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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA
DIVISÃO DO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA, CONSERVAÇÃO E
BIOLOGIA EVOLUTIVA – DIGEN
ISOLAMENTO, CARACTERIZAÇÃO E MAPEAMENTO CROMOSSÔMICO DE
ELEMENTOS REPETITIVOS EM ESPÉCIES DA FAMÍLIA ANOSTOMIDAE
(OSTARIOPHYSI – CHARACIFORMES): ANÁLISE COMPARATIVA EM
DIFERENTES TIPOS DE ÁGUAS AMAZÔNICAS
LUCAS CAETANO DE BARROS
Manaus, Amazonas
Abril, 2017
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LUCAS CAETANO DE BARROS
ISOLAMENTO, CARACTERIZAÇÃO E MAPEAMENTO CROMOSSÔMICO DE
ELEMENTOS REPETITIVOS EM ESPÉCIES DA FAMÍLIA ANOSTOMIDAE
(OSTARIOPHYSI – CHARACIFORMES): ANÁLISE COMPARATIVA EM
DIFERENTES TIPOS DE ÁGUAS AMAZÔNICAS
Orientadora: Eliana Feldberg, Dra.
Manaus, Amazonas
Abril, 2017
Tese apresentada ao Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Doutor
em Genética, Conservação e Biologia
Evolutiva.
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FICHA CATALOGRÁFICA
B277 Barros, Lucas Caetano de
Isolamento, caracterização e mapeamento cromossômico de elementos
repetitivos em espécies da família Anostomidae (Ostariophysi –
Characiformes): análise comparativa em diferentes tipos de águas
amazônicas / Lucas Caetano de Barros, ---XX Manaus: [s.n.], 2017.
94 f.: il.
Tese (doutorado) --- INPA, Manaus, 2017.
Orientadora: Eliana Feldberg
Área de Concentração: Genética, Conservação e Biologia Evolutiva
1. Aracu. 2. Evolução genômica. 3. Mapeamento cromossômico.
I. Título.
CDD 597.48
Sinopse:
Espécies de Anostomidae, conhecidas popularmente como aracus, foram estudadas
mediante análises de citogenética clássica (coloração convencional, detecção da
heterocromatina e regiões organizadoras de nucléolo), molecular (hibridização
fluorescente in situ de DNA repetitivo em tandem e disperso) e microdissecção do
cromossomo W de M. trifasciatus. Os resultados revelaram que as sequências
repetitivas têm um papel importante na carioevolução das espécies, principalmente
na evolução do sistema de cromossomos sexuais em M. trifasciatus e na origem dos
múltiplos sítios de DNA ribossomal 18S.
Palavras-chave: Aracu, sequências repetitivas, microdissecção, FISH, mapeamento
cromossômico.
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Dedico esta tese aos meus queridos pais Almerindo Xavier e Maria do
Perpétuo, pelo amor, confiança e por nunca terem desistido de mim.
Especialmente à minha esposa Tarses e à minha filha Clara.
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A realização deste estudo foi possível devido:
Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), à Divisão de curso de Pós-
graduação em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva (DIGEN) e ao laboratório de Genética
Animal (LGA).
Aos financiamentos fornecidos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) pela concessão da bolsa de estudo e pela taxa de bancada (processo
140177/2013-2), durante a realização deste estudo.
Aos financiamentos fornecidos pelo projeto INCT/CNPq/FAPEAM 573976/2008-2 -
Centro de Estudos de Adaptações da Biota Aquática da Amazônia – ADAPTA e pelo
Pronex/FAPEAM/CNPq 003/2009- Processo: 653:2009 - Genômica comparativa de peixes
amazônicos frente a diferentes desafios ambientais.
Ao MCT/CNPq/MEC/CAPES/FNDCT – Ação Transversal/FAPs No 47/2010 - Rede de
pesquisa para ampliação do conhecimento sobre a biodiversidade de vertebrados da Amazônia
brasileira com aplicações sobre seu uso e conservação – Rede BioPHAM.
À Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP), Instituto de
Biociências, Departamento de Biologia, campus de Rio Claro, representada pela Prof. Dra.
Patricia Pasquali Parise Maltempi.
Ao laboratório de Citogenética, em especial ao aluno Diovani Piscor, sediado na
Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP), Instituto de Biociências,
Departamento de Biologia, campus de Rio Claro, onde as análises de microdissecção foram
realizadas.
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“Para realizar grandes conquistas, devemos não apenas agir, mas também
sonhar, não apenas planejar, mas também acreditar’’.
Anatole France
Sonhe sempre...
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Agradecimentos
E aqui estou novamente, como é gratificante encerrar mais uma etapa em nossa vida, mais
uma parte do caminho trilhado e mais uma vez a certeza de que, sem a ajuda de tantas pessoas,
nada seria possível!!!
Primeiramente gostaria de agradecer à minha esposa Tarses Cristina de Carvalho Teixeira
Barros, pela audácia em largar tudo para viver um sonho que antes era só meu, mas um sonho que
se tornou nosso. Obrigado pelo seu amor, amizade, compreensão ao longo desses anos, e claro,
pela absurda paciência comigo, por último, mas não menos importante, agradeço por ter me
propocionado a melhor sensação do mundo, a de ser pai da nossa linda princesa Clara, sem
dúvida, ela é nossa razão de viver. Muito obrigado!
Fundamentalmente, obrigado aos meus queridos pais, Almerindo Xavier e Maria do
Perpétuo. Encerro mais uma etapa de minha vida acadêmica graças à perseverança, cuidado e
dedicação de vocês, pelas renúncias aos seus sonhos para que, muitas vezes, eu pudesse realizar
os meus.
À minha orientadora Dra. Eliana Feldberg, por ter me propocionado conhecer a Amazônia,
a maior biodiversidade de fauma e flora do planeta, como Biólogo, sinto-me realizado. Sou grato
pelos ensinamentos, oportunidades e confiança. Tenha certeza que a senhora será lembrada
sempre com muito carinho por toda vida.
Aos colegas do Laboratório LGA, meus sinceros agradecimentos, obrigado pelas
conversas, pela troca de conhecimentos, e pelos momentos de pura diversão, certamente serão
lembrandos com muito carinho Ramon, Leila, Kaká, Eduardo, Milena, Marajó, Patrick, Arlindo,
Alber.
Ao povo do condomínio Morada do Sol (Vila do chaves) que fez meus dias mais alegres,
obrigado pela diversão e amizade.
Ao Programa DIGEN, sempre disponivel para resolver todas as solicitacoes.
Ao CNPq pela bolsa concedida.
A FAPEAM pela concessao no Programa Pro-excelencia.
A Deus por permitir que eu tenha chegado ao fim de mais uma jornada repleta de desafios.
Enfim, agradeço a todas as pessoas que contribuiram direta ou indiretamente para que este
trabalho fosse realizado e concluído.
Meu Muito Obrigado!!!
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Resumo
Anostomidae abriga cerca de 145 espécies, distribuidas em 13 gêneros, conhecidas, na
região Norte, como aracus e nas demais regiões do Brasil, como piaus. No presente trabalho
foram analisados 90 espécimes desta família, representando as espécies Megaleporinus
trifasciatus (antigo Leporinus trifasciatus), Leporinus fasciatus, L. friderici, L. agassizi,
Laemolyta taeniata, Anostomoides laticeps, Rhytiodus microlepis e Shizodon fasciatus, coletadas
em cinco locais na Amazônia, com o objetivo de identificar como as modificações
cromossômicas/genômicas podem estar relacionadas com diferentes condições ambientais, como
os diferentes tipos de água que são encontrados nesta região. Para isso foram utilizadas técnicas
da citogenética clássica (Giemsa, Ag-RON, Bandeamento C), citogenética molecular
(Hibridização in situ fluorescente - FISH, cross-FISH e microdissecção do cromossomo W de M.
trifasciatus). No geral, os resultados não revelaram padrões associados aos diferentes biótopos,
tanto na análise intra-específica quanto interespecífica. Com relação à estrutura cariotípica, todas
as espécies são conservativas em relação a vários marcadores cromossômicos convencionais,
porém, diferenças significativas foram encontradas na distribuição da heterocromatina e do par
portador da região organizadora de nucléolo. O DNAr 18S apresentou sítios múltiplos,
evidenciados em vários pares cromossômicos em algumas espécies, enquanto o DNAr 5S foi
localizado em um único par cromossômico em todas as espécies. A hibridização cruzada (cross-
FISH) com sondas de M. trifasciatus (WMt), M. elongatus (WMe) e M. macrocephalus
(WMm)(espécies já analisadas) revelou que os genomas de M. trifasciatus, M. macrocephalus
(espécies com sistema ZZ/ZW) e M. elongatus (espécie com sistema Z1Z1Z2Z2/Z1W1Z2W2)
apresentam alto grau de similaridade, tanto na estrutura quanto na localização dos sítios de
hibridização. Entretanto, a hibridização cruzada desta sonda, no genoma de espécies do gênero
Leporinus, que não apresentam sistema de cromossomo sexual diferenciado, mostrou baixa
similaridade. Esta informação é de grande importância, uma vez que o acúmulo de sequências
repetitivas nas regiões ricas em genes pode refletir a diferenciação entre proto-sexuais, em
diferenciação para o par heteromórfico ZW. Os resultados obtidos neste estudo mostram que as
sequências repetitivas realmente possuem papel atuante na carioevolução dos anostomídeos,
principalmente na evolução do sistema de cromossomos sexuais em M. trifasciatus, M. elongatus
e M. macrocephalus e na origem dos múltiplos sítios de DNA ribossomal 18S em Rhytiodus
microlepis, Laemolyta taeniata, Schizodon fasciatus e Megaleporinus trifasciatus.
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Abstract
The Anostomidae are a fish family composed about 145 species distributed in 13 genera. The
family is known in the North of Brazil as aracus and in other regions as piaus. In the present work
90 specimens of this family were analyzed, representing the species Megaleporinus trifasciatus
(former Leporinus trifasciatus), Leporinus fasciatus, L. friderici, L. agassizi, Laemolyta taeniata,
Anostomoides laticeps, Rhytiodus microlepis and Shizodon fasciatus. The samples were collected
in five different locations in the Amazon region with the objective of identifying how
chromosomal / genomic modifications can be related to different environmental conditions, such
as the different types of water found in this region. For this, classical (Giemsa, Ag-RON,
Bandeamento C) and molecular (fluorescence in situ hybridization - FISH, cross-FISH and
microdissection of the W chromosome of M. trifasciatus) cytogenetics techniques were used.
Overall, the results did not reveal patterns associated with the different biotopes, both in intra-
specific and interspecific analysis. Regarding the karyotype structure, all species are conservative
in relation to several conventional chromosome markers, however, significant differences were
found in the distribution of the heterochromatin and the carrier pair of the nucleolus organizer
region. 18S rDNA showed multiple sites, evidenced in several chromosome pairs in some species,
whereas 5S rDNA was located in a single chromosome pair in all species. Cross-hybridization
with M. trifasciatus (WMt), M. elongatus (WMe) and M. macrocephalus (WMm) probes (species
already analyzed) revealed that the genomes of M. trifasciatus, M. macrocephalus (With ZZ / ZW
system) and M. elongatus (species with system Z1Z1Z2Z2 / Z1W1Z2W2) present a high degree
of similarity both in the structure and in the location of the hybridization sites. However, cross-
hybridization of this probe in the genome of species of the genus Leporinus, which do not present
a differentiated sex chromosome system, showed low similarity. This information is of great
importance, since the accumulation of repetitive sequences in the gene rich regions may reflect the
differentiation between proto-sexual, in contrast with the heteromorphic pair ZW. The results
obtained in this study show that the repetitive sequences actually play an active role in the
anostomide carioevolution, especially in the evolution of the sex chromosome system in M.
trifasciatus, M. elongatus and M. macrocephalus and in the origin of the multiple sites of 18S
ribosomal DNA in Rhytiodus microlepis, Laemolyta taeniata, Schizodon fasciatus and
Megaleporinus trifasciatus.
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SUMÁRIO
1. Introdução Geral..............................................................................................................................1
1.1 Bacia amazônica e a influência dos tipos de água na ictiofauna......................................................1
1.2 Família Anostomidae........................................................................................................................3
2. Objetivos..........................................................................................................................................11
2.1 Objetivo geral.................................................................................................................................11
2.2 Objetivos específicos......................................................................................................................11
3. Material e Métodos.........................................................................................................................12
3.1 Material...........................................................................................................................................12
3.2 Métodos..........................................................................................................................................17
3.2.1 Indução de Mitoses......................................................................................................................17
3.2.2 Obtenção de cromossomos mitóticos..........................................................................................17
3.2.3 Caracterização das Regiões Organizadors de Nucléolo (Ag-RON)............................................18
3.2.4 Caracterização do padrão heterocromático (Bandamento C)......................................................18
3.2.5 Extração de DNA........................................................................................................................18
3.2.6 Isolamento de sequências repetitivas por PCR (Polymerase Chain Reaction)...........................19
3.2.7 Microdissecção cromossômica e amplificação de DNA.............................................................20
3.2.8 Hibridização Fluorescente in situ (FISH) – Microdissecção.......................................................21
3.2.9 Hibridização Fluorescente in situ (FISH)....................................................................................21
3.2.10 Tratamento das lâminas.............................................................................................................22
3.2.10.1 Solução de hibridação.............................................................................................................23
3.2.10.2 Hibridação.............................................................................................................................23
3.2.10.3 Lavagens.................................................................................................................................23
3.2.10.4 Detecção.................................................................................................................................23
3.2.10.5 Montagem das lâminas...........................................................................................................24
3.2.10.6 Análise dos Resultados...........................................................................................................24
4. Resultados e Discussão...................................................................................................................25
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xii
4.1 Artigo I - Mapeamento de genes ribossômicos 45S e 5S em cromossomos de espécies de peixes
Anostomidae (Ostariophysi, Characiformes) de diferentes tipos de água da Amazônia. (2015)
Hydrobiologia.......................................................................................................................................26
4.1.1Resumo…………………………………………………...……………………………………..28
4.1.2Introdução……………………………………………………………...……………...……...…29
4.1.3 Material e Métodos………………………………………………...…………………………...31
4.1.4 Resultados…………………………………………………………………...……………..…...35
4.1.5 Discussão……………………………………………………………………………...……..…41
4.2 - Artigo II - Microdissecção cromossômica e análises evolutivas dos cromossomos sexuais em
espécies de Megaleporinus (Teleostei, Characiformes).......................................................................46
4.2.1Resumo……………………………………………………...…………………………..……....47
4.2.2Introdução…………………………………………………………………...………...………...48
4.2.3Material e Métodos………………………………………………………………………..…….50
4.2.4 Resultados……………………………………………………………………………..…...…...51
4.2.5 Discussão……………………………………………………………………………….....…....56
4.3 - Artigo III - Mapeamento cromossômico de elementos retrotransponíveis Rex1 e Rex3 em oito
espécies da Família Anostomidae (Characiformes), e sua interação entre os segmentos
heterocromáticos e o cromossomo sexual W em espécies Amazômicas……………………….……60
4.3.1Resumo…………………………………………………………………...……………..………61
4.3.2Introdução………………………………………………………………………....………….....62
4.3.3 Material e Métodos……………………………………………………………………….....….64
4.3.4 Resultados………………………………………………………………………….........……...65
4.3.5 Discussão………………………………………………………………………………...…..…74
5. Conclusão………………………………………….…………………………………………..….70
6. Perspectivas ……………………………………………………………………………………....80
7. Referências Bibliográficas……………………………………………………………………….81
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Lista de figuras
Introdução
Figura 1: Mapa indicando os locais onde serão realizadas as coletas............................................13
Figura 2: Espécimes de Leporinus e Megaleporinus: a) M. trifasciatus; b) L. fasciatus; c) L.
friderici; d) L. agassizi. A barra representa
3cm……………………………………………………………....………………………………...15
Figura 3: Espécimes de: a) Laemolyta taeniata; b) Anostomoides laticeps; c) Rhytiodus
microlepis; d) Schizodon fasciatus. A barra representa
3cm………………………………………………………………………………..…………….…16
Capítulo 1
Figura 1: Mapa mostrando os locais de coleta para as espécies de Anostomidae deste estudo.....33
Figura 2: Cariótipo das sete espécies de Anostomidae analisadas por bandamento C e RON......36
Figura 3: Cariótipo das sete espécies de Anostomidae analisadas por double FISH com sonda de
DNAr 18S (vermelho) e DNAr 5S (verde) e contra-coradas com DAPI........................................38
Figura 4: Metafase das sete espécies de Anostomidae analisadas por FISH com sonda telomérica
e contrastadas com DAPI.................................................................................................................40
Capítulo 2
Figura 1: Metafase de Megaleporinus trifasciatus (macho e fêmea) analisadas por FISH com
sonda W de M. trifasciatus (WMt) a-b, M. macrocephalus (WMm) c-d, e M. elongatus (WMe) e-
f, contrastadas com DAPI................................................................................................................53
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xiv
Figura 2: Metafase de três espécies do gênero Leporinus e uma do gênero Prochilodus
analisadas por FISH com sonda W de M. trifasciatus (WMt) a-b-c-d-e-f-g-h, e sonda W de M.
macrocephalus (WMm) g-h, contrastadas com DAPI....................................................................55
Capítulo 3
Figura. 1 Metafase de Megaleporinus trifasciatus (a-b Catalão), L. fasciatus (c: rio Tapajós, d:
rio Negro, e: rio Uatumã, f: rio Purus), L. friderici (g: rio Tapajós, h: rio Purus), e L. uatumaensis
(i: rio Uatumã) analisadas por sonda Rex1 e contrastadas com
DAPI................................................................................................................................................67
Figura. 2 Metafase de Leporinus. friderici (g: rio Tapajós, h: rio Purus), e L. uatumaensis (i: rio
Uatumã) analisadas por sonda Rex1 e contrastadas com DAPI......................................................68
Figura. 3 Metafase de Anostomoides laticeps (a: rio Uatumã, b: rio Negro), S. fasciatus (c:
Catalão, d: rio Uatumã), Laemolyta taeniata (e: rio Uatumã e rio Negro) e R. microlepis (f
Catalão), analisadas por sonda Rex1 e contrastadas com
DAPI................................................................................................................................................69
Figura. 4 Metafase de Megaleporinus trifasciatus (a-b Catalão), L. fasciatus (c: rio Tapajós, d:
rio Negro, e: rio Uatumã, f: rio Purus), analisadas por sonda Rex3 e contrastadas com
DAPI................................................................................................................................................71
Figura. 5 Metafase de L. friderici (a: rio Tapajós, b: rio Purus) e L. uatumaensis (c: rio Uatumã),
analisadas por sonda Rex3 e contrastadas com DAPI.....................................................................72
Figura. 6 Metafase de Anostomoides laticeps (a: rio Uatumã, b: rio Negro), S. fasciatus (c:
Catalão, d: rio Uatumã), Laemolyta taeniata (e: rio Uatumã e rio Negro) e R. microlepis (f
Catalão), analisadas por sonda Rex3 e contrastadas com
DAPI................................................................................................................................................73
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Dados citogenéticos para família Anostomidae.............................................................08
Tabela 2: Relação das espécies analizadas neste estudo e número de indivíduos por local de
coleta………………………………………………………………………………………………14
Tabela 3: Primers para amplicação de DNA ribossomal nuclear para mapeamento em
cromossomos metafásicos................................................................................................................20
Capítulo 1
Tabela 1: Nome das espécies, locais de coleta, coordenadas geográficas, número de espécimes
utilizados na citogenética molecular e número de tombo............................................................... 34
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1
1. Introdução
1.1. Bacia amazônica e a influência dos tipos de água na ictiofauna
A Amazônia apresenta a maior bacia hidrográfica do mundo, constituída por um
complexo sistema de drenagem, formado por cerca de sete mil tributários que deságuam no
Solimões-Amazonas, drenam sete países, correspondendo a quase 40% da América do Sul, com
uma área de aproximadamente 7.000.000 km² (Goulding et al. 2003). Os elevados índices de
chuva (2.200mm/ano) e a grande extensão de terras baixas são os fatores determinantes para que
300.000 km2
de margens, equivalente à 6% da Amazônia brasileira, sejam alagadas anualmente,
contribuindo para a heterogeneidade dos ambientes amazônicos (Goulding et al. 2003; Meirelles
Filho 2004).
