INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA LUIZ CLÁUDIO NEVES RÊGO COMPORTAMENTO INTERFACIAL DE BRÁQUETES POLIMÉRICOS: UM ESTUDO IN VITRO. Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Ciência dos Materiais do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências dos Materiais. Orientador: Prof. João Carlos Miguez Suarez - DC - IME Co-orientador: Prof a . Amal Elzubair Eltom - DC - IME Rio de Janeiro 2006
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INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
LUIZ CLÁUDIO NEVES RÊGO
COMPORTAMENTO INTERFACIAL DE BRÁQUETES POLIMÉRICOS:
UM ESTUDO IN VITRO.
Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em
Ciência dos Materiais do Instituto Militar de Engenharia, como
requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências
dos Materiais.
Orientador: Prof. João Carlos Miguez Suarez - DC - IME
Co-orientador: Profa. Amal Elzubair Eltom - DC - IME
Rio de Janeiro
2006
2
c2006
INSTUTUTO MILITAR DE ENGENHARIA
Praça General Tibúrcio, 80 – Praia Vermelha.
Rio de Janeiro – RJ CEP: 22290-270
Este exemplar é de propriedade do Instituto Militar de Engenharia, que poderá incluí-
lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar qualquer
forma de arquivamento.
É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre
bibliotecas deste trabalho, sem modificação do seu texto, em qualquer meio que
esteja ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações,
desde que sem finalidade comercial e que seja feita referência bibliográfica
completa.
Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e dos
orientadores.
.
N511 Rêgo, Luiz Cláudio Neves Comportamento interfacial de bráquetes poliméricos: Um estudo in vitro / Luiz Cláudio Neves Rego – Rio de Janeiro: Instituto Militar de Engenharia, 2006
141p.: il; graf; tab.
Dissertação (mestrado) – Instituto Militar de Engenharia, 2006.
1. Policarbonato, Bis-GMA/TEGDMA 2. Ortodontia, 3. Saliva artificial, 4. Termociclagem. I. Título. II. Instituto Militar de Engenharia.
CDD 617.643
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INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
LUIZ CLÁUDIO NEVES RÊGO
COMPORTAMENTO INTERFACIAL DE BRÁQUETES POLIMÉRICOS:
UM ESTUDO IN VITRO.
Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Ciência dos
Materiais do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre em Ciências dos Materiais.
Orientador: Prof. João Carlos Miguez Suarez – DC - IME
Co-orientador: Prof a. Amal Elzubair Eltom – DC - IME
Aprovada em 04 de dezembro de 2006 pela seguinte Banca Examinadora:
___________________________________________________________________ Prof. João Carlos Miguez Suarez , DC, IME – Presidente
___________________________________________________________________ Profa. Amal Elzubair Eltom, DC, IME
___________________________________________________________________ Profa. Elisabeth Ermel da Costa Monteiro, DC, IMA/UFRJ
___________________________________________________________________ Prof. Arnaldo Ferreira, PhD, IME
___________________________________________________________________ Prof. Carlos Nelson Elias, DC, IME
Rio de Janeiro
2006
4
A Deus, pelo dom da vida e pela constante
proteção de Pai. Agradeço por estar aqui e por
todas as oportunidades de crescimento e
realizações que tens designado para minha vida.
À minha esposa pela compreensão com as noites
de estudo, apoio incansável nas passagens difíceis
e amor incondicional em todos os momentos.
Aos meus “filhos” pelos momentos de carinho e
amor a mim dedicados, apesar da minha ausência.
Aos meus pais, por terem me possibilitado as
condições de estudo para galgar mais este
patamar em minha vida, assim como pelo exemplo
de retidão de caráter, dedicação e realização
profissional.
Aos meus irmãos Luiz Felipe e Renata que
contribuíram direta e indiretamente com essa
dissertação.
5
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Doutor João Carlos Miguez Suarez, pela experiência e
conhecimentos adquiridos durante sua cuidadosa orientação em todas as etapas
desta pesquisa e em todas as atividades que desenvolvi neste mestrado. O seu
perfil profissional e ético de dedicação e compromisso com o ensino e a verdade
científica mostrou-me também um exemplo a ser seguido na carreira docente.
Ao Instituto Militar de Engenharia, IME por ter propiciado a oportunidade e os
meios para realização desta dissertação.
Ao Instituto de Macromoléculas Profa Eloisa Mano, IMA/UFRJ pela cessão da
biblioteca.
Ao Gal. Ex.. Hermes pelo apoio, sem o qual não seria possível a realização
do curso de mestrado.
Ao Cel. Sodré, por sua amizade, incentivo e compreensão durante o curso.
A minha co-orientadora, Professora Doutora Amal Elzubair Eltom, pela
inestimável contribuição a este trabalho, não só cientificamente, mas também
ensinando o “caminho das pedras” para realização dos ensaios.
Aos integrantes do grupo do Prof. Miguez, professores Claúdia Bonelli,
Ricardo Pondé Weber e Cap. Naylor Sardinha de Melo, pela orientação nos
ensaios e confecção da dissertação.
Aos professores da SE/4 que não mediram esforços para passar seus
ensinamentos.
Aos colegas da SE/4, Rodrigo, Osmar, Marcelo Traitel, Luis Serra, Edson,
Gláucio e Liliane companheiros que viveram as dificuldades do pioneirismo e
venceram.
Ao Cap. Antonio Veltri pela disponibilidade e presteza nos afazeres
burocráticos.
Ao Maj. Cano da SE/5 pela dedicação em acompanhar os ensaios físico-
químicos sempre pronto para ajudar.
Ao Engenheiro Leonardo pelo auxilio no uso do laboratório de Ensaios
Mecânicos.
6
Aos alunos de pós-graduação de química, 1º Ten Raduweski, Carlos e Malu,
pela ajuda e orientação na realização dos ensaios de caracterização físico-
química.
Ao operador do MEV Sr. Joel que sempre esteve pronto para atender quando
solicitado.
A professora Elisabeth responsável pelo banco de dentes da UNESA que
cedeu gentilmente 50% dos dentes utilizados nesta dissertação.
Ao meu sogro, Engenheiro Sr. José Augusto Couto Martins (in memorian)
pelos ensinamentos aprendidos durante a fase inicial desta dissertação.
