
cultivou vrios dos idiomas e dialetos daquele arquiplago. Traduziu
a Bblia inteira para o panaiano e o Novo Testamento para os
dialetos cebu e samar.Esperamos que este livro seja uma verdadeira
bno para quantos venham a estud-la, quer sejam pregadores e
evangelistas, ou simplesmente cristos amantes dos estudos bblicos.A
EditoraIMPORTNCIA DE SEU ESTUDO1. Uma das primeiras cincias que o
pregador deve conhecer certamente a hermenutica. Porm, quantos
pregadores h que nem de nome a conhecem! Que , pois, a hermenutica?
"A arte de interpretar textos", responde o dicionrio. Porm a
hermenutica (do gregohermenevein, interpretar), da qual nos
ocuparemos, forma parte da Teologia exegtica, ou seja, a que trata
da reta inteligncia e interpretao das Escrituras bblicas.2.
Oapstolo Pedroadmite, falando das Escrituras, que entre as doNovo
Testamento"h certas cousas difceis de entender, que os ignorantes e
instveis deturpam, como tambm deturpam as demais Escrituras [as do
Antigo], para a prpria destruio deles". E para maior desgraa e
calamidade, quando estes ignorantes nos conhecimentos hermenuticos
se apresentam coma doutos, torcendo as Escrituras para provar seus
erros, arrastam consigo multides perdio.3. Tais ignorantes,
pretensos doutos, sempre se tm constitudo em falsos, desde as
falsos profetas da antiguidade at as papistas da era crist, e os
russelitas de hoje. E qualquer pregador que ignora esta importante
cincia se encontrar muitas vezes perplexo, e cair facilmente no
erro de Balao e na contradio de Cor. A arma principal do soldado de
Cristo a Escritura, e se desconhece seu valor e ignora seu use
legtimo, que soldado ser?4. No h livro mais perseguido pelos
inimigos, nem livro mais torturado pelos amigos, que a Bblia,
devido ignorncia da sadia regra de interpretao. Isto, irmos, no
deve ser assim. Esta ddiva do cu no nos veio para que cada qual a
use a seu prprio gosto, mutilando-a, tergiversando ou torcendo-a
para nossa perdio.5. Lembremo-nos de que as variadssimas
circunstncias que concorreram para a produo do maravilhoso livro
requerem do expositor que seu estudo seja demorado e sempre
"conforme a cincia", conforme as princpios hermenuticos.a) Entre
seus escritores, "os santos homens de Deus, por exemplo, que
filaram sempre inspirados pelo Esprito Santo", achamos pessoas de
to variada categoria de educao, como sejam, sacerdotes, como
Esdras; poetas, como Salomo; profetas, qual Isaas; guerreiros, como
Davi; pastores, qual Ams; estadistas, como Daniel; sbios, como
Moiss e Paulo, e "pescadores, homens sem letras", como Pedro e Joo.
Destes, uns formulam leis, como Moiss; outros escrevem histria,
como Josu; este escreve salmos, como Davi; aquele provrbios, como
Salomo; uns profecias, como Jeremias; outros biografias, como os
evangelistas; outros cartas, coma as apstolos.b) Quanto ao tempo
viveu Moiss 400 anos antes do cerco de Tria e 300 anos antes de
aparecerem as mais antigos sbios da Grcia e sia, coma Tales,
Pitgoras e Confcio, vivendo Joo, o ltimo escritor bblico, uns 1500
anos depois de Moiss.c) Com respeito ao lugar foram escritos em
pontos to diferentes como o so o centro da sia, as areias da Arbia,
as desertos da Judia, os prticos do Templo, as escolas dos profetas
em Betel e Jeric, nos palcios da Babilnia, nas margens do Quebar e
em meio a civilizao ocidental, tomando-se as figuras, smbolos e
expresses, dos usos, costumes e cenas que ofereciam to variados
tempos e lugares. Os escritores bblicos foram plenamente
inspirados, porm, no de tal modo que resultasse suprfluo o
mandamento de esquadrinhar as Escrituras e que se deixasse sem
considerao tanta variedade de pessoas, assuntos, pocas e lugares.
Estas circunstncias, como natural, influram ainda que no,
certamente, na verdade divina expressa na linguagem bblica, porm na
prpria linguagem, de que se ocupa a hermenutica e que to necessrio
que a compreenda o pregador, intrprete e expositor bblico.6. Uma
breve observao geral a respeito de dita linguagem nos far mais
patente ainda a grande necessidade do conhecimento de sadia
interpretao para o estudo proveitoso das Escrituras. Certosdoutos,
por exemplo, que tm vivido sempre "incomunicados" com respeito
linguagem bblica, acham tal linguagem chocante ao incompatvel com
seu ideal imaginrio de revelao divina, tudo isso pela
superabundncia de todo gnero de palavras e expresses figuradas e
simb1icas que ocorrem nas Escrituras. Algum conhecimento de
hermenutica no s as livrarias de tal dificuldade, como as
persuadiria de que tal linguagem a divina por excelncia, como a
mais cientfica e literria.7. Um cientista de fama costumava
insistir em que seus colaboradores, na ctedra,encarnassem o
invisvel, porque, dizia, "to-somente deste modo podemos conceber a
existncia do invisvel operando sobre o visvel". Porm esta idia da
cincia moderna mais antiga que a prpria Bblia, posta que, em
verdade, foi Deus o primeiro que encarnou seus pensamentos
invisveis nos objetos visveis do Universo, revelando-se a si mesmo.
"Porquanto o que de Deus se pode conhecer . . . Deus lhes
manifestou; porque os atributos invisveis de Deus, assim o seu
eterno poder como tambm a sua prpria divindade, claramente se
reconhecem, desde o princpio do mundo, sendo percebidas por meio
das coisas que foram criadas" (Rom. 1:20).Eis aqui, pois, o
Universo visvel, tomado como gigantesco dicionrio divino, repleto
de inumerveis palavras que so os objetos visveis, vivos e mortos,
ativos e passives, expresses simblicas de suas idias invisveis,
Nada mais natural, pois, que ao inspirar as Escrituras, se valha de
seu prprio dicionrio, levando-nos por meio do visvel ao invisvel,
pela encarnao do pensamento, ao prprio pensamento; pelo objetivo ao
subjetivo, pelo conhecido e familiar ao desconhecido e
espiritual.8. Porm isto no s foi natural, mas absolutamente
necessrio em vista de nossa condio atual, porquanto as palavras
exclusivamente espirituais ou abstratas, pouco ou quase nada dizem
ao homem natural. Apenas h um fato relacionado com a mente e a
verdade espiritual que se possa comunicar com proveito sem lanar mo
da linguagem nascida de objetos visveis. Deus tem levado em conta
esta nossa condio. No estranhemos, pois, que para elevar-nos
concepo possvel do cu se valha de figuras ou semelhanas tomadas das
cenas gloriosas da terra; nem de que para elevar-nos concepo
possvel de sua prpria pessoa, se sirva do que foi a "coroa" da
criao, apresentando-se a ns como ser corporal, semelhante a ns.
Folga dizer que para a correta compreenso da verdade, tanto em
smbolo e figura pela necessidade humana, se requer meditao e estudo
profundo.9. Porm preciso observar a esta altura que ditas expresses
figurativas ou simblicas no se devem meramente natureza da verdade
espiritual, maravilhosa relao entre o invisvel e o visvel, mas
tambm ao fato de que tal linguagem vem mais a propsito, par ser
mais formosa e expressiva. Conduz idias mente com muito mais
vivacidade que a descrio prosaica. Encanta e recria a imaginao, ao
mesmo tempo que instrui a alma e fixa a verdade na memria,
deleitando o corao. Que conceito errneo do que prprio abrigam os
que imaginam que a Bblia, para ser revelao divina, deveria estar
escrita no estilo da aritmtica ou geometria! No tem Deus,por sua
sabedoria, enlouquecido a sabedoria do mundo?Lembremo-nos, pois, em
resume, que as Escrituras, tratando de temas que abrangem o cu e a
terra, o tempo e a eternidade, o visvel e o invisvel, o material e
o espiritual, foram escritas por pessoas de to variada natureza, e
em pocas to remotas, em pases to distantes entre si, e em meio a
pessoas e costumes to diferentes e em linguagem to simblica, que
facilmente se compreender que para a reta inteligncia e compreenso
de tudo, nos de suma necessidade todo o conselho e auxlio que nos
possa oferecer a hermenutica.PERGUNTAS1. Que a hermenutica?2. Para
onde conduz o ignor-la?3. Par que existem os falsrios e herticos?4.
Para que nos foi dada a Escritura?5. Que circunstncias, na produo
das Escrituras, fazem necessrio o estudo da hermenutica? Por quem,
sabre que, em que pocas e lugares foram escritas? De que maneira
estas circunstncias requerem conhecimentos hermenuticos?6. Por que
razo certos doutos negam a inspirao divina da Bblia?7. De que
maneira cientfica se revela o invisvel? Qual o plano e o
procedimento divinos deste caso?8. Por que foi necessrio o use de
linguagem figurada na Revelao, do ponto de vista humano?9. Por que
outra razo a linguagem bblica vem mais a propsito para a
humanidade?10. Em resumo: Por que de suma importncia o conhecimento
hermenutico para a boa compreenso da Bblia?Estude-se a lio e
aprenda-se at ao ponto de poder responder segundo as perguntas
indicadas, sem auxlio do texto, escrevendo-se a resposta num
caderno destinado a esse fim.DISPOSIES NECESSRIAS PARA O ESTUDO
PROVEITOSO DAS ESCRITURASAssim como para apreciar devidamente a
poesia se necessita possuir um sentido especial para o belo e
potico, e para o estudo da filosofia necessrio um esprito
filosfico, assim da maior importncia uma disposio especial para o
estudo proveitoso da Sagrada Escritura. Como poder uma pessoa
irreverente, inconstante, impaciente e imprudente, estudar e
interpretar devidamente um livro to profundo e altamente espiritual
como a Bblia? Necessariamente, tal pessoa julgar o seu contedo como
o cego as cores. Para o estudo e boa compreenso da Bblia
necessita-se, pois, pelo menos, de um esprito respeitoso e d6cil,
amante da verdade, paciente no estudo e dotado de prudncia.1.
Necessita-se de umesprito respeitosoporque, par exemplo, um filho
desrespeitoso, instvel e frvolo, que caso far dos conselhos, avisos
e palavras de seu pai? A Bblia a revelao do Onipotente, o milagre
permanente da soberana graa de Deus, do cdigo divino pelo qual
seremos julgados no dia divino, o Testamento selado com o sangue de
Cristo. Porm, com tudo isso e ante tal maravilha, o homem
irreverente se encontrar como o cego ante as sublimes Alpes da Sua,
ou pior ainda; talvez seja como o insensato que joga lama sabre um
monumento artstico que admirado par todo o mundo. Eis com que
esprito, ao mesmo tempo reverente e humilde, contemplam a Palavra
de Deus os primitivos cristos. "Outra razo ainda temos ns diz Paulo
para incessantemente dar graas a Deus: que, tendo vs recebido a
palavra que de ns ouvistes, que de Deus, acolhestes no como
palavras de homens, e, sim, como, em verdade , a palavra de Deus, a
qual, com efeito, est operando eficazmente em vs, as que credes."
Receba-se assim a Escritura, com todo o respeito. E como diz o
Senhor: "O homem para quem olharei este: o aflito e abatido de
esprito, e que treme da minha palavra". Estude-se em tal sentimento
de humildade e reverncia, e se descobriro, como disse o Salmista,
"as maravilhas da tua lei". (I Tes. 2:13; Isa. 66:2; Salmo
119:18.)2. Necessita-se umesprito dcilpara um estudo proveitoso e
uma compreenso reta da Escritura, pois, que se aprender em qualquer
estudo se falta a docilidade? A pessoa obstinada e teimosa que
intenta estudar a Bblia, lhe acontecer o que disse Paulo do "homem
natural". "Ora, o homem natural no aceita as coisas do Esprito de
Deus porque lhe so loucura; e no pode entend-las porque elas se
discernem espiritualmente" (I Car. 2:14). Sacrifiquem-se, pois, as
preocupaes, as opinies preconcebidas e idias favoritas e
empreenda-se o estudo no esprito de dcil discpulo e tome-se por
Mestre a Cristo. Sempre deve ter-se presente que a obscuridade e
aparente contradio que se passam encontrar no residem no Mestre,
nem em seu infalvel livro de texto, mas no pouco alcance do
discpulo. "Mas, se o nosso evangelho diz o apstolo ainda est
encoberta, para as que se perdem que est encoberto, nos quais a
deus deste sculo cegou os entendimentos dos incrdulos" (2 Cor.
