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“Ajude-me a suportar o que não posso compreender. São Francisco de Assis Ajude-me a mudar o que não posso suportar.”
149

Ingrid Betancourt

Apr 16, 2017

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Page 1: Ingrid Betancourt

“Ajude-me a suportar o que não posso

compreender.

São Francisco de Assis

Ajude-me a mudar o que não posso suportar.”

Page 2: Ingrid Betancourt

“O princípio ético supremo é a reverência pela vida.”

Rubem Alves

Page 3: Ingrid Betancourt

“Quem disser que a natureza é indiferente às dores e

preocupações dos homens,

José Saramago

não sabe de homensnem de natureza.”

Page 4: Ingrid Betancourt

A selva é claustrofóbica e abafada. Os raios de sol mal conseguem romper a copa das árvores.

Page 5: Ingrid Betancourt

A luminosidade chega preguiçosa ao solo,e o ar úmido traz um cheiro forte de decomposição.

Page 6: Ingrid Betancourt

Permanecer encarcerado num ambiente tão inóspito esmaga as resistências do corpo e quebranta as forças da alma.

Page 7: Ingrid Betancourt

Quão desumana a humanidade tem se tornado, a ponto de infligir tal pena a uma vida.

Page 8: Ingrid Betancourt

Ingrid Betancourt sobrevive há seis anos numa prisão na selva, como refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, FARC.

Page 9: Ingrid Betancourt

Seis longos anos,uma vida interrompida...

Page 10: Ingrid Betancourt

Ingrid Betancourt Pulecio nasceu em Bogotá, Colômbia,

em 1961,filha de Gabriel Betancourt, ex-Senador e ex-Embaixador

colombiano, e de Yolanda Pulecio,

ex-Miss Colômbia.

Passou parte de sua juventude em Paris, pois o pai era embaixador na UNESCO.

Page 11: Ingrid Betancourt

Com uma infância e uma juventude especialmente agraciadas cultural

e existencialmente, a bela Ingrid habituou-se a conviver com pessoas como o poeta Pablo

Neruda, o pintor Fernando Botero e o escritor Gabriel García Márquez,

amigos da família.

Fez seus estudos no Instituto de Estudos Políticos de Paris, onde

se licenciou em Ciências Políticas.

Page 12: Ingrid Betancourt

Foi em Paris também que conheceu Fabrice Delloye, com

quem se casou em 1981.

Dessa união nasceram seus dois filhos, Mélanie e Lorenzo,

que vivem atualmente na França.

Page 13: Ingrid Betancourt

Em 1990, divorcia-se de Fabrice e o destino a faz regressar

à Colômbia para empreender uma carreira política baseada na luta contra a máquina de corrupção

movida pelo dinheiro do narcotráfico.

Page 14: Ingrid Betancourt

As longas conversas que mantém com seu pai, nas quais por vezes

discorrem sobre a situação confortável da família na Europa

e o sofrimento por que passa grande parte da população de

sua terra natal, certamente contribuem na sua decisão

de regressar à Colômbia.

Page 15: Ingrid Betancourt

Ingrid resolve seguir o chamado do seu coração,

ciente de todos os riscos e desafios que tal decisão acarreta.

Page 16: Ingrid Betancourt

Em 1994 é eleita Deputada, com a maior votação registrada no país.

Nesse mesmo ano, casa-se com o publicitário Juan Carlos

Lecompte.

Page 17: Ingrid Betancourt

Paladina da cruzada anti-corrupção, abraça também a causa ambiental, criando, em 1998, o ‘Oxigênio’, um

pequeno partido ecologista.

Logo em seguida, consegue eleger-se Senadora, outra vez

com a maior votação já registrada para o cargo no país.

Page 18: Ingrid Betancourt

Em 2001, candidata-se à Presidência da República.

Page 19: Ingrid Betancourt

Em 23 de Fevereiro de 2002, em período de plena campanha presidencial, é seqüestrada por guerrilheiros das FARC, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

Page 20: Ingrid Betancourt

Desde esta data, teve a vida interrompida.

Page 21: Ingrid Betancourt

À dor de ver sonhos e projetos políticos e humanitários

interrompidos, sobrepõe-se o sofrimento ocasionado pela separação abrupta das pessoas que mais ama...