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SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES.................................................................................. 10
LISTA DE TABELAS............................................................................................. 16
LISTA DE ABREVIATURAS................................................................................... 18
LISTA DE SÍMBOLOS........................................................................................... 19
LISTA DE SIGLAS................................................................................................ 20
FIG.4.15 Variação da temperatura de início da degradação (onset) para as resinas
Concise (auto-polimerizável) e Transbond XT (foto-polimerizável), nas amostras
em forma de filme e raspadas, após imersão em saliva artificial (condição 1) e
após termociclagem (condição 2)............................................................................. 91
FIG.4.16 Curvas DSC típicas para o policarbonato (PC): (a) “como recebido”; (b) após
imersão em saliva artificial; (c) após termociclagem................................................ 92
FIG.4.17 Curvas DSC típicas da resina Concise (auto-polimerizável), em amostras sob a forma de filme: (a) “como recebido”; (b) após imersão em saliva artificial; (c) após termociclagem.......................................................................................................... 92
FIG.4.18 Curvas DSC típicas da resina Concise (auto-polimerizável), em amostras raspadas: (a) “como recebido”; (b) após imersão em saliva artificial; (c) após termociclagem.......................................................................................................... 93
FIG.4.19 Curvas DSC típicas do Transbond XT (foto-polimerizável), em amostras sob a forma de filme: (a) “como recebido”; (b) após imersão em saliva artificial; (c) após termociclagem.......................................................................................................... 93
FIG.4.20 Curvas DSC típicas do Transbond XT (foto-polimerizável), em amostras raspadas: (a) “como recebido”; (b) após imersão em saliva artificial; (c) após termociclagem...........................................................................................................
94
FIG.4.21 Resistência ao cisalhamento, valor médio e desvio padrão, do conjunto dente -
bráquete unido com a resina Concise (auto-polimerizável), antes e após
FIG.4.27 Tipo e freqüência de falha dos conjuntos dente – bráquete com a resina
Transbond XT, corpos de prova do ensaio de cisalhamento, antes e após
exposição aos agentes ambientais.......................................................................... 103
FIG.4.28 Freqüência do índice de adesivo remanescente (IRA), dos conjuntos dente -
bráquete com a resina Concise, corpos de prova do ensaio de cisalhamento,
antes e após exposição aos agentes ambientais..................................................... 105
FIG.4.29 Freqüência do índice de adesivo remanescente (IRA), dos conjuntos dente - bráquete com a resina Transbond XT, corpos de prova do ensaio de cisalhamento, antes e após exposição aos agentes ambientais.............................. 105
FIG.8.1.1 Valores do ensaio de cisalhamento. (Concise“como recebido”).............................. 115
FIG.8.1.2 Valores do ensaio de cisalhamento. (Concise saliva artificial)................................. 115
FIG.8.1.3 Valores do ensaio de cisalhamento. (Concise termociclado).................................. 116
FIG.8.1.4 Valores do ensaio de cisalhamento. (Transbond XT “como recebido”)................... 116
FIG.8.1.5 Valores do ensaio de cisalhamento. (Transbond XT saliva artificial)....................... 117
FIG.8.1.6 Valores do ensaio de cisalhamento. (Transbond XT termociclado)......................... 117
FIG.8.2.1 Espectro de absorbância para a amostra (“como recebido”) PC............................. 118
FIG.8.2.2 Espectro de absorbância para a amostra (saliva artificial) PC................................. 118
14
FIG.8.2.3 Espectro de absorbância para a amostra (termociclado) PC................................... 119
FIG.8.2.4 Espectro de absorbância para a amostra (“como recebido”) Bis-GMA-TEGDMA filme auto-polimerizável........................................................................................... 119
FIG.8.2.5 Espectro de absorbância para a amostra (“como recebido”) Bis-GMA-TEGDMA raspado auto-polimerizável...................................................................................... 120
FIG.8.2.6 Espectro de absorbância para a amostra (saliva artificial) Bis-GMA-TEGDMA
filme auto-polimerizável............................................................................................ 120
FIG.8.2.7 Espectro de absorbância para a amostra (saliva artificial) Bis-GMA-TEGDMA raspado auto-polimerizável...................................................................................... 121
FIG.8.2.8 Espectro de absorbância para a amostra (termociclado) Bis-GMA-TEGDMA filme
FIG.8.2.10 Espectro de absorbância para a amostra (“como recebido”) Bis-GMA-TEGDMA filme foto-polimerizável............................................................................................ 122
FIG.8.2.11 Espectro de absorbância para a amostra (“como recebido”) Bis-GMA-TEGDMA raspado foto-polimerizável....................................................................................... 123
FIG.8.2.12 Espectro de absorbância para a amostra (saliva artificial) Bis-GMA-TEGDMA
filme foto-polimerizável............................................................................................. 123
FIG.8.2.13 Espectro de absorbância para a amostra (saliva artificial) Bis-GMA-TEGDMA raspado foto-polimerizável........................................................................................ 124
FIG.8.2.14 Espectro de absorbância para a amostra (termociclado) Bis-GMA-TEGDMA filme
FIG.8.2.15 Espectro de absorbância para a amostra (termociclado) Bis-GMA-TEGDMA raspado foto-polimerizável....................................................................................... 125
TAB. 4.14 Freqüência do índice de adesivo remanescente (IRA), dos
conjuntos dente - bráquete com a resina Transbond XT, corpos
de prova do ensaio de cisalhamento, antes e após exposição
aos agentes ambientais................................................................ 105
18
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
ABREVIATURAS
Bis-GMA - Metacrilato de glicidila bis-fenólico
DGR - Determinação do grau de reticulação
DSC - Calorimetria diferencial de varredura
FTIR - Transformada de Fourier do Espectrômetro Infravermelho
IO - Índice de oxidação
IRA - Índice de adesivo remanescente
ISO - Norma da Organização Internacional
MEV - Microscópio eletrônico de varredura
PC - Policarbonato
PLA - Poli(ácido lático)
PMMA - Poli(metacrilato de metila)
PVC - Poli(cloreto de vinila)
TCP - Fosfato tricálcico
TEGDMA - Dimetacrilato de glicol-trietilênico
TGA - Análise termogravimétrica
TS - Especificação Técnica
19
LISTA DE SIMBOLOS
DP - Grau de polimerização
Tbd - Temperatura de transição dúctil-frágil
Tg - Temperatura de transição vítrea
Tm - Temperatura de fusão
UV - Ultravioleta
20
LISTA DE SIGLAS
ASTM American Society for Testing and Materials
IMA Instituto de Macromoléculas Professora Eloisa Mano
IME Instituto Militar de Engenharia
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
25o B.Log (Es) 25o Batalhão Logístico Escola
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RESUMO
No presente trabalho foi estudado o comportamento interfacial de um conjunto
bráquete polimérico - dente, após sua imersão em saliva artificial e após ciclamento térmico. O bráquete, fabricado com um compósito de policarbonato reforçado por fibra de vidro, foi aderido aos dentes utilizando-se dois tipos de adesivos ortodônticos, compósitos formados por uma mistura de Bis-GMA com TEDGMA reforçada por partículas cerâmicas, sendo um auto-polimerizável e o outro foto-polimerizável. A avaliação dos materiais poliméricos constituintes dos bráquetes e dos adesivos, antes e após estes procedimentos in vitro, foi realizada por meio de ensaios físico-químicos (espectroscopia no infravermelho, análise termogravimétrica e calorimetria diferencial de varredura), enquanto que a resistência de adesão do conjunto bráquete - dente foi avaliada por meio de um ensaio de cisalhamento. O modo de ruptura interfacial foi estudado por meio de análise fratográfica (exame visual e microscopia eletrônica de varredura), determinando-se, ainda, o Índice de adesivo remanescente (IRA).