4:3-4). Porm o discpulo humilde e dcil que abandona a este mestre
que cega os entendimentos, adota a Cristo por Mestre, ver e
entender a verdade, parque Deus promete "guiar as humildes na
justia, e ensinar aos mansos a seu caminha" (Salmo 25:9).3. preciso
seramante da verdade, porque, quem cuidar de buscar com af e
recolher o que no se aprecia e estima? De imperiosa necessidade,
para a estuda da Escritura Sagrada, um corao desejosa de conhecer a
verdade. E tenha-se presente que a homem por natureza no possui tal
corao, antes, pela contrrio, um corao que foge da verdade
espiritual e abraa com freqncia o erro. "A luz veio ao mundo, disse
Jesus de si mesmo e os homens amaram mais as trevas do que a luz."
Ainda mais, disse ele mesma que a "aborreceram" (Joo 3:19,20), e
eis aqui por que em sua crescente cegueira passam do aborrecimento
perseguio e da perseguio crucificao do Mestre. "Despojando-vos,
portanto, de toda maldade..." disse Pedro "desejaiardentemente,
como crianas recm-nascidas, o genuno leite espiritual, para que por
ele vos seja dada crescimento para salvao" (I Ped. 2:1,2). O que
com este desejo a busca, esquadrinhando as Escrituras, tambm a
achar. Parque ao tal "a Pai da glria, vos concede esprito de
sabedoria e de revelao no plena conhecimento dele" (Ef. 1:17). Sim:
"A intimidade da Senhor para os que a temem, aos quais ele dar a
conhecer a sua aliana" (Sal. 25:14).4. Tambm se deve serpaciente no
estudo, pois, que vantagem leva qualquer pessoa impaciente,
inconstante e mutvel em qualquer trabalho que empreenda? Para tudo
necessrio esta virtude. Ao dizer Jesus: "Examinai as Escrituras",
se serve duma palavra que mostra a mineira que cava e revolve a
terra, buscando com diligncia o metal precioso, ocupado numa obra
que requer pacincia. As Escrituras, necessariamente, devem ser
ricas em contedo e inesgotveis, como as entranhas da terra. Da
mesma maneira, sem dvida, Deus props que em algumas partes fossem
profundas e de difcil penetrao. Por outra lado, o fruto da pacincia
deleitoso e quanto mais pacincia se tiver empregada para encontrar
um tesouro, tanta mais se aprecia e tanta mais delcia produz.
Leve-se, pois, ao estudo das Escrituras tanta pacincia como as
coisas comuns da vida. Manifeste-se, alm disso, essa "nobreza" que
caracterizava aos de Beria, dos quais diz a Escritura que "eram
maisnobresque as de Tessalnica; pois receberam a palavra com toda a
avidez,examinando as Escrituras todos os dias" (Atos 17:11), e se
ver como este trabalho leva a prmio em si mesmo. "Quo doces so as
tuas palavras ao meu paladar! Mais que o mel minha boca...
Admirveis so os teus testemunhos . . . Alegra-me nas tuas
promessas, como quem acha grandes despojos . . . Ama as teus
mandamentos mais que o oura, mais da que a prata refinada" (Sal.
119:103, 129, 162, 127).5. Para o estudo proveitoso das Escrituras
necessita-se, ao menos,da prudnciade saber iniciar a leitura pela
mais simples e prosseguir para a mais difcil. fcil descobrir que o
Nova Testamento mais simples que o Antigo, e que os evangelhos so
mais simples que as cartas apostlicas. Ainda entre os evangelhos,
os trs primeiros so mais simples que o quarto. Principie-se, pais,
o estudo pelas trs primeiros. Em continuao ao terceiro pode-se ler,
por exemplo, o livro de Atos, que de mais fcil compreenso que o
evangelho segundo Joo, cujo contedo mais profundo. Numa palavra,
tenha-se a prudncia de saber passar do simples para o difcil a fim
de tirar proveito e no deixar o livro a um lado por incompreensvel,
como tm feita alguns imprudentes. Podem-se resumir todas estas
disposies naquele trao caracterstico manifestado pelas discpulos de
Jesus nas momentos em que no compreenderam suas
palavras:Perguntaram-lhe pelo significado, pediram explicao. E
lemos: "Tudo, porm, explicava em particular aos seus prprias
discpulos" (Marcos 4:34). "Ento lhes abriu a entendimento para
compreenderem as Escrituras" (Lc. 24:45). Seu exemplo, neste caso,
alm de indicar as condies necessrias para o estudo proveitoso das
Escrituras, oferece-nos a regra fundamental que se deve observar
neste trabalho: a orao, a splica. Nunca se deve empreender o estudo
sem haver pedido ao Mestre que abra o entendimento e aclare sua
Palavra.A fonte de toda luz e sabedoria Deus, e diz a promessa:
"Se, porm, algum de vs necessita de sabedoria, pea-a a Deus... e
ser-lhe- concedida" (Tiago 1:5). Assim fazia Davi: "Desvenda as
meus olhos, ensina-me as teus decretos, d-me entendimento, porque
medito nas teus testemunhos" (Sal. 119:18, 26, 34, 37, 99). E pde
cantar a resultado de seu proceder, dizendo: "Quo doces so as tuas
palavras ao meu paladar!" "Compreendo mais que todos os meus
mestres." (v. 103 e 99).Siga-se seu exemplo e ser idntico o
resultado.PERGUNTAS1. Por que o estudo proveitoso das Escrituras
requer um esprito especial? E, por que necessrio que seja
respeitoso?2. Por que se necessita de um esprito dcil para o estudo
e boa compreenso da Bblia?3. Por que preciso que ame a verdade o
pesquisador das Escrituras e por que ficar sem fruto aquele que ama
o erro?4. Por que requer pacincia o estudo proveitoso da Bblia?5.
Por que se necessita de prudncia e bom senso no estudo das
Escrituras? Em que casos especiais se deve usar tal prudncia ou bom
senso?Nota: Recapitule cuidadosamente esta importante lio, no s com
o objetivo de responder s perguntas, mas com o mais alto fim de
adquirir as disposies indicadas e necessrias para o estudo
proveitoso da Palavra divina.OBSERVAES GERAIS EM RELAO LINGUAGEM
BBLICA1. Segundo o testemunho da prpria Escritura Sagrada, ela foi
divinamente inspirada, "til para o ensino, para a repreenso, para a
correo, para a educao na justia, a fim de que o homem de Deus seja
perfeito, e perfeitamente habilitado para toda boa obra". Em uma
palavra, a Escritura tem por objetivo fazer o homem "sbio para a
salvao pela f em Cristo Jesus" (2 Tim. 3:15, 16).2. Por isso
esperamos, e esperamos com razo, que a Bblia fale com simplicidade
e clareza.3. Efetivamente, lendo, por exemplo, o Novo Testamento,
encontramos a cada passo em suas pginas os grandes princpios e
deveres cristos expressos em linguagem simples e clara, evidente e
palpvel. Em cada pgina ressalta a espiritualidade e santidade de
Deus, ao mesmo tempo que a espiritualidade e o fervor demandam sua
adorao. Em todas as partes nos pintada a queda e corrupo do homem e
a conseqente necessidade de arrependimento e converso. Em todas as
partes proclamada a remisso do pecado em nome de Cristo e a salvao
por seus mritos a vida eterna pela f em Jesus, e, ao mesmo tempo, a
morte eterna pela falta de f no Salvador. A cada passo aparecem os
deveres cristos em todas as circunstncias da vida e as promessas de
ajuda do Esprito de Deus no combate contra a corrupo e o pecado.
Estas verdades brilham como a luz do dia, de sorte que nem o leitor
mais superficial e indiferente deixar de v-las.4. Porm, que sucede?
O mesmo que em outros livros. No mais simples livro de escola
primria, que se ocupa to-somente de coisas terrenas, encontram-se,
por exemplo, palavras e passagens que o homem no compreende sem
estudos. Seria, pois, estranho encontrar palavras e passagens de
difcil compreenso nas Escrituras Sagradas, que em linguagem humana
tratam de coisas divinas, espirituais e eternas? Se numa provncia
da Espanha se usam figuras ou modos de expressar-se que em outra no
se compreendem sem interpretao, seria estranho encontrar tais
figuras e expresses nas Escrituras, que foram escritas em pases
distantes e todos diferentes ao nosso? Se todo o escrito antigo
oferece pontos obscuros, acaso seria estranho que os tivesse um
livro inspirado por Deus a seus servos em diferentes pocas, faz j
centenas e milhares de anos? Nada mais natural que contenham as
Escrituras pontos obscuros, palavras e passagens que requerem
estudo e cuidadosa interpretao.5. Recordemos aqui que unicamente em
tais casos de dificuldade, e no quanto ao simples e claro,
precisamos dos conselhos da hermenutica para que resulte frutfero
nosso estudo e correta nossa interpretao.6. Pois bem; suponhamos
que nos vem um documento, testamento ou legado que nos interessa
vivamente e que representa uma grande fortuna, porm em cujos
detalhes ocorrem algumas palavras e expresses de difcil compreenso.
Como e de que maneira faramos paraconseguir o verdadeiro
significado de tal documento? Seguramente pediramos, em primeiro
lugar, explicao a seu autor, se isso fosse possvel.7. Porm se
prometesse esclarecer-nos contanto que trabalhssemos,
esquadrinhando-o ns mesmos, o mais natural e acertado seria, sem
dvida, ler e reler o documento, tomando suas palavras e frases no
sentido usual e comum. Quanto s palavras obscuras buscaramos,
naturalmente, seu significado e aclarao, em primeiro lugar, pelas
palavras prximas ou contguas s obscuras, isto , pelo conjunto da
frase em que ocorrem.8. Porm, se ainda ficssemos sem luz,
procuraramos a clareza pelo contexto, quer dizer, pelas frases
anteriores e seguintes ao ponto obscuro, ou seja pelo fio ou tecido
imediato a narrao em que se encontra,9. Se no bastasse o contexto,
consultaramos todo o pargrafo ou passagem, fixando-nos no objetivo,
intento ou fim a que se dirige a passagem.10. E se ainda no
obtivssemos a clareza desejada, buscaramos luz em outras partes do
documento, para ver se haveria pargrafos ou frases semelhantes,
porm mais explcitas, que se ocupassem do mesmo assunto que a
expresso obscura que nos causa perplexidade.11. Em resumo, e de
qualquer forma, procederamos de maneira que o prprio documento
fosse seu intrprete, j que, levando-o a este ou quele advogado,
contrariaramos a vontade do generoso autor e, afinal, correramos o
risco de interessada e pouco escrupulosa interpretao.Tratando-se da
interpretao da Sagrada Escritura, do duplo Testamento de Nosso
Senhor, o procedimento indicado, alm de ser o mais natural e
simples, o mais acertado o seguro, como a seguir
veremos.PERGUNTAS1. Qual foi o objetivo da inspirao das
Escrituras?2. Que devemos esperar com respeito linguagem bblica,
sendo tal seu objetivo?3. Em relao a que pontos especficos a
linguagem bblica muito compreensvel?4. Como que nas Escrituras h
pontos obscuros que requerem cuidadoso estudo e correta
interpretao?5. Em que caso necessitamos dos conselhos da
hermenutica?6. Como procederamos, em primeiro lugar, para aclarar
um ponto obscuro em qualquer legado que se estendesse a nosso
favor?7. Se mediante a condio de trabalho se nos oferecesse luz,
como procederamos?8. Se pelo conjunto da frase em que ocorre a
expresso obscura no encontramos a clareza desejada, que devemos
fazer?9. Se pelo contexto no conseguimos luz, que convm fazer?10.
