UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS COM SINVASTATINA NA POPULAÇÃO IDOSA DE 60 A 64 ANOS NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO – ESTUDO SABE – SAÚDE, BEM-ESTAR E ENVELHECIMENTO Aline Pereira Reis Trabalho de Conclusão do Curso de Farmácia-Bioquímica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Orientador(a): Prof(a). Dra. Nicolina Silvana Romano Lieber São Paulo 2012
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS COM SINVASTATINA NA POPULAÇÃO
IDOSA DE 60 A 64 ANOS NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO – ESTUDO
SABE – SAÚDE, BEM-ESTAR E ENVELHECIMENTO
Aline Pereira Reis
Trabalho de Conclusão do Curso de
Farmácia-Bioquímica da Faculdade de
Ciências Farmacêuticas da
Universidade de São Paulo.
Orientador(a):
Prof(a). Dra. Nicolina Silvana Romano
Lieber
São Paulo
2012
SUMÁRIO
Pág.
Lista de Abreviaturas .......................................................................... 1
obstrutiva, uso de doses altas de diuréticos, betabloqueadores, corticosteróides,
anabolizantes).6,7 Os principais lipídios envolvidos na dislipidemia são o colesterol
e os triglicerídeos. Esses lipídios são insolúveis no sangue e por isso precisam ser
empacotados em complexos lipídicos-proteicos macromoleculares chamados
lipoproteínas para que possam ser exportados para outros órgãos.As lipoproteínas
5
são classificadas de acordo com sua composição lipídica e proteica. As principais
classes são: quilomícrons, lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL),
remanescentes (IDL), lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e lipoproteínas de
alta densidade (HDL). Os quilomícrons e VLDL são os principais transportadores
de triglicerídeos da dieta e endógenos, respectivamente, enquanto que o LDL e o
HDL transportam, principalmente, o colesterol entre o fígado e órgãos extra-
hepáticos. 8
O maior impacto das dislipidemias nas doenças cardiovasculares se deve
às hiperlipidemias. As dislipidemias, em especial as hiperlipidemias, causam
alterações do sistema de hemostasia, aumentando a formação da placa
aterosclerótica, quer induzindo a formação de trombos que irão ocluir as artérias,
quer interrompendo o fluxo sanguíneo e causando morte tecidual. 9 A formação
da placa aterosclerótica inicia-se com a agressão ao endotélio vascular devida a
diversos fatores de risco como elevação de lipoproteínas aterogênicas (LDL,
IDL,VLDL, remanescentes de quilomícrons), hipertensão arterial ou tabagismo. No
Brasil, em um estudo de 1997, foi observada uma prevalência de dislipidemias de
33% em idosos de 60 a 95 anos. 10
As estatinas são os medicamentos de escolha para se reduzir o LDL-
colesterol, LDL-C, lipoproteínas de baixa densidade, em adultos (18%-55% em
média). 11 Sua ação ocorre por inibição da HMG-CoA redutase que é a enzima
chave na síntese do colesterol, fato que leva à menor síntese de colesterol
hepático, e ao aumento da expressão dos receptores da LDL na superfície do
fígado.12 A biossíntese de colesterol a partir de acetil CoA está demonstrada na
figura 1. Consequentemente, haverá menor síntese e remoção das VLDL e LDL
pelo fígado. As estatinas elevam também o HDL-colesterol de 5%-15% e reduzem
os triglicérides, de 7%-30%, podendo assim, também ser utilizadas nas
hipertrigliceridemias leves a moderadas.
