INOVAÇÃO NA INDÚSTRIA METAL- MECÂNICA BRASILEIRA: UM ESTUDO DE CASO MÚLTIPLO SOB A ÓTICA DA TEORIA ECONÔMICA EVOLUCIONÁRIA E DA VISÃO- BASEADA-EM-RECURSOS Julio Vicente Rinaldi Favarin (usp) [email protected]Valdir Lopes Anderson (usp) [email protected]Marcos Mendes de Oliveira Pinto (usp) [email protected]Este artigo tem por objetivo identificar os mecanismos internos que promovem inovação em empresas de setores internacionalizados da indústria metal-mecânica brasileira. A metodologia utilizada consiste em um estudo de caso múltiplo com 10 eempresas selecionadas dentro dos setores mais competitivos do país, segundo um conjunto de indicadores apresentados aqui. Os setores analisados foram: o aeronáutico, de máquinas-ferramenta, de máquinas-agrícola, de compressores, equipamentos para a indústria alimentícia e de papel e celulose, de caminhões e ônibus e de carrocerias. A abordagem teórica baseou-se na visão-baseada-em-recursos (VBR) e na teoria econômica evolucionária. Observou-se que as empresas da amostra são dinâmicas e com notável capacidade de reinventar suas vantagens competitivas em um processo contínuo. Essa capacidade está associada, sobretudo à presença de competências excepcionais em engenharia (de produto e de produção), mas também à prospecção tecnológica e a um departamento de marketing com viés técnico, para capturar as necessidades tecnológicas do cliente. Na amostra, os mecanismos indutores de rupturas tecnológicas foram a atração de parceiros tecnológicos e desenvolvimento de pesquisa básica na universidade. Palavras-chaves: vantagens competitivas, indústria metal-mecânica, inovação incremental, inovação de ruptura XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.
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XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.
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1. Introdução
Este artigo tem por objetivo identificar os mecanismos internos que promovem inovação em
empresas de setores internacionalizados da indústria metal-mecânica brasileira, sob a ótica da
visão-baseada-em-recursos (VBR) e da teoria econômica evolucionária. A metodologia
utilizada consiste em um estudo de caso com 10 empresas de diferentes setores metal-
mecânicos, selecionadas por seu destaque em um conjunto de indicadores de competitividade.
Esta primeira seção apresenta os conceitos iniciais que fundamentam a abordagem do artigo.
Na segunda seção, descreve-se a trajetória da indústria brasileira. Na terceira e na quarta
explicita-se os aspectos metodológicos do estudo de caso e discute-se os resultados. A última
seção traz as conclusões do estudo.
No artigo, define-se recursos como os elementos1 de uma organização que levam-na a
organização a conceber e implementar uma estratégia de criação de valor não-compartilhada
por concorrentes ou potenciais competidores (BARNEY 1991). Quando esta for inimitável,
trata-se de uma vantagem competitiva sustentável. Não significa que precisa ser atemporal
para ser chamada de sustentável, mas deve apenas não sofrer ameaças imediatas pelos
esforços de duplicação de terceiros. Mudanças no cenário econômico podem mitigar a
sustentabilidade de uma vantagem e diluir as bases da criação de valor de uma estratégia.
Choques2 na economia atuam redefinindo quais atributos de uma organização constituem
recursos e quais não, exigindo um re-posicionamento em busca de uma nova vantagem
sustentável.
Segundo a Teoria Evolucionária, a dinâmica de criação e destruição das vantagens pode ser
explicada por três processos fundamentais originados na competição: de variação, de seleção
e de retenção (NELSON e WINTER 1982; BARNEY 2001). Empresas criam rotinas para
conduzir seus negócios, que na presença de competidores sofrem variações. Aquelas que se
mostrarem menos eficientes e eficazes são abandonadas. As que prevalecem dão origem às
vantagens competitivas.