Page 22: Ingrid Betancourt

Seis anos longe dos filhos, Mélanie e Lorenzo.

Page 23: Ingrid Betancourt

Por seis anos, impedida de abraçá-los.

Page 24: Ingrid Betancourt

Seis longos anos de separação forçada, tempo suficiente para transformar

crianças em adolescentes, e adolescente em jovens adultos.

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Page 26: Ingrid Betancourt

Por seis anos impedida de acompanhar a vida dos filhos, de quem a apartaram ainda pequenos...

Page 27: Ingrid Betancourt

Mélanie, que na época do seqüestro de sua mãe tinha 16 anos, está agora com 22.Lorenzo, que contava com 13, completou recentemente 19 anos.

Page 28: Ingrid Betancourt

Deixando de lado muitos dos afazeres dos jovens da sua idade, empenham-se por mobilizar a opinião pública e os governantes em busca de uma saída, uma solução.

Page 29: Ingrid Betancourt

Por seis longos anos, Mélanie e Lorenzo percorrem universidades,

escolas, ruas e praças, concedem entrevistas, reúnem-se com

autoridades e artistas,

de modo a não permitir que a situação de sua mãe, e de tantos outros reféns, caia no

esquecimento.

participam de eventos, manifestações e passeatas,

Page 30: Ingrid Betancourt

Não se faz necessário falar o mesmo idioma que eles

para entender o que procuram dizer ao mundo.

Page 31: Ingrid Betancourt

Basta conhecer a linguagem do olhar,

- reparar nos seus olhos todo o peso de uma dor que

desde cedo tiveram que aprender a carregar

nos seus peitos.

Page 32: Ingrid Betancourt

A sua cruzada não visa apenas ao resgate da

sua amada mãe,é, antes, a nossa cruzada

em busca do resgate da nossa humanidade perdida na selva do esquecimento...

Page 33: Ingrid Betancourt
Page 34: Ingrid Betancourt

Orações, esperanças, vigílias, sonhos...

Page 35: Ingrid Betancourt

Orações, esperanças, vigílias, sonhos...

Page 36: Ingrid Betancourt

Somando-se à dolorosa espera dos filhos está a da Sra. Yolanda

Pulecio, mãe de Ingrid.

Page 37: Ingrid Betancourt

Era o ano de 1961 quando ela soube que estava grávida.

“Ainda a barriga não cresceu e já os filhos brilham nos olhos das mães”,

escreveu certa vez o poeta.

Page 38: Ingrid Betancourt

Em 25 de dezembro de 1961 a vida lhe presenteou com o nascimento de Ingrid, um presente de Natal que lhe alegrou o

coração, uma inestimável jóia em sua vida.

Page 39: Ingrid Betancourt

tornando a separação ainda mais

dolorosa.

Um laço profundo de amor e admiração liga Ingrid a seus pais,

Page 40: Ingrid Betancourt

Haverá dor maior do que aquela sentida por uma mãe apartada de seu filho?

Ainda maior é esta dor, se a separação se deve à desumanidade,

à injustiça humana...

Page 41: Ingrid Betancourt

“Deus não pode estar em todos os lugares e por isso fez as mães.”

Ditado judaico

Page 42: Ingrid Betancourt

“Os filhos são para as mães as âncoras da sua vida.”

Sófoclespensador grego

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Page 44: Ingrid Betancourt

“Acho que não existe uma situação mais triste e mais dura

para uma mãe do que essa.

Eu sofro muito, desde que abro meus olhos estou

sofrendo, a cada manhã.”

Yolanda Pulecio

Page 45: Ingrid Betancourt

Possivelmente, jamais conseguiremos alcançar as

profundidades da dor que a mãe e os filhos de Ingrid carregam no coração.

Porém, para sondar, mesmo que superficialmente, o seu

pesar, devemos regressar um pouco no tempo...

Page 46: Ingrid Betancourt

No início dos anos 90, uma mulher resolve deixar para trás o conforto mundano, e

partir da capital francesa rumo à Colômbia.

Num mundo onde a fria omissão e a apiedosa indiferença se fizeram regra, uma mulher ousa sonhar, e parte na sua jornada pessoal

em busca de um mundo melhor.