6
Figura 1. Biossíntese de colesterol a partir de acetil CoA 13
As estatinas diminuem eventos isquêmicos coronarianos, necessidade de
revascularização do miocárdio, mortalidade cardíaca total e acidente vascular
cerebral. 12 As estatinas são bem toleradas com boa margem de segurança
durante a utilização prolongada. A sinvastatina é uma lactona inativa e depois de
ingerida é hidrolisada ao β-hidroxiácido correspondente. Esse é o principal
7
metabólito e é o inibidor da HMG-CoA redutase, uma enzima que catalisa um
passo precoce e limitante da taxa de biossíntese do colesterol.14
Esse fármaco possui ligação proteica de 94 a 98%. Metabolizado pela
CYP3A4 no fígado, a excreção se dá pela urina e peles fezes: 13% é excretado
pela urina e 58% através de excreção fecal.15
Os efeitos colaterais não são frequentes, mas um dos mais sérios está
relacionado à ação hepatotóxica, com possível aumento das enzimas aspartato e
alanina transaminases. Miopatias, com evolução a rabdomiólises e insuficiência
renal, são raras, mas são efeitos graves associados ao uso de estatinas. Parece
que o uso concomitante de estatinas com eritromicina, ciclosporina, niacina e
fibratos aumenta o risco de miopatias em 10-30% dos pacientes. 13 A miopatia é
definida como qualquer patologia muscular, adquirida ou herdada, que pode
ocorrer durante toda a vida. A rabdomiólise é um possível efeito colateral do uso
das estatinas, e consiste em necrose muscular com liberação de constituintes
musculares na circulação. A severidade dos casos varia desde elevações
enzimáticas leves sem mialgia, assim como dores musculares sem elevações
enzimáticas, até casos severos de insuficiência renal aguda e óbito.15 Em 2007,
seis estatinas eram empregadas clinicamente: lovastatina, pravastatina,
sinvastatina , derivado semi-sintético, e fluvastatina primeiro agente totalmente
sintético, derivado de mevalonolactona produzido na forma racêmica. A nova
geração de estatinas sintéticas, enantiomericamente puras, é representada por
atorvastatina e rosuvastatina. 13 A sinvastatina é a estatina que se encontra
disponível no programa Farmácia Popular no Brasil.17
Pacientes idosos, por normalmente apresentarem diversas co-morbidades,
frequentemente fazem uso de polifarmácia, a qual pode ser definida como o uso
de muitos medicamentos simultaneamente. Quanto maior o número de
medicamentos usados concomitantemente, maior o risco de interações
medicamentosas e sabe-se que as sinvastatinas apresentam interações
medicamentosas importantes.
As interações medicamentosas são tipos especiais de respostas
farmacológicas, em que os efeitos de um ou mais medicamentos são alterados
8
pela administração simultânea ou anterior de outros, ou através da administração
concorrente com alimentos. As respostas decorrentes da interação podem
acarretar potencialização do efeito terapêutico, redução da eficácia, aparecimento
de reações adversas com distintos graus de gravidade ou, ainda, não causar
nenhuma modificação no efeito desejado do medicamento.18As interações podem
ser classificadas em importante, moderada e secundária, de acordo com sua
gravidade. A importante se refere à interação que pode trazer risco à vida ou que
requeira uma intervenção médica para minimizar ou evitar eventos adversos
graves. A interação medicamentosa moderada pode resultar na exacerbação da
condição do paciente e /ou requerer uma mudança na terapia e a interação
secundária é aquela que tem efeitos clínicos limitados que normalmente não
requerem importantes mudanças na terapia. As interações medicamentosas
também podem ser classificadas de acordo com a documentação. São
classificadas em excelente, boa, razoável e desconhecida. É classificada como
excelente quando há estudos controlados que estabeleceram de modo claro a
existência da interação. É considerada boa quando a documentação sugere com
veemência a existência da interação, mas faltam estudos controlados realizados
de modo adequado.É classificada como razoável quando a documentação
disponível é insatisfatória, mas as considerações farmacológicas levam os clínicos
a suspeitar da existência da interação; ou a documentação é boa para um
medicamento farmacologicamente similar. Classificada como desconhecida
quando não se tem informações referentes às interações medicamentosas.19
2. OBJETIVO
O objetivo desse trabalho foi identificar medicamentos com potencial de interação
com sinvastatina utilizados por pessoas entre 60 e 64 anos residentes no
município de São Paulo, no ano de 2006.
9
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 População pesquisada
Trata-se de estudo transversal de base populacional, que utilizou dados do
Estudo SABE - Saúde, Bem-estar e Envelhecimento. O projeto SABE foi
coordenado pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) com o objetivo
de coletar informações sobre as condições de vida dos idosos residentes em
áreas urbanas de metrópoles de sete países da América Latina e Caribe.20 No
Brasil, foi realizado pela primeira vez entre pessoas com 60 anos e mais, que
viviam na região metropolitana do Município de São Paulo, no ano de 2000. Nesse
ano foram obtidas informações sobre 2143 idosos, sendo chamada essa amostra
de A00.
