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EXEMPLAR CORTESIA ANO 2 | N O 11 | JUL 2011 NA MIRA DO INMETRO Nanotecnologia e biologia molecular CARLOS NASCIMENTO Aos 67 anos, o desafio de encarar a construção da hidroelétrica de Belo Monte, no Xingu R$ 12,00 RICARDO AZOURY | PULSAR IMAGENS POLÊMICA SEM FIM Enquanto na Europa usinas são desativadas, o Brasil insiste nessa fonte energética
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EXEMPLARCORTESIA

ANO 2 | NO 11 | JUL 2011

Na mira do iNmetroNanotecnologia e biologia molecular

Carlos NasCimeNto Aos 67 anos, o desafio de encarar a construção da hidroelétrica de Belo Monte, no Xingu

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nuclearenergiaPOLÊMICA SEM FIM

Enquanto na Europa usinas são desativadas, o Brasil insiste nessa fonte energética

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Com esta edição, INOVA completa seu primeiro ano de cir-culação. Para uma publicação independente, sem relação com grandes grupos editoriais nacionais ou internacionais, o aniversário em si mesmo é um sinal de sucesso editorial que não deve passar despercebido para o leitor. E que coin-cide com outro aniversário, o dos cinco anos de existência do jornal ABCd MAIOR, outra experiência inovadora de co-municação à qual INOVA está associada.

Quem acompanhou estas doze edições de INOVA e os cinco anos do jornal pode avaliar os resultados. Com a sinergia do Portal abcdmaior.com.br, Jornal e Revista comemoram seu profundo enraizamento, tanto em termos de sociedade regio-nal, quanto dentro de um mercado editorial altamente compe-titivo e oligopolizado. E, o acerto do seu projeto editorial, de combinar o debate sobre o território local com o global.

Nesta edição, em continuação a esta caminhada, INOVA se dedica a um dos temas mais estratégicos do Planeta e de regiões metropolitanas como a do ABCd: a questão da produ-ção da energia. diante da complexidade do tema, aprofunda-se na mais controversa alternativa de produção de eletricida-de à disposição da humanidade: a da energia nuclear.

Na edição de maio (no 9) INOVA começou a abordar a pauta com um texto do correspondente Flávio Aguiar, de Berlim. Segundo ele, os europeus vivem o dilema da sua grande dependência da energia nuclear e a quase unanimidade na condenação da fissão como alternativa energética para o futuro da humanidade.

Agora, em reportagem especial, o repórter Mauricio Thuswohl relata o estado deste paradoxo em território nacional. Além de

falar das alternativas tecnológicas da fissão, revela os impas-ses em torno de Angra 3, e os debates que correm no Congres-so Nacional. Por outro lado, quem não tem dúvidas sobre a pre-valência da hidroeletricidade como principal fonte energética do País é o presidente da Norte Energia, Carlos Nascimento, que também falou com exclusividade à INOVA.

O resultado desta cobertura é uma contribuição bastante aprofundada ao debate sobre a fissão nuclear e as alterna-tivas enérgicas à disposição do Brasil. Mas, com certeza, ainda falta muito estudo para encontrar um resultado sus-tentável para esta equação. No início de junho, o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, lançou oficialmente o projeto da Usina Verde do município. São Bernardo quer transformar o passivo dos resíduos sólidos em fonte de ele-tricidade para prédios e vias públicas da cidade.

Com o projeto, um dos primeiros a serem pensados para as regiões metropolitanas, além de trazer a dimensão local para a equação global da produção e consumo de energia, o prefeito de São Bernardo lança também um desafio que, de fato, pode contribuir com a sustentabilidade do Planeta. Ao transformar o lixo em eletricidade, o homem consegue fechar o ciclo entre a produção primária, o consumo e, fi-nalmente, a transformação da energia consumida, o lixo, em nova fonte de energia.

Ao acompanhar cada passo desta discussão, nesta e em futuras edições, INOVA contribui para construir um modelo de sustentabilidade para a Região e para o Planeta, e ga-

rante o seu futuro editorial.

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06 EntrevistaCARLOS NASCIMENTOO presidente da norte Energia defende seu mais novo e polêmico projeto: a construção da usina de Belo Monte

09 EducaçãoENERgIAEstudantes da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), de São Bernardo do Campo, desenvolvem projeto para transformar lixo em energia

10 Notas20 InternacionalO VíRUS dA BACTéRIAFlávio Aguiar fala sobre a bactéria letal que surgiu na Alemanha, provocando pânico em toda a Europa

22 ParceriaENSINOConsórcio ibero-americano lança um novo desafio para as universidades: formar empreendedores

23 ProjetoBEBIdAO umbu pode se transformar em uma bebida fermentada, tão saborosa como o vinho branco

24 TecnologiaEMBALAgEMA uSP desenvolve filme plástico com ação anti-bacteriana, ideal para embalar alimentos

26 InovaçãoLABOTARóRIOSEm xerém, no estado do rio de Janeiro, InMetro realiza pesquisas de ponta na área de metrologia científica

29 TecnologiaAUTOPEçAEmbalagem autoajustável desenvolvida pela ZF do Brasil compensa automaticamente o próprio desgaste

30 PesquisaFIESPPara competir em mercado globalizado, indústrias paulistas investirão mais em inovação

32 ServiçosPrêmio Finep de Inovação abre inscrições

34 Ponto de VistaSíLVIO AUgUSTO MINCIOTTIO reitor da universidade Municipal de São Caetano do Sul (uSCS) defende o diálogo e a articulação entre universidade e setores produtivos

AnO 2 | nO 11 | JuL 2011

eXPedieNte: INOVA é uma publicação da MIDIA PRESS Editora Ltda. INOVA não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. Trav. Monteiro Lobato, 95, Centro São Bernardo do Campo FoNe (11) 4128-1430 diretor/editor: Celso Horta (MTb 140002/51/66 SP) editora assisteNte: Sonia Nabarrete PartiCiParam desta edição: Clébio Cavagnolle Cantares, Joana Horta, Laís Correard e Maurício Thuswohl. CorresPoNdeNte: Flávio Aguiar arte: Ligia Minami tratameNto de imaGeNs: Fabiano Ibidi dePartameNto ComerCial: FoNe (11) 4335-6017 PubliCidade: Jader Reinecke assiNatura: Jéssica D’Andréa imPressão: Leograf tiraGem: 40 mil exemplares

12 na contramão da tendência mundial, Brasil mantém disposição de investir em energia nuclear, reacendendo o debate entre cientistas, políticos e ambientalistas

16 Angra dos reis, primeiro polo gerador de energia nuclear no País, é questionado pela sua geografia, que dificultaria a evasão em caso de acidente

18 Medidas propondo incentivos para o desenvolvimento de usinas e pagamento de royalties para estados e municípios sedes mostram que o Programa nuclear Brasileiro avança

especial energia nuclear

12ALOíSIO MERCAdANTEO Ministro da Ciência e tecnologia lembra que o Brasil está atento às discussões sobre energia nuclear

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INOVA – Depois de deixar a atividade pública para assumir a Norte Energia, iniciativa privada, o seu projeto agora é chegar ao final da obra de Belo Monte?Nascimento – Foi com muita honra que eu rece-bi este convite dos acionistas da Norte Energia para, mais uma vez, dar minha colaboração para um setor que é tão importante para o País. Es-tamos muito felizes porque conseguimos chegar ao estágio de nossa licença de instalação. Este empreendimento (Belo Monte) vai fazer uma transição na área da eletricidade em nosso País. As grandes hidroelétricas construídas no Ama-zonas foram iniciadas antes da Constituição (1988). Agora, estamos aqui, ao lado de outros colegas, para construir este empreendimento que é realmente extraordinário.

INOVA – Diante do potencial hidroelétrico nacional, como o Brasil deve aproveitar as demais alternativas, desde a usina nuclear até a eólica?Nascimento – Nosso País tem reservas de urânio inestimáveis. Somos a sexta maior reserva de urânio no Planeta. Mas ainda há muita coisa a prospectar. Apenas 50% da Amazônia foi pros-pectada geologicamente. Temos ventos, biomas-sa, sol, pré-sal e temos a hidroeletricidade. Isto tudo é uma dádiva. No caso da hidroeletricida-de, estamos aproveitando somente 1/3 dos 260 mil MW estimados no País. Um dos pilares do modelo elétrico vigente é o que se chama de mo-tricidade tarifada. A gente tem que buscar fontes que custam mais barato para o consumidor. A que apresenta maior eficiência é a conversão da

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Aos 67 anos, Carlos Raimundo Albuquerque Nascimento é o presidente da Norte Energia S/A, uma sociedade anônima de fim especifico criada para construir a usina Belo Monte, no Xingu. Engenheiro eletricista, há 40 anos ele acompanha empreendimentos hidroelétricos e estudos ambientais no norte do Brasil. Foi diretor financeiro e presidente da Eletronorte, passou pela Eletrobrás e pelas Centrais Elétricas do Pará (CELPA), além do Instituto do desenvolvimento Econômico-Social do Pará. Hoje, instalado no 10º andar do edifício Varig, no centro comercial de Brasília, ele enfrenta um dos seus mais importantes desafios profissionais: dar vida a uma hidroelétrica com uma área inundada relativamente pequena e sob o fogo cerrado de ambientalistas de todo o Planeta. Seu reservatório corresponde a 0,04 km2 por MW instalado (contra 0,49 km2 da média nacional). Na manhã de 28 de junho, o engenheiro acompanhava noticiário internacional sobre os 502km2 do reservatório de Belo Monte. Informação publicada pelo espanhol La Crônica Verde fala em 4.000km2 de reservatório, quase dez vezes mais que a realidade, reagiu indignado o presidente da Norte Energia. “O que está em jogo é o desenvolvimento do País”, sustenta Carlos Nascimento, em entrevista à INOVA.

O Presidente da norte Energia, responsável pela construção da usina de Belo Monte, apresenta argumentos que justificam o projeto, motivo de tanta polêmica

BELO MONTE: EM JOgO, O PAíS

entrevista Carlos nascimento

Celso [email protected]

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energia potencial da água em eletricidade. Esta conversão é superior a 90%. Nas outras fontes, a que avança mais chega a pouco mais de 40%, as turbinas a gás. As usinas térmicas também. Mas têm suas limitações, poluem.

INOVA – O desenvolvimento tecnológico pode mudar este perfil? Por exemplo, na energia eólica, em que medida uma corrida tecnológica pode alterar a vantagem da hidroelétrica? Nascimento – O Brasil é um país com popu-lação grande, com 200 milhões de habitantes, precisa gerar emprego, temos que usar me-canismos que desenvolvam nosso mercado interno. Temos de procurar aquelas fontes energéticas que internalizam para nós pa-gamento de impostos, vagas de trabalho, é o que temos de fazer. Acredito que, no futuro, a energia solar vai ser a fonte que realmente vai apresentar muito sucesso. Temos um li-toral fantástico, quase oito mil quilômetros, e temos ventos internos em determinadas altitudes muito favoráveis à geração eólica. Mas, quando falta vento... A única forma de estocar eletricidade é a bateria. Como não se pode estocar eletricidade, a gente estoca energia em forma de água. Guarda a água no reservatório e quando precisa, gera. Hoje, como grande parte de nossas usinas são a fio d’água, elas não têm mais reservatórios. Estamos perdendo este benefício que nosso País tem, para não alagar determinadas áre-as. São questões que nos limitam do ponto

móveis. Na parte girante, as melhorias são de modelos matemáticos, grandes equipa-mentos para construir melhor, polir melhor.

INOVA – Mas as novas descobertas, as que não estão nos estudos preliminares, que aparecem na execução, como isto será acompanhado cientificamente?Nascimento – Quando se recebe licença, os órgãos ambientais estipulam os condicio-nantes. Para que a licença esteja em vigor, tem-se que cumprir regras que você estudou antes, apontou os impactos que podiam cau-sar. Quase todas as intervenções humanas provocam consequências sobre a natureza. O que se procura é mitigar estes impactos. Mas foi o desenvolvimento dos aproveitamentos hidráulicos que propiciou o conhecimento sobre os peixes da Amazônia, o estudo do solo, por exemplo. O estudo da fauna, da flora. O licenciamento é continuo.

INOVA – Mas não precisamos também discutir o consumo de energia?Nascimento – Se comparar com países desen-volvidos, com os nórdicos, com os Estados Unidos, estamos consumindo cerca de 1/5 ou 1/6 do que eles consomem. E nosso povo também tem direito a ter um conformo maior. Quando nossos níveis de consumo forem os mesmos, vamos precisar de uma produção de energia extraordinária. É aí que entra a questão da sustentabilidade. Quando a China, com seu 1,4 bilhão de pessoas, chegar

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de vista sócioambiental. No passado, gran-de parte de nossas hidroelétricas tinham um reservatório de acumulação para operação plurianual. Agora, por uma série de condi-ções socioambientais...

INOVA - No caso de Belo Monte, o reservatório será menor do que se desejava. Mas não há solução tecnológica, novas tecnologias capazes de gerar mais com menos água? Nascimento – As diferenças são da ordem de 92% e 93%. Não podemos ultrapassar os 100%. As diferenças são infinitesimais, no micrôme-tro. Atingiu-se o estado da arte. A mesma coisa em relação à eficiência. Quando se compara com as eólicas, as variações são da ordem de 40% a 45%, as excepcionais. Mas, mesmo as-sim, o grande problema é o seguinte: acabou o sol, acabou o vento, como se gera? Tem de ter fonte complementar porque, quando acabam, você tem de usar ou a hidroeletricidade, ou o combustível fóssil, ou o nuclear. Nosso País tem este leque de alternativas.