Os procedimentos de degradação, imersão em saliva artificial e ciclagem térmica, influenciaram levemente as propriedades físico-químicas dos materiais utilizados no conjunto bráquete - dente. O policarbonato, praticamente, não apresentou degradação e a sua temperatura de transição vítrea não se modificou com a exposição aos agentes ambientais. A estrutura reticulada das misturas Bis-GMA / TEDGMA manteve-se estável após os processos de degradação que, todavia, influenciaram as propriedades físico-químicas das misturas. As amostras degradadas apresentaram menor resistência ao cisalhamento do que as “como recebido”. A análise fratográfica caracterizou, com sucesso, os modos de fratura atuantes, confirmando o comportamento interfacial observado no ensaio de cisalhamento. Estes resultados permitem concluir que os dois processos utilizados para avaliar a degradação in vitro do conjunto bráquete - dente, não afetaram significativamente as propriedades do mesmo, mostrando que, tanto o bráquete polimérico, quanto os adesivos estudados, auto-polimerizável ou foto-polimerizável, apresentam boas condições de aplicação na ortodontia.
22
ABSTRACT
In the present work it was studied the interfacial behavior of a polymeric bracket-tooth set, after its immersion in artificial saliva and after thermocycling. The bracket, manufactured with a composite of polycarbonate strengthened with fiber glass, was fixed to teeth using two types of orthodontic adhesives, composites formed for a mixture of Bis-GMA and TEDGMA strengthened for ceramic particles, being one self-curing and the other light-curing. The evaluation of the constituent polymeric materials of brackets and adhesives, before and after these procedures in vitro, was carried through by means of physico-chemical assays (infrared spectroscopy, thermogravimetric analysis and distinguishing Differential Scanning Calorimetry), whereas the resistance of adhesion of the bracket-tooth set was evaluated by means of a shear assay. The mode of interfacial rupture was studied by means of fracture analysis (visual examination and scanning electron microscope), determining, still, the adhesive remaining index (ARI).
The procedures of degradation, immersion in artificial saliva and thermocycling, had lightly influenced the physico-chemical properties of the materials used in the bracket-tooth set. The polycarbonate, practically, did not present degradation and its glass transition temperature did not modify with the exposition to the environmental agents. The reticulated structure of the mixtures Bis-GMA/TEDGMA remained steady after the degradation processes that, however, had influenced the physico-chemical properties of the mixtures. The degraded samples had presented minor shear strength than the original samples. The fracture analysis characterized, successfully, the operating mode of fracture, confirming the observed interfacial behavior in the shear assay. These results allow to conclude that the two used processes to evaluate the in vitro degradation of the bracket-tooth set, had not affected the properties of the same significantly, showing that both the polymeric bracket and the studied adhesives, self-curing and light-curing, present good conditions of application in the orthodontics.
23
1 INTRODUÇÃO
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O desenvolvimento tecnológico e industrial deste século, na área da Ciência e
Tecnologia dos materiais, tem favorecido o homem face à grande disponibilidade de
novos materiais. Existe, atualmente, um grande interesse no desenvolvimento de
novos materiais poliméricos, que têm encontrado grandes aplicações nas
especialidades médicas e odontológicas, criando novas áreas de pesquisa que
resultam no aprimoramento e na simplificação de procedimentos clínicos. Os
materiais poliméricos têm, em seu estado inicial, excelentes propriedades
mecânicas, mas, ao serem submetidos, quando em serviço, a vários tipos de
agentes ambientais agressivos, podem apresentar uma significativa degradação,
que ao modificar o seu desempenho, tornam-os inadequados para os empregos
pretendidos. Esta degradação ambiental pode ser causada por diversos agentes
como radiações, calor, água, bactérias etc. [MANO e BONELLI, 1995].
A engenharia dos materiais tem suas bases estabelecidas no binômio
“processamento-desempenho”. O processo de fabricação resulta em materiais com
estrutura e propriedade específicas que ditarão o desempenho durante seu uso. O
desenvolvimento dos materiais busca a simplificação dos processos de fabricação e
a obtenção de materiais com melhor desempenho e menor custo [CALLISTER,
2002].
A Ortodontia é a especialidade da Odontologia que estuda e trata as relações
inadequadas entre dentes, ossos maxilares e face. A Ortodontia moderna baseia-se
no estudo do crescimento e desenvolvimento crânio-facial, na evolução da dentição,
na avaliação do perfil e no estudo da mecânica ortodôntica para correção ou
prevenção das maloclusões.
A mecânica ortodôntica, utilizando acessórios fixados aos dentes, controla as
alterações existentes nas posições dentárias relacionando-as com as estruturas
adjacentes. Na movimentação ortodôntica, a interação que acontece entre os
elementos dentários, cimentos e acessórios ortodônticos é complexa e seu
conhecimento e controle são fundamentais para obtenção do objetivo final do
24
tratamento dentário. Em conseqüência, aprimorar e simplificar o processo de
introdução no mercado de novos e eficientes materiais é uma necessidade científica
constante para a melhoria do tratamento ortodôntico [PROFFIT, 1995].