Se no bastar a passagem inteira, que fazer?11. Por que ser
necessrio proceder de modo que o documento se torne seu prprio
intrprete?REGRA FUNDAMENTALPelo dito anteriormente, foi-nos possvel
ver como apropriado e mais conveniente, que em qualquer documento
de importncia em que se encontrem pontos obscuros se procure que
ele seja seu prprio intrprete. Quanto Bblia, o procedimento
sugerido no s conveniente e muito factvel, mas absolutamente
necessrio e indispensvel.1. O quanto sabemos, o primeiro intrprete
da Palavra de Deus foi o diabo, dando palavra divina um sentido que
ela no tinha, falseando astutamente a verdade. Mais tarde, o mesmo
inimigo, falseia o sentido da Palavra escrita, truncando-a, isto ,
citando a parte que lhe convinha e omitindo a outra.2. Os
imitadores, conscientes e inconscientes, tm perpetuado este
procedimento enganando humanidade com falsas interpretaes das
Escrituras. Vtimas, pois, de tais enganos e de to estupendos erros,
que tm resultado em hecatombes e cataclismos, devemos j conhecer o
suficientedessainterpretao particular. E a ningum deve parecer
estranho que insistamos em que a primeira e fundamental regra da
correta interpretao bblica deve ser a j indicada, a saber:A
Escritura explicada pela Escritura, ou seja:a Bblia, sua prpria
intrprete.3. Ignorando ou violando este princpio simples e
racional, temos encontrado, como dissemos,aparenteapoio nas
Escrituras a muitos e funestos erros. Fixando-se em palavras e
versculos arrancados de seu conjunto e no permitindo Escritura
explicar-se a si mesma, encontraram os judeus aparente apoio nela
para rejeitar a Cristo. Procedendo do mesmo modo, encontram os
papistas aparente apoio na Bblia para o erro do papado e das
matanas com ele relacionadas, para no falar da Santa Inquisio e
outros erros do mesmo estilo. Atuando assim, acham aparente apoio
os espritas para sua errnea encarnao; os comunistas, para sua
repartio dos bens; os incrdulos zombadores, para as contradies; os
russelitas para seus erros blasfemos. e, finalmente, os Wilson e
Roosevelt, ara seu militarismo. Se tivessem a sensatez de permitir
h Bblia que se explicasse a si mesma, evitariam erros funestos.4.
Graas ao abuso apontado ouvimos dizer que com a Bblia se prova o
que se quer. A m vontade, a incredulidade, a preguia em seu estudo;
o apego a idias falsas e mundanas, e a ignorncia de toda regra de
interpretao, provar o que se queira com a Bblia; porm jamais provar
a Bblia o que os homens to mal dispostos querem. Tampouco provar
nenhum douto de verdade, nem crentes humildes, qualquer coisa com a
Escritura.5. Ao contrrio, porque o discpulo humilde e douto na
Palavra sabe que "a lei do Senhor perfeita" e que no h erro na
Palavra, mas no homem, ele sabe que no se tira e se pe, ou se
acrescenta e se suprime impunemente Palavra, segundo o estilo
satnico, porquanto Deus, mediante seu servo, fez constar: "Se algum
lhes fizer qualquer acrscimo, Deus lhe acrescentar os flagelos
escritos neste livro; e se algum tirar qualquer coisa das palavras
do livro desta profecia, Deus tirar a sua parte da rvore da vida."
No, certamente a revelao divina, qual Lei perfeita, " inspirada por
Deus e til para o ensino, para a repreenso, para a correo, para a
educao na justia, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente habilitado para toda boa obra"; tal revelao,
dissemos, no se presta impunemente a tal abuso.6. Em vista de tais
afirmativas e destas e outras restries, evidente que carece
absolutamente de sano divina a interpretao particular do papismo
que concede autoridade superior Palavra mesma, interpretao dos
"pais" da Igreja docente ou da infalibilidade papal, como carece
tambm de dita sano a idia da interpretao individual do
protestantismo. "Nenhuma profecia da Escritura provam de particular
elucidao", disse Pedro; e Jesus nos exorta a examinar as Escrituras
para achar a verdade, e no a interpretar as Escrituras para
estabelecer a verdade a nosso arbtrio.7. Nada de estranho tem,
pois, que nos eminentes escritores da antiguidade encontremos
afirmaes como estas: As Escrituras so seu melhor intrprete.
Compreenders a Palavra de Deus melhor que de outro modo, comparando
uma parte com outra, comparando o espiritual com o espiritual (1
Cor. 2:13). O que equivale a usar a Escritura de tal modo que venha
a ser ela seu prprio intrprete.8. Se por uma parte, arrancando
versculos de seu conjunto e citando frases soltas em apoio de idias
preconcebidas, possvel construir doutrinas chamadas bblicas, que no
so ensinos das Escrituras, mas antes "doutrinas de demnios"; por
outra parte, explicando a Escritura pela Escritura, usando a Bblia
como intrprete de si mesma, no s se adquire o verdadeiro sentido
das palavras e textos determinados, mas tambm a certeza de todas as
doutrinas crists, quanto f e moral. Tenha-se sempre presente que no
se pode considerar de todo bblica uma doutrina antes de resumir e
encerrar tudo quanto a Escritura diz da mesma. Um dever tampouco de
todo bblico se no abarca e resume todos os ensinos, prescries e
reservas que contam a Palavra de Deus em relao ao mesmo. Aqui cabe
bem a lei: "No se pronuncia sentena antes de haver ouvido as
partes." Porm cometem o delito de falhar antes de haver examinado
as partes todos aqueles que estabelecem doutrinas sobre palavras ou
versculos extrados do conjunto, sem permitir Escrituraexplicar-se a
si mesma. Igual falta cometem os que do mesmo modo procedem e falam
de contradies e ensinos imorais.Por conseguinte, de suma
necessidade observar a referidaregra das regras, a saber:A Bblia
seu prprio intrprete, se no quisermos incorrer em erros e atrair
sobre ns a maldio que a prpria Escritura pronuncia contra os
falsificadores da Palavra. Dissemos "regra das regras", porque
desta, que fundamental, se desprendem outras vrias que, como
veremos, dela nascem naturalmente.PERGUNTAS1. Quem foi o primeiro
intrprete da Palavra de Deus e quais as suas astcias?2. Qual deve
ser a regra fundamental na interpretao da Bblia e por qu?3. Quais
os males que resultaram de no interpretar as Escrituras por si
mesmas?4. Quem prova o que quer com a Bblia?5. Por que no se pode
provar o que se quer com a Bblia?6. Como se deve considerar a
interpretao particular ou individual papista ou protestante?7. Que
princpio de interpretao recomendavam eminentes escritores da
antiguidade?8. O que se requer para que seja positivamente bblica
esta ou aquela doutrina ou declarao?9. Que princpio fundamental
deve servir-nos de base em todo o estudo bblico?PRIMEIRA REGRA1.
Como j dissemos, os escritores dasSagradas Escriturasescreveram,
naturalmente, com o objetivo de se fazerem compreender. E, por
conseguinte, deveriam valer-se de palavras conhecidas e deveriam
us-las no sentido que geralmente tinham. Averiguar e determinar
qual seja este sentido usual e ordinrio deve constituir, portanto,
o primeiro cuidado na interpretao ou correta compreenso das
Escrituras.2. Ser preciso repetir aqui, para maior aproveitamento,
alm do auxlio divino, que em tal averiguao h modos de proceder que
nenhum leitor da Bblia deve ignorar, sendo sempre necessrio ter em
conta o princpio fundamental que o Livro h de ser seu prprio
intrprete, de cujo princpio se deduzem outros, que chamamos regras
ou pautas de interpretao.3. Destas diz assim a primeira: preciso, o
quanto seja possvel, tomar as palavras em seu sentido usual e
comum.4. Regra sumamente natural e simples, porm da maior
importncia. Pois, ignorando ou violando-a, em muitas partes da
Escritura no ter outro sentido que aquele que queira conceder-lhe o
capricho humano. Por exemplo, houve quem imaginasse que as ovelhas
e os bois que menciona o Salmo 8 eram os crentes, enquanto as aves
e os peixes eram os incrdulos, donde se conclua, em conseqncia, que
todos os homens, queiram ou no, esto submetidos ao poder de Cristo.
Se tivesse sido levado em conta o sentido usual e comum das
palavras, no teria cado em semelhante erro.5. Porm, tenha-se sempre
presente que o sentido usual e comum no equivale sempre ao sentido
literal. Em outras palavras, o dever de tomar as palavras e frases
em seu sentido comum e natural no significa que sempre devem
tornar-se ao "p da letra". Como se sabe, cada idioma tem seus modos
prprios e peculiares de expresso, e to singulares, que se for
traduzido ao p da letra, perde-se ou destrudo completamente o
sentido real e verdadeiro. Esta circunstncia se deve, talvez, ter
mais presente ao tratar-se da linguagem das Escrituras, do que de
outro livro qualquer, por estar sumamente cheio de tais modos e
expresses prprias e peculiares.Os escritores sagrados no se dirigem
a certa classe de pessoas privilegiadas, mas ao povo em geral; e,
por conseguinte, no se servem de uma linguagem cientfica ou seca,
mas figurada e popular. A estas circunstncias se devem a liberdade,
variedade e vigor que observamos em sua linguagem. A elas se deve
seu abundante uso de toda ordem de figuras retricas, smiles,
parbolasou expresses simblicas. Alm do citado, ocorrem muitas
expresses peculiares do idioma hebreu, chamadashebrasmos.
Precisamos ter isso tudo presente para podermos determinar qual
seja o verdadeiro sentido usual e comum das palavras e
frases.Exemplos: 1. Em Gnesis 6:12, lemos: "Porque toda carne havia
corrompido o seu caminho sobre a terra" (verso revista e
corrigida). Tomando aqui as palavrascarneecaminhoem sentido
literal, o texto perde o significado por completo. Porm tomando em
seu sentido comum, usando-se como figuras, isto , carne em sentido
depessoae caminho no sentido decostumes,modo de procederoureligio,
j no s tem significado, mas um significado terminante, dizendo-nos
que toda pessoa havia corrompido seus costumes; a mesma verdade que
nos declara Paulo, sem figura, dizendo; "No h quem faa o bem" (Rom.
