Eixo 10 – Outros Temas Aprendendo pelos exemplos: casos práticos de Turismo Inclusivo Bruna de Castro Mendes 1 Scott Rains 2 Resumo: O texto deve ter entre dez e doze linhas, escrito em fonte Arial, tamanho 10 e com entrelinhas simples. O resumo deve ter uma extensão mínima de 100 e máxima de 150 palavras. No texto, é necessário explicitar o objeto de estudo, objetivos, metodologia e os principais resultados da pesquisa. Palavraschave: Turismo Acessível. Pessoas com deficiência. Mercado. Introdução Nas cidades e na vida urbana, as relações deixam de ser naturais para se tornarem sociais, surgindo o conceito de indivíduo, que passa a viver de forma mais autônoma e livre, conforme destaca Ross (2006). Contudo, isso apenas ocorre se esse indivíduo pertencer e cumprir às regras estabelecidas pelo estereótipo de “ser normal”. Porém, perguntase: o que significa e representa essa normalidade, defendida por uma assim conceituada maioria? Em primeiro lugar, é preciso compreender que a sociedade caracterizase por definições pautadas por conceitos de produtividade, segundo os quais aquele indivíduo que não cumprir com o esperado (seja em produção, seja em métodos de elaboração) é taxado por determinados termos que marcam essa diferenciação: ou ele é burro ou é gênio; ou ele é normal ou é anormal; entre outros. Em segundo lugar, destacase o fato de que o “diferente” assusta e por isso as pessoas tentam controlar, da melhor maneira possível, as suas rotinas, os seus esquemas de trabalho e as suas amizades e áreas de convívio social. Dessa maneira, as comunidades costumam ter regras implícitas que podem segregar ou não indivíduos que não pertençam a um ideal estabelecido, tornando os que estão fora das normas, muitas vezes, pessoas estigmatizadas. Ribas (2003) acredita que sejam essas diferenças sociais valorativas que 1 Mestre em Hospitalidade e Professor no Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio. Email: [email protected]2 Consultor de Turismo Inclusivo, no Brasil e no mundo. Email: [email protected]1
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Eixo 10 – Outros Temas
Aprendendo pelos exemplos: casos práticos de Turismo Inclusivo
Bruna de Castro Mendes1
Scott Rains2
Resumo: O texto deve ter entre dez e doze linhas, escrito em fonte Arial, tamanho 10 e com
entrelinhas simples. O resumo deve ter uma extensão mínima de 100 e máxima de 150
palavras. No texto, é necessário explicitar o objeto de estudo, objetivos, metodologia e os
principais resultados da pesquisa.
Palavraschave: Turismo Acessível. Pessoas com deficiência. Mercado.
Introdução
Nas cidades e na vida urbana, as relações deixam de ser naturais para se tornarem
sociais, surgindo o conceito de indivíduo, que passa a viver de forma mais autônoma e livre,
conforme destaca Ross (2006). Contudo, isso apenas ocorre se esse indivíduo pertencer e
cumprir às regras estabelecidas pelo estereótipo de “ser normal”. Porém, perguntase: o que
significa e representa essa normalidade, defendida por uma assim conceituada maioria?
Em primeiro lugar, é preciso compreender que a sociedade caracterizase por
definições pautadas por conceitos de produtividade, segundo os quais aquele indivíduo que
não cumprir com o esperado (seja em produção, seja em métodos de elaboração) é taxado
por determinados termos que marcam essa diferenciação: ou ele é burro ou é gênio; ou ele
é normal ou é anormal; entre outros.
Em segundo lugar, destacase o fato de que o “diferente” assusta e por isso as
pessoas tentam controlar, da melhor maneira possível, as suas rotinas, os seus esquemas
de trabalho e as suas amizades e áreas de convívio social. Dessa maneira, as comunidades
costumam ter regras implícitas que podem segregar ou não indivíduos que não pertençam a
um ideal estabelecido, tornando os que estão fora das normas, muitas vezes, pessoas
estigmatizadas. Ribas (2003) acredita que sejam essas diferenças sociais valorativas que
1 Mestre em Hospitalidade e Professor no Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio. Email: [email protected]
2 Consultor de Turismo Inclusivo, no Brasil e no mundo. Email: [email protected]
podem determinar que as pessoas deficientes não sejam capazes de conviver com outros
indivíduos, fabricando mecanismos de exclusão. Contudo, estamos inseridos em relações
sociais e dependemos delas para o desenvolvimento social. Ao isolarmos grupos sociais
que não pertençam ao que a maioria considera o ideal de produtividade e convivência,
negamos essa interrelação entre o homem e a sociedade.
Nesse sentido, não se pode esquecer que quando se pensa em diversidade,
pensase em uma minoria, excluída e isolada de todo e qualquer convívio social, porém
Guijarro (1998) reforça que falar em diversidade é falar do coletivo, que traz em seu interior
as diferenças habituais (grifo nosso). Ao debater a relação dos direitos e deveres de cada
pessoa na sociedade, abordase, obrigatoriamente, o conceito de cidadania dos grupos
conhecidos como minorias. Tratandose especificamente das pessoas com deficiência, o
artigo 3º da Declaração dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência diz que as
pessoas deficientes têm o direito inerente ao respeito por sua dignidade humana; qualquer
que seja a origem, a natureza e gravidade de suas deficiências, têm os mesmos direitos
fundamentais que seus concidadãos da mesma idade, que implicam antes de tudo, no
direito de desfrutar de uma vida decente, tão normal e plena quanto possível.
A Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as Formas de
Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiência, mais conhecida como a
Convenção de Guatemala, ocorrida em 28 de maio de 1999, enfatiza ainda que as pessoas
com deficiência têm o direito de não serem submetidas à discriminação com base na
deficiência, emanando a dignidade e a igualdade que são inerentes a todo ser humano
(BRASIL, 2006a).
Todos esses conceitos expostos preconizam o debate da inclusão social, que
representa um dos diversos movimentos sociais que consideram a liberdade pessoal como
um direito universal, independentemente de raça, sexo, aparência física, sendo que, segundo
Castells (1983 apud KAUCHAKJE, 2003, p.68), esses movimentos sociais são considerados
os principais protagonistas na formulação e na demanda por direitos. Portanto, falar em
cidadania das pessoas com deficiência envolve, obrigatoriamente, falar da inclusão social
desse segmento e da qualidade de vida.
Contudo, possibilitar que pessoas com deficiência convivam com os diversos grupos
sociais e que a discriminação seja atenuada exige um tempo prolongado de espera. Ao
comentar sobre mudanças sociais, Krippendorf (1989, p.152) ressalta que “a mudança só é
efetiva quando se galgam todas as etapas, sendo que ela não pode ser forçada, e sim no
2
máximo encorajada”. Em busca desse encorajamento é que se discutem conceitos de
inclusão social, buscandose uma transformação da sociedade. O resultado dessa alteração
não é imediato, mas é preciso permitir que cada deficiente possa controlar a sua vida, e “dar
orientação básica a seus impulsos” (OLIVEIRA, 1993, p.12).
Enfatizase ser necessário o conhecimento das diferenças para garantir a
concretização do processo de inclusão, pois, conforme afirma Fávero (2004), apenas o
tratamento diferenciado é que irá promover a igualdade, respeitando as diferenças e as
capacidades de cada pessoa. Apenas a convivência garante a formação completa do ser
humano, pois, segundo Oliveira (1993, p.13), “o homem só se faz no mundo através de sua
ação, sendo que sua dignidade consiste fundamentalmente na liberdade de decisão”.
Conquistar, disseminar o respeito e não erguer barreiras diante das diferenças
implica construir uma atmosfera inclusiva. Acreditase, diante disso, que é por meio da
disseminação da informação e de exemplos inclusivos que poderemos demonstrar para a
sociedade que a convivência integral de todo e qualquer ser humano pode se tornar uma
realidade e não mais um debate meramente utópico. Nesse sentido é que o presente artigo
expõe exemplos de estabelecimentos e cidades que caminham no processo de inclusão
social. Reforçase o fato de que todo esse levantamento ocorreu pelas experiências dos
autores, que lutam pela inclusão ao turismo de toda e qualquer pessoa, independente de
suas características particulares. Para tanto, caracterizase a pesquisa como exploratória,
utilizandose do levantamento bibliográfico, experiências empíricas (e por isso a utilização de
escrita mais pessoal) e debates no mundo académico para a elaboração da mesma. Como
complemento, utilizouse de uma rede de contatos internacionais, recebendo sugestões de
pessoas da Ìndia, Suècia, Estados Unidos e outras localidades, além de indicações de sites
e entidades que estudam e pesquisam o tema da inclusão no turismo.
Parte 1. Turismo para Pessoas com Deficiência
Para diversos autores que trabalham com o tema da deficiência, como Ribas (2003),
Amaral (1995), Werneck (1997) e Silva e Bóia (2006), além das barreiras físicas, a falta de
informação aliada à “subinformação” (conceitos errôneos disseminados pela sociedade) são
os principais entraves para a inclusão social das pessoas com deficiência, pois a ignorância
sobre o assunto acarreta preconceito – e, a partir deste, se formam os estereótipos que se
tornam presentes na cultura e originam estigmas.
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Percebemse, assim, poucas ações efetivas que auxiliam na quebra de paradigma,
ocorrendo apenas um cumprimento forçado das leis, sem a mudança de comportamento
necessária para a efetivação do processo de inclusão social. Para uma mudança cultural
em relação ao tratamento destinado às pessoas deficientes, que resulte em uma
acessibilidade plena, é preciso mais do que simplesmente garantir a ocupação do espaço
físico. É preciso envolver toda a sociedade nessa complicada conquista.
Aproveitandose desses conceitos, e delimitando a análise no campo das atividades
turísticas, percebese que é durante essa prática que as pessoas interagem com os mais
diversos públicos, inclusive com aqueles que não pertenceriam ao seu ciclo habitual de uma
convivência marcada pela “normalidade”. Ao contemplar essa relação, notase a
preocupação com o bemestar do outro, com a recepção, com o atendimento das
necesidades, em suma, notase, poderseia notar um olhar marcado pela hospitalidade,
mas o que se encontra é a inospitalidade.
Para que possamos falar de um turismo hospitaleiro, marcado pelos conceitos da
hospitalidade, é preciso nos preocuparmos não só com a melhoria do serviço prestado, mas
também com o conforto e o bemestar dos clientes em relação à infraestrutura e aos
equipamentos (TRINDADE, 2004, p.74). Conhecer o seu público e adequar os serviços para
que todas as necessidades sejam atendidas são iniciativas primordiais para que o turismo
contribua para a inclusão social das pessoas com deficiência.
Segundo o Programa de Ação Mundial das Nações Unidas, “as autoridades de
turismo, agências de viagens, organizações voluntárias e outras envolvidas na organização
de atividades recreativas ou oportunidades de viagem devem oferecer seus serviços a todos
e não discriminar as pessoas com deficiência” (SASSAKI, 2003, p.20).
Pessoas com deficiência almejam um tratamento idêntico ao destinado às demais
pessoas em recintos comuns e em atividades diversas, como a turística. Acrescese
apenas a necessidade de algumas adaptações, respeitando as capacidades e
possibilidades individuais. Com o objetivo de garantir o acesso ao turismo, algumas atitudes
devem ser tomadas. Segundo Muller (2003, p.68), o “turismo deve, além de se tornar mais
eficiente e melhorar sua qualidade, ser mais autêntico e mais humano”. É apenas
considerando o outro em sua plenitude que o turismo poderá auxiliar no processo de
inclusão.
A contribuição do turismo é possibilitar que as pessoas com deficiência conheçam
suas capacidades e desenvolvam suas habilidades de maneira prazerosa, em contato com
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ambientes diversos e pessoas fora do seu círculo habitual; é ajudálas a compreender
melhor aquilo que desejam e necessitam, com vistas a um aumento na qualidade de vida e
maior participação como cidadãs; em suma, é fazer com que elas migrem do papel de
coadjuvantes para o de protagonistas.
Nesse sentido, definese turismo inclusivo como "the application of the seven
principles of Universal Design to the products, services, and policies of the tourism industry
at all stages of their lifecycle from conception to retirement and introduction of a replacement 3
", complementado pelo conceito de que esse é o turismo “ that is accessible to all people,
with disabilities or not, including those with mobility, hearing, sight, cognitive, or intellectual
and psychosocial disabilities, older persons and those with temporary disabilities ”.4
Os principios do Desenho Universal foram criados durante a era dos direitos civis nos
Estados Unidos e formalizados em 1997, representando as principais demandas para o
proceso de incluso social, seja no ámbito do trabalho, do lazer, do turismo e demais áreas.
De qualquer maneira, nós enfatizamos que o desenho universal é uma aproximação do
ideal, e não uma lista única de soluções, de medidas ou de produtos predefinidos.
Os princípios envolvidos são a Equiparação nas posibilidades de uso, reforçando a
flexibilidade em sua utilização, para atender a uma ampla demanda de indivíduos,
preferencias e habilidades. Debese contemplar, também, o uso Simples e Intuitivo,
permitindo que qualquer pessoa, independente da experiênca, nível de formação,
conhecimento, possa usar o produto ou serviço em questão. A captação de informação deve
ser avaliado, comunicando eficazmente ao usuário as informações necessárias, ocorrendo
tolerancia ao erro, sendo esse o quinto conceito, já que o desing minimiza o erro, mas não o
previne totalmente. O mínimo esforço físico debe ser considerado, seguido pela Dimensão e
espaço para uso e interação, independente do tamanho, postura, ou mobilidade da pessoa .5
Acreditase que o Design Universal debe ser contemplado em toda e qualquer
decisão. Apenas a partir disso é que poderemos pressupor que a Hospitalidade, turismo e
3 Tradução livre: “A aplicação dos sete principios do Design Universal para productos, serviços e políticas da
industria do turismo para todos os estágios do seu ciclo de vida, desde a sua concepção até a reforma, e a
introdução de um substituto”. Disponível em: http://www.livestream.com/PoloITHandicap. Acesso em 03
abr.2012.4 Tradução livre: “atividade acessível a toda e qualquer pessoa, com deficiencias ou não, incluindo aqueles
com dificuldades de mobilidade, escuta, visão, cognitivas ou intelectuais, pessoas idosas, ou aqueles com
deficiencia temporária”. Disponível em:
http://www.accessibletourism.org/resources/takayama_declaration_top-e-fin_171209.pdf.5 Escrito por Scott Rains, sendo o documento completo disponível em: acessobrasil.org.br/index.php?itemid=42
sendo que 65% da amostra tinham mais do que 55 anos. As principais motivações para a
viagem envolvem negócios, visita a famílias e amigos, além de visitar áreas turísticas e
atrações culturais, sendo que 59%, pelo menos, viajaram uma média de seis viagens ao
ano, normalmente acompanhados por familiares e amigos.
Aproveitandose desse mercado, o grupo Microtel Inns & Suites se propõe a seguir as 8
diretrizes da ADA (Americans with Disabilities Act), assegurando que todos os seus hotéis
tenham quartos acessíveis para todo e qualquer tipo de deficiência. Porém, cientes de que a
barreira atitudinal é uma das mais complexas a serem transpostas, pois estão enraizadas
em nossa vida, comunidade e família, o grupo oferece um treinamento a todo funcionário de
cada um dos seus hotéis, ensinando como ser amigável e útil às pessoas com deficiência,
como também ensina habilidades de atendimento de ordem prática, procedimentos
operacionais, de emergência e segurança. Acreditase ser esse um grande exemplo de
turismo inclusivo, já que as barreiras atitudinais estão tão incorporadas no nosso cotidiano,
por meio de leis, senso comum, que apenas quando não houver mais preconceitos,
estigmas, estereótipos e discriminações, como resultado de programas e práticas de
sensibilização e de conscientização das pessoas em geral e da convivência na diversidade
humana que poderemos falar na quebra dessas barreiras.
Outro exemplo a ser citado e seguido é o da cidade de Takayama (Japão),
reconhecida pelas habilidades da população em carpintaria. Em decorrência da sua alta
altitude e consequente separação de outras áreas japonesas, o que a manteve bem
afastada de influências, a cidade desenvolveu a sua própria cultura, fato presente na
Declaração de Takayama para o Desenvolvimento de uma Comunidade para Todos na Ásia
e Pacífico . Nesse documento, afirmase o principio “nothing about us without us”, ou seja, 9
“nada sobre nós sem nós”, ao destacar a importância da participação de pessoas com
deficiência, idosos e famílias no processo de desenvolvimento de políticas, implantação,
monitoramento e avaliação das práticas inclusivas.
Destacase também o Scandic Victoria Tower, um hotel de 34 andares em Estocolmo,
que demonstrou que é possível oferecer quartos adaptados em andares mais altos, já que o
tradicional é elaborálos no térreo, apenas com a ajuda de elevadores que permitam a
cadeirantes uma fácil evacuação em caso de incêndios. Junto com a supervisão de Magnus
8 Para maiores detalhes, consultar o site: http://www.microtelinn.com/9 Disponível em: http://www.accessibletourism.org/resources/takayama_declaration_top-e-fin_171209.pdf.