Toda esta complexidade de habitats, junto com características geológicas, físicas,
químicas e biológicas contribuem para a inexistência de ambientes idênticos dentro desta bacia
(Val e Almeida-Val 1995). As diferenças dos rios amazônicos não se resumem apenas na
morfologia de seus cursos, mas também nas características físico-químicas de suas águas. Com
base nestes fatores, as águas amazônicas foram classificadas em "brancas", "pretas" e "claras"
(Sioli 1950). A idade geológica da calha do rio determina a sua coloração. As de formações
geologicas mais recentes, como os Andes, sao “brancas” (barrentas), as que vem de formacoes
mais antigas podem ser “escuras” ou “verde-azuladas” (Meirelles Filho 2004).
As águas brancas apresentam-se turvas, com coloração barrenta e baixa transparência, em
razão de carrearem uma grande quantidade de sedimentos resultantes dos processos de erosão da
Cordilheira dos Andes. Estes sedimentos conferem à água uma composição química rica em sais
minerais, com pH quase sempre próximo ao neutro (6, 5 a 7) e condutividade alta (Junk et al.
2011).
As águas pretas recebem este nome devido à coloração escura que suas águas possuem
quando em grande volume. A cor escura é devida à grande concentração de ácidos húmicos e
fúlvicos que se originam da decomposição incompleta, em condições de acidez, da matéria
orgânica das florestas que circundam os rios e dos processos edáficos existentes nos solos
amazônicos. Ainda não são conhecidos os fatores que causam a produção destes ácidos. A acidez
(pH entre 3,0 e 5,0) se deve à ausência de cálcio/magnésio e à pobreza de sais minerais (Junk et
al. 2011).
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2
As águas claras que, como o próprio nome diz, apresentam maior transparência com
coloração verde claro. Apesar de possuírem certa heterogeneidade nos padrões físico-químicos
seu pH varia, de maneira geral, entre 4,5 e 7,0 e sua condutividade é relativamente baixa (Junk e
Piedade 2011).
Além dos diferentes tipos de água, a biota é adaptada aos pulsos de inundação, sendo este
o principal fator responsável pela existência, produtividade e interação da mesma que vive nas
áreas periodicamente alagadas (Junk e Furch 1993; Junk e Piedade 2011). Neste período, têm-se
dois ambientes distintos, decorrentes do tipo de água. As florestas alagadas por água branca,
ricas em sedimentos e nutrientes, conhecidas como várzea. Já, as florestas alagadas por água
preta, rica em ácidos húmicos e pobre em nutrientes, são conhecidas como igapós. Em ambos
ambientes ocorre alta diversidade de peixes, entretanto diferem em sua composição (Junk et al.
1997; Parolin et al. 2004).
Esta supressão de ambientes rompe a conectividade, confinando e isolando organismos
de muitas espécies (Worbes 1997). Os organismos aquáticos confinados a este ambiente
respondem diretamente às alterações na composição físico-química do meio. Os peixes
amazônicos desenvolveram um avançado conjunto de habilidades para manter a homeostase
orgânica quando expostos a diversas condições ambientais desfavoráveis, seja de origem natural
ou artificial (Slobodkin e Rapoport 1974).
As estratégias adaptativas desenvolvidas frente à pressão seletiva do ambiente pode ter
ajudado no processo de especiação dos peixes amazônicos, bem como nos diferentes padrões de
plasticidade que algumas espécies exibem (Wilkelski e Cooke 2006).
Um processo muito importante para os peixes na região amazômica é chamado de
migrações laterais, onde muitas espécies de peixes são submetidas a constantes mudanças físico-
químicas da água. Os peixes deixam os rios de água clara e preta com destino aos rios de água
branca (Goulding 1980). Posteriormente, retornam ao seu habitat original. Todavia, também
ocorrem desovas nos rios de águas consideradas pobres, como é o caso do rio Negro (Oliveira
2003). Esta alternância de ambientes permite que a ictiofauna seja exposta a diferentes níveis de
pH, concentrações de oxigênio dissolvido e outros fatores que divergem entre os diferentes tipos
de águas amazônicas. Desta forma, as espécies desenvolvem estratégias para vencer as
adversidades a que são submetidas. Porém, os processos que conferem esta adaptabilidade aos
peixes amazônicos ainda não estão elucidados.
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1.2. Família Anostomidae
Anostomidae pertence à ordem Characiformes e é considerada uma das famílias mais
ricas em número de espécies de peixes Neotropicais, com 145 espécies válidas, distribuídas em
13 gêneros (Eschmeyer e Fong 2015; Ramirez et al. 2017), dos quais, 11 são endêmicos da
América do Sul, com representantes em todas as bacias hidrográficas brasileiras. Na região norte
são conhecidas popularmente como aracus e nas demais regiões do Brasil, como piaus (Géry
1977). Todos os gêneros de anostomídeos comportam duas ou mais espécies, exceto
Gnathodolus e Sinaptolaemus (monotípicos), e Leporinus que é o mais diversificado da família,
com cerca de 90 espécies (Garavello e Britski 2003; Fricke e Eschmeyer 2013), mesmo passando
por uma reclassificação taxonômica, dando origem ao gênero Megaleporinus, Leporinus
continua sendo o mais diversificado da família, agora com cerca de 80 espécies (Ramirez et al.
2017).
Esses peixes se distribuem pelas Américas Central e do Sul, sendo que na bacia
amazônica ocorre a sua maior diversidade (Santos e Zuanon 2008) e nos rios costeiros isolados
das Guianas, bacia do São Francisco e demais rios do litoral do nordeste do Brasil são menos
representados (Garavello e Britski 2003).
De todas as espécies, L. friderici (Bloch 1794) é a mais amplamente distribuída,
ocorrendo em quase todas as principais bacias hidrográficas da América do Sul (Albrecht e
Caramaschi 2003). Várias espécies, como L. macrocephalus, L. obtusidens e L. elongatus
representam um importante recurso pesqueiro para muitas comunidades sul-americanas (Martins
et al. 2003), hoje pertencem ao gênero Megaleporinus, com os nomes M. macrocephalus, M.
obtusidens e M. elongatus (Ramirez et al. 2017).
Os anostomídeos ocupam uma grande variedade de habitats e biótopos aquáticos,
incluindo lagos, corredeiras, áreas marginais dos grandes rios e córregos de floresta. Algumas
espécies, contudo, parecem ocorrer exclusivamente ou predominantemente em ambientes de
água branca, preta ou clara na bacia amazônica (Santos e Zuanon 2008).
A posição da boca é variável e muitas espécies desta família são conhecidas por se
alimentarem em posição inclinada (Géry 1977), por exemplo, L. friderici e L. elongatus (atual M.
elongatus) (Balassa et al. 2004). Adicionalmente, algumas espécies dos gêneros Leporinus e
Schizodon são conhecidas por fazerem migrações de desova tanto no sistema Paraná-Paraguai
(Godoy 1975) como no Amazonas e Orinoco (Goulding 1980).
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4
As relações entre a família Anostomidae com outros Characiformes foram parcialmente
examinadas (Winterbotton 1980; Vari 1983). Estudos comparativos entre Anostomidae,
Chilodontidae, Prochilodontidae e Curimatidae sugerem que essas quatro famílias formam um
grupo monofilético denominado Anostomoidea, onde Anostomidae e Chilodontidae formam um
clado e Curimatidae e Prochilodontidae formam um segundo clado. Anostomidae e
Chilodontidae são unidas por 15 sinapomorfias (Vari 1983). Outras relações filogenéticas são
propostas, onde Ortí e Meyer (1997) consideram Anostomidae como grupo irmão de
Chilodontidae + Crenuchidae, enquanto Calcagnotto et al. (2005) a consideram como grupo
irmão de Prochilodontidae + Chilodontidae.
Ainda existem grandes lacunas de conhecimento básico, pois extensas áreas da bacia
amazônica ainda não foram sequer amostradas (Santos e Jégu 1996). Inventários feitos nos rios
da Amazônia, como Tocantins (Santos e Jégu 1989), Jamari (Santos 1991), Trombetas (Ferreira
1992) e Uatumã (Santos e Jégu 1996) indicam que o número médio de espécies de anostomídeos,
em cada um destes rios, oscila em torno de vinte, no entanto, com grande diferenciação quanto à
sua composição específica: entre os rios Tocantins e Uatumã, por exemplo, apenas sete espécies
foram comuns e entre o Uatumã e Jamari, apenas 12 (Santos e Jégu 1996).
Estes dados mostram que apesar da bacia amazônica ser formada por um sistema
hidrográfico contínuo, ela, na verdade, é formada por sub-bacias que encerram uma ictiofauna
diferenciada e com alto grau de endemismo. Esta distribuição descontínua e em forma de
mosaico dos anostomídeos pode estar associada tanto às diferentes características limnológicas
observadas entre os rios de água preta, branca ou clara (Sioli 1968; Junk e Piedade 2011), como
a eventos vicariantes ocorridos no passado, principalmente aqueles relacionados às glaciações e
que provocaram uma variação do nível do mar, com o consequente isolamento de populações,
submetidas a um intenso processo de especiação (Haffer 1982; Renno et al. 1990).
Os estudos citogenéticos em anostomídeos vêm sendo realizados desde a década de 70,
quando foram determinados o conteúdo de DNA e o número haploide (n=27) de Leporinus
striatus e de Anostomus anostomus (Hinegardner e Rosen 1972), e o 2n=54 para A. anostomus e
L. fasciatus (Ojima et al. 1976). Na década de 80, alguns citogeneticistas já concluiram que
tratava-se de um grupo de peixes estável sob o ponto de vista cariotípico, não ocorrendo variação
no número diploide de 54 cromossomos e no número fundamental de 108, com todos os
cromossomos do tipo metacêntrico (m) e submetacêntrico (sm) (Galetti et al. 1981a; 1984).
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5
Na compilação dos dados cromossômicos de Anostomidae (Tabela 1) verifica-se que já
foi determinado o número diploide de 39 espécies em oito gêneros e esta estabilidade é
confirmada. Em relação à região organizadora do nucléolo (RON) a maioria das espécies
apresentou RON simples, entretanto sua posição no cariótipo tem se mostrado um bom marcador
espécie-específico, uma vez que, para cada espécie este marcador se encontra em um par
cromossômico diferente (Galetti et al. 1984). RONs múltiplas foram encontradas em L.
trifasciatus e L. friderici coletadas no rio Madeira e rio Paraná, respectivamente (Galetti et al.
1995b).
Entretanto, apesar da grande estabilidade cariotípica da família Anostomidae, diferentes
padrões de heterocromatina (Artoni et al. 1999) e cromossomos sexuais do tipo ZZ/ZW (Venere
et al. 2004) foram detectados. Também há relatos da ocorrência de cromossomos
supranumerários acrocêntricos e completamente heterocromáticos nas espécies L. friderici e
Leporinus sp. coletadas na bacia do rio Araguaia (Venere et al. 1999). Os padrões diferenciados
de heterocromatina provavelmente decorreram de inversões e/ou transposições (Galetti et al.
1991b).
Em relação ao heteromorfismo cromossômico sexual entre os anostomídeos, o sistema do
tipo ZZ/ZW já foi observado em sete espécies de Leporinus (hoje Megaleporinus) (L. elongatus,
hoje M. elongatus, L. obtusidens, hoje M. obtusidens, L. reinhardti, hoje M. reinhardti, L.
macrocephalus, hoje M. macrocephalus, L. trifasciatus, hoje M. trifasciatus, L. conirostris, hoje
M. conirostris e Leporinus sp2, hoje L. multimaculatus,), onde se notou íntima relação dos
cromossomos sexuais com heterocromatina constitutiva, sendo determinante para a diferenciação
do cromossomo W (Galetti e Foresti 1986). Estudos realizados em L. trifasciatus (hoje M.
trifasciatus) e Leporinus sp2 (hoje L. multimaculatus) do rio Araguaia demonstraram que os
cromossomos Z e W de Leporinus sp2 foram diferentes em sua morfologia e padrão de bandas,
quando comparados aos sexuais das demais espécies desse gênero (Venere et al. 2004).
Mapeamento do cromossomo W em espécies do gênero Leporinus (hoje apenas L.
friderici não passou para Megaleporinus), utilizando sequência de DNA altamente repetitivo
(LeSpe I), mostrou padrão de sinais diferenciados entre machos e fêmeas nas espécies com
cromossomos sexuais heteromórficos (L. elongatus, L. macrocephalus, L. obtusidens e L.
friderici), o que sugere que esta sequência seja relacionada com a diferenciação destes
cromossomos neste gênero (Marreta et al. 2012).
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6
Já, a pintura cromossômica realizada a partir da sonda do W microdissectado,
comparando espécies de anostomídeos com e sem sistema de cromossomos sexual diferenciado
mostrou completa marcação em todos os cromossomos W nas fêmeas, e quase todos os
cromossomos Z nos machos, sugerindo uma origem comum dos cromossomos sexuais para as
três espécies (L. elongatus, L. macrocephalus e L. obtusidens). Entretanto, os autores acreditam
que este sistema de cromossomos em L. elongatus encontra-se em um estágio evolutivo
diferenciado em relação às demais espécies analisadas, uma vez que, sequências repetitivas
compartilhadas entre as espécies que possuem cromossomos sexuais Z e W, não são
compartilhadas nos cromossomos Z de L. elongatus. Por outro lado, nas espécies que não
apresentam este tipo de sistema sexual (L. friderici, L. striatus, L. lacustris, Schizodon borelii e
S. isognathus) não foi evidenciada nenhuma marcação (Parise-Maltempi et al. 2013).
Estudos que envolvem a organização genômica de sequências de DNA repetitivo LeSpe I
e LeSpe II foram realizados em oito espécies da família Anostomidae (L. elongatus, L.
macrocephalus, L. obtusidens, L. striatus, L. lacustris, L. friderici, Schizodon borellii e S.
isognathus). O elemento repetitivo LeSpe II foi encontrado em todas as espécies, independente
de apresentarem ou não cromossomos sexuais, sendo algumas destas regiões repetitivas ausentes
nas fêmeas de L. elongatus. Já, o elemento repetitivo LeSpe I produziu sinais positivos apenas
em L. elongatus, L. macrocephalus e L. obtusidens, ou seja, espécies que possuem cromossomos
sexuais diferenciados, sendo provavelmente responsável pela recente origem de um sistema de
cromossomo sexual múltiplo Z1Z1Z2Z2/Z1W1Z2W2 em L. elongatus (Parise-Maltempi et al. 2007;
Silva et al. 2012).
Estudo semelhante, utilizando sequências repetitivas nomeadas LeSma I, nas mesmas
espécies de anostomídeos citadas acima, com acréscimo da espécie Abramites hypselonotus,
detectou sinais que foram únicos para L. elongatus. Análise com Double-FISH, usando LeSma I
e DNAr 18S, mostrou co-localização com uma região organizadora do nucléolo (RON) em
machos e fêmeas de L. elongatus. Devido ao padrão de distribuição observado (dois sinais no
braço longo e um no braço curto em um par, e outro par, apresentando apenas um cluster no
braço curto) em L. elongatus, os autores comprovaram o sistema de cromossomos sexuais
múltiplos Z1Z1Z2Z2/Z1W1Z2W2. Assim, foi destacado o papel de DNA repetitivo, associado com
a RON, na diversificação de cariótipos das espécies pertencentes à família Anostomidae (Silva et
al. 2013).
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Martins e Galetti (2001a), a partir de diferentes estudos em espécies de Leporinus,
demonstraram que locos situados em diferentes cromossomos do complemento possuíam
unidades repetitivas distintas de DNAr 5S, as quais representam dois tipos de arranjos
monoméricos: um menor, com monômeros de 200 pb, e outro maior, com monômeros de 900 pb.
Estas matrizes de DNAr 5S foram caracterizadas por sequências NTS distintas
(designadas NTS-I e NTS-II para os monómeros de 200 e 900 pb, respectivamente), contudo, as
suas sequências de codificação foram quase idênticas. Os genes RNAr 5S foram agrupados em
dois loci cromossômicos, um maior correspondente aos sítios NTS-I e um menor correspondente
aos sítios NTS-II. A sequência de NTS-I foi variável entre Leporinus spp., enquanto o NTS-II foi
conservado entre eles e até mesmo no gênero Schizodon. As diferentes matrizes de DNAr 5S
podem caracterizar duas subfamílias de genes RNAr 5S que têm evoluído independentemente no
genoma (Martins e Galetti 1999; 2000; 2001a).
Os NTS têm provado ser dinâmicos, provocando diferenças entre as espécies
relacionadas e até mesmo para o mesmo indivíduo. A alta variabilidade genética dos NTS apoia
seu uso como um marcador genético para estudos de populações que tem eventos recentes de
vicariância (Cronn et al. 1996; Ferreira et al. 2007).
Desta forma, a utilização de elementos repetitivos no mapeamento físico cromossômico
em espécies da família Anostomidae da bacia amazômica pode fornecer informações valiosas
para a compreensão evolutiva e estrutural destas sequências, bem como a identificação de
rearranjos, proporcionando uma melhor visão do genoma de suas espécies, do modo como este
genoma está organizado e como a sua evolução teria ocorrido. De fato, das cerca de 80 espécies
de anostomídeos descritas para a bacia amazômica, pouco se sabe a respeito da parte
genética/molecular, e as relações intra e interespecíficas, quando existentes resume-se quase
sempre, em número diploide e fórmula cariotípica, não ocorrendo a integração destes dados com
a parte filogeográfica, nem sua publicação em periódicos.
É notório que os anostomídeos constituem um grupo de grande interesse para ser
estudado na região amazômica, tanto do ponto de vista genético-evolutivo, como no sentido de
auxiliar os estudos sistemáticos do grupo, tendo em vista a grande diversidade de espécies e
ampla distribuição geográfica (Krichanã 1999) (Tabela 1).
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Tabela. 1 Dados citogenéticos disponíveis na literatura para a família Anostomidae. n= número haploide, 2n= número diploide, fFC= fórmula
cariotípica, m= metacêntrico, sm= submetacêntrico, st= subtelocêntrico, RON= região organizadora de nucléolo, H. sexual= heteromorfismo sexual.