Em 2006, procedeu-se o primeiro seguimento da população amostrada em
2000. Dos indivíduos entrevistados naquele ano, 1115 foram localizados e
reentrevistados no ano de 2006. As perdas referem-se a óbitos, recusas em
participar, mudanças de endereço, entre outros. Esta amostra foi chamada de
A06.
Paralelamente à realização da pesquisa com a coorte A, introduziu-se uma
nova coorte composta por 298 indivíduos de 60 a 64 anos residentes, no ano de
2006, na área urbana do Município de São Paulo. Este grupo, chamado de coorte
B06, correspondem a 318.245 idosos do município. O objeto desse trabalho foram
os 250 idosos pertencentes desse grupo que faziam uso de pelo menos um
medicamento. A amostra foi composta de modo que esses idosos representassem
todos os idosos dessa faixa etária residentes no município na ocasião da
pesquisa. Detalhes sobre a metodologia utilizada para compor a amostra podem
ser verificados em outra publicação21.
3.2 Variáveis
10
O questionário original era composto de 11 seções às quais foram
acrescidas, em 2006, 4 novas seções.
A variável de interesse foi o uso de medicamentos, determinado a partir das
Questões: “O(a) sr.(a) poderia me mostrar os remédios que atualmente está
usando ou tomando?” e: “O(a) sr.(a) poderia me dizer o nome dos remédios que
está usando ou tomando?”.
O uso de 5 medicamentos ou mais foi considerado como polifarmácia,
neste estudo. Os medicamentos foram classificados de acordo com a
Classificação Anatomical Therapeutic Chemical (ATC).22 A base de dados
Micromedex foi utilizada para verificação de quais fármacos possuem interação
medicamentosa com a sinvastatina. As interações foram classificadas segundo a
gravidade e a documentação disponível. As interações podem ser classificadas
em importante, moderada e secundária, de acordo com sua gravidade, conforme
apresentado na introdução. De acordo com documentação disponível podem ser
classificadas em excelente, boa, razoável e desconhecida.
3.3 Vieses do método
Devido a erros de digitação no banco de dados algumas medicações foram
desconsideradas e isso pode ter trazido prejuízos ao presente trabalho, pois talvez
alguma dessas medicações pudessem ter interações medicamentosas com a
sinvastatina. Foram desconsideradas também medicações fitoterápicas e
homeopáticas. Essas medicamentações foram descritas como desconhecidas nas
tabelas para que não se perdesse a quantidade total de medicações utilizadas por
cada indivíduo.
4. RESULTADOS
Duzentas e noventa e oito pessoas entre 60 e 64 anos foram entrevistadas;
duzentas e cinquenta pessoas desse grupo, 91 homens e 159 mulheres, faziam
11
uso de pelo menos uma medicação, e a média de uso de medicamentos da
população total do estudo era de 6,7 medicamentos por indivíduo. A figura 2
mostra a porcentagem de idosos que faziam uso de um, dois, três até catorze
medicamentos concomitantemente. Oitenta e sete pessoas (34,8%) faziam uso de
polifarmácia.
Figura 2. Número de medicamentos utilizados por idosos de 60 a 64 anos residentes no Município de São Paulo - 2006
Trinta e dois idosos (12,8%) relataram fazer uso de sinvastatina. Desses,
vinte eram do sexo feminino (62,5%) e doze do sexo masculino (37,5%). Trinta e
um idosos faziam uso de outros medicamentos além da sinvastatina.A média de
medicamentos utilizados por esses trinta e dois idosos foi de sete medicamentos
cada, o que é praticamente igual a média da população total do estudo. Desse
grupo de 32 indivíduos, 19 (59,3%) faziam uso de 5 medicamentos ou mais sendo
essa porcentagem maior do que aquela encontrada na da população total do
estudo o que pode indicar uma maior chance de ocorrência de interações
medicamentosas.
12
Na figura 3 tem-se a divisão do grupo de idosos entre aqueles que fazem
uso da sinvastina e os que não fazem uso da mesma e na mesma figura podemos
verificar a porcentagem de idosos que praticam polifarmácia em cada subgrupo.
Figura 3 . Uso de sinvastina e prática de polifarmácia (5 medicamentos ou mais) por idosos de 60 a 64 anos residentes no Município de São Paulo - 2006
Na figura 4 tem-se a quantidade de medicamentos usados pelos idosos em
uso de sinvastatina e a porcentagem de idosos em uso desses medicamentos.