3:12).2. Pergunta Jesus: "Qual a mulher que, tendo dez dracmas, se
perder uma, no acende a candeia, varre a casa e a procura
diligentemente at encontr-la?" Neste versculo, tomado ao p da
letra, embora nos apresente uma pergunta interessante, estamos
longe de compreender a verdade que encerra. Porm, sabendo que
contam uma parbola, cujas partes principais e figuradas requerem
interpretao e designam realidades correspondentes s figuras, no
vemos aqui j agora uma pergunta interessante, mas uma mulher que
representa a Cristo; um trabalho diligente que representa um
trabalho semelhante que Cristo est levando a cabo; e uma moeda
perdida representa ohomem perdidono pecado; tudo isto expondo e
ilustrando admiravelmente a mesma verdade que expressa Cristo sem
parbola, dizendo: "Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o
perdido" (Luc. 19:10).3. Profetizando a respeito de Jesus, disse
Zacarias (Luc. 1:69) "e nos suscitou plena e poderosa salvao na
casa de Davi". Dificilmente extrairemos daqui alguma coisa clara se
tomarmos a palavra casa em sentido literal. Porm, sabendo que, como
smbolo e figura, casa ordinariamente significafamliaoudescendncia,
j no estamos s escuras: a se nos diz que Deus levantou uma poderosa
salvao entre os descendentes de Davi, como tambm disse Pedro:
"Deus, porm . . . o exaltou (a Cristo) a Prncipe e Salvador, a fim
de conceder a Israel o arrependimento e a remisso dos pecados"
(Atos 5:31).4. Disse Jesus (Luc. 14:26): "Se algum vem a mim, e no
aborrece a seu pai, e me . . . no pode ser meu discpulo"; ora,
tomado ao p da letra, isso constitui uma contradio ao preceito de
amar at aos inimigos. Porm, lembrando-nos dohebrasmo, pelo qual se
expressam s vezesas comparaes e preferncias entre duas pessoas ou
coisas, com palavras to enrgicas comoamar e aborrecer, j no s
desaparece a contradio, mas compreendemos o verdadeiro sentido do
texto, sentido que sem hebrasmo Jesus mesmo o expressa, dizendo:
"Quem ama seu pai e sua me mais do que a mim, no digno de mim"
(Mat. 10:37).Pelos exemplos citados pode-se compreender a grande
necessidade de nos familiarizarmos com as figuras e modos prprios e
peculiares da linguagem bblica. Esta familiaridade se adquire,
desde logo, por um estudo da prpria Escritura. Porm, para
consegui-la com maior brevidade, conviria ter um breve tratado
especial.PERGUNTAS1. Qual deve ser o primeiro cuidado na correta
interpretao das Escrituras?2. Qual o princpio fundamental que se
deve ter sempre presente na interpretao?3. Qual a primeira regra
que se deduz da "regra das regras"?4. Por que to importante esta
regra?5. Que diferena h entre o sentido usual ou comum e o sentido
literal, e por que no se devem tomar sempre as palavras em seu
sentido literal?6. Por que foi escrita a Bblia em linguagem popular
e figurada e no em linguagem cientfica?Exemplos: De que trata o
primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto? Que so hebrasmos? Como
se adquire a familiaridade necessria para distinguir entre
linguagem literal e figurada?SEGUNDA REGRA1. Na linguagem bblica,
como em outra qualquer, existem palavras que variam muito em seu
significado, segundo o sentido da frase ou argumento em que
ocorrem. Importa, pois, averiguar e determinar sempre qual seja o
pensamento especial que o escritor se prope expressar, e assim,
tomando por guia este pensamento, poder-se- determinar o sentido
positivo da palavra que apresenta dificuldade.2. , pois to natural
quanto importante o que chamamos a segunda regra, e diz: de todo
necessrio tomar as palavras no sentido que indica o conjunto da
frase.3. Dos exemplos que oferecemos a seguir, ver-se- como varia,
segundo a frase, texto ou versculo, o significado de algumas
palavras muito importantes, acentuando assim a importncia desta
regra.Exemplos: 1.F: A palavra f, ordinariamente significa
confiana; mas tambm tem outras acepes. Lemos de Paulo, por exemplo:
"Agora prega a f que outrora procurava destruir" (Gl. 1:23). Do
conjunto desta frase vimos claramente que a f, aqui, significa
crena, ou seja, adoutrina do Evangelho."Mas aquele que tem dvidas,
condenado, se comer, porque o que faz no provem de f; e tudo o que
no provam de f pecado" (Rom. 14:23). Pelo conjunto do versculo, e
tudo considerado, verificamos que a palavra aqui ocorre no sentido
de convico; convico do dever cristo para com os
irmos.2.Salvao,Salvar: Estas palavras so usadas freqentemente no
sentido de salvao do pecado com suas conseqncias; tm, porm, outros
significados. Lemos, por exemplo, que "Moiss cuidava que seus irmos
entenderiam que Deus os queria salvar, por intermdio dele" (Atos
7:25). Guiados pelo conjunto do versculo, compreendemos que aqui
ocorre a palavrasalvarno sentido deliberdade temporal."A nossa
salvao est agora mais perto do que quando no princpio cremos" (Rom.
13:11).Salvaoaqui equivale vinda de Cristo."Como escaparemos ns, se
negligenciarmos to grande salvao?" (Heb. 2:3). Considerando o
conjunto,salvaoaqui quer dizertoda a revelao do Evangelho.3.Graa: O
significado comum da palavra graa favor; porm se usa tambm em
outros sentidos. Lemos, por exemplo: "Pela graa sois salvos,
mediante a f; e isto no vem de vs, dom de Deus", etc. (Ef. 2:8).
Pelo conjunto deste versculo se v claramente quegraasignifica a
puramisericrdia e bondade de Deusmanifestadas aos crentes sem mrito
nenhum da parte deles."Falando ousadamente no Senhor, o qual
confirmavaa palavra da sua graa" (Atos 14:3) significando, apregao
do Evangelho."Esperai inteiramente nagraaque vos est sendo trazida
na revelao de Jesus Cristo" (1 Ped. 1:13). O conjunto nos diz aqui
que a graa equivale bem-aventurana que trar em sua vinda."Agraade
Deus se manifestou salvadora a todos os homens" (Tito 2:11).
Agraaaqui se usa no sentido doensino do Evangelho."O que vale estar
o corao confirmado comgraa, e no com alimentos" (Heb. 13:9).
Considerando todo o conjunto,graa, neste texto, equivale sdoutrinas
do Evangelho, em oposio s que tratam de alimentos relacionados com
as prticas judaicas.4.Carne: "E vos darei corao decarne" (Ez.
36:26), isto , umadisposio terna e dcil."Andamos outrora, segundo
as inclinaes da nossacarne" (Ef. 2:3), significa, nossosdesejos
sensuais."Aquele que foi manifestado nacarne" (1 Tim. 3:16), a
saber emforma humana."Tendo comeado no Esprito, estejais agora vos
aperfeioando nacarne?" (Gil. 3:3), quer dizer, por observar
cerimnias judaicas, como a circunciso, que se faz na
carne.5.Sangue: Falando de crucificar a Cristo, disseram os judeus:
"Caia sobre ns o seusangue, e sobre nossos filhos!" (Mat. 27:25).
Guiados por nossa regra vimos que sangue, aqui, ocorre no sentido
deculpa e suas conseqncias, por matar um inocente."Temos a redeno,
pelo seusangue" (Ef. 1:7); "Sendo justificados pelo seusangue,
seremos por ele salvos da ira" (Rom. 5:9). O conjunto das frases
torna evidente que a palavra sangue equivale morte expiatriade
Cristo na cruz.6. Como facilmente se compreende, esta regra tem
importncia especial quando se trata de determinar se as palavras
devem ser tomadas no sentido literal ou figurado. Para no incorrer
em erros, de grande importncia, neste caso tambm, deixar-se guiar
pelo pensamento do escritor e tomar as palavras no sentido que o
conjunto do versculo indica.Exemplos: 1. "Tomou Jesus um po, e
abenoando-o, o partiu e o deu aos discpulos, dizendo: Tomai, comei;
isto o meu corpo" (Mat. 26:26). Guiados pelo conjunto deste
versculo, torna-se evidente que a palavra corpo aqui no se usa no
sentido literal, mas figurado; porquanto Jesus partiu po e no seu
prprio corpo, e porquanto ele mesmo, santo e inteiro, lhes deu o
po, e no parte de sua carne. Usa, pois, Jesus, a palavra em sentido
simblico, dando-lhes a compreender que o porepresentaseu corpo.2.
Diz Cristo a Pedro: "Dar-te-ei as chaves do reino dos cus" (Mat.
16:19). Pelo conjunto desta frase vemos claramente que chaves no se
usa no sentido literal ou material, posto que o reino dos cus no um
lugar terreno onde se penetra mediante chaves materiais. Deve-se,
pois, tomar em sentido figurado, simbolizando as chaves,
autoridade; a autoridade de ligar e desligar ou perdoar e reter
pecados, que em outra ocasio tambm deu aos demais discpulos (Jo.
20:23; veja Mat. 18:18).Poder-se-iam multiplicar exemplos como
estes, porm bastam os j mencionados, para termos uma idia do uso
desta regra e da grande necessidade de ler com ateno as
Escrituras.PERGUNTAS1. Se no se usam as palavras no mesmo sentido,
como sabemos em cada caso qual seja o verdadeiro significado?2.
Como diz a regra que deve ser observada no caso em que as palavras
variam de sentido?3. Como, por exemplo, varia o sentido de palavra
"f"?a) Como varia o significado da palavra "salvao"?b) Em que
sentido se usa a palavra "graa"?c) Quais so os diferentes
significados da palavra "carne?d) Como varia o significado da
palavra "sangue"?4. Quando que esta regra tem importncia
especial?a) Por que no se pode tomar no sentido literal a palavra
"corpo" em Mat. 26:26?b) Por que se deve compreender em sentido
figurado a palavra "chaves" em Mat. 16:19?TERCEIRA REGRA1. A
terceira diz: necessrio tomar as palavras no sentido indicado no
contexto, a saber, os versculos que precedem e seguem ao texto que
se estuda.2. s vezes sucede que no basta o conjunto de uma frase
para determinar qual o verdadeiro significado de certas palavras.
Portanto, e em tal caso, devemos comear mais acima a leitura e
continu-la at mais abaixo, para levar em conta o que precede a
segue expresso obscura e, procedendo assim, encontrar-se- clareza
no contexto por diferentes circunstncias.Exemplos: 1.No contexto
achamos expresses, versculos ou exemplos que nos esclarecem e
definem o significado da palavra obscura. Ao dizer Paulo: "quando
lerdes, podeiscompreender o meu discernimento no mistrio de Cristo"
(Ef. 3:4), ficamos um tanto indecisos com respeito ao verdadeiro
significado da palavra mistrio. Porm, pelos versculos anteriores e
posteriores, verificamos que a palavra mistrio se aplica aqui
participao dos gentios nos benefcios do Evangelho. Encontra-se a
mesma palavra em sentido diferente em outras passagens, sendo
necessrio, em cada caso, o contexto para determinar o significado
exato."Quando ramos menores, estvamos servilmente sujeitos aos
rudimentos do mundo" (Gl. 4:3, 9-11). Que so os rudimentos do
mundo? O que vem depois da palavra nos explica que so prticas de
costumes judaicos.Este vocbulo tambm usado noutro sentido,
determinando o contexto sua correta interpretao.2.s vezes
encontra-se uma palavra obscura aclarada no contexto por sinnimo ou
ainda por palavra oposta e contrria obscura. Assim que, por
exemplo, a palavra "aliana" (Gl. 3:17), se explica pelo
vocbulopromessaque aparece no final do mesmo versculo. Assim tambm
acham sua explicao as palavras difceis, "radicados e edificados"
pela expresso "confirmados na f" que vem logo em seguida s mesmas
(Col. 2:7)."O salrio do pecado a morte", diz o apstolo Paulo. O
sentido profundo desta expresso faz ressaltar de uma maneira viva a
expresso oposta que a segue: "mas o dom gratuito de Deus a vida
eterna" (Rom. 6:23). Outro tanto sucede em relao f, quando Joo diz:
"quem cr no Filho tem a vida eterna", pintando ao vivo a palavra
crer pela expresso oposta: "o que, todavia, se mantm rebelde contra
o Filho no ver a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus" (Jo.