Espécie n 2n FC RO
N H. sexual Local Referências
Abramites hypselonotus 27 54 Amazônia Scheel 1973
Abramites hypselonotus 54 30m+ 22sm+2st Argentina Oliveira et al.1988; Fenocchio et
al. 2003 Abramites hypselonotus 54 54 m/sm 2 Tocantins/Araguaia/A
M
Martins et al. 2000
Anostomus anostomus 27 54 54 m/sm America do Sul Scheel 1973; Ojima et al. 1976
Anostomus anostomus 54 54 m/sm Amazônia Hinegardner e Rosen 1972
Anostomus anostomus 54 54 m/sm Amazônia Ojima et al. 1976
Anostomus anostomus 54 m/sm Aquarista/AM Cestari et al. 1990
Anostomus ternetzi 54 54 m/sm 2 Tocantins/Araguaia/A
M
Scheel 1973; Martins et al. 2000b
Laemolyta petiti 54 54 m/sm Rio Araguaia/MT Venere 1998
Laemolya taeniata 54 54 m/sm Rio Pitinga/AM Cabral et al. 1995
Leporellus vittatus 54 30m+ 24sm 2 Rio Mogi- Guaçu/SP Galetti et al. 1981a
Leporinus acutidens 54 28m+26sm Argentina Fenocchio et al. 2003
Leporinus affinis 54 54 m/sm Amazônia Porto et al. 1992
Leporinus affinis 54 54 m/sm Tucuruí/PA Venere 1998
Leporinus amblyrhinchus 54 54 m/sm Três Marias/MG Venere e Galetti 1986b
Leporinus brunneus 54 54 m/sm Porto Velho/RO Venere e Galetti 1986a
Megaleporinus conirostris
(Antigo Leporinus conirostris)
54 52 m/sm 1st+
1st
2 Sáo Paulo Ramirez et al. 2017
Galetti et al. 1995a
Leporinus copelandii 54 26m+ 28sm Rio Ribeita/SP Galetti et al. 1984; Bertollo et al.
1986 Leporinus cylindriformes 54 54 m/sm Porto Velho/RO Venere e Galetti 1986b
Leporinus cylindriformes 54 26m+ 28sm Alto Paraguai/MT Arefjev 1990
Leporinus cylindriformes 54 54 m/sm Rio Pitinga/AM Cabral et al. 1995
Leporinus desmotes 54 54 m/sm 2 Tocantins Margarido e Galetti 2000
Megaleporinus elongatus
(Antigo Leporinus elongatus)
54 26m+ 27sm+ 1st Rio Mogi- Guaçu/SP Ramirez et al. 2017
Galetti et al. 1981b
Megaleporinus elongatus
Leporinus elongatus
54 53m+ 1st 2 ZZ/ZW São Paulo Ramirez et al. 2017
Molina et al. 1998
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(Antigo Leporinus elongatus) 54 25m+28sm+ 1st 2 ZZ/ZW Rio Mogi- Guaçu/SP Galetti et al. 1981b
Megaleporinus elongatus
(Antigo Leporinus elongatus)
54 54 m/sm 2 Z1Z1Z2Z2/Z1W
1Z2W2 Rio Mogi- Guaçu/SP Ramirez et al. 2017
Parise-Maltempi et al. 2007
Leporinus fasciatus 54 54 m/sm Rio Pitinga/AM Valentim et al.1996
Leporinus fasciatus 54 54 m/sm Rio Pitinga/AM Cabral et al. 1995
Leporinus friderici 54 32m+ 22sm 2 Rio Mogi- Guaçu/SP Galetti et al. 1981a
Leporinus friderici 54 54 m/sm Rio Madeira/RO Galetti et al. 1991a; 1995b
Leporinus friderici 54 54 m/sm 1-5 Koehler et al. 1997
Leporinus granti 54 54 m/sm Rio Pitinga/AM Cabral et al. 1995
Leporinus aff. holostictus 27 54 m/sm Scheel 1973
Leporinus lacustris 54 30m+ 24sm ZZ/ZW Rio Mogi- Guaçu/SP Galetti et al. 1981b
Megaleporinus macrocephalus
(Antigo Leporinus macrocephalus)
54 32m+ 21sm+ 1st 2 Rio São Francisco Ramirez et al. 2017
Galetti e Foresti 1987
Megaleporinus macrocephalus
(Antigo Leporinus macrocephalus)
54 54 m/sm ZZ/ZW Rio Miranda/MS Ramirez et al. 2017
Galetti 1984
Megaleporinus macrocephalus
(Antigo Leporinus macrocephalus)
54 54 m/sm ZZ/ZW Rio Miranda/MS Ramirez et al. 2017
Galetti e Foresti 1987
Leporinus aff. lacustris 27 54 54 m/sm Amazônia Scheel 1973
Leporinus aff. maculatus 27 54 54 m/sm Amazônia Scheel 1973
Leporinus aff. maculatus 54 54 m/sm Médio Araguaia/MS Venere e Galetti 1996
Leporinus obtusidens 27 25m+ 28sm+ 1st 2 ZZ/ZW Rio Mogi- Guaçu/SP Galetti et al. 1981a
Leporinus octofasciatus 54 32m+ 22sm Re Lobo/SP Galetti et al. 1981a
Leporinus ortomaculatus 54 54 m/sm Porto Velho/RO Venere e Galetti 1986a
Leporinus ortomaculatus 54 54 m/sm Cuiabá/MT Venere e Galetti 1986a
Leporinus ortomaculatus 54 54 m/sm Pocone/MT Venere e Galetti 1986a
Leporinus piau 54 32m+ 22sm Três Maria São
Francisco
Galetti et al. 1984
Megaleporinus striatus
Leporinus reinhardti
54 32m+ 21sm+ 1st ZZ/ZW Rio São Francisco Ramirez et al. 2017
Galetti e Foresti 1987
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(Antigo Leporinus striatus) 27 Rio Mogi- Guaçu/SP Hinegardner e Rosen 1972
Leporinus striatus 54 28m+ 26sm Rio Mogi- Guaçu/SP Galetti et al. 1981a
Leporinus taeniatus 54 34m+ 20sm Rio São Francisco/MG Galetti et al. 1984
Megaleporinus trifasciatus
Leporinus trifasciatus
54 53m+ sm+1st 2-5 ZZ/ZW Rodônia/RO Ramirez et al. 2017
Galetti et al. 1995a
Megaleporinus trifasciatus
Leporinus trifasciatus
54 22m+31sm+ 1st ZZ/ZW Rio Araguaia/AM Ramirez et al. 2017
Venere et al. 2004
Leporinus sp. 54 32m+ 21sm+1st ZZ/ZW Rio Miranda/MS Galetti e Foresti 1987
Pseudanos trimaculatus 54 54 m/sm 2 Tocantins/Araguaia/A
M
Martins et al. 2000b
Rhytiodus microlepis 54 54 m/sm Manaus/AM Bertollo et al. 1980
Rhytiodus microlepis 54 Rio Negro/AM Cabral et al. 1995
Rhytiodus microlepis 54 54 m/sm Lago Catalão/AM Cabral et al. 1995
Schizodon borelli 54 32m+22sm 2 Águas São Pedro/SP Galetti et al. 1984
Schizodon fasciatus 54 54 m/sm Rio Madeira/RO Venere e Galetti 1986b
Schizodon fasciatus 54 38m+15sm Lago Catalão/AM Valentim et al.1996
Schizodon fasciatus 54 54 m/sm Rio Solimões/AM Mestriner e Galetti 1987
Schizodon fasciatus 54 54 m/sm Rio Paraguai/MS Mestriner e Galetti 1987
Schizodon fasciatus 54 54 m/sm Amazônia Galetti et al. 1991b
Schizodon knerii 54 28m+ 26sm 2 Três Marias/MG Galetti et al. 1984
Schizodon nasutus 54 32m+ 22sm 2 Rio Mogi-Guaçu/SP Galetti et al. 1981a
Schizodon nasutus 54 32+22sm 2 Argentina Pastori et al. 1997
Schizodon platae 54 54 m/sm Argentina Fenocchio et al. 2003 Schizodon vittatus 54 54 m/sm 2 Mato Grosso/MT Martins e Galetti 1997
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2. Objetivos
2.1.1. Objetivo geral
Identificar, em distintas espécies pertencentes à família Anostomidae, como as
modificações cromossômicas/genômicas podem estar relacionadas às diferentes condições
ambientais, fornecidas por distintos tipos de água na Amazônia.
2.1.2. Objetivos específicos
Estabelecer o padrão de localização física cromossômica de elementos repetitivos (DNAr
5S, 18S e Rex 1, 3, 6, telômero) em anostomídeos de diferentes tipos de águas, para verificar
possíveis correlações entre alterações na localização física cromossômica dos elementos
repetitivos e os diferentes habitats.
Inferir sobre possíveis eventos, que tenham levado à diferenciação do sistema sexual
ZZ/ZW em algumas espécies de Megaleporinus (Megaleporinus trifasciatus), por meio da sonda
do W microdissectado.
Comparar o mapeamento cromossômico das sequências repetitivas isoladas nas
diferentes espécies.
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3. Material e Métodos
3.1. Material
No presente trabalho foram analisados 90 indivíduos de anostomídeos, coletados em
diferentes pontos da bacia amazônica, incluindo diferentes tipos de águas (Figura 1, 2, 3 e Tabela
2).
Figura 1. Mapa indicando os locais, onde foram realizadas as coletas.
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Tabela 2: Relação das espécies analisadas, local de coleta e tipo da água, número de indivíduos por local de coleta e número do Voucher.
Espécie Local de Coleta/Tipo de água Coordenadas Número de indivíduos
Machos Fêmeas
VOUCHER da coleção
Megaleporinus trifasciatus
Rhytiodus microlepis
Schizodon fasciatus
Lago Catalão (confluência rios
Negro/Solimões)
Água misturada
3°08'49,7"S 59°54'04,7"W
INPA-ICT 053210
INPA-ICT 053211
INPA-ICT 053212
INPA-ICT 053213
INPA-ICT 053214
INPA-ICT 053215
INPA-ICT 053216
INPA-ICT 053217
INPA-ICT 053218
6 4
4 4
5 3
Leporinus friderici
Rio Purus
Água Branca
4°10'11,2"S 61°36'26,5"W
2 3
3 4 Leporinus fasciatus
Leporinus agassizi
Rio Uatumã
Água preta
2°34'38,6"S 58°08'42,8"W
1 3
Leporinus fasciatus 4 3
Leporinus uatumaensis 2 1
Laemolyta taeniata 2 2
Anostomoides laticeps 2 1
Schizodon fasciatus 3 2
Laemolyta taeniata Rio Negro
Água preta
2°39'05,9"S 60°54'36,8"W
3 3
Anostomiodes laticeps 2 1
Leporinus fasciatus 4 5
Leporinus fasciatus Rio Tapajós
Água clara
3°17'30,2"S 55°15'21,2"W 2 3
2 1 Leporinus friderici
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Figura 2. Espécimes das espécies analisadas: a) Megaleporinus trifasciatus; b) Leporinus
fasciatus; c) Leporinus friderici; d) Leporinus agassizi; e) Leporinus uatumaensis. A barra
representa 3cm.
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Figura 3. Espécimes de: a) Laemolyta taeniata; b) Anostomoides laticeps; c) Rhytiodus
microlepis; d) Shizodon fasciatus. A barra representa 3cm.
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3.2. Métodos
3.2.1. Indução de Mitoses
Para se obter um maior número de células em metáfase utilizou-se a técnica de indução
de mitoses, descrita por Oliveira et al. (1988), na qual uma solução de fermento biológico é
aplicada nos espécimes. Esta solução, preparada com 0,3 g de fermento biológico comercial, 0,3
g de açúcar e 10 mL de água destilada foi mantida em estufa (46 °C) por um período de 15-20
minutos, e posteriormente injetada na região dorso-lateral do peixe, na proporção de 1mL para
cada 100 g de peso do animal. Os peixes submetidos ao tratamento com solução de fermento
biológico foram colocados em aquários aerados por 24 horas.
3.2.2. Obtenção de cromossomos mitóticos
As preparações cromossômicas foram obtidas seguindo a metodologia descrita por
Bertollo et al. (1978), com algumas modificações, que consistiu em injetar intra-peritonealmente
uma solução de colchicina 0,0125% na proporção de 1 mL para cada 100 g de peso do animal.
Após a injeção o peixe permaneceu em aquário aerado por 40 minutos. Em seguida, o mesmo foi
eutanasiado e a porção anterior do rim retirada e transferida para uma solução hipotônica de KCL
0,075 M (6-8 mL). O tecido foi divulsionado com o auxílio de uma seringa de vidro sem agulha e
com uma pipeta Pasteur, o sobrenadante (suspensão celular) foi transferido para um tubo de
centrífuga. A suspensão celular foi incubada em estufa a 37 °C por 30 minutos. Em seguida, o
material foi pré-fixado com 6 gotas de fixador Carnoy (3 metanol: 1 ácido acético) e
ressuspendido com cuidado. Deixou-se descansar por 5 minutos, adicionou-se fixador e
ressuspendeu. Centrifugou-se por 10 minutos a 900 rpm. O sobrenadante foi desprezado, 6 mL
de fixador foi acrescentado e o material ressuspendido. Centrifugou-se por mais 10 minutos a
900 rpm, desprezou-se o sobrenadante e completou-se novamente para 6 mL de fixador,
repetindo essa lavagem por mais duas vezes. Após a última centrifugação e a eliminação do
sobrenadante, 1,5 mL de fixador foram adicionados e o material ressuspendido. Essa suspensão
celular foi guardada em tubo “eppendorf” e mantida em freezer até a utilização.
Para a preparação das lâminas, as mesmas foram lavadas, secas ao ar e posteriormente
imersas em água destilada a 50 ºC, em banho-maria. Após cinco minutos, as lâminas foram
retiradas da água e a suspensão celular foi gotejada em diferentes regiões da lâmina. Estas foram
secas ao ar.
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3.2.3 Detecção das Regiões Organizadoras de Nucléolo (Ag-RON)
A detecção das regiões organizadoras de nucléolo (RONs) foi realizada seguindo a
técnica descrita por Howell e Black (1980), com modificações. Sobre as lâminas com a
suspensão celular foram adicionadas 2 gotas de uma solução coloidal de gelatina (2 g de gelatina
comercial sem sabor, dissolvida em 100 mL de água destilada, acrescida de 1 mL de ácido
fórmico) e, sobre cada gota de gelatina, duas gotas de solução aquosa de nitrato de Prata
(AgNO3) a 50%, agitando-se levemente a lâmina, que foi coberta com lamínula. A lâmina foi
colocada em câmara úmida, em banho-maria a 60 °C, até adquirir uma coloração marrom
dourada, sendo em seguida lavada em água destilada.
3.2.4 Detecção da heterocromatina (Bandamento C)
Para a detecção da heterocromatina constitutiva foi utilizada a técnica descrita por
Sumner (1972), com algumas modificações. As lâminas com a suspensão celular foram tratadas
em solução de HCl 0,2N a 45 °C, por 2 minutos e lavadas rapidamente em água destilada à
temperatura ambiente. Após secas, as lâminas foram incubadas por 1 minuto e 20 segundos em
solução de hidróxido de bário a 5%, a 42 °C, recém preparada e filtrada. A ação do hidróxido de
bário foi interrompida, imergindo-se rapidamente a lâmina em solução de HCl 0,2N, lavada em
água destilada e deixada secar ao ar. Após secas, as lâminas foram incubadas em solução 2xSSC
(cloreto de sódio 0,3M e citrato trisódico 0,03M, pH 6,8) em banho-maria a 60 °C, por 15
minutos. Em seguida, as lâminas foram lavadas várias vezes em água destilada e secas ao ar,
sendo posteriormente coradas com solução de Giemsa (diluída a 5% em tampão fosfato 0,06M e
pH 6,8) durante 10 minutos, lavadas em água destilada e secas.
3.2.5. Extração de DNA
Para extração do DNA foi utilizado o tecido muscular. O protocolo de extração de DNA
foi o descrito por Sambrook e Russell (2001), com algumas modificações. O tampão de lise foi
Tris-HCl pH 8,0 em 10 mM, NaCl 0,3 M, EDTA 10 mM, Urea 4 M, SDS 1% de Estoup et al.
(1993) e Asahida et al. (1996). Posteriormente acrescentou-se: 15 μL de proteinase K (10
mg/mL) e 6 μL de RNAse (10 mg/mL). As amostras foram incubadas para a digestão do tecido.
A seguir foram feitas lavagens sucessivas com fenol, fenol clorofórmio, álcool isoamílico e
cloroformio hidratado (500μL de cada um destes reagentes). Apos a lise, o DNA foi separado das
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18
proteínas por precipitação salina juntamente com centrifugação a 14.000 rpm. O sobrenadante foi
entao precipitado com 600 μL de isopropanol 100%, também com o auxilio de centrifugacao. Ao
final, o DNA foi hidratado com aproximadamente 100 μL de água milli-Q, dependendo do
tamanho do pellet (DNA precipitado) formado.
Para possibilitar a análise da quantidade e integridade do material, o DNA extraído foi
quantificado, por comparação com marcador de concentração conhecida, em eletroforese padrão
(com tampão Tris-Borato- EDTA 0,5X e corrida a 70 V por 40 minutos) em gel de agarose 0,8%
e corado com brometo de etídio (EtBr – 0,5 g/mL). A visualização e análise do DNA no gel
foram feitas no fotodocumentador Easy Doc 100 (BioAgency), o qual possui acoplado um
transiluminador de luz ultravioleta (260 nM). Adicionalmente, quantificações em
espectrofotômetro NanoVue Plus (GE Healthcare) foram realizadas.
3.2.6. Isolamento de sequências repetitivas por PCR (Polymerase Chain Reaction)
Elementos transponíveis Rex1, Rex3 e Rex6, bem como as sequências teloméricas e os
DNAs ribossomais 18S e 5S foram amplificados por PCR e utilizados como sondas para
hibridização nos cromossomos metafásicos (Tabela.3). Os produtos de PCR foram verificados e
quantificados por comparação com o marcador Low Mass DNA Ladder (Invitrogen) em
eletroforese em gel de agarose 1,0%, corado com GelRed Acid Gel Stain (Biotium 1:500). A
visualização e análise do DNA no gel foram feitas no fotodocumentador Easy Doc 100
(BioAgency), o qual possui acoplado um transiluminador de luz ultravioleta (260 nM).
Adicionalmente, quantificações em espectrofotômetro NanoVue Plus (GE Healthcare) foram
realizadas.
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Tabela 3. Primers utilizados no mapeamento em cromossomos metafásicos.
Primers Sequência do primer (5’- 3’) Referência
DNAr 18S F 5’-CCGCTTTGGTGACTCTTGAT-3’ Gross et al. (2010)
DNAr 18S R 5’-CCGAGGACCTCACTAAACCA-3’ Gross et al. (2010)
DNAr 5S a 5’-TACGCCCGATCTCGTCCGATC-3’ Martins e Galetti Jr. (1999)
DNAr 5S b 5’-CAGGCTGGTATGGCCGTAAGC-3’ Martins e Galetti Jr. (1999)
Rex 1 F 5’-TTC TCC AGT GCC TTC AAC ACC-3’ Volff et al.( 2000)
Rex 1 R 5’- TCC CTC AGC AGA AAG AGT CTG CTC-3’ Volff et al.( 2000)
Rex 3 F 5’-CGG TGA YAA AGG GCA GCC CTG-3’ Volff et al. (1999)
Rex 3 R 5’-TGG CAG ACN GGG GTG GTG GT-3’ Volff et al. (1999)
Rex 6 F 5’-TAA AGC ATA CAT GGA GCG CCA C-3’ Volff et al. (2001a)
Rex 6 R 5’-GGT CCT CTA CCA GAG GCC TGG G-3’ Volff et al. (2001a)
3.2.7. Microdissecção cromossômica e amplificação de DNA
A microdissecção foi realizada, utilizando um microscópio modelo Eppendorf
TransferMan NK 2 (Eppendorf) acoplado a um microscópio Zeiss Axiovert 40 CFL, com
agulhas de vidro feitas com um puxador Nikon e esterilizado por radiação UV. De 8-12
cromossomos foram colocados separadamente em 9µL de água ultrapura livre de DNAse e
amplificados, usando o GenomePlex Single Cell Whole Kit Genome Amplification (WGA4-
Sigma), seguindo o protocolo do fabricante. As lamínulas foram incubadas em solução de SDS
10% à temperatura ambiente por 1-60 dias. Após, as lamínulas foram lavadas com água destilada
autoclavada, e com a lamínula ainda úmida a suspensão cromossômica foi acondicionada sobre
estas. As lamínulas foram lavadas em solução de PBS 1x durante 1 minuto, e incubadas numa
solução de tripsina (35 mL de PBS 1x e 5 mL de tripsina) durante 30 segundos, lavou-se
novamente em PBS 1x e coradas com Giemsa a 1% em PBS (Yang 2009).