1.2 OBJETIVO
O objetivo desse trabalho foi estudar, em função das condições de trabalho
(tipo de adesivo, modo de cura e agente ambiental in vitro), o desempenho de um
sistema ortodôntico com um bráquete compósito (composite bracket) não metálico.
No trabalho foram empregados bráquetes de policarbonato reforçado com fibra
de vidro colados aos dentes por meio de dois tipos de adesivos, todos materiais
comerciais. Foi avaliada a adesão interfacial bráquete-dente por meio da
determinação da resistência de cisalhamento (shear bond strength) e o
comportamento físico-químico dos materiais componentes do sistema ortodôntico,
antes e após a sua exposição a agentes ambientais.
25
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 POLÍMEROS
2.1.1 CONCEITOS GERAIS
O termo polímero tem origem grega e foi introduzido, em 1832, por Berzelius,
para designar compostos de massas molares elevadas.
Os polímeros representam uma imensa contribuição da química para o
desenvolvimento do século XX. Os polímeros são macromoléculas que se
caracterizam por seu tamanho, estrutura química, interações intra e intermoleculares
e por possuirem unidades químicas ligadas por covalência, denominadas meros,
que se repetem ao longo da cadeia macromolecular [MANO e MENDES, 1999].
O número de meros na cadeia polimérica é denominado grau de polimerização,
sendo geralmente representado por n ou DP (grau de polimerização).
Todos os polímeros são macromoléculas, com massa molar entre 104 a 106
g/mol e dimensões moleculares entre 102 e 105 Å, os quais propriciam enlaçamentos
e emaranhamentos, alterando o espaço vazio entre as cadeias. Existem polímeros
de baixo peso molecular, da ordem de 103 g/mol, que são chamados de oligômeros,
sendo geralmente produtos viscosos [CALLISTER, 2002].
As propriedades mecânicas e o comportamento do polímero durante o
processamento são altamente dependentes do tamanho médio (peso molecular
médio) e da distribuição de comprimentos das cadeias de polímero. Embora a
estrutura química do polímero seja igual, pesos moleculares diferentes podem
mudar completamente as propriedades físicas, mecânicas e térmicas do polímero.
Além do peso molecular, a arquitetura molecular do polímero e sua conformação
molecular irão influenciar as propriedades do polímero e, portanto devem ser
perfeitamente entendidas. A maioria dos polímeros são formados por cadeias
longas e flexíveis, cujo esqueleto principal consiste de uma série de átomos de
carbono ligados uns aos outros. Os elétrons de valência adicionais presentes podem
estar envolvidos em ligações laterais com a cadeia principal, por átomos ou radicais.
Os polímeros são formados pela união de moléculas denominadas monômeros,
26
sendo que a composição centesimal do polímero pode ser igual ou muito próxima a
do monômero que o originou, dependendo do tipo de reação que promoveu a
ligação entre os meros.
Os polímeros, que podem ser de origem natural ou sintética, vêm, devido as
suas propriedades satisfatórias e aos seus custos, substituindo, com sucesso,
materiais tradicionais, como metais e madeira. Os polímeros são, também,
importantes nos processos biológicos e fisiológicos dos seres vivos. Os polímeros
naturais são derivados de plantas e animais, enquanto que os sintéticos são, em sua
grande maioria, subprodutos da indústria petrolífera [MANO e MENDES, 1999].
2.1.2 CLASSIFICAÇÃO
Os polímeros, de acordo com o modo de distribuição das suas cadeias, podem
se apresentar como lineares, ramificados ou reticulados.
� Polímero linear: nos polímeros lineares, cada mero é ligado somente a outros
dois meros, existindo a possibilidade de ramificações pequenas que são parte da
estrutura do próprio monômero como, por exemplo, o poli(estireno) e
poli(metacrilato de metila).
� Polímero ramificado: nos polímeros ramificados, um monômero pode se ligar a
mais de dois outros monômeros, sendo que as ramificações não são da estrutura
do próprio monômero como, por exemplo, poli(acetato de vinila) e polietileno.
� Polímero reticulado: nos polímeros reticulados (crosslinked), as ramificações do
polímero se interconectam formando um polímero com peso molecular infinito.
Os polímeros podem, ainda, ser classificados quanto [MANO e MENDES, 1999;
CALLISTER, 2002]:
• à origem: natural ou sintético.
• ao número de monômeros: homopolímero (com apenas um tipo de mero) ou
copolímero (com mais de um tipo de mero).
• ao método de preparação do polímero: polímero de adição, condensação ou
modificação de outro polímero.
• à estrutura química da cadeia polimérica: poliolefina, poliamida; poliéster etc.
• ao encadeamento da cadeia polimérica: seqüências cabeça-cauda, cabeça-
cabeça ou cauda-cauda.
27
• à configuração dos átomos da cadeia polimérica: - seqüência cis ou trans.
• à taticidade (estereorregularidade) da cadeia polimérica: isotático, sindiotático ou
atático.
• à fusibilidade e/ou solubilidade do polímero: termoplástico (fundem no
aquecimento e solidificam no resfriamento em processo reversível) ou
termorrígido (polímeros que por aquecimento ou outra forma de tratamento,
assumem forma tridimensional reticulada, com ligações cruzadas, tornando-se
insolúveis e infusíveis).
• ao comportamento mecânico do polímero: plástico (de uso geral ou de
engenharia), borracha ou elastômero e fibra.
Os polímeros, tendo em vista o tamanho e a complexidade de suas moléculas,
podem ser amorfos ou cristalinos. Todavia não existem polímeros 100% cristalinos,
pois podem apresentar regiões cristalinas e regiões amorfas, isto é, são
parcialmente cristalinos ou semicristalinos. Nos polímeros amorfos as cadeias
macromoleculares estão em estado desorganizado, enquanto que os cristalinos
apresentam regiões ordenadas. Esta situação, definida pelo grau de cristalinidade
do polímero, vai influenciar a seleção do material a ser usado em diferentes
aplicações.