3:36).3.s vezes, uma palavra que expressa uma idia geral e
absoluta, deve ser tomada num sentido restritivo, segundo determine
alguma circunstncia especial do contexto, ou melhor, o conjunto das
declaraes das Escrituras em assuntos de doutrina. Quando Davi por
exemplo, exclama: "Julga-me, Senhor, segundo a minha retido, e
segundo aintegridadeque h em mim", o contexto nos faz compreender
que Davi s proclama sua retido e integridade em oposio s calnias
que Cuxe, o benjamita, levantara contra ele (Sal. 7:8).Tratando-se
do administrador infiel temos indicada sua conduta como digna de
imitao; porm, pelo contexto vemos limitado o exemplo prudncia do
administrador, com excluso total de seu procedimento desonesto
(Luc. 16:1-133).Falando Jesus do cego de nascimento, disse: "Nem
ele pecou, nem seus pais", com o que de nenhum modo afirma Jesus
que no houvessem pecado; pois existe no contexto uma circunstncia
que limita o sentido da frase a que no haviam pecado para que
sofresse de cegueira como conseqncia, segundo erroneamente pensavam
os discpulos. (Jo. 9:3).Ao ordenar Tiago no cap. 5:14, que o
enfermo "chame os presbteros da igreja, e estes faro orao sobre
ele, ungindo-o com leo", entendemos pelo contexto que se trata da
cura do corpo e no da sade da alma, como pretendem os romanistas
que, deixando de lado o contexto, como de costume, imaginam
encontrar aqui apoio para a extrema-uno.Advertncias. Tratando-se do
contexto, preciso advertir que s vezes se rompe o fio do argumento
ou narrao por um parnteses mais ou menos longo, depois do qual
volta ao assunto. Se o parnteses curto, no h dificuldade; porm se
longo, como sucede seguidamente nas epstolas de Paulo, requer
particular ateno.Em Efsios 3, por exemplo, encontramos um parnteses
que vai desde o verso 2 at o ltimo, reatando o fio do assunto no
primeiro versculo do cap. 4. Vejam-se outros exemplos em Filip.
1:27 at 2:16; Rom. 2:13 at 16; Efs. 2:14 at 18, etc., e note-se que
a palavraporqueaqui, em lugar de introduzir, como de costume, uma
razo determinada do por qu de alguma cousa, serve para introduzir
um parnteses.Por outra parte, devemos recordar que os originais das
Escrituras no tm a diviso em captulos e versculos; assim que o
contexto no se encontra sempre dentro dos limites do captuloque
meditamos, nem tampouco acaba sempre o fio de um argumento ou de
uma narrao com o fim do captulo. preciso ter isso em conta.4.Por
ltimo, no se esquea que, s vezes, to-somente pelo contexto se pode
determinar se uma expresso deve ser tomada ao p da letra ou em
sentido figurado.Chamando Jesus ao vinhosangue da aliana,
compreendemos pelo contexto que a palavra sangue deve ser tomada em
sentido figurado, desde o momento que Jesus, no dito contexto,
volta a chamar ao vinho de fruto da videira, embora o tivesse
abenoado. Da vemos, alm disso, que no vem de Jesus o ensino da
transformao do vinho em sangue verdadeiro de Cristo, como pretendem
os que fazem caso omisso do contexto, torcendo as Escrituras para
sua perdio. (Mat. 26:27, 29.) Havendo dito Jesus: "Quem comer a
minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna" e "minha carne
verdadeira comida, e o meu sangue verdadeira bebida", etc., os
discpulos ficaram assombrados e comearam a murmurar; dessa
circunstncia devemos esperar no contexto alguma explicao, se
devemos tomar em sentido material ou espiritual estas declaraes.
Efetivamente lemos: "O esprito (o sentido espiritual das palavras
ditas) o que vivifica; a carne (o sentido carnal) para nada
aproveita." Comer a carne e beber o sangue equivale, pois, a
apropriar-se pela f do sacrifcio de Cristo na cruz, do que, como se
sabe, resulta a vida eterna do crente. (Jo. 6:48-63.)Falando Paulo
de edificar, "se o que algum edifica sobre o fundamento ouro,
prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha", vemos pelo contexto
que fala do prprio Cristo como o fundamento do edifcio, devendo-se
tomar estas palavras no sentido espiritual, representando, sem
dvida, doutrinas legtimas e falsas com suas conseqncias. (1 Cor.
3:12.)A expresso: "Ser salvo, todavia, como que atravs do fogo",
explica-se a si mesma pelo contexto, o qual nos ensina que no se
trata de salvar uma alma qualquer, mas a servos de Deus, e que no
fogo que se atia em suas pessoas, mas em sua infortunada construo
de material, qual feno e palha; alm disso, que no um fogo
purificador, mas destruidor, a saber, o fogo do escrutnio rigoroso
no dia da manifestao de Cristo; estes "cooperadores de Deus"
salvar-se-o, pois, no sentido de um construtor que, na catstrofe do
incndio do edifcio que est levantando, pode escapar, sim, porm
perdendo tudo, exceto a vida. O que significa a mesma expresso,
dizendo: "ser salvo", no mediante a permanncia no fogo, mas "como
que atravs do fogo". S os cegos ao contexto podem sonhar com o
purgatrio nesta passagem. (1 Cor. 3:5-15.)Dizendo Paulo que a unio
entre Cristo e a Igreja to intima, que somos membros de seu corpo,
de sua carne e de seus ossos, e que deve reinar unio to estreita
como entre marido e esposa, continua: "Grande este mistrio." Que
mistrio? O contexto o explica em continuao: "mas eu me refiro a
Cristo e igreja" (Efs. 5:32). A unio ntima entre Cristo e sua
Igreja , pois, o mistrio, e no a unio entre marido e mulher, que,
por certo, no nenhum mistrio. Porm, os romanistas no s fazem um
arranjo com o contexto, mas ainda traduzem a expresso assim:
"Grande este sacramento", acrescentando em nota explicativa que "a
unio do marido com a mulher um grande sacramento"! Deste modo,
traduzindo mal e interpretando pior, encontram aqui o fundamento
para o que chamam "o sacramento do matrimnio".O que acima foi dito
basta para compreender a necessidade de ter em conta o contexto a
fim de decidir se determinadas expresses devem ser tomadas ao p da
letra ou em sentido figurado.PERGUNTAS1. Qual a terceira regra?2.
Que se entende por contexto?3. Para que e de quantas maneiras til o
contexto? Que h no contexto que aclara expresses obscuras? Cite
exemplos.4. Que exemplos temos da aclarao de palavras obscuras por
palavras semelhantes ou opostas s obscuras?5. Como que o contexto
nos ajuda em certas expresses de idias absolutas? Cite exemplos.6.
Que devemos ter presente em relao ao contexto e aos parnteses?7. De
que serve o contexto em relao s expresses literais ou figuradas?
Apresente exemplos.Advertimos novamente que para proveito positivo
preciso estudar as lies at ao ponto de poder escrever as respostas
s perguntas sem fazer uso do texto.QUARTA REGRAA quarta regra de
interpretao diz:1. preciso tomar em considerao o objetivo ou
desgnio do livro ou passagem em que ocorrem as palavras ou
expresses obscuras. Esta regra, como se v, no mais do que a ampliao
das anteriores em caso de no oferecer suficiente luz, nem o
conjunto da frase, nem o contexto, para remover a dificuldade e
dissipar toda dvida.2. O objetivo ou desgnio de um livro ou
passagem se adquire, sobretudo, lendo-o e estudando-o com ateno e
repetidas vezes, tendo em conta em que ocasio e a que pessoas
originalmente foi escrito. Em outros casos consta o desgnio no
livro ou passagem mesmo, como por exemplo, o de toda a Bblia, em
Rom. 15:4; 2 Tim. 3:16, 17; o dos Evangelhos, em Joo 20:31; o de 2
Pedro no cap. 3:2, e o de Provrbios no capitulo 1:1, 4.3. O desgnio
alcanado pelo estudo diligente nos oferece auxlio admirvel para a
explicao de pontos obscuros, para a aclarao de textos que parecem
contradit6rios e para conseguir um conhecimento mais profundo de
passagens em si claras.4.Exemplos: 1 evidente que as cartas aos
Glatas e aos Colossenses foram escritas na ocasio dos erros que,
com grande dano, os judaizantes ou "falsos mestres" procuravam
implantar nas igrejas apostlicas. Por conseguinte, estas cartas tm
por desgnio expor com toda clareza a salvao pela morte expiat6ria
de Cristo, contrariamente aos ensinos dos judaizantes, que pregavam
as obras, a observncia de dias e cerimnias judaicas, a disciplina
do corpo e a falsa filosofia. A cada passo encontraremos luz no
estudo destas cartas para a melhor compreenso de passagens, embora
claras, em si mesmas, se temos esse desgnio sempre presente.
Leremos ao mesmo tempo com mais entendimento, por exemplo, os
Salmos 3, 18, 34 e 51, levando-se em conta em que ocasio foram
escritos, coisa que consta em seu respectivo encabeamento. Outro
tanto dizemos dos Salmos 120 at 134, intitulados "Cntico dos
degraus", se tivermos presente que foram escritos para serem
cantados pelos judeus em suas viagens anuais a Jerusalm.5. 2 Eis
aqui a luz que oferece o desgnio para a aplicao de um ponto
obscuro, desgnio adquirido tendo em conta a condio de uma pessoa
qual se dirige Jesus. Ao perguntar-lhe um Prncipe, cegado por
justia prpria, que bem deveria fazer para obter a vida eterna (Mat.
19:16; Luc. 18:18) e Jesus lhe responde: "Guarda os mandamentos",
querer ensinar-lhe com esta resposta que o meio de salvao a
observncia do Declogo? Certamente que no, desde o momento que Jesus
mesmo e as Escrituras em todas as partes ensinam que a vida eterna
se adquire unicamente pela f no Salvador. Como explicar, pois, que
Jesus lhe desse tal resposta? Tudo fica claro e desaparece toda a
dvida, se tivermos em conta com que desgnio Jesus lhe fala. Pois,
evidentemente, seu objetivo foi valer-se da mesma lei e do
mandamento novo de "vender tudo" o que possua para tirar o pobre
cego de sua iluso e lev-lo ao conhecimento de suas faltas para com
a lei divina e conseqente humilhao, o que tambm conseguiu,
fazendo-o compreender que no passava de um pobre idlatra de suas
riquezas, que nem mesmo o primeiro mandamento da lei havia
cumprido. O desgnio de Jesus, neste caso, foi o de usar a lei qual
"aio", como disse o Apstolo, para conduzir o pecador verdadeira
fonte de salvao, porm no como meio de salvao, e eis aqui por que
lhe indica os mandamentos.6. 3 Vejamos como, tendo em considerao o
desgnio, desaparecem as aparentes contradies. Quando Paulo disse
que o homem justificado (declarado sem culpa) pela f sem asobras,
enquanto Tiago afirma que o homem justificado pelas obras e no
somente pela f, desaparece a aparente contrao desde o momento que
tomemos em conta o desgnio diferente que levam as cartas de um e de
outro. (Rom. 3:28 e Tiago 2:24). Paulo combate e refuta o erro dos
que confiavam nas obras da lei mosaica como meio da justificao,
rechaando a f em Cristo; Tiago combate o erro de alguns
desordenados que se contentavam com uma f imaginria, descuidando e
rechaando as boas obras. Da que Paulo trata da justificao pessoal
diante de Deus, enquanto Tiago se ocupa da justificao pelas obras
diante dos homens. O ser justificado (declarado sem culpa) o homem
criminoso vista de Deus, realiza-se to-somente pela f no sacrifcio
de Cristo pelo pecado e sem as obras da lei; porm o ser justificado
(declarado sem culpa) vista do mundo, ou da igreja, realiza-se
mediante obras palpveis e "no somente pela f" que invisvel.