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3.2.8. Hibridização in situ fluorescente (FISH) - Microdissecção
As sondas foram marcadas, utilizando o GenomePlex (WGA3 reamplification KIT-
Sigma), seguindo o protocolo do fabricante, exceto que a mistura de dNTPs do kit foi mudada
para uma mistura de ½ T de dNTPs e adicionou-se digoxigenina-11-dUTP (Roche) na reação.
As FISHs foram realizadas, utilizando o protocolo descrito por Rens et al. (1999; 2006)
com várias modificações. As lâminas com preparações cromossômicas foram tratadas com
RNAse (20 ng/μL) por 1 hora a 37 °C e desidratadas em uma série de etanol (70%, 90% e
100%). Os cromossomos foram desnaturados em formamida 70% em 2x citrato salino de sódio
(SSC) a 70 °C durante 2 minutos e desidratados em série de etanol gelada. 3 μl de sonda marcada
de L. trifasciatus foram acicionados em 12 μl de tampão de hibridação (7,5 μL de formamida, 1,5
μL de 20xSSC e 3 μL de sulfato de dextrano a 50%). Esta mistura foi desnaturada durante 10
minutos a 65 °C com pré-hibridização a 37 °C durante 1 hora, e aplicada em cada lâmina. A
hibridização foi realizada a 37 °C durante 15 horas para as mesmas espécies e com duas noites
para experiências de espécies cruzadas. As lavagens pós-hibridação foram realizadas em 50% de
formamida em 2xSSC duas vezes durante 5 minutos cada, seguido de 1xSSC duas vezes durante
5 minutos cada, e 4xSSC com 0,05% de Triton 100x (4XT) uma vez durante 4 minutos a 42 °C
para a mesma espécie e 45 °C para as espécies cruzadas. A detecção da sonda foi realizada
usando o anticorpo anti-digoxigenina-rodamina (Roche) durante 1 hora a 37 °C. Após a detecção,
as lâminas foram lavadas três vezes em 4XT durante 3 minutos cada a 42 °C e montadas em
meio de montagem Vectashield com 4',6- diamidino-2-fenilindole (DAPI; Vector). As imagens
foram capturadas e processadas utilizando o software DP Controller e uma câmara digital
(Olympus modelo D71) acoplada a um microscópio Olympus BX51.
3.2.9. Hibridização in situ fluorescente (FISH)
As sequências repetitivas DNAr 5S e 18S foram mapeadas conforme a técnica de
hidridização fluorescente in situ (FISH) descrita por Pinkel et al. (1986).
Tratamento das lâminas:
1º dia:
As lâminas foram lavadas em tampão PBS 1x durante 5 minutos em temperatura
ambiente, sendo posteriormente desidratadas em série alcoólica 70, 85 e 100%, 5 minutos cada e
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secas ao ar. As lâminas foram incubadas em 90μl de RNAse (0,4% RNAse/2xSSC) a 37 °C por
1h em câmara úmida. Transcorrido este tempo, as lâminas foram lavadas três vezes em 2xSSC
por 5 minutos cada e em PBS 1x pelo mesmo tempo. Foram então fixadas em formaldeídeo 1%
em PBS 1x/50mM MgCl2, durante 10 minutos à temperatura ambiente; em seguida foram
lavadas em PBS 1x por 5 minutos, sendo então desidratadas em série alcoólica gelada (70, 85,
100 %) por 5 minutos cada. Simultaneamente à desidratação da lâmina em série alcoólica, a
solução de hibridização foi realizada com formamida 100% (concentração final 50%), sulfato de
dextrano 50%, 20xSSC (concentração final de 2xSSC), sondas marcadas e água milli-Q. Essa
reação foi desnaturada a 99 ºC por um período de 10 minutos, sendo passada imediatamente ao
gelo. O DNA cromossômico foi desnaturado com formamida 70% em 2xSSC a 70 ºC por 5
minutos e desidratado em etanol gelado 70, 85 e 100% por 5 minutos cada, secando ao ar. A
solução de hibridização foi colocada sobre a lâmina com os cromossomos desnaturados e
incubada em câmara úmida a 37 °C por cerca de 16 horas.
2º dia - detecção:
Após o tempo de hibridização, as lâminas foram lavadas em formamida 15% a 42 °C
durante 10 minutos e posteriormente lavadas em solução Tween 0,5%, por 5 minutos. Para
detecção do sinal, as lâminas foram incubadas em tampão NFDM por 15 minutos e lavadas 2
vezes com Tween 0,5% em temperatura ambiente por 5 minutos cada. As lâminas foram
incubadas com os anticorpos específicos (antidigoxigenina e/ou avidina-FITC) por 60 minutos
em câmara úmida a 37 °C. Após este tempo, as lâminas foram lavadas 3 vezes com Tween 0,5%
temperatura ambiente por 5 minutos cada, desidratadas em série alcoólica gelada 70, 85 e 100%
durante 5 minutos cada e após secas foram montadas com antifade e DAPI, sendo cobertas com
lamínulas e analisadas em microscópio de Epifluorescência Olympus BX51.
3.2.10.Tratamento das lâminas
Tratou-se cada lâmina com 100μl de RNAse 40 μg/mL (0,4 μL de RNase 10 mg/mL e
99,6 μL de 2XSSC – cloreto de sódio 0,3M e citrato trisódico 0,03M; pH 6,8) por 1 hora e 30
minutos em câmara úmida a 37 ºC. As lâminas foram lavadas duas vezes em 2xSSC durante 10
minutos cada. Desidratadas em série alcoólica 70%, 85% e 100% (etanol mantido no freezer)
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durante 10 minutos cada. As lâminas foram mergulhadas em formamida 70% em 2xSSC por 5
minutos a 70 oC. O material foi desidratado em etanol 70%, 85% e 100% a -20 °C por 5 minutos
cada. Secou-se ao ar.
3.2.10.1 Solução de hibridização
No tubo Eppendorf com a sonda foi adicionado: 40 μL de formamida, 16 μL de sulfato de
dextrano 50% e 8 μL de 20xSSC. Aqueceu-se a 95 oC por 10 minutos e imediatamente ao gelo.
3.2.10.2. Hibridização
Colocou-se 80 μL da solucao de hibridização sobre a lamínula e inverteu-se a lâmina
sobre a lamínula. As lâminas foram mantidas com o material voltado para baixo em câmara
úmida (2xSSC) a 37 oC durante uma noite (aproximadamente 16 horas).
3.2.10.3.Lavagens
As lâminas foram lavadas em 2xSSC em temperatura ambiente apenas para retirar a
lamínula e escorreu-se bem a lâmina sem deixar secar. Lavou-se em formamida 50% por 15
minutos a 37 oC; em 2xSSC por 15 minutos a 37
oC; em 2xSSC por 15 minutos à temperatura
ambiente e por fim as lâminas foram lavadas em 4xSSC à temperatura ambiente.
3.2.10.4. Detecção
Sobre cada lâmina foram colocados 70 μL de avidina-FITC 0,07% em tampão C (0,1 M
de bicarbonato de sódio, pH 8,5 e 0,15 M de NaCl). Cobriu-se com lamínula e deixou-se por 40
minutos em câmara úmida com 2xSSC. Lavou-se em tampão de bloqueio (NaHCO3 1,26%;
citrato de sódio 0,018%; Triton 0,0386%; leite em pó desnatado 1%; diluido em água destilada
ajustando para pH 8,0) recém preparado a 42 oC por 5 minutos por 3 vezes. Após a lavagem,
colocou-se sobre cada lâmina 80 μL de anti-avidina biotina-conjugada 2,5% (2 μL de anti-
avidina estoque em 78 μL de tampao de bloqueio), cobriu-se com lamínula e manteve-se em
câmara úmida com 2xSSC a 37 oC por 30 minutos. Lavou-se em tampão de bloqueio por 3x (5
minutos cada) com agitação. Lavou-se em 4xSSC/Triton 2% por duas vezes (3 minutos cada com
agitação) e mais duas vezes em 4xSSC/Triton 0,2%. As lâminas foram secas em temperatura
ambiente.
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3.2.10.5. Montagem das lâminas
A cada lâmina adicionou-se iodeto de propidio na proporcao de 25 μL de antifading com
1 μL de solucao de iodeto de propidio a 50 μL/mL.
3.2.10.6. Análise dos Resultados
Para cada indivíduo foram analisadas cerca de 30 metáfases. Para a captura das imagens
foi utilizado o software DP controler®
(Olympus). Os cromossomos foram recortados,
emparelhados e classificados de acordo com nomenclatura proposta por Levan et al. (1964).
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4. Resultados e Discussão
Os resultados e sua discussão estão sendo apresentados na forma de artigos científicos,
sendo um já publicado e os demais serão submetidos para publicação.
4.1 – Artigo I - Mapeamento de genes ribossômicos 45S e 5S em cromossomos de espécies
de peixes Anostomidae (Ostariophysi, Characiformes) de diferentes tipos de água da
Amazônia
4.2 – Artigo II - Microdissecção cromossômica e análise evolutiva dos cromossomos sexuais
em espécies de Megaleporinus (Teleostei, Characiformes)
4.3 – Artigo III - Mapeamento cromossômico de elementos retrotransponíveis Rex1 e Rex3
em espécies amazônicas (Anostomidae, Characiformes): sua interação com
heterocromatina
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Capitulo I
Mapeamento de genes ribossômicos 45S e 5S em cromossomos de espécies de peixes
Anostomidae (Ostariophysi, Characiformes) de diferentes tipos de água da Amazônia
Lucas Caetano de Barros¹, Pedro Manoel Galetti Junior2, Eliana Feldberg¹
¹Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Programa de Pós-Graduação em Genética,
Conservação e Biologia Evolutiva. Av. André Araújo, 2936, Petrópolis, Manaus, Amazonas,
Brazil. CEP: 69067-375.
2 Departamento de Genética e Evolução, Universidade Federal de São Carlos, 13565-905
-São Carlos, SP, Brazil.
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RESUMO
Os peixes da família Anostomidae representam um dos mais importantes grupos da ictiofauna de
água doce da América do Sul, com espécies de alto valor econômico. A característica migratória
de algumas espécies, pelos diversos ambientes amazônicos, leva-os a águas com características
físico-químicas diferentes. Estudos citogenéticos sobre os anostomídeos demonstram que esses
peixes possuem número diploide e macroestrutura do cariótipo conservados. Assim, para
verificar se essa conservação ocorre também no nível genômico, o presente estudo objetivou um
mapeamento físico cromossômico comparativo, utilizando o DNAr 45S e 5S de sete espécies de
anostomídeos: Leporinus fasciatus, L. agassizi, L. friderici, L. trifasciatus (atual Megaleporinus
trifasciatus), Rhytiodus microlepis, Laemolyta taeniata e Schizodon fasciatus, coletados em
diferentes ambientes amazônicos. Os resultados obtidos corroboram a conservação da
macroestrutura do cariótipo. Entretanto, diferenças significativas foram encontradas na
distribuição da heterocromatina e no par portador da região organizadora do nucléolo, mas estas
diferenças não estiveram relacionadas aos tipos de água. O mapeamento de DNAr 45S e 5S por
FISH destacou, para quatro das sete espécies, mais de um par cromossômico com sitio 45S. O
DNAr 5S , embora presente em apenas um par de cromossomos, variou em sua localização no
cromossomo e em sua posição no cariótipo. Assim, embora a família Anostomidae tenha uma
macroestrutura cromossômica conservada, o uso de técnicas moleculares revelou a presença de
translocações cromossômicas durante a evolução desses peixes.
Palavras-chave: Citogenética, cromossomos, FISH, águas amazônicas
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INTRODUÇÃO
Anostomidae é uma das famílias de peixes neotropicais mais ricas em espécies, entre os
Characiformes, com 145 espécies em 13 gêneros (Eschmeyer e Fong 2015), dos quais 10 são
endêmicos da América do Sul, com representantes em todas as bacias hidrográficas brasileiras
(Britski e Birindelli 2013). A maioria dos gêneros de Anostomidae contém duas ou mais
espécies, sendo o gênero Leporinus o mais especioso, com cerca de 94 espécies (Eschmeyer e
Fong 2015). Entretanto, Gnathodolus e Synaptolaemus são exceções, compreendendo somente
uma espécie cada. Esses peixes distribuem-se pelas Américas Central e do Sul, sendo que a bacia
amazônica detém a maior parte dessa variabilidade (Garavello e Britski 2003; Santos e Zuanon
2008).
A bacia amazônica é composta por um complexo sistema de drenagem que flui para o rio
Solimões-Amazonas, onde as margens são inundadas sazonalmente, contribuindo para uma
diversidade de habitats para a ictiofauna (Goulding et al. 2003). Além disso, as características
geológicas, físicas, químicas e biológicas também colaboram para a diversidade ambiental
observada, oferecendo diferentes biótopos nos quais a vida aquática desses grandes sistemas
fluviais se desenvolve (Junk e Furch 1993). Os rios amazônicos são diferentes na morfologia de
seus cursos e nas características físico-químicas de suas águas. Baseado nesses fatores, Sioli
(1950) subdividiu as águas amazônicas em ''branca'', ''preta'' e ''clara''.
Os anostomídeos vivem em uma grande diversidade de habitats, incluindo lagos,
corredeiras, áreas marginais de grandes rios e riachos florestais. Ao mesmo tempo, algumas
espécies da bacia amazônica parecem viver exclusivamente, ou principalmente, em ambientes de
água branca, preta ou clara (Santos e Zuanon 2008). Ictiofauna de rios amazônicos, como
Tocantins (Santos e Jégu 1989), Jamari (Santos 1991), Trombetas (Ferreira 1992) e Uatumã
(Santos e Jégu 1996) indicam que o número médio de anostomídeos oscila em torno de 20
espécies. No entanto, há uma grande diferença entre a composição das espécies em cada rio. Por
exemplo, os rios Tocantins e Uatumã possuem sete espécies em comum, enquanto os rios
Uatumã e Jamari têm 12 (Santos e Jégu 1996).
Esses dados demonstram que, embora a bacia amazônica seja formada por um sistema
hidrográfico contínuo, há um mosaico de distribuição de espécies de anostomídeos em suas sub-
bacias. Essa distribuição descontínua pode estar associada às diferentes características
limnológicas observadas nos rios de águas negras, brancas e claras (Junk e Piedade 2011) e/ou a
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eventos vicariantes do passado, principalmente aqueles relacionados às variações eustática e
isostática do nível do mar, com o subsequente isolamento das populações exclusivamente em
água doce, seguida da especiação (Haffer 1982; Renno et al. 1990).
Estudos cariotípicos em peixes têm fornecido informações importantes sobre a
estabilidade e diferenciação cromossômica intra e interespecífica, sendo uma ferramenta
importante para auxiliar a compreender a evolução e explicar os padrões biogeográficos desses
organismos (Silva et al. 2012; Barros et al. 2015). Grandes avanços no estudo dos cromossomos
de peixes têm sido alcançados nas últimas duas décadas, com base na detecção de sequências
específicas de DNA nos cromossomas, seja ela de partes de cromossomos, cromossomos inteiros
ou mesmo de todo o DNA genômico, utilizando a técnica de hibridização fluorescente in situ
(FISH) (Guerra 2004; Nagamachi et al. 2013).
A maioria das informações sobre a organização genômica disponível para Anostomidae
está restrita a espécies da região sul do Brasil. Foi relatado que a macroestrutura do cariótipo é
muito conservada neste grupo de peixes, apesar de alterações da microestrutura relacionadas à
heterocromatina e à localização das regiões organizadoras de nucléolo entre as espécies (Martins
e Galetti 1999; 2000; 2001b; Aguilar e Galetti 2008). Não há evidência de ocorrência de
mecanismos Robertsonianos (fusões e/ou fissões cromossômicas) durante a diversificação destes
peixes.
Apesar de a detecção de sequências repetitivas de DNA por FISH ter se mostrado útil em
estudos de evolução cromossômica em peixes neotropicais (Jurka et al. 2011; Oliver e Greene
2011), pouco se sabe sobre a organização molecular dos cromossomos de Anostomidae. Quando
a abordagem envolveu citogenética molecular, as regiões genômicas estudadas foram
principalmente DNAr (Martins e Galetti 1999; 2000; 2001b; Ferreira et al. 2007; Aguilar e
Galetti 2008), além da pintura cromossômica e mapeamento de DNAs repetitivos destacando a
diferenciação dos cromossomos sexuais (Parise-Maltempi et al. 2007; 2013; Marreta et al. 2012;
Poltronieri et al. 2013; Splendore et al. 2013).
O DNA ribossômico é amplamente encontrado entre os eucariotos superiores e varia
entre as espécies sem uma relação direta com a complexidade do organismo ou com o tamanho
do genoma (Gregory 2005; Alves-Costa et al. 2006). O DNAr está organizado em dois grupos de
genes dispostos in tanden, com centenas de milhares de cópias. O maior conjunto in tanden
transcreve RNAr 5S (Long e Dawid 1980; Martins e Wasko 2004) e o menor conjunto in tanden
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contém genes RNAr 45S, que são transcritos no 18S, 5.8S e 28S RNAr (Hillis e Dixon 1991;
Martins et al. 2011).
As sequências de DNAr são conservadas, mesmo entre táxons não relacionados, mas os
espaçadores não transcritos mostram grande variação no comprimento e na sequência de pares de
bases (Martins e Wasko 2004). Estas regiões têm uma organização flexível, variando em número
e posição entre as espécies e mesmo entre populações da mesma espécie (Mantovani et al. 2005;
Cabral-de Mello et al. 2011; Martins et al. 2011).
Embora diferentes classes de DNA repetitivo tenham sido utilizadas para entender a
estrutura do cariótipo dos anostomídeos, nenhuma metodologia que envolva a citogenética
molecular foi aplicada a esses peixes da região amazônica, com trabalhos prévios focados apenas
na descrição do cariótipo. Aqui, investigamos a organização genômica de algumas sequências
repetitivas em sete espécies de anostomídeos, coletadas em drenagens da bacia amazônica onde a
água tinha diferentes condições físico-químicas.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo analisou sete espécies de Anostomidae, coletadas na Amazônia Central
e Ocidental, em quatro locais com características distintas: água clara (rio Tapajós), água branca
(rio Purus), água preta (rio Uatumã) e água mista (lago Catalão) (Fig. 1). Espécimes de L.
fasciatus e L. friderici foram coletados em água branca e clara, e em água branca e preta,
respectivamente (Fig. 1), sob permissão do SISBIO No. 28095-1 para Eliana Feldberg. Todos os
espécimes foram anestesiados em óleo de cravo até a morte, os tecidos retirados e posteriormente
foram fixados e depositados na coleção de peixes do Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia (INPA), Manaus, Amazonas, Brasil (Tabela 1).