INOVA – Em que medida investimentos, como o de Belo Monte, acabam contribuindo para a geração de conhecimento?Nascimento – Quanto aos equipamentos em si, sempre há evolução, principalmente as propiciadas pela eletrônica. Eletrônica tem tido avanço nos controles, os equipamentos estão mais compactos, evitando-se peças

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ãOCarlos nascimento: 40 anos acompanhando os canteiros das hidroelétricas do norte

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a ter uma intensidade energética por consumi-dor, do mesmo tipo dos países mais desenvol-vidos, não haverá recurso no Planeta para isto. Então, na minha visão, a questão da susten-tabilidade significa uma consciência maior no Planeta. Por que determinados povos podem gastar cinco ou seis vezes mais? E outros não têm direito ao seu desenvolvimento?

INOVA – Mas, diante desta equação internacional do consumo e produção da energia, como preservar a natureza?Nascimento – O Brasil dá um exemplo. Nós temos uma matriz energética, a da eletri-cidade, uma das mais limpas do planeta. Construímos uma legislação ambiental que impõe muitas restrições. Se você for com-parar os malefícios que estas hidroelétricas causam frente aos benefícios... Na minha visão, as hidroelétricas têm contribuído.

INOVA – Grande parte da oposição à Belo Monte vem de entidades internacionais que discutem a preservação do meio ambiente a partir de lógica global. O Brasil, como território privilegiado de biodiversidade, tem de preservá-la... Nascimento – O que move o mundo é a venda de bens. Cada país produz determinados tipos de bens. O Brasil tem um macronegócio extra-ordinário. Em vários setores, empreendedores brasileiros estão se destacando. Existem inte-resses econômicos muito grandes por trás da questão ambiental. Imagina o que vai ocorrer daqui a 40 ou 50 anos, com todas estas hi-droelétricas. Significa que os custos de nossos produtos vão ser baratos e vão ter preponde-rância sobre o resto do mundo.

INOVA – A favor de Belo Monte, quais os principais argumentos?Nascimento – Primeiro, o custo de produ-ção de energia, um dos mais baixos do País; a extensão alagada por MW produzido, também das mais baixas; vai levar desenvol-vimento para uma região que é pobre. Não consigo enxergar malefícios no projeto de Belo Monte. É um projeto desafiador.

INOVA – Quais os próximos passos dentro do cronograma de Belo Monte?Nascimento – Agora estamos construindo os canteiros pioneiros, depois os definitivos. A seguir, vamos dar inicio à construção das casas de força, do canal. Nosso governo, com sensibilidade extraordinária de prote-ção do ser humano, criou um programa de desenvolvimento regional, do qual fazem parte o governo estadual, prefeituras, que visa o desenvolvimento do ser humano de forma harmônica. Vamos apoiar varias ini-ciativas empreendedoras na região, vamos ter um empreendimento que vai ser orgu-lho para o nosso Pais e servir de parâmetro para outros aproveitamentos que virão na Região Amazônica e que são necessários ao desenvolvimento econômico do nosso País com energia barata...

INOVA – Somos altamente competitivos na produção de energia. Seremos mais ainda? E em que áreas?Nascimento – Na minha compreensão, so-mos e seremos mais ainda. Nossa principal área é a hidroelétrica e é a mais barata. O Brasil está usando um mix grande. Além da biomassa, a energia solar com a primei-

ra experiência no Ceará, e já temos vários parques eólicos implantados, nossas usinas nucleares operando. O que precisamos é criar uma consciência de responsabilida-de no que fazemos, usar o conhecimento científico, avançar nas questões ambien-tais para, qualquer que seja a intervenção, manter a posição do Brasil de vanguarda na proteção ao meio ambiente.

INOVA – Em relação à mídia, não houve uma politização do debate sobre Belo Monte para se criticar o governo Lula e Dilma?Nascimento – Pode ser interpretado por este ângulo. Mas Belo Monte é um proje-to que vem sendo estudado há mais de 30 anos. Os montantes de energia que nosso Pais precisa, cinco mil MW a cada ano para adicionar ao sistema, exigem empre-endimentos para aproveitar os recursos hidráulicos que temos. Vamos ter de fazer também outras usinas (na Amazônia). É uma fonte barata. Sabemos que grande parte da água potável está no nosso País. Temos de ser responsáveis no que vamos fazer, cuidar das minorias (comunidades indígenas) que se julgam desprotegias. Se elas ficarem lá, o próprio desenvolvimento vai fazer uma integração destas pessoas. As políticas que vem sendo praticadas no Bra-sil são pelo desenvolvimento destas etnias. Hoje, muitos de seus filhos estão cursando universidades, estão integrados à vida do País. E é isto que cada um de nós deve se esforçar, para que cada vez mais seja possí-vel a integração destas pessoas.

A Usina Belo Monte será a terceira maior do mundo, com capacidade instalada de 11 mil Megawatts (MW). Em primeiro está a chinesa Três gargantas, 22,5mil MW; em segundo, a Itaipu Binacional, com 14 mil MW

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Alunos do curso de Engenharia Química da FEI usam lixo orgânico do Mercado Municipal de São Paulo para gerar biogás e, consequentemente, energia elétrica

omo transformar lixo em energia elétrica? A respos-ta está na ponta da língua de alunos do curso de En-genharia Química do Cen-tro Universitário da Facul-

dade de Engenharia Industrial (FEI), de São Bernardo do Campo, que apresentaram uma nova alternativa para o lixo orgânico. Como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), os estudantes desenvolveram projeto que apro-veita o lixo orgânico do Mercado Municipal de São Paulo para gerar biogás, utilizado na produção de energia elétrica.

O estudo consiste em obter biogás por meio de um biodigestor, usando uma mis-tura dos resíduos orgânicos, água e ester-co bovino. Após esse processo, o biogás é queimado para gerar energia elétrica. Os testes foram realizados usando-se 7,5 mil kg de lixo orgânico, que gerou 983,46 m3/dia de biogás, mostrando que é possível produzir 74 MWh/ano de energia elétrica. “Propomos a venda dessa energia. A re-

ceita pode ser revertida para o pagamento do investimento inicial, que é de cerca de R$ 400 mil”, afirma a estudante Roberta Lima, integrante do grupo.

uSInA VErdE EM SãO BErnArdOA alternativa não está distante do que o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, já vislumbra. Um modelo de usina será adota-do na cidade para separar materiais reciclá-veis do composto orgânico, justamente para transformá-lo em energia elétrica. A estima-tiva é de que o equipamento gere cerca de 30 MW/h, energia suficiente para atender a 150 mil residências, o equivalente a 400 mil pessoas. O edital do Sistema Integrado de Manejo e Gestão de Resíduos foi lançado no início de junho. A ação prevê um novo modelo de gestão de limpeza urbana, além da implementação de um sistema de reapro-veitamento de resíduos e geração de ener-gia, a chamada Usina Verde. (CC)

educação energia

Estudantes transformam lixo orgânico em energia

O estudo sobre a geração do biogás, a partir dos resíduos sólidos orgânicos, abre uma nova perspectiva para destinar o lixo orgânico despejado nos aterros sanitários”LuIZ FErnAndO PEFFI, professor e orientador do projeto

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Testes usaram 7,5 mil kg de lixo

orgânico do Mercado Municipal de São Paulo

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PrOgrAME-SEJULHO

18 a 21 de julho | sincobiol 2011 | A 12º edição do Simpósio de Controle Biológico terá como tema “Mudanças climáticas e sustentabilidade: quebra de paradigmas”. O objetivo é provocar uma discussão aprofundada sobre uso de agentes de controle biológico de pragas, doenças de plantas e pragas urbanas. Local: Palácio das Convenções do Anhembi, São Paulo, SP. Mais informações em: www.seb.org.br/siconbiol2011

AgOSTO

2 a 5 de agosto | oficina o2i | A 1° Oficina de Instrumentação científica e Inovação tecnológica, promovida pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), visa a articulação de grupos para o desenvolvimento inovativo de instrumentação eletrônica. Local: CBPF, Urca - Rio de Janeiro, RJ. Mais informações em: mesonpi.cat.cbpf.br/o2i

2 a 4 de agosto | Consumer eletronics brasil | A 2ª Feira Internacional de Consumo Eletrônico configura-se como espaço para negócios, observação das tendências, aprendizado da convergência digital e da eletrônica verde. Local: Expo Center Norte - São Paulo – SP. Mais informações em: www.photoimagebrazil.com.br/

FrEntE PArLAMEntAr OBJEtIVA APrIMOrAr LEgISLAçãO FEdErALgrupo deseja promover a alocação de recursos orçamentários para o setor de Pesquisa, desenvolvimento e Inovação (Pd&I)

Uma nova Frente Parlamentar da Pesquisa e Inovação (FPPI) foi lançada em 15 de junho, no Senado Federal. Composto por mais de 200 parlamentares de todo o País, o grupo tem o objetivo de contribuir para o aprimoramento da legislação federal com foco na Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I), assim como promover a alocação de recursos orçamentários para o setor. A Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica Industrial (Abipti) responderá pela secretaria executiva da frente, que será coordenada pelo deputado federal Paulo Piau (PMDB-MG). Durante o lançamento da FPPI, o ministro Aloizio Mercadante anunciou que o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) discute com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) a criação de um órgão de pesquisa para inovação tecnológica na área da indústria de transformação. O novo órgão seguiria os moldes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A fase de consultas do projeto deve ir até julho. O ministro não informou se o órgão terá ou não o status jurídico de empresa pública, mas afirmou que essa “tem de ser uma parceria de iniciativa privada e de setor público. Não pode ser iniciativa de governo”.

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notas

Whirlpool investirá mais r$ 10 mi em universidadesA Whirlpool S/A, que atua no Brasil com as marcas Brastemp, Consul e Kitchen Aid, e a Fapesc (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina) assinaram um termo de cooperação técnica que prevê o repasse de R$ 10 milhões às universidades públicas e privadas do Estado para serem usados em pesquisa de temas como efi–ciência energética, termodinâmica, nanotec-nologia, entre outros que estão na pauta da inovação da companhia. A Fapesc é a quarta instituição com a qual a Whirlpool estabele-ce esse tipo de parceria. Somente em 2010, foram assinados convênios com a Fapesp, em São Paulo; a Fapemig, em Minas Gerais; e a Fapeam, no Amazonas.

novo Passat detecta sono do motoristaO novo Passat traz a novidade do momento: o sistema de detecção de fadiga do condu-tor, um dos vários dispositivos destinados a aumentar a segurança no trânsito. O automó-vel é o primeiro da Volkswagen a contar com a função de frenagem de emergência para trânsito urbano, que faz parte do aperfeiço-ado controle de velocidade e distância ACC (Adaptive Cruise Control).Funciona assim: o sistema anti-fadiga detecta a perda de concentração do motorista e o avi-sa, por meio de um sinal auditivo, que é hora de acordar. Além disso, uma mensagem visual no painel de instrumentos recomenda que o condutor pare e descanse.No trânsito, a função de frenagem de emer-gência, que atua em velocidades abaixo dos 30 km/h, reage conforme presença de veícu-los parados. Se preciso, ela inicia automati-camente uma ação de frenagem, evitando co-lisão frontal ou, pelo menos, minimizando os danos resultantes. O ACC acelera e desacele-ra o carro, dependendo do fluxo de tráfego. O Park Assist também evoluiu. O sistema ago-ra faz o carro estacionar sozinho em vagas paralelas e perpendiculares. É inovação que não acaba mais.

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COnCLuídA A OCuPAçãO dO PArQuE tECnOLógICO dA uFrJA Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) concluiu a última etapa da licitação para ocupação de terrenos do seu Parque Tecnológico, situado na Ilha do Fundão. (Tema abordado em matéria especial na edição 10 da Inova). Ao todo, doze grandes companhias vão instalar seus centros de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no local, ocupando uma área de 150 mil metros quadrados, do total de 350 mil metros quadrados do parque. As três empresas que aderiram na última fase de ocupação foram a EMC2 Brasil, a Siemens e a British Gas (BG).

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nEStLé: nA BAtALHA COntrA A OBESIdAdEO objetivo é levar o consumidor a sentir-se satisfeito, comendo menos

A ideia é que esses produtos consigam saciar o consumidor rapidamente, coibindo o desejo de comer mais. Outro desafio é manter as pessoas saciadas por mais tempo. Um grupo de pesquisadores da companhia trabalha para criar novos alimentos, tendo como base a comu-nicação entre o cérebro e o estômago. “Fritar batatas em óleo que é digerido mais lentamente que o normal, por exemplo, pode dar uma sensação de saciedade mais duradoura. Isso significa que as pessoas vão se sentir cheias mais rapidamente”, afirma Heribert Watzke, um dos pesquisadores envolvidos no pro-jeto. Essa evolução na ciência dos alimentos pode contribuir na batalha contra a obesidade.Os estudos contam com o suporte de um “laboratório da digestão”, que faz parte do centro de pesquisa e desenvolvimento da Nestlé em sua matriz, na Suiça. Trata-se de uma máquina, do tamanho de uma geladeira grande, que custou US$ 1 milhão e reproduz o sistema digestivo humano. Os compartimentos conectados por válvulas são cuidadosamente calibrados para terem a temperatura de um ser vivo, tudo controlado por computador. (CC)

Inovações para a Amazônia Legal serão estimuladasA sétima edição do Amazontech, programa que estimula o desenvolvimento científico-tecnoló-gico e a inovação para o desenvolvimento sus-tentável da Amazônia Legal, já tem data e local escolhidos: de 18 a 22 de outubro, em Palmas, capital do Tocantins. Sebrae, Governo Fede-ral, Embrapa, Universidade Amazônica e outros parceiros institucionais estarão presentes para falar sobre mercados, políticas públicas, res-ponsabilidade socioambiental e educação.