À sua frente tem riscos e desafios.

Na sua bagagem leva Coragem e Esperança.

Page 47: Ingrid Betancourt

Lança-se na arena política, munida

de compaixão,- virtude que há muito se

desvaneceu da esfera política, não somente

colombiana, mas mundial.

Page 48: Ingrid Betancourt

Faz do combate à corrupção a sua bandeira.

Torna-se uma árdua promotora da justiça

social, da promoção da educação, da valorização

da vida em geral.

Page 49: Ingrid Betancourt

Por abordar anseios tão caros à alma humana, e por defendê-los com tal vivacidade e convicção, não tarda em conquistar

muitos corações.

Page 50: Ingrid Betancourt

Primeiramente, elege-se Deputada, logo em

seguida, Senadora, e em 2001, candidata-

se à Presidência.

Page 51: Ingrid Betancourt

“Sabem como são poderosos, na Colômbia, os cartéis da droga, esta droga que mina a vida dos nossos

jovens. Certamente que têm ouvido falar das matanças e dos escândalos políticos que eles causam.”

Page 52: Ingrid Betancourt

“Mas, por trás destas organizações mafiosas, está o meu povo – um povo corajoso e orgulhoso que deseja libertar-se desta engrenagem infernal.

É por ele que luto."

Page 53: Ingrid Betancourt

“Estou consciente dos perigos, mas estes não me farão

recuar.

Ingrid Betancourt

É nisso que reside a minha esperança.”

Page 54: Ingrid Betancourt

Quando candidata, em meados de fevereiro de 2002, - alguns dias antes de ser seqüestrada -, ela reuniu-se com representantes dos guerrilheiros das FARC, juntamente

com um grupo de outros candidatos presidenciais, a fim de discutir as condições para a paz.

Page 55: Ingrid Betancourt

“A primeira coisa que vocês têm que fazer é acabar com os seqüestros”,afirmou enfaticamente

durante o encontro.

Page 56: Ingrid Betancourt

“Não mais seqüestros!”,

repetiu seguidamente, dirigindo-se ao representante das FARC.

Page 57: Ingrid Betancourt

Poucos dias após estas fotos, - onde ela aparece com a camiseta que

leva o slogan da campanha à presidência, “Colombia Nueva” -,

ela seria seqüestrada.

Page 58: Ingrid Betancourt

23 de fevereiro de 2002.

Estrada para San Vicente, a emboscada, a pista

bloqueada pelos guerrilheiros.

Ingrid Betancourt é arrancada do veículo, e levada

prisioneira para o cativeiro na floresta fechada.

Page 59: Ingrid Betancourt

Algumas vidas são mais duramente testadas

do que outras...

Page 60: Ingrid Betancourt

Exatamente um mês após o início do seqüestro, no dia 23 de março de 2002, o pai de

Ingrid, Sr. Gabriel Betancourt, vem a falecer, em decorrência

de problemas cardíacos.

Page 61: Ingrid Betancourt

Pai e filha eram muito apegados.

A família de Ingrid faz um apelo humanitário para que ela seja

liberta, de modo a poder participar do funeral do pai.

O pedido é ignorado.

Page 62: Ingrid Betancourt

Somando-se a todas as agonias do cativeiro, Ingrid ainda teria

que carregar no peito a tristeza de não poder estar ao lado do seu amado pai nos últimos momentos de sua vida.

Page 63: Ingrid Betancourt
Page 64: Ingrid Betancourt

O número de seqüestrados mantidos pelas FARC é de

algumas centenas de prisioneiros, - políticos, militares e policiais,

em sua maioria.

Quase todos os prisioneiros são homens, o que torna a rotina

ainda mais dura para as poucas mulheres seqüestradas.

Page 65: Ingrid Betancourt

O policial colombiano chamado Pinchao, um ex-companheiro de cativeiro de Ingrid Betancourt, conseguiu escapar em maio de

2007, após ter caminhado dezessete dias pela selva.

Permaneceu três anos preso no mesmo acampamento que ela.

Page 66: Ingrid Betancourt

Ele a descreve como uma mulher forte e combativa, que, no início, passava longas horas, noite adentro, discutindo política com

seus seqüestradores.