Os cromossomos mitóticos foram obtidos a partir de células renais, utilizando o protocolo
de Bertollo et al. (1978). As regiões organizadoras de nucléolos ativas (Ag-RON) foram
detectadas com coloração com nitrato de Prata conforme Howell e Black (1980) e a detecção de
heterocromatina seguiu o protocolo descrito por Sumner (1972).
As sondas de DNAr 45S e 5S e de DNA telomérico (TTAGGG) foram obtidas a partir de
DNA de L. fasciatus, que foi extraído utilizando o protocolo fenol-clorofórmio (Sambrook e
Russell 2001). As sondas de DNAr foram amplificadas por reação em cadeia com polimerase
(PCR), utilizando os primers 18Sf (50-CCG CTG TGG TGA CTC TTG AT-30) e 18Sr (50 -
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CCG AGGACC TCA CTA AAC CA- 30) (Gross et al. 2010), 5Sa (50-TAC GCC CGA TCT
CGT CCG ATC-3’) e 5Sb (5’- CAGGCT GGT ATC GCC GTA AGC-3’) (Martins e Galetti
1999) e os segmentos teloméricos (TTAGGG) 5 (Ijdo et al. 1991).
Os produtos DNAr 45S e PCR telomérico foram marcados com digoxigenina-11-dUTP
(Dig Nick Translation mix, Roche), enquanto o DNAr 5S foi corado com biotina-14-dATP
(Biotin Nick Translation mix, Roche) de acordo com o protocolo do fabricante. Para detectar e
amplificar o sinal da sonda foram utilizados os anticorpos avidina-FITC (Sigma-Aldrich), anti-
avidina biotinilada (Sigma-Aldrich) e anti-digoxigenina-rodamina (Roche). A hibridização
homóloga e heteróloga foi realizada de acordo com o protocolo descrito por Pinkel et al. (1986)
em condições elevadas de estringencia, 77% (2,5 ng /μl de sonda DNAr 18S, DNAr 5S ou sondas
teloméricas, formamida a 50%, sulfato de dextrano a 10% e SSC 29 a 37 °C durante 18 h). Os
cromossomas foram contra-corados com DAPI (2 mg / ml) num meio Vecta Shield (Vector).
Os cromossomos foram analisados em um microscópio de epifluorescência Olympus
BX51 e as imagens foram obtidas com uma câmera digital montada (Olympus DP71), utilizando
o software Image-Pro MC 6.3. As metáfases foram processadas no software Adobe Photoshop
CC e os cromossomos medidos no software Image-Pro-Plus®. Os cromossomos foram
classificados de acordo com a nomenclatura proposta por Levan et al. (1964).
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Figura. 1 Mapa mostrando os locais de coleta para as espécies de Anostomidae deste
estudo.
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Tabela I. Espécies, locais de coleta, coordenadas geográficas, número de espécimes utilizados na citogenética molecular e número de tombo
Espécies Locais Localização Geográfica
(GPS)
Nº espécimes
Macho Fêmea
Nº tombo
Leporinus trifasciatus
Lago Catalão
confluência
Negro/Solimões
3°08'49.7"S
59°54'04.7"W
2 2 INPA 11641, INPA 11650, INPA 11653, INPA
11658
Rhytiodus microlepis 4 2 INPA 11629, INPA 11630, INPA 11632, INPA
11634, INPA 11635, INPA 11636
Schizodon fasciatus 2 3 INPA 11631, INPA 11633, INPA 11654, INPA
11655, INPA 11649
Leporinus friderici
Rio Purus
4°10'11.2"S
61°36'26.5"W
2 2 INPA 795, INPA796, INPA 797, INPA798
Leporinus fasciatus
3 4 INPA 2433, INPA 2434, INPA 2498, INPA 2500,
INPA 2557, INPA 2565, INPA 3340
Leporinus agassizi
Rio Uatumã
2°34'38.6"S
58°08'42.8"W
1 3 INPA 3309, INPA 3345, INPA 3371, INPA 3394
Laemolyta taeniata 2 2 INPA 2423, INPA 3486, INPA 2424, INPA 3488
Leporinus fasciatus
Leporinus friderici
Rio Tapajós
3°17'30.2"S
55°15'21.2"W
2
3
INPA 1150, INPA 1151, INPA 1208, INPA 1206,
INPA 1150
2 1 INPA 1207, INPA 1208, INPA 1206
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34
RESULTADOS
As sete espécies apresentaram um número diploide de 54 cromossomos metacêntricos (m) e
submetacêntricos (sm), número fundamental (NF) de 108 e presença de sistema cromossômico
sexual do tipo ZZ/ZW em L. trifasciatus (atual Megaleporinus trifasciatus), onde o cromossomo W
foi subtelocêntrico (st) e o maior do complemento (Fig. 2). A região organizadora de nucléolo (Ag-
RON) esteve presente em apenas um par cromossômico, localizado em posição terminal em todas as
espécies estudadas, sendo que em três espécies foi encontrada nos braços curtos e nas quatro
espécies restantes nos braços longos. No entanto, sua localização no cariótipo variou entre os
maiores pares metacêntricos (detalhe na Figura 2).
Quanto ao padrão de banda C, os blocos heterocromáticos estiveram presentes
preferencialmente nos centrômeros, mas também blocos biteloméricos em L. fasciatus, Rhytiodus
microlepis, Laemolyta taeniata, Schizodon fasciatus e L. trifasciatus (atual Megaleporinus
trifasciatus), enquanto L. agassizi e L. friderici mostraram principalmente blocos centroméricos. O
cromossomos sexual W de L. trifasciatus apresenta um grande bloco heterocromático que se estende
por todo o braço longo e o cromossomo Z tem heterocromatina destacada apenas na região terminal
do braço longo (Figura 2).
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35
Figura. 2 Cariótipo das sete espécies de Anostomidae analisadas por bandamento C e Ag-RON.
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36
As análises de FISH mostraram que os sinais de DNAr 45S são coincidentes com os locais Ag-
RON nas sete espécies estudadas. No entanto, em R. microlepis e L. trifasciatus (atual Megaleporinus
trifasciatus), a sonda FISH também marcou um e dois pares de cromossomos adicionais,
respectivamente, bem como vários em S. fasciatus (Figura 3). Double FISH, utilizando sondas de
DNAr 45S e 5S revelou apenas um par de cromossomos portadores de RNAr 5S em todas as sete
espécies. Os sítios de DNAr 5S estiveram presentes no braço curto de tais cromossomos, mostrando
sintenia com o sítio 45S em três espécies (Figura 3).
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37
Figura. 3 Cariótipo das sete espécies de Anostomidae analisadas por double FISH com sonda de
DNAr 18S (vermelho) e DNAr 5S (verde) e contra-coradas com DAPI.
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Nas duas espécies coletadas em mais de um ambiente, ou seja, L. friderici (água branca e
clara) e L. fasciatus (água clara e preta), não houve diferenças nos marcadores cromossômicos.
A análise utilizando sonda telomérica revelou sinais de hibridização apenas nos telômeros das
sete espécies, apresentando uma ligeira duplicação deste local em um par cromossômico de L.
fasciatus, L. friderici e L. taeniata (Figura 4).
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Figura. 4 Metáfase, das sete espécies de Anostomidae, analisadas por FISH com sonda
telomérica e contrastadas com DAPI.
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DISCUSSÃO
Todas as espécies de Anostomidae analisadas no presente estudo apresentaram
macroestrutura conservada do cariótipo como já descrita para a família, ou seja, 2n = 54
cromossomos meta- e submetacêntricos (Martins et al. 2011), independentemente do tipo de água
(clara, branca ou preta), onde foram coletadas. Entretanto, embora a macroestrutura
cromossômica dos anostomídeos seja conservada, algumas características cromossômicas não são
compartilhadas por todos os representantes da família (Krinski e Miyazawa 2013).
Um sistema de cromossomos sexuais do tipo ZZ/ZW, por exemplo, que só foi relatado em
algumas espécies do gênero Leporinus (Parise-Maltempi et al. 2013). A detecção deste sistema
em L. trifasciatus (hoje Megaleporinus trifasciatus, Ramirez et al. 2017) no presente trabalho
corrobora resultados anteriores (Parise-Maltempi et al. 2013), mostrando o cromossomo W quase
completamente heterocromático. Existem algumas teorias distintas sobre as origens dos
cromossomos sexuais e as mais aceitas, para os diferentes grupos de organismos, são a
degradação parcial ou total do cromossomo sexual específico (Ohno 1967) e a diferenciação de
um par autossômico (Muller 1964).
Existem dois mecanismos principais que podem levar à diferenciação dos pares
autossômicos. O primeiro sugere o envolvimento de rearranjos de cromossomos com o
consequente heteromorfismo (Charles- worth et al. 1994). Como exemplo de tal mecanismo, na
família Parodontidae, um evento de inversão reorganizou os DNAs repetitivos terminais para a
região proximal dos cromossomos proto-sexuais e estes locais foram amplificados nos braços
curtos cromossômicos, levando à diferenciação do cromossoma W (Schemberger et al. 2011).
No presente estudo, nenhum sitio intersticial foi detectado com sonda telomérica em L.
trifasciatus (hoje Megaleporinus trifasciatus), o que poderia corroborar a presença de rearranjos
de fusão e/ou inversões cromossômicas na origem do cromossomo W, o qual apresenta o dobro
do tamanho do cromossomo Z. Segundo Carvalho et al. (2012), sítios teloméricos intersticiais
(ITS) podem ser perdidos durante processos de erosão molecular. O fato de que todas as espécies
da família Anostomidae apresentam os mesmos número e fórmula cromossômica também sugere
a ausência de rearranjos cromossômicos na origem do cromossomo W.
O segundo mecanismo proposto para a diferenciação de pares autossômicos em pares
sexuais supõe a redução gradual da ocorrência de recombinação (Brooks 1988). Algumas
pesquisas mostram que a recombinação é notavelmente reduzida, quando há inserções de
elementos transponíveis no genoma, uma vez que as regiões eucromáticas se tornam
heterocromáticas para evitar a amplificação de tais elementos (Steinemann e Steineman 2005). É
possível, então, que a supressão da recombinação entre os cromossomos proto-sexuais de L.
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41
trifasciatus (hoje Megaleporinus trifasciatus) tenha proporcionado um acúmulo de
heterocromatina no cromossomo W, como uma estratégia de defesa contra elementos invasivos,
frequentes em regiões genômicas não recombinantes (Caputo et al. 2011). Assim, acreditamos
que o cromossomo W tem aumentado sensivelmente o seu tamanho devido ao acúmulo de
heterocromatina cis (Feldberg et al. 1987), resultando na gradual degradação da atividade
genética, tendo como consequência, a diferenciação do sistema de cromossomas sexuais ZZ/ZW.
Como os peixes apresentam uma grande variedade de sistemas de cromossomos sexuais,
eles são modelos favoráveis para investigar a gênese desse mecanismo, como é apresentado em
espécies de L. anastomida, L. macrocephalus, L. obtusidens e L. elongatus (Silva et al. 2012;
Parise-Maltempi et al. 2013). Estas três últimas foram incluidas no novo gênero Megaleporinus,
passaram a se chamar, Megaleporinus macrocephalus, M. obtusidens e M. elongatus (Ramirez et
al. 2017).
Considerando o padrão de distribuição das regiões organizadoras de nucléolos, os
anostomídeos têm sido caracterizados pela presença de um par cromossômico portador de
nucléolos (Margarido e Galetti 2000; Pereira et al. 2002; Krinski e Miyazawa 2013). No entanto,
a posição da RON é variável no cromossomo (braço curto, braço longo, terminal ou intersticial),
como sua localização no cariótipo, como observado no presente estudo. Estudos anteriores
relataram alto nível de variação nos sítios Ag-RON entre as diferentes espécies (Galetti et al.
1991a; b; Martins e Galetti 1999; Margarido e Galetti 2000; Pereira et al. 2002; Krinski e
Miyazawa 2013). Essas variações foram atribuídas a rearranjos cromossômicos como
translocações, duplicações e/ou inversões e foram consideradas marcadores citológicos muito
úteis para estudo taxonômico da família (Martins e Galetti 1998; Molina e Galetti 2007).
Um aspecto interessante das regiões organizadoras de nucléolos nos anostomídeos é a
forte relação com a heterocromatina, que coincide ou é adjacente aos sítios de RON. De acordo
com Martins e Galetti (2001a), a heterocromatina pode estar facilitando os rearranjos
cromossômicos. As sete espécies aqui analisadas, representando quatro gêneros de Anostomidae,
apresentaram blocos heterocromáticos distribuídos ao longo das regiões terminal e centromérica,
às vezes com blocos que se estendem para as regiões proximais de ambos os braços. Foi sugerido
que essa relação poderia causar o silenciamento de genes vizinhos de forma aleatória e variável
(Schade-Bartu- Siak et al. 2005).
O padrão heterocromático em Anostomidae é um pouco variável. Galetti et al. (1991a)
relataram que a heterocromatina em Leporinus piau é bastante reduzida, especialmente na região
centromérica. Como tal padrão foi encontrado para outras espécies de Leporinus, este parece
representar uma característica derivada dentro deste gênero. No entanto, grandes blocos
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42
heterocromáticos também podem ser encontrados em espécies de Leporinus (Pereira et al. 2002),
contrariando os resultados acima.
No presente estudo, os blocos heterocromáticos foram encontrados principalmente nas
regiões subteloméricas e na região do centrômero, similarmente ao padrão observado em L.
fasciatus da bacia amazônica (Krichanã 1999), L. desmotes do Rio Tocantins (Margarido e
Galetti 2000) e L. striatus da bacia do alto Paraguai (Krinski e Miyazawa 2013).
Os dados disponíveis sugerem fortemente que o padrão da heterocromatina é conservado
neste gênero (Galetti 1991a; b; Krichanã 1999; Margarido e Galetti 2000; Pereira et al. 2002;
Krinski e Miyazawa 2013). No entanto, embora a quantidade de heterocromatina pareça ser
relativamente constante entre as espécies de Leporinus, a análise de espécies amazônicas revelou
ligeiras diferenças relacionadas à sua associação com os sítios 45S e 5S.
As espécies de anostomídeos geralmente apresentam apenas um par cromossômico
portador da Ag-RON, também confirmado por experimentos de FISH, usando a sonda de DNAr
45S (Martins e Galetti 1999). O mesmo foi encontrado para a maioria das espécies até agora
investigadas, com exceção de L. trifasciatus (hoje Megaleporinus trifasciatus), L. taeniata, R.
microlepis e S. fasciatus que parecem ter mais de um par cromossômico marcado pela sonda 45S.
De fato, o polimorfismo relacionado com o número e a posição do DNAr 45S já foi relatado para
L. friderici e L. trifasciatus (Galetti et al. 1991a; 1995a; b).
No entanto, nossos resultados com as quatro espécies acima citadas, ainda exigem
confirmação por análises complementares para excluir possíveis artefatos técnicos e confirmar a
expansão dos sítios de DNAr, nessas espécies. Podemos considerar que, nessas espécies onde há
uma ampla distribuição de sequências de DNAr 45S, este sítio pode estar associado com
pseudogenes e apenas um par de cromossomos é o organizador nucleolar. Outro marcador
interessante para a família é o DNAr 5S, embora as sete espécies estudadas apresentassem um
único par portador deste sítio, a localização deste agrupamento genético variou entre as espécies.
O mapeamento do gene DNAr 5S em várias espécies de peixes indicou que estes locais
são comumente posicionados nos segmentos intersticiais dos cromossomos. Este padrão foi
observado em algumas espécies de Anostomidae, Salmonidae (Fujiwara et al. 1998),
Parodontidae (Vicente et al. 2001), Erythrinidae (Hoplias malabaricus) (Born e Bertollo 2000) e
Cichlidae (Oreocromis niloticus) (Martins et al. 2000). Tal padrão de posição parece não ser
aleatório e a posição intersticial dos genes DNAr 5S pode oferecer alguma vantagem em relação
à organização desses genes no genoma de vertebrados (Martins e Galetti 1999).
De acordo com Martins e Galetti (1999; 2000; 2001a), os genes DNAr 5S são geralmente
encontrados em dois loci cromossômicos. A presença de dois sítios de DNAr 5S aparentemente é
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43
conservada durante a diversificação do cariótipo dos anostomídeos e os cromossomos
homeólogos levam esses locais, que foram detectados em várias espécies de Leporinus,
Schizodon e Leporellus (Martins e Galetti 1999; 2000; 2001a; Aguilar e Galetti 2008). Além
disso, esses dois loci parecem estar também localizados em cromossomos homeólogos nos
gêneros Parodon (Parodontidae) (Vicente et al. 2001; Centofante et al. 2002) e Prochilodus
(Prochilodonidae) (Hatanaka et al. 2002), sugerindo uma conservação evolutiva desta
característica entre as diferentes famílias.
Nas espécies amazônicas estudadas, apenas um par cromossômico com DNAr 5S também
foi observado, embora a localização deste agrupamento genético tenha variado entre as espécies.
Além disso, a sintenia entre os sítios DNAr 5S e 45S observada nas espécies L. trifasciatus (hoje
Megaleporinus trifasciatus), S. fasciatus e L. taeniata é uma novidade para espécies de
Anostomidae, embora já tenha sido descrita para algumas espécies do gênero Prochilodus (Vicari
et al. 2006; Terencio et al. 2012), para Salmo salar (Pendás et al. 1994), Triportheus nematurus
(Diniz et al. 2009) e Pimelodus britskii (Moraes-Neto et al. 2011).
Em Characiformes neotropicais, os clusters de DNAr 5S e 45S, geralmente são
localizados em diferentes pares de cromossomos, sugerindo que esta poderia ser uma
característica comum para esses genes em genomas de peixes (Martins e Galetti 1999; 2000;
2001a; b). Martins (2007) propõe que a sintenia entre os DNAr 45S e 5S poderia facilitar quebras
cromossômicas e danos à função gênica. Entretanto, em Leporinus, esta característica não
mostrou nenhuma correlação com modificações do cariótipo, tendo em vista a estabilidade
macroscópica do cromossomo encontrada neste gênero. Nesse sentido, a falta de evidência de
alterações cariotípicas importantes também foi ressaltada pelo mapeamento cromossômico de
sequências teloméricas. Estas sequências são altamente conservadas entre eucariotos (Meyne et
al. 1989) e sua identificação por FISH pode fornecer informações úteis sobre alterações
cromossômicas durante a evolução.
De fato, nenhuma sequência telomérica interna (ITS) foi detectada nas espécies
analisadas, indicando que rearranjos cromossômicos, como eventos de fusão e fissão, não
ocorreram. Assim, no presente estudo, verificou-se que uma macroestrutura de cariótipo comum
de 2n=54 cromossomos meta- e submetacêntricos é compartilhada pelas sete espécies de
Anostomidae, além de um sistema de cromossomo sexual ZZ/ZW em L. trifasciatus (hoje
Megaleporinus trifasciatus) e algumas alterações da microestrutura do cariótipo, que promovem
alterações evolutivas e diversificação entre as espécies. A falta de associação entre o padrão de
cariótipo e o habitat do peixe (cor da água) não suporta uma suposta hipótese de especiação
ecológica ou a assinatura cromossômica não pôde ser detectada ainda.