2.2 ADESÃO
2.2.1 CONCEITOS GERAIS
A palavra adesão vem do latim ad haerere (colar) sendo definida como o estado
em que duas superfícies estão intimamente unidas por forças físicas, químicas ou
ambas, com ou sem a intermediação de um agente de união, denominado adesivo.
A adesão tem sido, também, definida como sendo a atração entre uma superfície
sólida e uma segunda fase, que pode ser formada por partículas individuais,
pequenas gotas, película líquida ou sólida, pó etc. [HOUWINK e SOLOMON, 1965].
O material de adesão mais adequado pode ser considerado aquele que atende
às necessidades do tratamento e do profissional, sendo perfeitamente dominado por
este através do conhecimento de suas características físico-químicas, de suas
limitações de uso e do domínio da técnica de aplicação [BARATIERI ET AL, 2001].
28
Os materiais poliméricos são largamente empregados como adesivos e a busca
por materiais com melhores características de adesão tem sido alvo de constantes
pesquisas ocasionando uma grande evolução nos procedimentos contemporâneos.
Dentre os diversos adesivos poliméricos pode-se destacar os baseados em resina
epoxídica, que são rígidos, quebradiços e com alto poder de adesão. Com a
finalidade de se minimizar a característica quebradiça deste tipo de adesivo
procurou-se aumentar a sua capacidade de absorção de energia pela adição de
outros materiais que aumentassem a flexibilidade e a tenacidade. A flexibilização é
caracterizada pela presença de um agente flexível disperso ou solúvel na matriz e a
tenacificação por uma segunda fase constituída do agente tenacificante, também
flexível. Em ambos os casos, podem-se utilizar, também, elastômeros líquidos de
baixo peso molecular.
A espessura da camada de adesivo influencia muito as propriedades da junta
colada, devido a certos fatores como a limitação da área da zona de deformação
plástica em adesivos com pequena espessura; maior possibilidade de ocorrência de
bolhas em adesivos de maior espessura e baixa mobilidade molecular do adesivo
devido às fortes interações com os substratos nos adesivos de pequena espessura
[RUYTER, 1992].
Na história da Odontologia o grande marco nas técnicas de adesão ocorreu em
1955 quando foi consagrada a técnica de condicionamento prévio do esmalte por
ácidos para a união de resinas acrílicas [BUONOCORE, 1955]. Atualmente existem
disponíveis, no mercado, diversos materiais de colagem para uso ortodôntico, tais
como, resinas compostas.
2.2.2 TEORIA E MECANISMOS DE ADESÃO
A estrutura e as propriedades da interface matriz/carga influenciam
significativamente nas propriedades finais do material compósito. A boa adesão
interfacial aumenta a transmissão da tensão na matriz para a carga, aumentando o
desempenho mecânico do compósito. Caso não haja esta interação, surgirão,
inevitavelmente, vazios na região interfacial e o material estará sujeito à falhas
catastróficas, como por exemplo, propagação de trincas em maiores escalas.
29
A adesão está relacionada com a natureza química da carga e da matriz
polimérica, o que influencia diretamente na escolha dos materiais a serem
empregados na composição do compósito. A energia livre de superfície pode ser
entendida como a energia disponível para ligações apresentada pelos átomos da
superfície de um material. Os átomos do núcleo do material estão completamente
interligados (condição que não ocorre na superfície) fazendo com que os átomos
superficiais sejam atraídos pelos mesmos, ocasionando uma tensão superficial.
Os mecanismos de adesão entre os componentes de um compósito são
basicamente os seguintes:
� Adsorção e molhamento.
A adsorção é a fixação de moléculas de uma substância (o adsorvato) na
superfície de outra substância (o adsorvente). O molhamento (recobrimento) é a
capacidade de uma gota de um líquido (o adsorvato) em molhar a superfície de um
sólido (o adsorvente). Em um compósito, o molhamento eficiente do reforço pela
matriz polimérica remove o ar, recobrindo toda a superfície do material de reforço.
Este mecanismo depende das tensões superficiais e da polaridade dos
componentes e de outros fatores, como a existência de impurezas na superfície do
substrato, que podem prejudicar o processo de molhabilidade e, conseqüentemente,
as propriedades da junta. Alem disso, pode ocorrer a geração de espaços vazios na
interface adesivo/substrato que, por serem pontos críticos de concentração de
tensão, podem iniciar um processo de fratura.
� Interdifusão.
A formação de ligações entre a superfície matriz/fibra pode ocorrer, também,
quando as cargas são modificadas superficialmente por um determinado material
antes de serem incorporadas à matriz. A resistência da ligação matriz / reforço
dependerá do grau de emaranhamento molecular gerado entre a matriz e a
superfície do reforço modificado.
� Atração eletrostática.
Pode ocorrer quando as duas superfícies possuem cargas elétricas opostas,
como nos casos de interações ácido-base e ligações iônicas. A resistência da
ligação dependerá da densidade de cargas elétricas.
30
� Ligação química.
É a forma mais eficiente de adesão em compósitos. Ocorre geralmente com a
aplicação de agentes de acoplamento (compatibilizantes) na superfície da carga,
que serve como ponte entre o polímero e a fibra. Uma parte da estrutura desses
materiais, interage com a superfície da fibra, enquanto que a outra contém grupos
orgânicos semelhantes aos das cadeias da matriz polimérica. A resistência
mecânica da interface depende do número e do tipo de ligações químicas presentes.
A adesão entre dois sólidos em toda extensão de suas superfícies em contacto
é, praticamente, impossível, exigindo que um promotor de união, o adesivo, seja
utilizado. Este, geralmente em forma líquida, penetrará nas irregularidades
existentes na superfície dos materiais, proporcionando um travamento mecânico
(ancoramento), criando, conseqüentemente, uma interface de união. Estas
irregularidades superficiais podem ser produzidas por tratamento mecânico ou
químico da superfície do substrato.
O adesivo pode ser definido, então, como um material que, quando aplicado nas
superfícies de duas substâncias, possui a capacidade de uni-las, oferecendo
resistência à separação.
O líquido adesivo deverá possuir, como requisito mínimo, uma tensão superficial
igual ou ligeiramente menor que o valor de energia de superfície do material
aderente (substrato). Desta maneira, ele se espalharia uniformemente e
espontaneamente. Entretanto, o mesmo acaba ocorrendo quando a energia de
superfície do substrato aderente é bem maior que a tensão superficial do adesivo,
devido à grande atração e disponibilidade para ligações que os átomos e moléculas
desta superfície apresentam. Caso isto não ocorra, o adesivo irá adquirir uma forma
esférica e não se espalhará pela superfície.