Pinchao diz que a admira pela forma como ela conquistou o

respeito dos rebeldes.

Page 67: Ingrid Betancourt

Para Ingrid, a separação da sua família foi a

dificuldade mais árdua.

Ela soube da morte do seu amado pai ao ler uma matéria a

respeito em um jornal velho abandonado num acampamento.

Page 68: Ingrid Betancourt

Nascida numa família que sempre valorizou a educação,

Ingrid cultivou, desde pequena, o hábito da leitura,

tornando-se uma leitora voraz. Por três longos anos, ela suplica

a seus seqüestradores que lhe arrumem algum livro, ou mesmo

uma enciclopédia velha.

Tem todos os apelos ignorados.

Page 69: Ingrid Betancourt

Aprisionada, atormentada, torturada, abandonada por

inúmeros governantes, encerrada nas trevas remotas que beiram o desespero.

Seus carcereiros fazem de tudo para privá-la de suas faculdades mentais e de sua sensibilidade.

Mas Ingrid Betancourt permanece lúcida. E corajosa, heróica.

E livre.

Page 70: Ingrid Betancourt

Ela tenta fugir cinco vezes.

Em uma das ocasiões, passa vários dias perdida na selva antes de ser recapturada.

Page 71: Ingrid Betancourt

Como punição, tem as botas confiscadas e passa a ser mantida acorrentada.

Outra punição para os fugitivos capturados nos acampamentos é

atormentá-los durante o sono com tarântulas e cobras.

Page 72: Ingrid Betancourt

Um ex-senador recentemente libertado afirmou que as

condições do cativeiro “são as mesmas de um

campo de concentração.”

Page 73: Ingrid Betancourt

Em cada acampamento, são mantidos grupos de aproximadamente dez

prisioneiros, vigiados por guardas armados.

Os grupos deslocam-se com freqüência, de modo a

dificultar possíveis missões de localização e resgate.

Page 74: Ingrid Betancourt

Noite e dia em constante deslocamento, sob as ordens

de rebeldes armados.

À escuridão da noite, somam-se o desalento e a

escuridão da selva.

Page 75: Ingrid Betancourt

Juntar os poucos pertences e, sob a mira de armas, buscar forças para conseguir atravessar mais um rio,

prosseguir em mais uma penosa marcha.

Page 76: Ingrid Betancourt

As chances de incursões militares visando resgatar os presos serem bem sucedidas

são mínimas.

O elevado risco de que, num fogo cruzado na mata fechada, os seqüestrados venham a se

tornar alvos praticamente descarta esta possibilidade.

Page 77: Ingrid Betancourt

As longas marchas mata adentro tornam-se

especialmente penosas para Ingrid Betancourt por causa de

sua saúde fragilizada pelos seis anos de dura rotina.

Page 78: Ingrid Betancourt

Na madrugada de 24 de outubro de 2007, os rebeldes decidem tirar a fotografia de

Ingrid Betancourt e filmá-la.

O material será enviado às autoridades e à sua família como prova de vida,

- uma mulher com uma vida tão bela e nobre transformada em moeda de barganha.

Page 79: Ingrid Betancourt

Olhos baixos, mãos cruzadas sobre o colo, cabelos muito compridos e

o rosto magro e afilado. A sua imagem transmite toda a dor e o desalento que podem num certo momento caber

num coração humano.

Page 80: Ingrid Betancourt

Da escuridão da floresta fechada, essa foto foi a “prova de vida”

que os seqüestradores mandaram para a sua família.

Vida, sim, mas vida que parece esvair-se na tristeza e no

desamparo de quem se sente vencida por um desumano e

prolongado tempo de sofrimento.

Page 81: Ingrid Betancourt

2001

2007

Page 82: Ingrid Betancourt

Os guerrilheiros entregam-lhe papéis e caneta para que ela, também como prova de vida,

escreva uma carta para sua família.

Escrita num só fôlego, com uma caligrafia uniforme e cerrada, um manuscrito de doze páginas é entregue

aos seus raptores.

Page 83: Ingrid Betancourt

Na longa carta, Ingrid se dirige à sua mãe e à sua família.