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44
Como alterações cromossômicas menores estão presentes no complemento cromossômico
dos anostomídeos, ainda temos uma questão aberta para a citogenética molecular, que poderia no
futuro entender melhor a evolução cromossômica deste grupo de peixes, na Amazônia.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Dr. Jansen A. Zuanon pela identificação dos espécimes. Este estudo
contou com o apoio das agências brasileiras: Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento
Tecnológico (CNPq-LCB), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/PPG em Genética,
Conservação e Biologia Evolutiva (INPA/GCBEv), FAPEAM (PRONEX - FAPEAM/CNPq
003/2009), Centro de Estudos de Adaptação a alterações ambientais na Amazônia (INCT –
ADAPTA/FAPEAM/CNPq 573976/2008-2), e Edital MCT/CNPq/MEC/CAPES/FNDCT-Acao
Transversal/FAPs nº 47/2010 (Rede BioPHAM).
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Capitulo II
Microdissecção cromossômica e análise evolutiva dos cromossomos sexuais em espécies de
Megaleporinus (Teleostei, Characiformes)
Lucas Caetano de Barros¹, Diovani Piscor2, Patricia Pasquali Parise-Maltempi
2, Eliana
Feldberg¹
¹Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Divisão do curso de Pós-Graduação em
Genética, Conservação e Biologia Evolutiva. Av. André Araújo, 2936, Petrópolis, Manaus,
Amazonas, Brazil. CEP: 69067-375. Phone: +559236433606. Fax +559236433344. E-mail:
[email protected]
2Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Instituto de Biociencias,
Departamento de Biologia. Av. 24A, 1515, Bela Vista, Rio Claro, São Paulo, Brazil. CEP:
13506-900. Phone: +1935264148 Fax: +1935264135.
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46
RESUMO
Em Anostomidae, apenas em algumas espécies de Megaleporinus foi evidenciado um sistema de
cromossomos sexuais do tipo ZZ/ZW e Z1Z1Z2Z2/Z1W1Z2W2, o que torna este gênero um modelo
interessante para estudo de cromossomos sexuais. O objetivo deste estudo foi isolar o
cromossomo W de Megaleporinus trifasciatus, ultilizando a microdissecção cromossômica para
confecção de sonda (WLt), seguida da pintura cromossômica. Hibridização cruzada (cross-FISH),
com sondas já existentes de M. macrocephalus (WMm) e M. elongatus (WMe) foram utilizadas
em outras espécies de Leporinus e em Semaprochilodus taeniurus, clado próximo de
Anostomidae. A sonda WMt em metáfase de fêmeas da própria espécie (M. trifasciatus)
evidenciou o braço longo do cromossomo W todo marcado e uma pequena marcação distal no
braço longo do cromossomo Z. Em machos, a marcação esteve presente no braço longo de ambos
cromossomos Z. A hibridização com as sondas WMe e WMm em fêmeas de M. trifasciatus
mostrou um padrão semelhante ao encontrado com a sonda WMt. As sondas WMt e WMm em
indivíduos machos e fêmeas das espécies Leporinus friderici e L. fasciatus não marcou nenhum
cromossomo do complemento. O mesmo resultado foi encontrado quando aplicamos estas duas
sondas em Semaprochilodus taeniurus (ZZ/ZW). As sondas WMt, WMm e WMe evidenciaram
grande similaridade entre as espécies do gênero Megaleporinus, que apresentam sistema sexual
ZZ/ZW, com pequenas alterações quando comparadas isoladamente. Entretanto, apesar da
proximidade filogenética entre as espécies e entre as famílias, as espécies que apresentam sistema
de cromossomos sexuais diferenciados possuem uma dinâmica evolutiva própria.
Palavras-chave: Cromossomos sexuais, microdissecção, cross-FISH
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47
INTRODUÇÃO
Ramirez et al. (2017), em sua mais recente revisão do gênero Leporinus, separou parte de
suas espécies, aquelas que apresentam sistema de cromossomos sexuais diferenciados, em um
novo gênero, Megaleporinus: M. obtusidens, M. reinhardti, M. macrocephalus, M. trifasciatus,
M. conirostris com sistema ZZ/ZW (Venere et al. 2004) e múltiplo do tipo
Z1Z1Z2Z2/Z1W1Z2W2 em M. elongatus(Parise-Maltempi et al. 2007; 2013). Leporinus sp.
(hoje Leporinus multimaculatus) também apresenta ZZ/ZW
O sistema de cromossomos sexuais múltiplos tem uma íntima relação com
heterocromatina constitutiva, sendo determinante para a diferenciação do cromossomo W (Parise-
Maltempi et al. 2007; 2013). Nestas espécies, o cromossomo W é um subtelocêntrico grande e
quase totalmente heterocromático. Já, o cromossomo Z tem apenas um terço distal do braço longo
heterocromático (Parise-Maltempi 2007).
Estudos realizados em M. trifasciatus e Leporinus multimaculatus demonstraram que os
cromossomos Z e W de da última espécie foram diferentes em sua morfologia e no padrão de
bandas, quando comparados aos sexuais das demais espécies, levando os autores a acreditar que
os cromossomos sexuais de Leporinus multimaculatus ainda se encontram em um estágio inicial
de diferenciação (Venere et al. 2004).
Mapeamento do cromossomo W em espécies do gênero Megaleporinus com
cromossomos sexuais heteromórficos (M. elongatus, M. macrocephalus, M. Obtusidens),
utilizando uma sequência de DNA altamente repetitivo (LeSpe I), mostrou sinais diferenciados
entre machos e fêmeas, sugerindo que esta sequência seja relacionada com a diferenciação deste
cromossomo (Marreta et al. 2012).
Um outro estudo em anostomídeos, utilizando a pintura cromossômica a partir da sonda
do W microdissectado, comparou espécies com e sem sistema de cromossomos sexuais
diferenciados, o que evidenciou completa marcação dos Ws nas fêmeas, e de quase todos os Zs
nos machos, sugerindo uma origem comum dos cromossomos sexuais pelo menos para três
espécies: M. elongatus, M. macrocephalus e M. obtusidens. Entretanto, os autores acreditam que
o sistema de cromossomos sexuais em M. elongatus encontra-se em um estágio evolutivo
diferenciado em relação às demais espécies. Isto porque, M. elongatus não compartilha as
mesmas sequências repetitivas das espécies que possuem cromossomos sexuais Z e W. Já, a
aplicação da sonda do W microdissectado nas espécies que não apresentam cromossomos sexuais
diferenciados (L. friderici, L. striatus, L. lacustris, Schizodon borelii e S. isognathus) não
evidenciou nenhuma marcação (Parise-Maltempi et al. 2013).
A técnica de pintura cromossômica tipicamente envolve o uso de sondas cromossomo-
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específicas em experimentos de hibridização in situ fluorescente (FISH) no genoma da espécie
alvo ou em outras espécies (Cross-FISH) (Ferguson-Smith et al. 1998). Nesses estudos, sondas
foram obtidas por microdissecção cromossômica e mostraram-se ferramentas úteis para análises
moleculares e testes de homeologia de cromossomos sexuais ou supranumerários (Liu et al.
2002; Yi et al. 2003).
A hipótese de acúmulo de elementos repetitivos, como a principal via de diferenciação
dos cromossomos sexuais em Anostomidae é amplamente aceita (Nakayama et al. 1994).
Segundo Silva et al. (2013), os elementos repetitivos são diferentes entre algumas espécies e eles,
provavelmente, foram responsáveis pela origem recente de um sistema cromossômico sexual
múltiplo do tipo Z1Z1Z2Z2/Z1W1Z2W2 em M. elongatus (Parise-Maltempi et al. 2007). No
entanto, se o aumento de segmentos heterocromáticos pelo acúmulo de DNA repetitivo é a causa
ou a consequência da origem dos cromossomos sexuais, ainda não está claro e o entendimento da
evolução deste sistema de cromossomos sexuais em Megaleporinus e Leporinus continua
incipiente.
Entre as espécies de Anostomidae que ocorrem na Amazônia, até agora, apenas M.
trifasciatus apresentou um sistema sexual heteromórfico do tipo ZZ/ZW. Assim, o objetivo do
presente trabalho foi utilizar sondas específicas, obtidas pela microdissecção manual do W e
hibridização in situ fluorescente cruzada (cross-FISH), para verificar a similaridade da sequência
do W de M. trifasciatus com a demais espécies que não apresentam cromossomos sexuais
diferenciados. Ainda, com sondas obtidas de outras espécies com sistema ZZ/ZW verificar a
similaridade entre os diferentes Ws. Deste modo, o presente trabalho acrescenta mais uma sonda
de cromossomo W, para ser aplicada no estudo da evolução dos sistemas de determinação
cromossômica de sexo em Anostomidae.
MATERIAL E MÉTODOS
No presente estudo foram utilizadas sondas pré-existentes de Megaleporinus
macrocephalus (antigo Leporinus macrocephalus), coletada no rio Paraguai-MT e de M.
elongatus (antigo Leporinus elongatus), coletada no rio Mogi-Guaçu, Pirassumunga-SP, e foi
obtida sonda do W de Megaleporinus trifasciatus (antigo Leporinus trifasciatus), coletada na
região de confluência entre os rios Negro e Solimões –AM. Estas sondas foram mapeadas sobre
sua própria espécie, uma sobre a outra, sobre espécies que não possuem cromossomos sexuais
diferenciados e sobre Semaprochilodus taeniurus (Prochilodontidae), que tem um sistema
ZZ/ZW, coletada na região de confluência entre os rios Negro e Solimões – AM.
Os exemplares de Megaleporinus trifasciatus (15 machos e 5 fêmeas) foram coletados na
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49
região de confluência dos rios Negro e Solimões – AM; L. fasciatus (5 machos e 2 fêmeas) e L.
friderici (4 machos e 3 fêmeas) foram coletadas na bacia do rio Tapajós – PA, sob a licença do
SISBIO No. 28.095-1 para Eliana Feldberg.
Os indivíduos foram eutanasiados com óleo de cravo e os cromossomos mitóticos foram
obtidos a partir de células renais, segundo protocolo de Bertollo et al. (2015). Os peixes foram
numerados, identificados, fixados e depositados na coleção de peixes do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia (INPA), sob os números: INPA-ICT 053210, INPA-ICT 053211, INPA-
ICT 053212, INPA-ICT 053213, INPA-ICT 053214, INPA-ICT 053215, INPA-ICT 053216,
INPA-ICT 053217, INPA-ICT 053218.
Microdissecção cromossômica e amplificação de DNA
A microdissecção foi realizada, utilizando um microscópio modelo Eppendorf
TransferMan NK 2 (Eppendorf) acoplado a um microscópio Zeiss Axiovert 40 CFL, com agulhas
de vidro feitas com um puxador Nikon e esterilizado por radiação UV. De 8-12 cromossomos
foram colocados separadamente em 9µL de água ultrapura DNAse-free e foram então
amplificados usando o GenomePlex Single Cell Whole Kit Genome Amplification (WGA4-
Sigma), seguindo o protocolo do fabricante.
As lamínulas foram incubadas em solução de SDS 10% a temperatura ambiente por 60
dias. Após, as lamínulas foram lavadas com água destilada autoclavada, e com a lamínula ainda
úmida a suspensão cromossômica foi acondicionada sobre estas. As lamínulas foram lavadas em
solução de PBS 1x durante 1 minuto, e incubadas numa solução de tripsina (35 mL de PBS 1x e 5
mL de tripsina) durante 30 segundos, lavadas novamente em PBS 1x e coradas com Giemsa a 1%
em PBS (Yang 2009).
Hibridização in situ fluorescente (FISH)
As sondas foram marcadas com o GenomePlex (WGA3 reamplification KIT-Sigma),
seguindo o protocolo do fabricante, exceto que a mistura de dNTPs do kit foi mudada para uma
mistura de ½ T de dNTPs e adicionando digoxigenina-11-dUTP (Roche) na reação.
A FISH foi realizada segundo o protocolo descrito por Rens et al. (1999; 2006) com
várias modificações. As lâminas com preparações citogenéticas foram tratadas com RNAse (20
ng/μL) por 1 hora a 37 °C e desidratadas em uma série de etanol (70%, 90% e 100%). Os
cromossomos foram desnaturados em formamida 70% em 2x citrato salino de sódio (SSC) a 70
°C durante 2 minutos e desidratados em série de etanol gelada. 3 μl de sonda marcada de L.
trifasciatus foram acicionados em 12 μL de tampão de hibridação (7,5 μL de formamida, 1,5 μL
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50
de 20xSSC e 3 μL de sulfato de dextrano a 50%). Esta mistura foi desnaturada durante 10
minutos a 65 °C com pré-hibridação a 37 °C durante 1 hora, e aplicada em cada lâmina. A
hibridização foi realizada a 37 °C durante 15 horas para as mesmas espécies e com duas noites
para experiências de espécies cruzadas. As lavagens pós-hibridização foram realizadas em 50%
de formamida em 2xSSC duas vezes durante 5 minutos cada, seguido de 1xSSC duas vezes
durante 5 minutos cada, e 4xSSC com 0,05% de Triton 100x (4XT) uma vez durante 4 minutos a
42 °C para a mesma espécie e 45 °C para as espécies cruzadas. A detecção da sonda foi realizada
usando o anticorpo anti-digoxigenina-rodamina (Roche) durante 1 hora a 37 °C. Após a detecção,
as lâminas foram lavadas três vezes em 4XT durante 3 minutos cada a 42 °C e montadas em meio
de montagem Vectashield com 4',6- diamidino-2-fenilindole (DAPI; Vector).
As imagens foram capturadas e processadas, utilizando o software DP Controller e uma
câmara digital (Olympus modelo D71) acoplada a um microscópio Olympus BX51.
RESULTADOS
FISH com a sonda W de Megaleporinus trifasciatus (WMt)
A sonda WMt em metáfases de fêmeas da própria espécie (Megaleporinus trifasciatus)
evidenciou o braço longo do cromossomo W todo marcado e uma pequena marcação distal no
braço longo do cromossomo Z (Figura 1a). Em indivíduos machos de M. trifasciatus a mesma
marcação distal no braço longo do cromossomo Z foi evidenciada (Figura 1b).
A hibridização, utilizando as sondas W de Megaleporinus elongatus (WMe) e de
Megaleporinus macrocephalus (WMm), em fêmeas de M. trifasciatus mostrou um padrão
semelhante ao encontrado pela sonda homóloga (WMt) (braço longo do cromossomo W todo
marcado e uma pequena marcação no braço longo do cromossomo Z) (Figura 1c, e). Nos
indivíduos machos de M. trifasciatus estas sondas (WMe e WMm) também mostraram sinais
similares aos da sonda WMt (Figura 1d, f).
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51
Figura. 1 Metafases de Megaleporinus trifasciatus analisadas por cross-FISH com sonda WMt,
WMm e WMe e contracoradas com DAPI.
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52
A aplicação das sondas WMt e WMm em indivíduos machos e fêmeas das espécies L.
friderici e L. fasciatus não marcou nenhum cromossomo do complemento (Figura 2 c, d, e,
f). O mesmo resultado foi encontrado quando aplicamos estas duas sondas em
Semaprochilodus taeniurus (ZZ/ZW) pertencente à família Prochilodontidae, grupo-irmão
de Anostomidae (Figura 2 g, h).
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53
Figura. 2 Metafase de Megaleporinus trifasciatus (a-b), L. fasciatus (c-d), L. friderici (e-f)
e Semaprochilodus taeniurus (g-h) analisadas por cross-FISH com sonda WMt, WMm e
WMe e contrastadas com DAPI.
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54
DISCUSSÃO
A evolução de cromossomos sexuais em peixes tem sido discutida extensamente e vem
sendo sugerido que os diferentes sistemas são resultado de rearranjos estruturais, como
inversões, translocações, duplicações e mesmo adição de heterocromatina (Ayling e Griffin
2002). Entretanto, cromossomos sexuais diferenciados apresentam uma distribuição muito
peculiar entre as espécies de peixes. O mesmo sistema pode ser encontrado em todas as espécies
de um grupo, como é o caso do sistema ZZ/ZW que é encontrado em todas as espécies de
Triportheus (Artoni 1999) e o sistema ZZ/ZW descrito em 10 espécies do novo gênero
Megaleporinus, criado a partir de Leporinus para abrigar as espécies com sistema de
cromossomos sexuais diferenciados e também o sistema múltiplo Z1Z
1Z
2Z
2/Z
1W
1Z
2W
2 (Parise-
Maltempi et al 2007; Ramirez et al. 2017).
A maioria das ocorrências, no entanto, é esporádica, como em Semaprochilodus
taeniurus, onde cromossomos sexuais diferenciados estão presentes apenas nesta espécie
(Feldberg et al. 1987; Terencio et al. 2013). O aspecto mais interessante da distribuição de
sistemas de cromossomo sexual em peixes é que nessas ocorrências esporádicas, sistemas
diferentes, por exemplo heterogeneidade masculina e feminina, sistemas simples e múltiplos,
podem ser encontrados em espécies do mesmo gênero, estreitamente relacionadas, ou em
diferentes populações da mesma espécie. Tal é o caso de Eigenmannia (Almeida-Toledo e
Foresti 2001) e de Hoplias (Bertollo et al. 2000). Ainda, podem ser encontrados cromossomos
sexuais em estágios iniciais de diferenciação (Venere et al. 2004; Parise-Maltempi et al. 2013).
Nas espécies de Leporinus e Megaleporinus, o cromossomo W é facilmente reconhecido,
por ser o maior cromossomo do complemento, com grande acúmulo de heterocromatina (Galetti
et al. 1981; Venere et al. 2004; Parise-Maltempi et al. 2007).
Devido à morfologia muito similar dos cromossomos sexuais encontrados nas espécies
de Leporinus e Megaleporinus, uma hipótese sugerida foi que eles teriam uma origem comum, a
partir do acúmulo de heterocromatina, como o primeiro passo da diferenciação (Galetti e Foresti
1986). É fato que, quando as sondas de W obtidas de M. trifasciatus, M. elongatus, M.
macrocephalus e M. obtusidens são cruzadas, elas apresentam grande similaridade de
sequências com os outros cromossomos W, reforçando a hipótese de que o sistema sexual
encontrado em espécies de Megaleporinus (antigos Leporinus) tiveram uma origem comum
(Parise-maltempi et al. 2013). Entretanto, o cromossomo W de Leporinus multimaculatus
(antigo Leporinus sp2) foi uma exceção, onde o cromossomo W apresenta um ganho
diferenciado de novos blocos de heterocromatina. O aparecimento destes blocos
heterocromáticos no W sugerem fortemente a presença de um tipo diferente de cromatina, sem
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55
homologia com cromossomo Z, sendo ambos cromossomos (Z e W) similares aos autossomos,
sugerindo uma origem independente nesta espécie (Verene et al. 2004).
Um fato a ser observado em nossos resultados é que a sonda do cromossomo W de M.
trifasciatus (WMt) marca apenas o braço longo no cromossomo W e um pequeno sítio no
cromossomo Z. O mesmo padrão ocorre, quando utilizamos as sondas WMe e WMm na espécie
M. trifasciatus, porém, o padrão de marcação da sonda WMe apresenta uma configuração
diferenciada em relação as demais sondas, sendo que, ambas evidenciando a marcação do
cromossomo Z em machos.
