Top Banner
  IMPACTOS E CUSTOS ECONÔMICO- AMBIENTAIS DA AGRICULTURA MODERNA: ESTUDO DE CASO DA FRENTE AGRÍCOLA DO NOROESTE DE MINAS GERAIS Vitor Vieira Vasconcelos Lavras Minas Gerais - Brasil 2008
83

Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

Jul 19, 2015

Download

Documents

Pretende-se com esse trabalho, percorrer os dados da bibliografia disponível para melhor analisar os impactos e custos ambientais das frentes agrícolas. Como estudo de caso, selecionou-se o Noroeste de Minas Gerais.
Primeiramente, parte-se de uma análise da história de ocupação dos cerrados brasileiros e da região Noroeste, para então analisar a situação social, econômica e ambiental atual dessa região. É dada atenção aos aspectos da produção agrícola, enfocando sua influência sobre a ocupação do solo e o desenvolvimento regional.
Em seguida, o trabalho busca mapear quais os impactos ambientais das frentes agrícolas na biodiversidade, nos recursos naturais de solo e água, no clima, bem como impactos relacionados ao êxodo rural e à contaminação por agrotóxicos e aditivos químicos. Sempre que possível, são procurados os contornos econômicos dos impactos ambientais analisados.
Por fim, tecem-se reflexões finais sobre a viabilidade econômica e ecológica da agricultura moderna, bem com de estratégias visando ao desenvolvimento sustentável.
Welcome message from author
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
Page 1: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

 

IMPACTOS E CUSTOS ECONÔMICO-AMBIENTAIS

DA AGRICULTURA MODERNA:

ESTUDO DE CASO DA FRENTE AGRÍCOLADO NOROESTE DE MINAS GERAIS

Vitor Vieira Vasconcelos

LavrasMinas Gerais - Brasil

2008

Page 2: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

 

VITOR VIEIRA VASCONCELOS

IMPACTOS E CUSTOS ECONÔMICO-AMBIENTAISDA AGRICULTURA MODERNA:

ESTUDO DE CASO DA FRENTE AGRÍCOLADO NOROESTE DE MINAS GERAIS

Monografia apresentada aoDepartamento de Ciência do Solo daUniversidade Federal de Lavras,como parte das exigências do cursode Pós-Graduação  Lato Sensu emSolos e Meio Ambiente, para aobtenção do título de especialização.

OrientadorProf. Geraldo César de Oliveira

LAVRASMINAS GERAIS - BRASIL

2008 

Page 3: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

VITOR VIEIRA VASCONCELOS

IMPACTOS E CUSTOS ECONÔMICO-AMBIENTAISDA AGRICULTURA MODERNA:

ESTUDO DE CASO DA FRENTE AGRÍCOLADO NOROESTE DE MINAS GERAIS

Monografia apresentada aoDepartamento de Ciência do Solo daUniversidade Federal de Lavras,como parte das exigências do cursode Pós-Graduação  Lato Sensu emSolos e Meio Ambiente, para aobtenção do título de especialização.

APROVADA em __ de _________ de _____.

Prof. ________________

Prof. ________________

Prof. _____________________UFLA

Geraldo César de Oliveira

LAVRASMINAS GERAIS - BRASIL

2008 

Page 4: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

 

Dedico esta monografia a minha família.

Page 5: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

 

Agradeço ao pesquisador Paulo PereiraMartins Junior por haver orientado minhaformação acadêmica, da qual essamonografia é reflexo.

Agradeço também a todos colegas depesquisa e trabalho que meacompanharam ao longo desses anos.

Enfim, meus agradecimentos a meuorientador Geraldo César de Oliveira, porsuas orientações que culminaram naapresentação dessa obra.

Page 6: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS........................................................................... i

LISTA DE FIGURAS............................................................................ ii

RESUMO.............................................................................................. iii

1. INTRODUÇÃO................................................................................. 1

2. OBJETIVOS...................................................................................... 5

3. REVISÃO DE LITERATURA......................................................... 5

3.1. Histórico da Ocupação dos Cerrados.............................................. 5

3.2 Diagnóstico do Noroeste de Minas Gerais....................................... 7

3.3. Agricultura na Economia do Noroeste de Minas Gerais................. 7

3.4. Impactos e custos ambientais.......................................................... 14

3.4.1. Perda de Biodiversidade............................................................... 14

3.4.2. Perda da Fertilidade dos Solos e Erosão...................................... 333.4.3. Escassez Hídrica.......................................................................... 39

3.4.4. Contaminação por Agrotóxicos e Aditivos Químicos.................. 53

3.4.5. Impactos Climáticos..................................................................... 56

3.4.6. Êxodo Rural................................................................................. 58

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................. 63

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................. 70

Page 7: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

  i

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Localização Geográfica da Região Noroeste de MinasGerais

2

FIGURA 2 Bacia Hidrográfica do Rio Paracatu, região da frenteagrícola do noroeste de Minas Gerais. Em azul: Sub-baciade Entre-Ribeiros. Em vermelho: Sub-bacia do Rio Preto

2

FIGURA 3 Sub-Bacia de Entre Ribeiros - Relevo em 3 dimensões. 3FIGURA 4 Foto de cenário típico da bacia do Paracatu, Sub-Bacia do

Rio Escuro.4

FIGURA 5 Gráfico sobre o valor de produção para culturastemporárias no Noroeste de Minas Gerais, de 1996 a 2007

12

FIGURA 6 Gráfico sobre a área plantada para culturas temporárias noNoroeste de Minas Gerais, de 1996 a 2007

13

FIGURA 7 Gráfico sobre a área plantada e colhida de culturastemporárias no Noroeste de Minas, de 1996 a 2007

17

FIGURA 8 Gráfico sobre a área plantada e colhida de culturaspermanentes no Noroeste de Minas, de 1996 a 2006

18

FIGURA 9 Fragmento antrópico de Cerrado na região de Paracatu-MG

20

FIGURA 10 Vegetação Remanescente da Bacia Hidrográfica de EntreRibeiros, sobre imagem de Satélite de 2003

21

FIGURA 11 Área ambientalmente irregular a 6 km de Unaí, semrespeitar o entorno dos corpos d`água

22

FIGURA 12 Rio Paracatu, com desmatamento ilegal ao fundo, semrespeitar o entorno do curso d`água

23

FIGURA 13 Baru 25FIGURA 14 Pequi 25FIGURA 15 Umbu 25FIGURA 16 Gabiroba 25FIGURA 17 Caju 25FIGURA 18 Fava D’Anta 27FIGURA 19 Lagoas Marginais na Bacia do Paracatu 29

FIGURA 20 Solo exposto, na Fazenda Colorado, Município de João

Pinheiro, Noroeste de MG

35

FIGURA 21 Rio Assoreado em Unaí-MG 37FIGURA 22 Bacia do Rio Paracatu - Hidrograma de Descargas Médias

Mensais - Período 1939/40 a 1988/89 - Rio da Prata emPorto Diamante

40

FIGURA 23 Gráfico do Incremento de Produtividade através doSistema de Irrigação por Pivô Central

42

FIGURA 24 Pivô Linear de Aspersão em Unaí 46

Page 8: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

  ii

LISTA DE FIGURAS (continuação)

FIGURA 25 Pivô Central de Aspersão em Unaí 46FIGURA 26 Fazenda a 12 km de Unaí - Área irrigada de 83ha, com 02

pivots centrais, de 53 ha e de 30 ha47

FIGURA 27 Fazenda a 12 km de Unaí - Pivô Linear de Irrigação 47FIGURA 28 2 áreas de irrigação por pivô central, na Fazenda

Chapadão, município de Paracatu,Noroeste de MG.

48

FIGURA 29 O maior Pivô Linear do mundo (600ha), município deJoão Pinheiro, Noroeste de Minas Gerais 49FIGURA 30 Áreas de Zona de Recarga da Bacia do Paracatu 51FIGURA 31 Áreas de Zona de Recarga na Su-Bacia de Entre-Ribeiros 52FIGURA 32 Uso do avião agrícola para aplicação de agrotóxicos e

fertilizantes em Unaí-MG56

FIGURA 33 Uso de trator para aplicação de agrotóxicos e fertilizantesem Unaí-MG

56

FIGURA 34 Vista da Cidade de Unaí - Noroeste de Minas 60FIGURA 35 Lixo entulhado na entrada de Unaí - direção de Brasília 61FIGURA 36 Catadores sobrevivem no Lixão Municipal de Unaí-MG 61FIGURA 37 Violência contra o Patrimônio Público em Unaí-MG 62

Page 9: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

  iii

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Valor de produção dos principais cultivares da RegiãoNoroeste de Minas Gerais, em comparação com o valortotal do Estado

14

TABELA 2 Evolução dos preços e da produção de Fava d’Anta em MG 27TABELA 3 Algumas Espécies Bandeira Ameaçadas e de Importância

Ecológica na Bacia do Rio Paracatu32

TABELA 4 Custos de produção em preparo do Solo e Tratos Culturais 33TABELA 5 Incremento de Produtividade através do Sistema de

Irrigação por pivô43

TABELA 6 Mão-de-obra necessária e outros custos de capital dosvários métodos de irrigação

45

TABELA 7 Custo de Maquinário Agrícola (estimativa) 46

Page 10: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

  iv

RESUMO

O presente trabalho, através do enfoque da Economia e da

Ecologia, pretende delimitar, dentro das possibilidades técnicas atuais,

os contornos referentes aos impactos e custos econômico-ambientais

advindos da agricultura moderna, de forma a lançar um novo olhar para

a viabilidade econômica e sustentabilidade do agro-negócio brasileiro. É

tomada como estudo de caso a frente agrícola do Noroeste de Minas

Gerais, especialmente na Bacia do Rio Paracatu, principal afluente do

rio São Francisco. Ao fim, conclui-se pela necessidade de repensar as

estratégias de desenvolvimento sustentável, no tocante à expansão das

frentes agrícolas.

Page 11: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

1

1. INTRODUÇÃO

As Frentes Agrícolas de Agro-negócio, sustentadas a partir de

monoculturas extensas e de elevado nível tecnológico, têm se transformado em

grandes usuárias de recursos naturais e, consequentemente, em significantes

geradoras de impactos ambientais (MMA, 2000). A produção de cana, soja,

milho, sorgo, entre outros produtos agrícolas, acarretam transformações

drásticas na paisagem, e, dentre os impactos ambientais associados às frentesagrícolas, destacam-se: compactação do solo, contaminação das águas e da biota

por agrotóxicos e fertilizantes, desmatamento com a fragmentação de habitats,

queimadas, redução da disponibilidade de água subterrânea e superficial pela

irrigação inadequada das áreas cultivadas, redução da diversidade vegetal e

animal, perdas de solos (Egler & Rio, 2002).

A região de foco do trabalho é o Noroeste de Minas Gerais, região

originariamente coberta pelo cerrado. As características principais do bioma

cerrado são a rica biodiversidade, solos ácidos, duas estações climáticas (umaseca, outra chuvosa) e relevo plano. Nesse bioma há cerca de 6.000 espécies de

árvores e 800 de aves. Os tipos de vegetação existente são: veredas, cerradão,

campo limpo, parque de cerrado. (CMMA, 2007)

A região do Noroeste de Minas possui clima tropical chuvoso, planaltos

suaves, predominância do Latossolo – solos antigos, profundos e com baixa

predisposição natural à erosão, bom potencial agrícola, relacionado a relevos

planos; e possuidores de grande estoque de carbono. As condições planas do

relevo permitiram o uso de uma forte mecanização, modificando-se rapidamentea paisagem através da retirada quase que total da cobertura vegetal natural

(Silva, 2000). O solo geralmente é pobre em nutrientes, necessitando que seja

feita correção para sua utilização na agricultura.

Page 12: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

2

A região pertence à Bacia do Rio Paracatu, que possui cerca de 45.600

KM² de extensão, tendo como principais afluentes: Rio Preto, Rio do Sono, Rio

da Prata, Rio Escuro, Ribeirão Entre-Ribeiros, entre outros. O Paracatu é um dos

principais afluentes do Rio São Francisco, o que contribui ainda mais para

reforçar a importância do controle da poluição nessa região. Segundo dados de

1998 (Dino,2001), a porção Oeste da bacia do Paracatu era mais desenvolvida e

mais ocupada do que a porção Leste, por possuir clima melhor e solos mais

ricos, e justamente nessa região estão concentradas as maiores cidades.

FIGURAS 1 e 2 - À direita: Localização Geográfica da Região Noroeste de Minas Gerais (Fonte:

http://www.turismo.mg.gov.br, em 19/05/2008). À esquerda: Em preto - Bacia Hidrográfica do

Rio Paracatu, região da frente agrícola do Noroeste de Minas Gerais. Em azul - Sub-bacia de

Entre-Ribeiros. Em vermelho - Sub-bacia do Rio Preto. Fonte: (Cetec, 2006)

Page 13: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

3

FIGURA 3 - Sub-Bacia de Entre Ribeiros - Relevo em 3 dimensões. Notar as superfícies planas da

região, favorecendo o estabelecimento de agricultura extensiva mecanizada. Fonte: (Cetec, 2006)

Page 14: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

4

FIGURA 4 - Foto de cenário típico da bacia do Paracatu. Mais uma vez evidencia-se o relevoplano. Nota-se também as extensas áreas desmatadas para atividades agropecuárias.