"Mostra-me a tua f pelas tuas obras", tal d o tom e a exigncia da
carta de Tiago; tal a exigncia, tambm, das cartas de Paulo. Vemos,
pois, que as pessoas so justificadas diante de Deus mediante a f,
porm, nossaf justificadadiante dos homensmediante as obras. Da
compreendermos que concordam perfeitamente as doutrinas dos
apstolos.7. Lemos em 1 Joo 3:9: "Todo aquele que nascido de Deus no
vive na prtica do pecado... esse no pode viver pecando." Querer o
apstolo aqui dizer que o cristo absolutamente incapaz de cometer
uma falta? No, porque o prprio objetivo de sua carta o de prevenir
para que no pequem, com o que est admitida a possibilidade de poder
cair em falta. Como, pois, compreender que os nascidos de Deus no
podem pecar? Neste caso tambm nos apresenta luz a considerao detida
do desgnio da carta. Pelas Escrituras vemos que nos fins do sculo
apostlico existiam certos pretensos cristos enganados que criam
poder praticar toda sorte de excessos carnais, sem respeitar lei
alguma. Um dos desgnios da carta , evidentemente, prevenir os
filhos de Deus contra esse mau tipo de crenas. Diz Joo que,
contrariamente a esses "filhos do diabo" que por natureza cometem
pecado, os "filhos de Deus" no podem viver pecando. Cada um se
ocupa nas obras do pai: os filhos de Deus se ocupam em manifestar
seu amor a Deus, guardando seus mandamentos (5:2); os filhos do
diabo se ocupam em imitar a seu pai, que est pecando desde o
princpio.Uns praticam o pecado, os outros no o praticam desde o
momento em que nasceram de Deus. Opondo-se a esses dissolutos
filhos do diabo, que acreditavam poder pecar e naturalmente com
gosto pecavam, afirma Joo que os nascidos de Deus, pelo contrrio,
tendo repugnncia e dio ao pecado, no podem pecar; significa,no
podem praticar o pecado, ou continuar pecando, como indica o texto
original. Pela razo de haverem nascido de Deus, e aspirando, como
aspiram, perfeio moral completa, contra sua nova natureza praticar
o pecado: no podem continuar pecando; o que supostamente no impede
que sejam exortados a guardar-se do mal, desde o momento que no
esto fora da possibilidade de pecar.8. Outro caso de aparente
contradio, que tambm aclara o desgnio dos escritos correspondentes,
encontramos nas cartas de Paulo. Na que dirige aos Glatas (4:10,
11), ele se ope observncia dos dias de festas judaicas, e na
dirigida aos Romanos (14:5, 6) no faz uma oposio definitiva a tal
observncia. Como explicar esta diferena? Simplesmente porque o
objetivo geral da Carta aos Glatas era de resistir s doutrinas dos
falsos mestres que haviam desviado aos Glatas. Esses mestres lhes
haviam ensinado que para a salvao, alm de certa f no Cristianismo,
era preciso guardar as prticas judaicas do Antigo Testamento, com o
que em realidade atacam o fundamento da justificao pela f, tornando
nulo o sacrifcio de Jesus Cristo na cruz. Do grave perigo em que
haviam ido parar, queixa-se amargamente o apstolo, e nada h de
estranho em que se opusesse com firmeza a essas observncias
judaicas que obscureciam o glorioso Salvador e ameaavam arruinar o
trabalho apostlico entre eles. Muito diferente o caso que o apstolo
trata em sua carta aos Romanos (Rom. 15:1-13). A passagem em que
isso ocorre tem por objetivo estabelecer a paz perturbada entre um
grupo de irmosfracosconvertidos do Judasmo que criticavam os
crentesmais firmes, os quais, por sua vez, desprezavam os fracos.
Estes irmos dbeis, que se haviam imposto no comer carne nem beber
vinho e que guardavam as festas judaicas, no se encontravam no
grave perigo dos glatas. Assim que o apstolo menciona queuns
consideram todos os dias iguais, enquanto outros observam certo dia
com preferncia a outro, afirmando que estes o fazem assim para o
Senhor, sem opor-se direta e definitivamente a isso. Porm,
considerando o repetido encargo, que ato contnuo lhe dirige, de
estarem "seguros em seu nimo", isto , de submeter a srio exame a
coisa at no haver lugar para dvida com respeito ao correto proceder
que ambas as partes nos assuntos divergentes deviam observar, e
considerando alm disso que seu desejo e desgnio eram que os
antagonistas chegassem a um mesmo parecer (15:5, 6), para que
cessassem as discrdias e se restabelecesse a paz. evidente que o
apstolo induz os fracos a avanar em seu critrio, at ao ponto de
abandonar a observncia das festas judaicas. Ainda aqui, pois se bem
que indiretamente, o apstolo se pronuncia contra o costume antigo
destinado a desaparecer, como toda coisa velha que haja cumprido
sua misso. Assim que, em vista dos diferentes desgnios dos
referidos escritos, encontramos completa harmonia onde primeira
vista parece haver divergncia.Poder-se-iam citar outros exemplos da
mesma natureza, porm cremos suficientes os j referidos para
evidenciar a importncia de consultar, em caso de necessidade, o
desgnio dos livros ou passagens para conseguir a correta compreenso
das expresses obscuras e ainda das que em si so claras.PERGUNTAS1.
Qual a 4 regra que convm ter presente na interpretao das passagens
obscuras?2. Como se consegue o desgnio ou objetivo de um livro ou
Passagem? Qual o desgnio da Bblia, dos Evangelhos e dos
Provrbios?3. Que auxlio nos oferece o desgnio de um livro ou uma
passagem na interpretao?4. Com que motivo e conseqente desgnio se
escreveram as cartas aos Glatas e aos Colossenses?5. Como explicar,
pelo desgnio, as palavras: "Guarda os mandamentos", que parecem
contradizer a doutrina da salvao pela f?6. Como se harmonizam os
textos de Paulo e Tiago, dizendo um: "Conclumos, pois, que o homem
justificado pela f, independentemente das obras da lei" e o outro:
"Verificais que uma pessoa justificada por obras, e no por f
somente"?7. Como se explica satisfatoriamente a afirmao de Joo de
que o cristo "no pode pecar"?8. Como se harmonizam as passagens a
respeito de guardar as festas em Glatas 4:10, 11 e Romanos 14:5,
6?QUINTA REGRA 1 PARTE necessrio consultar aspassagens paralelas,
"explicando cousas espirituais pelas espirituais" (1 Cor. 2:13,
original).l. Com passagens paralelas entendemos aqui as que fazem
referncia uma outra, que tenham entre si alguma relao, ou tratem de
um modo ou outro de um mesmo assunto.2. No s preciso apelar para
tais paralelos a fim de aclarar determinadas passagens obscuras,
mas ao tratar-se de adquirir conhecimentos bblicos exatos quanto a
doutrinas e prticas crists. Porque, como j dissemos, uma doutrina
que pretende ser bblica, no pode ser considerada no todo como tal,
sem resumir e expressar com fidelidade tudo o que estabelece e
excetua a Bblia em suas diferentes partes em relao ao particular.
Se sempre se houvesse tido isto presente, no se propagariam hoje
tantos erros com a pretenso de serem doutrinas bblicas.3. Neste
estudo importante convm observar que hparalelos de palavras
paralelos de idiaseparalelos de ensinos gerais.1. Paralelos de
palavrasQuanto a estes paralelos, quando o conjunto da frase ou o
contexto no bastam para explicar uma palavra duvidosa, procura-se s
vezes adquirir seu verdadeiro significado consultando outros textos
em que ela ocorre; e outras vezes, tratando-se de nomes prprios,
apela-se para o mesmo procedimento a fim de fazer ressaltar fatos e
verdades que de outro modo perderiam sua importncia e
significado.Exemplos: 1 - Em Glatas 6:17, diz Paulo: "Trago no
corpo as marcas de Jesus." Que eram essas marcas? Nem o conjunto da
frase, nem o contexto no-lo explica. Iremos, pois, s passagens
paralelas. Em 2 Cor. 4:10, encontramos em primeiro lugar, que Paulo
usa a expresso "levando sempre no corpo o morrer de Jesus", falando
da cruel perseguio que continuamente Cristo padecia, o que nos
indica que essasmarcasse relacionam com a perseguio que sofria.
Porm ainda mais luz alcanamos mediante 2 Cor. 11:23, 25, onde o
apstolo afirma que foi aoitado cinco vezes (com golpes de couro) e
trs vezes com varas; suplcios to cruis que, se no deixavam o
paciente morto, causavam marcas no corpo que duravam por toda a
vida. Consultando, assim, os paralelos, aprendemos que as marcas
que Paulo trazia no corpo no eram chagas ou sinais da cruz
milagrosa ou artificialmente produzidas, como alguns pretendem,
porm marcas ou sinais dos suplcios sofridos pelo Evangelho de
Cristo.2 - Na carta aos Glatas 3:27, diz o apstolo dos batizados:
"de Cristo vos revestistes". Em que consiste estar revestido de
Cristo? Pelas passagens paralelas em Rom. 13:13,14 e Col. 3:12,14,
tudo se esclarece. O estarrevestidode Cristo, por um lado consiste
em ter deixado as prticas carnais, como a luxria, dissolues,
contendas e cimes; e por outro em haver adotado como vestido
decoroso, a prtica de uma vida nova, como a misericrdia,
benignidade, humildade, mansido, tolerncia e sobretudo o amor cujos
atos os cristos primitivos simbolizavam no seu batismo, deixando-se
sepultar e levantar em sinal de haverem morrido para essas prticas
mundanas e de haverem ressuscitado em novidade de vida, com suas
correspondentes prticas novas. Assim que, consultando os paralelos,
aprendemos que o estar revestido de Cristo no consiste em haver
adotado tal ou qual tnica ou vestido "sagrado", mas em adornos
espirituais ou morais prprios do Cristianismo simples, santo e puro
(1 Pedro 3:3-6).3 - Segundo Atos 13:22, Davi foi um "homem segundo
ocoraode Deus". Querer a Escritura com esta expresso apresentar-nos
a Davi como modelo de perfeio? No, porque no cala suas muitas e
graves faltas, nem seus correspondentes castigos. Como e em que
sentido, pois, foi homem conforme o corao de Deus? Busquemos os
paralelos. Em 1 Samuel 2:35, disse Deus: "Suscitarei para mim um
sacerdote fiel, que proceder segundo o que tenha no corao" do que
resulta, tomando toda a passagem em considerao, que Davi,
especialmente em sua qualidade de sacerdote-rei, procederia segundo
o corao ou a vontade de Deus, Esta idia se encontra plenamente
confirmada na passagem paralela do cap. 13, verso 14, onde tambm
verificamos que era em vista do rebelde Saul, e contrrio sua m
conduta como rei, que Davi seria homem segundo o corao de Deus.Se
bem que Davi, como vemos pela histria e pelos seus Salmos, de modo
geral foi homem piedoso, em muitos casos digno de imitao, no nos
autorizam de nenhum modo os paralelos de nossa passagem a
consider-lo como modelo de perfeio, sendo seu significado
primitivo, como temos visto, que Davi, em sua qualidade oficial, o
contrrio do rebelde rei Saul, seria homem que procederia segundo o
corao ou a vontade de Deus.4 - Um exemplo da utilidade de consultar
os paralelos em relao aos nomes prprios, temo-lo no relato deBalao,
em Nmeros, captulos 22 e 24, deixando-nos em duvida quanto ao
verdadeiro carter e de sua pessoa. Foi ele realmente profeta? E, em
tal caso, qual foi a causa de sua queda? Consultando os paralelos
do Novo Testamento, verificamos por 2 Pedro 2:15,16 e Judas 11, que
ele foi um pretenso profeta que atuava levado pela paixo da cobia,
e por Apocalipse 2:14, que por suas instigaes Balaque fez os
israelitas carem em pecado to grande que lhes custou a destruio de
23.000 pessoas.5 - Convm observar tambm que por este estudo de
paralelos se aclaram aparentes contradies. Segundo 1 Crnicas 21:11,
por exemplo, Gade oferece a Davi, da parte de Deus, o castigo de
trs anos de fome, e segundo 2 Samuel 24:13, lhe pergunta Gade se
quer sete anos de fome. Como pde perguntar-lhe se queria sete e ao
mesmo tempo lhe oferece trs? Simplesmente porque pelo paralelo de 2
Samuel 21:1, na pergunta de Gade compreendemos que toma em conta os
trs anos de fome passados j, com o que esto passando, enquanto no
oferecimento dos trs anos s se refere ao porvir.6 -Ateno. Ao
consultar-se este tipo de paralelos convm proceder como segue:
primeiramente buscar o paralelo, ou seja, a aclarao da palavra
obscurano mesmo livro ou autor em que se encontra, depois nos
demaisda mesma pocae, finalmente em qualquer livro da Escritura.