Outros resultados foram encontrados, utilizando a sonda WMe contra cromossomos de
fêmeas M. elongatus, M. macrocephalus e M. obtusidens pintando todo o cromossomo W de
ambas as espécies, bem como uma grande parte do cromossomo Z em M. macrocephalus. Em
indivíduos machos de M. macrocephalus, a sonda WMe marcou quase todo os dois
cromossomos Z, em machos de M. obtusidens foram observados sinais na região subtelomérica
(Parise-maltempi et al. 2013). Megaleporinus trifasciatus possui uma diversificação mais antiga
do ancestral comum com as demais espécies que apresentam sistema de cromossomo sexual
diferenciado, exceto M. muyscorum, sendo assim, todas as outras espécies têm um ancestral
comum mais recente entre si, do que com L. trifasciatus (Ramirez et al. 2016; 2017). Neste
trabalho, observamos que existem regiões específicas e diferenciadas no sistema de
cromossomos sexuais de M. trifasciatus, quando comparamos com as demais espécies
analizadas com a mesma técnica e sondas. Assim, fica evidente que este sistema sexual
encontra-se em um estágio disjunto de diferenciação daqueles das outras espécies de
Megaleporinus, o que nos leva a sugerir tempos evolutivos diferentes na diferenciação do
sistema de cromossomos sexuais neste novo gênero. Parise-Maltempi et al. (2007) descreveram
a presença de um novo sistema múltiplo de cromossomos sexuais em M. elongatus (antigo L.
elongatus), o que reforça a ideia acima mencionada de tempos evolutivos diferentes dos
cromossomos sexuais em Megaleporinus.
As sondas WMt e WMm nas espécies L. friderici, L. fasciatus (sem cromossomos
sexuais diferenciados), Semaprochilodus taeniurus (ZZ/ZW), descartam a hipótese de
cromossomos sexuais em estágios iniciais de deferenciação ou que pudessem estar
compartilhando sequências do W de M. trifasciatus ou de M. macrocephalus. Resultado similar
foi observado por Parise-Maltempi et al. (2013), quando utilizaram sequências WLm ou WLe
(hoje WMm e WMe) nas espécies: Leporinus friderici, L. striatus, L. lacustris, Schizodon
borelii e S. isognathus, ou seja não encontraram cromossomos que compartilhassem tais
sequências. Os autores acreditam que esses cromossomos sexuais poderiam ter se originado dos
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56
mesmos autossomos, mas em uma dinâmica evolutiva própria.
Nós autores deste trabalho, acreditamos que independente da criação desse novo gênero
Megaleporinus, a relação entre as espécies que antes faziam parte de Leporinus, exista uma forte
relação do surgimento deste sistema de cromossomo sexual em Leporinus e Megaleporinus.
Considerando que, dentro de Anostomidae, Leporinus é o que apresenta o maior número de
espécies (Britski e Birindelli 2013), com menos da metade delas analisadas citogeneticamente, e
pelo menos um tipo de sistemas de cromossomos sexuais diferenciados ZZ/ZW (Venere et al.
2004), existe há necessidade de novos estudos citogenéticos, para revelar a real diversidade
cromossômica para Leporinus. Ramirez et al. (2017) com base em características morfológicas,
citogenéticas e moleculares criaram um novo gênero Megaleporinus, onde muitas espécies que
pertenciam a Leporinus foram incluidas neste novo gênero, incluido a grande maiorida das
espécies que apresentam sistema de cromossomo sexual diferenciado ZZ/ZW e
Z1Z1Z2Z2/Z1W1Z2W2 (Galetti et al. 1984; Parise-Maltempi et al. 2007).
A microdissecção cromossômica aliada à pintura cromossômica formam uma poderosa
ferramenta nos estudos citogenéticos, onde é possível delinear regiões cromossômicas
homeólogas entre espécies estreitamente relacionadas e também distantes (Nanda et al. 2011).
Diante dos diferentes mecanismos de determinação de sexo em peixes, o sistema cromossômico
sexual em Leporinus e Megaleporinus parece ser conservado e ter derivado de um ancestral
comum. Provavelmente, os cromossomos sexuais são diferentes, mas os diferentes
cromossomos W poderiam ter sido invadidos com as mesmas sequências repetitivas.
Os resultados aqui apresentados, utilizando Leporinus e Megaleporinus como modelo,
reforçam a hipótese de que os cromossomos sexuais ZW destes gêneros são encontrados apenas
em espécies estreitamente relacionadas.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Dr. Jansen A. Zuanon por identificar os espécimes. À Dra. Patricia
Parise-Maltempi por ceder o laboratório para as análises de microdissecção. Ao Dr. Diovani
Piscor por ter auxiliado na técnica de microdissecção. Este estudo contou com o apoio das
agências brasileiras: Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (CNPq-
LCB), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/Genética, Conservação e Biologia
Evolutiva (INPA/DIGEN), FAPEAM (PRONEX - FAPEAM/CNPq 003/2009), Centro de
Estudos de Adaptação a alterações ambientais na Amazônia (INCT ADAPTA, FAPEAM/CNPq
573976/2008-2), e Edital MCT/CNPq/MEC/CAPES/FNDCT-Acao Transversal/FAPs nº
47/2010 (Rede BioPHAM).
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57
CAPITULO III
Mapeamento cromossômico de elementos transponíveis Rex1 e Rex3 em oito espécies da
Família Anostomidae (Characiformes): sua interação com heterocromatina
Lucas Caetano de Barros¹, Eliana Feldberg¹
¹Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Programa de Pós-Graduação em
Genética, Conservação e Biologia Evolutiva. Av. André Araújo, 2936, Petrópolis, Manaus,
Amazonas, Brazil. CEP: 69067-375. Phone: +559236433606. Fax +559236433344. E-mail:
[email protected]
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58
RESUMO
Os elementos transponíveis (ETs) têm o potencial de produzir mudanças nos genomas de seus
hospedeiros, atuando como um dispositivo evolutivo capaz de gerar uma coleção de novas
sequências reguladoras e codificadoras. Neste cenário, composto pelos ETs, a família
Anostomidae se apresenta como um modelo interessante para estudo destes elementos, uma vez
que, suas espécies apresentam grandes segmentos heterocromáticos, existindo aqueles
relacionados a cromossomos sexuais, os quais são restritos a algumas espécies de Leporinus e
Megaleporinus e os relacionados aos autossomos. Assim, o mapeamento cromossômico dos
elementos retrotransponíveis Rex1, Rex3 e Rex6 foi realizado em oito espécies de Anostomidae,
com o objetivo de entender a organização genômica de ET relacionada com heterocromatina e
com o sistema de cromosomos sexuais ZW de M. trifasciatus. Os elementos Rex1 e Rex3
apresentaram diferentes padrões de hibridização, enquanto o elemento Rex6 não foi identificado
no genoma de nenhuma das espécies. As oito espécies apresentaram clusters de Rex1 nas regiões
terminais mas, sinais foram dispersos em todo o cromossomo. Leporinus fasciatus e Rhythiodus
microlepis apresentaram marcações pericentroméricas. Os sinais de Rex3 foram encontrados
principalmente em posição terminal em quase todos os cromossomos de todas as espécies. No
cromossomo W de M. trifasciatus o sinal de Rex1 e Rex3 foram evidenciados em todo braço
longo. Esses resultados sugerem diferentes níveis de atividade dos ETs, durante a evolução das
espécies analisadas. Apesar da clara e conservada macroestrutura cromossômica em
Anostomidae, muitas vezes discutida, nossos resultados mostram variações nos padrões de
hibridização, particularmente entre as espécies com padrões específicos em seus cromossomos
sexuais e espécies sem esse sistema diferenciado.
Palavras-chave: Elementos transponíveis, FISH, sequências repetitivas, cromossomo sexual
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59
INTRODUÇÃO
Os Elementos transponíveis (ETs) são capazes de desempenhar papéis importantes na
evolução do genoma (Kidwell e Lisch 2000; Ozouf-Costaz et al. 2004), agindo como um
importante indutor evolutivo, gerando uma gama de novas regiões regulatórias e sequências
codificantes (Volff 2006; Bourque et al. 2008). O número de suas cópias pode aumentar
rapidamente por retrotransposição e servir como substrato para recombinações homólogas, em
várias categorias de rearranjos de DNA, incluindo deleções, inversões, translocações,
duplicações e amplificações (Ozouf-Costaz et al. 2004; Grabundzija et al. 2016). O
conhecimento da origem e função desses elementos e de seu papel na estrutura e organização
dos cromossomos, no genoma dos peixes teleósteos, ainda é escasso e fragmentado (Ferreira et
al. 2011).
Os ETs podem alterar ou interromper a expressão de genes, promovendo a variação
populacional (Akagi et al. 2008) e, possivelmente, uma adaptação rápida (Stapley et al. 2015).
Eles têm o potencial de gerar biodiversidade, transições evolutivas por mutações e domesticação
molecular (Blass et al. 2012). O potencial evolutivo da variação derivada de ETs tem sido
postulado como a hipótese epi-transposon e, de acordo com esta hipótese, mecanismos de
regulação epigenética (interferência de RNA, metilação do DNA e modificações de histonas)
suprimem a mobilização do ET. No entanto, o estresse fisiológico, induzido pela mudança
climática ou invasão de novos habitats, interrompe a regulação epigenética e desencadeia a
atividade de ETs (Zeh et al. 2009), sendo esta fortemente influenciada por fatores ambientais e
ecológicos. De fato, os eventos de especiação muitas vezes se correlacionam com a expansão de
novas famílias de ET (Jurka et al. 2011; Oliver e Greene 2011), sugerindo que ETs podem servir
como força motora para a adaptação, diversificação e especiação, gerando diversidade genômica
estrutural entre populações (Rebollo et al. 2012).
Eventualmente, ETs podem ser transferidos entre espécies isoladas reprodutivamente,
pela transferência horizontal, independente da clássica herança de pais para prole, e também
desempenha papel importante na diversidade genômica entre espécies (Schaack et al. 2010).
Duas classes de elementos transponíveis (ETs) são reconhecidas entre vertebrados:
retrotransposons e transposons. A primeira classe, os retrotransposons, se move através do
genoma pela ação da transcriptase reversa, uma enzima que pode promover a síntese de uma
cadeia de DNA a partir de um iniciador de RNA. A segunda classe, os transposons, inclui todos
os que são transpostos diretamente de DNA para DNA, sem outra molécula intermediária (Levin
e Moran 2011). Os retrotransposons podem ser agrupados de acordo com a presença ou ausência
de longas repetições terminais (LTR long terminal repeats). As LTRs são necessárias para a
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60
transcrição e integração do cDNA, depois da transcrição reversa, sendo que são encontradas na
sequência dos LTRs, domínios para proteinase, integrase, transcriptase reversa e RNAse. Os
retrotransposons não-LTRs utilizam promotores internos para a sua transposição e codificam
uma transcriptase reversa e uma RNAse, sendo também conhecidos como LINES (long
interspersed elements) ou retrotransposons TP (target-primed). Além disso, dentro da categoria
dos não-LTRs, existem também os SINES (short interspersed nucleotide elements), que não
codificam a maquinaria enzimática necessária para a transposição, mas obtém esta
provavelmente por meio dos elementos LINES (Böhne et al. 2008).
Os peixes contêm todos os tipos conhecidos de elementos transponíveis em seu genoma
(Volff et al. 2003), sendo que alguns deles foram mapeados ao nível dos cromossomas. Volff et
al. (2001a) descrevem alguns dos elementos transponíveis da classe dos retrotransposons (LTR)
mais estudados em peixes (Tyt/Gypsy, Ty1/copy, DIRS1 e o BEL). Esses retrotransposons
descritos acima incorporam até 10 elementos que apresentam dados em relação à localização em
cromossomos de peixes. Entre estes estão os elementos Rex (Rex1, Rex3 e Rex6), que são
elementos retrotransponíveis, caracterizados pela primeira vez no genoma do peixe Xiphophorus
maculatus e parece ser o mais abundante em diferentes teleósteos (Volff et al. 2001b).
Em Characiformes, pouco é conhecido sobre a organização do retrotransposon Rex,
sendo que para a família Anostomidae, os dados disponíveis são apenas de seis espécies de
Leporinus e Megaleporinus (M. elongatus antigo L. elongatus, M. macrocephalus antigo L.
macrocephalus, M. obtusidens antigo L. obtusidens, L. friderici, L. lacustris, L. striatus) (Borba
et al. 2013).
Estudos em outros peixes apresentaram uma diversidade de padrões de distribuição para
esses elementos, como em Erythrinidae (Cioffi et al. 2010a), Cichlidae (Mazzuchelli e Martins
2009; Gross et al. 2009; Valente et al. 2011; Schneider et al. 2013), Tetraodontidae (Bouneau et
al. 2003) e Loricariidae (Ferreira et al. 2011). Valente et al. (2011) mapearam os retroelementos
Rex1, Rex3 e Rex6 em oito espécies de ciclídeos e notaram uma deposição desses elementos na
região pericentromérica dos cromossomos. Outros estudos mostram também a preferência
desses retroelementos pelas regiões heterocromáticas (da Silva et al. 2002; Fischer et al. 2004),
regiões que normalmente podem acumular mais mutações sem sofrer grandes consequências.
Acredita-se que estes elementos transponíveis e retrotransponíveis estão envolvidos com
a diferenciação cromossômica sexual em alguns grupos, tais como Cyprinodontiformes (Volff et
al. 2000; Böhne et al. 2012) e Characiformes (Marreta et al. 2012; Terencio et al. 2012). Em
Semaprochilodus taeniurus, Terencio et al. (2012) observaram um aumento significativo no
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tamanho do cromossomo W, devido o acúmulo de sequências repetidas de DNA, nas quais foi
encontrado Rex1.
Borba et al. (2013) analisaram três espécies de Leporinus, L. friderici, L. lacustris e L.
striatus e três espécies de Leporinus, L. elongatus, L. macrocephalus, L. obtusidens, (atuais M.
elongatus, M. macrocephalus, M. obtusidens) que apresentam sistema de cromossomos sexuais
do tipo ZZ/ZW, e evidenciaram marcações terminais e intersticiais nos braços longos do
cromossomo W, utilizando sondas Rex1 e Rex3. Os autores relatam que o padrão de distribuição
de elementos transponíveis não é aleatório e está relacionado com as características específicas
dos diferentes sitios no genoma. Hoje, sabe-se que L. elongatus (atual M. elongatus) apresenta
um sistema de cromossomos sexuais multiplo (Parise-Maltempi et al. 2007).
Assim, informações sobre o mapeamento físico cromossômico torna-se indispensável
para se conhecer a diversidade genética destes retroelementos e análises comparativas, entre
espécies são de particular interesse para o entendimento da dinâmica dos retroelementos na
evolução genômica dos anostomídeos amazômicos. No presente trabalho avaliamos a
organização genômica dos retrotransposons não-LTR Rex1, Rex3 e Rex6 em oito espécies de
anostomídeos, por meio do mapeamento físico cromossômico, o que permitiu o entendimento de
como estes retroelementos se comportam no genoma deste grupo de peixes.
MATERIAL E MÉTODOS
No presente estudo foram analisados 86 exemplares (machos e fêmeas), de 8 espécies de
Anostomidae, coletados na região amazônica (Figura 1 pag.16), sob a licença cedida pelo
SISBIO No. 28.095-1 para Eliana Feldberg.
Os indivíduos foram anestesiados em óleo de cravo e, então, os cromossomas mitóticos
foram obtidos a partir de células renais, segundo protocolo de Bertollo et al. (1978). Os peixes
foram numerados, identificados, fixados e depositados na coleção de peixes do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), sob os números: INPA-ICT 053210, INPA-ICT
053211, INPA-ICT 053212, INPA-ICT 053213, INPA-ICT 053214, INPA-ICT 053215, INPA-
ICT 053216, INPA-ICT 053217, INPA-ICT 053218.
O DNA total foi extraído do tecido muscular, utilizando o protocolo de fenol-
clorofórmio descrito por Sambrook et al. (1989) e quantificado em espectrofotômetro NanoVue
Plus (GE Healthcare). A reação em cadeia da polimerase (PCR) foi realizada, utilizando os
primers RTX1-F1 (5’-TTC TCC AGT GCC TTC AAC ACC-3’) e RTX1-R1 (5’- TCC CTC
AGC AGA AAG AGT CTG CTC-3’) para amplificacao do segmento que corresponde ao gene
da transcriptase reversa do Rex1 (Volff et al. 2000); os primers RTX3-F3 (5’-CGG TGA YAA
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62
AGG GCA GCC CTG-3’) e RTX3-R3 (5’-TGG CAG ACN GGG GTG GTG GT-3’) para
amplificar a região que codifica o gene da transcriptase reversa do retrotransposon Rex3 (Volff
et al. 1999); e os primers Rex6-Medf1 (5’-TAA AGC ATA CAT GGA GCG CCA C-3’) e
Rex6-Medr2 (5’-GGT CCT CTA CCA GAG GCC TGG G-3’) para amplificar a parte C-
terminal da endonuclease do retrotransposon Rex6 (Volff et al. 2001a).
As reacoes de PCR foram realizadas em um volume final de 25 μL contendo DNA
genômico (200 ng), tampão 10x com 1,5 mM de MgCl2, Taq DNA polimerase (5 U/μL), dNTPs
(1 mM), par de primers (5 mM), e água Milli- Q. Os perfis das reações para o Rex1, Rex3, e
Rex6 incluem os seguintes passos: 95 °C por 5 min; 35 ciclos de 95 °C por 1 min, 55 °C por 40
s, e 72 °C por 2 min; seguidos por uma extensão final de 72 °C por 5 min. Os produtos de PCR
foram checados em gel de agarose 1,7%, quantificados em espectrofotômetro NanoVue Plus
(GE Healthcare) e utilizados como sondas para a FISH. As imagens foram capturadas e
processadas, utilizando o software DP Controller e uma câmara digital (Olympus modelo D71)
acoplada a um microscópio Olympus BX51.
RESULTADOS
Mapeamento cromossômico do elemento Rex1
A análise de hibridização in situ fluorescente (FISH), utilizando os fragmentos de PCR
do elemento Rex1 como sonda, detectou blocos conspícuos, com variação no número de
cromossomos marcados e na posição dos blocos sobre os mesmos, nas 8 espécies analisadas
(Figuras 1, 2 e 3).
A maioria dos aglomerados estiveram dispersos em quase todos os cromossomos, em
posição terminal, independente do sexo do peixe e do tipo de água, de onde foi coletado (preta,
branca, clara), exceto L. fasciatus (Figura 1c) e R. microlepis (Figura 3 f), que apresentaram
marcações pericentroméricas.
Algumas espécies M. trifasciatus (Figura 1a-b), L. fasciatus (Figura 1d,e), L.
uatumaensis (Figura 2 c), A. laticeps (Figura 3a-b) e Laemolyta taeniata (Figura 3 e-f)
apresentaram três tipos de marcações: telomérica, centromérica e pericentromérica.
Em um pequeno grupo de cromossomos das espécies L. fasciatus, L. friderici, L.
uatumaensis e S. fasciatus não foi evidenciada nenhuma marcação pela sonda Rex 1 (Figura 1, 2
e 3).
Nos cromossomas sexuais W e Z de M. trifasciatus foram evidenciadas marcações por
todo o braço longo (Figura 1a-b).
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O menor número de cromossomos marcados foi visto em L. friderici e L. uatumaensis
(Figura 2) e o maior número de marcações foi visto em M. trifasciatus L. fasciatus (Figura 1), A.
laticeps, R. microlepis e S. fasciatus (Figura 3), respectivamente.
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Figura. 1 Metafase de Megaleporinus trifasciatus (a-b Catalão), L. fasciatus (c: rio Tapajós, d:
rio Negro, e: rio Uatumã, f: rio Purus), L. friderici (g: rio Tapajós, h: rio Purus), e L.
uatumaensis (i: rio Uatumã) analisadas por sonda Rex1 e contrastadas com DAPI.
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Figura. 2 Metafase de Leporinus. friderici (g: rio Tapajós, h: rio Purus), e L. uatumaensis (i:
rio Uatumã) analisadas por sonda Rex1 e contrastadas com DAPI.