Fonte: (Cetec, 2005)

As principais cidades da região são João Pinheiro, Unaí e Paracatu, que

concentram 80% da população urbana. A maioria dos municípios da região não

possui tratamento de esgoto (Dino, 2001), sendo os dejetos lançados nos rios da

região sem qualquer tratamento. Apenas nas maiores cidades fala-se em começar

um trabalho de tratamento dos efluentes domésticos. Esse fato é responsável por

poluição hídrica, que prejudica inclusive as próprias lavouras, já que grande

parte das culturas utiliza-se da irrigação.

Page 15: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

5

2. OBJETIVOS

Pretende-se com esse trabalho, percorrer os dados da bibliografia

disponível para melhor analisar os impactos e custos ambientais das frentes

agrícolas. Como estudo de caso, selecionou-se o Noroeste de Minas Gerais.

Primeiramente, parte-se de uma análise da história de ocupação dos

cerrados brasileiros e da região Noroeste, para então analisar a situação social,

econômica e ambiental atual dessa região. É dada atenção aos aspectos daprodução agrícola, enfocando sua influência sobre a ocupação do solo e o

desenvolvimento regional.

Em seguida, o trabalho busca mapear quais os impactos ambientais das

frentes agrícolas na biodiversidade, nos recursos naturais de solo e água, no

clima, bem como impactos relacionados ao êxodo rural e à contaminação por

agrotóxicos e aditivos químicos. Sempre que possível, são procurados os

contornos econômicos dos impactos ambientais analisados.

Por fim, tecem-se reflexões finais sobre a viabilidade econômica eecológica da agricultura moderna, bem com de estratégias visando ao

desenvolvimento sustentável.

3. – REVISÃO DE LITERATURA

3.1. Histórico da Ocupação dos Cerrados

Antes de 1950, os Cerrados quase não eram utilizados para agricultura,

em virtude de seu clima quente e seus solos carentes em nutrientes. Todavia,

atualmente mais de quarto dos cereais brasileiros são cultivados nas áreas de

cerrado. Ademais, o Cerrado manteve-se como uma das regiões mais

Page 16: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

6

significativas para a produção pecuária bovina brasileira. Principalmente a partir

dos anos 70, em decorrência aos incentivos governamentais dos programas de

desenvolvimento regional POLOCENTRO e PRODECER, a região dos

Cerrados teve um aumento significativo na expressão de seus vetores de

ocupação. Esse fenômeno foi iniciado pelo reflorestamento de Pinus e

Eucaliptus, respaldado pela Lei 5.106 que concedia incentivos fiscais a essas

atividades. O relativamente irrisório preço das terras foi um dos motivos

determinantes na ocupação dos cerrados. (Silva, 2000)Posteriormente, houve a introdução da agricultura intensiva com as

culturas de soja, algodão, café, milho, feijão e ervilha (Silva, 2000). O

conseqüente uso do solo torna admissível correlacionar o aumento da

produtividade agrícola do Cerrado nas últimas quatro décadas,

concomitantemente com a redução das reservas de ecossistemas nativos,

restando hoje apenas pequenas manchas do Cerrado original (Lima, 1996).

O Cerrado teve sua ocupação devido tanto ao fato de sua posição

privilegiada de proximidade aos grandes mercados consumidores, quanto aosincentivos do Estado, que se interessavam pelo desenvolvimento da economia

brasileira através do aumento e da modernização da produção agrícola. Nesse

tocante, a atuação do Estado foi decisiva para que houvesse a ocupação agrícola

do Cerrado. Entretanto, além de ressaltarmos as políticas adotadas pelo mesmo

para que isso ocorresse de maneira eficiente, é importante ressaltar os projetos

de desenvolvimento de tecnologias agrícolas que possibilitaram a viabilidade

econômica da agricultura empresarial nesse bioma.

Page 17: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

7

3.2. - Diagnóstico do Noroeste de Minas Gerais

A região Noroeste de Minas é marcada por grandes contrastes, pois se

por um lado é considerada um grande celeiro agrícola de Minas Gerais, por

outro a riqueza gerada não tem sido adequadamente distribuída.

Existe na região um grande contingente de trabalhadores rurais, com

pouco ou nenhum acesso à terra. Há um grande número de acampados

(aproximadamente 1.817 famílias) e do total de assentamentos do Estado, 62%concentram-se na região (98 assentamentos), totalizando mais de 4.500 famílias

ligadas à reforma agrária (Emater, 2005). Apesar dessas dificuldades, deve-se

ressaltar o crescente nível de organização da região, onde a forte presença de

várias instituições governamentais, privadas e ONG’s, se articuladas em rede

podem formar um grande capital social.

A existência de 15 Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural

Sustentável (Emater, 2005) reforça a participação popular na elaboração e

implementação de políticas públicas. A preocupação com o meio ambiente parteprincipalmente da sociedade civil, que atua através de ONG´s locais. Há na

região a estruturação de um comitê de bacia hidrográfica que objetiva instituir a

cobrança pelo uso da água, mas que vem sofrendo bastante resistência por parte

dos produtores rurais.

3.3. - Agricultura na Economia do Noroeste de Minas Gerais

A paisagem natural da região foi significativamente desmatada na

década de 70, cedendo lugar a grandes plantações, sobretudo de grãos, tornando

o local um importante pólo agrícola. Apesar de a ocupação maciça ter se passado

nos anos 1970 e 1980, ainda hoje existe um movimento de expansão da área

Page 18: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

8

cultivada e intensificação do uso de recursos naturais, buscando atingir níveis

produção mais elevados. Contudo, cabe evidenciar com mais detalhes as

mudanças nas últimas quatro décadas em relação à forma de ocupação do espaço

rural e ao uso de seus recursos naturais, no Noroeste de Minas Gerais.

Os primórdios da ocupação do Noroeste de Minas Gerais se deram ainda

no período colonial, com a descoberta de jazidas de ouro na região, formando

esparsos núcleos populacionais. Com a decadência da mineração, a partir da

segunda metade do século XVIII, a pecuária de grandes propriedades domina oquadro econômico da região (Andrade, 2007, p. 89-90). Até 1975, como

evidenciado pela análise de imagens de satélite, predominava em Entre-Ribeiros,

assim como na maior parte do Paracatu, uma região ainda conhecida como

Sertões, ou seja, vastas áreas utilizadas para pecuária extensiva de baixa

tecnologia, em pastagens naturais (Fundação Centro Tecnológico de Minas

Gerais, 1981). Associada a pecuária, também se observava a atividade associada

de carvoejamento e algumas áreas de mineração.

Com os programas e incentivos de ocupação do Noroeste de MinasGerais, a partir da década de 1970, houve uma aceleração brusca da expansão

agropecuária na região. Programas como o Planoroeste I e II foram responsáveis

por proporcionar à região uma infra-estrutura de transporte e energia (Moreira,

2006, p. 16), estudos de reconhecimento dos recursos naturais (Fundação Centro

Tecnológico de Minas Gerais, 1981), além de incentivos econômicos à ocupação

da região. Foram vários programas de incentivo financeiro, como o Prodecer,

Polocentro, Pergeb E PDAF (Ruralminas, 1981). A construção de Brasília, a

partir da década de 1960, também contribuiu ao incluir a região Noroeste deMinas dentro dos eixos de circulação viária nacionais, pela rodovia BR-040

(Andrade, 2007, p. 89-90).

Em um primeiro momento, predominou a agricultura de sequeiro, nos

vales de maior aptidão agrícola (Andrade, 2007, p. 97), enquanto a associação

Page 19: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

9

pecuária/carvoejamento avançava por frente ao cerrado, rumo às cabeceiras das

bacias hidrográficas. Tratava-se de uma ocupação pouco planejada em termos de

sustentabilidade, de tecnologia de manejo e de potencial de uso das terras. Sem

muita dúvida, esse período pode ser considerado como de ocupação predatória

do espaço e dos recursos naturais. Escolhas desacertadas desse período foram

responsáveis por grande parte dos problemas de erosão e assoreamento

enfrentados hoje pelos agricultores da região.

A partir da metade da década de 1980, os empreendedores agropecuárioscomeçam a perceber a necessidade da gestão sustentável dos recursos naturais

de suas propriedades. Latuf (2007, p. 42) observa que, entre 1985 e 2000, várias

áreas de pastagem foram abandonadas à lenta regeneração natural, em virtude de

mostrarem não ter capacidade de suporte do meio físico para essa atividade

econômica. Como também não eram até menos adequadas para atividades

agrícolas, o resultado foi uma regeneração das áreas de mata, especialmente

nesses terrenos de neossolos litólicos e cambissolos, com geomorfologia de

ravinas e declives mais acentuados.Uma das grandes responsáveis para a mudança da mentalidade dos

empreendedores rurais do Noroeste de Minas, bem como para o incremento de

tecnologia às atividades produtivas, foi a Companhia de Produção Agrícola

(Campo). A partir de uma estratégia de arregimentar agricultores de outras

regiões do país (especialmente a Região Sul), fornecendo assistência técnica e

trabalhando com cooperativismo rural, a Campo tornou possível o

estabelecimento de modernos projetos agrícolas de irrigação (Moreira, 2006, p.

16). Essa nova forma de ocupação do solo baseava-se em uma gestãoadministrativa e tecnológica mais profissionalizada, marcando um contraste com

as iniciativas anteriores.

O maior empreendimento de agricultura irrigada de Entre-Ribeiros, nas

décadas de 1990 e 1990, foi o PCPER I (Projeto de Colonização Paracatu –

Page 20: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

10

Entre-Ribeiros), que consiste em uma associação de 27 agricultores, irrigando

2460 ha (Brito, Bastings & Bortolozzo, 2003, p. 286-288). Seu primeiro canal de

irrigação foi aberto em 1988, com ampliação em 1993 (Andrade, 2007, p. 86).

Em 1997, iniciou-se a instalação do segundo projeto de irrigação de Entre-

Ribeiros, com uma área planejada para até 7420 ha irrigados. (Brito, Bastings &

Bortolozzo, 2003, p. 286-288).

No decorrer das últimas décadas, a região tornou-se atrativa para o agro-

negócio. Tal processo foi alimentado, durante as décadas de 1980 e 1990, devidoao preço da terra que era cerca de 1/3 do preço da mesma área (em metros) em

outras regiões no Sul e Sudeste (Cunha, 1994). Esse fator reduziu o custo inicial

de implantação das lavouras e acenava para retornos satisfatórios, devido ao

aparato tecnológico utilizado.

A análise comparativa entre os censos agropecuários de 1985 e 1995/6

deve ser cuidadosa, pois os censos se utilizaram de metodologias diferenciadas.

Cunha (2002, p. 15 e 17) utiliza dos métodos adequados para estimar a variação

da produção agrícola na região do Noroeste de Minas, entre esse período. Oestudo mostra que a região passou de 166.606 toneladas de soja para 255.340,

entre os dois censos – passando a região de 3ª para 2ª maior produtora de soja de

Minas. Em relação ao feijão, a produção passou de 22.002 toneladas para

54.562, o que a levou de 6ª para 1ª produtora de feijão do país.

Contudo, apesar do aumento visível da produção agrícola nesse período,

a avaliação do sucesso econômico da atividade agrícola na região é bastante

complexa. A instalação da infra-estrutura agrícola requereu financiamentos

vultosos, com maturação e retorno de longo prazo. Devido à inflação galopanteda década de 1990, à elevação das taxas de juros e às restrições de crédito

(Andrade, 2007, p. 116), bem como às margens cada vez mais estreitas de

lucratividade do mercado agrícola internacional (Banco de Desenvolvimento De

Minas Gerais, 2002), houve um expressivo endividamento dos grandes

Page 21: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

11

agricultores da região. Esse endividamento impediu a re-capitalização dos

beneficiários (Andrade, 2007, p. 116), freando em certa medida a expansão da

agricultura tecnológica na região.

Se as margens de lucro para o agro-negócio irrigado tornaram-se cada

vez mais estreitas, não é difícil observar o resultado desse cenário econômico

sobre a viabilidade da agricultura de sequeiro tradicional. Como resultado,

observa-se em Entre-Ribeiros o abandono de extensas áreas de agricultura de

sequeiro (Andrade, 2007, p. 105). Torna-se um cenário de ocupação do solocontrastante, em que a agricultura irrigada procura avançar sobre as áreas aptas,

em busca de ganhos de escala, ganhando espaço sobre as outras formas

tradicionais de ocupação do solo, que se tornaram praticamente inviáveis. Nas

áreas onde não se consegue instalar a agricultura irrigada, observa-se o impasse

quanto a qual deve ser o seu uso adequado – e na falta de outra atividade,

retorna-se algumas vezes ao uso para pecuária (Andrade, 2007, p. 114).

A partir do ano de 2001, o cenário econômico nacional e internacional

tornou-se novamente favorável à expansão da frente agrícola do Noroeste deMinas Gerais. A securitização e renegociação de dívidas agrárias também

contribuíram para esse novo pulso de desenvolvimento (Andrade, 2007, p. 117).