Isto d necessrio porque, s vezes, varia o sentido de uma palavra,
conforme o autor que a usa, segundo a poca em que se emprega, e
ainda, como j temos dito, segundo o texto em que ocorre no mesmo
livro.Exemplos: 1 - Um exemplo de como diferentes autores empregam
uma mesma palavra em sentido diferente, encontramo-lo nas cartas de
Paulo e Tiago. A palavraobras, quando ocorre s, nas cartas aos
Romanos e aos Glatas, significao oposto f, a saber: as prticas da
lei antiga como fundamento para a salvao. Na carta de Tiago se usa
a mesma palavra, sempre no sentido daobedinciaesantidadeque a
verdadeira f em Cristo produz. Neste caso, e em casos parecidos, no
se aclara, pois, uma pela outra palavra; da compreendemos a
necessidade de buscar paralelos com preferncia no mesmo livro ou
nos livros do autor que se estuda. Notemos, todavia, que um mesmo
autor emprega, s vezes, uma palavra em sentido diferente, em cujo
caso tambm uma expresso explica a outra. Lemos em Atos 9:7, que os
companheiros de Saulo, no caminho de Damasco ouviram a voz do
Senhor, e no captulo 22:9 do mesmo livro, que "no perceberam o
sentido da voz" ou, como diz outra verso, "no ouviram a voz".
porque entre os gregos, como entre ns, a palavraouvirse usava no
sentido deentender. Ouviram, pois, a voz enoa ouviram,
significando: ouviram o rudo, porm no entenderam as palavras. Do
mesmo modo distinguimos entre ver e ver, como o faziam os hebreus,
usando a palavra em sentido diferente. Assim lemos em Gnesis 48:8,
10, que Israel "viu" os filhos de Jos, e em seguida, "os olhos de
Israel j se tinham escurecido por causa da velhice, de modo que no
podia ver bem". Significa que os viu confusamente, porm no os podia
ver com clareza, sendo necessrio coloc-los perto, como tambm diz o
contexto. Busquem-se, pois, os paralelos, com preferncia e em
primeiro lugar num mesmo autor, porm no se espere, mesmo assim, que
sirvam de paralelos sempre todas as expresses iguais.2 - Prova de
como pode mudar o significado de uma palavra segundo a poca em que
se emprega, temo-la na palavraarrepender-se. Novo Testamento usada
constantemente no sentido de mudar de mente o pecador, isto , no
sentido de mudar de opinio, de convico ntima, de sentimento,
enquanto no Antigo Testamento tem significados to diferentes que
unicamente o contexto, em cada caso, os pode aclarar. Tanto assim,
que no Antigo se diz do prprio Deus que se arrependeu, expresso que
nunca empregada pelos escritores do Novo ao falarem de Deus, exceto
no caso de citarem o Antigo Testamento. Da ser evidente que ao
dizer que Deus se arrepende, no devemos de nenhum modo tomar no
mesmo sentido do que ns compreendemos por arrependimento de um
homem. Devem-se, pois, buscar os paralelos, em segundo lugar, nos
escritos que datam de uma mesma poca de preferncia aos que se puder
encontrar em outras partes das Escrituras.PERGUNTAS1. Qual a quinta
regra, e que se entende por paralelos?2. Por que se devem consultar
os paralelos?3. Que tipos de paralelos existem?4. Que se entende
por paralelos de palavras?5. Como se explica a palavra marcas em
Gl. 6:17?6. Por que no significa revestidos em Gl. 3:27, estar
coberto com a tnica batismal?7. Como se obtm o sentido verdadeiro
da expresso de que Davi foi "um homem segundo o corao de Deus"?8.
Para que servem os paralelos no caso de nomes prprios?9. Como se
aclaram as aparentes contradies pelos paralelos?10. Como se deve
proceder ao consultar os paralelos de palavras?11. Que exemplos se
podem apresentar que demonstrem a necessidade de buscar paralelos
num mesmo autor e uma mesma poca?QUINTA REGRA 2 PARTE2. Paralelos
de idias1. Para conseguir idia completa e exata do que ensina a
Escritura neste ou naquele texto determinado, talvez obscuro ou
discutvel, consultam-se no s as palavras paralelas, mas os ensinos,
as narrativas e fatos contidos em textos ou passagens
esclarecedoras que se relacionem com o dito texto obscuro ou
discutvel. Tais textos ou passagens chamam-se paralelos de
idias.Exemplos: 1 - Ao instituir Jesus a ceia, deu o clice aos
discpulos, dizendo: "Bebei dele todos." Significa isto que s os
ministros da religio devem participar do vinho na ceia com excluso
da congregao? Que idia nos proporcionam os paralelos?Em 1 Corntios
11:22-29, nada menos que seis versculos consecutivos nos apresentam
o "comer do po e beber do vinho" como fatos inseparveis na ceia,
destinando os elementos a todos os membros da igreja sem distino.
Inveno humana, destituda de fundamento bblico , pois, o
participarem uns do po e outros do vinho na comunho.2 - Ao dizer
Jesus: "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja", constitui ele
a Pedro como fundamento da igreja, estabelecendo o primado de Pedro
e dos papas, como pretendem os papistas? Note-se primeiro que
Cristo no disse: "Sobreti, Pedro". Nada melhor que os paralelos que
oferecem as palavras de Cristo e Pedro, respectivamente, para
determinar este assunto, ou seja, o significado deste texto. Pois
bem, em Mateus 21:42,44, vemos Jesus mesmo como a pedra fundamental
ou "pedra angular", profetizada e tipificada no Antigo Testamento.
E em conformidade com esta idia, Pedro mesmo declara que Cristo
apedra que vive, a principal pedra angular, rejeitada pelos judeus,
em Silo, esta pedra foi feita a principal pedra angular, etc. (1
Pedro 2:4, 8). Paulo confirma e aclara a mesma idia, dizendo aos
membros da igreja de feso (2:20) que so "edificados sobre o
fundamento dos apstolos e profetas, sendo ele mesmo Cristo Jesus, a
pedra angular, no qual todo edifcio, bem ajustado cresce para
santurio dedicado ao Senhor". Deste fundamento da igreja, posto
pela pregao de Paulo, "como prudente construtor" entre os corntios,
disse o apstolo "porque ningum pode lanar outro fundamento, alm do
que foi posto, o qual Jesus Cristo" (1 Cor. 3:10, 11).Cotejando
estes e outros paralelos, chegamos concluso de que Cristo, neste
texto, no constitui a Pedro como o fundamento de sua igreja.2. O
modo de proceder, tratando-se deste tipo de paralelos, pois o de
aclarar as passagens obscuras mediante paralelos mais claros: as
expresses figurativas, mediante os textos paralelos prprios e sem
figura, e as idias sumariamente expressas, mediante os paralelos
mais extensos e explcitos. Vejamos a seguir novos
exemplos:Exemplos: 1 - Acentua-se muito o amor aos crentes em 1
Pedro 4:8,porque o amor cobre multido de pecados. Como explicar
este texto obscuro? Pelo contexto e cotejando-o com 1 Cor. 13 e
Col. 1:4, compreendemos que a palavraamor usada aqui no sentido de
amor fraternal. Porm, em que sentido cobre oamor fraternalmuitos
pecados? Em Rom. 4:8 e Salmo 32:1, vemoso pecado perdoado sob a
figura de "pecado coberto", "sepultado no esquecimento", como ns
diramos. Consultando o contedo de Prov. 10:12, citado por Pedro
neste lugar, compreendemos que o amor fraternal cobre muitos
pecados no sentido de perdoar as ofensas recebidas dos irmos,
sepultando-os no esquecimento, contrrio ao dio que desperta rixas e
aviva o pecado. No se trata, pois, aqui de merecer o perdo dos
prprios pecados mediante obras de caridade, nem de encobrir pecados
prprios e alheios mediante dissimulaes e escusas, como erroneamente
pretendem os que no cuidam de consultar os paralelos, explicando a
Escritura pela Escritura.2 - Segundo Glatas 6:15, o que de valor
para Cristo anova criatura. Que significa esta expresso figurada?
Consultando o paralelo de 2 Cor. 5:17, verificamos que a nova
criatura a pessoa que "est em Cristo", para a qual "as cousas
antigas passaram" e "se fizeram novas"; enquanto em Gl. 5:6 e 1
Cor. 7:19 temos anova criaturacomo a pessoa que tem f e observa os
mandamentos de Deus.3 - Paulo expe sumariamente a idia da
justificao pela f em Filipenses 3:9, dizendo que deseja ser achado
em Cristo, "no tendo justia prpria, que procede de lei, seno a que
mediante a f em Cristo, a justia que procede de Deus baseada na f".
Para conseguir clareza desta idia preciso recorrer a numerosas
passagens das cartas aos Romanos e aos Glatas, nas quais se explica
extensamente como pela lei todo homem ru convicto diante de Deus e
como pela f na morte de Cristo, em lugar do pecador, o homem, sem
mrito prprio algum, declarado justo e absolvido pelo prprio Deus.
Rom. 3, 4, 5; Gl. 3, 4.PERGUNTAS1. Que se entende por paralelos de
idias?2. Como se explica a palavratodosno mandamento que diz:
"bebei dele todos" na ordem da comunho?3. Como se prova quea
pedraque Jesus menciona em Mat. 16:18, no Pedro?4. Como se procede
no estudo dos paralelos de idias?5. Como que o amor cobre o pecado,
segundo as Escrituras?6. Como se demonstra o verdadeiro sentido da
expressonova criaturade Gl. 6:15?7. De que maneira se deixa tudo
claro em relao idia "da justificao pela f"?QUINTA REGRA 3 PARTE3.
Paralelos de ensinos gerais1. Para a aclarao e correta interpretao
de determinadas passagens no so suficientes os paralelos de
palavras e idias; preciso recorrer aoteor geral, ou seja,
aosensinos geraisdas Escrituras. Temos indicaes deste tipo de
paralelos na prpria Bblia, sob as expresses de ensinarconforme as
Escrituras, de ser anunciada tal ou qual coisa porboca de todos os
profetas, e de usarem os profetas (ou pregadores) seu domconforme a
medida da f, isto ,segundo a analogia ou regrada doutrina revelada.
(1 Cor. 15:3, 14; Atos 3:18; Rom. 12:6.)Exemplos: 1 - Diz a
Escritura: "O homem justificadopela f sem as obras de lei." Ora, se
desta circunstncia algum tira em conseqncia o ensino de que o homem
de f fica livre das obrigaes de viver uma vida santa e de
conformidade com os preceitos divinos, comete um erro, ainda quando
consulte um texto paralelo. preciso consultar o teor ou doutrina
geral da Escritura que trata do assunto; feito isso, observa-se que
essa interpretao falsa por contrariar por inteiro o esprito ou
desgnio do Evangelho, que em todas as partes previnem os crentes
contra o pecado, exortando-os pureza e santidade.2 - Segundo o teor
ou ensino geral das Escrituras, Deus um esprito onipotente,
purssimo, santssimo, conhecedor de todas as cousas e em todas as
partes presente, coisa que positivamenteconsta numa multido de
passagens. Pois bem, h textos que, aparentemente, nos apresentam a
Deus como ser humano, limitando-o a tempo ou lugar, diminuindo em
algum sentido sua pureza ou santidade, seu poder ou sabedoria; tais
textos devem ser interpretados luz de ditos ensinos gerais.O fato
de haver textos que primeira vista no parecem harmonizar com esse
teor das Escrituras, deve-se linguagem figurada da Bblia e
incapacidade da mente humana de abraar a verdade divina em sua
totalidade.3 - Ao dizerem as Escrituras: "O Senhor fez todas as
coisas para determinados fins, e at o perverso para o dia da
calamidade" (Prov. 16:4), querero aqui ensinar que Deus criou o
mpio para conden-lo, como alguns interpretam o texto? Certamente
que no; porque, segundo o teor das Escrituras, em numerosas
passagens, Deus no quer a morte do mpio, no quer que ningum perea,
mas que todos se arrependam. E, portanto, o significado da ltima
parte do texto deve ser que o Criador de todas as coisas, no dia
mau, saber valer-se inclusive do mpio para levar a cabo seus
adorveis desgnios. Quantas vezes, pela divina providncia, no
tiveram de servir os perversos qual aoite e praga a outros,
castigando-se a si mesmos ao mesmo tempo!4. Paralelos aplicados
linguagem figuradas vezes preciso consultar os paralelos para
determinar se uma passagem deve ser tomada ao p da letra ou em
sentido figurado. Vrias vezes os profetas nos apresentam a Deus,
por exemplo, com um clice na no, dando de beber aos que quer
castigar, caindo estes por terra, embriagados e aturdidos. (Naum
3:11; Hab. 2:16; Salmo 75:8, etc.) Esta representao, breve e sem
explicao em certos textos, encontra-se aclarada no paralelo de
Isaas 51:17,22,23, onde aprendemos que o clice o furor da ira ou
justa indignao de Deus, e o aturdimento ou embriaguez, assolaes e
quebrantamentos insuportveis.A propsito da linguagem figurada,
preciso recordar aqui quealgumasemelhana ou igualdade entre duas
cousas, pessoas e fatos, justifica a comparao e uso da figura.