Diferentemente da teoria neoclássica, que analisa os mercados sob a ótica do equilíbrio, a
abordagem evolucionária explica que a dinâmica do capitalismo baseia-se na alternância de
vantagens competitivas entre seus diversos agentes. O equilíbrio não seria, portanto, o
objetivo dos agentes, mas sim o destino oposto dos esforços empresariais. As oportunidades
de ganhos financeiros extraordinários estariam no que a primeira teoria considera uma
exceção, mas que a segunda afirma ser o determinante dessa dinâmica: as ―falhas de
mercado‖ (METCALFE 2003). São exemplos:
Concorrência imperfeita: oligopólios3
Assimetria de informação: patentes, P&D4
Mercados incompletos: quando um bem não é ofertado mesmo com demanda presente,
como por exemplo, devido a problemas políticos ou sociais
Acesso privilegiado a recursos: monopólios naturais
1 Capacidades, processos, rotinas, atributos, informação, conhecimento, etc... 2 Refere-se a mudanças diversas no ambiente competitivo: padrão tecnológico, instituições, instabilidade
comercial, novos entrantes, etc... 3 Apesar de menos vantajoso ao consumidor, os oligopólios representam uma condição favorável às empresas,
pois proporciona rentabilidade superior a de concorrência perfeita. 4 Uma patente é uma forma de assimetria de informação garantida por lei e de fundamental importância para
empresas que investem enormes quantias no desenvolvimento de novas tecnologias.
3
Externalidades: economias externas5
Neste contexto, é possível afirmar que as vantagens competitivas se apóiam sobre as falhas de
mercado. Diz-se, então, que uma empresa possui competência em determinada atividade
quando for capaz de mobilizar seus recursos para criar e re-criar uma vantagem competitiva
em diferentes conjunturas.
As empresas desenvolvem competências6 através de seus processos organizacionais, a partir
de uma posição (definida pelo conjunto de recursos no estado inicial) e dentro de um caminho
dependente da partida. É importante ressaltar que os caminhos têm um poderoso efeito de
exclusão, pois os esforços das organizações e sua prospecção tecnológica estão focados em
direções pré-determinadas por esses paradigmas (DOSI 1982). Novos paradigmas
tecnológicos emergem de uma complexa interação entre fatores econômicos (como a procura
por novas oportunidades de lucro e novos mercados, tendências de diminuir custos e
automação) e fatores institucionais (como os interesses e a estrutura de firmas existentes e os
efeitos das agências governamentais).
Avanços tecnológicos sem quebrar os paradigmas levam a trajetórias previsíveis. As rupturas,
entretanto, originam grandes avanços instantâneos.
Inflexão
Descontinuidade
Trajetórias
de ruptura
Tempo
Produtividade,
Eficiência, Conhecimento
Trajetória
incremental
Curva-padrãoCaminho ou
paradigma
Figura 1: Trajetórias tecnológicas
A trajetória padrão evolui pelo acúmulo de avanços incrementais sucessivos, enquanto que as
trajetórias de ruptura promovem verdadeiros saltos na curva. A descontinuidade ou a inflexão
exige uma nova função de produção (ou paradigma) que surge através do aprendizado e da
invenção de uma nova rota de desenvolvimento.
Contudo, ao considerar uma mudança tecnológica é necessário atentar ao fato de que é
praticamente impossível saber a superioridade de um caminho antes de realizá-lo, mesmo
quando os fatores de mercado e considerados apenas os indicadores técnicos.
2. Breve contexto da indústria metal-mecânica brasileira
Nas últimas três décadas, o Brasil vivenciou períodos intensos de instabilidade econômica.
Na década de 70, o contexto brasileiro estava favorável para as empresas nacionais, sobretudo
as do setor metal-mecânico. O que se convencionou chamar de ―milagre econômico
brasileiro‖ nos anos de 1968 a 1973 foi um período de forte crescimento do PIB e da
produção da indústria, principalmente de bens de consumo duráveis. A década seguinte foi
5 Benefício que um agente proporciona a outro devido a sua ação. Muitas vezes esse benefício é capturado
indiretamente pelo próprio agente. 6 Segundo o conceito de capacidades dinâmicas. (TEECE, PISANO e SHUEN 1997).
4
marcada por uma profunda crise, caracterizada pela estagnação econômica e altas taxas de
inflação.
A partir de 1990, a abertura empreendida pelo governo Collor, marca a ruptura dos padrões da
política comercial externa que vinha desde o final dos anos 60. Com o objetivo de forçar os
produtores domésticos a alcançar níveis de produtividade internacionais e disciplinar os
preços internos através da concorrência com produtos importados, o governo reduziu
impostos de importação, intensificou a abertura financeira e comercial e congelou preços.