A seguir, apresentamos alguns gráficos (Figs. 5 e 6) que nos permitem

avaliar comparativamente a evolução da agricultura no Noroeste de Minas

Gerais, para as principais culturas temporárias. Observa-se um grande

crescimento da produção de Soja, Milho Feijão, todos profundamente baseados

nos sistemas de cultivos de monocultura moderna de larga escala.

Page 22: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

12

Variável = Valor da produção (Mil Reais)

Mesorregião Geográfica = Noroeste de Minas - MG

LEGENDA: Lavoura temporária

EIXO: Ano

Figura 5 – Gráfico sobre o valor de produção para culturas temporárias no Noroeste de Minas

Gerais, de 1996 a 2007. Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal

Page 23: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

13

Variável = Área plantada (Hectare)

Mesorregião Geográfica = Noroeste de Minas - MG

LEGENDA: Lavoura temporária

EIXO: Ano

Figura 6 – Gráfico sobre a área plantada para culturas temporárias no Noroeste de Minas Gerais,

de 1996 a 2007. Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal

Page 24: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

14

A partir dos dados apresentados, podemos estabelecer uma relação entre

a produção do Estado com a produção da região. É o que a Tabela 1 demonstra.

Percebemos que a produção dessa região é expressiva nos produtos levantados.

TABELA 1 – Valor de produção dos principais cultivares da Região Noroeste de

Minas Gerais, em comparação com o valor total do Estado

Variável = Valor da produção (Mil Reais)Ano = 2007

Lavoura temporáriaUnidade daFederação eMesorregiãoGeográfica

TotalAlgodãoherbáceo

(em caroço)

Feijão(em

grão)

Milho(em grão)

Soja (emgrão)

Minas Gerais 4.295.472 74.295 705.823 2.145.918 1.194.463

Noroeste de Minas- MG

940.337 36.122 273.425 241.555 355.472

RelaçãoPercentual do

Noroeste de Minas

em relação a MG

21,89 48,62 38,74 11,26 29,76

Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal

3.4- Impactos e Custos Ambientais

3.4.1 Perda de Biodiversidade

Demonstrar e calcular o custo econômico-ambiental da perda da

Biodiversidade, causado pela agricultura moderna, é um assunto bastante

Page 25: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

15

complexo, pois interage com uma série de fatores econômicos, éticos e de estudo

biológico. Segundo (Primack, 2001), podemos dividir esse calculo em valores

diretos, referentes à economia dos bens privados, e em valores indiretos,

relativos aos bens públicos. Estes últimos são gerados por serviços ambientais

desempenhados pelos ecossistemas, a exemplo da polinização das plantas,

redução de CO2, controle de pragas, etc. Uma terceira faceta a ser analisada

seria o valor de existência que também é indireto e equivale a quanto as pessoas

estão dispostas a pagar para que espécies não se extingam (normalmenteespécies bandeira, como mico-leão dourado, lobo-guará, tamanduá-bandeira,

etc.) (Primack, 2001).

Dentro dos valores diretos relacionados à perda de biodiversidade, estão

aqueles que afetam diretamente as atividades econômicas em micro e macro

escala (note-se que estamos caracterizando os valores diretos advindos da

biodiversidade, e não os que vêm diretamente da atividade produtiva da

agricultura moderna). Normalmente, isso se refere à colheita, caça ou uso direto

das espécies biológicas, bem como a fatores estimulantes ou limitantes a essasatividades. Primeiramente, poderemos dividir os valores diretos em duas

categorias: os valores de consumo, relativos às mercadorias vendidas

internamente, e os valores produtivos, que se referem às mercadorias vendidas

em mercados (Primack, 2001).

Os valores de consumo remetem-se às mercadorias diretamente

consumidas pelo produtor ou sua comunidade social local. Esses produtos não

aparecem no calculo do PIB, pois não são comprados nem vendidos. Exemplos

notórios são a caça, pesca e agropecuária de subsistência, com as quais oprodutor sustenta sua vida e a de sua família. Devido ao extensivo

desmatamento ocasionado pelas frentes agrícolas, ocorre um impacto direto na

subsistência dos pequenos moradores rurais, pois diminui a quantidade de

Page 26: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

16

animais para a caça, de bosques de onde se poderia tirar lenha e remédios

tradicionais, e dos peixes que habitualmente são pescados.

No Noroeste de Minas Gerais, segundo o IBGE, a área plantada por

agricultura temporária ocupava em 1996 a extensão de próxima de 350.000ha,

chegando a mais de 600.000ha em 2005. Isso equivale a um crescimento de

250.000ha em menos de uma década, ou seja, um aumento de área equivalente

acima de 70%. Isso significa uma diminuição dos recursos disponíveis para a

atividade tradicional de extrativismo e caça, por parte da população.

Page 27: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

17

Lavoura temporária = Total

Mesorregião Geográfica = Noroeste de Minas - MG

LEGENDA: Variável

EIXO: Ano

 Nota: Para 2007: Trata-se de uma antecipação dos resultados para cereais, leguminosas eoleaginosas (algodão arbóreo e herbáceo, amendoim, arroz, aveia, centeio, cevada, feijão,girassol, mamona, milho, soja, sorgo granífero, trigo e triticale). Estes dados estão sujeitos arevisão e serão divulgados em caráter definitivo em outubro de 2008.

FIGURA 7 – Gráfico sobre a area plantada e colhida de culturas temporárias no Noroeste deMinas, de 1996 a 2007. Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal

Page 28: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

18

Lavoura permanente = Total

Mesorregião Geográfica = Noroeste de Minas - MG

LEGENDA: Variável

EIXO: Ano

FIGURA 8 – Gráfico sobre a área plantada e colhida de culturas permanentes no Noroeste deMinas, de 1996 a 2006. Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal

Há inter-relações, dentro da economia familiar, entre o valor de

consumo e o valor produtivo, pois se uma família, por alterações ambientais, não

conseguir mais produzir determinado produto de subsistência, terá que comprá-

lo de alguém que o produza. O valor de consumo pode ser calculado,

considerando o quanto uma parcela da população teria que pagar para comprar

os produtos equivalentes no mercado, caso a fonte local se extinga (Primack,

2001). Situações como essas acarretam a queda do padrão de vida desses

indivíduos, pois terão de retirar recursos que antes seriam destinados a outros

usos econômicos. Porém, é comum que a fonte local esgote-se e a população não

tenha recursos para comprar os produtos equivalentes no mercado local. Nessas

Page 29: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

19

situações extremas, mas nem por isso incomuns, os indivíduos têm de migrar

para outro lugar mais propício (muitas vezes reforçando o êxodo rural) ou

podem até não conseguir sobreviver.

Um exemplo radical de uma fonte de recursos que se exaure é quando

há a extinção de uma espécie útil, como ocorre quando o desmatamento em uma

região não respeita a área de vida, que é a extensão mínima de ambiente natural

para que uma espécie consiga sobreviver. Devido à grande diferença entre o

ambiente natural para o ambiente das grandes monoculturas típicas daagricultura moderna, as espécies não conseguem transitar de uma mancha de

reserva nativa para outra, e acabam presas dentro de uma armadilha genética.

Ao longo das próximas gerações, por falta de variabilidade genética, a espécie

vai definhando até desaparecer. O desaparecimento pode ser ainda mais rápido,

caso ilha de reserva nativa não disponha da quantidade de nutrientes e água

necessários para satisfazer a manutenção e o crescimento dos espécimes.

Também as cercas, estradas e barragens instaladas em função da atividade

agrícola podem servir de barreiras seletivas, que não permitem que certasespécies de seres vivos transitem de um lado para o outro de um território.

Page 30: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

20

Figura 9 - Fragmento antrópico de Cerrado na região de Paracatu-MGFonte: http://www.canalciencia.ibict.br/, disponível em 29/08/2008

No cerrado brasileiro, é preciso tanto considerar as ilhas isoladas de

mata densa (como nas matas ciliares que ocupam veredas e o entorno dos rios),

como também considerar as ilhas isoladas do ecossistema de campo cerrado. Asmatas ciliares ocupam menor extensão, mas abrigam cerca de 50% das espécies

do cerrado, possuindo uma alta biodiversidade, e também uma alta

produtividade do solo, e por isso muitas vezes são preferidas para atividades

agro-pecuárias. As espécies dessas ilhas matas ciliares dificilmente conseguem

transitar de uma mata para outra se houver um terreno de agricultura ou pasto no

meio do caminho. O ecossistema de campo cerrado, por sua vez, apesar de

possuir uma biodiversidade menor por área, também abriga 50% das espécies do

cerrado, e em geral essas espécies precisam de uma área de vida muito maiorpara sobreviver do que as espécies das matas ciliares. (Consórcio Magna / Dam / 

Eyser, 1996)

Segundo relatado por Dino, (2001), há uma tradição no Noroeste de

Minas Gerais, com descaso e às vezes até incentivo do governo local, para que

Page 31: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

21

os produtores não respeitem as orientações legais para a delimitação das reservas

legais, não obedecendo às extensões mínimas de mata nativa a serem

preservadas, e nem observando os critérios de formação de corredores florestais,

que servem de caminho para o deslocamento e migração de espécies. Isso pode

também pode ser observado a partir da análise do uso da terra com base na

imagem de satélite landsat de 2003 (Cetec, 2006), da Bacia de Entre-Ribeiros,

onde se pode ver as extensas áreas de agricultura sem nenhuma reserva de mata

nativa.

Figura 10 - Vegetação Remanescente da Bacia Hidrográfica de Entre Ribeiros, sobre imagem deSatélite de 2003. Fonte: (Cetec, 2006)

Page 32: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

22

Figura 11 – Área ambientalmente irregular a 6 km de Unaí, sem respeitar o entorno dos corposd`água. Fonte: http://www.unaionline.com.br, disponível em 20/05/2005

Page 33: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

23

Figura 12 - Rio Paracatu, com desmatamento ilegal ao fundo, sem respeitar o entorno do cursod`água. Foto: Margi Moss Fonte: http://360graus.terra.com.br/, disponível em 19/08/2008

“O valor produtivo é um valor direto atribuído a produtos que são

extraídos do ambiente e vendidos no comércio nacional ou internacional”

(Primack, 2001). Como o foco deste tópico é a biodiversidade, deve-se prestar

atenção ao valor produtivo de diversos produtos advindos do extrativismo, como

é o caso de plantas medicinais, fármacos, frutas, castanhas, borrachas e outros

mais. Muitas vezes, o valor dos produtos extraídos de um ecossistema, somados

ao valor de outros serviços ambientais deste, podem render mais

financeiramente do que a simples derrubada para vender madeira, formar pasto

ou semear lavouras. O seu valor pode ser determinado dentre os mecanismos de

Page 34: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

24

mercado, e para o produtor rural, deve ser mensurado no momento de sua venda,

que normalmente é feita para atravessadores. Cabe lembrar que muitas vezes o

preço de compra para o produtor final é várias vezes maior do que o preço pago

a quem o extraiu da natureza; isso devido ao incremento do preço ao longo dos

atravessadores e/ou devido ao valor agregado do processamento posterior do

produto.

Atualmente muitas espécies do cerrado mineiro estão em processo de

pesquisa para que se possa estender o seu uso local para a produção emmercados mais amplos. Esse é o caso de frutos do cerrado, como Pequi,

Araticum, Baru, Umbu, Caju e Gabiroba e outros. A Emater-MG tem efetuado

pesquisas sobre o modo de processamento, valores nutritivos e formas de

aproveitamento dos frutos do cerrado na alimentação [Jornal Minas Gerais,

02/05/2005].

Page 35: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

25

Figuras 13 a 17 - Frutos do Cerrado - Esquerda-Acima: Baru. Direita-Acima: Pequi. Centro:

Umbu. Esquerda-Abaixo: Gabiroba Direita-Abaixo:Caju. Fontes respectivas:http://www.tremdocerrado.pirenopolis.tur.br/  , http://globorural.globo.com/edic/174/ ,

http://www.belaischia.com.br, http://www.colecionismo.com.br,http://www.terra.com.br/culinaria/ ,

disponíveis em 18/08/2008.

Page 36: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

26

Destaca-se também a pesquisa de princípios ativos que espécimes

nativos contenham, direcionando para a indústria de fármacos, como é o caso da

árvore Fava d’Anta, que é utilizada em medicamentos para doenças do sistema

circulatório, tratamento do mal de Alzheimer e fabricação de suplementos

alimentares. O Faveiro da Fava d’Danta cresce nos cerrados de MG, e, após o

início das pesquisas da Fava d’Danta pelo CETEC-MG, houve uma elevação do

valor do produto, somada a uma maior estruturação do seu processo produtivo

pelas comunidades do Norte de Minas (somente a eliminação dos atravessadoresaumentou o lucro da comunidade local em 10 vezes). A produtividade por

árvore é de aproximadamente R$30,00 por ano, colhendo apenas 70% das favas,

com vistas a favorecer a reprodução da árvore. É uma opção bem mais lucrativa

do que o carvoeiramento da vegetação nativa do cerrado, que renderia apenas

entre R$0,50 e R$1,00 por árvore cortada. Em algumas localidades, a

lucratividade da extração da fava d’anta já supera a da silvicultura. No

prosseguimento das pesquisas, caso Minas Gerais domine a tecnologia de

extração da Rutina da Fava d’Anta, o valor agregado permite vender o produto avalores entorno de R$200,00/quilo. [Jornal Minas Gerais, 02/05/2005]

O caso da fava d’anta representa apenas uma substância química

proveniente de uma espécie; sem dúvida, tendo em vista a biodiversidade do

cerrado, o valor futuro relacionado a indústria de fármacos é praticamente

incalculável.