Criada enciclopédia digital de biodiversidadeO Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e a IBM Brasil desenvolverão em conjunto a Wikiflora, plataforma para registro de dados sobre biodiversidade. O portal será elabora-do a partir do conceito de Ciência Cidadã, que busca incentivar a cooperação entre comunidades, educadores e cientistas em estudos ligados à diversidade biológica e contará com ferramentas de redes sociais e referências geográficas do conteúdo.

Brasil avança 21 posições no ranking da inovaçãoO cálculo é feito anualmente pelo Insead, uma das principais escolas de negócios da Europa, em parceria com a Organização Mundial de Propriedade Intelectual, agência ligada à Or-ganização das Nações Unidas (ONU).A nova classificação coloca o Brasil na 47ª posição em termos globais, à frente de países como Rússia, Índia e Argentina.A recuperação do Brasil é surpreendente: no ano passado havia caído 18 posições e ficou em 68o lugar, contra 50o em 2009. Contaram pontos positivos ítens como aumento de pro-dutividade e exportação de serviços criativos.

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especial energia nuclear

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energianuclear

Trabalhadores entram no

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o ano que vem, terão se passado exatos 70 anos des-de que a equipe do físico Enrico Fermi desenvolveu na Universidade de Chi-cago, nos Estados Unidos, aquilo que foi considerado

o primeiro reator nuclear. Desde então, a opção energética nuclear é motivo de polêmica entre cientistas, acadêmicos, políticos e ambientalis-tas, colocando em lados opostos os defensores de uma fonte de energia considerada moderna e relativamente limpa, e os críticos à construção de usinas e ao acúmulo de rejeitos radioativos, que podem representar um grave risco à vida em caso de vazamentos ou outros acidentes.

Após um período em que a polêmica nuclear arrefeceu e ficou restrita ao embate político tra-vado entre governos e organizações ambienta-listas em alguns países, o acidente ocorrido em março na usina de Fukushima, no Japão, trouxe de volta antigos temores e velhas discussões. Em decorrência da forte pressão da opinião pública, países como Alemanha, Itália e Suíça, além do próprio Japão, anunciaram a suspensão total ou parcial de seus programas nucleares. O Brasil, que almeja construir quatro novas usinas, segun-do o Plano Nacional de Energia 2030, abriu para consulta pública em junho seu Plano Decenal de Expansão de Energia, segundo o qual somente a usina Angra 3, no Rio de Janeiro, tem entrada em operação assegurada até 2021.

HOrA dE rEFLEtIrO ministro das Minas e Energia, Edison Lo-

bão, admite que o momento é de reflexão: “Nos-sa política de energia nuclear está mais ou me-nos circunscrita às duas térmicas já existentes e, agora, à construção de Angra 3. Há previsão de mais quatro usinas, mas é apenas uma previsão, dentro dos conceitos e da política energética do Brasil. Essa previsão está sendo reavaliada pelo Ministério das Minas e Energia (MME) e pelo Conselho Nacional de Política Energética. Não há uma decisão, ainda, sobre a instalação das novas usinas”, diz.

Para o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, o acidente de Fukushima faz com que os processos de produção de ener-gia nuclear sejam repensados, especialmente no que se refere aos procedimentos de segurança e contingência: “O Brasil vai acompanhar aten-

tamente e participar das discussões sobre os melhoramentos tecnológicos que advirão das lições aprendidas com a tragédia do Japão. Va-mos aplicar todos os protocolos internacionais nas usinas que já temos e, eventualmente, para a continuidade do programa nuclear”.

Alguns setores afirmam que a geração de energia nuclear é estratégica para o futuro do País: “O Brasil tem hoje a sexta maior reser-va de urânio do mundo e domina todo o ciclo do elemento combustível. Essa reserva se refe-re somente a 30% do território nacional, pois ainda faltam ser prospectados os outros 70%”, afirma Edson Kuramoto, presidente da Asso-ciação Brasileira de Energia Nuclear (Aben).

grAndE rIQuEZA

Quando isso for feito, segundo Kuramoto, a expectativa é que o Brasil atinja a segunda maior reserva de urânio do mundo: “Em termos energéticos, é uma riqueza comparável ao pré-sal”, garante o presidente da Aben, antes de ressaltar que somente três países no mundo dominam a tecnologia do ciclo do elemento combustível ao mesmo tempo em que possuem reservas de urânio: Brasil, Estados Unidos e Rússia.

Outros setores defendem o imediato aban-dono da produção nuclear brasileira: “O Brasil não fez a escolha desta tecnologia. A herdamos da ditadura militar, em um período de dispu-ta de avanço tecnológico em relação a alguns países, principalmente a Argentina por possuir essa fonte em seu território. Não há dúvida que precisamos diversificar a matriz energética brasileira, mas por fontes renováveis e a partir de um uso mais eficiente em toda a cadeia pro-dutiva, com justiça e equidade socioambien-tal”, afirma Ivan Marcelo Neves, secretário-executivo do Instituto Socioambiental da Baía da Ilha Grande (Isabi) e que, até junho, ocu-pou o mesmo posto no Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais pelo Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (FBOMS).

Acidente em Fukushima, no Japão, reacende a polêmica: energia limpa ou risco à vida?

Maurício [email protected]

O Brasil vai acompanhar atentamente e participar das discussões sobre os melhoramentos tecnológicos que advirão das lições aprendidas com a tragédia do Japão. Vamos aplicar todos os protocolos internacionais nas usinas que já temos e, eventualmente, para a continuidade do programa nuclear.” ALOIZIO MErCAdAntE, Ministro da Ciência e tecnologia

energianuclear

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especial energia nuclear

rISCO IMEdIAtOO físico José Goldemberg afirma que o

governo brasileiro, se assim desejar, pode abandonar a energia nuclear, pois tem al-ternativas energéticas suficientes: “O Brasil encontra-se em posição privilegiada, com boa parte do seu potencial hidroelétrico ainda inexplorado e, sobretudo, com o uso da biomassa, que pode gerar eletricidade a partir da produção de etanol de cana-de-açúcar”, destaca.

Goldemberg ressalta que a energia nuclear representa somente 15% da energia elétrica gerada em todo o mundo: “Se levarmos em conta a queima de petróleo, esse percentual cai para 2%”, diz. Sobre a questão da segu-rança das usinas, o físico é taxativo: “Optar pelo nuclear significa trocar um risco futuro por um risco imediato. O aquecimento da Terra terá seus efeitos mais graves em três ou mais décadas e as usinas são um risco para hoje, como nos mostrou Fukushima”.

Os “pontos críticos” da produção de ener-gia nuclear no Brasil são enumerados pelo ambientalista Ivan Marcelo: “O País não domina plenamente a tecnologia, a destina-ção dos rejeitos radioativos continua sem so-lução, existe risco de acidente grave em toda a cadeia produtiva, o acesso às informações sobre as usinas não é confiável, as usinas são muito caras e os planos de segurança inter-nos e externos estão defasados”.

JAPãO E BrASILNo que se refere à segurança, o presidente

da Aben chama a atenção para a diferença entre os cenários japonês e brasileiro: “É pre-ciso levar em consideração que em Fukushi-ma existe uma geração antiga de usinas, com uma tecnologia diferente das que temos no Brasil. As usinas brasileiras são do tipo PWR e as usinas acidentadas são do tipo BWR, bem diferentes e mais antigas, além de ter outra filosofia para seu sistema de segu-rança. Além disso, a possibilidade de ocorrer um terremoto de magnitude extrema ou uma tsunami em Angra dos Reis é quase zero”, diz (Veja diferenças entre os tipos PWR e BWR no quadro).

Kuramoto diz também que o Brasil trabalha com as mais modernas técnicas de seguran-ça: “Tanto Angra 3, que está em construção, quanto as próximas usinas previstas seriam usinas de nova geração, com mais sistemas de segurança passivos e com menor dependên-cia de energia elétrica para refrigeração dos reatores. Essas usinas de terceira geração têm muito mais opções de sistema de segurança do que as usinas atuais. Existem oito usinas como esta em construção na China, uma na Finlândia e uma na França”.

FrEIO nO PrOgrAMA?A ausência de menções a outras usinas

nucleares que não Angra 3 no Plano Dece-nal de Expansão de Energia divulgado pelo governo fizeram surgir no mercado boatos de que haveria recuo no programa nuclear brasileiro. Kuramoto afirma não acreditar nessa possibilidade: “Com o crescimento econômico, que acreditamos ser de longo prazo, o País aumentará sua demanda por energia, que hoje já exige a geração de cinco mil megawatts novos a cada ano”, diz.

A construção de quatro novas usinas nu-cleares, segundo Kuramoto, obedece a uma necessidade concreta do País: “A opção pelas novas usinas aconteceu após um estudo no qual se chegou à conclusão que, a partir de 2030, o Brasil praticamente esgotará o seu potencial hidráulico viável. Aí, a matriz energética teria que ter uma participação maior de térmicas que pudessem gerar energia na base. Frente a outros tipos de usina – carvão, gás e óleo combustível – a opção nuclear é a melhor opção”, afirma.

A Aben, segundo seu presidente, avalia que o governo está agindo com prudência ao esperar a análise das causas do acidente de Fukushima para, a partir daí, repensar o seu programa nu-clear, mas faz um alerta: “Isso ocorre no Brasil e está ocorrendo em outros países. Agora, não podemos esperar a ponto de abandonar o pro-grama, pois seria um retrocesso muito grande do ponto de vista tecnológico e também estra-tégico. Atrasar a construção de novas usinas por muito tempo representa o risco de que o País perca sua capacitação tecnológica e pode realmente acabar com o programa nuclear bra-sileiro. Nesse caso, iríamos perder profissionais altamente qualificados e atrasar a indústria fornecedora de equipamentos para o setor nu-clear. Isso seria uma perda muito grande para o Brasil e seria difícil retomar o caminho nucle-ar caso haja necessidade no futuro”.

O País não domina plenamente a tecnologia, a destinação dos rejeitos radioativos continua sem solução, existe risco de acidente grave em toda a cadeia produtiva, o acesso às informações sobre as usinas não é confiável, as usinas são muito caras e os planos de segurança internos e externos estão defasados”IVAn MArCELO, Ambientalista

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A opção pelas novas usinas aconteceu após um estudo no qual se chegou à conclusão que a partir de 2030 o Brasil praticamente esgotará o seu potencial hidráulico viável. Frente a outros tipos de usina – carvão, gás e óleo combustível – a opção nuclear é a melhor opção” EdSOn KurAMOtO, Presidente da Associação Brasileira de Energia nuclear

diferenças entre usinas dos tipos bwr e pwrbWr PWr

SISTEMA DE REFRIGERAçãO DO REATOR NUCLEAR

único independentes, separados em sistemas primário e secundário

RESFRIAMENTO PARA A ATMOSFERA

ocorre através de válvulas de alívio e segurança, diretamente do núcleo do reator para o meio ambiente

ocorre através de válvulas de alívio e segurança, pelo sistema secundário, sem contato com o núcleo do reator

PROJETO PARA TERREMOTO

utilizadas em regiões suscetíveis a terremotos, são usinas mais resistentes a esse tipo de evento, projetadas para suportar abalos maiores que 8 pontos na Escala Richter

projetadas para resistir a terremotos de até 7 pontos na Escala Richter

NÍVEL DA PLANTA EM RELAçãO AO MAR

cerca de sete metros acima do nível do mar (Fukushima)

cerca de cinco metros acima do nível do mar (Angra).

BARRAS DE CONTROLE PARA DESLIGAMENTO DO REATOR

barras de controle sobem e necessitam de energia para esta operação barras de controle caem por gravidade

FONTE DE ÁGUA PARA RESFRIAMENTO DO REATOR

água do mar (Fukushima)

água do mar, sistema de alimentação de água auxiliar de emergência e sistema de proteção contra incêndio (Angra)

ALIMENTAçãO ELÉTRICA externa, com geradores diesel de emergência

externa, com redes independentes, alimentação independente da rede externa e geradores diesel de emergência

TANqUE DE ÁGUA COM BORO / ABSORVEDOR DE NêUTRONS

tanque sobre a estrutura de contenção do reator nuclear

tanque fica fora da estrutura de contenção do reator nuclear

FONTE: CNEN

CrítICA AOS PLAnOSIvan Marcelo, por sua vez, qualifica como

“uma vergonha” os objetivos nucleares conti-dos no Plano Decenal de Expansão de Energia e também no Plano Nacional de Energia 2030: “Quem se outorga o direito de julgar que esses planos desastrosos são o melhor para o Brasil? Para o bem do País, precisamos considerar a pos-sibilidade de congelamento dessa opção equivo-cada de geração de energia em nosso território. O programa nuclear em si já é um retrocesso e o PNE 2030 foi rechaçado pela ampla maioria da sociedade civil. O governo deveria estar preo-cupado em explicar como já consumiu cifras inimagináveis do contribuinte na construção e manutenção de Angra 1 e Angra 2”.

PErdA dE FInAnCIAMEntOAlém das incertezas provocadas por

Fukushima, o programa nuclear brasileiro sofre também com a possibilidade de per-da de parte do seu financiamento. Durante os meses de maio e junho, notas publicadas nos maiores jornais brasileiros noticiaram

rumores de que o banco europeu PNB Pa-ribas, que prometeu injetar R$ 4 bilhões na construção de Angra 3, estaria reavaliando sua participação nesse empreendimento.