Num primeiro momento, o aumento das importações foi inexpressivo e teve pouco impacto na
cadeia produtiva nacional principalmente devido à acentuada desvalorização da moeda
nacional.
Em 1994, a implantação do Plano Real impôs a paridade cambial entre a moeda brasileira e o
dólar norte americano, com o objetivo de conter a inflação aumentando a oferta de produtos
através da importação decorrente. Isso limitou significativamente a adoção de estratégias
competitivas pelas empresas nacionais, que tiveram de manter uma postura defensiva em
relação aos concorrentes externos. Ainda, as elevadas taxas de juros restringiam o acesso das
empresas à obtenção de crédito bancário e o aumento dos encargos financeiros agravou a
situação.
Das estratégias competitivas adotadas por algumas empresas a partir de 1990 destacam-se
(FERRAZ, KUPFER e IOOTY 2004):
Diversificação do negócio buscando reaproveitar as core competences da empresa, em
outros produtos e setores;
Reestruturação produtiva visando a redução de custos, através da racionalização do
processo concentrando-se nas core competences;
Estratégia de dowsizing gerando ganhos significativos de produtividade em curto
prazo e sem exigir a realização de investimentos significativos;
Introdução de tecnologias de informação e equipamentos na administração e produção;
Redução no portfólio de produto para aumentar a especialização;
Desverticalização da produção via aumento do componente importado e terceirização
de atividades ligadas à produção.
No período, observou-se também que a inserção internacional da indústria brasileira
permaneceu a mesma7. Além disso, a maioria das estratégias residiu em modernizar a
capacidade produtiva, e não ampliar. Isso sugere um ritmo lento de atualização, pois as
ampliações são o principal veículo da incorporação de novas tecnologias. Também após a
valorização cambial em 94, as empresas remanescentes usaram joint-ventures, ou fundiram-se
com outras empresas (geralmente estrangeiras) como forma de ampliar seus ganhos de
produtividade ou defender suas posições no mercado. No entanto, vários setores foram
incapazes de formular qualquer tipo de tática em virtude do agressivo ambiente
macroeconômico no qual estavam inseridos. As empresas transnacionais, por sua vez, agiram
no sentido de consolidar sua atuação no mercado doméstico brasileiro devido ao seu grande
potencial de consumo.
7 A indústria de commodities industriais, junto a de bens duráveis e de segmentos de inovação, por exemplo,
continuaram responsáveis pela maior parte do valor total do comércio internacional.
5
No geral, a indústria brasileira que sobreviveu à década de 1990 mostrou uma considerável
capacidade de adaptação a mudanças institucionais e econômicas. Competências foram
reforçadas graças a uma modernização dirigida fortemente na direção à racionalização. A
responsividade às mudanças decorrentes da liberalização econômica (fator chave para
competição) era visivelmente desigual, favorecendo as empresas com capacidades
acumuladas anteriormente.
A partir de 1999, o câmbio desvalorizado elevou a competitividade relativa da indústria
brasileira, contendo os produtos importados e alavancando as exportações. Em 2002, tendo
superado a instabilidade macroeconômica, aqueles setores que sobreviveram à década passada
encontraram-se diante de um cenário bastante favorável. Suas exportações tiveram um
incremento significativo nos anos seguintes.
A questão central do trabalho deriva dessa trajetória conturbada do Brasil: Como a indústria
desenvolveu competências para sobreviver a sucessivos choques? Quais mecanismos de
inovação foram criados nesse processo? A metodologia empregada para essa investigação
consiste em um estudo de casos, apresentado na seção a seguir.