Page 37: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

27

Tabela 2 - Evolução dos preços e da produção de Fava d’Anta em MG

2004 2005 2006

(previsão)

2008 * Crescimento

Preço/Quilo R$0,05 R$0,50 R$0,80 a 1,00 1,29 2580%

Produção (em

quilos)

80.000 500.000 625%

Valor Total R$4.000,00 R$250.000,00 R$500.000,00 12.400%

Fonte: [Jornal Minas Gerais, 02/05/2005]. * Informação pessoal, Cetec (2008)

Figura 18 – Fava D’Anta – Fonte: CETEC (2008)

O desenvolvimento de novas técnicas de cultivo e de melhoramento

genético dessas espécies nativas pode aumentar o seu valor produtivo, e o

cerrado ainda nativo adquire potencial lucrativo, ao invés de ser encarado apenas

Page 38: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

28

como terreno a ser desmatado para uso agropecuário. Esse potencial de um

determinado conjunto de espécies adquirir valor econômico em um tempo futuro

se inclui no que é denominado de valor de opção (Primack, 2001). O valor de

opção engloba o cálculo do aumento no potencial lucrativo dos recursos

naturais, caso eles sejam preservados até um certo tempo no futuro. É um valor

de longo prazo, inclusive inter-geracional. No Noroeste de Minas, a frente

agrícola tem avançado, sobretudo, nos chapadões de cerrado (Guimarães et al.,

2004), o que pode estar eliminando o potencial lucrativo gerado pelas espéciesnativas que ocupavam essas áreas. Ao diminuir a população das espécies da

flora do cerrado, reduz-se a variabilidade genética dentro de cada espécie, o que

limita e encarece a pesquisa futura por melhoramentos genético, que visaria à

produção econômica a partir dessas espécies nativas.

Outro caso de custo ambiental causado pela agricultura moderna no

Noroeste de Minas Gerais é a situação por que passam as lagoas marginais.

Essas lagoas são ecossistemas de alta complexidade, resultante da interação

entre ambientes aquáticos e terrestres. “Comunicadas aos cursos d'água,possuem uma grande diversidade de nichos, tanto pela transição que formam

com a mata ribeirinha, quanto pelas diferenças de profundidade próprias de

ambientes alagados. Essas diferenças condicionam gradientes de temperatura e

luminosidade. Esse gradiente cria microambientes que são ocupados por uma

flora com diferentes características morfológicas e fisiológicas.” (Pitteli, 1994,

Esteves, 1988 e Lesa, 1993, in Consórcio Magna / Dam / Eyser, 1996)

Na época das cheias, os rios inundam e conectam-se às lagoas

marginais, e nesse momento muitas espécies de peixe migram do rio para alagoa, que será o seu local de reprodução e desova. Durante o período da seca,

devido à diminuição do volume de água das lagoas, estas se transformam em um

ambiente rico em nutrientes, que servirá de viveiro para os filhotes de peixe, até

que na próxima cheia eles possam retornar para o rio. Infelizmente, devido à alta

Page 39: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

29

fertilidade do solo ao entorno das lagoas marginais, e à oferta de água no local,

muitos produtores rurais estão utilizando desses terrenos para a prática da

agricultura e pecuária, causando prejuízos irreversíveis para os ambientes dessas

lagoas. Os custos ambientais causados pela diminuição da quantidade e da

biodiversidade dos peixes na região fazem-se sentir diretamente no ramo

pesqueiro, tanto em sua atividade comercial quanto na alimentação das

populações ribeirinhas.

Figura 19 - Lagoas Marginais na Bacia do ParacatuFonte: (Consórcio Magna / Dam / Eyser, 1996)

Além dos custos ambientais da agricultura moderna relativos aos valores

econômicos diretos da perda da biodiversidade, que se inserem no mercado de

Page 40: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

30

bens privados, também existe a interferência em valores econômicos indiretos.

Estes últimos se referem a processos e a serviços ambientais que afetam os bens

públicos, ou seja, recursos de propriedade comum (Primack, 2001). Assim como

os valores diretos de consumo, os valores indiretos não aparecem em estatísticas

nacionais, como o cálculo do Produto Interno Bruto. Porém, quando esses

benefícios que o meio ambiente nos presta são degradados pela ação humana, o

que antes se recebia como um presente, e do qual normalmente ninguém se dava

conta, começa a fazer muita falta. Além disso, os custos indiretos sãoacumulativos, pois a falha em um serviço ambiental desequilibra a dinâmica do

ecossistema, gerando mais prejuízo nos demais serviços ambientais dependentes.

Na agricultura, basta ver os problemas relacionados à perda de fertilidade do

solo, escassez e poluição das águas, e demais assuntos que serão tratados nos

próximos tópicos deste trabalho. Dentre as conseqüências do desmatamento, que

se fazem sentir sobre os serviços ambientais, há o aumento da erosão, perda da

regularidade de vazão dos rios, maior quantidade de CO2 na atmosfera,

diminuição de espaços de turismo e lazer efetivos e potenciais, e outros mais.Os valores econômicos indiretos, por se tratarem de serviços ambientais,

possuem uma característica de não serem consumidos pelo uso (Primack, 2001).

Esse é o caso da polinização das plantas pelas abelhas, borboletas e demais

insetos, que se mostram cruciais para manter a dinâmica da flora dos

ecossistemas, e também para tipos de cultivo comercial, como maracujá, figo,

abacate e outros. Contudo, o plantio de vastas extensões de monocultura, e o uso

de herbicidas por sobre as espécies nativas que são consideradas como ervas

daninhas, reduzem a população dos insetos polinizadores. Estudos com trigotransgênico mostram uma redução de um terço da população de abelhas e dois

terços da população de borboletas na área cultivada (Andow, 2003). As espécies

transgênicas em atual uso comercial têm a propriedade de resistir a certos

herbicidas muito fortes, que matam todas as outras plantas daninhas, as quais

Page 41: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

31

seriam a fonte de alimento dos insetos polinizadores. Já se tornou prática

comum, no cultivo da soja em território nacional, o plantio direto (que por si é

uma prática boa, pois conserva mais os solos, prevenindo da erosão e perda de

fertilidade) acompanhado do uso de herbicidas por sobre o solo, matando todos

os vegetais antes de iniciar a etapa de semeadura do cultivar (Consórcio Museu

Emilio Goeldi, 1999). O custo ambiental da diminuição da população de

polinizadores poderia ser estimado “através do cálculo sobre o quanto a

plantação tem o seu valor aumentado através dessa ação ou sobre quanto oagricultor teria que pagar se tivesse que alugar colméias de algum apicultor”

(Primack, 2001).

Muitas espécies e ecossistemas também adquirem o que se chama de

Valor de Existência, definido como o valor advindo do não uso dos recursos

naturais. Exemplos especiais disso são algumas situações em que a população,

ou mais especificamente o governo, opta por preservar uma região de grande

valor ecológico ou histórico-cultural. O valor de existência talvez possa ser

medido pelo montante que as pessoas ao redor do mundo estão dispostas a pagarpara que essa espécie continue existindo (Primack, 2001), ou mesmo no custo

das horas de seu dia que estão dispostas a empregar para lutar pela preservação

dessas espécies. Esse é o caso de espécies como os pandas, focas, tigres

siberianos, leões, micos-leões-dourados, e outros, que causam empatia nas

pessoas e por isso costumam ser chamados de  fauna carismática, ou de espécies

bandeira. Essas espécies são importantes para levantar recursos financeiros para

campanhas ambientais destinadas a preservar os seus respectivos ecossistemas

nativos, o que faz com que ajude a preservar também os processos ecológicos eas outras espécies menos carismáticas que também estão no ambiente em

questão. Tal cálculo de valor de existência também pode ser dado a

comunidades biológicas (como recifes e florestas) e a áreas de grande beleza

natural. 

Page 42: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

32

Tabela 3 - Algumas Espécies Bandeira Ameaçadas e de Importância Ecológicana Bacia do Rio Paracatu

Extraído de (Consórcio Magna / Dam / Eyser, 1996)

Grupo Taxonômico/Nome Vulgar HabitatRépteis

•  Caiman latirostris - jacaré do papo amarelo lagoas marginais e veredas.Aves

•  Anodorhynchus hyacinthinus - arara azul Cerrado, áreas campestres, veredasMamíferos

•  Myrmecophaga tridactyla - tamanduá bandeira Campos, cerrados, matas

•  Chrysocyon brachiurus - lobo guará Campos, cerrados, matas

•  Panthera onca - onça pintada Matas ciliares

Muitas espécies de seres vivos que sejam sensíveis a modificações

ambientais também possuem valor por poderem ser utilizadas como indicadores

ambientais. Por exemplo, espécies que são particularmente vulneráveis a alguma

toxina presente em um agrotóxico podem servir como um sistema de alerta para

sabermos quando essa toxina ultrapassou os valores aceitáveis de concentração.Para o cálculo do valor de um indicador ambiental, basta tomar em comparação

os caros instrumentos de medições ambientais que precisariam ser utilizados em

seu lugar, para chegar às mesmas conclusões.

Outro valor de existência da biodiversidade é o seu valor educacional e

científico, por contribuir, através de pesquisas universitárias e estudos escolares,

a aumentar o conhecimento humano, melhorar a educação e, enfim, de

enriquecer a experiência humana. (Primack, 2001), compara a biodiversidade a

um manual sobre como manter a Terra funcionando eficazmente; e a extinção de

uma espécie seria como o ato de rasgar uma das páginas desse manual. Assim,

se um dia precisássemos das informações contida nessa página, para salvar

outras espécies ou nos salvarmos, só então reconheceremos o quanto essa perda

foi irreparável.

Page 43: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

33

3.4.2 Perda da Fertilidade dos Solos e Erosão

Os estudos de pedologia realizados para a Bacia do Paracatu (Consórcio

Magna / Dam / Eyser, 1996), apontam que os solos, em geral, já possuem

deficiência de fertilidade natural, e para se prestarem para a agricultura

tecnificada, necessitam da aplicação de métodos de correção da acidez do solo e

de adição de micro e macro nutrientes. A perda de fertilidade do solo, decorrente

do uso intensivo para a agricultura, trás como conseqüência o aumento doscustos para comprar aditivos agrícolas necessários para repor os nutrientes

utilizados. Nota-se que, ao contrário dos ecossistemas naturais, nos quais os

nutrientes das frutas e sementes retornam ao solo após passar pela cadeia

alimentar, na agricultura esses nutrientes serão exportados para fora do ciclo da

planta, transportandos para as cidades ou para outros sistemas de produção.

Portanto, há uma perda regular de nutrientes, que não irão retornar, e precisam

ser repostos artificialmente para manter uma fertilidade dos solos. Abaixo,

seguem-se os gastos que incluem os gastos com correção de solo, fertilizantes,insumos agrícolas e demais técnicas de preparo do solo, calculadas para a

agricultura no bioma cerrado.

Tabela 4 - Custos de produção em preparo do Solo e Tratos Culturais

Cultura/Custospor ha

Preparo doSolo (emUS$)

TratosCulturais (emUS$)

Porcentagem no custototal de produção (em%)

Soja 48.11 15.55 18.27Milho 65,51 51,91 27.37Arroz deSequeiro

79,62 32,95 25,15

Fonte: [Cunha, 1994]

Page 44: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

34

A fertilidade do solo agrícola depende dos nutrientes da camada

superficial dos solos. As plantas dos cultivos agrícolas não estão tão adaptadas

às condições ambientais do cerrado quanto as plantas nativas; soma-se isso à

interferência dos diversos insumos agrícolas que infiltram no solo. Dentro do

solo, a descaracterização das condições naturais pela agricultura acarreta a perda

de biodiversidade de fungos, bactérias e pequenos vermes que vivem aí. Com

isso, diminui-se a fertilidade original do solo, já que esses organismos intra-

terrestres decompõem a matéria orgânica em nutrientes minerais, como porexemplo o nitrogênio. O desequilíbrio causado na cadeia alimentar subterrânea

também pode levar ao alastramento de pragas como fungos e vermes danosos às

lavouras. Nesses moldes, a fertilidade e o impacto sobre o ecossistema do sub-

solo estão associados.