Assim, pois, se houver certa correspondncia entre o sentido
figurado de uma palavra e seu sentido literal, no necessrio, como
tampouco possvel, que tudo quanto encerra a figura se encontre no
sentido literal. Pela mesma razo, por exemplo, quando Cristo chama
deovelhasa seus discpulos, natural que no apliquemos a eles todas
as qualidades que encerra a palavra ovelha, a qual aqui usada em
sentido figurado. Em casos como este si bastar o sentido comum para
determinar os pontos de comparao. Assim compreendemos que, ao
chamar-se Cristo de oCordeiro, somente se refere a seu carter manso
e a seu destino de ser sacrificado, como o cordeiro sem mcula o era
entre os israelitas. Do mesmo modo compreendemos em que sentido se
chama ao pecado dedvida; redeno depagamento da dvida, e ao
perdo,remisso da divida ou da culpa. evidente que o sentido de tais
expresses no deve ser levado a extremos exagerados: se bem que
Cristo morreu pelos pecadores, no se admite em conseqncia, por
exemplo, que todos os pecadores so ou sero salvos; e se bem que
Cristo cumpriu toda a lei por ns, no resulta da que tenhamos o
direito de viver no pecado; ou se consta que o homem estmortono
pecado, no quer dizer que est de tal modo morto que no se possa
arrepender e que fique sem culpa se deixar de ouvir o chamamento do
Evangelho. Tratando-se de figuras de objetos materiais, no ser
difcil determinar o justo nmero de realidades ou pontos de comparao
que designa cada figura, nem a conseqncia lcita ou ensino positivo
que encerra cada ponto.Maiores dificuldades oferecem as figuras
tomadas da natureza humana ou da vida ordinria. Muitos tm-se
recreado em formar castelos de doutrinas sem fundamento, rebuscando
e comparando tais figuras e smiles, tirando conseqncias ilcitas, e
at contrrias s Escrituras. O esprito humano parece encontrar gosto
especial em semelhantes fabricaes caprichosas e jogos de palavras.
Devem-se, pois, estudar as figuras com sobriedade especial e sempre
com toda a seriedade.PERGUNTAS1. Que so "paralelos de ensinos
gerais"?2. Como se evita a falsa interpretao da expresso
"Justificao sem as obras da lei"?3. Como se aclaram as expresses
que nos apresentam a Deus como um ser limitado?4. Por que ocorrem
tais expresses? Como se consegue o correto sentido do texto que diz
que Deus tem feito o perverso para o dia mau?5. Por que razo se
deve recorrer aos paralelos tratando-se de linguagem figurada?6. Em
que condio se permite o uso de uma figura de retrica?7. Por que no
se deve buscar o equivalente de todas as circunstncias das
figuras?8. Em que esprito se devem estudar e compreender as figuras
ou smbolos das Escrituras?REPETIO E OBSERVAERepetindo e resumindo
algo do que foi dito nas lies anteriores, convm que nos recordemos
e sempre tenhamos presente:1 Que o primeiro requisito para o bom
entendimento das Escrituras um esprito de discpulo humilde. Tanto
assim, que uma pessoa comparativamente ignorante, que humildemente
invoca a luz do Esprito de Deus no estudo da Bblia, conseguir
conhecimentos bblicos exatos com mais facilidade do que um homem de
talento e sabedoria humana que, preocupado e carecendo do esprito
de discpulo, empreende seu estudo. Numerosos exemplos apiam esta
verdade.2 Que as grandes doutrinas e princpios do Cristianismo esto
expostos com clareza nas Escrituras.3 Que, por conseguinte e em
realidade, s se invocam as regras de interpretao para conseguir o
significado verdadeiro dos pontos obscuros e de difcil compreenso.4
Que, apesar disso, d de grande importncia que at o cristo mais
humilde tenha alguma idia de tais regras e de sua aplicao,
porquanto seu dever aprofundar-se nas Escrituras, confirmar-se em
suas verdades e familiarizar-se com elas para seu prprio proveito e
para poder iluminar aos que as contradizem.5 Para conhecer o
sentido inato da Bblia, ela mesma deve ser sua prpria intrprete.6
Que o verdadeiro sentido de seus textos conseguido pelo significado
de suas palavras, e que assim, pela aquisio do verdadeiro sentido
das palavras, se consegue o verdadeiro sentido de seus textos.7 Que
no se deve esquecer por um momento que o significado das palavras
est determinado pela peculiaridade e uso da linguagem bblica,
devendo-se, portanto, buscar o conhecimento do sentido em que se
usam as palavras antes de tudo na prpria Bblia.8 Que as palavras
devem ser tomadas no sentido que comumente possuem, se este sentido
no estiver manifestamente contrrio a outras palavras da frase em
que ocorrem, com o contexto e com outras partes das Escrituras.9
Que, no caso de haver uma palavra com significado diferente,
oferecendo-se assim ou de outro modo um ponto obscuro, recorra-se s
regras acima citadas para se conseguir o sentido exato que
intentava o escritor inspirado, ou melhor, o prprio Esprito de
Deus.10 Que, parte da correta interpretao de passagens e textos
separados quanto s doutrinas, estas s so bblicas e exatas quando
expressam tudo quanto dizem as Escrituras em relao a elas.Ao
averiguar, pois, qual seja o verdadeiro significado de uma passagem
da Escritura, preciso que perguntemos:1 Qual d o significado de
suas palavras?Se no tm mais significado, estamos de imediato
esclarecidos: possumos j o verdadeiro sentido. Porm se h alguma que
tem mais de um sentido, perguntemos:2 Que sentido requer o restante
da frase?S em resposta encontramos dois ou trs sentidos,
perguntemos:3 Qual o sentido que requer o contexto para que tenha
um sentido harmnico toda a passagem?Se ainda couber dar-lhe mais de
um sentido, perguntemos:4 Qual o sentido que requer o desgnio ou
objetivo geral da passagem ou livro em que se encontra?E se a todas
estas perguntas se oferece ainda mais de uma resposta,
perguntemos:5 Qual o sentido que requerem outras passagens das
Escrituras?Se, por acaso, em resposta a tantas averigua6es, ainda
fosse possvel encontrar mais de um significado nalguma palavra da
passagem, podem considerar-se verdadeiros ambos os significados ou
ambas as interpretaes, devendo-se, por certo, preferir a que mais
condies rena para ser aceita como verdadeira.Repetimos que o
procedimento acima indicado e as regras aqui estampadas so to
justas quanto necessrias, no somente para a interpretao de todo
tipo de linguagem da Escritura, como para o reto entendimento e
interpretao de toda linguagem ou documento de uso na vida
ordinria.PERGUNTAS1. Qual o principal requisito para compreender a
Sagrada Escritura?2. Como esto expressos os grandes princpios do
Cristianismo nas Escrituras?3. Quando que so teis as regras de
interpretao?4. Por que convm que todo cristo tenha idias da correta
interpretao das Escrituras?5. Quem o intrprete fundamental da
Bblia?6. Como se consegue o verdadeiro sentido de seus textos?7. Em
que livro se busca o sentido das palavras bblicas?8. Em que sentido
se devem tomar geralmente as palavras?9. Como se procede quando uma
palavra tem vrios sentidos?10. Quando que uma determinada doutrina
de todo bblica?11. Para averiguar qual seja o verdadeiro sentido de
uma passagem, que perguntas devemos formular-nos? Expliquem-se
todas.FIGURAS DE RETRICA 1 PARTEVimos na "primeira regra" que para
a correta compreenso das Escrituras necessrio, na medida do
possvel, tomar as palavras em seu sentido usual e comum, o que,
devido linguagem usual e figurada da Bblia e seus hebrasmos, no
significa que sempre devem ser tomadas ao p da letra. Tambm j
observamos que preciso familiarizar-se com esta linguagem para
chegar a compreender, sem dificuldade, qual seja o sentido usual e
comum das palavras. Para que o leitor consiga em parte esta
familiaridade, exporemos em seguida uma srie de figuras e
hebrasmos, com seus correspondentes exemplos, que precisam ser
estudados detidamente e repetidas vezes. Como veremos, as figuras
retricas da linguagem bblica so as mesmas que em outros idiomas; e
no tanto para seus nomes, um tanto estranhos, quanto para os
exemplos que lhes seguem, que chamamos a ateno.Metfora1. Esta
figura tem por base alguma semelhana entre dois objetos ou fatos,
caracterizando-se um com o que prprio do outro.Exemplos: Ao dizer
Jesus: "Eu sou a videira verdadeira", Jesus se caracteriza com o
que prprio e essencial da videira; e ao dizer aos discpulos: "Vs
sois as varas", caracteriza-os com o que prprio das varas. Para a
boa interpretao desta figura, perguntamos, pois: que caracteriza a
videira? ou, para que serve principalmente? Na resposta a tais
perguntas est a explicao da figura. Para que serve uma videira?
Para transmitir seiva e vida s varas, a fim de produzirem uvas.
Pois isto o que, em sentido espiritual, caracteriza a Cristo: qual
uma videira ou tronco verdadeiro, comunica vida e fora aos crentes,
para que, como as varas produzem uvas, eles produzam os frutos do
Cristianismo. Proceda-se do mesmo modo na interpretao de outras
figuras do mesmo tipo, como por exemplo: "Eu soua porta, eu souo
caminho, eu souo po vivo; vs soisa luz,o sal;edifciode Deus; ide,
dizei quelaraposa; so os olhos almpada do corpo; Jud leozinho; tu s
minha rocha e minhafortaleza;sol e escudo o Senhor Deus; a casa de
Jac serfogo, e a casa de Jos chama e a casa de Esarestolho", etc.
(Joo 15:1; 10:9; 14:6; 6:51; Mat. 5:13,14; 1 Cor. 3:9; Luc. 13:32;
Mat. 6:22; Gn. 49:9; Sal. 71:3; 84:11; Obadias 18Sindoque2. Faz-se
uso desta figura quando se toma a parte pelo todo ou o todo pela
parte, o plural pelo singular, o gnero pela espcie, ou
vice-versa.Exemplos: Toma a parte pelo todo o Salmista ao dizer:
"Minhacarnerepousar segura" (verso revista e corrigida), em lugar
de dizer: meu corpo ou meu ser, que seria o todo, sendo a carne s
parte de seu ser (Sal. 16:9).Toma o todo pela parte o Apstolo
quando diz da ceia do Senhor: "todas as vezes que . . . beberdeso
clice", em lugar de dizer beberdesdo clice, isto , parte do que h
no clice. (1 Cor. 11:26).Tomam tambm o todo pela parte os
acusadores de Paulo ao dizerem: "Este homem uma peste e promove
sedies entre os judeus esparsospor todo o mundo"; significando, por
aquela parte do mundo ou do Imprio romano que o Apstolo havia
alcanado com sua pregao. (Atos 24:5.)Metonmia3. Emprega-se esta
figura quando se emprega a causa pelo efeito, ou o sinal ou smbolo
pela realidade que indica o smbolo.Exemplos: Vale-se Jesus desta
figura empregando a causa pelo efeito ao d