3. Metodologia
O estudo de caso proposto tem por objetivo identificar as estratégias de inovação da indústria
metal-mecânica brasileira. A metodologia utilizada consiste em 4 etapas (MIGUEL 2007),
esquematizadas na figura a seguir:
Análises e conclusõesPlanejamento e coleta
de dadosEscolha dos casos
Elaboração de dossiês
Desenvolvimento dos
protocolos de coleta
Agendamento e realização
das entrevistas
Registro e organização
dos dados coletados
Definição de estrutura
conceitual-teórica
Mapeamento da
literatura
Delineamento das
fronteiras do estudo
Identificação dos casos
de interesse
Redução das
informações
Construção de painel
Análise das evidências
Desenho das
implicações teóricas
Figura 2: Metodologia de estudo de caso, adaptado de (MIGUEL 2007)
A escolha dos casos foi realizada a partir de quatro filtros aplicados aos setores industriais
brasileiros. Em cada etapa de filtragem foram definidos um ou mais indicadores que apontam
a situação dos setores nos critérios desejados. Os setores foram listados segundo a
classificação do CNAE 95, do nível de maior agregação, de dois dígitos, para o de menor, de
quatro, de acordo com a figura abaixo:
6
Amostra de
empresas para o estudo
CNAE
4 dígitos
CNAE
3 dígitos
Setores metal-
mecânicosCNAE
2 dígitos
FILTROS
APLICADOS
Figura 3: Metodologia de escolha de empresas
O primeiro filtro avalia capacidade de desenvolver novas tecnologias das empresas. Sua
aplicação tem como objetivo excluir os setores cujo esforço em inovação8 é menos
representativo. Devido à disponibilidade de dados, foi possível utilizá-lo apenas para os
setores discriminados por 2 dígitos na classificação CNAE. Nesse nível de agregação não é
possível escolher setores, apenas excluir os grupos com baixo desempenho. Os dados
utilizados são do PINTEC-IBGE para o ano de 2005 e suas definições são baseadas na
Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A avaliação da
capacidade de inovação utilizou dois índices complementares, definindo-os de forma relativa
para eliminar o problema da diferença do tamanho dos setores, e evitar que os maiores sejam
beneficiados por seus resultados absolutos.
O primeiro indicador utilizado analisa a importância dada à inovação pelo setor e é definido
pela porcentagem de empresas que implementaram inovações. O segundo mede os esforços
em P&D através da porcentagem de empregados que participam dessa atividade na empresa.
Tabela 1: Aplicação de inovações e esforço em P&D. Fonte: PINTEC-IBGE 2005.
353 Construção, montagem e reparação de aeronaves 3,46
295 Fabricação de máquinas e equipamentos de uso na extração mineral e construção 2,73
342 Fabricação de caminhões e ônibus 2,21
297 Fabricação de armas, munições e equipamentos militares 1,99
294 Fabricação de máquinas-ferramenta 1,34
352 Construção, montagem e reparação de veículos ferroviários 1,26
322 Fabricação de aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e de transmissores de televisão e rádio 1,23
311 Fabricação de geradores, transformadores e motores elétricos 1,23
291 Fabricação de motores, bombas, compressores e equipamentos de transmissão 1,21
296 Fabricação de outras máquinas e equipamentos de uso específico 0,86
341 Fabricação de automóveis, caminhonetas e utilitários 0,83
344 Fabricação de peças e acessórios para veículos automotores 0,81
332
Fabricação de aparelhos e instrumentos de medida, teste e controle - exceto equipamentos para controle de
processos industriais0,73
351 Construção e reparação de embarcações 0,69
321 Fabricação de material eletrônico básico 0,67
298 Fabricação de eletrodomésticos 0,66
343 Fabricação de cabines, carrocerias e reboques 0,65
293 Fabricação de tratores e de máquinas e equipamentos para a agricultura, avicultura e obtenção de produtos
animais
0,51
292 Fabricação de máquinas e equipamentos de uso geral 0,45
312 Fabricação de equipamentos para distribuição e controle de energia elétrica 0,37
302 Fabricação de máquinas e equipamentos de sistemas eletrônicos para processamento de dados 0,36
359 Fabricação de outros equipamentos de transporte 0,34
323
Fabricação de aparelhos receptores de rádio e televisão e de reprodução, gravação ou amplificação de som e
vídeo0,30
333
Fabricação de máquinas, aparelhos e equipamentos de sistemas eletrônicos dedicados à automação industrial e
controle do processo produtivo0,30
345 Recondicionamento ou recuperação de motores para veículos automotores -
339
Manutenção e reparação de equipamentos médico-hospitalares, instrumentos de precisão e ópticos e
equipamentos para automação industrial-
329
Manutenção e reparação de aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e de transmissores de
televisão e rádio - exceto telefones-
318 Manutenção e reparação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos -
299 Manutenção e reparação de máquinas e equipamentos industriais -
Novamente, o nível de agregação não permite escolher os setores, apenas eliminá-los para
valores de VCR’ baixos (inferior a 0,5).