No fim das suas forças, procura dizer o essencial.

Page 84: Ingrid Betancourt

Apesar de tudo que tem passado, mostra-se forte e consciente,

deixando transparecer, no entanto, que está próxima do seu limite,

do limite humanamente suportável, e que a urgência é absoluta.

Page 85: Ingrid Betancourt

Nesta carta, escreve Ingrid:

Page 86: Ingrid Betancourt

“Selva colombiana,

Quarta-feira, 24 de outubro8h34

Manhã chuvosa, como a minha alma.”

Page 87: Ingrid Betancourt

“Minha querida e adorada mamãe,

Todos os dias acordo agradecendo a Deus por ter você.

Todos os dias peço a Deus para abençoá-la, protegê-la e me permitir um dia poder encontrá-la, tratá-la como uma rainha, junto de mim, porque não suporto a idéia de uma nova separação.”

Page 88: Ingrid Betancourt

“A selva é bastante fechada por aqui,os raios de sol penetram com dificuldade.

Mas é um deserto de afeição, de solidariedade, de ternura...”

Page 89: Ingrid Betancourt

“Sonho beijá-la tão forte que eu permaneça incrustada

em você.”

Page 90: Ingrid Betancourt

“Sonho poder lhe dizer

‘Mamãe, mamita, nunca mais você

vai chorar por mim, nem nessa vida,

nem na outra.’ ”

Page 91: Ingrid Betancourt

“Pedi a Deus para que Ele um dia me permita lhe provar tudo que você significa para mim,

poder protegê-la e não deixá-la sozinha um segundo.”

Page 92: Ingrid Betancourt

“Alimento-me todos os dias da esperança de estarmos juntas, e vermos como Deus nos mostrará o caminho,mas a primeira coisa que quero lhe dizer é que, sem você, eu não teria chegado até aqui.”

Page 93: Ingrid Betancourt

“Mamita, estou cansada, cansada de sofrer.

Fui, ou tentei ser, forte. Esses seis anos de cativeiro demonstraram que não sou nem tão resistente, nem tão corajosa, inteligente e forte quanto pensava.”

Page 94: Ingrid Betancourt

“Travei muitas batalhas, tentei a fuga diversas vezes, procurei manter a esperança como mantemos a cabeça fora d’água.

Mas hoje, mamita, sinto-me vencida.”

Page 95: Ingrid Betancourt

“Sinto que meus filhos levam uma vida em suspenso na expectativa de minha libertação, e o seu sofrimento diário, o de todo mundo, faz com que a morte me pareça uma opção amena.”

Page 96: Ingrid Betancourt

“Juntar-me a papai, por quem permaneço de luto:

todos os dias, há quatro anos, choro a morte dele.”

Page 97: Ingrid Betancourt

“Continuo a acreditar que vou acabar parando de chorar, que agora cicatrizou.

Mas a dor volta e se lança sobre mim como um cão desleal, e torno a sentir meu coração espatifar em mil pedaços.”

Page 98: Ingrid Betancourt

“Com a morte de papai, quase enlouqueci.

Nunca soube como isso aconteceu, quem estava lá, se ele me deixou uma mensagem, uma carta, sua bênção...”

Page 99: Ingrid Betancourt

“Mas o que, ao longo do tempo, aliviou meu tormento foi pensar que ele partiu confiante em Deus e que um dia irei apertá-lo novamente nos braços.

Tenho certeza disso.”

Page 100: Ingrid Betancourt
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“Penso nos meus filhos...Procuro-os nas minhas lembranças e me alimento com imagens que guardei na memória, em cada uma de suas idades.”

Page 102: Ingrid Betancourt

“A cada aniversário, canto ‘Happy Birthday’ para eles...

Imagino que o pão seco ou a rotineira ração de arroz e feijão é um bolo e festejo seu aniversário no meu coração.”

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“Muita vida se esvaiu por entre nós, como se a terra firme houvesse sido tragada pela distância.”

Page 105: Ingrid Betancourt

“Cada segundo da minha ausência, em que não posso estar aí dedicada a eles, para tratar suas feridas, aconselhá-los, dar-lhes força, paciência e humildade para enfrentar a vida, todas essas oportunidades perdidas de ser mãe envenenam meus momentos de infinita solidão, é como se me injetassem cianureto nas veias, gota a gota.”

Page 106: Ingrid Betancourt

“À minha Mela,meu sol de primavera, meu sol de primavera, minha princesa da constelação de Cisne, a ela que amo tanto, quero dizer que sou a mãe mais orgulhosa do mundo.”

Page 107: Ingrid Betancourt

“Ela é muito sensata e inteligente. E, se eu tivesse que morrer hoje, partiria feliz da vida, agradecendo a Deus pelos meus filhos...”

Page 108: Ingrid Betancourt

“Minha Mela, sempre lhe disse que você era a melhor, que é muito melhor do que eu, que você é o que eu queria ter sido, mas melhor.

Sou sua fã número 1...”

Page 109: Ingrid Betancourt

“A meu Lorenzo,

meu Loli Pop, meu anjo de luz, meu rei das águas azuis...”

Page 110: Ingrid Betancourt

“...quero dizer que, desde que nasceu até o dia de hoje, ele foi a fonte de minhas alegrias.

Tudo que vem dele é um bálsamo para o meu coração, tudo me reconforta, tudo me acalma, tudo me dá prazer e tranqüilidade.”

Page 111: Ingrid Betancourt

“É meu filho querido, meu pedacinho de sol.

“Que vontade de vê-lo, beijá-lo, tomá-lo nos braços...”

Page 112: Ingrid Betancourt

“Tenho tanta vontade de te abraçar e dormir apertando-o contra mim, como fazíamos antes que eles me raptassem...”

Page 113: Ingrid Betancourt

“Tenho tanta vontade de cobri-lo de beijos. E de ouvi-lo. De falar

com você durante horas e você me contar tudo...”

Page 114: Ingrid Betancourt

“Você tem a vida à sua frente, procure subir o mais alto possível.

Estudar é crescer: não apenas porque aprendemos, mas também porque é uma experiência humana,porque, à sua volta, as pessoas o enriquecem emocionalmente, obrigando-o a um maior autocontrole, e, espiritualmente, modelando seu caráter a serviço do outro...”

Page 115: Ingrid Betancourt

“Viver é isso:crescer para se pôr ao serviço dos outros.”

Page 116: Ingrid Betancourt

“Estou 100% com você, meu coração.

Sou sua fã número 1...

Obrigada por me dar tanta felicidade.”

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Page 119: Ingrid Betancourt

“Mamita, este é um momento muito duro para mim.

De repente eles exigem provas de vida, e eu lhe escrevo com a alma esparramada sobre este papel.

Vou mal fisicamente. Parei de comer, perdi o apetite, meus cabelos caem copiosamente.”

Page 120: Ingrid Betancourt

“A vida aqui não é vida, É um desperdício lúgubre do tempo.

Tudo está sempre pronto para partirmos às pressas.

Aqui nada é seu, nada dura, a incerteza e a precariedade são a única constante.”

Page 121: Ingrid Betancourt

“A qualquer momento, eles podem dar ordens para arrumarmos nossas coisas, e todos são obrigados a dormir no fundo de um buraco qualquer, deitados em qualquer lugar, como animais.

Esses momentos são particularmente difíceis para mim. Minhas mãos ficam úmidas, meu espírito se anuvia...

As caminhadas são um calvário...”

Page 122: Ingrid Betancourt

“A cada dia, resta um pouco menos de mim mesma.”

Page 123: Ingrid Betancourt

“Todos os dias entrego-me a Deus, Jesus e à Virgem.

Recomendo meus filhos a Deus, a fim de que a fé os acompanhe sempre

e eles nunca se afastem d’Ele.

Diga-lhes que sempre foram uma fonte de alegria durante

esse cativeiro tão duro.”

Page 124: Ingrid Betancourt

“Deus nos enviou essa prova a fim de que

saiamos dela maiores, sejamos humanamente melhores

e descartemos tudo que é inútil e estorva a alma.”

Page 125: Ingrid Betancourt

“Mamita, infelizmente eles vêm recolher a carta.

Não vou conseguir escrever tudo que gostaria...

Obrigada a todos os amigos que nos ajudam com suas declarações de apoio...”