A informação não foi confirmada oficial-mente pelo banco, mas os temores pela per-da das fontes de financiamento para Angra 3 só fizeram crescer, depois que a Alemanha, principal responsável pela transferência de tecnologia nuclear para o Brasil, anunciou o abandono definitivo de seu próprio pro-grama nuclear.

Os partidos Verde e Social-Democrata alemães estão pressionando o governo de seu país a revogar o decreto que autoriza um empréstimo de 1,5 bilhão de euros ao Brasil para o projeto de Angra 3 e também a cancelar o repasse de equipamentos que a empresa alemã Areva faria à Eletronuclear para a construção da usina. Apesar de o go-verno brasileiro não confirmar seus temo-res, esse assunto teria sido abordado pela presidente Dilma Rousseff em maio, duran-te a visita oficial ao Brasil do presidente da Alemanha, Christian Wulff.

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O polêmico parque nuclear brasileiroO primeiro polo gerador de energia nuclear no País é questionado em função da sua geografia e vocação ao turismo

Enquanto a construção de novas usinas no Nordeste e o futuro do Programa Nu-clear Brasileiro permanecem como objetos de dúvidas e questionamentos, a realidade da energia nuclear no Brasil tem endereço certo em Angra dos Reis. Desde a entrada em operação da usina Angra 1, em 1985, o belíssimo município do litoral do Rio de Janeiro tornou-se o único polo gerador de energia nuclear do País, posição que conti-nuará ocupando ao longo desta década, já que o Plano Decenal de Expansão de Ener-gia divulgado em junho pelo governo fede-ral prevê a entrada em operação de uma única nova usina nuclear: Angra 3.

A expansão do parque nuclear de Angra, no entanto, também sofre questionamen-tos, acentuados após o acidente na usina de Fukushima. A polêmica quanto à seguran-ça das usinas brasileiras e a confiabilidade dos depósitos de rejeitos radioativos, alia-da à falta de um moderno plano de con-tingência da radioatividade e evacuação da população em caso de acidente nuclear em Angra 1 ou Angra 2, trouxe de volta à tona algumas incertezas. Nesse contexto, as de-núncias sobre irregularidades cometidas na execução do processo de licenciamento de Angra 3, que culminaram na substitui-ção (ainda em curso) de toda a diretoria da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), fizeram soar mais fortes as vozes que clamam pelo cancelamento da cons-trução da nova usina.

rISCO dE ACIdEntESNa Assembléia Legislativa do Rio de

Janeiro (Alerj), uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que proíbe a cons-trução de usinas nucleares no estado e prioriza a utilização de fontes alternativas de energia foi apresentada pela deputada estadual Aspásia Camargo (PV): “As usi-nas nucleares estão instaladas em um lo-cal com vocação turística inquestionável e sujeito a perigosos deslizamentos. Estamos ameaçados pelo risco dos acidentes libera-dores de material radioativo e desprotegi-dos por planos de contingência insuficien-tes”, diz a deputada.

A coleta de assinaturas populares em apoio à PEC ainda não começou oficial-mente, mas mesmo assim Aspásia já con-seguiu mais de 500 assinaturas somente através de contatos pela internet: “No segundo semestre, a campanha contra as usinas nucleares ganhará as ruas e espe-ramos conseguir milhares de assinaturas”, diz a deputada. A PEC – que inclui Angra 3, mas não as duas usinas já em funciona-mento – ainda não tem data para ser vota-da, cabendo esta decisão ao presidente da Alerj, deputado Paulo Melo (PMDB), que não se manifestou a respeito.

Um plano de contingenciamento para o complexo nuclear de Angra foi elaborado pela Eletronuclear, com o apoio de técni-cos da Coppe/UFRJ. Uma primeira etapa dessa elaboração, que corresponde ao ma-peamento por satélite de toda a área afeta-da pelas usinas Angra 1,2 e 3, já está pron-ta e abrange um raio de 50 quilômetros que chega também aos municípios de Paraty e Mangaratiba: “O território coberto pelo plano de contingência ultrapassará o exi-gido pelo padrão internacional em empre-endimentos desse tipo, que vai de três a 20 quilômetros de área de exclusão”, afirma Eduardo Grand Court, da Diretoria de Planejamento, Gestão e Meio Ambiente da Eletronuclear.

A polêmica quanto à segurança das usinas brasileiras e a confiabilidade dos depósitos de rejeitos radioativos, aliada à falta de um moderno plano de contingência da radioatividade e evacuação da população em caso de acidente nuclear em Angra 1 ou Angra 2, trouxe de volta algumas incertezas

A deputada estadual Aspásia Camargo

(PV-rJ), à esquerda, de rosa, apresenta

proposta de emenda constitucional que

proíbe a construção de usinas nucleares

no Estado

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SALA dE CrISEO plano prevê também a construção de

uma “sala de crise”. Nela serão simuladas as situações de emergência que podem afetar as usinas de Angra, além de alter-nativas para a evacuação da população em caso de acidente nuclear. A Eletronuclear já contava com um simulador de acidentes, onde os operadores recebem treinamento sobre como agir em casos de superaqueci-mento do reator ou pane dos geradores a diesel, entre outros problemas. O acidente em Fukushima, no entanto, fez com que a estatal optasse por uma reformulação do sistema de segurança de Angra, que pas-sará a ser integrado a órgãos municipais, estaduais e federais. A partir de agora, os planos de evacuação também trabalharão com a possibilidade de deslizamentos de terra que possam afetar as usinas localiza-das aos pés de uma encosta.

A tragédia no Japão trouxe novas preo-cupações, mas o complexo de Angra tem problemas antigos, comuns a toda usina nuclear. O maior deles é a destinação dos rejeitos radioativos, já que 26 anos após a entrada em operação da primeira usina, a Cnen ainda não definiu em que local será

construída a estrutura – conhecida como repositório – reservada como destino final do lixo atômico. Atualmente, os rejeitos radioativos de Angra são estocados nos chamados “depósitos iniciais”, localizados no mesmo terreno das usinas. Cerca de 6,7 mil tonéis e caixas contendo lixo atômico estão distribuídas em três prédios.

EStruturA dE BunKErUm quarto prédio, construído com a es-

trutura de um bunker, com teto e paredes reforçados, serve atualmente como depósi-to dos dois geradores de vapor de Angra 1 que foram substituídos em 2009 após 25 anos de operação. Do tamanho de um va-gão de trem, os geradores se encontram em local de acesso restrito e controlado, mas sua destinação definitiva ainda está à espe-ra de uma decisão. Dentro de cada gerador desativado existem 5.428 tubos e engrena-gens por onde passou o combustível nucle-ar e que, segundo os especialistas, precisam ficar protegidos por cerca de 300 anos.

Secretário executivo do Instituto Socio-ambiental da Baía da Ilha Grande (Isabi), Ivan Marcelo Neves afirma que “o Brasil não precisa da tecnologia nuclear para ge-rar energia” e defende o fim do projeto de

construção de Angra 3: “É um absurdo o que fazem com Angra dos Reis! Esse terri-tório abençoado não merece isso! A ener-gia nuclear não gera trabalho permanente para a população angrense e toda a região vem pagando um preço muito alto – a in-segurança de seu povo e de sua natureza – pelos equívocos na utilização dessa tec-nologia. Insistir nos mesmos erros signifi-ca ignorar a bomba-relógio que estaremos deixando como legado para a presente e às futuras gerações”, diz.

O ambientalista, que foi condenado pela Justiça Federal por tentar provar durante uma simulação do plano de contingência que Angra não oferece condições para uma rápida evacuação de sua população em caso de acidente nuclear, demonstra preocupação: “A natureza já deu o seu re-cado em Angra nos anos de 2002 e 2010 e, por conta dos efeitos do aquecimento glo-bal, nós estamos no início de um período de eventos climáticos extremos na região. Todo o dinheiro gasto no município até o presente momento, vindo das empresas responsáveis pela operação das usinas, não foi revertido para nenhuma obra de infra-estrutura de caráter preventivo. Ou seja, as usinas são seguras até o inimaginá-vel acontecer”, alerta.

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Na Câmara, os parlamentares discutem o projeto de lei apresentado pelo deputado federal Fernando Jordão (PMdB-RJ) que determina o pagamento de 10% de royalties sobre o faturamento bruto das usinas nucleares para os estados produtores

MP 517 e royalties do urânio: debate vivo no Congresso Propostas de incentivos fiscais e pagamento de royalties aos locais onde estão instaladas usinas mostram que o programa nuclear brasileiro avança, apesar das pressões

A ausência de informações concretas so-

bre a construção de novas usinas nucleares, com exceção de Angra 3, no Plano Dece-nal de Expansão de Energia fez crescerem os rumores sobre um eventual “abandono” do programa nuclear por parte do governo brasileiro. No entanto, duas ações em mar-cha no Congresso Nacional mostram que o Palácio do Planalto e parte dos parlamen-tares da base governista não deixaram de trabalhar pelo avanço da produção nuclear.

Com forte apoio do Ministério das Minas e Energia, foi aprovada pelo Senado no primeiro dia de junho a Medida Provisória 517, que, entre outras coisas, cria o Regime Especial de Incen-tivos para o Desenvolvimento de Usinas Nucle-

ares (Renuclear). Esse regime diferenciado de tributação tem validade inicialmente concedida até dezembro de 2015, por isso sua aprovação definitiva, na visão do governo, propiciará um rápido impulso na construção de Angra 3.

rEnuCLEAr APrOVAdOO Renuclear, que segue agora para sanção

da presidente Dilma Rousseff, torna isen-tas de pagamentos de IPI e de Imposto de Importação as compras de materiais, equi-pamentos e insumos destinados à constru-ção de usinas nucleares. O governo já havia tentado incluir essa matéria em uma outra MP, votada no ano passado, mas não con-seguiu apoio suficiente para sua aprovação. Agora, apesar da tragédia de Fukushima, o Renuclear foi aprovado pelos senadores: “A estimativa do governo é que o regime dife-renciado represente uma renúncia de R$ 589 milhões”, diz o ministro Edison Lobão.

Na Câmara, os parlamentares discutem o projeto de lei apresentado pelo deputado federal Fernando Jordão (PMDB-RJ) que determina o pagamento de 10% de royalties sobre o faturamento bruto das usinas nucle-ares para os estados produtores. A discussão sobre os “royalties do urânio”, como já estão sendo chamados, divide as opiniões dos de-putados, mas sua votação em plenário ainda este ano não foi descartada pelo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS) e pelo líder do

especial energia nuclear

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governo naquela casa, Cândido Vaccarezza (PT-SP): “Ainda não há encaminhamento por parte do governo, mas essa discussão está colocada”, diz o deputado paulista.

dEBAtE CrItErIOSOPor enquanto, o projeto de Jordão, que

é ex-prefeito de Angra dos Reis, permane-ce travado na Coordenação de Comissões Permanentes da Câmara. Na opinião de alguns deputados, no entanto, essa discus-são já teria avançado, não fosse o ocorrido no Japão: “Não é uma matéria simples, e o acidente com as usinas de Fukushima exige que seja estabelecido um debate ainda mais criterioso aqui no Brasil. São muitos os pontos que precisam ser discutidos, desde a compensação para estados e municípios até as questões ambientais”, diz o deputado federal Fernando Ferro (PT-PE).

O projeto apresentado por Jordão estabele-ce royalties diferenciados para estados e mu-nicípios produtores e também para as regiões limítrofes à localização de usinas nucleares ou de depósitos de rejeitos radioativos. Segundo a proposta do deputado fluminense, os 10% de royalties cobrados sobre o faturamento bruto das usinas ficariam assim divididos: 20% para os estados e o Distrito Federal, 40% para os municípios que abrigam unidades nucleares e 30% para os municípios limítrofes, além de 10% destinados a outras rubricas.

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CândIdO VACCArEZZA (Pt-SP)

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COMPEnSAçõES “A atividade nuclear impõe aos estados

e municípios onde se situam as usinas, e também às cidades próximas, pesados ônus decorrentes da necessidade de prevenção contra efeitos danosos à população em caso de acidente”, diz o texto do projeto. O deputado cita também a necessidade de compensação aos gastos efetuados por estados e municípios afetados pela produ-ção nuclear com itens como “manutenção de estradas de escoamento, treinamento de pessoal para orientar a população, im-plantação de sistemas de alarme e comu-nicação, manutenção de hospitais bem aparelhados e compra de equipamentos especiais contra radiação”.

Um estudo realizado pela Eletronuclear revela que, entre os anos de 2000 e 2008, a empresa estatal investiu cerca de R$ 213 milhões em compensações pelo funciona-mento de unidades nucleares no país. A grande maioria dessas ações de compen-sação foram destinadas às áreas de meio ambiente, saúde e educação, e representa-ram apenas 2,45% do faturamento bruto da Eletronuclear naquele período, que foi de R$ 8,7 bilhões. Se já estivessem valendo os critérios de cobrança de royalties agora sugeridos na proposta de Jordão, o repasse da empresa entre 2000 e 2008 teria alcan-çado R$ 870 milhões.

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ma bactéria não é um vírus. Mas, no sentido fi-gurado, o surto epidêmi-co da bactéria 0104:H4 (ou 0104h4), a partir do norte da Alemanha, se-

meou um vírus nos sistemas informativos, co-municativos e no imaginário da Europa. Nada será como antes.

O caso é tão complicado que, agora mesmo, enquanto estou escrevendo esse artigo, ou ago-ra, quando você está lendo a revista, ele já pode estar mudando de figura. É um caso mutante.

De qualquer maneira, o surto dessa bacté-ria, até então desconhecido nessa violência, tornou-se um exemplo do que não fazer numa circunstância dessas.