O mesmo indicador pode ser aplicado para avaliar as importações. Setores com elevada
inserção internacional, ou seja, tanto exportação e importação possuem valores relativos
expressivos, indicam que existe uma especialização produtiva. Enquanto que o Brasil
desenvolveu competência em um segmento de determinado setor, o mundo responde pelos
demais. Acredita-se que esse fenômeno, conhecido como comércio intra-setorial, é um
indicativo importante do dinamismo no setor, revelando um nível de competitividade elevado
decorrente da especialização.
A tabela a seguir compara ambos os VCR’s, de exportação e de importação:
11 Onde: Ei=Exportações do setor i ; Pi= Produção do setor i ; Ej=Exportações do conjunto de setores j ( j=∑i) e
Pj=Produção dos setores j
10
Tabela 4: Comparação de setores pré-selecionados. Fonte: SECEX e IBGE
Cnae Grupos - Cnae 3 dígitosVCR'
Exportação
VCR'
Importação
Interesse para
navipeças
353 Construção, montagem e reparação de aeronaves 3,00 2,15 √295 Fabricação de máquinas e equipamentos de uso na extração mineral e construção 2,37 0,43 √342 Fabricação de caminhões e ônibus 1,91 0,16 √
297 Fabricação de armas, munições e equipamentos militares 1,72 0,11 -
294 Fabricação de máquinas-ferramenta 1,16 2,97 √
352 Construção, montagem e reparação de veículos ferroviários 1,10 1,19 √
322Fabricação de aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e de
transmissores de televisão e rádio1,07 1,17 -
311 Fabricação de geradores, transformadores e motores elétricos 1,06 1,08 √291 Fabricação de motores, bombas, compressores e equipamentos de transmissão 1,05 2,57 √296 Fabricação de outras máquinas e equipamentos de uso específico 0,75 1,96 √
341 Fabricação de automóveis, caminhonetas e utilitários 0,72 0,29 -
344 Fabricação de peças e acessórios para veículos automotores 0,70 0,37 -
332Fabricação de aparelhos e instrumentos de medida, teste e controle - exceto
equipamentos para controle de processos industriais0,63 4,54 -
351 Construção e reparação de embarcações 0,60 0,09
321 Fabricação de material eletrônico básico 0,58 10,77 -
298 Fabricação de eletrodomésticos 0,57 0,18 -
343 Fabricação de cabines, carrocerias e reboques 0,56 0,76 √
293Fabricação de tratores e de máquinas e equipamentos para a agricultura, avicultura e
obtenção de produtos animais0,44 1,48 √
Dezoito setores depreenderam-se do critério anterior, mas faz-se necessário uma pré-seleção
daqueles que possuem características marcantes
Os excluídos foram:
351: Construção e reparação de embarcações, compreende a indústria de construção naval,
que foi quase extinta no país pelos choques das décadas de 80 e 90, não interessando ao
estudo;
341, 344, 298: Fabricação de automóveis, peças para veículos e eletrodomésticos, apesar
casos bem-sucedidos na indústria brasileira, todos apresentam baixa inserção internacional,
com destaque ao baixo desempenho das importações e também das exportações;
322: Fabricação de equipamentos de telefonia, não representa um caso interessante para o
estudo;
332, 321: Fabricação de aparelhos de medida e fabricação de material eletrônico básico,
são dois grupos que apresentam índices de importação muito elevados, o que indica uma
posição desfavorável no mercado brasileiro.
297: Fabricação de armas e equipamentos militares, possui regras de mercado distintas das
indústrias em geral e não será abordado.
Por fim, a seleção dos setores baseou-se na representatividade dentro de seu grupo, avaliada
pelo peso da produção, e da competitividade. Todos os índices foram calculados no menor
nível de agregação, de 4 dígitos. A escolha das empresas para entrevista não se baseou em
critérios objetivos, mas buscou apontar empresas cujas trajetórias de sucesso se enquadram
com propriedade no estudo proposto.
Tabela 5: Escolha dos setores (CNAE 4 dígitos)
11
Cnae
3 díg.