Figura 4 - Número de medicamentos utilizados por usuários de sinvastatina entre idosos
residentes no Município de São Paulo – 2006
13
Das cinquenta e cinco medicações citadas em uso concomitante com
sinvastatina, quatro possuem potencial para interação medicamentosa com esse
fármaco. Nove idosos (28,1%), cinco mulheres e quatro homens, estavam em uso
dessas medicações, sendo que um idoso estava utilizando duas medicações com
potencial para interação medicamentosa.
Os fármacos citados pelos idosos com potencial de interação
medicamentosa com a sinvastatina foram: anlodipino, bezafibrato, carbamazepina
e levotiroxina sódica. A figura 5 mostra a porcentagem de indivíduos em uso
desses medicamentos.
Figura 5. Porcentagem de idosos de 60 a 64
anos residentes no Município de São Paulo – 2006 em uso de medicamentos com
potencial de interação com a sinvastatina
Cinco idosos (15,6%) estavam sujeitos a interações medicamentosas entre
sinvastatina e levotiroxina sódica. Um idoso (3,1%) estava fazendo uso do
anlodipino e levotiroxina sódica, além da sinvastatina. Um idoso (3,1%) estava
fazendo uso de carbamazepina juntamente com a sinvastatina.Um indivíduo
14
(3,13%) fazia uso de anlodipino e um idoso (3,1%) estava fazendo uso de
bezafibrato. A figura 6 mostra, entre os idosos que fazem uso da sinvastatina, a
porcentagem desses que estão sujeitos às interações medicamentosas e a
associação desse fato com a prática de polifarmácia.
Figura 6 . Interação medicamentosa e prática de polifarmácia (uso de 5 medicamentos ou mais) por idosos, de 60 a 64 anos, usuários de sinvastatina, residentes no Município de São Paulo - 2006
Pode-se notar que a grande maioria dos idosos (77,8%) que utilizam
medicamentos que possuem interação medicamentosa com sinvastatina também
fazem uso de 5 medicamentos ou mais. O grupo de idosos que não usam
medicamentos que tem interação com sinvastatina está mais homogêneo em
relação à prática de polifarmácia;há apenas diferença de 1 idoso entre o grupo
que usa 5 medicamentos ou mais do grupo que faz uso de 4 medicamentos ou
menos.
15
Segundo o Micromedex, a interação da sinvastatina com a levotiroxina e
com a carabazepina são moderadas, enquanto as interações com o bezafibrato e
com o anlodipino são consideradas interações importantes. Em relação à
documentação, a interação com anlodipino, carbamazepina e levotiroxina sódica
são consideradas boas, enquanto a interação com o bezafibrato é considerada
razoável.
5. DISCUSSÃO
Nesse trabalho verificou-se que 28% dos idosos em uso da sinvastatina
utilizavam medicamentos com potencial de interação medicamentosa com a
mesma. 77% desses idosos faziam uso de cinco medicamentos ou mais. Os
idosos que utilizavam medicamentos com interação medicamentosa conhecida
com sinvastatina estavam em uso de quatro medicações em que duas tinham
interações classificadas como moderadas e duas como importantes. Tais
combinações de fármacos poderiam aumentar a incidências de eventos adversos
graves ou interferir na eficácia dos tratamentos. Antes da prescrição seria
importante conhecer essas interações para que seja feita uma prescrição segura e
eficaz.
Quanto aos medicamentos usados com potencial de interação
medicamentosa com a sinvastatina, a levotiroxina sódica é utilizada para
reposição ou suplementação hormonal em pacientes com hipotireoidismo
congênito ou adquirido de qualquer etiologia (exceto no hipotireoidismo transitório,
durante a fase de recuperação de tireoidite subaguda). Nesta categoria, incluem-
se: cretinismo, mixedema e hipotireoidismo comum em pacientes de qualquer
idade (crianças, adultos e idosos) ou fase (por exemplo, gravidez); hipotireoidismo
primário resultante de déficit funcional, atrofia primária da tireóide, ablação total ou
parcial da glândula tireóide, com ou sem bócio; hipotireoidismo secundário
(hipofisário) ou terciário (hipotalâmico). Supressão do TSH hipofisário no
tratamento ou prevenção dos vários tipos de bócios eutireoidianos, inclusive
16
nódulos tireoidianos, tireoidite linfocítica subaguda ou crônica (tireoidite de
Hashimoto), bócio multinodular e, na regressão de metástases de neoplasias
malignas de tireóide tireotropino-dependentes como os carcinomas foliculares e
papilares (o carcinoma medular de tireóide geralmente não responde a essa
terapia). Também pode ser usado como agente diagnóstico nos testes de
supressão, auxiliando no diagnóstico da suspeita de hipertireoidismo leve ou de
glândula tireóide autônoma.23 Uma das possíveis causas de dislipidemia é o
hipotireoidismo e podemos notar que 6 idosos faziam uso de medicação
justamente com essa indicação. 9
O local de maior metabolização desse fármaco é o fígado e o mecanismo provável
da interação desses dois fármacos é que ocorre uma formação em excesso da
enzima CYP3A4 no fígado devido à sinvastatina, resultando no metabolismo
acelerado da levotiroxina sódica. Esses indivíduos precisam usar essa medicação
para suprir a necessidade hormonal que está diminuída. Os idosos devem ser
monitorados de perto por profissionais de saúde, pois o uso das medicações
concomitantemente resultará na diminuição das concentrações plasmáticas da
levotiroxina sódica diminuindo assim sua eficácia.24
De acordo com o Micromedex a interação da sinvastatina com a
carbamazepina é moderada. A carbamazepina é indicada no tratamento de
epilepsia, da mania aguda e tratamento de manutenção em distúrbios afetivos
bipolares para prevenir ou atenuar recorrências de síndrome de abstinência
alcoólica, neuralgia idiopática do trigêmeo e neuralgia trigeminal em decorrência
de esclerose múltipla (típica ou atípica), neuralgia glossofaríngea idiopática,
neuropatia diabética dolorosa, diabetes insípida central e poliúria e polidipsia de
origem neuro-hormonal. Essa administração concomitante reduz
significativamente a concentração plasmática máxima, o tempo de meia-vida de
eliminação e da área sob a curva, fração da dose que se encontra no
compartimento circulatório após administração da medicação, e mede a
disponibilidade sistêmica do fármaco, para a sinvastatina e seu metabólito ativo. A
carbamazepina é metabolizada através da CYP3A4 e o mecanismo provável para
essa interação é justamente a indução da CYP3A4 pela carbamazepina. A
17
carbamazepina é um potente indutor de CYP3A4 e de outros sistemas
enzimáticos de fase I e II do fígado, e pode, portanto, reduzir as concentrações
plasmáticas de co-medicações, principalmente, as metabolizadas pela CYP3A4
através da indução dos seus metabolismos. 25 De acordo com Ucar et al. (2004) a
coadministração da carbamazepina com sinvastatina leva a uma diminuição dos
níveis de sinvastatina e com isso é esperada uma diminuição do efeito esperado
da sinvastatina. A interação é de importância clínica pois há necessidade de uma
dose maior de sinvastatina quando usada concomitante com a carbamazepina.26 É
muito importante, então, monitorar os níveis de colesterol desse indivíduo ou, se o
prescritor achar mais adequado, pode ser feito o ajuste de dose da sinvastatina ou
ainda a substituição da carbamazepina por uma outra medicação que possua a
mesma indicação mas que não tenha interação medicamentosa com a
sinvastatina.
O bezafibrato possui as mesmas indicações da sinvastatina. Essa interação
medicamentosa é muito importante, pois tanto a sinvastina quanto o bezafibrato
causam sozinhos eventos adversos relacionados à miopatia e rabdomiólise,
portanto, juntos aumentam as chances de ocorrência desses eventos adversos. 12
Nesse caso,seria importante avaliar se realmente há necessidade de prescrição
de dois fármacos com a mesma indicação; deve ser avaliado se não é mais
indicado ajustar a dose de um ou de outro para que o idoso utilize somente um
dos medicamentos e caso seja julgado necessária a administração de ambos os
medicamentos esse idoso deve ser acompanhado por profissionais de saúde a fim
de identificar e minimizar os possíveis eventos adversos decorrentes da
administração simultânea desses dois fármacos. Há estudos que mostram
vantagens farmacológicas da associação de sinvastatina e bezafibrato. De acordo
com Gavish et al. (2000) a combinação de estatina e bezafibrato foi considerada
mais eficaz que o tratamento com um único medicamento e quase nenhum evento
adverso significante.27 Há artigo que sinaliza que não há muitos dados disponíveis
sobre a segurança da associação de estatinas com bezafibrato e que pessoas
idosas, devido a utilização de múltiplos medicamentos, não devem usar terapia
combinada estatina-fibrato.28 Essa recomendação está de acordo com as
18
Diretrizes Brasileira Sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose devido a
uma maior chance de ocorrência de eventos adversos como a rabdomiólise.9
Portanto, percebe-se a prescrição irracional dessa combinação de fármacos,
sugerindo a necessidade de educação continuada dos prescritores.
