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ANÁLISE DO EPISÓDIO INÊS DE CASTRO
25

Inês de castro

Dec 28, 2014

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Page 1: Inês de castro

ANÁLISE DO EPISÓDIO INÊS DE CASTRO

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NARRAÇÃO (canto III)

Passada esta tão próspera vitória, (Batalha do Salado, contra os

Mouros)

Tornado Afonso à Lusitana terra,A se lograr (gozar) da paz com tanta glóriaQuanta soube ganhar na dura guerra,O caso triste e dino da memória,Que do sepulcro os homens desenterra,Aconteceu da mísera e mesquinha (desditosa)

Que despois de ser morta foi Rainha.

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Tu, só tu, puro Amor, com força crua,Que os corações humanos tanto obriga,Deste causa à molesta (perversa) morte sua,Como se fora pérfida (traiçoeira) inimiga.Se dizem, fero (cruel) Amor, que a sede tuaNem com lágrimas tristes se mitiga,É porque queres, áspero e tirano,Tuas aras banhar em sangue humano. (Foi o

Amor , unicamente, que deu causa à sua morte , como se ela fosse uma inimiga. Dizem que o Amor cruel não se contenta com as lágrimas: exige, como um deus despótico, vítimas humanas.)

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Na estrofe 119, o Amor surge personificado como não só a causa da morte de D. Inês, mas também como causa de todos os males. Assim, o poeta invoca o Amor, caracterizando-o como contraditório: por um lado, o Amor é puro, por outro, age cruelmente.

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Estavas, linda Inês, posta em sossego, (tranquila)

De teus anos colhendo doce fruito,Naquele engano da alma, ledo e cego, (apaixonada)

Que a fortuna não deixa durar muito, (A felicidade é efémera.)

Nos saudosos campos do Mondego,De teus fermosos olhos nunca enxuito, (lágrimas de saudade)

Aos montes insinando e às ervinhasO nome que no peito escrito tinhas. (A natureza surge como confidente dos desabafos amorosos de Inês.)

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Do teu Príncipe ali te respondiamAs lembranças que na alma lhe moravam, (amor

recíproco)

Que sempre ante seus olhos te traziam,Quando dos teus fermosos se apartavam; (Respondiam-lhe, em pensamentos e em sonhos, as lembranças do Príncipe. D. Pedro nunca a esquecia quando estava longe.)

De noite em doces sonhos, que mentiam,De dia, em pensamentos que voavam.E quanto, enfim, cuidava e quanto via,Eram tudo memórias de alegria. (Jovem apaixonada e saudosa)

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Estrofes 120 e 121

Vida feliz de D. Inês, em Coimbra, apenas ensombrada pelas saudades do príncipe, quando ele estava ausente.

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De outras belas senhoras e princesasOs desejados tálamos (leitos nupciais) enjeita, (Rejeitou outros

casamentos) (D. Pedro recusou outros casamentos, porque o amor rejeita tudo o que não seja o rosto humano.)

Que tudo enfim, tu, puro Amor, desprezas,Quando um gesto suave te sujeita.Vendo estas namoradas estranhezasO velho pai sesudo, (D. Afonso IV) que respeitaO murmurar do povo, e a fantasiaDo filho, que casar-se não queria,

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Tirar Inês ao mundo determina,Por lhe tirar o filho que tem preso,Crendo co'o sangue só da morte indinaMatar do firme amor o fogo aceso. (Julgava que o

sangue da mortye bastava para apagar o fogo do amor.)

Que furor (loucura) consentiu que a espada fina,Que pôde sustentar o grande pesoDo furor Mauro, fosse alevantadaContra uma fraca dama delicada? (Que fúria foi essa

que fez levantar contra uma débil mulher a espada cortante que derrotou o poder dos mouros?)

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Estrofes 121 – 123

O pai de D. Pedro, para acalmar os ânimos do povo, que não via com bons olhos a relação do príncipe e D. Inês e que acreditava que só com a morte dela acabaria com o amor entre eles, determina que D. Inês seja morta.

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Traziam-na os horríficos algozes (carrascos)

Ante o Rei, já movido a piedade; (Quando os

carrascos trouxeram Inês, já o Rei estava comovido e arrependido.)

Mas o povo, com falsas e ferozesRazões, à morte crua o persuade.Ela com tristes e piedosas vozes,Saídas só da mágoa, e saudadeDo seu Príncipe e filhos, que deixava,Que mais que a própria morte a magoava,

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Para o Céu cristalino alevantandoCom lágrimas os olhos piedosos,(Os olhos, porque as mãos lhe estava atandoUm dos duros ministros rigorosos);E despois nos mininos atentando,Que tão queridos tinha, e tão mimosos,Cuja orfindade como mãe temia,Para o avô cruel assim dizia:

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- "Se já nas brutas feras, cuja menteNatura fez cruel de nascimento,E nas aves agrestes, que somenteNas rapinas aéreas têm o intento,Com pequenas crianças viu a genteTerem tão piedoso sentimento,Como co’a mãe de Nino já mostraram,E c’os irmãos que Roma edificaram: (Lembrou-lhe

os animais ferozes e as aves de rapina que tiveram sentimentos de piedade, como o mostram o caso de Semiramis e o dos fundadores de Roma.)

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- Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito (Se de humano é matar ua donzela, Fraca e sem força, só por ter sujeito O coração a quem soube vencê-la),A estas criancinhas tem respeito, Pois o não tens à morte escura dela; Mova-te a piedade sua e minha,Pois te não move a culpa que não tinha.

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- E se, vencendo a maura resistência,A morte sabes dar com fogo e ferro,Sabe também dar vida, com clemênciaA quem para perdê-la não fez erro.Mas, se to assim merece esta inocência,Põe-me em perpétuo e mísero desterro,Na Cítia fria (Sibéria) ou lá na Líbia ardente,Onde em lágrimas viva eternamente.

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Põe-me onde se use toda a feridade,Entre leões e tigres, e vereiSe neles achar posso a piedadeQue entre peitos humanos não achei:Ali com o amor intrínseco (profundo) e vontadeNaquele por quem mouro, criareiEstas relíquias suas que aqui viste,Que refrigério sejam da mãe triste." (Que a

mandasse mesmo para junto das feras, onde procuraria a piedade que não encontrara entre os homens. Ali, por amor e bem querer daquele por quem morria, criaria os filhos, memórias do pai, consolação da mãe.)

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Discurso de D. Inês ao Rei (126-129)

Argumentos utilizados em sua defesa:

• Se até os animais mais selvagens mostram afecto em relação aos humanos, D. Afonso IV, que sempre fora bom e piedoso, certamente não iria modificar a sua conduta; (126)

• Pede ao Rei que tenha pena dos netos, que ficariam órfãos sem terem culpa de nada; (127)

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• Apela a clemência real que, tal como sabe determinar a morte com justiça, também deve saber quando é de direito viver; (128)

• Se, perante tudo, o Rei ainda hesitar, D. Inês pede-lhe que a desterre algures, pois o seu amor por D. Pedro dar-lha-á alento para criar os seus filhos muito amados. (129)

 

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Queria perdoar-lhe o Rei benino,Movido das palavras que o magoam;Mas o pertinaz povo, e seu destino(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.Arrancam das espadas de aço finoOs que por bom tal feito ali apregoam.Contra uma dama, ó peitos carniceiros,Feros vos amostrais, e cavaleiros? (Bárbaro

assassínio de D. Inês)

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Qual contra a linda moça Polycena, (Policena era

noiva de Aquiles; este morreu em combate, e o seu espectro, aparecendo a Pirro, seu filho, ordenou-lhe que a imolasse sobre o seu túmulo.)

Consolação extrema da mãe velha,Porque a sombra de Aquiles a condena,Co'o ferro o duro Pirro se aparelha; (Assim como

Pirro se prepara para matar Policena por ordem do espectr5o de Aquiles e ela, serenamente, se oferece à imolação, pondo os olhos na mãe, louca de dor…)

Mas ela os olhos com que o ar serena(Bem como paciente e mansa ovelha)Na mísera mãe postos, que endoudece,Ao duro sacrifício se oferece:

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Tais contra Inês os brutos matadoresNo colo de alabastro, (pedra calcária muito branca) que sustinhaAs obras com que Amor matou de amoresAquele que despois a fez Rainha;As espadas banhando e as brancas flores, (maçãs do rosto)

Que ela dos olhos seus regadas tinha,Se encarniçavam, férvidos e irosos,No futuro castigo não cuidosos.

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Bem puderas, ó Sol, da vista destes (O Sol encobriu-se)

Teus raios apartar aquele dia,Como da seva mesa de Tiestes,Quando os filhos por mão de Atreu comia. (Tiestes seduziu a esposa do seu irmão Atreu. Este, para se vingar convidou o irmão para um banquete e serviu-lhe de comer os flhos nascidos dos amores ilícitos. O sol escondeu-se perante tais horrores.)

Vós, ó côncavos vales, que pudestesA voz extrema ouvir da boca fria,O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,Por muito grande espaço repetistes!

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Assim como a bonina, (flor) que cortadaAntes do tempo foi, cândida e bela,Sendo das mãos lascivas maltratadaDa menina que a trouxe na capela, (toucado)

O cheiro traz perdido e a cor murchada:Tal está, morta, a pálida donzela,Secas do rosto as rosas e perdidaA branca e viva cor, co a doce vida.

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As filhas do Mondego a morte escuraLongo tempo chorando memoraram,E, por memória eterna, em fonte puraAs lágrimas choradas transformaram;O nome lhe puseram, que inda dura,Dos amores de Inês que ali passaram.Vede que fresca fonte rega as flores,Que lágrimas são a água, e o nome Amores.

Os Lusíadas

Lurdes Martins