Esta capacidade de molhamento é determinada pelo ângulo de contato entre
líquido e sólido. Quanto menor for o ângulo de contato (próximo de 0° ou menor que
90°), o líquido é dito difuso ou capaz de molhar espontaneamente a superfície. Caso
o ângulo de contato seja igual ou maior que 90°, o líquido tende a não molhar a
superfície (FIG.1). A tensão superficial do líquido adesivo menor ou ligeiramente
menor que a energia de superfície do substrato aderente, determina um ângulo de
contato próximo de zero entre os materiais, perfazendo um alto grau de molhamento
da superfície [RUYTER, 1992].
31
FIG.2.1 - Diferentes ângulos de contato entre substrato e líquidos [Ruyter,
1992].
As forças de adesão têm sua origem nas ligações químicas primárias
(interatômicas) e nas ligações atrativas secundárias (intermoleculares). As forças
produzidas pelas ligações primárias são de natureza essencialmente eletrônica
(ligações entre átomos ou íons), podendo existir: ligações metálicas, eletrovalentes e
covalentes. As ligações atrativas secundárias são de natureza eletrostática ou
magnética, associam as moléculas entre si, de maneira razoavelmente forte, mas
não são suficientemente capazes de formarem uma nova individualidade química
[OLIVEIRA E FREITAS, 1995].
A adesão é atribuída a várias e diferentes forças, como as forças moleculares
e as forças físicas mais fracas, como van der Waals, que só podem ser
desenvolvidas quando as moléculas estão muito próximas entre si. Esta é uma das
razões pela aplicação da pressão sobre as superfícies das juntas a serem coladas,
tanto para colagem a frio, quanto para colagem a quente [BOWEN, 1965].
A adesão física entre dois materiais diferentes também pode ser conseguida
utilizando-se princípios físico-mecânicos. Comumente, esta variante é denominada
adesão mecânica, que é referida à penetração de um material em outro em nível
microscópico, perfazendo um travamento mecânico. A adesão mecânica se dá
entre superfícies porosas baseadas no entrelaçamento da cola endurecida na junta
de colagem e nos poros do aderente. Já a adesão específica ocorre entre duas
superfícies lisas, onde as forças básicas de adesão entre as macromoléculas
32
existem devido às ligações químicas secundárias de atração [HENRIQUE DE
JESUS, 2000].
2.3 BIOMATERIAIS
2.3.1 CONCEITOS GERAIS
Os biomateriais são considerados materiais que implantados no corpo humano
tem a função de substituir total ou parcialmente tecidos ou órgãos, degenerados ou
perdidos, restaurando a sua função e, em alguns casos, a estética [DUMITRIU,
1994].
Os biomateriais, depois de 1960, apresentaram uma grande evolução com o seu
desenvolvimento a partir de materiais inertes e quimicamente estáveis, como a
alumina e o carbono. Na década de 70 acreditava-se que o biomaterial ideal teria
que ser biocompatível, apresentando um comportamento semelhante ao do tecido
ou órgão em questão, não produzindo efeitos deletérios a ponto de desencadear
uma reação de rejeição pelo hospedeiro. Um novo conceito passou a ser aceito a
partir de 1980, sendo considerado biomaterial aquele que, além de não ser rejeitado,
fosse, também, capaz de interagir de maneira benéfica com os tecidos do
hospedeiro. Em 1990, o estudo dos biomateriais foi direcionado para materiais
química e mecanicamente anisotrópicos, análise do crescimento de tecidos com o
implante e propriedades indutivas.
Os biomateriais de uma forma geral devem ter as seguintes propriedades: uma
adequada composição química que evite reações adversas, resistência ou não à
degradação (dependendo da aplicação), resistência à fadiga, baixo módulo de
elasticidade e alta resistência ao desgaste. O biomaterial tem que ser passível de
ser esterilizado, podendo ou não sofrer degradação no ambiente de trabalho
[RAMAKRISHNA et al, 2001].
Os biomateriais, quanto à resposta biológica, podem ser classificados em
[HENCH & WILSON, 1994]:
a) Biotoleráveis: são materiais tolerados pelo organismo, sendo isolados dos
tecidos adjacentes pela formação de uma camada envoltória de tecido fibroso.
33
Ocorre uma formação óssea superficial enquanto acontece uma troca de íons com o
meio. Por exemplo: metais e polímeros sintéticos;
b) Bioinertes: são materiais que não são rejeitados pelo organismo, são
circundados por uma cápsula de tecido fibroso praticamente inexistente. São menos
susceptíveis a causar uma reação biológica adversa devido a sua estabilidade
química em comparação com outros materiais. Por exemplo: alumina, zircônia e
carbono;
c) Bioativos: são materiais que permitem ligações de natureza química entre
material e tecido ósseo (osteointegração). Em função da afinidade química entre
estes materiais e a parte mineral óssea, os tecidos ósseos se ligam a eles,
permitindo a osteocondução por meio do recobrimento por células ósseas. Por
exemplo: a hidroxiapatita, vidros, as vitrocerâmicas à base de fosfatos de cálcio e os
compostos de fosfato de cálcio; e
d) Bioabsorvíveis: são materiais que, permanecem no corpo humano por um
desejado período de tempo, podendo ser degradado, solubilizado ou fagocitado
pelo organismo. Essa classe de materiais tem como principal vantagem sobre os
demais tipos a não necessidade de uma nova intervenção cirúrgica para a retirada
do material implantado. Podem ser utilizados, também, para a liberação gradual de
drogas no local desejado, pois são absorvidos na área em questão, diminuindo os
efeitos colaterais. Como exemplo pode-se citar o poli(ácido lático) (PLA) e o fosfato
tricálcico (TCP).
2.3.2 BIOMATERIAIS NA ODONTOLOGIA
A Odontologia, como especialidade, surgiu por volta de 3000 a.C e, desde o seu
inicio, os principais desafios encontrados têm sido o desenvolvimento e a seleção de
materiais biocompatíveis capazes de suportarem as condições adversas do
ecossistema oral. Assim, a Odontologia tem como objetivo manter ou melhorar a
qualidade de vida do paciente, procurando a prevenção das doenças, alívio da dor,
melhora da mastigação e da aparência.