O anlodipino é indicado como fármaco de primeira linha no tratamento da
hipertensão, podendo ser utilizado na maioria dos pacientes como agente único de
controle da pressão sanguínea. É também indicado no tratamento da isquemia
miocárdica como fármaco de primeira linha, devido tanto à obstrução fixa (angina
estável) como ao vasoespasmo/vasoconstrição (angina de Prinzmetal ou angina
variante) da vasculatura coronária. 29 O uso concomitante de anlodipino e
sinvastatina podem resultar em um aumento da exposição à sinvastatina e
aumentar o risco de miopatia, incluindo rabdomiólise. Sabe-se que um dos fatores
de risco das dislipidemias é a hipertensão, então, é esperado que esses indivíduos
utilizem medicação anti-hipertensiva. O prescritor deverá avaliar se o anlodipino é
o fármaco mais indicado para tratamento da hipertensão nesses indivíduos que
fazem uso da sinvastatina. Há estudos que procuram estabelecer a segurança
com o uso concomitante de anlodipino e sinvastatina mostrando assim que há
preocupação com essa interação medicamentosa. De acordo com Nishio
Shinichiro et al.(2004) o anlodipino aumenta a concentração plasmática da
sinvastatina 30 mas, como conclusão do artigo, tem-se que a sinvastatina é mais
segura que o diltiazem e não chega a uma conclusão concreta da segurança do
uso do anlodipino com a sinvastatina. Não foi observado na literatura se é comum
esse tipo de associação na prática médica. No entanto, é de se imaginar que seria
uma combinação comum, caso o prescritor não tenha conhecimento da interação
medicamentosa, pois a sinvastatina é um dos fármacos mais prescritos para
dislipidemia e o anlodipino é amplamente prescrito a indivíduos com hipertensão
arterial.
A sinvastatina é vendida seguindo prescrição médica assim como o
bezafibrato e a levotiroxina sódica; a carbamazepina é vendida seguida da
retenção de receita.14,23,25,29 Assim, provavelmente os idosos tiveram a prescrição
dessas medicações. Se os idosos tiveram receituário para medicações com
19
interações medicamentosas conhecidas é necessário buscar a origem desse fato.
É de suma importância que os usuários de medicamentos sempre digam aos seus
médicos as medicações que fazem uso para que o prescritor tenha a sua
disposição todas as informações necessárias para uma prescrição segura.
6. CONCLUSÃO
Foram encontrados idosos residentes no Município de São Paulo em uso
de medicamentos com potencial para interações medicamentosas. Os idosos
pesquisados representam muitos indivíduos, pois se trata de uma amostra
representativa da população. Assim, pode ser grande a quantidade de pessoas
expostas a essas prescrições que podem ser perigosas para essa faixa etária.
Para diminuir o risco de eventos adversos, os prescritores devem conhecer todos
os medicamentos dos quais o idoso faz uso. Caso o médico, sabendo da interação
medicamentosa, ainda julgue que essa prescrição é a mais indicada a esse idoso,
faz-se necessário, então, que esses indivíduos sejam acompanhados para garantir
que os possíveis eventos adversos sejam identificados e minimizados e que a
eficácia dos tratamentos não seja prejudicada. Cabe aos profissionais de saúde
avaliar se o mais indicado é a mudança da terapia medicamentosa desses idosos
ou se é aplicável apenas o monitoramento desses idosos.
20
7. BIBLIOGRAFIA
1. IBGE - Censo Demográfico 2000. Tabela 1.1.1 - Populaçăo residente, por
sexo e situação do domicílio, segundo os grupos de idade -Brasil.