Page 126: Ingrid Betancourt

“Obrigada a todos por não nos deixar no esquecimento, não

permitir que os reféns sejam esquecidos... Aqui, trata-se menos da liberdade

de alguns pobres loucos prisioneiros na selva do que de tomar

consciência do que significa defender a dignidade humana.”

Page 127: Ingrid Betancourt
Page 128: Ingrid Betancourt

“Obrigada aos que tomaram a palavra quando

o silêncio e o esquecimento nos cobriam

mais que a própria selva.”

Page 129: Ingrid Betancourt

“Que Deus os guie a fim de que em breve possamos falar

de tudo isso no passado.”

Page 130: Ingrid Betancourt

“Caso contrário, e se Deus decidir de outra forma,

nos encontraremos no céu e Lhe agradeceremos por

Sua infinita misericórdia.”

Page 131: Ingrid Betancourt

“Mamita, tenho ainda tanta coisa a dizer...

Queira Deus que esta carta chegue às suas mãos.

Carrego você na minha alma, minha querida mamita.”

Page 132: Ingrid Betancourt

“Mamita, que Deus nos ajude, nos guie, nos dê paciência e nos

proteja. Para todo o sempre. Sua filha.”

Ingrid Betancourt

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A íntegra da carta de Ingrid Betancourt encontra-se publicada no livro “Cartas à mãe – direto do inferno”, Editora Agir, 2008.

Um texto que merece ser lido e relido. Palavras que resumem toda a dor e toda a grandeza do ser humano.

Page 137: Ingrid Betancourt

A edição traz também a resposta que sua filha, Mélanie, juntamente com seu irmão, Lorenzo, escreveram.

Page 138: Ingrid Betancourt

“Mamãezinha,Lendo sua carta, reencontrei sua voz.

Nessa selva que a retém, tudo é longe, até mesmo o sol. Tudo molesta, tudo é inumano.

Entretanto, nada mais verdadeiro e correto que as palavras que você soube encontrar.”

Page 139: Ingrid Betancourt

“Mamãe, você nos despertou.

Seus sofrimentos tornaram-se os nossos, seu desespero é agora nossa urgência, seu amor e sua coragem são nossa força.

Hoje compreendo o que significa ser livre.”

Page 140: Ingrid Betancourt

“Ninguém escreveria mais bela carta de amor àqueles que ama.

Refugiei-me na doçura de suas palavras, e repito para mim: “Você está viva!

Você está viva!”

Mas sinto também despertar em mim uma angústia muito forte. Agora que a sinto tão próxima, tenho medo de perdê-la novamente.”

Page 141: Ingrid Betancourt

‘Estamos aqui, mamãe; estamos lutando para tirá-la daí. Resista.

Há muitos belos momentos à sua espera. Você ainda nos verá crescer, Loli e eu...’ ”

“Tenho apenas uma vontade, - é apertá-la nos braços e dizer:

Page 142: Ingrid Betancourt

“Mamãe, sabemos que há urgência.

Sabemos que você não está mais agüentando.

Sabemos disso. Vamos tirá-la daí.”

Imaginamos como é difícil encontrar a última dose de força para suportar outra e mais outra noite desofrimento, outra caminhada forçada pelo inferno, outras humilhações.

Page 143: Ingrid Betancourt

“Nesses momentos terríveis de dúvida e

abandono, diga a você mesma, eu lhe suplico, que logo ali, além da

selva, estamos presentes, pensamos em você,lutamos por você.”

Page 144: Ingrid Betancourt

“Um pouco mais distante, apenas um pouco mais

distante, por trás dos cumes, milhares de pessoas não se rendem e se mobilizam para

libertá-la o mais rápido possível

porque a consideram um dos seus,uma mãe, uma irmã, uma amiga,

e estão determinadas a fazê-la não desistir.”

porque se identificam com você, com sua coragem e sua luta,

Page 145: Ingrid Betancourt

“Mamãe, quero revê-la em breve, reencontrar seu

sorriso, sua alegria de viver.

Esta carta não é uma carta de despedida.

Haverá novamente para você livros, risadas e

brincadeiras.

Até já, mamãe.”

Mélanie e Lorenzo

É uma carta de reencontro.

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