Uma grande variedade de materiais tem sido empregada em substituição aos
dentes naturais, tais como: dentes de animais, dentes humanos, conchas marinhas,
marfim, osso, hidroxiapatita, liga de cobalto-cromo e de titânio. Bandas e fios de
34
ouro foram utilizados por fenícios (após 2.500 a.C.) e etruscos (após 800 a.C.) na
confecção de dentaduras parciais. A mais antiga evidência de materiais para
implantes dentários é atribuída aos etruscos por volta de 700 a.C. Em 1498, na
Universidade de Bolonha (Itália), utilizava-se ouro em folha nas restaurações
dentárias. A odontologia moderna teve início em 1728 quando Fauchaurd,
considerado o “pai da Odontologia”, publicou um tratado descrevendo vários tipos de
restaurações dentárias. A incrustação de porcelana foi introduzida no início do
século XIX. Em 1895, G. V. Black iniciou seus estudos sobre o amálgama dental
dando uma grande contribuição para a odontologia [ANUSAVICE, K.J. et al, 1998].
O emprego dos biomateriais vem crescendo nos dias atuais, proporcionando
mais conforto e qualidade de vida aos pacientes. Em virtude do aumento da procura
pela estética os biomateriais metálicos estão tendo menor procura em ortodontia do
que os cerâmicos, poliméricos e compósitos em relação aos bráquetes.
Na área médica os biomateriais são usados para enxertos vasculares, próteses
abdominais, tendões, fixação externa, substituição de cartilagem, placas, parafusos,
reposição e fixação óssea. Os biomateriais são, também, largamente empregados
na odontologia na fabricação de implantes dentários, enxertos, ligas odontológicas e
peças diversas [RAMAKRISHNA, S. et al, 2001].
No que se refere à biocompatibidade dos adesivos dentários deve-se levar em
consideração, em especial, as estruturas com os quais o adesivo se relaciona
(esmalte ou dentina), e, também, qual a parte do sistema adesivo que se quer
avaliar (agente condicionador, primer ou resina), uma vez que a composição, o
tempo de contato e as características físico-químicas de cada um desses
componentes são diferentes.
2.3.3 BIOMATERIAIS POLIMÉRICOS
A busca incansável do homem por padrões superiores de vida e longevidade
tem gerado cada vez mais a necessidade de alternativas para o reparo e
substituição de tecidos vivos vitimados por traumas ou patogenias. Neste cenário, a
possibilidade de introdução de materiais sintéticos no corpo (biomateriais) aparece
como real opção.
35
Dessa forma é necessária a criação de uma nova geração de biomateriais,
capazes de minimizar desconfortos e ampliar e valorizar a expectativa de vida. O
desafio de se criar tal nova geração de biomateriais passa fundamentalmente pela
necessidade de se explorar e guiar as interações entre tecidos vivos e materiais
sintéticos, visando a otimização de processos como bioreconhecimento, biofixação e
biocolonização. O sucesso desses processos não só viabilizará a fixação de
dispositivos no local de implantação, mas, também, permitirá a manipulação de
mecanismos intracelulares responsáveis pela reprodução celular, transferência de
informações genéticas, produção e distribuição de fatores de crescimento e
mediadores de respostas imunológicas e inflamatórias que vão favorecer a
regeneração do tecido anfitrião.
Os biomateriais podem ser definidos como materiais que são usados em contato
com tecidos, sangue, células, proteínas ou quaisquer outras substâncias vivas. A
possibilidade de se projetar e selecionar polímeros com características únicas para
se adequarem a diferentes situações permitiu que esses materiais, há mais de 50
anos, venham sendo empregados em aplicações biomédicas em uma grande
variedade de situações [BLACK, 1992].
Os polímeros sintéticos ou naturais são os biomateriais mais versáteis,
apresentando uma ampla gama de aplicações nos campos farmacêutico, biomédico
e biológico. Como exemplo podemos citar a sua utilização como base para
engenharia tecidual, desenvolvimento de órgãos artificiais, materiais não
trombogênicos, dispositivos e sistemas para diagnóstico e tratamento, substrato
para cultura de células, membranas, biosensores e sistemas de liberação de
agentes bioativos. Dentre os biopolímeros, vêm se destacando mais recentemente
os polímeros biodegradáveis não só por uma questão ambiental, como também pelo
seu potencial de aplicação nas áreas da medicina e da farmácia. Podem ser usados
na substituição temporária de tecidos, enquanto estes se regeneram ou como meio
para a liberação controlada de fármacos. Os biomateriais poliméricos não devem
produzir qualquer resposta biológica adversa; não induzir efeito sistêmico; não ser
tóxico, carcinogênico e nem mutagênico. Todos esses conceitos devem ser
observados e são bastante empregados na Odontologia para se obter adesões em
tecidos biológicos, como o esmalte e a dentina [DUMITRIU, 1994].
36
2.4 COMPORTAMENTO EM SERVIÇO (DEGRADAÇÃO)
O termo degradação é um nome genérico utilizado para indicar mudanças nas
propriedades físicas e químicas resultantes da interação dos polímeros com agentes
modificadores. Essas interações fazem com que ocorra cisão na cadeia da
macromolécula, reações que envolvem inicialmente quebra das ligações covalentes,
diminuindo a massa molar e o tamanho da cadeia e, conseqüentemente, reduzindo
as propriedades físicas do polímero [SCHNABEL, 1981].
A degradação ambiental induz modificações estruturais nas cadeias poliméricas
causadas principalmente por reações químicas. Estas reações provocam a ruptura
das cadeias, alterando profundamente a estrutura molecular e as propriedades dos
polímeros. As modificações podem ser permanentes ou temporárias e ocorrem na
aparência, por exemplo, na cor ou nas propriedades físicas, químicas ou mecânicas.
Produzem, comumente, uma redução nas propriedades mecânicas desses
materiais. Em conseqüência, no desenvolvimento de materiais poliméricos
homogêneos ou compósitos, um melhor entendimento das alterações moleculares
que ocorrem nos polímeros sob condições ambientais agressivas é essencial para
se avaliar o comportamento mecânico, estático ou dinâmico, desses materiais.