Cnae
4 díg.Setores - Cnae 4 dígitos
% no
grupo
Exp Mi
R$
Imp Mi
R$
Prod
Mi R$
VCR'
Export
VCR'
Import
Empresas
escolhidas
2911
Fabricação de motores estacionários de combustão
interna, turbinas e outras máquinas motrizes não
elétricas - exceto para aviões e veículos rodoviários
15% 328 713 2060 0,4 1,5
2912 Fabricação de bombas e carneiros hidráulicos 17% 435 722 2245 0,5 1,4
2913 Fabricação de válvulas, torneiras e registros 17% 489 1111 2294 0,6 2,0
industrias alimentar, de bebidas e fumo22% 249 191 1636 0,3 0,6 Dedini
2963Fabricação de máquinas e equipamentos para a indústria
têxtil4% 469 61 327 0,5 6,0
2964Fabricação de máquinas e equipamentos para as
indústrias do vestuário e de couro e calçados5% 249 111 395 0,8 2,7
2965Fabricação de máquinas e equipamentos para
indústrias de celulose, papel e papelão e artefatos15% 377 481 1160 1,2 1,4 Voith Siemens
2969Fabricação de outras máquinas e equipamentos de uso
específico41% 1874 519 3116 0,5 2,5
3111 Fabricação de geradores de corrente contínua ou 17% 296 147 1050 0,8 0,6
3112Fabricação de transformadores, indutores, conversores,
sincronizadores e semelhantes 50% 445 941 3152 0,4 1,3
3113 Fabricação de motores elétricos 33% 1448 583 2072 1,9 1,2 Weg
342 3420 Fabricação de caminhões e ônibus 100% 6527 809 18412 1,0 0,2 Marcopolo
3431Fabricação de cabines, carrocerias e reboques para
caminhão45% 218 11 2363 0,3 0,0 Randon
3432 Fabricação de carrocerias para ônibus 41% 822 32 2121 1,1 0,1
3439Fabricação de cabines, carrocerias e reboques para
outros veículos14% 5 0 742 0,0 0,0
3521Construção e montagem de locomotivas, vagões e
outros materiais rodantes54% 459 373 1168 1,1 1,3 Randon
3522 Fabricação de peças e acessórios para veículos 46% 195 161 994 0,5 0,7
353 3531 Construção e montagem de aeronaves 100% 8990 4744 10095 2,5 2,0 Aeroálcool
343
352
291
293
295
311
296
O estudo de caso desenvolvido utilizou-se de três fontes de informação: entrevistas semi-
estruturadas12
, observação direta13
e análise documental14
. A qualidade das fontes é mostrada
na tabela que segue:
Tabela 6: Qualidade das fontes de informação, por empresa
Aeroalcool
Case New Holland
Dedini
Embraco
Marcopolo
Prensas Schuler
Randon
Valtra
Voith Paper
WEG
Análise
Documental
Observação
Direta
NR
NR
Entrevista
NR: Não Realizado
Boa Regular Ruim
12 Ver exemplo de questionário em anexo. As entrevistas foram realizadas com o Diretor de Produção, Vice-
Presidente ou Presidente da empresa. Exceção: Embraco – Gerente de Relações Institucionais de P&D. Duração
média: 2hs. 13 Refere-se à visitação aos locais de produção. 14 Diz respeito à análise de documentação disponível em meios eletrônicos, de estudos anteriores e de notícias na
mídia em geral.
12
4. Resultados e discussão
As informações coletadas foram organizadas e em seguida consolidadas em forma de painel.
O framework de análise dos resultados é apresentado na tabela abaixo:
Tabela 7: Framework de análise das informações coletadas
Aeroalcool
Case New Holland
Dedini
Embraco
Marcopolo
Prensas Schuler
Randon
Valtra
Voith Paper
WEG
En
ge
nharia
de
pro
du
to/p
roje
to
En
ge
nharia
de
pro
du
ção
Pro
sp
ecção
tecn
oló
gic
a
“Pu
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do p
elo
en
ge
nharia
”
“Pu
xa
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elo
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”
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un
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Po
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iros
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Div
ers
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rela
cio
nad
a
Po
ssu
i ba
se
mu
nd
ial?