É necessário reconhecer que as equipes inves-tigadoras alemãs, lideradas pelo Instituto Robert Koch, de Berlim, comportaram-se e ainda se comportam com uma tenacidade e uma dedi-cação dignas de louvor. Equipes e mais equipes estão trabalhando 24 horas por dia, sete dias por semana, na busca de respostas para o caso.

Mas ainda sem muito sucesso, embora se reconheça que o surto, 3.717 casos depois, 900 graves, 500 muito graves e pelo menos 44 mortes (43 na Alemanha e uma na Suécia, até 26/06), está arrefecendo.

Faltou velocidade. Faltou informação. Fal-tou imaginação.

Uma coisa é certa: faltou agilidade na ação. Os primeiros casos surgiram a partir de 1O de maio. Entretanto só em 19 de maio um hospital de Hamburgo, diante de vários casos surgidos em poucas horas, deu o alerta para o Robert Koch de que algo grave estava se passando.

Esses 18 dias “perdidos” são hoje consi-derados cruciais para as dificuldades que ora são enfrentadas. Eles podem ter significado a perda total da fonte original da variante dessa bactéria, considerada sua forma mais agressi-va até hoje aparecida.

Faltou, portanto, informação: comunicação. Mas de onde veio essa falta? De uma falta de imaginação. qual? A de que casos como esse podem ocorrer num país como a Alemanha, onde as condições de higiene são conside-radas altas. Surto epidêmico de Escherichia coli (o nome do aglomerado de subespécies dessa bactéria) normalmente é coisa africana, latino-americana, ou de algumas regiões sub-desenvolvidas da Ásia.

O filósofo alemão Georg Wilhelm Friedri-ch Hegel morreu no dia 14 de novembro de 1831, em Berlim, durante um surto de Cho-lera morbus, e provavelmente dessa doença. Mas casos como esse são coisas do passado,

INTERNACIONAL | bactéria

FLáVIO AguIAr Escritor e correspondente em Berlim

[email protected]

O aparecimento de uma variante letal de bactéria largamente usada em pesquisas de laboratórios provocou conclusões precipitadas, pânico e muito prejuízo. Até agora, há muito mais perguntas do que respostas sobre o tema

Passado o silêncio inicial, a situação se reverteu de tal modo que provocou um impacto econômico de monta na Europa inteira. Houve um verdadeiro frenesi continental, e o caso da Escherichia coli virou um caso de “Histeria Coli” “vírus”da bactéria

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esquecidas. Não deveriam ocorrer mais.No entanto ocorrem, como nesse caso da

variante 0104:H4, disseminada na Europa a partir do norte da Alemanha, em particular de Hamburgo.

Sobrou informação. Sobrou comunicação. Sobrou imaginação.

Passado o silêncio inicial, a situação se re-verteu de tal modo que provocou um impacto econômico de monta na Europa inteira. Houve um verdadeiro frenesi continental, e o caso da Escherichia coli virou um caso de “Histeria Coli”.

As primeiras vítimas foram os pepinos, le-gumes onde ela foi primeiro detectada. Os agricultores do norte do país levantaram uma grita: “não somos culpados”. “Nossos pepinos sequer chegaram ao mercado”. As baterias voltaram-se para a Espanha, para os agricul-tores do sul desse país, de onde a Alemanha importa pepinos. Resultado: esses plantado-res espanhóis amargaram prejuízos de 200 milhões de euros, pelo menos, até que seus pepinos fossem inocentados, porque, se havia Escherichia neles, não era do tipo mortífero.

Entrementes começaram a surgir casos da doença em outros países europeus, sempre em pessoas que tinham estado no norte da Alemanha. Em conseqüência, a Rússia proibiu a importação de legumes de toda a Europa,

num prejuízo que chega a casa dos bilhões, seja em que moeda for.

Outro culpado surgiu, dessa vez com cons-tatações mais seguras do que as do pepino espanhol: brotos de feijão e soja, detectados numa fazenda de produtos orgânicos na mes-ma região. Também se caracterizou melhor o problema da gravidade da doença: além de diarréia sanguinolenta, ela pode provocar uma síndrome de deficiência renal, com danos irre-versíveis, e atacar o sistema nervoso central e os glóbulos vermelhos. Mais: com uma capaci-dade de reprodução notavelmente rápida, ela também contagia por contatos entre humanos.

Sobram perguntas, mas faltam ainda res-postas. Algumas talvez para sempre.

No presente momento, o estado da arte ainda é extremamente ambíguo. Ao ser identificada a bactéria como a variante (já conhecida) 0104:H4, os especialistas afirmaram que ela parece ser o resultado do cruzamento de duas outras subes-pécies. “Uma espécie de sexo primitivo”, um deles afirmou, já que normalmente as bactérias se re-produzem por duplicação. Como isso aconteceu? Não se sabe. Pode ser por um processo natural? Pode. Mas também pode ter sido por um proces-so laboratorial, já que as Escherichias Coli são usadas numa variedade muito grande de experi-mentos. Ou seja, a bactéria pode ter “vazado”.

Como ela foi parar no norte da Alemanha? Não se sabe. A última suspeita vem de novos casos surgidos agora (26/06) na França, na região de Bordeaux, em número de dez (pelo menos), que nada têm a ver com os da Alema-nha. As baterias e microscópios se voltam ago-ra para uma fornecedora de brotos britânica, Thompson & Morgan, que os fornece para vá-rios restaurantes da região. Teria ela fornecido sementes de brotos para a fazenda suspeita na Alemanha? Até o momento desta redação, não se sabe. Mas pode ser. Essa variante da bacté-ria ataca, sobretudo, mulheres adultas jovens e de meia idade. Por quê? Ainda não se sabe.

Anunciou-se a descoberta dessa bactéria em mananciais de água da região de Frank-furt-am-Main. Ao mesmo tempo (26/06) em que surgiam dúvidas sobre se era o mesmo tipo de bactéria, especialistas advertiam para o risco também da água potável, e afirmavam que, fosse como fosse, viesse de onde viesse, a bactéria agora estava disseminada no meio ambiente. Se o surto no fim de junho diminuía de intensidade, ele poderá voltar a renascer, como um vampiro de filme de terror. Convenhamos: um fim nada animador, nem para esse surto, nem para esse artigo. Em todo caso, dessa vez deve-se seguir a lição de Pilatos: lavar muito bem as mãos ao se chegar em casa

O aparecimento de uma variante letal de bactéria largamente usada em pesquisas de laboratórios provocou conclusões precipitadas, pânico e muito prejuízo. Até agora, há muito mais perguntas do que respostas sobre o tema

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Consórcio ibero-americano unifica incubadoras universitárias para consolidação de nova missão para as instituições de ensino: a formação de empreendedores

Joana [email protected]

m dezembro de 2006, as universidades de Barcelona e de Santiago de Compos-

tela, com o apoio do Banco Santander, inicia-ram uma parceria buscando a criação de uma rede universitária orientada para o empreen-dedorismo. O projeto tornou-se realidade em 2008, com a formação da RedEmprendia, associação universitária ibero-americana de incubação de empresas, que busca reunir instituições latino americanas e europeias. Na rede, incubadoras e empresas incubadas ou graduadas interagem e trocam benefícios, como bolsas de estudos e inovações.

Hoje, com vinte associadas, entre as quais três universidades públicas brasileiras, a rede trabalha para fazer com que as instituições de ensino adotem como foco a transferência de tecnológica e o desenvolvimento empreende-dor e inovador. Um ideal em consonância com o pensamento de Davi Sales, coordenador da Incamp, incubadora de empresas da Univer-sidade Estadual de Campinas (Unicamp). “A universidade sempre pensou que deveria for-mar o aluno para o emprego público ou um bom cargo. Essa realidade não existe mais. Hoje é preciso formar profissionais capazes de empreender”, afirma o engenheiro, repre-sentante da RedEmprendia no Brasil.

BASE dE dAdOS COMuMA Incamp faz parte da RedEmprendia

desde 2010, quando apresentou, em parceria com a Universidade de Valência, o

projeto Diretório de Empresas, que visa a aproximação de em-

presas incubadas, a partir de um banco

de dados compartilhado. “As empresas incu-badas, inicialmente nas duas universidades, colocam seus dados dentro de uma base, que será compartilhada com todas as universida-des da rede. Ou seja, um jeito de se fazer negó-cio entre empresas vinculadas à universidade, incubadas ou graduadas”, revela Sales.

Outra representante nacional é a Universi-dade de São Paulo (USP). No projeto desde 2008, a universidade lançou recentemente, no âmbito da RedEmprendia, um programa de intercâmbio empresarial, em parceria com a Universidade Autônoma, no México. A ideia é permitir que empresas incubadas no Brasil tenham a oportunidade de trabalhar no Mé-xico, assim como preparar as incubadoras brasileiras para receberem empresas mexica-nas. “Abre-se uma convocatória e a empresa poderá realizar o intercâmbio com o apoio e a infraestrutura das incubadoras e a RedEm-prendia banca parte desse processo. A empre-sa vai conhecer o que está acontecendo em outro país, visando a exportação, a interna-cinalização, ou apenas uma nova experiência. São novos mercados, novos negocios.”

MudAnçA dE MISSãOPara o coordenador da Incamp, as iniciativas geradas pelo grupo ibero-americano colabo-ram para a mudança na missão universitária. Mas ele admite que a cultura de formação de graduados-empresários é nova. “Nós temos que formar empreendedores. Isso não é trivial e não se implanta isso do dia pra noite. A mis-são do tripé ensino, pesquisa e extensão tem que mudar. Ensino para a formação, pesquisa para geração e aplicação do conhecimento, e atividades de extensão como responsabilida-de social”, defende. A universidade brasileira mais recente na rede é a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que oficiali-zou sua associação em maio deste ano.

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A universidade sempre pensou que deveria formar o aluno para o emprego público ou um bom cargo. Hoje é preciso formar profissionais capazes de empreender”dAVI SALES, coordenador da Incamp, incubadora de empresas da universidade Estadual de Campinas (unicamp)

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Engenheiro de alimentos utiliza o umbu para criar bebida fermentada

Laís [email protected]

enominada pelo escritor Eu-clides da Cunha de “árvore sagrada do sertão”, o umbu-zeiro é originário do semiári-

do brasileiro e até hoje cresce de forma nativa por toda a caatinga. Ao longo da história, seu fruto, o umbu, muitas vezes foi o único ali-mento das famílias nas épocas de escassez.

O umbu possui sabor levemente azedo, é rico em vitamina A e C e ideal para ser transformado em sucos e doces. Esse foi um dos motivos que inspirou o engenheiro de alimentos Breno de Paula a desenvolver, no mestrado da Universidade Federal da Bahia (UFBA), um novo derivado: o fermentado de umbu, que ficou popularmente conheci-do como “vinho” de umbu, principalmente pela sua grande semelhança com o tradicio-nal vinho branco. Apesar disso, o pesquisar alerta que “a utilização da denominação vi-nho é exclusiva para derivados da uva”.

O que difere as duas bebidas é o processo pro-dutivo. “Na etapa de clarificação da bebida de umbu, é utilizada a filtração convencional e a microfiltração, sendo a segunda fase desneces-sária para a produção do vinho tradicional”, explica Breno. Para chegar a esses resultados, contou com a parceria da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e do SE-NAI de Vassouras, ambos do Rio de Janeiro.

A bebida possui sabor suave e frutado, com graduação alcoólica média de 11° G.L. Seu diferencial está no caráter ecológico e social. Para Breno, a vantagem será consu-mir um produto 100% orgânico e de origem extrativista. “Além de ser uma alternativa para o aproveitamento do fruto, contribuin-do com a renda do sertanejo. Apesar da boa produtividade, o umbu ainda é pouco ex-plorado comercialmente”, afirma.

Matéria prima – A ideia despertou o interes-se da Coopercuc (Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaça), do sertão baiano, que tem no umbu a principal matéria-prima e, por isso, está investindo na ampliação da sua linha de produtos, compos-ta por 18 itens. Recentemente, a cooperativa dedicou-se à criação de três novos derivados: o suco pronto, o umbu desidratado e a calda de sorvete.

Isso explica porque a ideia do fermentado é bem-vinda. De acordo com a gerente co-mercial da cooperativa, Jussara Dantas de Souza, “quanto mais produtos são criados, mais aproveitamos a produção do fruto. Na nossa região, por ano, um hectare rende em média três toneladas, porém, desse total apenas 1% é aproveitado”, conta.

Maior rendimento – O restante da produ-ção acaba se perdendo, pois o fruto é extre-mamente perecível e mantê-lo resfriado é uma

projeto bebida

PArECE VInHO, MAS NãO éalternativa de alto custo. Somado a outros fa-tores, a produção da bebida fermentada pode ser ainda mais rentável. O litro do fermentado poderá ser vendido entre R$ 8 e R$ 10, o que significa maior valor agregado, considerando, por exemplo, o preço do litro do suco, comer-cializado a R$ 5. Sem contar que, para a pro-dução da bebida fermentada, a quantidade utilizada de umbu é bem menor: com 25 kg de polpa é possível fazer aproximadamente 50 litros, enquanto o suco neces-sita do dobro de umbu para render a mesma quantidade.

Apesar de muito promis-sora, ainda não há data para a nova bebida chegar ao mer-cado. Segundo o engenheiro Breno, existem aspectos a serem melhorados no pro-cesso produtivo para que a bebida se torne ainda mais harmonio-sa. Enquanto isso, a Cooper cuc irá apresen-tar este mês a novidade aos seus cooperados e buscar parceiros para a produção.

SErVIçOA Coopercuc possui pontos de venda em diversos estados e lojas virtuais

www.coopercuc.com.br

Umbu é fruta típica e abundante no sertão

nordestino

Até na embalagem, nova bebida lembra o vinho

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necessidade de substituir produtos sintéticos por matérias-primas naturais é maior a cada dia, dentro de um contexto em que a sus-tentabilidade ganha priori-

dade. O própolis, substância produzida pelas abelhas, além de propriedades terapêuticas já conhecidas, foi apontada como impor-tante ativo antimicrobiano em pesquisa para composição de um modelo de embalagem plástica para alimentos que, além de barreira física, também possa atuar como suporte a substâncias funcionais, sejam antioxidantes ou antimicrobianas. Renata Barbosa Bodini, engenheira de alimentos e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) em Piras-sununga, que conduziu o estudo, afirma que as propriedades de combate a microorganis-mos do própolis foram transferidas para o filme, tornando-o ideal para a embalagem e conservação de alimentos.

Os estudos foram desencadeados a partir de necessidades do mercado. “O desenvolvi-mento de filmes biodegradáveis produzidos a partir de macromoléculas naturais, visando à substituição dos polímeros sintéticos, ou mais precisamente de embalagens plásticas, é uma necessidade atual, quando se pensa em problemas ambientais”, conta Renata.

A pesquisadora acrescenta que há também uma preocupação constante da indústria de alimentos em evitar a deterioração química e principalmente microbiológica dos pro-dutos, surgindo o conceito de embalagens ativas, que sejam mais do que uma forma de armazenamento. Além da demanda dos consumidores por produtos naturais, o ob-jetivo da pesquisa foi desenvolver um filme à base de gelatina e aditivado com própolis, incluindo no mesmo produto a idéia de bio-degradabilidade e de capacidade antimicro-biana, buscando atender aos requisitos am-bientais e de segurança alimentar.

rESuLtAdO POSItIVOOs polímeros, mais conhecidos como

plásticos, são materiais utilizados em larga escala pela indústria. A engenheira desen-volveu o novo material polimérico bioativo à base de gelatina com a adição do própolis. A gelatina já é usada experimentalmente na produção de filmes biodegradáveis, como uma alternativa para substituir os políme-ros sintéticos. As análises foram realizadas durante 177 dias, com observações a cada 28 dias, levando ao resultado positivo.

Renata realizou inúmeros estudos, inclusive com o microorganismo Staphylococcus Au-reus, encontrado sobre a pele humana, para

EMBALAgEM MATA-MICRóBIOSPesquisadora da uSP desenvolve filme plástico biodegradável à base de própolis

tecnologia embalagem

colocar à prova a propriedade antimicrobia-na do filme. Em meio a dosagens diferentes, a pesquisadora encontrou a fórmula ideal.

dESAFIO é rEduZIr OdOrA produção em larga escala, no entanto,

ainda precisa vencer algumas barreiras. “O método utilizado inicialmente na produção, chamado casting, é laboratorial e, por en-quanto, não é viável para produção em lar-ga escala. Além disso, o própolis tem aroma muito forte e característico que foi passado para os filmes, o que precisa ser melhorado”. Serão necessárias pesquisas complementares para se avaliar o potencial de aplicação do material”, explica Renata.

Os estudos foram desenvolvidos com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e orien-tação da professora Rosemary de Carvalho.

Um grupo de pesquisadores estuda o em-prego de outros compostos bioativos. Para a orientadora, o projeto contribui também como matéria incorporada em alguns siste-mas, tendo o objetivo de liberação do agen-te antimicrobiano em um meio específico. “Os resultados foram promissores. Agora, o desafio consiste em propor novas aplica-ções para o material desenvolvido”, avalia Rosemary. (CC)

A engenheira de alimentos, renata

Barbosa Bonini, desenvolveu inúmeros

estudos, inclusive com o microorganismo Staphylococcus Aureus,

encontrado sobre a pele humana, para colocar à prova a propriedade

antimicrobiana do filme

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odo país que decide investir em inovação científica e tecnológi-ca precisa construir também a própria capacidade de medir, avaliar e certificar os produtos que surgem nos diversos pro-cessos de inovação. O Brasil é um país onde a capacidade

de certificação aos produtos inovadores é considerada muito boa, e quem garante essa qualidade é o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade In-dustrial (InMetro), órgão subordinado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que realiza pesquisas de ponta na área de metrologia científica.

A base que permite ao InMetro desen-volver novas pesquisas e buscar maior efi-ciência de forma permanente está situada em Xerém, distrito do município de Duque de Caxias (RJ), onde funciona o campus de laboratórios do Instituto. No terreno de 2,3 milhões de metros quadrados, em meio à exuberante vegetação de uma reserva flo-restal de Mata Atlântica no pé da serra que leva a Petrópolis, funcionam seis diretorias do InMetro. No Campus de Xerém, fun-ciona também a Divisão de Metrologia de Materiais (Dimat), responsável pelo desen-volvimento de pesquisas em diversas áreas ligadas à nanotecnologia.

nAnOtECnOLOgIA O Centro de Nanometrologia do InMe-

tro tem equipamentos de ponta, em espe-cial o supermicroscópio eletrônico Titan, que desde 2006, quando chegou a Xerém, colocou o instituto brasileiro em primeiro lugar entre seus pares na América Latina. Hoje, segundo o coordenador da Dimat, Carlos Alberto Achete, as principais linhas

inovação laboratório

de pesquisa do Centro de Nanometrologia envolvem o desenvolvimento de matérias de referência para nanocompositos, nanopartí-culas de ouro e óxidos metálicos, implantes ortopédicos e odontológicos, dispositivos orgânicos emissores de luz (Oleds), grafeno, nanotubos de carbono, terra preta de índio, materiais magnéticos, nanoargilas e mate-riais para isolamento térmico.

O principal foco das pesquisas em na-notecnologia desenvolvidas pelo InMetro é o carbono, elemento considerado muito versátil e capaz de formar diferentes estru-turas de grafeno. Com potencial de revo-lucionar a indústria, segundo os cientistas, o grafeno é composto por átomos de car-bono organizados em hexágonos bidimen-sionais ligados uns aos outros em escala nanométrica, o que possibilita a criação de um material muito resistente e de extre-ma condutibilidade: “No Brasil, o grafeno já tem utilização na indústria, em setores como iluminação, cosméticos, agricultura, medicina, e indústria automobilística, en-tre outros”, diz Achete.

No ano passado, em uma façanha iné-dita, a pesquisadora do InMetro Jéssica Campos utilizou, com o auxílio de técni-cos da Dimat, uma nanofita de carbono para interligar, através de um fio de ouro suspenso, corrente elétrica de alta freqüên-cia e com excelente desempenho entre dois grafenos: “Esta pesquisa abre campo para a fabricação de dispositivos suspensos em microfios de ouro, a partir da manipulação de nanofitas de carbono. O enfoque des-tes estudos tem sido no desenvolvimen-to de material de referência e de novos dispositivos, o que envolve pesquisa de base para se entender de forma aprofundada o comportamento des-sas nanoestruturas”, diz Achete.

InMEtrO APOStA EM INOVAçãOLaboratório do instituto, em xerém, no rio de Janeiro, permite medir, avaliar e certificar produtos, incluindo os ligados à nanotecnologia e biologia molecular

A metrologia em materiais é uma ciência nova em todo o mundo. é importante fazermos aqui no Brasil o controle de qualidade dos produtos nanotecnológicos. O InMetro desenvolve esse potencial de análise, pois podemos medir, tamanho, composição e propriedades químicas das nanopartículas”CArLOS ALBErtO ACHEtE, Coordenador da divisão de Metrologia de Materiais (dIMAt)

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JuLHO 2011 | INOVA 27

SuPErCOMPutAdOrES O grafeno foi apresentado ao mundo há

sete anos pelos russos Andre Geim e Kons-tantin Novoselov, que desenvolveram suas pesquisas na Universidade de Manchester, na Inglaterra, onde são professores. No ano passado, a dupla ganhou o Prêmio Nobel de Física, concedido pela Real Academia de Ciências da Suécia, que destacou o potencial do novo material para a construção de su-percomputadores em um futuro não muito distante: “Os transistores de grafeno são substancialmente mais rápidos que os tran-sistores de silício utilizados atualmente na indústria. Com eles, poderemos construir e fabricar equipamentos eletrônicos e compu-tadores muito mais eficientes”, escreveu a co-missão que indica os vencedores do Nobel.

Ainda não existe no Brasil um marco re-gulatório para a nanotecnologia. Por isso, avalia Carlos Alberto Achete, o trabalho do InMetro é fundamental para assegurar a qualidade dos produtos desenvolvidos no País: “A metrologia em materiais é uma ciência nova em todo o mundo. É impor-tante fazermos aqui no Brasil o controle de qualidade dos produtos nanotecnológi-cos. O InMetro desenvolve esse potencial de análise, pois podemos medir, tamanho, composição e propriedades químicas das nanopartículas”, diz.

O coordenador da Dimat afirma que o objetivo maior das pesquisas é estimular a inovação e a produção na indústria brasilei-ra e faz um alerta: “Já perdemos o bonde do silício, que exportamos como material bru-to. O Brasil tem grafite de altíssima quali-dade e apto a ser transformado em grafeno, o que aumentará muito seu valor agregado. Em vez de vender grafite, o Brasil tem con-dições de vender grafeno.”

InMEtrO APOStA EM INOVAçãOLaboratório do instituto, em xerém, no rio de Janeiro, permite medir, avaliar e certificar produtos, incluindo os ligados à nanotecnologia e biologia molecular

Supermicroscópio eletrônico

Titan colocou o instituto brasileiro em primeiro lugar entre seus pares

na América Latina

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SEgundA gErAçãO Outra área inovadora onde o InMetro

vem conquistando avanços é a produção de biocombustíveis de segunda geração. Em junho, o instituto, em parceria com a Petrobras, obteve a patente do Material de Referência Certificado (MRC), origi-nado do bagaço da cana-de-açúcar: “De-senvolvemos um material de referência de biomassa da cana-de-açúcar que pode ser utilizado universalmente para a avaliação da eficiência de enzimas com atividade celulolítica”, afirma Wanderley de Souza, chefe da Diretoria de Programa (Dipro) do InMetro e responsável por essa linha de pesquisa.

Uma segunda linha, afirma Souza, é re-lacionada com a identificação e isolamento de novos micro-organismos produtores de enzimas celulolíticas, a partir de modelos animais que são eficientes na degradação de material de origem vegetal: “Várias es-pécies já foram identificadas e estão sendo analisadas do ponto de vista molecular e bioquímico”, diz. O objeto desse estudo estrutural e molecular é identificar “am-bientes biológicos eficientes na degradação de biomassa”, como os intestinos de rumi-nantes, de cupins e do caramujo africano, entre outros: “Procuramos entender como os micro-organismos (bactérias e fungos) degradam o material vegetal ingerido”.

Segundo o InMetro, importantes avan-ços têm sido conquistados por meio do estudo do caramujo africano. A espécie possui fungos no intestino cujas enzimas digerem a celulose de forma mais eficiente e com menor custo do que aquelas produ-zidas pelo fungo Trichoderma reesei, co-mercializadas e já utilizadas pela indústria nacional. Usado no processo de quebra da parede celular vegetal, esse fungo é muitas vezes importado por alto custo: “Já en-contramos nos laboratórios do InMetro micro-organismos mais ativos e que de-

IMAgInE uM nAnôMEtrOUm nanômetro equivale a uma milionési-ma parte do milímetro e é a menor esca-la com a qual o ser humano já conseguiu trabalhar. Para se ter uma ideia: um fio de cabelo, por exemplo, tem entre 30 mil e 100 mil nanômetros.

monstram maior atividade do que o Tricho-derma reesei especificamente na degradação do bagaço da cana”, revela Souza.

PAdrõES dE rEFErÊnCIAEm relação aos biocombustíveis, o objeti-

vo do InMetro, mais uma vez, é estimular a inovação e a produção na indústria brasilei-ra: “Queremos identificar micro-organismos e enzimas que sejam mais eficientes na hidró-lise de biomassa para que o setor industrial possa produzir em larga escala o etanol de segunda geração. É viável aumentar a produ-tividade na mesma área plantada”, garante o diretor da Dipro, revelando o viés ambiental que também permeia a iniciativa.

O InMetro desenvolve uma série de estu-dos pioneiros na área de biologia estrutural e molecular, a partir de modernas técnicas microscópicas de alta resolução e DNA re-combinante. Desde 2009, o instituto investe em laboratórios especializados em bioquí-mica, genômica, proteômica e biologia ce-lular, para desenvolver padrões de referên-cia em vários campos da biologia e novas tecnologias para produção de bioetanol.“No momento, a área da biologia estrutural do InMetro está se dedicando especialmente a dois temas. O primeiro está relacionado ao estudo da organização estrutural da parede celular da cana-de-açúcar. O segundo se refere ao estudo da organização de minicír-culos e maxicírculos de DNA cinetoplástico de tripanosomatídeos. Em ambos os casos, além da ênfase científica, cujos resultados serão publicados em revistas internacionais, estamos desenvolvendo materiais de refe-rência”, diz Wanderley de Souza. (MM)

InMetro possui profissionais e equipamentos para realizar estudos de ponta na área de metrologia científica

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Projeto foi desenvolvido na matriz alemã, com

participação da unidade brasileira instalada em

São Bernardo do Campo

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tecnologia autoajustável reduz o custo de manutenção da peça em até 60%

ZF do Brasil, por meio da di-visão ZF Sachs, desenvolveu um modelo de embreagem que compensa automatica-mente, e de forma contínua, o desgaste do revestimento.

Com isso, aumenta o conforto no acionamen-to do pedal e a vida útil do conjunto.

O processo usado na embreagem, batiza-do de XTend, reduz o custo de manutenção em até 60%. Segundo Fernando Silva, espe-cialista na linha de embreagens Sachs, a prin-cipal diferença entre a nova tecnologia e uma embreagem comum está na compensação automática do sistema. “A força para pisar no pedal será sempre a mesma, do inicio ao fim da vida útil do equipamento”, explica.

Parceria Brasil/Alemanha – O projeto e a tecnologia XTend foram desenvolvidos inicialmente na ZF Sachs da Alemanha, com a participação da divisão brasileira, agora responsável pela produção de diver-sos modelos para toda a América Latina. “Desde o lançamento das embreagens au-toajustáveis, o grande desafio sempre foi o seu elevado custo de aquisição em relação

aos modelos convencionais, por isso, de-senvolvemos um produto para oferecer os mesmos padrões de conforto de um sistema com volante de dupla massa, porém com maior robustez, tendo em contrapartida um custo inferior”, destaca o especialista.

Maior durabilidade – Silva explica que a economia está na garantia de que o reves-timento do disco seja consumido até o seu limite. “É por isso que há maior durabilida-de. Um dispositivo mecânico no platô au-toajustável não permite danificar a face de atrito do volante do motor após o desgaste total do revestimento, ao contrário do que ocorre no sistema convencional”.

O especialista enfatiza que o sistema de embreagem é formado por mais componen-tes, além do platô, disco e rolamento. “No aglomerado de material, estão buchas, gar-fos, cabos e rolamentos, responsáveis pelo acionamento macio e suave do pedal. A durabilidade depende das condições de uso, manutenção e condução do veículo, mas é claro que contar com um sistema de com-pensação evitará muitos problemas”, diz.As vantagens da embreagem são atestadas

tecnologia autopeça

Embreagem compensa o próprio desgaste

Embreagem autoajustável tem maior vida útil do que a convencional

por quem entende do assunto. Arnaldo Panciarelli, sócio proprietário do Centro Automotivo Qualiauto, em São Caetano, afirma que o produto realiza um ajuste au-tomático do pedal. “Não precisa regular em mecânico. O pedal vai subindo automatica-mente, o que não ocorre em uma embrea-gem comum. Isso garante uma duração de pelo menos 50 mil km”, explica. (CC)

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30 INOVA | JuLHO 2011

pesquisa indústria

nvestimentos em inovação terão crescimento de 16,6% no Estado de São Paulo neste ano, segundo Pes-quisa de Intenção de Investimento da Fiesp. O levantamento aponta que R$ 20,3 bilhões deverão ser des-tinados para inovação em produtos e processos até o final do ano, frente

aos R$ 17,4 bilhões gastos em 2010. Segun-do análise da Fiesp, esse resultado deve-se ao fato de as empresas se preocuparem mais com a melhoria na eficiência dos processos produtivos visando a redução dos custos de produção, além do aumento significativo da concorrência com os importados.

“Percebe-se uma movimentação dos em-presários no sentido de enraizar uma cultu-ra da inovação, investindo mais em gestão, produtos e processos. O esforço individual de cada empresa em perseguir inovações leva a um transbordamento de conhecimento e de tecnologia para as cadeias produtivas, que envolvem cada vez mais outros atores impor-tantes, como os pesquisadores e a sociedade”, avalia José Ricardo Roris Coelho, diretor ti-tular do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp. Ele prevê que o Brasil será beneficiado, considerando que inovação é um fator-chave para o crescimento econô-mico competitivo de longo prazo.

SEtOrES QuE MAIS InVEStEM

A pesquisa revela que o setor de Alimen-tos e Bebidas destaca-se por ampliar seus investimentos em inovação, assim como ocorre com o setor de Máquinas, Equipa-mentos e Materiais Elétricos. Este conjunto deve aumentar seus investimentos de R$ 2,5 bilhões, em 2010, para R$ 4,6 bilhões em 2011, e de R$ 1,7 bilhão para R$ 2,2 bilhões, respectivamente. Apenas os setores de Metalurgia e Minerais não metálicos de-vem reduzir os investimentos em inovação entre 2010 e 2011. O primeiro, por já ter au-mentado os investimentos gerais. Já o setor de minerais não metálicos deve reduzir seus investimentos em inovação de R$ 0,7 bilhão para R$ 0,4 bilhão em 2011.

dIFErEntES níVEIS dE InOVAçãO

Segundo Coelho, a inovação pode ser vista sob diferentes perspectivas e não está atrelada somente ao problema da concorrência. “As inovações incrementais, por exemplo, estão associadas a pequenas melhorias em produtos ou processos. As demandas por esses aperfei-çoamentos podem vir do mercado consumi-dor, ou da própria empresa, como estratégia para reduzir custo e concorrer com produtos similares importados. Já as inovações radicais são aquelas que criam uma nova trajetória tecnológica, um novo segmento e um novo mercado consumidor”, explica o diretor. Se-gundo ele, além de trazer ganhos financeiros, esse processo envolve maiores riscos tecno-lógicos e, por este motivo, muitas empresas acabam se tornando líderes do segmento. As indústrias farmacêutica, eletroeletrônica, ae-ronáutica e automobilística são os exemplos mais recorrentes de setores que precisam es-tar sempre um passo à frente em tecnologia e inovação. As estratégias vão muito além dos problemas relacionados ao custo ou concor-rência com produtos já existentes.

Os setores que mais devem investir em ino-vação são classificados como de alta e mé-dia-alta intensidade tecnológica. Os classifi-cados como média-baixa e baixa intensidade tecnológica (Alimentos e Bebidas, Têxtil, Couro, e Plásticos) indicam uma tendência de investimento em inovação como forma de reduzir os custos e enfrentar a concorrência com produtos importados. Para Coelho,a vulnerabilidade desses setores diante das oscilações do câmbio é um dos elementos que justificam a necessidade de consolidar a inovação em suas estruturas e, assim, evitar a sazonalidade dos investimentos. Os setores com vantagens naturais do território brasilei-ro, casos de Açúcar e Álcool ou Papel e Ce-lulose, apesar de aumentarem o investimento geral, estão mais direcionados na aquisição de máquinas e equipamentos do que nas ati-vidades de inovação. “Este resultado é preo-cupante diante da necessidade do Brasil em manter a liderança nas pesquisas em etanol e biocombustíveis”, enfatiza.

EMPrESAS PAuLIStAS InVEStIrãO EM INOVAçãOPesquisa realizada pela Fiesp revela investimentos de r$ 20,3 bilhões em inovação neste ano para competir em mercado globalizado

Clébio Cavagnolle [email protected]

Percebe-se uma movimentação dos empresários no sentido de enraizar uma cultura da inovação, investindo mais em gestão, produtos e processos. O esforço individual de cada empresa em perseguir inovações leva a um transbordamento de conhecimento e de tecnologia para as cadeias produtivas, que envolvem cada vez mais outros atores importantes, como os pesquisadores e a sociedade”JOSé rICArdO rOrIS COELHO, diretor titular de Competitividade e tecnologia da Fiesp

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rECurSOS PróPrIOS PArA P&d

A Fiesp acredita em um crescimento gradativo de investimentos em inovação. “Não há como so-breviver e ser competitivo em um mundo cada vez mais globalizado sem investir em inovação. A Pes-quisa Fiesp e a Pintec (Pesquisa de Inovação Tec-nológica) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística) já evidenciam essa tendência. No entanto, há muitos pré-requisitos a serem cumpridos para que este aumento substancial, de fato, ocorra”, ressalta. A pesquisa do IBGE identificou que a maioria das empresas brasileiras é dependente de recursos próprios para investir em Pesquisa e Desenvolvimento. Em 2008, 88% do total investido na área pela indústria de trans-formação foram originados de recursos próprios. “A ausência de compartilhamento de risco entre Estado e empresas, somada a outros elementos, como a maior taxa de juros do mundo (juros reais de quase 7%), elevada carga tributária (34% do PIB), excesso de burocracia, escassez de mão-de-obra qualificada e insegurança jurídica nos ins-trumentos de apoio à inovação, formam os maio-res obstáculos a serem enfrentados no sentido de alçar o Brasil entre os países que mais investem em inovação”, destaca o diretor.

COnJunturA ECOnôMICAA Pesquisa de Intenção de Investimentos reali-

zada pela Fiesp apresenta a expectativa da indús-tria em relação à distribuição dos seus investimen-tos e às estratégias empresariais envolvidas. Para Coelho, os últimos resultados têm sido satisfató-rios. “Nesse cenário, cada agente tem uma função definida. Cabe ao governo estimular e apoiar a inovação nas empresas por meio de políticas pú-blicas, sobretudo em áreas que tragam mais be-nefícios para o nosso País, em termos de produ-tividade e de mercado. Essas políticas, entretanto, devem evitar ao máximo que os investimentos sejam reféns da conjuntura econômica. “Investir em inovação apenas quando há um aumento nas importações envolve custos e esforços que não se sustentam no longo prazo. O investimento em inovação por parte das empresas deve ser cons-tante”, finaliza.

EMPrESAS PAuLIStAS InVEStIrãO EM INOVAçãOPesquisa realizada pela Fiesp revela investimentos de r$ 20,3 bilhões em inovação neste ano para competir em mercado globalizado

INVESTIMENTO EM INOVAçãO2010 2011 Var. %

2010-2011r$ bi Part. aCum. r$ bi Part. aCum.

químicos e Farmacêuticos 4.20 24,2% 24,2% 5.70 26,1% 26,1% 35,8%

Alimentos e Bebidas 2.49 14,3% 38,5% 4.58 20,9% 47,0% 83,8%

Veículos / Eq. de transporte 3.16 18,2% 56,7% 3.52 16,1% 63,0% 11,3%

Máquinas e Equipamentos 1.70 9,8% 66,5% 2.24 10,2% 73,3% 31,7%

Metalurgia 2.44 14,0% 80,6% 1.99 9,1% 82,4% -18,5%

Eletrônicos e Informática 0.84 4,8% 85,4% 0.89 4,1% 86,4% 5,5%

Borrachas e Plásticos 0.63 3,6% 89,0% 0.73 3,3% 89,8% 16,4%

Têxteis e Vestuário 0.45 2,6% 91,6% 0.66 3,0% 92,8% 48,0%

Minerais não-metálicos 0.67 3,9% 95,5% 0.39 1,8% 94,5% -42,5%

Couros e Calçados 0.33 1,9% 97,4% 0.36 1,6% 96,2% 8,9%

Papel e Celulose 0.09 0,5% 97,9% 0.28 1,3% 97,5% 201,9%

Edição e Impressão 0.14 0,8% 98,7% 0.26 1,2% 98,7% 84,6%

Móveis 0.17 1,0% 99,7% 0.20 0,9% 99,6% 21,9%

Madeira 0.05 0,3% 99,9% 0.05 0,2% 99,8% 3,3%

Açúcar e Álcool 0.01 0,1% 100% 0.04 0,2% 100% 250,0%

INVESTIMENTO EM P&d2010 2011 Var. %

2010-2011r$ bi Part. aCum. r$ bi Part. aCum.

Alimentos e Bebidas 2,26 18,6% 18,6% 3,87 31,1% 31,1% 71,2%

químicos e Farmacêuticos 2,45 20,2% 38,8% 2,38 19,1% 50,2% -3,1%

Veículos / Eq..de transporte 2,13 17,5% 56,3% 1,84 14,8% 65,0% -13,7%

Máquinas e equipamentos 1,70 13,9% 70,2% 1,74 13,9% 78,9% 2,4%

Metalurgia 1,38 11,4% 81,6% 0,93 7,5% 86,4% -32,8%

Eletrônicos e Informática 0,30 2,5% 84,0% 0,39 3,2% 89,5% 30,6%

Minerais não-metálicos 0,45 3,7% 87,8% 0,30 2,4% 91,9% -34,6%

Couros e Calçados 0,29 2,3% 90,1% 0,25 2,0% 94,0% -10,9%

Papel e Celulose 0,15 1,2% 91,3% 0,20 1,6% 95,5% 29,2%

Têxteis e Vestuário 0,65 5,3% 96,7% 0,17 1,3% 96,9% -74,4%

Borrachas e Plásticos 0,21 1,7% 98,4% 0,13 1,1% 97,9% -37,8%

Móveis 0,06 0,5% 98,9% 0,12 0,9% 98,9% 84,0%

Açúcar e Álcool 0,05 0,4% 99,4% 0,08 0,7% 99,5% 54,0%

Edição e Impressão 0,07 0,6% 99,9% 0,04 0,3% 99,8% -41,3%

Madeira 0,01 0,1% 100% 0,02 0,2% 100% 105,8%

(*) Foram excluídos os setores de Coque, Refino de Petróleo, Fumo, Reciclagem e Diversos devido à restrição amostral

FONTES: Pesquisa Fiesp-Toledo, PIA/IBGE, IPA/FGV, PIM/IBGE; Elaboração: Decomtec/Fiesp

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32 INOVA | JuLHO 2011

serviços | fomento, financiamento e suporte à inovação

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) patrocina a edição de publicações e a realização de eventos - como festivais, congressos, feiras e seminários - que possam gerar benefícios significativos para a sociedade e contribuir para reforçar a cultura de inovação no Brasil. O banco mantém linhas de patrocínio subdivididas em temas prioritários, para atender projetos de interesse público, que demonstrem sua contribuição para o desenvolvimento do País. Os pedidos devem ser apresentados por pessoas jurídicas regularmente constituídas no Brasil, que detenham – isolada ou conjuntamente – a responsabilidade legal pela iniciativa.