Os mecanismos de degradação podem ocorrer pela quebra da ligação
covalente da cadeia principal ou de grupos laterais da macromolécula, podendo
levar à despolimerização, moléculas insaturadas, grupos oxigenados, cisão e
reticulação de cadeias. Estas reações podem ocorrer simultaneamente, e a
predominância de uma reação sobre a outra vai depender do polímero em questão.
A degradação dos polímeros é causada por modificações estruturais que
ocorrem nas cadeias poliméricas resultantes de reações químicas induzidas pela
exposição dos mesmos a diversos agentes ambientais. Os tipos de degradação
podem ser classificados de acordo com o agente responsável pela modificação do
polímero, conforme apresentado na TAB. 2.1 [MANO & BONELLI, 1995].
A fotodegradação ocorre pela exposição dos polímeros às radiações não
ionizantes, que são de alta freqüência e não possuem energia capaz de retirar
elétrons dos átomos ou moléculas. Um dos tipos de fotodegradação está associado
à oxidação da cadeia molecular, sendo chamada de foto-oxidação. Refere-se às
mudanças físicas e químicas causadas pela exposição à radiação luminosa,
37
especialmente na região do ultravioleta. A ocorrência de reações fotoquímicas tem
como pré-requisito a absorção de radiação pelo polímero através de grupos
cromóforos presentes nos polímeros e, de uma maneira geral, a presença de
aditivos ou impurezas é necessária para iniciação das reações fotoquímicas.
TAB. 2.1 - Tipos e agentes de degradação [MANO & BONELLI, 1995]
A termodegradação refere-se às mudanças químicas e físicas sofridas pelo
polímero sob elevadas temperaturas.
A degradação química está relacionada a processos induzidos pela exposição a
agentes químicos, água (hidrólise), oxigênio (oxidação) e produtos químicos.
A biodegradação resulta do ataque enzimático ao polímero realizado por
microrganismos, roedores e seres humanos. O mecanismo de degradação pode ser
por hidrólise ou por quebra enzimática, levando à cisão da cadeia principal do
polímero. Esse ataque é um processo químico em que o polímero atua como fonte
de carbono. Microrganismos podem se alimentar e digerir polímeros e, também,
iniciar envelhecimento mecânico, químico ou enzimático dos polímeros. Vários tipos
de polímeros, naturais ou sintéticos, são ambientalmente degradáveis. Um polímero
Tipo de degradação Agente Exemplos
Fotodegradação
Radiação luminosa Luz solar (UV próximo e visível)
Termodegradação Calor Sol, vulcões
Ar (oxidação) Atmosfera, ventos
Água (hidrólise) Chuva, mares, rios Degradação química
Produtos químicos Ácidos, bases, solventes Microrganismos (enzimas) Bactérias e fungos
Seres inferiores Insetos e roedores
Biodegradação
Seres superiores Seres humanos
Forças de cisalhamento Degradação mecânica
Usinagem Processamento
de plásticos
Radiação corpuscular Nêutrons, elétrons, produtos de fissão nuclear
FIG. 4.28 - Freqüência do índice de adesivo remanescente (IRA), dos conjuntos
dente - bráquete com a resina Concise, corpos de prova do ensaio de
cisalhamento, antes e após exposição aos agentes ambientais
ARI
0
10
20
30
40
50
60
70
“como recebido” saliva artif icicial termociclado
%
0
1
2
3
FIG. 4.29 - Freqüência do índice de adesivo remanescente (IRA), dos conjuntos
dente - bráquete com a resina Transbond XT, corpos de prova do ensaio de
cisalhamento, antes e após exposição aos agentes ambientais
106
5 CONCLUSÕES
A análise dos resultados experimentais obtidos nesta Dissertação de Mestrado,
baseadas nas informações obtidas nas referências bibliográficas, permite concluir o
seguinte:
� Os valores de resistência interfacial obtidos para os conjuntos dente – bráquete,
empregando-se as resinas Concise e Transbond XT, estão de acordo com os
observados na literatura.
� O adesivo ortodôntico Transbond XT, em relação ao adesivo Concise, permite a
obtenção de um conjunto dente - bráquete polimérico com maior resistência
interfacial.
� A exposição aos agentes ambientais, imersão em saliva artificial e termociclagem,
reduz a resistência interfacial do conjunto dente - bráquete polimérico,
independentemente do tipo de resina adesiva, Concise ou Transbond XT,
empregada na união.
� Não existem diferenças significativas na resistência interfacial do conjunto dente –
bráquete polimérico após sua exposição aos agentes ambientais,
independentemente do tipo de resina adesiva empregada na união.
� Os materiais poliméricos empregados neste trabalho, policarbonato e misturas
Bis-GMA/TEGDMA, mostraram-se pouco sensíveis às situações de degradação
estudadas, imersão em saliva artificial e termociclagem.
� A redução da resistência interfacial do conjunto dente – bráquete para as resinas
estudadas pode ser atribuída à degradação oxidativa das misturas Bis-
GMA/TEGDMA.
� A determinação do grau de reticulação sugere que as resinas estão 100%
reticuladas e que as condições de polimerização empregadas são adequadas
para o procedimento de colagem do bráquete no dente.
� A análise fratográfica por microscopia eletrônica de varredura (MEV) da superfície
interfacial dos corpos de prova de cisalhamento permitiu a caracterização dos
modos de fratura dos conjuntos dente - bráquete
� A determinação do Índice de adesivo remanescente (IRA) confirmou os modos de
fratura obtidos por MEV.
107
6 SUGESTÕES
Com base nos resultados e conclusões do trabalho, são feitas as seguintes
sugestões:
� Utilizar outras técnicas de ensaio, não empregadas nesta Dissertação de
Mestrado, para estudar o comportamento das resinas adesivas ortodônticas, a
base de misturas Bis-GMA/TEGDMA, para fins de comparação com os
resultados obtidos.
� Avaliar as propriedades analisadas nesta Dissertação de Mestrado variando as
condições de ensaio (temperatura, ambiente agressivo etc.), especialmente a
influência de esforços mecânicos.
� Avaliar as propriedades das misturas Bis-GMA/TEGDMA em situações de
degradação não estudadas neste trabalho visando a obtenção de maiores
informações sobre o comportamento esperado em serviço.
� Comparar o comportamento do conjunto - bráquete dente in vitro com o
comportamento in vivo.
108
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