Tecnicamente, a erosão pode ser definida como o efeito conjunto de

todos os processos de degradação do solo, incluindo os fatores físico-mecânicos

(desgaste e fragmentação pela ação dos ventos, da água e da temperatura) e os

fatores químicos (oxidação, redução, hidratação, hidrólises, etc.), levando aotransporte das partículas do solo e de seus nutrientes agregados. A erosão,

enquanto processo, deve ser evidenciada pela massa de material erodido bem

como pelos vetores de indução. Destaca-se que ela é maior nas regiões

declinosas (i.e., mais inclinadas), em solos arenosos e nos terrenos desprotegidos

aos agentes erosivos. A erosão se caracteriza como laminar (quando retira uma

camada uniforme da superfície), em sulcos (como os caminhos de enxurradas) e

em grotas, barrocas e voçorocas (que são estágios mais avançados). (Schultz,

1983).Na agricultura, pelo manejo inadequado e a conseqüente exposição do

solo sem defesa à chuva e vento, esse processo aumenta de maneira

insustentável. Quando a vegetação nativa é retirada e em seu lugar estabelece-se

uma área de agricultura, há um aumento da exposição do solo, que em muitas

Page 45: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

35

faixas da cultura se mostram totalmente desprotegidos da ação da chuva, dos

ventos e dois raios solares. Sem a folhagem das plantas e sem a camada de

folhas mortas por sobre o solo, a água das chuvas impacta diretamente por sobre

o solo nu, desfragmentando-o e levando partículas deste pela enxurrada.

Calcula-se que a natureza necessita de, em média, 300 anos para formar 1 cm de

solo superficial fértil, sendo que uma única grande chuva pode carregar todo

esse centímetro (Schultz, 1983).

A erosão está vinculada à questão dos recursos hídricos, pois além daperda de fertilidade do solo, as partículas carregadas pelo vento e água acarretam

o assoreamento dos corpos d’água, os quais diminuem sua profundidade,

aumentando também, com isso, o impacto das enchentes.

Figura 20 - Solo exposto, na Fazenda Colorado, Município de João Pinheiro, Noroeste de MG -Fonte: http://www.agrirural.com.br/ , disponível em 28/05/2005

As partículas de solo e de insumos agrícolas, que são levadas pelaágua das chuvas, podem prejudicar animais de água doce, organismos de

Page 46: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

36

recife e a vida marítima dos estuários costeiros (Primack, 2001). Já seobserva que as lagoas marginais da Bacia do Paracatu, as quais foramabordadas no tópico “3.1 - Perda de Biodiversidade”, apresentam umcomprometimento de seus ecossistemas, devido ao assoreamento causadopelo uso intensivo de suas margens para lavoura e pastagens (ConsórcioMagna / Dam / Eyser, 1996).

Especificamente no tocante ao uso dos fertilizantes e agrotóxicos, umdado alarmante foi recentemente levantado: segundo o Ministério do MeioAmbiente, em 1991 o Brasil era o quinto país do mundo em consumo deinseticidas, herbicidas e fungicidas, tendo o consumo crescido em 276,2%

entre 1964 e 1991. Quanto aos fertilizantes, em 1994 foram consumidas 10,5milhões de toneladas, sendo que 43% do nitrogênio, 41% do fósforo e quase100% de sais utilizados na fertilização do solo são escoados para o leito dosrios, o que caracteriza desperdício e acréscimo desses elementos emambientes para os quais não foram destinados, gerando desequilíbrioambiental.

Figura 21 - Rio Assoreado em Unaí-MGFonte: http://www.unainet.com.br, disponível em 19/08/2008

Page 47: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

37

Em relação à erosão, o Plano Diretor da Bacia do Paracatu (Consórcio

Magna / Dam / Eyser, 1996) estima que apenas 6.67% da bacia não possui

potencial de desenvolver erosão. 26,68% possuem riscos de erosão ligeira, mas

que poderiam apresentar problemas em casos de usos intensivo agrícola sem os

métodos adequados. 32,18% dos solos apresentam riscos moderados de erosão e,

portanto, a agricultura moderna só é viável em longo prazo caso utilizem-se de

técnicas de conservação de solo como terraçeamento e curvas de nível. E

32,47% dos solos são inviáveis para agricultura devido à potencialidade erosivamuito alta, normalmente devido à declividade acentuada. Os resultados atingidos

pela aplicação da Equação Universal de Perdas de Solos também chegam a

resultados semelhantes aos apresentados acima.

Estima-se que o arraste de partículas do solo no cerrado, calculado em

toneladas/ha/ano, é de (Dedeck et al., 1986, in Cunha, 1994):

•  Cultivo convencional de milho: 29,4 toneladas

•  Cultivo convencional de soja: 8,1 toneladas

•  Cultivo de soja em plantio direto: 5,4 toneladas (1/3 a menos

que o convencional)

•  Cultivo de arroz: 7,1 toneladas

•  Pastagem de Brachiaria decumbens: 0,15 toneladas

•  Solo nu, exposto: 52,6 toneladas (correspondendo a uma perda

média de 0,5 cm de sua camada superficial. Nota-se que a

reconstituição natural do solo demora séculos para formar uma

lâmina de apenas 1cm de espessura).

Existem métodos agrícolas já consagrados na atenuação da erosão, como

o plantio em terraços e curvas de nível, construção de escoadouros para

redirecionar a água proveniente da chuva, plantio direto (sem arar o solo),

controle de voçorocas através de obstáculos à enxurrada (como pedras, etc.),

Page 48: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

38

plantio de arvores enfileiradas como barreiras quebra-vento, e outras mais.

Nota-se que essas práticas também possuem diversos outros efeitos benéficos

sobre a produtividade agrícola e sobre o meio-ambiente. Porém, a

implementação e manutenção de tais medidas de conservação de solos implicam

custos extras para o produtor rural.

Outro impacto da degradação do solo que afeta os recursos hídricos é a

compactação dos solos, aliado ao fato de já haverem menos obstáculos para

dificultar o escoamento da água diretamente para os cursos d’água do que emum ecossistema natural, o que faz com que diminua a infiltração de água para as

reservas hídricas dos aqüíferos. A compactação do solo irá depender muito das

técnicas adequadas de manejo agrícola, e sua interferência sobre a estrutura do

solo. Em Pedologia, estrutura pode ser definido como o arranjo entre os grãos

primários do esqueleto (argila, silte e areia), o plasma inter-granular e os espaços

porosos, implicando forma, tamanho e disposição de unidades agregadas

maiores – os  peds (Resende et al., 2002, p. 53 e 264; Ferreira & Dias Junior,

2002, p. 31-32).Essa estrutura será grande responsável pela porosidade e permeabilidade

do solo (Ferreira e Dias Junior, 2002, p. 31). Contudo, os métodos agrícolas que

reviram o solo, como a aração, causam impacto evidente sobre as propriedades

físicas estruturais. O impacto sobre a estrutura é ainda maior quando o solo está

em situações de umidade elevada (após chuva, irrigação, ou em terrenos

hidromórficos) ou mesmo em situações de seca acentuada (Ferreira e Dias

Junior, 2002, p. 31-33, 49-72). Ademais, a compactação da camada superficial

do solo também é causada pela força das gotas de chuva impactantes no solodesprotegido. Portanto, o manejo do solo dentro de sua zona de friabilidade,

utilizando de métodos menos agressivos à estrutura (como plantio direto), e

evitando a exposição do solo nu no período chuvoso, podem reduzir bastante a

compactação.

Page 49: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

39

3.4.3- Escassez Hídrica

O modelo comercial padrão de agricultura envolve o desmatamento de

extensas áreas, aliado a técnicas incorretas de manejo de solo, além de consumir

uma quantidade de água incompatível com a manutenção ecológica da bacia

hidrográfica, devido ao uso generalizado de irrigação por pivôs de aspersão. A

isso se soma que a exportação dos produtos agrícolas leva dentro do alimentouma grande parcela do recurso hídrico que retornaria à bacia em um processo

ecológico natural.

Os estudos hidrológicos feitos para a Bacia do Paracatu (Consórcio

Magna / Dam / Eyser, 1996), que recobre a maior parte do Noroeste de Minas,

demonstram que tanto a pluviosidade quanto a vazão dos rios diminui bastante

durante o período de inverno. O período de baixa pluviosidade atinge os níveis

críticos durante o período dos meses de Junho, Julho e Agosto. Nesse período, a

vazão dos rios começa a decrescer e atinge os níveis mais baixos durante o mêsde setembro, chegando a um patamar de 30% ou até 20% da vazão média anual.

Abaixo segue um gráfico com a variação de vazão em um dos rios da região:

-1

1

3

5

7

9

   V

  a  z   ã  o  e  m   m

   3   /  s

 

Figura 22 - Bacia do Rio Paracatu - Hidrograma de Descargas Médias Mensais - Período 1939/40a 1988/89 - Rio da Prata em Porto Diamante - Área de Drenagem = 1.625 km2 - (Consórcio Magna

 / Dam / Eyser, 1996)

Page 50: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

40

Nesses mesmos estudos hidrológicos, concluiu-se que a região é afetada

de maneira irregular pelos processos dinâmicos da atmosfera, o que deixa a

região sujeita períodos de estiagem prolongada.

Os estudos do balanço hídrico do solo também apontam o inverno como

o período de maior deficiência hídrica. O cálculo do Índice de Aridez de

Martonne para diversas regiões da Bacia do Paracatu também evidenciam que

no período de maio a setembro há a necessidade de utilização de irrigação, sob o

risco de comprometer as safras agrícolas. Portanto, a tendência é que justamente

nesse período em que se chove menos e que há menos água nos rios, os

agricultores necessitarão mais de utilizar técnicas de irrigação para suas culturas,

devido à pouca quantidade de água presente no solo. Além disso, o período

crítico em que ocorrem os conflitos pelo uso de recursos hídricos também vai

convergir com o período de elevação dos preços nas safras agrícolas

predominantes na região que utilizem de irrigação, em especial a soja e o feijão

(a agricultura de feijão da região Noroeste de Minas, maior produtora do Estado,

utiliza a irrigação como método predominante) (Guimarães et al, 2004).

A localização dessas zonas de conflito dá-se essencialmente nos locais

dos projetos de irrigação financiados pelo governo, os quais concentram a

atividade agrícola em áreas específicas e que consomem praticamente toda a

água disponível, devido aos erros de planejamento no momento de concepção

desses projetos. Pode-se citar os casos do Noroeste da Bacia do Paracatu, como

de Entre-Ribeiros e Alto Rio Preto, onde já houve conflitos graves envolvendo

irrigantes, e nos quais foi necessária a interferência dos poderes públicos (Cetec,

2006). Sabe-se que as atividades de irrigação correspondem a mais de 95% da

demanda de água da bacia do Paracatu (Consórcio Magna / Dam / Eyser, 1996),

Page 51: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

41

o que demonstra a premência dos problemas relacionados à agricultura moderna

na região, frente aos outros casos de utilização dos recursos hídricos.

Nessas ocasiões em que os agricultores disputam a água entre si, pode-

se perceber um custo produtivo ocasionado pela escassez de recursos hídricos.

Afinal, por não haver água para todos produzirem, alguns vão ter que deixar de

utilizar do privilegio produtivo da irrigação, ao menos na escala em que

precisariam. Nesses momentos, se torna evidente que um planejamento mais

adequado da utilização dos recursos hídricos, aliado ao uso das técnicas maisadequadas de irrigação, poderia suprir esse bem escasso para um maior número

de agricultores. Além disso, é importante que a distribuição do uso da água se

faça de maneira planejada, para que os agricultores não se frustrem em suas

previsões de safra. Sem contar os prejuízos ambientais drásticos causados pela

redução da vazão dos rios, pois o volume de água é necessário para a

manutenção dos ecossistemas da região. A importância da irrigação para os

sistemas agrícolas pode ser comprovada na Figura 23 e na Tabela 6:

Page 52: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

42

Figura 23 - Gráfico do Incremento de Produtividade através do Sistema de Irrigação por Pivô

Central. Notar o aumento de produtividade de 492% para a produção de Feijão, um dos principais

cultivares utilizados na agricultura empresarial do Noroeste de MG. Fonte: [Neto, 2000]

Page 53: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

43

Tabela 5 - Incremento de Produtividade através do Sistema de Irrigação

por pivô

INCREMENTO DE PRODUTIVIDADE POR MEIO DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO POR PIVÔ CENTRAL (KG/HA) 

CULTURA  NÃOIRRIGADO  IRRIGADO  INCREMENTO 

Algodão  848  2700  218% 

Arroz  1739  3750  115% 

Feijão  388  2300  492% 

Milho  1985  5500  177% 

Soja  1844  3000  62% 

Trigo  1668  3400  104% 

Tomate  25000  60000  140% 

Fonte: (Neto, 2000)

O método mais utilizado na irrigação é o de pivôs de aspersão, os quais

possuem as vantagens de necessitar de baixa mão-de-obra para a operação do

equipamento, além de ser a técnica mais adaptada ao cultivo extensivo de grãos,

que é a vocação agrícola da região. Também ressalta-se que há uma estratégia

comercial mais agressiva por parte dos fabricantes desse tipo de equipamento

dentro do meio rural, aliado a facilidades de créditos e escolha preponderantedessa técnica dentro dos projetos agrícolas com incentivo governamental

(Consórcio Magna / Dam / Eyser, 1996).

Todavia, a irrigação por pivos é uma técnica que implica em um uso

intensivo de água, e em que grande quantidade dela se perde por evaporação,

Page 54: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

44

não sendo utilizada pelas plantas e nem retornando para o rio. Por isso, nas

regiões onde há conflitos pelo uso de recursos hídricos para irrigação,

recomenda-se que, na medida do possível, se substitua o cultivo de grãos por

outras culturas, como fruticultura e olericultura, que aceitam técnicas mais

eficientes de irrigação, como irrigação por gotejamento ou micro-aspersão.