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Figura. 3 Metafase de Anostomoides laticeps (a: rio Uatumã, b: rio Negro), S. fasciatus (c:
Catalão, d: rio Uatumã), Laemolyta taeniata (e: rio Uatumã e rio Negro) e R. microlepis (f
Catalão), analisadas por sonda Rex1 e contrastadas com DAPI.
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67
Mapeamento cromossômico do elemento Rex3
A FISH, utilizando os fragmentos de PCR do elemento Rex3 como sonda, detectou um
padrão de mapeamento similar em todas as espécies (Figura 4, 5 e 6). Os aglomerados de ET
estiveram presentes nas regiões terminais de quase todos os cromossomos, e alguns estiveram
dispersos nos braços curtos e longos, independente do sexo e do tipo de água.
Também foi observado um pequeno grupo de cromossomos não marcados pela sonda, nas
espécies L. fasciatus (Figura 4 d), L. friderici (Figura 5 a-b) e S. fasciatus (Figura 6 d).
Em M. trifasciatus, os cromossomos sexuais W e Z apresentaram sinais em posição
terminal e em regiões intersticiais do braço longo (Figura 4 a-b).
O menor número de cromossomos marcados foi em L. friderici da água clara (Figura 5 a)
e o maior número de marcações foi em Laemolyta taeniata (Figura 6 e), A. laticeps (Figura 6 a) e
S. fasciatus (Figura 6 c) respectivamente.
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68
Figura. 4 Metafase de Megaleporinus trifasciatus (a-b Catalão), L. fasciatus (c: rio
Tapajós, d: rio Negro, e: rio Uatumã, f: rio Purus), analisadas por sonda Rex3 e
contrastadas com DAPI.
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Figura. 5 Metafase de L. friderici (a: rio Tapajós, b: rio Purus) e L. uatumaensis (c:
rio Uatumã), analisadas por sonda Rex3 e contrastadas com DAPI.
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Figura. 6 Metafase de Anostomoides laticeps (a: rio Uatumã, b: rio Negro), S. fasciatus (c:
Catalão, d: rio Uatumã), Laemolyta taeniata (e: rio Uatumã e rio Negro) e R. microlepis (f
Catalão), analisadas por sonda Rex3 e contrastadas com DAPI.
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71
Mapeamento cromossômico do elemento Rex6
A FISH, utilizando os fragmentos de PCR do elemento Rex6 como sonda, não detectou
nenhum sinal em nenhuma das espécies.
DISCUSSÃO
No nível mais básico de investigação, a porcentagem de elementos transponíveis (ETs)
no genoma de vertebrados pode variar de 6 a 60%, sendo que os principais tipos de ET já
descritos em eucariotos, estão presentes nos peixes (Chalopin et al. 2014, Sotero-Caio et al.
2017).
Sabe-se que os ETs podem se acumular em regiões distantes de genes (tais como em
heterocromatina ou regiões intergênicas) ou perto de genes (Kidwell 2005). Geralmente, esse
padrão de distribuição não é aleatório e parece ter alguma relação com características
específicas de sub-regiões dos genomas hospedeiros (Kidwell e Lisch 2000).
No presente estudo, as oito espécies (Tabela 1 pag. 17 ) apresentaram sinais de
hibridização com clusters de Rex1 e Rex3 compartimentalizados, mas também, pode-se
distinguir clusters em regiões terminais e/ou centroméricas. Estes padrões já foram observados
em espécies de Bryconinae (Silva 2012), de Erythrinidae (Cioffi et al. 2010b), de
Sternopygidae (Sene 2011), de Artedidraconidae (Ozouf-Costaz et al. 2004), Loricariidae
(Ferreira et al. 2011), Pimelodidae (Matoso et al. 2005) e Tetraodontidae (Fischer et al. 2004),
exceto em espécies da família Cichlidae, onde os elementos Rex estiveram distribuídos nas
regiões pericentroméricas (Mazzuchelli e Martins 2009; Schneider et al. 2013).
Borba et al. (2013) verificaram que sequências de Rex1 e Rex3 em espécies de
anostomídeos, que geraram sequências de 456-500 pares de bases e 411-429 pares de bases,
respectivamente, foram semelhantes às de outros grupos de peixes, incluindo peixes da
Antártica (Ozouf-Costaz et al. 2004) e ciclídeos (Teixeira et al. 2009). Isso foi confirmado pela
análise BLASTn, onde as sequências Rex1 e Rex3 compartilharam alta similaridade com as de
outros grupos de peixes, o que demonstra que esses elementos são conservados.
O movimento e acúmulo de ETs têm uma grande influência nos genomas, e está claro
que eles fazem parte do conjunto de ferramentas reguladoras, que desempenham papéis
importantes no controle da expressão gênica (Brookfield 2005; Slotkin e Martienssen 2007),
causando, em alguns casos, perda ou ganho de sequências e rearranjos cromossômicos
(Biémont e Vieira 2006).
A correlação entre rearranjo cromossômico e atividade do retrotransposon foi relatada
por Ozouf-Costaz et al. (2004), em espécies de Notothenioidae. Assim, as diferenças nos locais
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de hibridização de Rex1, nas oito espécies aqui analisadas, podem estar relacionadas com
pequenos rearranjos em regiões específicas dos seus genomas. Considerando que as regiões
organizadoras do nucléolo (RONs) em anostomídeos apresentam grande variação quanto à
posição no cromossomo e localização no cariótipo, variações atribuídas a rearranjos
cromossômicos como translocações, duplicações e/ou inversões Barros et al. (2015), é possível
que o movimento deste marcador pode ter sido facilitado por elementos transponíveis.
Inclusive na geração de múltiplos DNAr 18S encontrados em Rhytiodus microlepis, Laemolyta
fasciatus, Megaleporinus trifasciatus e principalmente Schizodon fasciatus (Barros et al.
2015).
O mesmo padrão de sinais múltiplos de DNAr 18S foi observado em ciclídeos
(Schneider et al. 2013), em Symphysodon aequifasciatus (Gross et al. 2010), e em
Oreochromis niloticus (Nakajima et al. 2012), que verificaram que os genes RNAr 18S no
genoma estavam sempre cercados por ETs, sugerindo que tais elementos estariam agindo na
dispersão de cópias de 18S, gerando maior variabilidade no número de clusters.
Silva et al. (2016) descrevem a disseminação do DNAr 5S no genoma de Gymnotus
mamiraua, também como influência de elementos transponíveis. Kapitonov e Jurka (2003)
sugeriram que as sequências DNAr 5S sofrem pseudogeneização e perdem sua funcionalidade.
Este pseudo-gene poderia ser infectado por um retrotransposon e ganhar uma mutação no seu
local de terminação transcricional, criando uma estrutura híbrida e complexa com parte do gene
5S/pseudogene e parte do transposon, gerando um SINE.
Muitos estudos em Anostomidae têm destacado a correlação entre regiões
heterocromáticas e sequências repetitivas (Parise-Maltempi et al. 2007; Marreta et al. 2012;
Silva et al. 2013; Barros et al. 2015), uma vez que, muitas delas foram isoladas de segmentos
heterocromáticos, principalmente as presentes no cromossomo W, em espécies de Leporinus e
Megaleporinus, e em regiões Ag-RON (Nakayama et al. 1994; Silva et al. 2013).
Das oitos espécies aqui investigadas, seis (M. trifasciatus, L. fasciatus, L. friderici,
Laemolyta taeniata, Rhythiodus microlepis e Schizodon fasciatus) tiveram seu padrão
heterocromático descrito, onde foram evidenciados grandes blocos de heterocromatina. Em M.
trifasciatus, que tem o sistema de cromossomo sexual ZW, o braço longo do cromossomo W é
totalmente heterocromático e duas vezes maior que o cromossomo Z, que também apresenta o
braço longo heterocromáticoo (Barros et al. 2015).
Numa análise comparativa, observa-se um acúmulo de Rex1 e Rex3, principalmente em
regiões heterocromáticas mas, pequenos sinais também foram detectados em regiões
eucromáticas. Outros estudos sugerem que elementos transponíveis podem se acumular em
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segmentos eucromáticos, como os encontrados em Drosophila melanogaster, onde 3,8% do
genoma eucromático compreende elementos transponíveis (Busseau et al. 1994).
Schneider et al. (2013) sugerem duas hipóteses para o surgimento de ETs em regiões
eucromáticas: i) a distribuição cromossômica destes ETs pode ser conduzida por mecanismos
evolutivos e sua evolução pode ser diferente de outras sequências repetitivas, comumente
presentes na heterocromatina; ii) estes ETs poderiam ter adquirido conhecimentos estruturais,
sendo que, suas funções e seu movimento para regiões eucromáticas poderiam trazer vantagem
para o genoma, mantidos de acordo com mecanismos neutros.
Existe uma associação de cariótipos reorganizados com regiões que podem abrigar
clusters dispersos de elementos Rex. Embora ETs tenham sido associados com rearranjos de
cariótipo (Lim e Simmons, 1994; Dimitri et al. 1997), mudanças no genoma poderiam eliminar
os elementos Rex das áreas eucromáticas intersticiais e levar ao seu acúmulo em regiões
heterocromáticas. Este padrão foi observado nas espécies Heros efasciatus e Symphysodon
spp., pertencentes a grupos com cariótipo rearranjado, onde os elementos Rex estão agrupados
em áreas heterocromáticas (Gross et al. 2009; Valente et al. 2010).
A distribuição do elemento Rex3 foi semelhante à do Rex1 para as oito espécies. Este
padrão semelhante sugere a compartimentalização de sequências em posições
preferencialmente terminais dos cromossomas nestas espécies. É provável, que mecanismos
evolutivos semelhantes respondam pela distribuição desses elementos em espécies da família
Anostomidae e em outras famílias de peixes, como Cichlidae (Valente et al. 2011).
Analisando nossos dados, cruzando as sondas Rex1 e Rex3 com diferentes tipos de
águas da região amazônica (preta, branca e clara), verificamos que em alguns casos específicos
como apresentado pela espécie L. fasciatus, na qual, foi observada uma abundância de
repetições do retroelemento Rex1 foi maior nas amostras provenientes de água preta dos rios
Negro e Uatumã, respectivamente. Outra espécie que chamou atenção foi L. friderici, onde a
sonda Rex3 evidenciou grande número de marcações nos indivíduos vindos de água branca, do
rio Purus. Santos et al. (2016) analisando a variação citogenética de elementos repetitivos e
retroelementos Rex3 em Hoplias malabaricus de rios de águas brancas, negras e claras da bacia
amazônica, observaram uma abundância de repetições deste retroelemento nos indivíduos
provenientes da água branca. Por outro lado, o padrão visualizado nos cariótipos dos
indivíduos de água clara e negra foi interpretado como sendo disperso. Os autores concluiram
que, as diferenças observadas em Hoplias malabaricus podem refletir um mecanismo fino de
modelagem citogenética e, possivelmente, representa uma assinatura de processos de adaptação
local em andamento.
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Gross et al. (2012) compararam o elemento retrotranponível Rex3 em cinco espécies de
ciclídeos, duas espécies de Semaprochilodus e uma espécie de Hoplosternum de diferentes
ambientes amazônicos, onde foi evidenciado uma notável variação das marcações Rex3 entre
os diferentes tipos de água (preta, branca e clara).
Não foi evidenciada nenhuma marcação, utilizando a sonda Rex6 nas espécies em
estudo. A perda do elemento Rex6 tem sido relatada em peixes da Antártida (Ozouf-Costaz et
al. 2004). O mesmo processo pode ter ocorrido em espécies de Leporinus e Megaleporinus
(Borba et al. 2013) e também nas espécies analisadas no presente estudo, não apenas de
Leporinus, mas estendendo-se a espécies de outros quatro gêneros (Rhythiodus, Laemolyta,
Schizodon e Anostomoides), dentro de Anostomidae. Entretanto, a sequência Rex6 foi obtida, o
que sugere uma possível perda desta sequência por processos moleculares ou sua presença não
ter sido detectada pela FISH por ser muito pequena. Schneider et al. (2013) encontraram fato
semelhante em espécies da família Cichlidae.
A presença de sinais específicos para elementos retrotransponíveis Rex1 e Rex3 no
cromossomo W de M. trifasciatus evidencia sua participação na formação deste sistema,
presente em espécies de Leporinus e Megaleporinus. A hipótese do acúmulo de ETs como o
principal indutor da diferenciação de cromossomos sexuais em Anostomidae é amplamente
aceita (Nakayama et al. 1994; Parise-Maltempi et al. 2013), estendendo-se a outros grupos de
peixe (Ozouf-Costaz et al. 2004; Terencio et al. 2012). Porém, em M. elongatus (antigo L.
elongatus), que apresenta um sistema de cromossomo sexual múltiplo de origem recente
(Z1Z1Z2Z2/Z1W1Z2W2) foi proposto que os elementos repetitivos são diferentes (Silva et al.
2013; Parise-Maltempi et al. 2013).
Outros trabalhos apresentam resultado semelhandte, p.e. Ozouf-Costaz et al. (2004)
identificaram sinais de hibridização de elementos Rex3 em uma posição intersticial no braço
curto do cromossomo Y de Chionodraco hamatus (Channichthyidae). Terencio et al. (2012),
em sua análise do elemento Rex1 de Semaprochilodus taeniurus, verificaram uma distribuição
compartimentalizada em alguns cromossomos, com sinais de hibridização nas regiões
centromérica e telomérica, tanto em machos quanto em fêmeas e o cromossomo W apresentou
sinais evidentes ao longo de todo o seu comprimento.
A presença dos elementos Rex1 e Rex3 no cromossomo W de Megaleporinus
trifasciatus pode estar relacionada à supressão da recombinação, durante o processo de
diferenciação do cromossomo sexual, devido principalmente a um aumento dos segmentos
heterocromáticos com acúmulo de elementos repetitivos, como discutimos anteriormente.
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75
Um aumento dos segmentos heterocromáticos devido à diferenciação do cromossomo
W em espécies de Leporinus (agora Megaleporinus) foi proposto por Galetti e Foresti (1986).
Esses pesquisadores sugeriram que a concentração de heterocromatina teve um papel
específico na diferenciação de cromossomos sexuais, indicando assim uma origem comum do
sistema sexual cromossômico encontrado em diferentes espécies deste gênero. Estudos
recentes têm apoiado esta hipótese, baseada em sequências repetitivas relacionadas ao
cromossomo W (Parise-Maltempi et al. 2007; Marreta et al. 2012; Silva et al. 2013), onde,
essas sequências estão relacionadas estritamente com espécies que apresentam cromossomos
sexuais diferenciados (ZZ/ZW). Outro estudo demonstrou homeologia entre os cromossomos
W de espécies de Leporinus e Megaleporinus, o que apóia a hipótese de uma origem comum
para este sistema de cromossomos sexuais nos gêneros (Parise-Maltempi et al. 2013).
Em nosso estudo, o padrão de distribuição de Rex1 e Rex3 nos cromossomos sexuais de
M. trifasciatus, também apóia a hipótese de uma origem comum do cromossomo W em
espécies de Leporinus e Megaleporinus. Contudo, acreditamos, que o sistema de cromossomo
sexual de M. trifasciatus encontra-se em um estágio evolutivo diferenciado das demais
espécies do gênero, que apresentam o sistema ZZ/ZW. Esta hipótese é apoiada também nos
trabalhos de Parise-Maltempi et al. (2007; 2013), Borba et al. (2015), nos quais o padrão de
sinais, para diferentes sondas, são divergentes entre os cromossomos W. Ramirez et al. (2016)
apresentaram uma filogenia para Leporinus, com base em dois marcadores mitocondriais
(CO1, Cytb) e três nucleares (Myh6, RAG1, RAG2), evidenciando que o gênero tem um clado
monofilético em relação às espécies que apresentam sistema de cromosssomos sexuais
diferenciados, onde M. trifasciatus (antigo L. trifasciatus) é a espécie basal. Ramirez et al.
(2017), publicaram um novo trabalho com base em características, morfológicas, citogenéticas
e moleculares, a qual, L. trifasciatus (atual Megaleporinus trifasciatus), continua na base da
filogenia, ficando atrás de M. muyscorum.
Embora as informações disponíveis sobre a organização estrutural, evolução e
comportamento funcional dos ETs no genoma dos peixes ainda estejam muito fragmentadas e
restritas a poucas espécies, os dados deste trabalho podem ser vistos como mais uma
contribuição para o entendimento destes elementos, em peixes da Amazônia.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Dr. Jansen A. Zuanon por identificar os espécimes. Este estudo
contou com o apoio das agências brasileiras: Conselho Nacional de Pesquisa e
Desenvolvimento Tecnológico (CNPq-LCB), do Instituto Nacional de Pesquisas da
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76
Amazônia/Genética, Conservação e Biologia Evolutiva (INPA/DIGEN), FAPEAM (PRONEX
- FAPEAM/CNPq 003/2009), Centro de Estudos de Adaptação a alterações ambientais na
Amazônia (INCT ADAPTA, FAPEAM/CNPq 573976/2008-2), e Edital
MCT/CNPq/MEC/CAPES/FNDCT-Acao Transversal/FAPs nº 47/2010 (Rede BioPHAM).
5. CONCLUSÕES:
As análises citogenômicas empregadas neste estudo, em oito espécies de anostomídeos,
não revelaram diferenças genéticas entre indivíduos de uma mesma espécie provenientes dos
diferentes tipos de água amostrados. Este resultado pode ser reflexo do comportamento e ciclo
de vida destes peixes, sendo que, algumas espécies realizam ciclos de migração.
Apesar das oito espécies de anostomídeos apresentarem 2n=54 cromossomos,
características cromossômicas distintas foram evidenciadas em cada espécie.
As análises de citogenética clássica corroboraram parcialmente os dados encontrados
em estudos anteriores, diferindo somente nos pares portadores das regiões organizadoras de
nucléolo (RON).
Múltiplos sítios de DNA ribossomal 18S, foram evidenciados nas espécies, Rhytiodus
microlepis, Laemolyta taeniata, Megaleporinus trifasciatus e principalmente em Schizodon
fasciatus, podendo tratar-se de pseudogenes ou sequências repetitivas originadas deste gene,
transpostas por retrotransponsons, sendo um processo natural de nascimento e morte de
sequencias repetitivas no genoma.
Os genomas das oitos espécies apresentam grande quantidade de sequências repetitivas,
dentre elas retrotransposons, os quais estão envolvidos na dinâmica evolutiva neste grupo de
peixes.
As sequências repetitivas estão envolvidas na evolução do sistema de cromossomos
sexuais ZZ/ZW em M. trifasciatus, uma vez que, a microdissecção do cromossomo W revelou
alta densidade de sinais destas sequências neste cromossomo.
O heteromorfismo do cromossomo W se deu por acúmulo de heterocromatina,
provavelmente originada como mecanismo de defesa contra elementos invasivos, tais como
retrotransposons identificados neste cromossomo.
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77
6. PERSPECTIVAS
Avanços significativos foram alcançados no entendimento da organização genômica de
algumas espécies da família Anostomidae, entretanto, alguns aspectos importantes ainda
precisam ser investigados, como:
A investigação do DNAr 18S permitirá traçar um panorama melhor a respeito da
evolução dessa sequência nesta família, principalmente se a infecção por um elemento de
transposição, envolvido com a família ribossamal, interfere na dinâmica dessa sequência.
O sequenciamento de última geração (next generation) dos cromossomos sexuais Z e
W para revelar a composição genômica destes cromossomos, bem como a identificação dos
genes envolvidos na determinação sexual nesta espécie.
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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