FInEP: Até r$ 2 MILHõES PArA AçõES InOVAdOrAS

MAIS InFOrMAçõES

SITE DA FUNDAçãO DE AMPARO à PESqUISA DO ESTADO DA BAHIA (FAPESB)

www.fapesb.ba.gov.br

CAtEgOrIA CrItérIOS dE AVALIAçãO

MICRO/PEqUENA, MÉDIA E GRANDE EMPRESA

Dados quantitativos dos últimos três anos, considerando faturamento e crescimento, percentual do faturamento obtido com a inovação, recursos humanos contratados e recursos investidos em novos equipamentos.

Gestão da inovação nos seus sistemas de produção. Esforço sistêmico e organizado da empresa em buscar, selecionar, desenvolver, avaliar e introduzir no mercado novos produtos, processos e/ou serviços.

Parcerias com entidades no desenvolvimento da inovação

INSTITUIçãO CIENTÍFICA E TECNOLóGICA

Dados quantitativos dos últimos três anos, considerando capacitação de recursos humanos e capacitação laboratorial.

Resultados e impactos econômicos, ambientais e sociais. Recursos captados e investimentos em processos da inovação. Parcerias para o desenvolvimento da inovação.

TECNOLOGIASOCIAL

Interação com a comunidade no desenvolvimento. Resultados e impactos econômicos, ambientais e sociais. Reaplicabilidade e Sustentabilidade. Características da inovação. Parcerias para o desenvolvimento e aplicação da inovação.

INVENTORINOVADOR

Apresentação do impacto social e ambiental. Tipo de inovação, campo de aplicação, ganhos técnicos em relação às tecnologias existentes (originalidade).

Patente. Investimento pessoal no processo da inovação desenvolvida e no processo de sua introdução no mercado.

Retorno Financeiro esperado.

PrEMIAçãO dA EtAPA rEgIOnALCateGoria Premiação MICRO/PEqUENA EMPRESA Até R$ 500 mil

MÉDIA EMPRESA Até R$ 1 milhão

ICT Até R$ 500 mil

TECNOLOGIA SOCIAL Até R$ 500 mil

INVENTOR INOVADOR Até R$ 120 mil

PrEMIAçãO dA EtAPA nACIOnALCateGoria Premiação MICRO/PEqUENA EMPRESA Até R$ 500 mil

MÉDIA EMPRESA Até R$ 1 milhão

GRANDE EMPRESA Até R$ 2 milhões

ICT Até R$ 500 mil

TECNOLOGIA SOCIAL Até R$ 500 mil

INVENTOR INOVADOR Até R$ 120 mil

MCt E gOVErnO dA BAHIA: r$ 30 MI PArA InOVAçãOO governo da Bahia lançou em meados de junho quatro editais, destinando um total de R$ 30 milhões, para projetos, produtos, processos e serviços inovadores. A iniciativa é resultado de uma parceria entre a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado (Secti) e do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), por intermédio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Os quatro editais foram formulados no âmbito dos programas Pappe Integração, Temas Estratégicos, Pró-pesquisa e Fapesb/Braskem/Ideom.

O primeiro é voltado para micros e pequenas empresas, que querem desenvolver projetos de inovação tecnológica de processos, produtos ou serviços. O segundo busca estimular as pesquisas nas áreas prioritárias do parque tecnológico do estado – biotecnologia, energias alternativas, engenharia de materiais, produtos e processos, nanotecnologia e tecnologia da informação e comunicação (TIC). O terceiro financiará projetos de pesquisa e de implantação, expansão, recuperação e modernização da infraestrutura de pesquisa em instituições acadêmicas. E o quarto é destinado a pesquisadores de instituições de ensino superior e de pesquisa com a colaboração dos pesquisadores da Braskem.

As inscrições para os editais correm até setembro.

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JuLHO 2011 | INOVA 33

Visando a promoção da cultura de inovação nas empresas brasileiras, o Ministério das Relações Exteriores lançou o Manual de Orientações Gerais sobre Inovação. Elaborado sob a coordenação de Eduardo Grizendi, do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), o documento destina-se às empresas que exportam, que desejam exportar e para as que se internacionalizaram ou desejam fazê-lo. O trabalho apoia-se no marco legal brasileiro de inovação, em especial nos incentivos trazidos pela Lei Federal de Inovação e pela “Lei do Bem”. Além de traçar um panorama da inovação no Brasil, o documento inclui orientações sobre processos e modelos e ainda detalha as principais linhas e programas de financiamentos a inovação das principais agências de fomento nacionais (FINEP, CNPq, BNDES, etc.).

ItAMArAtY LAnçA MAnuAL dE InOVAçãO PArA PrOMOVEr ExPOrtAçãO

LEgISLAçõES EStAduAIS dE PrOMOçãO, COMPLEMEntArES àS LEIS FEdErAIS

estado leGislação eNtrada em ViGorALAGOAS Lei nº 7.117 12 de Novembro de 2009

AMAzONAS Lei Ordinária nº 3.095 17 de Novembro de 2006

BAHIA Lei Estadual nº 11.174 09 de Dezembro de 2008

CEARÁ Lei Estadual nº 14.220 16 de Outubro de 2008

MATO GROSSO Lei Complementar nº 297 07 de Janeiro de 2008

PERNAMBUCO Lei Estadual nº 13.690 16 de Dezembro de 2008

RIO DE JANEIROLei Estadual n° 5.361 29 de Dezembro de 2008

Decreto nº 42.302 12 de fevereiro de 2010

RIO GRANDE DO SUL Lei Estadual nº 13.196 13 de Julho de 2009

SãO PAULO Lei Complementar nº 1049 19 de Junho de 2008

SANTA CATARINA Lei Estadual nº 14.348 15 de Janeiro de 2008

SERGIPE Lei Estadual nº 6.794 02 de Dezembro de 2009

CASES ExEMPLOS dE EMPrESAS InOVAdOrAS QuE SE IntErnACIOnALIZArAM*

PETROBRASDo setor de energia, tem atividades concentradas nas áreas de petróleo e gás. Sua inovação tecnológica está voltada ao aumento da eficiência de seus processos, o que pode ser constatado por meio do diferencial competitivo estabelecido na prospecção e exploração de petróleo em águas profundas;

MARCOPOLO

Fabricante de carrocerias de ônibus, atua no setor de autoindústria. A estratégia de internacionalização in-clui a adaptação de produtos aos mercados locais dos países em que a empresa compete. A preocupação com aspectos relacionados à adaptação e preservação de tecnologia própria reflete a importância que a empresa atribui à inovação de produtos para atender à demanda existente;

SABó Do setor de autoindústria, na área de autopeças, apresenta capacidade inovadora em processos de veda-ção. Seu produto gera economia e é ambientalmente correto;

WEG

Fabricante de motores elétricos, atua no setor metalmecânico e concentra atividades nas áreas de co-mando e proteção; variação de velocidade; automação de processos industriais; geração e distribuição de energia e tintas e vernizes industriais. As inovações em seus produtos estão voltadas ao desenvolvimento, aperfeiçoamento e sua linha de motores é considerada a mais diversificada no mundo;

EMBRAER

Do setor de autoindústria na área de aeronáutica, é considerada uma empresa de base tecnológica inova-dora em produto. A empresa também inova no uso de ferramentas de trabalho e no processo de parcerias. A arquitetura aberta de inovação viabiliza o contato direto dos seus parceiros globalmente dispersos, visando à criação das condições para o desenvolvimento de produtos de valor superior;

TIGREDo setor de indústria de material de construção, destaca-se pelo pioneirismo, inovação e qualidade. Como inovadora em produto, oferece soluções completas nas áreas em que atua e, com isso, procura oferecer uma linha extensa de produtos para a construção civil;

RANDONEmpresa mista do setor de auto-indústria, atua nas áreas de implementos rodoviários, ferroviários, veículos especiais, autopeças, sistemas automotivos e serviços. Seu potencial inovador está voltado a novos produ-tos e possui cerca de 300 profissionais dedicados à pesquisa e ao desenvolvimento;

BRASKEM

Do setor petroquímico, atua na produção de resinas termoplásticas que são utilizadas pelas empresas que fabricam produtos a partir dos plásticos. É fortemente orientada para a inovação e conta com mais de uma centena de pesquisadores, distribuídos em onze laboratórios, e seis plantas-piloto que desempenham atividades de desenvolvimento e aperfeiçoamento de novos produtos e processos;

NATURA

Do setor de bens de consumo, atua na área de cosméticos, e seu sistema de vendas e distribuição está baseado na ação das consultoras, que utilizam catálogos para oferecer produtos a clientes. A empresa estuda em profundidade a biodiversidade brasileira. Apesar da forte posição competitiva que sustenta no Brasil, concorre com outras empresas de cosméticos que atuam em âmbito global.

*Explorando a internacionalização das empresas brasileiras e sua relação com a inovação, Ana Elisa Martins Pacheco de Castro, Crisomar Souza, Marcos Roberto Piscopo e Belmiro Nascimento João, Revista de Administração da UFSM, Santa Maria, v. 1, n. 3, de set./dez. 2008, páginas 241-262.

CONSULTE O DOCUMENTO NA ÍNTEGRA

http://www.finep.gov.br/dcom/manualinovacao.pdf

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ara analisarmos, com a devida amplitude, o grau de contribuição que insti-tuições de ensino superior têm a oferecer em prol do desenvolvimento indus-trial e tecnológico de uma região, é preciso que olhe-

mos para além do óbvio – e naturalmente essencial – papel desempenhado pela uni-versidade como formador de quadros pro-fissionais a partir da simples transferência do conhecimento já existente.

Uma nova fronteira de oportunidades se abre quando a academia inclui, em sua rela-ção com os setores produtivos, as aplicações advindas de esforços nas áreas da pesquisa e da extensão universitária.

Conceitos inovadores, surgidos em meio aos mais variados projetos acadêmicos, cum-prem sua trajetória ideal na exata medida em que são capazes de deixar os muros dos campi em direção às práticas empresariais, constituindo-se no moto-contínuo do desen-volvimento corporativo.

Cabe salientar que nem sempre essa trans-posição ocorre, necessariamente, de forma ime-diata ou linear. Em determinados casos, pode haver uma espécie de delay entre a produção acadêmica e sua apropriação pelos segmentos industriais. Em certo ponto porque o estudo científico requer criteriosos procedimentos de análise e aferição, com normas e prazos próprios e inflexíveis. Há, ainda, casos especiais, como os encontrados nas ciências sociais, área na qual o trabalho do pesquisador se dá, muitas vezes, somente após a concretização de determinado fenômeno, que será compreendido, detalhado e explicado por meio de seus estudos.

De qualquer maneira, não podemos deixar de estabelecer um ponto fundamental: a arti-culação e o diálogo constante entre a universi-dade e os setores produtivos locais - e a sinergia resultante desta relação - estabelecem força mo-triz capaz de impulsionar de forma duradoura o desenvolvimento de toda uma comunidade. Desprezar esse potencial seria um despropósi-to com o qual não se pode compactuar.

Nesse contexto, ganham máxima relevân-cia iniciativas que buscam possibilitar maior

interação não apenas entre empresas e ins-tituições de ensino, bem como destas com representantes do governo, bancos e demais atores sociais. É o caso dos Arranjos Produ-tivos Locais (APLs).

A Universidade Municipal de São Caeta-no do Sul (USCS) participa ativamente de dois importantes APLs de nossa região: um no segmento Metalmecânico e outro voltado ao setor de Tecnologia da Informação e Co-municação (TI&C).

A USCS, inclusive, abriga em seu campus o Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul (ITESCS) que, criado por iniciativa de empresários da área de TI, desenvolve e coordena projetos como os que levaram à implementação do APL TI&C e da Incuba-dora de Empresas de São Caetano do Sul, também ela instalada no espaço físico acadê-mico e dedicada às áreas de TI e Gestão.

Assim, ao mesmo tempo em que contribui para alavancar negócios, aumentar as recei-tas do município e gerar trabalho e renda para seus cidadãos, fornecendo suporte téc-nico e gerencial para o desenvolvimento de empreendimentos inovadores, essa proximi-dade possibilita à USCS efetuar um moni-toramento permanente do ambiente empre-sarial, identificando com mais rapidez novos temas, que podem embasar novas pesquisas.

Outro exemplo que ilustra bem nossa bus-ca por canais de diálogos permanentes pode ser verificado na atuação dos Conselhos Consultivos, compostos por profissionais que militam em atividades compatíveis com as áreas de conhecimentos nas quais a USCS atua. São realizados encontros periódicos nos quais ouvimos as demandas e projeções de representantes de diversas áreas profissio-nais, buscando orientar a atuação da Univer-sidade em face às necessidades do ambiente.

Acreditamos que quanto maior o rela-cionamento e a consolidação de conexões interativas entre o mundo acadêmico e os demais agentes sociais, melhores serão os resultados para ambos em termos de inova-ção e produtividade.

O Prof. Dr. Silvio Augusto Minciotti é Reitor da Univer-sidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)

ponto de vista

A articulação e o diálogo constante entre a universidade e os setores produtivos locais - e a sinergia resultante desta relação - estabelecem força motriz capaz de impulsionar de forma duradoura o desenvolvimento de toda uma comunidade. desprezar esse potencial seria um despropósito com o qual não se pode compactuar

Prof.dr. Sílvio Augusto Minciotti

Relacionamento, sinergia e desenvolvimento

dIV

uLg

AçãO

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