Porém, uma transformação dessa demanda um esforço apreciável, visto que

requer uma troca da configuração produtiva (que já inclui equipamentos

específicos, vias de comercialização, técnicas e tradições locais). O valor departe do maquinário agrícola pode ser conferido nas Tabelas 6 e 7.

Page 55: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

45

Tabela 6 - Mão-de-obra necessária e outros custos de capital dos váriosmétodos de irrigação

SISTEMA Mão-de-

obra (hora/ha) 

Custos capital** 

(US$/ha) *** 

Superfície 

Inundação temporária (border)  0,5 - 2,5  300 - 1000 

Sulcos  1,0 - 3,0  400 - 1235 

Corrugação  1,0 - 3,0  250 - 500 

Inundação contínua (Bacias em nível)  0,2 - 1,2  500 - 1250 

Aspersão 

Fixa Permanente  0,1 - 0,2  1000 - 3000 

De deslocação periódica 

Manual  1,2 - 2,7  250 - 750 

Rebocado  0,5 - 1,2  450 - 860 

de "rolagem"  0,5 - 1,7  450 - 860 

Móvel 

Aspersor móvel  0,5 - 1,7  500 - 1000 

Pivô central  0,1 - 0,4  500 - 1000 ****

Deslocamento linear  0,1 - 0,4  750 - 1250 

Localizada Gotejamento  0,4  620 - 2500 

Subsuperfície  0,4  620 - 2500 

Microaspersão  0,4  620 - 2500 

Page 56: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

46

*Modificação feita a partir de Turner e Anderson (1980) e Lord e outros (1981). ** Cuidado nainterpretação: esses dados foram coletados nos Estados Unidos. (Nota do tradutor). *** Excluídoo custo de fornecimento de água, bomba e unidade de força. ****Nos Estados Unidos a maioriadas irrigações por pivô central utilizam-se de poços subterrâneos. Assim, não existe adutora. (Notado tradutor).Fonte: Irrigation Systems for Applications- The Council for Agricultural Science and Technology- Conselho para Ciência e Tecnologia na Agricultura - Iowa - U.S.A. Publicado na AgribusinessWordwide, v.11, n. 6, p. 20-30, 1.989. Tradução: Fernado Braz Tangerino Hernandez, 1.996,Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira - UNESP. In [NETO,2000].

Tabela 7 - Custo de Maquinário Agrícola (estimativa)Maquinário Agrícola Preço de Venda (usado,

em R$)Colheitadeira 120.000Trator 65.000Plantadeira 52.000Carreta de Transporte 45.000Semeadoura/Adubadora 30.000Classificadora de Feijão 9.800Grade Aradora 6.000Pulverizador 5.000

Fonte: http://www.agrolink.com.br/agromaquinas/, de 05/08/2005 a 28/08/2008

Fotografias de pivôs de irrigação no Noroeste de Minas:

Page 57: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

47

Figuras 24 e 25 - Unaí e Região - Pivô Linear de Aspersão (à esquerda) e Pivô Centralde Aspersão (à direita). Fonte: http://www.matogrossorep.com.br/unai.htm, disponível em

28/08/2008

Figura 26 - Fazenda a 12 km de Unaí - Área irrigada de 83ha, com 02 pivots centrais, de53 ha e de 30 ha - Fonte: http://www.unaionline.com.br/faz600ha1.htm , disponível em

19/05/2005

Page 58: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

48

Figura 27 - Fazenda a 12 km de Unaí - Pivô Linear de IrrigaçãoFonte: http://www.unaionline.com.br/faz600ha1.htm , disponível em 19/05/2005

Figura 28 - 2 áreas de irrigação por pivô central, na Fazenda Chapadão, município deParacatu,

Noroeste de MG. Fonte: http://www.agrirural.com.br/ , disponível em 19/05/2005

Page 59: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

49

Figura 29 - O maior Pivot Linear do mundo (600ha), município de João Pinheiro, Noroeste deMinas Gerais.

Foto: http://www.matogrossorep.com.br/unai.htm, disponível em 28/08/2008Informação: http://www.agrirural.com.br/ , disponível em 19/05/2005

Uma solução estrutural para a demanda de água agrícola é a instalaçãode barragens para regularização e vazão, garantindo uma quantidade de água

para a época seca; todavia, essas barragens, além do custo de construção,

acarretam impactos ambientais recorrentes, como inundação de áreas de

vegetação nativa, e formação de barreiras ao deslocamento de peixes, muitas

vezes impedindo a sua reprodução. Além disso, as barragens do Noroeste de

Minas usualmente localizam-se em áreas de vereda, ecossistema frágil e, por

isso, protegido pela legislação ambiental.

Outra característica ambiental importante, apontada pelos cálculos dehidrogeologia, é que a infiltração subterrânea faz papel importante na

manutenção das vazões dos rios (devido ao fato de que há um percentual médio

de infiltração da ordem de 59,5% do total precipitado pelas chuvas). Com o

desmatamento da vegetação pelo avanço da frente agrícola, já que “de uma

Page 60: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

50

maneira geral, em toda a bacia (...) as áreas irrigadas ocupam zonas de recarga

de aqüíferos” (Consórcio Magna / Dam / Eyser, 1996).

As zonas de recargas podem ser definidas como as regiões mais

importantes para a infiltração das águas. O desmate das zonas de recarga e das

áreas de entorno de nascentes e corpos d’água causa um inevitável desequilíbrio

hidro-geológico, diminuindo a infiltração subterrânea e conseqüentemente

diminuindo ainda mais a vazão dos rios no período crítico de inverno. Também

as áreas de silvicultura (em geral cultivo de monocultura de eucalipto)costumam sobrepor-se às áreas de veredas e nascentes (Consórcio Magna / Dam

 / Eyser, 1996), o que contribui para o incremento do problema.

Page 61: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

51

Figura 30 - Áreas de Zona de Recarga da Bacia do Paracatu - Fonte:(Cetec, 2006).

Page 62: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

52

Figura 31 – Áreas de Zona de Recarga na Su-Bacia de Entre-Ribeiros (Cetec, 2006). A Zona de Recarga localizada na regiãbacia encontra-se quase totalmente desmatada (comparar com a figura 12). Isso com certeza tem provocado desequilíbrios nsub-bacia.

Page 63: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

53

3.4.4- Contaminação por Agrotóxicos e Aditivos Químicos

O uso de agrotóxicos, a primeira vista, costuma ser a grande salvação do

agricultor, contra a iminência de pragas que podem acabar com a sua safra. Da

mesma maneira, os aditivos químicos garantem uma maior produtividade por

hectare, o que, no altamente competitivo mercado de produtos agrícolas, torna

muitas vezes proibitivo o cultivo que não utiliza tais insumos. Contudo, é

preciso analisar com maior profundidade a relação entre a agricultura moderna e

a utilização de insumos químicos.

A utilização de extensas áreas de agricultura no sistema de monoculturas

favorece em muito o alastramento de pragas, tanto pelo excesso de alimento a

esses espécimes indesejáveis, quanto pela facilidade de se deslocar pelo vento ao

longo das grandes territórios dos quais foram retiradas as árvores, as quais

serviam de barreira natural contra as correntes de ar. Muitas vezes, as pragas

eram espécies nativas de uma região, mas com o desmatamento ficaram sem

predadores naturais e encontraram ambiente propício em meio às plantações.

Outras vezes, são espécies exóticas que vão percorrendo o mundo sem barreira

alguma, já que nos outros lugares não há os predadores naturais de sua região

nativa.

Para se defender das pragas, os agricultores recorrem aos defensivos

agrícolas. O maior problema é que esses defensivos costumam ser tóxicos não

apenas para as pragas, mas também para os outros seres vivos, incluindo o ser

humano. Os resíduos dos defensivos agrícolas vão causar danos à comunidade

de organismos que existe por sobre o solo, e pela infiltração até o lençol freático,

também vão contaminar os corpos d`água superficiais e subterrâneos. Isso

quando não é o caso de aplicar os produtos químicos diretamente por sobre os

lagos e lagoas, para matar as larvas de insetos que prejudicam as plantações.

Sabe-se que o efeito dos produtos químicos é acumulativo em cada

organismo, e ao longo do tempo vai percorrendo os degraus da cadeia alimentar,

Page 64: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

54

em um processo chamado biomagnificação (Primack, 2001). Na

biomagnificação, o predador se contamina ao absorver a concentração de

poluentes que havia em sua presa e, então, por predar vários seres vivos

contaminados ao longo da vida, acaba sendo mais prejudicado pelos agrotóxicos

do que os seres vivos dos níveis inferiores da cadeia. Aliás, no topo dessa cadeia

muitas vezes estão os seres humanos, inclusive ao comer alimentos agrícolas

com resíduos de agrotóxicos. Como esse é um processo que pode demorar vários

anos para mostrar seus danos, e cujos efeitos ainda são em grande partedesconhecidos, se torna bastante difícil estimar exatamente qual é o custo

econômico-ambiental, embora se saiba que parte desse custo será arcado na área

de saúde pública e privada. São comuns os casos em que trabalhadores rurais,

por não tomarem as medidas de segurança no momento de aplicação de

herbicidas, desenvolvem doenças crônicas que levam inclusive a morte, e que

ocasionam custos na área de saúde e por perda de mão de obra produtiva.

E com o passar do tempo, as pragas vão ganhando resistência aos

pesticidas, devido ao processo de seleção natural. Para contornar a situação, osagricultores precisam aumentar a dose dos pesticidas, ou trocar por um novo

agrotóxico, que muitas vezes é bem mais potente; ambas as situações causam

aumento nos preços de produção. Além disso, esse encaminhamento aumenta

cada vez mais o processo de contaminação descrito no parágrafo anterior, e

também os conseqüentes custos ambientais dessa contaminação. O único fator

que atua no processo de minoração desse custo ambiental é a pesquisa de

pesticidas de atuação mais específica, que combatam determinada praga com

menos prejuízo para outras espécies (por exemplo, interferindo em determinadasenzimas do processo de reprodução dessa espécie).

No tocante a outros aditivos agrícolas, mesmo os fertilizantes, que a

princípio seriam benéficos por aumentar a produtividade do solo, também

causam determinados custos ambientais, em especial quando esses fertilizantes

Page 65: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

55

escoam para os corpos d’água. Quando as atividades humanas liberam mais

nutrientes nas comunidades biológicas aquáticas do que elas agüentam, ocorre

um processo chamado de eutrofização cultural (Primack, 2001), em que o

crescimento de algas e bactérias acaba esgotando com o oxigênio disponível no

ecossistema. A eutrofização comumente acaba por matar a maior parte da vida

animal e vegetal presente no corpo d’água. No Noroeste de Minas, tais situações

se agravam com o fato de o solo só permitir a agricultura moderna mediante a

aplicação intensiva de fertilizantes e corretivos de acidez (Consórcio Magna / Dam / Eyser, 1996). A situação é ainda mais grave no caso das lagoas marginais,

 já referidas no tópico “3.4.1. Perda de Biodiversidade”, das quais muitas foram

ocupadas no entorno para atividades de agricultura, e que acabam sorvendo para

si parte desses insumos agrícolas.

Page 66: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

56

Figuras 32 e 33 - Uso do avião agrícola e do trator para aplicação de agrotóxicos e fertilizantes emUnaí-MG - Fonte: http://www.unainet.com.br, disponível em 28/08/2008

3.4.5 Impactos Climáticos

Os ecossistemas naturais são importantes na moderação do clima local,

regional, e mundial (Nobre et al. 1991; Clarck, 1992, in Primack, 2001).

Localmente, as árvores transpiram água, fornecem sombra e refletem luz solar

Page 67: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

57

de volta para a atmosfera, impedindo que ela seja absorvida pelo solo e por

rochas; esses três serviços ambientais podem ser percebidos sensivelmente ao

passarmos de uma área urbana para um parque adjacente. Essas variações micro-

climáticas localizadas são fatores ambientais determinantes de uma melhor ou

pior adaptação de certas culturas.

As árvores também são importantes como barreiras de vento. O corte

das árvores para a substituição por extensas áreas de monocultura faz aumentar a

velocidade dos ventos. Isso causa prejuízos à lavoura, pelo aumento da erosãoeólica, e principalmente por propiciar o alastramento de pragas (sejam insetos,

fungos, bactérias ou semente de plantas invasoras). Como se trata de um impacto

extra-propriedade rural, esse é um caso típico em que impactos localizados

contribuem para um impacto econômico-ambiental de escalas até continentais.

Regionalmente, a transpiração das plantas faz retornar a água para a

atmosfera, o que, auxiliado à sua característica de quebra-vento, contribui para

aumentar a umidade local A umidade é constituinte do micro-clima e também

(como a temperatura local), é determinante para uma melhor adaptação deespécies agrícolas sensíveis. Regionalmente, a transpiração da vegetação

contribui relativamente para o aumento da precipitação fluvial. Com o aumento

do desmatamento em diversas áreas do mundo, diminui a quantidade de água

que retorna para a atmosfera, o que pode diminuir a média anual de chuvas

(Fearnside, 1990, in Primack, 2001) – em especial nas áreas mais afastadas dos

mares, como é o caso do Noroeste de Minas. O desmatamento também altera a

dinâmica dos ventos (pois há mudanças nas áreas de alta e baixa pressão

atmosférica), podendo criar extensos desertos onde antes havia umapluviosidade constante.

Com a diminuição das áreas de florestas e demais ecossistemas, perde-

se parte do serviço ambiental da fotossíntese. Isso aumenta a quantidade de gás

carbônico na atmosfera, o que leva ao aquecimento global através do efeito

Page 68: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

58

estufa, além de, em casos graves, causar problemas respiratórios nos seres

humanos e outros animais. Uma importante mobilização mundial sobre os

aspectos econômicos das mudanças climáticas globais é o Protocolo de Quito, o

qual inclui mecanismos econômicos para a valoração e incentivo de projetos

ambientalmente sustentáveis. A fotossíntese também é importante por fornecer

oxigênio, do qual grande parte dos seres vivos depende para respiração.

3.4.6. - Êxodo Rural

A partir das décadas de 80 e 90, houve um progressivo povoamento da

região Noroeste de Minas, devido aos projetos governamentais de ocupação,

como o Planoroeste I e II. Muitos agricultores de outras regiões de Minas

Gerais, do Sul e do Sudeste do Brasil vieram estabelecer-se na região, gerando

um vetor populacional. Ao mesmo tempo, atuou na região o fator geral de

atração urbana em relação ao meio rural, como é a tendência nacional. Com

efeito, também observa-se que, inicialmente, ocorreu “o crescimento

significativo do trabalho assalariado no campo, com predominância do

temporário, contribuindo para o desenvolvimento e consolidação dos centros

urbanos regionais como pólos de apoio às zonas rurais” (Consórcio Magna / 

Dam / Eyser, 1996).

Porém, com as transformações pelas quais tem passado o processo

produtivo da agricultura moderna, a fator de atração populacional reverteu-se. A

situação dos preços no mercado agrícola tornou inviável a produção agrícola que

não se encaixe no molde comercialmente competitivo. A sobrevivência do

produtor rural passa a depender de sua situação tecnológica e na sua capacidade

de inserção no mercado comercial agropecuário (Guimarães et al., 2004). Nessa

nova situação, a margem de lucro por unidade de produto diminui, e apenas

conseguem se manter os produtores rurais de larga escala. Conseqüentemente,

Page 69: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

59

cresce o número de pequenos produtores que têm de vender suas terras para

desfazer de dívidas agrícolas, e que não têm alternativa a não ser rumar para as

cidades.

Juntamente com o Triângulo, as regiões Noroeste e Alto Paranaíba

destacam-se como as mais eficientes no uso da mão de obra agropecuária.

(Guimarães et al, 2004). Elas não aparecem como grandes geradoras de emprego

no campo, o que revela, mais uma vez, a característica moderna da produção

regional, com alta produtividade da mão de obra ocupada na agropecuária,dando preferência à qualificada como veterinários, engenheiros e agrônomos,

utilizando pouca mão-de-obra de baixa qualificação. A maior parte da população

camponesa da região possui baixa escolaridade e, por não achar trabalho no

campo, desloca-se para as cidades a fim de ocupar qualificações manuais,

trabalhar no setor informal, ou reforçar a massa desempregada (Cunha, 1994).

A mecanização agrícola, em todas as etapas de produção, passa a

expulsar o contingente de ex-empregados rurais, que agora ruma para as cidades

da região e para a cidade de Brasília e suas cidades-satélites, visto que estassempre se destacaram como pólo de atração populacional regional (Consórcio

Magna / Dam / Eyser, 1996). O aporte de impostos arrecadados sobre a

produção das frentes agrícolas, e sobre as empresas mineradoras da região

também tem contribuído para aumentar o crescimento urbano das cidades da

região do Noroeste de Minas, efetuando um contraste entre o estilo de vida

urbano e rural, o que acaba atraindo mais ainda os habitantes do campo a ir para

as cidades.

Page 70: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

60

.

Figura 34 - Vista da Cidade de Unaí - Noroeste de MinasFonte: http://www.unaivirtual.com.br/ , disponível em 25 de abril de 2005

Como conseqüência da intensificação do êxodo rural, as cidades

recebem um aporte populacional maior do que sua capacidade de suporte. Sem

poder oferecer emprego nem moradia para as constantes levas de imigração,

começam a aumentar os bairros de periferia e as favelas. A superpopulação da

infra-estrutura urbana leva à insuficiência dos serviços públicos como os de

saúde, educação, saneamento básico e coleta de lixo. Por esse motivo é que

políticas de retenção da população no campo podem contribuir para a

diminuição dos custos ambientais nas cidades.

Page 71: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

61

Figura 35 - Lixo entulhado na entrada de Unaí - direção de BrasíliaFonte: http://www.unainet.com.br/ , disponível em 25 de agosto de 2008

Figura 36 - Catadores sobrevivem no Lixão Municipal de Unaí-MGFonte: http://www.unainet.com.br/ , disponível em 25 de agosto de 2008

Page 72: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

62

Figura 37 - Violência contra o Patrimônio Público em Unaí-MGFonte: http://www.unainet.com.br/ , disponível em 25 de agosto de 2008

Page 73: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

63

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme demonstrado ao longo desta monografia, a viabilidade

econômica de empreendimentos agrícolas, tais como o enfocado no Noroeste de

Minas Gerais, com certeza é bem mais complexa do que o simples balanço entre

o custo investido e o lucro obtido pelo agricultor. Uma análise detida sobre o

cenário das frentes agrícolas demanda um detalhamento dos impactos desses

empreendimentos no ambiente e na população. Da mesma maneira, umacompreensão sobre esse fenômeno necessita de uma percepção crítica sobre os

olhares dos diversos atores envolvidos.

Para o agricultor empresarial, o agro-negócio se mostra como ótimo

potencial investimento e trabalho, especialmente nos períodos de alta de

determinados produtos no mercado internacional (como ocorre, ou já ocorreu,

com o café, cana-de-açúcar e soja). A crescente demanda por grãos de

alimentação animal, bem como para produção de biodiesel, representa uma

perspectiva de aquecimento do mercado a curto e médio prazos. Não obstante, amaior parte dos impactos econômico-ambientais será arcada pela população,

tanto a presente quanto as gerações futuras, sem ônus direto para o empresário.

Mesmo com as eventuais quedas de margem de lucratividade dos produtos

agrícolas, o grande agricultor consegue com relativa facilidade manter seus

rendimentos através do lobby governamental (subsídios e renegociação de

dívidas) ou mesmo através da ilegal mas difundida sonegação de impostos.

Contudo, o impacto da agricultura na utilização de recursos naturais

pode afetar diretamente a comunidade de agricultores; haja vista os conflitos poruso de recursos hídricos que têm ocorrido na região, e que demandam dos

agricultores esforços urgentes de organização para uma melhor gestão de suas

bacias hidrográficas. Essa necessidade de gestão interna, aliada a uma pressão

Page 74: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

64

pequena mas crescente da fiscalização dos órgãos ambientais, tem resultado em

uma melhor postura ambiental dos agricultores, mesmo que forçada.

Do ponto de vista da população regional, o desenvolvimento agrícola

possui tanto impactos negativos quanto positivos. Por um lado, a produção

agrícola gera benefícios indiretos na econômica local, direcionando parte do

capital para a movimentação do comércio e de serviços locais, assim como

beneficiando os poderes públicos com o montante recolhido através de impostos.

Como um reflexo positivo, também se nota, no Noroeste de Minas Gerais, que odesenvolvimento social gerado acarretou no aparecimento de uma geração

 jovem mais consciente da importância da preservação ambiental, inclusive se

articulando em entidades coletivas em prol desse interesse. Todavia, por outro

viés, a população se torna grande vítima dos impactos ambientais da agricultura

moderna, assim como também das mudanças sociais forçadas a que se vê

obrigada a se adaptar. Esses impactos ambientais não são revertidos em custos

aos agricultores, em parte por serem impactos difusos, em parte por mostrarem

boa parte de seus efeitos apenas a longo prazo - e porventura prejudicando emmaior monta as gerações futuras.

Por último, é preciso encarar o cenário a partir da ótica governamental.

Não é obscuro perceber que, ao longo dos anos, o negócio agrícola tem passado

por momentos alternados de euforia e de grandes quedas, o que, adicionando às

incertezas econômicas à incerteza dos fatores produtivos naturais, costuma levar

grande parte produtores a dívidas colossais. Isso se deve principalmente ao

estreitamento da margem de lucro do agro-negócio, ao longo das últimas

décadas, demandando cultivos de escala cada vez maior para que se mantenha aviabilidade produtiva. Se a viabilidade econômica do negócio agrícola já se

mostra limitada, em análises de médio e longo prazo, pode-se imaginar como se

tornará bem menos viável caso sejam levados em conta os diversos custos

econômicos em decorrência dos impactos ambientais das frentes agrícolas.

Page 75: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

65

A decisão governamental sobre o investimento na agricultura moderna,

para um melhor embasamento, deve ser fundamentada a partir de uma análise

comparativa para com as demais alternativas demandadas para o

desenvolvimento. Nessa tópica, é fundamental observar como o Brasil, assim

como os demais países de terceiro mundo, vêm ao longo da história se

consolidando como extratores de matéria prima e recursos naturais, com

baixíssimo valor agregado, enquanto a maior lucratividade das atividades

industriais e de serviço é reservada para os países de primeiro mundo. Esse é ocaso da agricultura, na qual o país escolhe por desmatar os seus ecossistemas

naturais, utilizar grande parte de sua água, e gerar produtos de baixo custo

unitário e com lucratividade duvidosa, caso considerem-se os custos arcados

pelos impactos ambientais. Não é difícil perceber como, dentro de uma

estratégia por um desenvolvimento mais seguro e acelerado, as atividades

urbanas e industriais apresentam uma maior possibilidade de geração de riqueza

à nação.

Ainda nessa ótica de escolha de investimentos, é iminente notar que odesenvolvimento calcados em atividades de alto valor agregado (indústria e

serviços), e mesmo a própria agricultura tecnológica, estão intimamente

relacionados à uma demanda por educação profissional e tecnológica da

população. Quanto maior o investimento em educação da população, maior é a

potencialidade de desenvolvimento de cada cidadão, e isto sem contar com os

demais reflexos da educação relacionados à hábitos de vida mais saudáveis,

consciência política e ecológica, exercício da cidadania, em suma uma maior

desenvolvimento do indivíduo como um todo, e em estrita conseqüência, dasociedade onde ele está.

Todavia, o cenário político brasileiro encontra-se bem distante das

possibilidades ideais para um planejamento estratégico visando o melhor bem

possível para sua população. Não se pode deixar de reconhecer a intensa disputa

Page 76: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

66

de interesses, entre os mais diversos grupos econômicos e sociais, tanto

nacionais quanto internacionais, cenário esse que costuma transformar a

democracia política brasileira mais em um jogo de forças do que em um espaço

de diálogo para o bem comum.

Por fim, o cenário da expansão agrícola tecnológica também necessita

ser analisado por uma ótica global, considerando o planeta Terra como um

sistema interligado, tanto do ponto de vista ambiental quanto do ponto de vista

sócio-político-econômico. A maioria dos países do mundo já não apresenta maisterras disponíveis para serem convertidas para a agricultura. O Brasil apresenta

as principais áreas com possibilidade de expansão agrícola, ademais de algumas

outras na Argentina, porquanto a ocupação de terras aptas africanas esbarre em

um cenário sócio-político desfavorável (Pinazza, 2007a, p. 13 a 22; Pinazza,

2007b, p.13 a 19). Obviamente, essa expansão agrícola no Brasil implica um

impacto significativo no que resta dos Biomas de Cerrado e da Floresta

Amazônica.

As transformações nos hábitos alimentares, em todos os países, têmlevado a uma demanda crescente para a agricultura, para alimentação humana e

ração animal. Da mesma forma, o prenúncio do esgotamento progressivo das

reservas de petróleo não tem demonstrado até o momento, muitas alternativas

economicamente viáveis além dos bioenergéticos (Brasil, 2006). Destarte, a

análise dos destinos da agricultura vai muito mais além do que uma política

isolada do governo brasileiro para esse setor: praticamente não se cogita a

alternativa sobre decidir frear ou não a produção de alimentos ou bioenergéticos.

Nessa óptica, a pressão do primeiro mundo para que o Brasil continuesubordinado a exportador de recursos naturais e produtos de baixo valor

agregado, assim como o lobby do já tradicional grupo ruralista, evidenciam a

tendência de que o governo mantenha sua política atual relativa ao agro-

business. O que resta como alternativa é procurar conciliar, da maneira possível,

Page 77: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mode

67

o aumento da produção de gêneros agropecuários com a manutenção mínima do

equilíbrio do meio ambiente.

Portanto, coloca-se como prioridade para a política agrícola o aumento

da produção. Contudo, é mandatário que esse aumento dê-se, dentro do possível,

com alternativas de manejo que aumentem a produtividade por hectare, em vez

de forçar a expansão pelas áreas de ecossistemas nativos que ainda restam

(Isherwood, 2000, p. 52 e 53; Brasil, 2006). Um dos caminhos possíveis para

tanto é uma utilização mais racional das áreas já ocupadas (Oliveira, 2007). Agrande porcentagem de terras subutilizadas, degradadas e até abandonadas, em

todo o Brasil, revela que ainda há muito a ser feito para que possamos extrair de

cada região o seu potencial máximo. Sob esse aspecto, o aproveitamento

otimizado das regiões mais adequadas, como os latossolos do Noroeste de Minas

Gerais, pode contribuir para evitar o desmatamento em áreas de grande valor

ecológico, como a Floresta Amazônica.

Quanto aos terrenos de menor aptidão agrícola, como os cambissolos e

neossolos litólicos de alta declividade e de elevado potencial de erosão, é muitomais racional que sejam resguardados como áreas de preservação dos

ecossistemas nativos. Desta forma, essas áreas preservadas de menor potencial

agrícola contribuem com um custo benéfico maior na prestação de serviços

ambientais, tais como preservação genética, produção de água, manejo de

frutíferas nativas e atividades turísticas (Oliveira, 2007, p. 8).

Outra maneira complementar de reduzir a pressão por expansão é o uso

de técnicas agro-pecuárias sustentáveis, que permitam um aumento da

produtividade, conciliado a um melhor manejo dos recursos naturais. São váriosos exemplos já existentes, como o terraceamento, adubação verde, agricultura

orgânica, rotação de culturas, construção de barraginhas, plantio direto, dentre

várias outras técnicas.

Page 78: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

68

No que diz respeito ao uso da água na agricultura, principal problema

enfrentado pelos agricultores do Noroeste de Minas, pode-se adotar técnicas de

irrigação mais eficientes, além de pesquisar novas variedades de cultivares com

maior produtividade por litro de água consumida. Também é possível

implementar técnicas que contribuam para uma maior infiltração da água no

solo, como a construção de barraginhas de contenção de enxurradas, o

terraceamento e o plantio direto. Além de aumentarem a quantidade de água

disponível nos aqüíferos subterrâneos e lençóis freáticos, o agricultor ainda ébeneficiado por evitar a erosão do solo, haja vista a diminuição que essas

técnicas acarretam no escoamento superficial (Silva, 2002).

Outra condição indispensável para uma relação harmônica entre a

atividade agropecuária e o meio ambiente é o cumprimento das normas

estabelecidas pela legislação ambiental. As áreas estabelecidas como de

preservação permanente possuem função essencial na preservação dos sistemas

hídricos e na prevenção da erosão do solo. A reserva legal, por sua vez, tem

como objetivo preponderante a conservação da biodiversidade e dos recursosnaturais da propriedade rural. Ressaltem-se ainda os atos de Licenciamento

Ambiental, de Outorga de Direito de Uso da Água e de Autorização de

Exploração Florestal, por meio dos quais o poder público pode analisar os

impactos ambientais dos empreendimentos em seu contexto regional e, assim,

procurar gerir de maneira mais sustentável o desenvolvimento territorial.

As alternativas para uma agricultura mais sustentável contribuem para a

redução dos impactos ambientais e econômicos. Todo direcionamento e

investimento voltado para boas práticas agrícolas, gestão ambiental e de recursosnaturais, torna-se um instrumento a mais para minorar os impactos econômico-

ambientais advindos do estabelecimento e expansão da agricultura moderna.

Para viabilizar tais mudanças no sistema produtivo, é essencial que os

produtores rurais tomem consciência dos diversos benefícios que provêm de

Page 79: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

69

uma convivência mais harmônica com a natureza. Tal consciência se dá ao

compreender os diversos serviços ambientais que os ecossistemas prestam às

atividades produtivas.

A partir da argumentação até aqui exposta, é fácil perceber que há um

amplo espaço para ações em busca do desenvolvimento sustentável na

agropecuária. Para tanto, será necessária atuação de todos. Ao governo, compete

gerir o território e promover a articulação dos setores produtivos e sociais,

estimulando e coordenando ações em prol dos objetivos propostos. À sociedade,cabe uma postura ativa, demandando seu direito a um ambiente saudável, para si

e para as gerações futuras. Enfim, aos produtores rurais se apresenta a

responsabilidade de, em seu setor econômico, atuarem como protagonistas dessa

nova maneira de aliar o desenvolvimento produtivo ao respeito pelo meio

ambiente, através do planejamento territorial e do manejo integrado dos recursos

naturais.

Page 80: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

70

BIBLIOGRAFIA

AGRA, N. G., SANTOS, R. F. dos -  Agricultura Brasileira: Situação Atual ePerspectivas de Desenvolvimento - XXXIX Congresso da SOBER (SociedadeBrasileira de Economia e Sociologia Rural), Recife, 05 a 08 de agosto de 2001 –Disponível em <http://www.eco.unicamp.br/nea/rurbano/zipados/agra.pdf>

ANDOW, D. A. -  Butterfly numbers were cut by up to two-thirds and bee populations by half in fields of transgenic winter oilseed rape(canola),according to the final results of a three-year study commissioned by the UK 

government. UK farm-scale evaluations of *transgenic *herbicide-tolerant crops - Nature Biotechnology, v. 21, n. 12, dezembro, 2003.

ANDRADE, Lawrence Magalhães Gomes de - Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com fundamentos no conceito de Geociências Agrárias e Ambientais - Bacia do Ribeirão de Entre-Ribeiros no vale do Rio Paracatu -Dissertação (Mestrado) - UFOP - Escola de Minas - Dep. de Geologia - OuroPreto, 2007. 203 p.

BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE MINAS GERAIS - BDMG - MINASGERAIS.  Minas Gerais do Século 21. vs. 1 a 9. Belo Horizonte, Banco deDesenvolvimento de Minas Gerais – BDMG. 2002. Disponível em:

www.bdmg.mg.gov.br/estudos/estudos_mg.asp.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria deProdução e Agroenergia. Plano Nacional de Agroenergia 2006-2011 – Brasília:Embrapa Informação Tecnológica, 2006.

BRITO; Ricardo A.L., BASTINGS, Ivo W.A. & BORTOLOZZO, Adriane R.The Paracatu/Entre-Ribeiros irrigation scheme in Southeastern Brazil. Featuresand challenges in performance assessment.  Rev. Irrigation and DrainageSystems, Netherlands, 17: 285–303, 2003.

[CETEC] - Projeto CRHA - Conservação de Recursos Hídricos no âmbito de

Gestão Agrícola de Bacias Hidrográficas - MCT/FINEP/CT-HYDRO 2002-2006.

[CMMA] – Clima e Cerrado: meio ambiente rural - I Conferência Municipalde Meio Ambiente de Quirinópolis - 21 de agosto de 2007, Quirinópolis – Goiás

[Consórcio Museu Emilio Goeldi - MPEG, USP-PROCAM, ATECH] -  Agenda21 Brasileira; Área Temática: Agricultura Sustentável - Programa das Nações

Page 81: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

71

Unidas para o Desenvolvimento - PNUD; Ministério do Meio Ambiente,Brasília, 1999, 125 p.

CONSÓRCIO MAGNA / DAM / EYSER - Plano Diretor de Recursos Hídricosda Bacia do Rio Paracatu - PLANPAR – Governo de Federal, Governo doEstado de Minas Gerais, Governo do Distrito Federal, Brasil, Fevereiro 1996. 

CUNHA, A. S. (Coord.) - Uma avaliação da sustentabilidade da agriculturanos cerrados - Brasília, Projeto PNUD, IPEA, BIRD, 1994, 256p.

DINO, K. J. - Dino - Relatórios Preliminares 2001 - A Bacia do Rio Paracatu, Minas Gerais, 2001 – Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas, FINATEC,Asa Norte, Brasília DF - Junho, 2002. Disponível em<http://www.marcadagua.org.br/paracatu.pdf>

EGLER, C. A. G. ; RIO, G. A. P. - Cenários para a Gestão Ambiental. In:Thereza Christina Carvalho Santos; João Batista Drummmond Câmara. (Org.).GEO Brasil 2002 - Perspectivas do Meio Ambiente no Brasil. Brasília: EdiçõesIBAMA, 2002, v. , p. 295-316.

EMATER-Mg - Informe Final: Aliança Para O Desenvolvimento Regional Do Noroeste De Minas Gerais – Brasil - FAO - Belo Horizonte, Abril, 2005

FERREIRA, Mozart Martins; DIAS JUNIOR, Moacir de Souza.  AspectosFísicos do Solo e o Meio Ambiente. Universidade Federal de Lavras,UFLA/FAEPE, Lavras/MG, 2002. 115 p.

FUNDAÇÃO CENTRO TECNOLÓGICO DE MINAS GERAIS – CETEC-MG–  II Plano de Desenvolvimento Integrado do Noroeste Mineiro: Recursos Naturais. Belo Horizonte: 1981.

GUIMARÃES, T. B., CUNHA, M. A. R. da, CHAVES, Marilena (Coord.) – Minas Gerais do Século XXI - Volume IV: Transformando o Desenvolvimentona Agropecuária. – ECCON/UFV, BDMG, Minas Gerais, 2004.

ISHERWOOD, K. F. Mineral Fertilizer Use and the Environment . InternationalFertilizer Industry Association. Revised Edition. Paris, February, 2000.Tradução: Associação Nacional de Adubos (Anda) e Universidade Federal deLavras (Ufla).

[Jornal Minas Gerais] - Cetec apóia cultivo de Fava d’Anta-, 05/02/2005

Page 82: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

72

[Jornal Minas Gerais] - Frutos do Cerrado podem ajudar a combater a fome -05/02/2005

LATUF, Marcelo de Oliveira.  Mudanças de Uso do Solo e Comportamento Hidrológico nas Bacias do Rio Preto e de Entre-Ribeiros. Dissertação(Mestrado). Universidade Federal de Viçosa, Programa de Pós-Graduação emEngenharia Agrícola. 2007. 103 f.

LIMA, S. C. As veredas do Ribeirão Panga no Triângulo Mineiro e a evoluçãoda paisagem. São Paulo: USP, 1996. 260p. (Tese, Doutorado em GeografiaFísica).

MMA - Ministério do Meio Ambiente (2000) Agenda 21 Brasileira: bases paraa discussão – Novaes, W. (coord) – MMA/PNUD - Brasília

MOREIRA, Michel Castro. Gestão de Recursos Hídricos: Sistema Integrado para otimização da Outorga de Uso da Água. Tese (Doutorado).Universidade Federal de Viçosa. Programa de Pós-Graduação em EngenhariaAgrícola. 2006. 94 p.

NETO, L. G. - Produtividade e Competitividade Dependem do Aumento de Hectares Irrigados - RA Revista dos Agrônomos - Março de 2000, Ano III, N.1,

p.14-20

OLIVEIRA, Geraldo César de. Planejamento do uso da terra e preservaçãoambiental no estado de Goiás. Universidade Federal de Lavras (Ufla) / Faepe.2007. 31p.

PEARCE, F. - Crops without profit – Revista New Scientist - 18 December 1999

PINAZZA, Luiz Antonio (cord.). Cadeia produtiva do milho. SérieAgronegócios, v. 1. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.Secretaria de Política Agrícola, Instituto Interamericano de Cooperação para aAgricultura– Brasília : IICA, 2007a. 110 p.

PINAZZA, Luiz Antonio (cord.). Cadeia produtiva da soja. Série Agronegócios,v. 2. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de PolíticaAgrícola, Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura– Brasília :IICA, 2007b. 116 p.

Page 83: Impactos e Custos Econômico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009

5/16/2018 Impactos e Custos Econ mico-Ambientais da Agricultura Moderna - UFLA - 2009 - s...

http://slidepdf.com/reader/full/impactos-e-custos-economico-ambientais-da-agricultura-mod

73

TEIXEIRA, O. A., LAGES, V. N. -  Do Produtivismo à Construção da Agricultura Sustentável: Duas Abordagens Pertinentes à Questão - Cadernos deCiência & Tecnologia, Brasília, v.13, n.3, p.347-368, 1996, disponível em<http://atlas.sct.embrapa.br/pdf/cct/v13/cc13n304.pdf >

TORRES, A. L., FERREIRA NETO,  J. A. - Análise do Processo de Desenvolvimento da Região Noroeste de Minas Gerais – Embrapa – disponívelem http://gipaf.cnptia.embrapa.br/itens/publ/sober/trab293.pdf  

REIS VELLOSO, J. P. (organizador).  A ecologia e o novo padrão dedesenvolvimento no Brasil. Fórum Nacional Como Evitar uma nova décadaperdida. Rio de Janeiro: Nobel 1991.184 p.

RESENDE, Mauro; CURI, Nilton; REZENDE, Sérvulo Batista de; CORRÊA,Gilberto Fernandes. Pedologia: Base para Distinção de Ambientes. 4 ed. Viçosa,NEPUT, 2002. 338 p.

SCHULTZV, L. A.  Métodos de Conservação do Solo – Porto Alegre, EditoraSagra S.A., 1983. 76 p.

SILVA, L. L. O Papel do Estado no Processo de Ocupação das Áreas deCerrado entre as Décadas de 60 e 80 – Revista Caminhos da Geografia1(2)24-36, dez/ 2000. Programa de Pós-Graduação em Geografia - Instituto DeGeografia UFU.

SILVA, Marx Leandro Naves. Conservação do Solo e da Água. UniversidadeFederal de Lavras, Faepe, 2002. 59p.