Ce
ntr
o d
e
Tre
ina
me
nto
Muito/Forte Pouco/Fraco Ausente A característica mais marcante de todas as empresas da amostra foi a presença de uma forte
engenharia de produto e de produção. Nos relatos das empresas, o domínio do projeto e dos
processos-chave mostrou-se fundamental para a sobrevivência do negócio. A adequação do
produto aos recursos, insumos e serviços de terceiros disponíveis em cada momento histórico
permitiu às empresas absorverem os sucessivos choques da economia e buscar novas
aplicações e clientes.
A competência em engenharia proporcionou também uma forte capacidade inovativa. Todas
as empresas demonstraram ter percorrido uma sólida trajetória incremental em eficiência e
qualidade, e que após um longo período constitui uma vantagem competitiva considerável.
A prospecção tecnológica apareceu em 70% da amostra, e sempre com um viés para inovação
―puxada pela engenharia‖. Em 5 empresas a inovação ―puxada pelo cliente‖ mostrou-se
bastante relevante. A busca por trajetórias de ruptura destacou-se naquelas empresas com
intensa parceria com universidades.
Os principais fatos coletados de cada empresa e que suportam as conclusões do trabalho estão
listados abaixo:
Aeroalcool: Projetou um avião de lazer ultra-leve, tendo em vista a perspectiva de
explosão do preço do petróleo. Desenvolveu em parceria com a USP São Carlos tecnologia
em material compósito, usinagem de alumínio a laser e projeto de aeronave e
componentes. Tem dois projetos na FINEP. Fornece caixas de transporte de material bélico
para a Marinha em material compósito, com redução significativa do peso em comparação
com o aço.
Embraco: Criou uma rede de laboratórios e grupos de pesquisa em várias universidades. O
mais antigo, da UFSC, possui 100 pesquisadores e 26 anos de parceria. Hoje, 40% dos
profissionais de P&D saem desses centros. Tem linhas de financiamento com
FINEP/FAPESP. Desenvolve pesquisa em 4 frentes: novos mercados (iniciativa recente),
tecnologias transcendentais (em materiais, por exemplo), processos, e componentes de
compressores.
13
Dedini: Possui parcerias com vários grupos de pesquisa e a FAPESP. Profissionais de
P&D fazem intercâmbio entre várias universidades. Parceiros tecnológicos: Siemens
(controle das plantas de produção), Bosch da África do Sul (nova tecnologia de separação
de açúcar e do álcool) e empresa holandesa (processo de desidratação do álcool). Com a
baixa do mercado de etanol na década de 90, a empresa utilizou sua tecnologia de
fabricar torres para produzir destilarias de bebidas com parte da tecnologia importada.
Criou uma Escola de Soldas e fez parcerias com o SENAI em outras áreas.
Valtra, New Holland e Randon: Possui pouca interação com a universidade. Inovação
está voltada a adaptação/desenvolvimento de produto a vários clientes. O marketing
identifica oportunidades tecnológicas no mercado e traz para a engenharia. Na Randon, a
busca por novos mercados tem foco em soluções de transporte, e não apenas em seu
nicho principal de implementos rodoviários, resultando em forte diversificação.
Marcopolo: Forte engenharia de produto e inovações ―puxadas pelo cliente‖. Engenharia
de produção desenvolve células para automatização do processo (ex. solda robotizada
para fabricar poltrona e robos de corte a plasma de peças de aço). Faz adaptações nos
processos produtivos para cada projeto. Possui uma Escola de Formação de Profissionais.
Sua empresa de plásticos e material compósito desenvolveu uma nova tecnologia para a
construção civil, chamada de Wall System, que consiste em fabricar paredes prontas, com
tubulação e fiação.
Voith: Possui rede mundial de desenvolvimento de tecnologia. No Brasil, a inovação é
puxada pelo cliente, e a adaptação e teste de novos produtos acontecem no seu Centro de
Competências.
Schuler: Possui uma engenharia muito forte, que faz prospecção do mercado baseado em
similaridades produtivas e vantagens competitivas. A falta de encomendas na década de
90 levou a empresa a desenvolver um projeto em parceria com a SKF para produção de
engrenagem de turbina eólica, baseada em sua competência de produção de peças de
grande porte.
WEG: Tem um Comitê de Ciência e Tecnologia que anualmente analisa as tendências
mundiais e orienta a estratégia de novos produtos. Muitas parcerias com universidades: