PROJECTO : O O P P A A P P E E L L D D O O E E N N F F E E R R M M E E I I R R O O E E S S P P E E C C I I A A L L I I S S T T A A E E M M R R E E A A B B I I L L I I T T A A Ç Ç Ã Ã O O N N A A P P R R O O M M O O Ç Ç Ã Ã O O D D A A M M O O B B I I L L I I D D A A D D E E D D A A P P E E S S S S O O A A I I D D O O S S A A Elaborado por: Enf. ra Celina Dias Funchal 2007-2008 REPÚBLICA PORTUGUESA UNIÃO EUROPEIA FSE REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA
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1.3 Revisão de literatura .............................................................................................................. - 8 -
1.4 Quadro conceptual ............................................................................................................. - 11 - 1.4.1 O processo de envelhecimento .................................................................................... - 11 - 1.4.1.1 Teorias do envelhecimento .......................................................................................... - 12 - 1.4.1.2 Envelhecimento físico, sócio-afectivo e psicológico ........................................... - 13 - 1.4.1.3 Mobilidade na pessoa idosa ....................................................................................... - 17 - 1.4.3 Actividade física na pessoa idosa................................................................................. - 23 - 1.4.3.1 Benefícios da Actividade física na pessoa idosa .................................................. - 24 - 1.4.3.2 Programação da actividade física para a pessoa idosa ................................... - 25 - 1.4.3.2.1 Prescrição de actividade física ............................................................................... - 26 - Parte principal.................................................................................................................... - 27 - 1.4.3.2.2 Avaliação para a actividade física ....................................................................... - 30 - 1.4.4 Papel da Enfermeira Especialista de Reabilitação e a Recuperação da ....... - 31 - pessoa idosa .................................................................................................................................. - 31 - 1.4.4.1 Fases da Reabilitação Geriátrica e a actuação da Enfermeira Especialista de Reabilitação ....................................................................................... - 32 - 1.4.4.2 Problemas frequentes na Reabilitação da pessoa idosa e a actuação da Enfermeira Especialista de Reabilitação ........................................................... - 33 - 1.4.5 Papel da Enfermeira Especialista de Reabilitação e a promoção da mobilidade da pessoa idosa ......................................................................................... - 34 - 1.4.5.1 Avaliação de Enfermagem de Reabilitação da mobilidade da pessoa idosa .................................................................................................................................... - 35 - 1.4.5.2 Formulação de diagnósticos de Enfermagem de Reabilitação relativamente à mobilidade da pessoa idosa ....................................................... - 37 - 1.4.5.3 Planeamento de cuidados de Enfermagem de Reabilitação relativamente à mobilidade da pessoa idosa ....................................................... - 38 - 1.4.5.4 Avaliação de cuidados de Enfermagem de Reabilitação relativamente à mobilidade da pessoa idosa ..................................................... - 43 -
1.5 Selecção e organização de meios e estratégias .......................................................... - 44 -
1.6 Descrição da execução das actividades ....................................................................... - 46 -
1.7. Cronograma e programa de actividade física ………………………………………….-47-
1.8 Implementação do projecto e resultados obtidos ........................................................ - 47 -
Integrado no 2º curso de pós-licenciatura de especialização em enfermagem
de reabilitação, o projecto que apresento inscreve-se no âmbito da disciplina de
Orientação e Desenvolvimento de projecto I e tem como objectivo a aquisição de
competências teórico-práticas numa área de intervenção da enfermagem de
reabilitação.
O actual projecto tem como tema “O papel do Enfermeiro Especialista de
Reabilitação na promoção da mobilidade da pessoa idosa” e a sua execução
ocorrerá durante o ensino clínico III, (Enfermagem de Reabilitação opcional), do curso
supracitado, o qual acontecerá entre 25 Fevereiro e 14 Março de 2008, no Centro de
saúde do Caniço, concelho de Santa Cruz. A preparação das actividades integradas
no projecto decorre desde Maio de 2007, como se constata no cronograma exposto
adiante.
De seguida apresento, no capítulo projecto de auto-formação o trabalho de
projecto. Na contextualização, justifico a opção do tema do projecto face ao meu
percurso profissional, pertinência mediante a sociedade vigente a caracterização da
população idosa do Caniço e ainda a importância para a enfermagem de
reabilitação do projecto. Exponho também no referido capítulo os objectivos pretendo
atingir. No quadro conceptual, faço uma abordagem dos conceitos que são
relevantes para compreender o âmbito do projecto nomeadamente o processo de
envelhecimento, a mobilidade/actividade física no idoso e o papel do enfermeiro de
reabilitação na promoção da mobilidade do idoso. No capítulo, selecção e
organização de meios e estratégias exponho as actividades e intervenções que
levarei a cabo para executar o projecto, bem como os objectivos específicos de
cada uma delas, estando no cronograma patente o tempo em que as mesmas
acontecerão. Na descrição da implementação das actividades relatarei a
concretização das intervenções planeadas. O desenvolvimento ou implementação
do projecto será apresentado através da metodologia de portfolio, ao longo do qual
farei através de uma reflexão crítica, uma avaliação de como decorreu o projecto
implementado, quais os resultados, os benefícios e os obstáculos encontrados.
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1.PROJECTO DE AUTO-FORMAÇÃO
Falar de projecto tornou-se hoje um discurso privilegiado em vários domínios.
Fernandes (1998), defende que vivemos numa civilização de projectos. No intuito de
inovar e de fazer frente às exigências futuras, o campo profissional e as organizações
são locais de emergência para a realização de projectos. A enfermagem não é
excepção e por isso tanto a nível organizacional, como a nível da avaliação de
desempenho e da formação é solicitada a elaboração de projectos como
metodologia de crescimento profissional, e de aprendizagem. Um projecto como nos
diz Lhotellier (1986) é uma intenção desencadeada por uma motivação, de realizar
uma obra, um trabalho, uma acção, animada por uma implicação contínua,
afirmada por uma orientação de valor.
Do projecto fazem parte etapas metodológicas, que são de acordo com
Fernandes (1998), o diagnóstico da situação, a determinação de prioridades, a
definição de objectivos, a selecção e organização de meios e estratégias, a
execução e a avaliação, as quais encontram-se descritas no presente documento.
1.1 Contextualização
Nos últimos séculos tem-se assistido a mudanças demográficas e sociais em
todo o mundo, que determinaram uma sociedade maioritariamente envelhecida,
inactiva e dependente. Actualmente, uma em cada dez pessoas está com idade
superior a 60 anos e estima-se que em 2050 essa relação seja de uma para cada
cinco pessoas, sendo as mulheres em maior número. Mundialmente, no final do século
XX, houve um aumento da esperança de vida em vinte anos com uma média de vida
de 66 anos, referem Rebelatto e Moretti (2004), para tal contribuíram factores como
um maior acesso aos sistemas de saúde, os avanços científicos que proporcionaram
diagnósticos e tratamentos cada vez mais precoces, a prevenção mais efectiva das
incapacidades e o desenvolvimento da indústria farmacêutica. Como consequência
do aumento da população idosa, Carvalho (2005) reitera, que as doenças crónicas e
incapacidades também aumentaram, 88% dos indivíduos com mais de 65 anos
apresenta pelo menos uma patologia crónica e 21% possui incapacidades crónicas.
As mulheres são certamente as mais atingidas sendo que 35% a 50% entre os 70-80
anos apresenta dificuldade de locomoção e na realização de tarefas diárias.
Não escapando à tendência mundial, Portugal duplicou o número de idosos
nos últimos quarenta anos e desde 1999 que o número de idosos ultrapassou o número
de jovens, o que levou á criação do Programa Nacional para a Saúde das Pessoas
Idosas 2004-2010, integrado no Plano Nacional de Saúde (2004-2010), pela Direcção
Geral de Saúde. Este programa foi concebido em concordância com as
recomendações da política para a população idosa, das organizações internacionais,
designadamente das metas para a saúde do projecto ―Saúde 21‖ da Organização
Mundial de saúde. Mais concretamente da META 5 _ Envelhecer Saudavelmente e
mais tarde do Plano de Acção Internacional para o Envelhecimento 2002.
Citando a Direcção Geral de Saúde e o referenciado Programa Nacional para
a Saúde das Pessoas Idosas 2004-2010, o nosso país possui uma alta esperança de
vida, 80.3 anos para as mulheres e 73.5 anos para os homens. Conforme dados da
divisão de estatística da entidade supracitada, para uma população residente de
10529.3 o índice de envelhecimento era em 2004, de 108.7% enquanto o maior índice
de dependência pertencia igualmente ao grupo dos idosos que possuía 25.2% de
dependência, num total de 48.5% de dependência na população residente.
Por sua vez a Madeira apresentava em 1999, citando dados apresentados no
Plano Regional de Saúde de 2004 da Secretaria Regional de Saúde, uma esperança
de vida de 73.3 anos, sendo que a população idosa aumentou 15% entre 1991 e 2001.
O índice de envelhecimento em 2001 era de 71.6% contra 47.4% de 1991 e o índice de
dependência da população idosa aumentou de 17.8%, em 1991 para 20.1% em 2001.
A nível dos concelhos, o Norte da ilha apresenta maior grau de dependência e o
concelho de Santa Cruz, no qual desenvolverei o meu projecto tinha um índice de
dependência na pessoa idosa de 16.6%.
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É Interessante verificar que o Instituto Nacional de Estatística na sua publicação
―Atlas das cidades de Portugal‖ editado em 2004, elaborado a partir de dados dos censos de 2001 e de outros inquéritos, realizados por esta entidade, narra que, no
concelho de Santa Cruz, para uma população de 5673, o nível de dependência total
é de 47.8% e o índice de dependência nos idosos é de 25.6%.
Do relatório de actividades de 2006 dos Centros de Saúde do concelho de
Santa Cruz, constatamos que o Caniço tem 1315 idosos inscritos no Centro de Saúde,
sendo a taxa de frequência às consultas de 83.8%. Da aplicação da escala de
avaliação funcional de Barthel a 74 idosos concluiu-se que 28 apresentavam
dependência ligeira, 30 dependência moderada, 10 dependência severa e 5
dependência muito severa.
Os factos que acabei de enunciar confirmam a percepção empírica,
proveniente da minha experiência pessoal e profissional de que os idosos são cada
vez em maior número, possuem cada vez mais incapacidades, e consequentemente
maior grau dependência, quer seja nos serviços de internamento quer seja nos
domicílios.
A Direcção Geral de Saúde, no Programa Nacional de Saúde para as pessoas
idosas de 2004-2010, reitera que, perante evidências como o reconhecido
envelhecimento demográfico, a reestruturação das famílias (famílias de idosos
unipessoais) e os actuais comportamentos sociais e familiares, enormes desafios se
advinham a curto e médio prazo aos sistemas de saúde, de forma a garantir a
eficácia na acessibilidade e qualidade dos cuidados, para que ao aumento de vida
corresponda a um aumento da saúde e bem-estar.
É de vital importância que as pessoas idosas tenham saúde se a consideramos,
conforme a Organização Mundial de saúde, citada pela direcção geral da saúde, no
Programa Nacional de Saúde para as pessoas idosas, (2004-2010),
Como um recurso da vida quotidiana e não apenas um objectivo a atingir, um
conceito positivo que valoriza os recursos sociais e individuais, assim como as
capacidades físicas, pois só assim os mais velhos terão qualidade de vida. (p.6)
Esta saúde passa portanto por um envelhecimento activo, definido como um
processo de optimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança,
para melhorar a qualidade de vida das pessoas que envelhecem, por Who (2002),
citado no Programa Nacional para as pessoas idosas 2004-2010.
A qualidade de vida, nas pessoas idosas é largamente influenciada pela
capacidade em manter a autonomia (capacidade percebida para controlar, lidar
com as situações e tomar decisões sobre a vida do dia-a-dia, de acordo com as
próprias regras e preferências) e a independência, (capacidade para realizar funções
relacionadas com a vida diária, sem ajuda ou com pequena ajuda de alguém) como
nos explica Who (2002).
A promoção da saúde, processo pelo qual proporciona-se ao individuo ter um
maior controlo sobre a sua própria saúde e que compreende não só acções
que visam reforçar as aptidões e capacidades dos indivíduos, mas também as
medidas que visam alterar a situação social, ambiental e económica, de modo
a reduzir os seus efeitos negativos sobre a saúde pública, e sobre a saúde das
pessoas, (p. 7) preconizada pela Carta de Otawa para a promoção da saúde
de Genéve de 1986, e os cuidados de prevenção dirigidas às pessoas idosas,
melhoram a saúde e a qualidade de vida e ajudam a racionalizar os recursos
da sociedade.
Sabendo que a evolução prolongada das doenças crónicas e as doenças não
transmissíveis, por serem insidiosas, incapacitantes, são sem dúvida as principais causas
da morbilidade e da morbilidade nos idosos, com custos elevados para as famílias e
sociedade e que a maioria das complicações destas patologias pode ser retardada e
até evitada, facilmente se compreende o papel do enfermeiro de reabilitação na
promoção da saúde, prevenção primária, secundária e terciária da deficiência,
incapacidade, desvantagem e dependência na população idosa, que aliais é
segundo a direcção geral da saúde e o programa nacional de saúde para as pessoas
idosas,
“…uma abordagem prioritária e indispensável do sector da saúde no quadro
da manutenção, o mais tempo possível, da máxima autonomia e
independência daquelas pessoas, obrigando, concomitantemente a uma
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mudança de mentalidades e de atitudes da população face ao
envelhecimento…” (p.8)
No mesmo programa estão delineadas três grandes estratégias de intervenção
respectivamente, nas áreas do envelhecimento activo, da organização e prestação
de cuidados de saúde e de promoção de ambientes facilitadores da autonomia e
independência. São propostas recomendações para a acção junto das famílias e
pessoas idosas tais como:
Abordar as situações mais frequentes de dependência, nomeadamente por
deficits motores, sensoriais, cognitivos, ambientais e sócio-familiares;
Informar e formar sobre a actividade física moderada e regula e as melhores
formas de a praticar;
Informar e formar sobre a detecção e eliminação de barreiras arquitectónicas
inibidoras da independência
Prestação de cuidados domiciliários a pessoas idosas doentes ou com
dependência
O mesmo programa será depois avaliado através de indicadores de resultados
como a dependência nos auto-cuidados
A secretaria regional de saúde da Madeira no seu plano regional de saúde
2004-2010, também reconhece que a diminuição de funções na população idosa é
evitável e traça como meta para o ano de 2010, o aumento para 20%, dos idosos com
75 anos ou mais com capacidade para ser autónomos, nas actividades domésticas e
actividades de vida diária e para tal propõem-se desenvolver diferentes intervenções,
entre elas, a promoção e protecção da saúde dos idosos
As pessoas com maior risco e numa fase transitória ou já instalada
dependência assumem segundo o programa acima indicado uma intervenção
imediata por parte dos serviços e profissionais de saúde, campo no qual irei incidir o
meu projecto.
Por sua vez o projecto de intervenção em cuidados de enfermagem de
reabilitação nos cuidados de saúde primários da Madeira elaborado pelos enfermeiros
especialistas em reabilitação a exercer funções nos cuidados primários, que data de
2005, reitera
a actuação do Enfermeiro de reabilitação aos três níveis de prevenção,
mencionando a circular de 5/90 de 21 de Fevereiro onde está explícito que o
Enfermeiro de reabilitação deverá actuar precocemente, através de técnicas
específicas a fim de evitar complicações ou sequelas, aproveitando a
capacidade funcional do indivíduo, diminuindo a incapacidade e,
contribuindo para a total reintegração familiar e social da pessoa. (p.7)
Na entrevista individual que realizei com a Enfermeira Mireya Fernandes
(enfermeira especialista em reabilitação a exercer funções no Centro de Saúde do
Caniço), esta confirmou a existência de idosos com diferentes níveis de dependência
em que intervém promovendo a sua mobilidade, com o fim de conseguir o máximo
de autonomia e independência possível dos mesmos.
A minha prática profissional também me incentiva a realizar este projecto já
que é frequente cuidar de idosos cada vez mais dependentes e para os quais ainda
não se consegue dar a resposta atempada e eficaz para impedir as complicações da
imobilidade e aumentar a qualidade de vida do idoso através de um envelhecimento
activo.
Face às evidências populacionais mundiais e particularmente da Madeira, e
de acordo com a minha prática profissional e com as metas de saúde delineadas
pela Organização Mundial de Saúde e da Direcção Geral da saúde Portuguesa, bem
como do Serviço Regional de Saúde entendo ser relevante e importante desenvolver
este projecto, para compreender e aprofundar conhecimentos, pois serei como
enfermeira de reabilitação, uma das intervenientes activas e com papel fundamental
na promoção da mobilidade das pessoas idosas.
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1.2 Objectivos
Ao desenvolver este projecto, tendo como população alvo as pessoas idosas
inscritas no Centro de Saúde do Caniço e suas famílias, tenho como objectivo geral:
Aprofundar as minhas competências teóricas e teórico-práticas sobre promoção da
mobilidade na pessoa idosa
Aspiro, portanto, compreender o papel do enfermeiro de reabilitação na
promoção da mobilidade da pessoa idosa, aprender a identificar as alterações na
mobilidade da pessoa idosa, as evidências que demonstram os problemas e os
factores que influenciam a mesma. Ambiciono melhorar a minha actuação em
conformidade com o conteúdo funcional do enfermeiro de reabilitação. Pretendo
também conhecer e praticar a elaboração de sessões de educação para a saúde,
técnicas, actividades, intervenções de comunicação e relacionais de forma a
promover a qualidade de vida da pessoa idosa e dos seus cuidadores. Terei então
como finalidades:
Educar a pessoa idosa/cuidador sobre a importância da mobilidade, treinando
técnicas e estratégias durante as actividades de vida diária e/ou outras actividades
que promovam a mobilidade na pessoa idosa.
Promover junto dos colegas enfermeiros e outros profissionais de mim dependentes a
importância e as estratégias e actividades a desenvolver para promover na
mobilidade na pessoa idosa.
Para tal encetarei diferentes actividades e pesquisa teórica as quais abordarei
nos subcapítulos seguintes.
1.3 Revisão de literatura
Após a uma pesquisa exaustiva verifiquei existem estudos sobre a mobilidade
da pessoa idosa e sobre a actividade física no idoso, encontrando-se alguns artigos
em suporte digital, sendo mais abundantes a nível internacional do que em Portugal.
No entanto é de realçar, que encontrei poucos projectos ou programas de longa
duração sobre a mobilidade no idoso. O que poderá indicar, que, de acordo com os
estudos que encontrados, estão documentados as vantagens dos exercícios de
mobilização da pessoa idosa, mas ainda é diminuta a prática regular de exercício
físico na pessoa idosa. Importa também salientar o facto de não ter encontrado
trabalhos ou projectos desenvolvidos por enfermeiros de reabilitação. No entanto e
como veremos adiante, existem artigos descritivos sobre a mobilidade da pessoa
idosa.
De seguida exponho os projectos e estudos que seleccionei daqueles que encontrei
na pesquisa bibliográfica, já que melhor se enquadram na temática que estou a
desenvolver.
O Projecto Idade Maior surgiu em 2005 no seguimento de um alerta da
Organização Mundial de Saúde em que afirmou que os centros de saúde são um
factor crítico na manutenção do estado de saúde e da qualidade de vida da
população mais idosa e que o exercício físico, mesmo quando iniciado em idades
mais avançadas, é um forte factor promotor de ganhos em saúde.
O projecto ―idade maior‖, é desenvolvido numa parceria entre a Direcção Geral de
Saúde a faculdade de motricidade humana, da Universidade Técnica de Lisboa (FMH-
UTL) e os laboratórios Pfizer e é um dos galardoados na categoria da ―Educação‖ da
terceira edição dos Prémios Hospital do Futuro. A terceira edição dos Prémios Hospital
do Futuro de 2007 recebeu 155 candidaturas de mais de 70 organizações e
profissionais de saúde. A iniciativa conta com 15 categorias. O ''Hospital do Futuro'' é
um Fórum independente, organizado pela groupVision Saúde, que visa encorajar e
dar suporte à geração de conhecimento, num sector de actividade que intersecta a
política, a tecnologia e a inovação.
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O projecto promove o envelhecimento activo e mais saudável nos idosos e tem
como objectivo promover comportamentos saudáveis que visem a melhoria da
qualidade de vida dos adultos de maior idade (50 ou mais anos), pretende melhorar
os conhecimentos dos adultos de idade maior sobre as vantagens da prática regular
de exercício físico. Os criadores do projecto, propuseram-se formar profissionais de
saúde dos cuidados primários para que assumam o papel de agentes de promoção de saúde e implementem actividades deste género, incluindo exercício físico ajustado
à idade e patologia, para adultos de idade maior.
Em Outubro de 2005 aconteceu a primeira formação nacional em Exercício e
Saúde inserida no Projecto Idade Maior. A partir desta proporcionaram-se sessões
semanais de Exercício Físico, orientadas por especialistas em Exercício e Saúde, em
dois Centros de Saúde do país: Centro de Saúde dos Olivais (Lisboa) e Centro de
Saúde de Águas Santas (Porto). Em Maio de 2006, realizou-se a primeira ―Feira do
Movimento‖ do Projecto Idade Maior para comunicar com a comunidade idosa e
informar sobre o impacto positivo do exercício físico na condição física e na qualidade
de vida. O evento aconteceu nos Jardins de Belém com a participação de cerca de
500 adultos de idade maior e 50 monitores da Faculdade de Motricidade Humana.
Em Junho de 2007 foi aberto ao público um circuito de promoção do exercício
físico no Jardim da Estrela em Lisboa. Quem tiver mais de 50 anos pode treinar
gratuitamente nos 16 equipamentos disponíveis no circuito, que foi desenhado de
forma a permitir o acesso a pessoas portadoras de deficiências motoras. Os aparelhos
foram criados especificamente para cada grupo muscular, com vários graus de
dificuldade, de forma a adequar-se às exigências de cada sénior. Em todos os pontos
de paragem está disponível informação de leitura fácil sobre o modo mais adequado
de praticar cada exercício e o potencial impacto dessa prática no seu estado de
saúde.
A socialização e a redução dos níveis de sedentarismo são outras das
finalidades do circuito, como referiu o director médico do laboratório Pfizer, Aleixo
Dias, um dos promotores da iniciativa. "A morte para a vida começa muito cedo e é
preciso criar estímulos para os mais velhos praticarem alguma actividade física
orientada por profissionais de saúde e desporto", acrescentou Aleixo Dias.
Para a professora Helena Santa Clara, da Faculdade de Motricidade Humana da
Universidade de Lisboa, com exercício os praticantes estarão "mais aptos para o
desempenho das tarefas quotidianas com autonomia, melhorando a sua qualidade
de vida". "A maioria dos adultos de idade avançada têm como grande meta manter
a sua autonomia e funcionalidade até o mais tarde possível no decurso das suas vidas"
e isso pode ser conseguido através do desporto, sustentou.
Segundo Helena Santa Clara, os equipamentos inseridos no circuito vão proporcionar
exercícios de força muscular, de flexibilidade, de coordenação, de equilíbrio e
postura.
Este projecto foi divulgado na Madeira, através dos delegados de informação
médica dos laboratórios da Pfizer, tendo sido iniciado um projecto-piloto no concelho
de Machico, estando neste momento suspenso.
Na minha opinião este é um projecto inovador no cuidado dos idosos, em
todos os aspectos do cuidar da pessoa idosa, compreende a problemática da pessoa
idosa e actua de modo a promover um envelhecimento activo, procurando envolver
a pessoa idosa os técnicos de saúde e os cuidadores.
O Enfermeiro especialista em reabilitação é um dos técnicos por excelência
para trabalhar num projecto como este, já que ele impulsiona a mobilidade no idoso,
como um dos principais componentes para um envelhecimento saudável. A
prevenção e o ensino á pessoa idoso e seus cuidadores são inerentes ao papel do
enfermeiro de reabilitação.
Kuhnen et al desenvolveram, um estudo, integrado no Curso de Licenciatura
em Educação Física da UFSC, Brasil, sobre a influência do exercício físico na força de
membros das pessoas idosas. Trata-se de um estudo descritivo e transversal que
envolveu 200 idosas. Foram utilizados os testes de rosca directa para membro superior
e o teste de levantar e sentar na cadeira em 30 segundos para membros inferiores. Os
resultados apontam uma melhora no nível de força dos membros inferiores e
superiores, portanto um planeamento adequado de exercícios físicos contribuirá
significativamente em ganhos de força muscular. Concluiu-se que os ganhos
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conseguidos a nível de foça muscular poderão interferir no desempenho das
actividades diárias relacionadas com essa qualidade física, como agachar e levantar,
subir e descer escadas, vestir-se, carregar peso, entre outros. Portanto, possibilitando a
conquista de mais autonomia para a realização das actividades da vida diária da
pessoa idosa, o que possivelmente interferirá directamente na qualidade de vida da
mesma.
Kuwano, V. & Silveira, A. M., professores de educação física, por seu lado
estudaram em 2002, ―A influência da actividade física sistematizada na auto
percepção do idoso em relação às actividades da vida diária‖. Os autores
constituíram uma amostra de 40 indivíduos do sexo feminino, com idade acima de 50
anos. Destes, 20 idosos frequentaram as aulas de hidroginástica duas vezes por
semana, e 20 indivíduos não praticavam actividade física, ou seja, eram sedentários. A
pesquisa caracterizou-se como descritiva, e como instrumento de medida utilizou-se
um questionário com 40 perguntas, proposto por Andreotti e Okuma (apud MATSUDO,
2000), o qual se refere às várias actividades realizadas durante a rotina diária do idoso.
Para tratamento dos dados, foi utilizada a escala proposta por Andreotti e Okuma
(apud MATSUDO, 2000), a estatística descritiva e o teste ―t‖ de Student.
Foram comparados os dados de indivíduos que praticavam hidroginástica durante um
ano ou mais e os dados de indivíduos sedentários. Os resultados apontaram que os
indivíduos praticantes de actividade física melhoraram em relação aos aspectos físico,
psíquico e social e receberam um conceito de ―muito bom‖, pontuação máxima na
escala proposta pelo estudo, enquanto os indivíduos sedentários receberam o
conceito de ―bom‖. Houve diferença estatisticamente significativa p <0,05, entre o
grupo de idosos activos e o de inactivos. Concluiu-se que o programa actividades
físicas sistematizadas - hidroginástica -auxilia na manutenção da autonomia do idoso
em relação às actividades da vida diária, e que os idosos percebem os benefícios
proporcionados pela actividade física.
Com base na bateria de testes de avaliação, Fullerton Functional Fitness test,
(validada por Miotto, Chodzko-Zajko, Reich & Supler), está a decorrer um projecto
internacional de comparação da aptidão física funcional de homens e mulheres com
mais de 60 anos de idade, em que parte da participação Portuguesa decorre no
âmbito do Programa de Actividade Física para as pessoas idosas do concelho de
Oeiras, sob a coordenação científico-pedagógica do Núcleo de Exercício e Saúde da
Faculdade de Motricidade Humana. Com o intuito da utilização da bateria de
avaliação acima descrita, em Portugal, foi publicada uma versão portuguesa
adaptada por Sardinha em 1999. É esta bateria de testes que eu também utilizarei no
meu projecto. É também com base nesta bateria de testes, que o projecto ―Idade
Maior‖, (antes referenciado antes neste subcapítulo), baseia a sua avaliação da
aptidão física.
Tais resultados interferem, de maneira positiva, na qualidade de vida dos idosos.
Da revisão de literatura que apresentei depreende-se que todos os estudos
sugerem aspectos benéficos da prática de actividade física Na pessoa idosa.
Concluindo-se que a mobilidade controlada e assistida por profissionais credenciados
para o efeito, é importante e é o caminho a seguir.
Assim se demonstra a importância do projecto que pretendo implementar,
promovendo a mobilidade do idoso, seja qual for o nível de dependência que este
apresente.
Note-se que, surpreendentemente, não encontrei estudos ou projectos sobre a
mobilidade da pessoa idosa, totalmente dependente, (embora tenha encontrado
documentos descritivos sobre o assunto), o que não deixa de ser preocupante, já que
essa o papel do enfermeiro de reabilitação é de extrema importância na mobilização
da pessoa idosa dependente, de modo a não agravar e/ou evitar situações
patológicas e de promover a qualidade de vida das mesmas.
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1.4 Quadro conceptual
Segundo FORTIN e COTÊ (1999, p.93), o quadro de referências é uma
generalização abstracta que situa o estudo num determinado contexto e que lhe dá
um significado particular, isto é uma forma de entender o fenómeno a desenvolver ou
estudar. Constitui assim uma base para a compreensão e interpretação dos diferentes
conceitos e da sua ligação á problemática que pretendemos aprofundar. Ainda
sobre, o quadro de referências, os mesmos autores, refere que este pode ser teórico
ou conceptual, sendo que enquanto o primeiro é a explicação de uma teoria, o
conceptual é um processo interactivo sobre conceitos e a relação entre os mesmos.
Assim optei por apresentar um quadro conceptual, o qual me permitirá
elaborar uma exposição clara e sucinta dos diferentes aspectos da mobilidade na
pessoa idosa, relacionando-os entre si.
Farei uma abordagem teórica do processo de envelhecimento e as principais
teorias que o explicam; a mobilidade no idoso, (que condicionantes interferem na
mesma e que consequências podem acontecer se prevalecer o desuso). Abordarei
também a actividade física na pessoa idosa, já que uma das vertentes no meu
projecto é a de promoção da saúde através da actividade física na pessoa idosa.
Finalmente descreverei a importância e a intervenção do enfermeiro na mobilidade
da pessoa idosa.
1.4.1 O processo de envelhecimento
O envelhecimento tem um grande impacto na vida das pessoas, não só pela
interferência nas suas actividades diárias, mas também pelos inconvenientes sociais e
psicológicos que as limitações que lhe são próprias lhe impõem, perturbando o seu
bem-estar e a sua qualidade de vida.
O envelhecimento é um processo degenerativo que compreende alterações
alterações fisiológicas, alterações psicológicas e alterações sociais.
Segundo Spirduso (1996), citado por Ilano et al (2004) o envelhecimento é um
processo ou grupo de processos, que ocorrem nos organismos vivos e que com a
passagem do tempo levam a uma perda de adaptabilidade, danos funcionais e
eventualmente à morte, sendo uma extensão lógica dos processos fisiológicos de
crescimento e desenvolvimento. O envelhecimento constitui um processo inexorável e
transversal a todos os indivíduos, com reflexos variáveis na vertente fisiológica,
psicológica e social. A par da história genética, a subjectividade das vivências, o
ambiente ecológico, social e cultural onde o indivíduo se desenvolve, são
condicionantes do envelhecimento. ―Cada pessoa é única e envelhece em função
do que viveu.‖, refere Jacques(2004), citado por Loureiro e tal (2007).
Segundo Carvalho (2005) os principais factores desencadeantes do
envelhecimento são a alimentação e a inactividade física, logo se fizermos uma
alimentação saudável e praticarmos alguma actividade física teremos uma melhor
qualidade de vida porque permaneceremos sem as complicações do desuso.
Outros factores como o tempo, a hereditariedade, o meio ambiente e o estilo
de vida, parecem também ter influência no envelhecimento das pessoas.
De acordo Spirduso (1996), citado por Ilano et al (2004), existem dois tipos de
envelhecimento: o primário que representa as mudanças provocadas pela idade,
independentemente das doenças ou influências ambientais; e o secundário que se
refere à rápida evolução deste processo, devido á influência da doença e dos
factores ambientais.
Delimitar a faixa etária da chamada terceira idade, também é uma tarefa
difícil, dado que diversos autores definem cronologicamente este período de vida de
forma diferente. Muitos autores consideram ainda categorias dentro deste período,
Rappoport (1978), citado por Ilano e tal (2004), define três subdivisões na terceira
idade: período de maturidade (dos 50 aos 60 anos), período de velhice (dos 65 aos 80
anos) e período de longevidade (a partir dos 80 anos).
Por uma questão estrutural, funcional e regulamentar, tem sido considerada a
proposta da Organização Mundial de Saúde (OMS) que conceptualiza o idoso pela
idade e grau de desenvolvimento do seu país, propondo para os países desenvolvidos
um limite de 65 anos e para os países em desenvolvimento, 60 anos.
- 12 -
Para a elaboração deste projecto, defini cronologicamente a terceira idade,
como aliais a maioria dos investigadores, a partir dos 60 anos.
1.4.1.1 Teorias do envelhecimento
Embora cada vez mais se procure investigar como e porquê se envelhece,
ainda não está exactamente claro como o nosso corpo, perde funcionalidade. Sabe-
se porém, que o processo de envelhecimento difere de pessoa para pessoa, assim
como de um aparelho ou sistema (cardíaco, respiratório, muscular, etc...) para outro.
Tal como sucede com a idade cronológica não existe consenso sobre as causas
exactas que desencadeiam o envelhecimento. São inúmeras as teorias geradas pelos
grandes avanços científicos e tecnológicos, que tentam explicar este fenómeno.
Spirduso (1996), citado por Ilano et al (2004) resume as tendências mais significativas
classificando-as como Teorias Genéticas, Teorias de Agressão e Teorias do
Desequilíbrio gradual
TEORIAS GENÉTICAS
As teorias genéticas alegam que o processo de envelhecimento, está
programado pelos nossos genes desde o nascimento até a morte. Sugerem também
que existem genes específicos que controlam a longevidade embora não
identificados até agora. Estes genes ditam a idade celular dentro do núcleo celular,
ou que determinados genes são desenvolvidos ou reprimidos durante o
desenvolvimento normal da vida. Uma das teorias mais actuais dentro deste género é
a das mutações do ADN na mitocôndria celular, segundo a qual estas mutações
aumentam durante a vida causando o envelhecimento do mesmo.
TEORIAS DA AGRESSÃO
Estas teorias baseiam-se no conceito de que as reacções químicas que
acontecem de forma natural no corpo começam a produzir uma quantidade
irreversível de danos nas moléculas. Por outro lado introduzimos quantidades de
substâncias químicas no nosso organismo através de diversas fontes como: o ar que
respiramos, o tabaco, os alimentos, incluindo os próprios processos metabólicos do
corpo que deterioram as nossas células. De acordo com os defensores destas teorias,
poderíamos retardar o envelhecimento se controlássemos se minimizássemos a
exposição a estas substâncias químicas.
Uma destas teorias, é a defendida por Johnson (1985), este sustenta que desde
que nascemos estamos sujeitos a micro agressões inevitáveis das quais o corpo se
defende de forma natural. Quando o sistema de defesa deixa de ser efectivo
acontece o envelhecimento, levando a perda de funcionalidade dos órgãos
afectados e, por fim, uma falha no sistema. O referido autor argumenta que as
patologias são o resultado da acumulação gradual de danos não completamente
reparados provocadas às inúmeras micro-agressões. Neste grupo, cabe também a
Teoria dos radicais livres, defendida desde 1954 por o Dr. Denham Harmon. Esta teoria
assenta no seguinte: nos temos no nosso corpo moléculas que são constituídos por
átomos que por sua vez são unidos por ligações químicas. Cada ligação consiste num
par de electrões. Quando esta ligação se desfaz durante as reacções químicas de
defesa do nosso organismo, restam dois electrões agora desemparelhados e instáveis.
Estes fragmentos celulares são altamente reactivos, são os conhecidos radicais livres.
Rapidamente os radicais livres procuram ligar-se por serem muito instáveis e reactivos,
aí acontece o que os cientes chamam de oxidação, o que pode acontecer em
qualquer parte do organismo, perfurando membranas celulares, destruindo enzimas
fundamentais e fragmentando o ADN. Além disso, os radicais livres são notavelmente
reproduzíveis, devido à sua grande energia, um radical livre movimenta-se
rapidamente até bater numa molécula próxima com uma ligação estável. Esta por
sua vez quebra originando dois radicais livres. O radical livre que provocou a colisão
une-se a um dos segmentos então formados. Embora este fique estável, pelo choque
libertam-se mais dois radicais livres. Tudo isto acontece em nanossegundos. Assim
- 13 -
recomeça uma nova reacção em cadeia que produz milhares de fragmentos á
deriva, procurando destabilizar outras células.
Deste modo os radicais livres ao oxidar atacam outros componentes celulares
causando alterações e disfunções que se acumulam ao longo da nossa vida. Muitas
agressões celulares acabam por matar as células, facto frequente à medida que a
idade avança.
Alguns cientistas alegam que o consumo de vitamina A e E reduzem a
quantidade de radicais livres no organismo, pela sua acção antioxidante.
Ao falarmos nas vantagens do exercício físico veremos como este pode ajudar o
organismo a defender-se dos radicais livres.
TEORIAS DO DESIQUILÍBRIO GRADUAL
De acordos com estas teorias o cérebro, as glândulas endócrinas ou o sistema
imunológico começam a falhar progressivamente as suas funções à medida que o
tempo passa, provocando um desequilíbrio orgânico. O sistema nervoso central e o
sistema endócrino são os reguladores e integradores das funções celulares e dos
sistemas orgânicos. As falhas no sistema imunológico desafiam estes mecanismos de
controlo, o que conduz a um alto risco de desenvolvimento patológico.
Embora todas estas teorias sejam investigadas e discutidas separadamente,
existem aspectos comuns que se relacionam e/ou complementam. O envelhecimento
ocorre, devido a uma interacção de causas genéticas, agressões e desequilíbrio
progressivo.
1.4.1.2 Envelhecimento físico, sócio-afectivo e psicológico
Neste subcapítulo descreverei os efeitos deste processo involutivo nas três
dimensões básicas de cada indivíduo, físico, sócio-afectivo e psicológico
ENVELHECIMENTO FÍSICO
O processo natural do envelhecimento produz efeitos ao nível fisiológico dos
sistemas básicos que compõem o nosso organismo. No entanto durante muito tempo,
o conhecimento das alterações fisiológicas da pessoa idosa, não evolui, devido, entre
os outros factores, ao facto dos idosos serem pouco activos e logo economicamente
pouco rentáveis. Mas, o aumento das pessoas idosas a nível mundial á escala mundial,
tornou-se urgente conhecer mais sobre a biologia do processo de envelhecimento.
Outro aspecto que merece ser destacado, é o facto de os idosos serem vistos como o
estereótipo de um doente. Ainda hoje é possível encontrar caracterizações de
alterações advindas do processo de envelhecimento normal como sendo um estado
patológico, sendo a pessoa idosa sendo tratada como alguém doente.
Torna-se assim fundamental esclarecer quais as alterações que decorrem do
envelhecimento normal (senescência) e as alterações consideradas patológicas
(senilidade).
De seguida exporei as principais alterações que se observam a nível dos diferentes
sistemas durante o envelhecimento natural ou senescência. Na minha exposição darei
ênfase aos aspectos que maior influencia têm sobre a mobilidade no idoso, visto este
ser o tema do presente projecto.
Alterações da composição e forma corporal:
Á medidas que envelhecemos acontecem uma diminuição do peso e da estatura.
Essa perda é da ordem de 1 cm por década aproximadamente e começa a
acontecer por volta dos 40 anos de idade. Essa diminuição deve-se, principalmente à
diminuição dos arcos dos pés e ao aumento das curvaturas da coluna vertebral, bem
como à diminuição do tamanho desta, como consequência da perda água dos
discos intervertebrais decorrentes dos esforços de compressão a que são submetidos.
- 14 -
Acontece também o achatamento dos discos vertebrais, o que provoca a diminuição
da altura e alterações posturais.
Fig. 1 - Alterações posturais do idoso devido aos efeitos do envelhecimento a nível da coluna vertebral
Fonte: Imagens do Google, pesquisa coluna vertebral
Fig. 2 – Diferença de estatura entre o adulto e a pessoa idosa
Fonte: Lustri, W. R. & Morelli, J.G.S. (2004). Aspectos biológicos do envelhecimento.
In Fisioterapia Geriátrica. A prática da assistência ao idoso (p.60)
A pessoa idosa também poderá apresentar alterações características que podem
dar ideia da sua conformação típica, tais como o aumento dos diâmetros da caixa
torácica e do crânio, o crescimento contínuo do nariz e do pavilhão auricular.
Acontece também um aumento do tecido adiposo, mais acentuados na região
abdominal.
A quantidade de água corporal também diminui devido á perda intracelular, bem
como devido á perda de potássio, principalmente pela diminuição do número de
células nos órgãos.
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Alterações do sistema locomotor:
A nível do sistema locomotor surgem alterações ósseas, pela diminuição
progressiva da densidade óssea o enfraquece os ossos, fazendo com que uma grande
percentagem de idosos sofra de osteoporose. De acordo com alguns autores, a perda
da densidade óssea no homem é de cerca de 0.35 no homem por ano, enquanto na
mulher é de cerca de 1% ao ano, acentuando-se no período pós-menopausa.
Esta perda óssea caracteriza-se pelo desequilíbrio no processo de modelagem
e remodelagem consequente do envelhecimento, e pode ocorrer por aumento da
actividade dos osteoclastos, por diminuição da actividade dos osteoplastos ou até
mesmo pela combinação de ambos. Esta perda, á medida que a idade avança é
contínua levando á osteoporose. Segundo Lustri & Morelli, (2004), os estudos apontam
para o facto de que as pessoas portadoras de osteoporose apenas procurarem
acompanhamento clínico após o aparecimento de intercorrências, nomeadamente
as fracturas.
Da minha experiência, no nosso meio já muitas pessoas (frequentemente as
mulheres) fazem medicação precocemente, alertadas pelos médicos da sua
importância para minimizar as consequências da perda óssea, no entanto ainda estão
muito de longe de terem uma mentalidade positiva, no sentido de tomar atitudes
protetoras das consequências da perda óssea e da osteoporose, como as quedas e
muitas vezes com repercussões importantes como as fracturas. Simples atitudes de
reformulação da configuração do mobiliário, tapetes e iluminação, são muitas vezes
difíceis de incutir na pessoa idosa.
A perda de óssea também depende da raça, ocupação, dos hábitos alimentares,
da condição económica, entre outros factores. É por isso importante da contínua
remodelagem do osso a qual pode ser realizada por meio da submissão desses ossos a
carga. A actuação das cargas sobre o osso faz com que haja maior deposição de
tecido ósseo. Um exemplo disso é a comparação entre as pernas de alguém que
caminha e alguém paraplégico ou que esteve com um gesso durante um período de
tempo considerável.
A pessoa idosa sofre também alterações das fibras musculares: as fibras de
contracção rápida ou de tipo II diminuem em número e em volume e as fibras de
contracção lenta ou de tipo I, também diminuem em quantidade embora em
proporção menor comparando com as referidas anteriormente. Pensa-se que este
facto pode estar relacionado com o facto de os idosos apresentarem lentidão de
movimentos.
A massa muscular diminui, verificando-se por isso, diminuição do peso muscular
e da área transversal. Também se deve à perda de unidades motoras e ao facto de
nas placas motoras das pessoas idosas as pregas serem mais numerosas e as fendas
sinápticas tornarem mais amplas, reduzindo a superfície de contacto entre o axónio e
a membrana plasmática. Por tudo isto a pessoa idosa apresenta menor força, menor
coordenação dos movimentos e por isso fica também mais susceptível a acidentes,
nomeadamente quedas. As alterações sensoriais e motoras decorrentes do
envelhecimento, especialmente quando associadas ao sedentarismo, podem explicar
as dificuldades na realização de actividades motoras. Sabe-se, por exemplo, que a
força física diminui cerca de 5% a 10% por década entre os adultos que não exercitam
seus músculos. Isso ocorre devido à perda gradual de tecido muscular que
acompanha o processo de envelhecimento.
O trabalho de alongamento e flexibilidade com peso na terceira idade,
permite melhorar a independência da pessoa idosa para realizar as actividades da
vida diária, tais como cozinhar, limpar a casa, fazer compras, sair de casa. Estas
últimas requerem força muscular e flexibilidade para melhorar o padrão da marcha,
estabilizar ombros e melhorar a postura, que influenciarão no equilíbrio.
As articulações existem no sentido de permitir a mobilização e sustentação
mecânica. Com o avanço da idade, no entanto acontece a degeneração da
cápsula articular. À medida que a pessoa envelhece as articulações fibrosas tornam-
se calcificadas ou são recobertas por matriz óssea. Por sua vez a rigidez dos ligamentos
limita a amplitude e a velocidade de movimento dessas articulações. A articulação
da anca juntamente com a do joelho, merecem atenção especial durante o
- 16 -
programa de actividade física, pois são as mais solicitadas nas actividades da vida
diária.
Alterações do sistema cardiovascular:
Acontece o endurecimento de artérias e das válvulas o que dificultam a
circulação sanguínea, levando a um aumento da tensão arterial e logo aumenta o
risco de complicações cardíacas. Dá-se também o aumento de alterações no
trajecto das artérias. A aorta para compensar o endurecimento arterial apresenta o
diâmetro interno aumentado, de forma a reduzir os efeitos hemodiâmicos da
modificação da textura da sua parede.
A nível do coração acumula-se mais gordura, podendo acontece calcificação
das artérias e do ventrículo esquerdo. Os processos arterioscleróticos também atingem
as artérias e arteríolas de menor calibre. Tudo isto provoca alterações no
bombeamento do sangue para todo o corpo.
Alterações do sistema respiratório:
As alterações no sistema respiratório compreendem as mudanças das narinas,
(crescimento de 0.5cm em comprimento e largura), cartilagens costais da traqueia e
dos brônquios com calcificações, rigidez das articulações costoesternais, chegando a
se fundir e formar um único osso. Estas mudanças, levam a que a caixa torácica tenha
menor mobilidade e consequentemente, diminuição da complacência.
A perda de elasticidade pulmonar e a diminuição da superfície alveolar, leva a
um decréscimo do nível de consumo máximo de oxigénio e da capacidade vital. Esta
involução provoca aumento da do risco de infecções e patologias respiratórias. A diminuição da capacidade de realizar esforço físico, que acompanha o
envelhecimento deve-se em grande parte ao declínio gradual da potência aeróbica
ou do consumo máximo de oxigénio (VO2 máximo). As causas deste decréscimo da
capacidade funcional são as alterações fisiológicas que afectam os múltiplos sistemas
orgânicos e originam, em casos de alteração estrutural e funcional grave, a perda da
capacidade funcional e logo a autonomia da pessoa.
O VO2 máximo é um parâmetro fisiológico mensurável que define uma
capacidade individual e determinante da actividade física, este espelha a
capacidade funcional e a reserva física e adaptativa dos vários sistemas orgânicos,
cada um com a sua taxa de declínio ao longo da vida. O decréscimo do VO2 máximo
também pode ser fruto de patologias, factores sociais e hábitos de vida. Aspectos
como a força muscular, peso corporal e capacidade aeróbica estão associados à
incidência de doença e de incapacidade física, o que vêm confirmar a importância
de medidas de intervenção que contrariem a diminuição da aptidão física. Estudos
revelam, segundo Silva (2006), que entre os 20 e os 90 anos o declínio do VO2 máximo
diminui cerca de 1 % ao ano, em ambos os sexos. No entanto, os estudos dizem
também que até aos 50 anos se as pessoas se mantiverem activas fisicamente esse
decréscimo é pouco significativo. A redução do VO2 máximo, parece estar
relacionado com as alterações cardiovasculares, em particular pela diminuição da
frequência cardíaca, (FC máxima) e do declínio do débito cardíaco. As alterações da
regulação do fluxo sanguíneo regional com a idade podem também explicar parte
da diminuição da capacidade aeróbica, bem como a perda de massa muscular e a
diminuição da capacidade oxidativa do músculo-esquelético.
A capacidade adaptativa do organismo humano ao exercício parece
também sofrer uma forte diminuição a partir dos 80 anos. No entanto em idades
avançadas a actividade física melhora a capacidade de consumo de oxigénio e
melhora as respostas orgânicas em esforços sub-máximos. Estes efeitos do exercício
são fundamentais na promoção da saúde e na prevenção secundária em casos em
que já existe doenças, incrementando a capacidade para realizar as actividades de
vida diária e também a autonomia da pessoa idosa para orientar a sua vida.
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Alterações do sistema nervoso:
Neste sistema produz-se um abrandamento no tempo de reacção e no
processamento de informação, resultado da redução de neurónios e à deterioração
dos arcos reflexos, que só se activam com estímulos cada vez mais intensos. A
transmissão de impulsos nervosos é consequentemente cada vez mais lenta,
afectando a capacidade de reacção e coordenação. A concentração e atenção
decrescem, assim como a memória a curto prazo.
Alterações do sistema sensorial:
A informação do exterior chega lentamente á pessoa idosa e por vezes chega
deturpada, isto devido á perda de eficiência dos órgãos sensoriais e da diminuição
dos limiares para a sua estimulação. Este facto por si só altera não só a realização das
actividades de vida diária e das actividades instrumentais da vida diária, mas também
a segurança e estabilidade na deambulação, o paladar, o olfacto e logo afecta as
reacções face ao perigo.
Alterações de outros sistemas:
A longevidade provoca também alterações a nível de outras funções
fisiológicas tais como alterações hormonais, que diminuem a secreção e síntese de
substâncias como a insulina, provocando descompensações metabólicas importantes.
Dá-se nas reservas energéticas e o abrandamento das reacções metabólicas.
DIMENSÃO PSICO-AFECTIVA E O ENVELHECIMENTO
A perda de capacidades sentida pela pessoa ao longo da vida leva muitas vezes
á perda de confiança em si. Existe frequentemente uma diferença entre aquilo que
acreditam poder fazer e aquilo que na realidade conseguem fazer, o que afecta a
sua auto-estima. A esta situação está muitas vezes associado o acontecimento de
mudanças stressantes na vida como a reforma, a perda de amigos e entes queridos,
etc, o que faz com que as pessoas idosas sejam um grupo vulnerável a depressões
frequentes.
DIMENSÃO SOCIAL E O ENVELHECIMENTO
O isolamento, a inactividade e a atitude de afastamento da sociedade é uma
característica da terceira idade. A sociedade, por seu lado centrada nas pessoas
produtivas, não valoriza a pessoa idosa, ninguém prepara a pessoa para quando a
fase produtiva termina e a pessoa tem de se adaptar a uma nova situação social que
deveria ser de descanso das etapas anteriores.
Por tudo isto as actividades, que permitem á pessoa idosa sair do isolamento e
interagir com outras pessoas, promove não só o bem físico mas também a auto-
estima, o convívio, o sentir útil e capaz, prevenindo os estados depressivos e a
morbilidade daí decorrente. Os programas de actividade física são uma boa
alternativa, já que oferecem, não só a ocupação regular do tempo mas também a
promoção da condição física e de saúde, num ambiente lúdico e descontraído onde
interagem com outras pessoas.
1.4.1.3 Mobilidade na pessoa idosa
Quando não há a promoção da mobilidade na pessoa idosa, acontecem
vários efeitos adversos, que se tornaram melhor conhecidos nos últimos cinquenta
anos, embora muitos dos mecanismos fisiopatológicos não estejam totalmente
esclarecidos ou permaneçam alvo de alguma controvérsia.
O reconhecimento das consequências da inactividade no organismo só foi
admitido em termos de estratégia de saúde a partir dos meados do século XX. Hoje
em dia só em situações de grande instabilidade e muito pontuais é que se preconiza o
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repouso como coadjuvante nos processos terapêuticos. O levante precoce, após uma
situação de doença, é hoje reconhecido como essencial, para minimizar as
complicações da imobilidade.
O descongestionamento, (o conjunto de alterações fisiológicas induzidas por
vários sistemas orgânicos pela inactividade física) são reversíveis com o
restabelecimento da actividade. A imobilidade não se associa apenas ao repouso
prolongado, os estilos de vida sedentários também condicionam os efeitos nefastos no
organismo. A inactividade resultante da inactividade crónica (sedentarismo) ou
motivada por uma intercorrência que obrigue ao repouso vai condicionar uma
inevitável redução da actividade muscular que, por sua vez, leva a alterações de
funcionamento de todos órgãos do corpo.
Os indivíduos mais susceptíveis de desenvolver os efeitos adversos da
imobilidade são aqueles que apresentam doenças crónicas, portadores de algum tipo
de deficiência e os idosos.
Para além das alterações próprias do envelhecimento, há dois factores que
contribuem de forma significativa para essa maior susceptibilidade: as múltiplas
patologias frequentemente encontradas nesta faixa etária (osteoporose, doença
cardíaca, etc.) e a falta de apoio social e familiar, que contribui para um isolamento e
inactividade progressivos. Assim paralelamente às alterações normativas do
envelhecimento, estudos epidemiológicos descrevem uma maior morbilidade e
mortalidade associados a esta faixa etária. Sanchez (2000), citado por Loureiro et al
(2006) refere que as transformações físicas e a fragilidade das condições de saúde nas
pessoas idosas podem comprometer a sua capacidade funcional, originando com
frequência dependência e a perda de autonomia. Na maioria dos países industrializados, a actual taxa de dependência é cerca
de dois adultos independentes, para cada pessoa dependente, [Berger, (2003), citado
por Loureiro et al (2006)]. A idade não é um prognóstico exacto de dependência das
pessoas, no entanto dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), revelam que entre
a população com dependência, o índice de envelhecimento é de cerca 5,5 vezes
superior ao da população total. O inquérito nacional de saúde de 1998/1999, por sua
vez, refere que a hipertensão arterial é uma das doenças crónicas mais frequentes
entre idosos, com reflexos directos na ocorrência de patologias cardiovasculares e
situações de dependência. As doenças do aparelho circulatório são também
apontadas pelo INE como sendo a principal causa de mortalidade nesta classe etária.
Outro factor de risco importante para a ocorrência destas doenças é o sedentarismo.
Dados da Direcção Geral da Saúde (DGS), referem que Portugal é o país da União
Europeia com os mais elevados níveis de sedentarismo e que a inactividade física
contribui com 3,3% para o peso da doença.
Entre as pessoas idosas, a prática de exercício físico também não é uma
constante. Segundo o Inquérito Nacional de Saúde 1998/1999 a maioria das pessoas
idosas não efectuou qualquer tipo de exercício físico nos meses anteriores ao inquérito,
preferindo actividades mais sedentárias como ler e escrever. O declínio dos níveis da
actividade física habitual da pessoa idosa acentua a redução da aptidão funcional
própria do processo de envelhecimento. Simultaneamente, a pouca tolerância ao
esforço, faz com que um grande número de pessoas na terceira idade viva abaixo do
seu limiar de capacidade física, constituindo uma pequena interferência na saúde, o
motivo para se tornarem totalmente dependentes. A prática regular de exercícios tem
sido enfatizada como estratégia para um envelhecimento sadio. Os efeitos da
imobilidade são progressivos e devastadores podendo reflectir-se ao nível funcional,
psicológico e social. As pessoas idosas constituem um dos grupos mais vulneráveis às
suas complicações. A inactividade torna patológico o processo de envelhecer.
Efeitos da imobilidade no sistema músculo-esquelético
A imobilidade induz a alterações importantes a nível do ósseo, cartilagíneo,
muscular e outros tecidos moles. Os principais problemas a nível músculo-esquelético
são atrofia, fraqueza muscular, contracturas e a osteoporose.
Com a imobilização ocorre 1 a 2% perda da força muscular por dia, podendo
atingir 40% nos longos períodos. As fibras I e II sofrem atrofia ocorrendo diminuição do
seu comprimento e diâmetro, perdendo-se também em número de microfibras. Como
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resultado destas alterações dá-se o decréscimo da contracção máxima e da
resistência muscular.
Os grupos musculares que se atrofiam mais rapidamente são: os quadríceps, os
flexores plantares e extensores da coluna. Observam-se também alterações
bioquímicas, ocasionando o aumento de ácido láctico nos músculos.
As contracturas por sua vez acontecem como resultado do desequilíbrio de
factores que normalmente ocorrem harmoniosamente. A falta de estiramento
muscular provocada pela inactividade, vai alterar a homeostasia entre a formação e
reparação do colagénio, que é o principal elemento constituinte do tecido conjuntivo,
do osso, cartilagem e tecidos moles. O colagénio é importante para a realização das
acções mecânicas. Logo se elementos como o colagénio não se encontram em
qualidade e em quantidade necessária, acontecem as contracturas.
A imobilidade contribui também para uma menor extensibilidade dos tecidos
conjuntivos peri-articulares, sendo a cápsula articular particularmente susceptível aos
efeitos adversos da inactividade e desuso, já que a sua nutrição é feita durante o
movimento articular e compressão. Os músculos mais afectados são os isquiotibiais e
os músculos rotadores internos do ombro. A imobilidade contribui para importantes
modificações na remodelação óssea, com um acréscimo da perda da massa óssea.
A osteopénia devida á imobilidade caracteriza-se por uma perda de cálcio e
hidroxiprolina no tecido ósseo, sendo o aumento da reabsorção o responsável primário
pela osteoporose da imobilidade, embora a explicação deste acontecimento
permaneça pouco esclarecida.
Efeitos da imobilidade no sistema cardiovascular
As alterações principais ocorridas na sequência da imobilidade no sistema cardio-
vascular são conhecidas como ―síndroma de adaptação cardiovascular‖.
A frequência cardíaca em repouso aumenta cerca de um batimento por minuto
por cada dois dias de inactividade, conduzindo á chamada taquicardia de
imobilidade. Em resposta ao exercício sub-máximo acontece um aumento da
frequência cardíaca.
Uma pessoa saudável ao alterar a sua posição de decúbito para a posição
ortostática a sua frequência cardíaca aumenta cerca de 13%. Após 3 dias, 1 semana
e 3 semanas de repouso esse aumento é de cerca de 32%, 62% e 85%
respectivamente.
A nível do volume da ejecção sistólica também acorre, com a inactividade, uma
diminuição, que pode atingir os 15% após duas semanas de inactividade. Esta
alteração parece estar relacionada com a diminuição do volume de sangue
circulante e da pressão de enchimento cardíaco.
A diminuição do volume sistólico acompanha-se de um rápido declínio do débito
cardíaco em resposta ao exercício sub-máximo, já que o mesmo não é compensado
pelo aumento da frequência cardíaca.
Dá-se também uma diminuição do consumo máximo de O2, isto devido às
alterações a nível do débito cardíaco e da utilização deficiente do O2 periférico.
Após aproximadamente 20 dias de inactividade, o VO2 máximo pode diminuir 27%,
facto que assume primordial importância no caso das pessoas com patologia
cardíaca, cuja isquémia do miocárdio pode agravar-se.
O VO2 máximo é de capital é de capital importância na prescrição da actividade
física na pessoa idosa, bem como na capacidade funcional deste grupo etário
envolvendo diferentes sistemas fisiológicos, pelo que abordaremos o mesmo num
subcapítulo adiante.
A restrição da actividade física também provoca um declínio gradual da
capacidade cardiovascular máxima, visto que a eficácia da resposta cardiovascular
ao músculo depende da frequência com que a capacidade muscular é solicitada.
Os fenómenos tromboembólicos, como a trombose venosa profunda também
estão directamente relacionados com a imobilidade, já que resultam da
hiperviscosidade, associada á estase sanguínea condicionada pela lentificação da
circulação dos membros inferiores. A viscosidade acontece porque há diminuição
progressiva do volume de sangue circulante relacionada com a diminuição da
pressão ortostática e da secreção de hormona anti-diurética (ADH). Assim o volume
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plasmático diminui em maior proporção que a massa de glóbulos rubros dando-se o
aumento da viscosidade sanguínea.
A hipotensão postural é outro efeito nefasto da imobilidade. Traduz-se na na
incapacidade do sistema cardiovascular se ajustar rapidamente á posição ortostática.
A pessoa ao erguer-se após um período longo de repouso cerca de 500ml de
sangue desloca-se do tórax para os membros inferiores e região esplâncnico. Como
consequência, acontece uma diminuição do retorno venoso ao coração, que por sua
vez leva á diminuição do volume sistólico, do débito cardíaco e da pressão sistólica.
Numa pessoa saudável a descida da tensão arterial é rápida contrariada pela
acção do sistema simpático, que de imediato aumenta a frequência cardíaca e
restabelece os valores tensionais através da constrição dos vasos dos membros
inferiores e mesentéricos. No entanto numa pessoa sedentária o sistema circulatório é
incapaz de desencadear uma resposta adequada vasopressora simpática e de
manter a tensão arterial estável. Nas pessoas saudáveis a adaptação à postura
ortostática pode ser perdida após de 3 semanas de inactividade. No caso das pessoas
idosas essa adaptação é perdida antes de 3 semanas e a sua recuperação exige um
maior período tempo.
Efeitos da imobilidade no sistema respiratório
No sistema respiratório, as consequências iniciais da imobilidade traduzem-se
na diminuição dos movimentos torácicos e alterações da perfusão sanguínea nas
diferentes regiões pulmonares induzidas pela gravidade.
Dá-se o aumento da perfusão hidrostática e da pressão venosa nas diferentes
regiões pulmonares pela alteração da gravidade, principalmente nas pessoas
acamadas, alterando também o equilíbrio entre a ventilação e a perfusão.
A mudança da posição supino para a posição de decúbito condiciona uma
diminuição de 2% na capacidade vital, 7% na capacidade pulmonar total, 19% no
volume residual e 30% na capacidade residual funcional. O volume de ar corrente,
volume por minuto, capacidade respiratória máxima, capacidade vital e a
capacidade de reserva funcional sofrem uma redução de 25 a 50%, após um longo
período de repouso. As secreções da mucosa tendem a acumular e a tosse pode ser
ineficaz por causa da piora da mobilidade ciliar e da fraqueza dos músculos
abdominais. Justificando uma das mais temidas complicações, a broncopneumonia,
que acomete 15% das pessoas idosas acamadas.
Efeitos da imobilidade no sistema gastro-intestinal e genito-urinário
As alterações no aparelho intestinal e urinário são frequentes e significativas,
pelo desconforto e alteração na independência da pessoa idosa e são muitas vezes
negligenciados ou minimizados na sua importância.
A anorexia é um sintoma muito frequente e, associada à diminuição da taxa
de absorção, pode contribuir para o aparecimento de uma hipoproteinemia de
causa nutricional.
Acontece também a diminuição do peristaltismo e da função secreção do
tracto gastrointestinal, que contribuem para a obstipação, quase sempre presente na
pessoa idosa.
A imobilidade é também responsável pelo aumento da actividade
adrenérgica, que condiciona uma inibição do peristaltismo e a contracção de
esfíncteres.
No aparelho urinário a imobilidade contribui para o aumento da incidência das
infecções urinários e da litíase urinária, os factores que condicionam o aparecimento
destes problemas são a hipercalciúria, o desequilíbrio entre o ácido cítrico e o cálcio e
a excreção aumentada de fósforo.
Nas pessoas acamadas há que referenciar ainda a dificuldade em iniciar a
micção e o esvaziamento incompleto da bexiga devido á posição de decúbito e
também pela ausência da pressão intra-abdominal secundária à fraqueza da
musculatura abdominal e descondicionamento e ainda devido ás alterações da
musculatura da bexiga e esfíncteres.
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Efeitos da imobilidade no sistema cutâneo
A imobilidade provoca, além da perda hídrica, alterações no vigor e
elasticidade da pele, facilitando as lesões dermatológicas, exemplo a dermatite
amoniacal pelo uso de fralda geriátrica e a úlcera de decúbito. Estas complicações
provocam grande sofrimento á pessoa, ao cuidador e são responsáveis por grandes
gastos económicos, a nível de tratamentos e podem ser no entanto minimizadas.
Efeitos da imobilidade no sistema endócrino
A falta de actividade física pode levar a alterações das respostas hormonais.
Acontece uma significativa intolerância aos hidratos de carbono, que surge
precocemente e está directamente relacionada com a ineficaz captação periférica
de glicose, que pode diminuir cerca de 50% após 15 dias de inactividade. Este facto
acontece devido á resistência à acção da insulina, com consequente aparecimento
de hiperglicémia e hiperinsulinémia. Uma explicação possível desta reacção corporal
consiste no decréscimo do número de receptores da insulina nas células alvo. A
inactividade parece causar uma diminuição dos locais de ligação da insulina,
principalmente a nível da membrana muscular.
Outro efeito hormonal importante advindo da imobilidade é o aumento da
paratormona (PTH) sérica que se está relacionada com a hipercaliémia, mas cujo
mecanismo ainda não está explicado.
Os níveis de colesterol total também aumentam com a imobilidade.
Efeitos da imobilidade no sistema nervoso
Do ponto de vista psicológico a imobilidade prolongada pode provocar
ansiedade, depressão, insónia, agitação, irritabilidade, desorientação no tempo e no
espaço, diminuição da concentração e diminuição da tolerância à dor. O isolamento social em pessoas activas pode causar, por si só, ansiedade,
labilidade emocional, mas geralmente não provoca alterações intelectuais. No
entanto a imobilidade prolongada pode causar alterações das funções intelectuais,
em especial da concentração e da orientação temporal e espacial.
A diminuição da tolerância à dor pode do mesmo modo causar irritabilidade,
hostilidade, insónia e depressão, evidentes após 2 semanas de isolamento e
imobilidade.
A falta de concentração e motivação associadas à diminuição das
capacidades psicomotoras podem afectar a pessoa até um estado de dependência
funcional.
Podem ainda surgir alterações do equilíbrio e da coordenação, que parecem
estar associados a alterações neuronal e menos com a fraqueza muscular.
O quadro I exposto na página seguinte resume as implicações da imobilidade
nos diversos sistemas.
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Quadro I – Efeitos da imobilidade nos diferentes sistemas orgânicos
Os efeitos adversos da imobilidade como vimos podem ser muito graves,
levando á dependência total e até à morte, principalmente na população idosa. Daí
ser fundamental conhecermos e estarmos despertos para detectá-las precocemente,
mas acima de tudo para preveni-las.
Assim é fundamental impedir as implicações da imobilidade através de
medidas de prevenção eficazes, tais como o incentivo á actividade física.
A actividade física dirigida para a especificidade da pessoa idosa traz
vantagens inquestionáveis. A melhoria da condição física, da auto-estima e o
aumento da interacção social são exemplos referidos na literatura. Também a OMS
reconhece que a actividade física é da maior importância para manter uma boa
saúde física, mental e social, assim como bem-estar dos indivíduos e das
comunidades. Vários estudos demonstram que o exercício físico promove mudanças
qualitativas significativas na vida das pessoas.
Os profissionais de saúde devem investir em programas de promoção da
saúde, de forma a incentivar os idosos a manterem-se activos, como enfatizam
inúmeros autores tais como, Loureiro e tal (2006)]. As actividades devem ser
precedidas de uma avaliação da aptidão física do idoso. Os programas devem ser
personalizados e supervisionados.
As pessoas idosas mais independentes terão vantagem em realizar exercício
em grupo num Ginásio, Piscina, Centro de Dia/Convívio ou outros grupos organizados
já que, o que se preconiza, é que deixem a sua casa para conviver, ao mesmo tempo
que praticam exercício. Devem informar-se dos recursos disponíveis da comunidade
onde residem. Os municípios dispõem de inúmeras actividades interessantes e
gratuitas para esta faixa etária. A pessoa idosa dependente, por sua vez deverá ser
foco de especial atenção, nomeadamente de todos os Enfermeiros e concretamente
EFEITOS DA IMOBILIDADE Sistema músculo-esquelético
Atrofia e fraqueza muscular Contracturas Rigidez articular Osteoporose Instabilidade postural e quedas
Sistema cardiovascular
Aumento do trabalho cardíaco Diminuição da reserva cardíaca Hipotensão ortostática Fenómenos tromboembólicos
Sistema respiratório Alteração do padrão ventilatório Inadequada mobilização de secreções
Sistema urinário
Distensão vesical Estase urinária Aumento risco de infecção Incontinência Formação de cálculos renais
Sistema gastrointestinal Anorexia Obstipação Sistema metabólico Aumento da intolerância aos hidratos de carbono Propensão para diabetes Hipercalciúria Hiponatrémia
Tegumento Alterações da circulação periférica Diminuição da capacidade regenerativa
Psicossociais
Isolamento; Diminuição da auto-estima Perturbações do sono Alterações cognitivas; Alterações do humor
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dos Enfermeiros Especialistas em Reabilitação pois, quanto maior for o declínio das
funções e a dependência física, maior é a tendência para acentuar a inactividade.
1.4.3 Actividade física na pessoa idosa
A melhoria da qualidade de vida durante a velhice é um dos principais
desafios do século XXI. A medicina não pode fazer tudo sozinha, a maior fatia de
responsabilidade está na própria pessoa, no seu estilo de vida. Os comportamentos
tipicamente associados às pessoas idosas, referem-se à passividade e imobilidade,
com reduzida actividade física, criando determinado tipo de padrões e estereótipos
que determinam, frequentemente, a forma de agir deste extracto populacional. Este
sedentarismo das pessoas idosas é, geralmente, mais o resultado de imposições sociais
e culturais do que uma incapacidade funcional da sua sustentação, refere Spirduso,
(2005), citado por Carvalho (2006). De facto, a senescência associada ao declínio das
diversas funções e órgãos, não deve ser atribuída exclusivamente ao envelhecimento
por si, mas fundamentalmente à inactividade física e ao desuso, acrescenta o mesmo
autor.
Por outro lado, a literatura é cada vez mais consensual quanto à possível
relação entre estilos de vida menos activos e o incremento de determinadas
patologias características das sociedades mais industrializadas, relatam BRACH et al.,
2004; ABETE et al., (2006), citados por Carvalho (2006). Pelo contrário, o aumento da
actividade física, entendida não apenas no seu aspecto formal e codificado mas
também não formal, tem reflexos determinantes na diminuição dos efeitos deletérios
do envelhecimento dentro dos vários domínios físico, psicológico e social (ACSM, 1998;
DALEY &SPINKS, 2000; ANDREWS, 2001). Adicionalmente, são notórios os efeitos da
actividade física na melhoria da composição corporal e consequentemente na
redução de factores de risco das diferentes patologias características da sociedade
contemporânea (RAGUSO et al., 2005, citado por Carvalho, 2006).
Um estilo de vida mais activo, permite á pessoa idosa manter ou melhorar as
suas capacidades funcionais, a independência e a qualidade de vida.
A actividade física na pessoa idosa encerra vários objectivos aos níveis físicos e
fisiológico, social e psicológico, que se resumem num objectivo principal que é a
melhoria do bem-estar e da qualidade de vida da pessoa idosa.
Mas esta procura do aumento da qualidade de vida mediante a prática de
actividade física só pode ser efectiva num envolvimento em que o sujeito se sinta
plenamente integrado e no qual se possa perspectivar o seu desenvolvimento no seio
de um grupo socialmente relevante, particularmente nos aspectos afectivos.
Dada a sua importância sobre a saúde, condição física e funcionalidade e
logo sobre a qualidade de vida da população, torna-se fundamental criar e promover
a ideia em todos os escalões de um estilo de vida activo. Os programas de actividade
física podem e devem surgir como um interesse especial em todas as etapas da vida.
De facto, actualmente as gerações vivem segmentadas em espaços
exclusivos. A ―compartimentalização‖ de espaços sociais para as diversas gerações é,
infelizmente, cada vez mais aceite como normal nas nossas sociedades onde
facilmente se observa a separação dos diferentes escalões etários. Crianças,
adolescentes, adultos e idosos ocupam áreas reservadas, como creches, escolas,
escritórios, asilos, locais de lazer, etc., compartilhando com cada vez menor
frequência os mesmos lugares e situações.
As regras de conduta estão geralmente bem definidas para as diferentes fases
da vida e são expressas através do desempenho de papéis sociais. Hoje em dia, as
gerações são socialmente construídas e o destaque centra-se fundamentalmente no
adulto, existindo, muitas vezes, uma descontinuidade entre as noções de criança,
adolescente, adulto e do idoso. Trata-se, de certo modo, de um preconceito que vê
no adulto a fase áurea ou plena da vida, desmerecendo quem ainda não chegou a
esse momento e também aqueles que já ultrapassaram determinada faixa etária.
Nessa perspectiva, a velhice é, muitas vezes, tida como sinónimo de
decadência, fraqueza e de improdutividade.
Estas imagens são negativas e não raramente deprimentes, insistindo em
estereótipos que sugerem uma exclusão social.
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Assiste-se a um progressivo esvaziamento de papéis, que leva a pessoa idosa a
um crescente isolamento e inactividade subjacente.
O envelhecimento não pode ser mais encarado como uma doença e um
obstáculo para a prática de exercício físico. A pessoa idosa não é um ser fraco,
incapacitado, isolado e senil. A idade apenas constitui uma inevitabilidade do ponto
de vista biológico. Com efeito, as pessoas idosas de hoje vivem mais tempo, mas é
premente que vivam em qualidade e integrados na sociedade e na família.
Assim, tendo por base a configuração de todos os argumentos anteriormente
referidos, torna-se importante discutir os aspectos pedagógicos envolvidos no processo
de educação de pessoas idosas, crianças e jovens, tendo por referência as
actividades físicas. Carvalho (2006) refere ÁLVAREZ (2003) para sustentar que, entre
outras, nas actividades intergeracionais não se considera mais a velhice como
improdutiva, pelo contrário ―a educação intergeracional rende homenagem à
sabedoria que significa maturidade de pensamento, sentimento, conduta percebida
[...] e lembra que a vida activa não pode ter fronteiras‖.
Por isso, reitero que as actividades físicas se podem constituir como uma
adequada estratégia de aproximação, fomentando a relação que se estabelece
entre as pessoas idosas e as demais gerações. A actividade física deve surgir como
elemento potenciador das relações intergeracionais, constituindo-se simultaneamente
como um meio determinante para melhorar a saúde, funcionalidade e qualidade de
vida da pessoa idosa.
Em síntese, poderemos afirmar que a essência dos programas de actividade
física para a pessoa idosa devem consubstanciar as particularidades específicas à
população em causa, permitindo, simultaneamente colocar em destaque as relações
intergeracionais.
1.4.3.1 Benefícios da Actividade física na pessoa idosa
A vida é movimento. O movimento é crucial para garantir não somente as
necessidades básicas, tais como alimentar-se, vestir-se e proteger-se, como também
para obter o preenchimento das necessidades psicossociais mais elevadas que
envolvem a qualidade de vida. A manutenção da independência no pensamento e
na mobilidade é um desejo universal.
Ao fazermos exercícios, esperamos aumentar por isso a qualidade de vida,
diminuir o risco de quedas e manter e/ou melhorar a função em diversas actividades.
Os benefícios da actividade física são sistémicos e podem ser vistos como
sendo favoráveis para todos os sistemas e funções corporais, desde que os fenómenos
de desgastes sejam diminuídos antes de provocar lesões irreparáveis no organismo.
Os efeitos positivos da resposta sistémicas aos exercícios aeróbicos pelos
sistemas cardio-pulmonar e cardiovascular, bem como pelo sistema músculo-
esquelético, estão bem documentados.
É importante realçar que a actividade física requer uma participação contínua
e regular para que se verifiquem efeitos positivos, quer a curto quer a longo prazo.
Assim consideramos como benefícios para a pessoa idosa as abaixo
apresentadas, conforme nos indica Ilano et al (2004)
Benefícios físicos:
Ajuda regular os níveis de glucose
Estimula os níveis de adrenalina e noraadrenalina
Melhora o sono, tanto em qualidade como em quantidade
Melhora a resistência cardiovascular/aeróbica
Provoca aumento da força muscular
Ajuda a preservar a flexibilidade
Melhora o equilíbrio e a coordenação (muito importante na prevenção das
quedas)
Controla a velocidade de movimento
Favorece o fortalecimento do coração e vasos
Melhora da velocidade ao andar e do equilíbrio
Melhora os reflexos
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Melhora da mobilidade da pessoa idosa
Melhora da auto-eficácia
Contribuição para a manutenção e/ou o aumento da densidade óssea
Melhora o controlo motor
Atrasa o aparecimento de alterações posturais e de lesões articulares
Aumenta a resistência a problemas pulmonares
Previne a osteoporose
Ajuda a controlar a obesidade
Melhora da ingestão alimentar
Auxílio no controle da diabetes, da artrite, das doenças cardíacas e dos
problemas com colesterol alto e hipertensão
Benefícios psicológicos:
Favorece o relaxamento
Reduz e evita as depressões
Reduz o stress
Melhora o humor
Melhora a função cognitiva
Melhora a confiança e satisfação pela vida
Proporciona novas aprendizagens
Benefícios sociais:
Fomenta a integração e as relações sociais e culturais
Fomenta a participação na comunidade
Fomenta novas amizades
Fomenta o desempenho de novos papéis sociais
Desenvolve a actividade social e o sentimento de satisfação e produtividade
Fomenta o convívio entre diferentes gerações
A actividade física é, portanto, essencial para a promoção das relações sociais, da
saúde física e psicológica, colaborando desse modo para retardar o processo de
envelhecimento e proporcionando uma velhice mais autónoma e independente, com
uma qualidade de vida elevada, além de diminuir a incidência de doenças crónicas
e degenerativas. Shephard (2003) coloca que exercício regular reduz a idade
biológica de 10 a 20 anos.
Além dos referidos ainda podemos referir benefícios da actividade física na pessoa
idosa importantes para a própria sociedade nomeadamente, a diminuição dos custos
de saúde, pois os custos com uma pessoa dependente são 8 vezes maior ao de uma
pessoa que envelhece saudável. Ao fomentar a actividade o exercício físico, estamos
também a promover a actividade profissional ou voluntária. Por último, promove a
imagem positiva e activa da pessoa idosa, ao contrário do que acontecia até agora,
embora já se assista ao inicio da mudança de mentalidades e de atitudes neste
sentido.
1.4.3.2 Programação da actividade física para a pessoa idosa
Antes de prescrever um programa de exercício físico é primordial conhecer a
pessoa ou grupo de pessoas que queremos treinar, concretamente as suas limitações
e capacidades.
Ao prescrevermos o programa de exercícios temos objectivo principal melhorar
o bem-estar e a qualidade de vida da pessoa idosa e para o atingirmos delineamos
objectivos específicos nos domínios cognitivo, sócio-afectivo e motor, como nos
descreve Ilano et al, (2004). Deste modo queremos que a pessoa seja capaz:
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Na área Cognitiva:
Melhorar os aspectos cognitivos através da estimulação perceptiva
Conhecer a execução correcta de cada exercício
Valorizar os benefícios da actividade física para o seu corpo
Conhecer as técnicas de respiração e relaxamento
Conhecer as posturas incorrectas e como corrigi-las
Conhecer e valorizar as suas próprias possibilidades de movimento
Na área Motora:
Melhorar o desempenho das actividades de vida diária
Melhorar o desempenho das habilidades motoras básicas
Superar pequenas limitações físicas
Manter ou melhorar o tonús muscular
Adquirir a percepção e controlo postural do corpo
Aplicar as técnicas de respiração e de relaxamento
Manter ou aumentar o nível das qualidades físicas
Na área Sócio-Afectiva:
Utilizar adequadamente o tempo livre
Conhecer e aceitar as suas limitações e as do próximo
Aumentar os níveis de auto-estima e auto-confiança
Aumentar os níveis de independência e autonomia
Aumentar a interacção social
1.4.3.2.1 Prescrição de actividade física
A prática de exercício físico deve obedecer a princípios fundamentais da
prescrição de exercícios, que se designam por duração, frequência, quando
prescrevemos um programa de actividade física para a pessoa idosa temos de ter em
conta que estes apresentam inúmeras restrições pela idade, pela doença, e que, um
grupu de idosos raramente é homogéneo, logo pelo seu processo de envelhecimento
que é individual, bem como pelo seu estado de saúde e nível de aptidão física.
Relativamente à frequência, esta varia conforme o tipo de trabalho, dos
objectivos, do programa de actividade física e da intensidade de cada sessão.
São recomendadas 2 a 3 sessões semanais para manutenção e/ou melhoria a
médio ou longo prazo. Se pretendermos benefícios a curto prazo e se o grupo tolerar
podemos aumentar o número de sessões.
No que concerne à duração de cada sessão, esta também varia conforme o
nível físico do grupo de pessoas idosas e dos objectivos que pretendemos atingir. No
entanto de acordo com a bibliografia consultada esta não deverá ultrapassar os 60
minutos. Este tempo é distribuído, pelas fases que compõem a aula, temos:
Aquecimento - 10 a 15 minutos
Parte principal - 30 a 40 minutos
Relaxamento – 10 a 15 minutos
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As características que apresento de seguida, elucidam como deverá ser a
actividade física de modo a conseguir a adesão da pessoa idosa e o alcance dos
objectivos propostos.
O Aquecimento
Cada sessão de actividade física deverá iniciar-se com a explicação de como
decorrerá, nomeadamente em termos de tempo e de exercícios que serão
praticados.
De seguida, segundo Ilano et al (2004) deverá decorrer uma activação geral
com o propósito de elevar a temperatura corporal e a circulação sanguínea para os
músculos, permitindo ao organismo ajustar-se progressivamente à actividade física.
Para tal pode utilizar-se actividades socializantes de baixa intensidade ou actividades
exploratórias com diferentes materiais.
Dever-se iniciar pelo alongamento e exercícios de reduzida complexidade dos
grupos musculares de maior dimensão e só depois para os outros de pequena
dimensão. Deve também acompanhar com exercícios de controlo respiratório.
Parte principal
Nesta fase desenvolvem-se exercícios que venham de encontro aos objectivos
pretendidos. De acordo com Skinner (1987), citado por Ilano et al (2004) estes
exercícios deverão executar-se num nível de intensidade que as pessoas idosas
consigam tolerá-las durante 15 a 20 minutos.
O Relaxamento
O relaxamento é fundamental, já que irá permitir que a pessoa idosa, volte á
sua frequência cardíaca de repouso. Assim é realizada uma diminuição gradual da
intensidade e da repetição dos exercícios. Exercícios de respiração, marcha lenta e
CARACTERÍSTICAS DA ACTIVIDADE FÍSICA
SEGURA Atender à condição individual da pessoa
idosa
AGRADÁVEL
Ir de encontro às preferência da pessoa idosa
e se possível incluir família e amigos
CONVENIENTE
Ser passível de inclusão nas AVD e AIVD
(andar a pé, evitar elevadores, sair uma ou
duas paragens de autocarro antes)
REALISTA Ajustada às capacidades da pessoa idosa
ESTRUTURADA
Obedecer a programas pré estabelecidos,
mas flexíveis, evitando o desinteresse e a não
adesão
REGULAR
Diária ou pelo menos em dias alternados.
Executada durante cerca de 30 minutos por
dia, (este tempo deve ser ajustado à
tolerância de cada pessoa)
INTENSIDADE
Ligeira, Moderada ou Intensa
(De acordo com a condição física e o
grau de dependência do grupo ou pessoa)
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alongamentos são sugestões interessantes para esta fase das sessões de actividade
física.
A Intensidade
Para avaliarmos e prescrevermos o exercício adequado a cada pessoa idosa,
devemos ter elementos objectivos que nos determinem que intensidade aplicar á
actividade física para a pessoa ou grupo de pessoas a treinar. Assim temos a
frequência cardíaca, pode ser medida manual ou mecanicamente através de
aparelhos indicados para tal.
Deverá conhecer-se a FC repouso que se avalia antes de iniciar a actividade
física e após a fase de relaxamento total (após um repouso de 20 minutos), após as
aulas de actividade física.
A frequência cardíaca máxima também é calculada através da fórmula
FC máx = 220- idade actual,
Este cálculo é fundamental, sabendo que a zona segura de treino para a
pessoa idosa na fase aeróbia situa-se entre os 50% e os 75% da FC máxima.
Devemos também conhecer-se a FC de treino que poderá ser calculada
através da fórmula de Karvonen e Skinner,
FC de treino= x% x (FC máx.-FC repouso) + FC repouso
Sabendo que x%, corresponde á intensidade e que esta em pessoas não
atletas deverá situar-se entre (40% a 60%)
No meu projecto utilizei esta fórmula, utilizando 40% de intensidade já que o
grupo em questão é de pessoas idosas e que não estão habituados a praticar
exercício físico regular
Ao conhecer a frequência cardíaca de treino posso adequar o treino
gradualmente á intensidade e consequentemente á percentagem de VO2 que
pretendo, ou seja há capacidade aeróbia que quero atingir para as pessoas que
estou a treinar. Além disso conseguimos controlar a evolução positiva ou não da
frequência cardíaca durante o exercício físico, tomando as medidas necessárias se
algo correr mal.
Para calcular a % de VO2 utilizamos também uma fórmula de Karvonen e
Skinner e que está relacionada com a FC de treino e de repouso,
%VO2 = (FC de treino - FC de repouso) / (FC máx.- FC de repouso)
No quadro que apresento a baixo, citando Pereira (1997), está descrita a
relação entre a intensidade a FC e a % de VO2
Intensidade (watt) FC (bat./min.) VO2 (l/min.)
50 80 0.90
100 116 1.45
150 140 2.10
200 165 2.80
250 185 3.50
Atendendo à correlação existente entre a intensidade e a FC já referida,
Pereira (1997), estabelece também diferentes níveis de intensidade, que apresento de
seguida
Intensidade (watt) FC (bat./min.)
Muito fraca 75-100
Fraca 100-120
Moderada 120-140
Intensa 140-160
Muito intensa 160-170
Exautiva Maior de 175
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De seguida, apresento exemplos de actividades de acordo com a respectiva
intensidade:
Se optarmos por s calcular o VO2 máximo podemos utilizar para a pessoa idosa
sedentária as fórmulas de Bruce, propostas por Barata e Santa Clara (1997),
O VO2 máximo é um parâmetro fisiológico mensurável como nos relata Silva
(2006), que define a capacidade individual determinante da aptidão física. Sendo
que espelha a capacidade funcional e a reserva adaptativa de vários sistemas
orgânicos. O O VO2 máx. reflecte assim na autonomia e na longevidade das pessoas.
A capacidade funcional para a pessoa idosa é entendida como a capacidade de
realizar as actividades de vida diária.
O VO2 máx. é a capacidade máxima do corpo humano captar oxigénio da
atmosfera, transportar o oxigénio até os tecidos e utilizar esse oxigénio nos músculos,
dependendo assim da conjugação da actuação do sistema respiratório,
cardiovascular e muscular, bem como das funções reguladoras dos nervos e
hormonas.
Na pessoa idosa o decréscimo do VO2 máx. está relacionado com a perda de
massa muscular e, embora com menos significado, das alterações cardiovasculares e
vegetativas.
A diminuição da capacidade funcional com o envelhecimento tem múltiplas
causas, no entanto é grandemente explicável pela diminuição gradual ao longo dos
INTENSIDADE
CARACTERÍSTICAS
TIPO
DE
ACTIVIDADES
FRACA A
MODERADA
Permitem trabalhos musculares de longa duração; Pouco dispêndio de energia Consideradas actividades físicas aeróbicas Equilíbrio entre consumo e produção de energia Recomendados para a promoção da saúde
Caminhada normal Natação Ciclismo Corridas de resistência Ginástica Golfe (a pé) Varrer Lavagem de janelas Dança lenta
INTENSA
Estímulos de forte intensidade Trabalho muscular de curta duração Grande dispêndio de energia Actividades físicas anaeróbias
Jogging lento Caminhada rápida Ciclismo (longas distâncias) Trabalhos domésticos pesados Jardinagem Desportos de raquete Levantamento de pesos Corridas de curta distância (contra-relógio)
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anos da vida adulta da potência aeróbia máxima ou consumo máximo de Oxigénio
(VO2 máx.), esse decréscimo dá-se a uma taxa de cerca de 1% ao ano, em ambos os
sexos, relata Silva (2006), acrescentando que a capacidade do organismo se adaptar
ao exercício e melhorar a sua capacidade aeróbia, sofre uma diminuição importante
a partir dos 80 anos. No entanto mesmo nas idades mais avançadas a actividade
física é benéfica e melhora a capacidade de captação e consumo de oxigénio e
altera de modo positivo as respostas do organismo aos esforços submáximos. Estes
efeitos da actividade física são essenciais para a prevenção de doenças, para
independência e autonomia da pessoa idosa.
No meu projecto para enriquecer a minha aprendizagem calculei o VO2
máximo e a % de VO2, no entanto considero que esta qualidade da avaliação cardio-
respiratória é complexa e necessita de uma interpretação abrangente, exigindo um
nível de conhecimentos sobre o exercício físico superior ao que possuo no momento.
Estou naturalmente condicionada ao tempo de estudo e experiência. Aliais a
bibliografia que consultei, aponta para o facto das fórmulas e correlações de
interpretação dos componentes do exercício físico serem complexas para os
principiantes.
No entanto procurei esclarecer as minhas dúvidas com a Enfermeira licenciada
em educação física que me acompanhou no projecto e pretendo continuar a
aprofundar esta temática, durante a minha vida profissional.
Os autores e estudos consultados realçam com maior assiduidade a frequência
cardíaca como medida para a prescrição e avaliação dos resultados da actividade
física na pessoa idosa, já que é mais fácil e rápida de executar e mais compreensível
para a pessoa idosa. Silva (2006) diz que, de entre as alterações da resposta
cardiovascular ao exercício com a idade, a mais evidente e melhor documentada é a
diminuição progressiva da FCmáx., que por sua vez surge como um dos principais
motivos para a redução VO2 máx. Assim ao avaliarmos a FC máx. podemos deduzir,
como estará o VO2 máx. e analisar como o exercício físico estará afectando ou não, a
qualidade de vida da pessoa idosa.
1.4.3.2.2 Avaliação para a actividade física
A avaliação inicial antes de qualquer actividade é essencial já que é a partir
desta que iremos definir o programa a implementar.
Esta avaliação, segundo Ilano et al (2004) deverá ser composta de um
questionário com assuntos gerais, uma avaliação médica e uma avaliação da
aptidão física funcional.
No questionário geral pretendesse saber os dados biográficos, o que faz a pessoa no
tempo livre, a realização de actividades de vida diária e instrumentais, sem já
realizaram exercício físico e as motivações ou obstáculos para participar de um
programa de actividade física.
Com a avaliação dos antecedentes médicos pretende-se conhecer a história
clínica e as restrições ao exercício físico.
É essencial saber que medicação toma a pessoa que irá iniciar a actividade
física.
A avaliação da aptidão física é conseguida através da utilização de uma
bateria de testes que têm como finalidade avaliar parâmetros físicos relacionados
com a capacidade funcional, tais como (a força/flexibilidade/resistência/velocidade
/agilidade e equilíbrio. Deste modo podemos prescrever exercícios que vão de
encontro ás componentes mais fracas da pessoa, melhorando-as.
No caso do projecto que estou a desenvolver utilizarei a bateria de testes
desenvolvida no âmbito do LifeSpan Project – a Phyfical Assessment Study Benefiting
Older Adults Fullerton Funcional Fitness Test concebida por Rikli, E. E. Jones, C (1999),
adaptada e validada para a população Portuguesa por Sardinha, L. (1999)
Esta bateria é composta por seis testes e um sétimo alternativo, que estão
relacionados com os componentes de aptidão física. Os testes foram seleccionados
tendo em conta que a aptidão funcional específica, a capacidade funcional para o
desempenho independente, com segurança e sem fadiga das actividades de vida
diária, (em anexo apresento os testes que compõem a referida bateria
- 31 -
1.4.4 Papel da Enfermeira Especialista de Reabilitação e a Recuperação da
pessoa idosa
A actuação da Enfermeira Especialista de Reabilitação junto da pessoa idosa
deve estar centrada na educação para a saúde, ao cuidar com base no
conhecimento do processo de senescência e senilidade e na recuperação da
capacidade funcional para a realização das suas actividades, com objectivo de
atender às suas necessidades básicas e alcançar a sua independência e a felicidade
refere CAMPEDELLI, 1983, citado por Diogo, 2000.
Neste processo, a enfermeira e demais profissionais envolvidos, devem actuar
junto da pessoa idosa e seus familiares, apoiando suas decisões, ajudando-os a aceitar
as alterações na imagem corporal quando existentes, num processo educativo e
congruente às necessidades individuais (DRENCH, 1994, citado por Diogo, 2000). O
diagnóstico da doença da pessoa idosa pode não ter tanta importância quanto as
consequências dele na qualidade de vida do idoso, ou seja, na sua capacidade
funcional ena manutenção da independência para as actividades diárias.
A avaliação funcional da pessoa idosa faz parte do cuidado de enfermagem,
com ênfase na pessoa e nos sistemas de apoio que ela pode contar. Assim a
enfermeira, inserida numa equipa multidisciplinar, deve assistir a pessoa idosa de
maneira individualizada, levando em consideração as suas limitações físicas, psíquicas
e ambientais.
A assistência sistematizada de enfermagem permite-nos identificar os
problemas das pessoas idosas, de modo personalizado, planear, executar e avaliar o
atendimento a cada situação. Direccionando a assistência para o domicílio, a
consulta de enfermagem é uma actividade que atende às questões colocadas, por
meio da qual a enfermeira assume a responsabilidade quanto a acção de
enfermagem a ser determinada frente aos problemas detectados e estabelece a sua
intervenção.
A enfermeira actua partindo de uma avaliação de reabilitação, tendo como
orientação as actividades de vida diária, fazendo a partir dos problemas detectados
um plano de cuidados de enfermagem, posteriormente actua conforme plano e
finalmente faz uma avaliação da pessoa para monitorizar os ganhos em saúde
Assim sendo, durante a consulta de enfermagem, além do levantamento
relativo aos dados pessoais, de saúde e da família, inclui-se a avaliação das
actividades da vida. Cada actividade deve ser avaliada em termos da função e
acção, procurando a identificação de rotinas anteriores, execução actual, problemas
actuais e em potencial do idoso. Após a análise dos dados, os problemas são
identificados e escritos. Para a elaboração do plano de cuidados personalizado
devemos considerar os recursos disponíveis em relação ao ambiente físico, aos
equipamentos como o uso de acessórios e ao recurso pessoal, compreendido como
enfermagem, família, serviços de apoio, entre outros. O plano de enfermagem não é
estático e portanto, requer uma revisão contínua e colheita de dados adicionais a
partir da avaliação inicial.
Os objectivos a serem alcançados são traçados junto da pessoa idosa, em
termos do seu desempenho esperado após a intervenção de enfermagem.
Na fase de Intervenção de enfermagem, a enfermeira selecciona e realiza as
acções de enfermagem, tendo como objectivos a prevenção de problemas, a
promoção de conforto físico e psíquico e a diminuição da dependência do idoso,
tornando-o habilitado a procurar ajuda para atender sua responsabilidade para o
auto-cuidado. As intervenções de enfermagem devem contudo, estar centradas nas
rotinas do idoso, procurando minimizar os problemas relacionados às AVD. Estão
incluídas ainda as acções relativas aos cuidados técnicos como curativos,
medicações e outros procedimentos.
Na última fase, identificada como monitorização dos resultados de
enfermagem ou ganhos em saúde, o critério a ser utilizado é o desempenho da
pessoa idosa em cada actividade frente ao alcance dos objectivos traçados
previamente.
As AVD propostas para a consulta de enfermagem na reabilitação na pessoa
idosa compreendem a manutenção do ambiente seguro (características do edifício
- 32 -
residencial); locomoção, actividades físicas e esforços; alimentação e hidratação;
eliminação; higiene corporal; acto de vestir-se; actividades realizadas em casa; sono e
repouso; lazer e recreação; expressão da sexualidade; comunicação e uso de
transportes. Estas actividades devem ser avaliadas no sentido do desempenho da
pessoa idosa e na funcionalidade de cada uma, com o objectivo de descobrir rotinas
anteriores, o que ele pode e não pode fazer por si próprio em relação a cada
actividade e ainda quanto a alterações e problemas presentes.
Acrescida a esta avaliação é necessário o exame físico sumário direccionado
para a identificação de problemas que possam interferir no processo de reabilitação
da pessoa idosa. É também avaliado o nível de dependência na realização das AVD,
entendida como a necessidade de ajuda de outra pessoa para o desempenho de
cada actividade, visando facilitar a visualização do grau de dependência para cada
uma delas.
Assim, em cada consulta de enfermagem com a pessoa idosa e seu familiar
(cuidador), conseguimos avaliar seu progresso ou não no desempenho de cada
actividade.
Após a avaliação inicial, esta parte é retomada nos contactos seguintes com o
objectivo de identificar as alterações ocorridas no grau de dependência da pessoa
idosa, permitindo assim uma avaliação contínua para cada actividade.
A última parte da consulta de enfermagem corresponde aos registos de
enfermagem, compreendendo as fases de planeamento, intervenção, reacção da
pessoa e resultados obtidos, possibilitando deste modo dar seguimento aos cuidados.
1.4.4.1 Fases da Reabilitação Geriátrica e a actuação da Enfermeira
Especialista de Reabilitação
Segundo TUCKER (1993), citado por Diogo (2000) as enfermeiras desenvolvem a
sua intervenção com base em quatro estágios na reabilitação da pessoa idosa: O
ajustamento, o progresso, o platô e a alta.
A fase de ajustamento inclui o processo de admissão, orientações quanto a sua
reabilitação e quanto ao protocolo a ser seguido. O objectivo nesta fase é discutir as
expectativas do idoso e a elaboração do plano.
A avaliação é realizada também pelos demais membros da equipa, tendo-se o
cuidado de não colocar a pessoa ansiosa com sobrecarga de informações. Nesta
etapa é importante avaliar a motivação do idoso para participar do processo, assim
como o suporte e envolvimento de familiares e amigos, os quais são factores
fundamentais para o sucesso do programa. Por meio da consulta de enfermagem a
enfermeira de reabilitação avalia estas questões, assim como avalia a realização das
AVD e o grau de dependência para cada uma delas e ainda com base nos
problemas identificados, planeja e executa as acções de enfermagem pertinentes a
cada idoso. Cabe ressaltar a importância de se dar ênfase á capacidade
remanescente da pessoa idosa e ajudá-lo a se ajustar à nova situação.
A fase de progresso é caracterizada pela familiarização do idoso com a
equipa e com o programa participando das sessões terapêuticas. É uma etapa
dinâmica, altamente gratificante para todos os membros da equipa, para a pessoa
idosa e familiares envolvidos. A enfermeira especialista de reabilitação participa
activamente avaliando as respostas do idoso, realizando acções de enfermagem,
promovendo suporte psicossocial e actuando principalmente no processo educativo.
A fase seguinte, ou seja, o platô, ocorre quando o progresso diminui, embora as
mudanças continuem a acontecer. Pode ser uma longa etapa no processo de
reabilitação, na qual a pessoa idosa se capacita para realizar as funções, com
segurança na sua casa. Neste momento, a participação da enfermeira está
direccionada as acções anteriormente descritas, além de estimular o envolvimento da
pessoa idosa, prevenindo desânimo. Para tanto são necessárias habilidades na
comunicação para manter a motivação do idoso e o seu envolvimento e da família
no processo.
A última fase, a alta, é uma fase altamente variado, em dificuldade em se
determinar com precisão o momento da alta, ou seja, em qual ponto e data ele
estará ―pronto‖. Neste aspecto a opinião e a discussão em equipa é importante
- 33 -
o senso de proteccionismo da equipa tende a prevalecer. A avaliação domiciliar e
dos recursos da comunidade deve ser realizada, assim como a formação de grupos
de orientação para a família e cuidadores, com objectivo de prepará-los para a alta
e ainda promover troca de experiências. Nem sempre a orientação adequada
coincide com a realidade do idoso em seu ambiente domiciliar e comunitário, sendo
necessários arranjos e adaptações.
1.4.4.2 Problemas frequentes na Reabilitação da pessoa idosa e a actuação
da Enfermeira Especialista de Reabilitação
Conforme mencionei anteriormente, a pessoa idosa pode apresentar vários
problemas que levam ao comprometimento da sua reabilitação. TUCKER (1993),
citado por Diogo (2000), chama atenção a alguns deles ainda não apontados:
A pessoa idosa frequentemente apresenta múltiplas afecções, e faz uso de
muitos fármacos, por isso, a enfermeira deve estar atenta fazendo uma
avaliação minuciosa, visando favorecer o progresso da pessoa idosa na
reabilitação e seu estado de saúde;
A adesão da idosa ao programa de reabilitação pode ser outro problema que
requer da enfermeira principalmente habilidade na comunicação;
Dificuldades de transporte para o serviço de saúde ou ainda de
acompanhante, tendo em vista a vida atribulada que as pessoas vivenciam
hoje em dia;
Frustração relacionada à reabilitação, ou seja, a pessoa idosa pode apresentar
uma expectativa muito alta não condizente com o programa.
A pessoa idosa frequentemente abandona o programa, apresentando intensa
frustração; desânimo, depressão e ideia de suicídio, principalmente na fase de
platô, quando diminui ou estaciona seu progresso, podendo ficar claro para
ele que a alta do programa dificilmente será conseguida. Muitas vezes
observamos durante a consulta de enfermagem, reacções da pessoa idosa
como crises de choro e desânimo, desejo de abandonar o programa, ou
ainda, percepções próprias de não conseguir alta ou não atingir o progresso
esperado. Nessas situações é de extrema importância a enfermeira ser sensível
para detectar estes problemas para interagir com a pessoa, família e demais
membros da equipa;
Sistemas de suporte - os familiares também apresentam dificuldades em aceitar
as mudanças na pessoa idosa, a realidade diária (principalmente vinculadas a
dependência da pessoa idosa) e as alterações dos papéis no contexto
familiar. Isto leva-nos a destacar a importância de se investigar as reacções dos
familiares e principalmente das pessoas mais envolvidas, ou seja, os cuidadores,
que em muitas situações, encontram na enfermeira, a possibilidade de
expressar seus sentimentos e dificuldades presentes no cuidado á pessoa idosa
conforme ressalta WEEKS (1995), referenciado por Diogo (2000) para também
poder actuar com essas pessoas;
Necessidade de educação à saúde – algumas pessoas idosas desenvolvem ao
longo da sua vida, hábitos os quais não são facilmente alterados e portanto,
conseguir as mudanças necessárias pode ser um desafio. Além disso, outros
problemas podem estar presentes como factores de risco para acidentes, uso
inadequado de medicações, desconhecimento do processo de senescência e
mitos relacionados à aprendizagem do idoso. Assim estas áreas demandam
orientação e ―negociação‖ por parte da enfermeira, que no seu papel de
educadora necessita utilizar de habilidades para o ensino e formar verdadeiras
―sociedades‖ com os cuidadores;
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Relutância da pessoa idosa à alta - o medo de se desvincular do programa é
um problema do idoso a qual a enfermeira pode ajudá-lo a superar. Esse medo
pode estar relacionado à expectativa de solidão após longo período de
convivência com os membros da equipa, e concretamente com a enfermeira
de reabilitação no quotidiano, além do companheirismo vivenciado, no local
da reabilitação, com outras pessoas. Portanto, estas manifestações requerem
uma abordagem tanto da enfermeira quanto dos demais membros da equipa,
intervenientes no processo de reabilitação demonstrando apoio e
disponibilidade para ouvir seus sentimentos e suas dificuldades. A manutenção
de um vínculo, seja ele esporádico, pode favorecer segurança para o idoso, o
qual pode participar em grupos educativos relatando sua experiência e assim
estimulando-o a se sentir útil e importante no processo de reabilitação de
outros idosos.
A reabilitação geriátrica é uma das faces da Enfermagem geriátrica e
gerontológica. A actuação da enfermeira na equipa multidisciplinar está centrada no
processo educativo com a pessoa idosa e seus familiares, tendo como finalidade a
sua independência funcional, a prevenção de complicações secundárias, sua
adaptação e da família à nova situação.
Por meio dos cuidados de enfermagem de reabilitação sistematizada, a
enfermeira elabora, executa e avalia o plano de cuidados de enfermagem
personalizado, respeitando os diferentes estádios da reabilitação em que a pessoa
idosa pode encontrar-se. No entanto é fundamental o conhecimento sobre o
processo de senescência e senilidade, sobre o contexto familiar e social da pessoa
idosa, respeitando suas limitações e enfatizando seu potencial remanescente e sua
capacidade para o auto-cuidado.
Cada pessoa possui a sua história de vida, diferente de qualquer outra e o que
pode significar qualidade de vida para ela pode ser diferente do que pode significar
para o profissional da saúde. Assim é importante termos cuidado para não pensarmos
e agirmos apenas sobre nossos próprios valores quando assistimos a pessoa idosa (ou
outras pessoas). É uma área que requer ainda grande investimento no ensino, na
pesquisa e na intervenção.
1.4.5 Papel da Enfermeira Especialista de Reabilitação e a promoção da
mobilidade da pessoa idosa
O papel da Enfermeira Especialista de Reabilitação na promoção da
mobilidade da pessoa idosa, acontece aos três níveis de prevenção, estabelecendo-
se sempre objectivos prévios e planeando, após o diagnóstico da situação, os
cuidados a prestar.
Sabemos que a saúde e bem-estar de cada pessoa dependem da sua
capacidade para se mover. A mobilização de todos os segmentos do nosso corpo,
com movimentos coordenados e um bom alinhamento corporal permitem-nos
desempenhar eficazmente todas as suas funções, tais como a respiração, a
circulação, a eliminação, etc.
Se a pessoa não for capaz de se mobilizar a pessoa recorre á enfermeira
especialista de reabilitação, pelos seus conhecimentos científicos e teórico-práticos
nesta área de intervenção. Daí que a enfermeira deverá conhecer todas as
dimensões bio-psico-sociais associadas à necessidade de se mover e manter uma
postura corporal correcta.
A enfermeira especialista de reabilitação ao intervir na promoção da
mobilidade da pessoa idosa, actua no envelhecimento funcional. Recorrendo a uma
metodologia de processo de enfermagem, actua de modo contínuo e sistemático,
iniciando, tal como para qualquer outra intervenção de reabilitação, pela colheita de
dados através de uma avaliação de reabilitação, interpretando os dados colhidos e
formulando diagnósticos de enfermagem de reabilitação de acordo com a
classificação internacional para a prática de enfermagem e elaborando um plano de
- 35 -
acção. A enfermeira simultaneamente identifica e interpreta as reacções e
receptividade da pessoa idosa e dos seus cuidadores aos seus cuidados que presta.
1.4.5.1 Avaliação de Enfermagem de Reabilitação da mobilidade da pessoa
idosa
Na colheita de dados, a avaliação é composta de múltiplos parâmetros e
factores que podem determinar alterações na mobilidade da pessoa idosa, assim
temos:
I. A função motora
A independência e autonomia de cada pessoa está estreitamente relacionada
com a função motora, como já antes referimos. Na avaliação a enfermeira
especialista de reabilitação, baseia-se na massa muscular respectivamente no tonús
muscular; nas amplitudes articulares e modo como funcionam as articulações; na
postura na marcha (alinhamento corporal e equilíbrio), assim como na coordenação
neuromuscular; a mobilidade na cama e durante os auto-cuidados como erguer-se,
sentar-se, rodar. Para avaliar esta função utilizo no meu projecto a folha de avaliação
de enfermagem elaborada pelos enfermeiros especialistas de reabilitação da RAM,
utilizei ainda a escala de equilíbrio funcional de Berg, onde registo os dados colhidos
inicialmente e as reavaliações seguintes, de modo a monitorizar os ganhos em saúde e
poder actuar em consonância com os mesmos.
II. Qualidade e tipo de actividade física
A enfermeira especialista de reabilitação avalia a capacidade de desempenho
das actividades de vida diária (AVDs) e actividades instrumentais da vida diária
(AIVDs), para isso utiliza escalas para poder avaliar estes itens de modo objectivo,
determinando com exactidão onde deverá incidir os seus cuidados. No projecto que
estou a desenvolver utilizei três instrumentos de colheita de dados nesta área. A nível
dos cuidados prestados no domicílio optei por aplicar a escala de actividades
instrumentais de Lawton, que me permite fazer uma apreciação e monitorização
precisa da autonomia da pessoa idosa; já que, por exemplo ao conseguir sair de casa
sozinha, cozinhar ou gerir o seu dinheiro a pessoa idosa, tem poder de decisão pela
sua vida ou seja conforme o nível de dependência que tiver nas actividades
instrumentais de vida diária a pessoa faz o que quer, quando quer e isso é importante
para a sua auto-estima e para a sua qualidade de vida.
Ainda, para avaliação da capacidade funcional das pessoas idosas no
domicílio, optei por utilizar a escala de medida funcional (MIF), porque permite-me ter
uma noção detalhada da dependência a nível de auto-cuidados e monitorizar com
maior precisão os ganhos em saúde. Por outro lado permite-me a avaliação das
capacidades cognitivas, de memória e de interacção social tão importantes e
relevantes para o sucesso do processo de reabilitação.
Utilizo também o easycare, um instrumento de colheita de dados sobre a
qualidade de vida e bem-estar da pessoa idosa. Optei por este instrumento para
aplicar ao grupo de 6 idosos que estou a implementar um programa de actividade
física no Lar Jardim do Sol, porque estes são independentes ou apresentam um nível
de dependência ligeira, pelo que interessava-me somente saber que incapacidades
possuíam e que ideia tinham da sua saúde e qualidade de vida. O easycare, além de
estar direccionado exclusivamente para a pessoa idosa, é um formulário que nos
permite obter não a nossa percepção mas sim a da pessoa idosa, que nem sempre
coincide com a nossa.
- 36 -
III. Avaliação das componentes para um programa de actividade física
Se o objectivo da nossa intervenção for implementar um programa de
actividade física então temos de avaliar componentes importantes, para
conseguirmos implementar exercícios adequados á pessoa ou grupo de pessoas
idosas. Como atrás já foi referido temos de avaliar componentes da aptidão física,
cardio-respiratória e de composição corporal. Os parâmetros a avaliar dependem
também dos objectivos da actividade física como já foi referido.
IV. As patologias
As patologias que a pessoa idosa possuí, relata Poirier-Mailloux, (1994), são muitas
vezes responsáveis por alterações da mobilidade. Doenças como as de ordem neuro-
muscular, provocam alterações directas na capacidade para andar, enquanto
doenças respiratórias, ou cardiovasculares ou outras influenciam com os seus sintomas
ou medidas terapêuticas a motricidade, tais como dispneia ou restrições ao exercício
físico para minimizar ou esforço cardíaco. A enfermeira especialista de reabilitação faz
por isso uma monitorização avaliar a situação e estar atenta aos riscos das
complicações da imobilidade versus a conformidade com o tratamento prescrito.
V. Os medicamentos
Tal como em qualquer processo de reabilitação, quando objectivo é a
promoção da mobilidade da pessoa idosa, a enfermeira especialista de reabilitação
deverá estabelecer uma lista da medicação ou prescrições caseiras utilizadas pela
pessoa. Concretamente numa pessoa com desequilíbrio ou coordenação, esta
avaliação assume especial importância, pois pode determinar o plano de cuidados e
a retirada ou não dessa medicação.
VI. A atitude psicológica
Sabemos, por experiência profissional e pessoal que o estado psicológico de
uma pessoa determina todo o seu desempenho e motivação para a mobilidade
correndo-se o risco até da pessoa entrar em depressão e acabar por morrer se não
houver intervenção atempada. Nos idosos esta situação é frequente. Assim, mais uma
vez a enfermeira de reabilitação como promotora da mobilidade, assume um papel
importante e, como nos refere Poirier-Mailloux (1994), deve estar atenta a sinais tais
como: falta de estímulo; dificuldade em lidar com problemas; ausência de rede de
suporte; sobrecarga sensorial; isolamento e privação sensorial.
VII. O ambiente
Avaliar os factores ambientais que influenciam a mobilidade é outro aspecto a
não descurar. Esses factores são o ambiente, arrumação, higiene, o espaço disponível;
a ajuda necessária para o desempenho das actividades e a disponibilidade de
recursos.
VIII. A idade
Tratando-se da mobilidade na pessoa idosa é evidente que a enfermeira de
reabilitação deverá ter conhecimentos das alterações fisiológicas que ocorrem nesta
fase da vida, em todos os sistemas corporais mas especialmente nos que interferem
com maior significado nesta actividade de vida, nomeadamente o sistema músculo-
esquelético, nervoso, cardiovascular e respiratório
IX. Os hábitos
Os hábitos anteriores de actividade física, bem como o desejo para participar
actualmente em actividades físicas, devem ser explorado. Pois tal como nos diz
- 37 -
Poirier-Mailloux (1994), quem nunca participou em actividades físicas poderá não estar
interessado em fazê-lo neste momento, sobretudo se esse exercício físico for difícil.
X. A necessidade de ajudas técnicas ou cuidador
A pessoa idosa tem muitas vezes necessidade de ajudas técnicas para poder
deslocar-se daí que a enfermeira especialista de reabilitação, com os seus
conhecimentos sobre auxiliares de marcha, é um profissional indicado para ajudar a
seleccionar a ajuda apropriada, bem como para fazer a instrução e treino da
marcha com auxiliares, tais como a cadeira de rodas, bengala, etc. A enfermeira
especialista de reabilitação também é solicitada para instruir e treinar o cuidador
para ajuda na mobilidade da pessoa idosa. Outras vezes é a própria enfermeira que
sugere a necessidade da ajuda de um cuidador para que a pessoa idosa tem a
mobilidade adequada, quer no caso de pessoas muito dependentes ou com
dependência ligeira.
XI. A dor
Um sintoma que a enfermeira deverá estar atenta e que pode condicionar de
forma negativa a mobilidade da pessoa idosa, fazendo muitas vezes com que a
pessoa não queira mexer-se. A intervenção da enfermeira especialista de
reabilitação passa, não só pela identificação das características da dor utilizando as
escalas existentes para o efeito, seleccionando a mais indicada para cada pessoa,
mas também pela identificação
XII. A astenia
Durante as sessões de promoção da mobilidade a pessoa idosa poderá referir
fadiga, ou mesmo quando fica longos períodos na cama ou se recusa a andar. A
enfermeira especialista de reabilitação deve pedir à pessoa que descreva o seu
estado de fadiga ou falta de energia afim de poder detectar alterações como
dispneia, problemas neuromusclares, vertigens, intoxicações medicamentosas, etc.
Estes dados permitem revelar situações graves a que a enfermeira deverá identificar
e actuar ou encaminhar para os profissionais adequados.
1.4.5.2 Formulação de diagnósticos de Enfermagem de Reabilitação
relativamente à mobilidade da pessoa idosa
Após a análise dos dados recolhidos a enfermeira especialista de reabilitação
obtém evidências do pólo independência-dependência da pessoa idosa e também
problemas potenciais da mesma. Descobre também os factores que estão na origem
desses problemas e as interacções da necessidade de mobilidade com outras.
Poderá acontecer alterações da mobilidade associada a alterações dos
membros superiores ou inferiores, levando à evidência de limitações dos movimentos
físicos. Poderão acontecer também intolerância à actividade, ou seja, uma
incapacidade fisiológica e psicológica para suportar ou tolerar um aumento de
actividade. De acordo com Poirier-Mailloux (1994), esta intolerância poderá dever-se a
uma oxigenação insuficiente, devido a um decréscimo do débito cardíaco ou
alteração nas trocas gasosas devido à imobilidade prolongada na cama ou ainda, a
alterações a nível da marcha.
Estes dois diagnósticos de enfermagem podem ser consequência da mesma
fonte patológica, como sejam as patologias do sistema musculo-esquelético e nervoso
e ao desuso prolongado.
Deste modo é justo afirmar que uma pessoa que tem problemas de intolerância
à actividade, tem ou poderá vir a ter problemas de alteração da mobilidade e que
uma pessoa que tem problemas de mobilidade tem ou poderá vir a ter um problema
- 38 -
de intolerância à actividade devido a uma redução da sua força ou da sua
endurance muscular.
1.4.5.3 Planeamento de cuidados de Enfermagem de Reabilitação
relativamente à mobilidade da pessoa idosa
O papel da enfermeira especialista de reabilitação, ao promover a mobilidade,
selecciona intervenções preventivas que têm por objectivo manter o máximo de
independência das pessoas idosas na actividade de vida mover-se. Da mesma forma,
trabalhando na prevenção secundária e terciária, desenvolve intervenções
terapêuticas que visem reduzir os efeitos ou os problemas de dependência da pessoa
idosa.
I. Intervenções Preventivas
Durante as actividades de prevenção na mobilidade da pessoa idosa a
atitude da enfermeira é importante, já que se esta não acreditar no valor dos
exercícios de prevenção não criará nenhum programa de actividades físicas
alegando como nos diz Ebersole (1981), citado por Poirier-Mailloux (1994), que não
dispõem de tempo para o fazer. Também a motivação da pessoa idosa poderá ser
condicionada pela mentalidade de que não necessitam de actividade física
acreditando que esta necessidade diminui com a idade e que já não tem
capacidade para a prática regular de actividade física. Este facto leva a que, muitas
vezes, se limitem a realizar actividades de intensidade ligeira e esporádica.
Assim sendo, a enfermeira especialista em reabilitação que pretende elaborar
um programa de actividades tem de considerar as necessidades da pessoa idosa
explorando os seus hábitos e desenvolvendo actividades compatíveis com o estilo de
vida do grupo de pessoas ou da pessoa que pretende treinar. Do mesmo, a
enfermeira deverá considerar as capacidades da pessoa idosa. A capacidade
aprendizagem da pessoa, e o seu interesse face ao programa prescrito é também
importante tendo a enfermeira, de modificar o programa de actividades se assim
justificar de forma a responder às necessidades de uma pessoa analfabeta.
A enfermeira especialista de reabilitação como já antes havia referido, tem um
papel determinante também nas seguintes actividades:
Avaliação da capacidade cardio-respiratória e da aptidão física da pessoa
idosa antes de iniciar qualquer programa de actividade física;
Encaminhar para a consulta médica para um check up;
Avaliar as alterações fisiológicas do sistema musculo-esquelético e os
benefícios da actividade física a nível desse sistema e dos sistemas cardiovascular e
respiratório;
Rever os princípios de alinhamento corporal, equilíbrio, amplitude das
articulações, tonús muscular;
Planear o programa de actividades com a pessoa idosa ou grupo de
pessoas idosas.
Qualquer programa que tenha como objectivo manter a força e a endurance
muscular deve compreender duas vertentes: a estimulação do anabolismo das
proteínas através da conservação da energia que se consegue pela diminuição dos
agentes de stress como a ansiedade ou pelo aumento da temperatura corporal. A
conservação das reservas de energia exige um aporte adequado de proteínas e
calorias. O peso constitui por isso um indicador primário na validação do aporte
alimentar da pessoa.
A segunda vertente compreende exercícios isotónicos e isométricos de reforço
muscular. Os exercícios isotónicos devem respeitar certos princípios: mobilizar uma
articulação de cada vez; praticar os exercícios diariamente, de preferência três vezes
- 39 -
por dia. Exemplos desses exercícios são os que trabalham os músculos anteriores da
articulação do joelho, tais como:
Sentar-se sobre uma cadeira direita com os pés assentes no chão, elevar
lentamente a perna assegurando-se de que a articulação do joelho é a única que
mexe, permanecer durante alguns segundos, relaxar baixando a perna lentamente.
Repetir o exercício três a cinco vezes, fazendo o mesmo com a outra perna, ( Fig 3 )
Estes exercícios deverão ser realizados lentamente intensificando-se o esforço
colocando um peso de 500g a nível do tornozelo ou dorso do pé, (fig. 5). A eficácia do
exercício comprova-se palpando a coxa com o indicador e o polegar cerca 5 a 6 cm
da rótula. Verificar-se-á um aumento gradual do volume do quadricípede, duas a três
semanas após exercícios frequentes.
Um exemplo de exercício isométrico que a enfermeira especialista em
reabilitação poderá treinar a pessoa idosa a realizar, é o dos glúteos: em decúbito
dorsal, a pessoa coloca os joelhos flectidos e unidos, contrai os músculos das nádegas
durante 5-6 segundos e relaxa de seguida. A pessoa poderá repetir o exercício
quantas vezes quiser ao longo do dia desde que tolere. Outro exemplo é o que vemos
na figura 4, em a pessoa na posição de sentado contrai os músculos posterior das
pernas contra o banquinho, onde as apoioa e mantém por 5-6 segundos relaxando de
seguida.
Fig 3 Ex. de Exercício isotónico Fig.4 Ex. de Exercício isométrico
Adaptado de : Berger e Mailloux-Poirier, 1995, p.305
Fig 5 Ex. de Exercício resistido
Adaptado de : Berger e Mailloux-Poirier, 1995, p.305
As amplitudes articuladas poderão ser alteradas por problemas musculo-
esqueléticos e neurológicos secundários ao envelhecimento, daí resultando a rigidez
articular. Assim se explica a importância dos exercícios de flexibilidade. No início de
cada programa de exercícios estes deverão ser realizados com a ajuda da enfermeira
- 40 -
especialista em reabilitação, sendo que após a pessoa ser instruída e treinada poderá
realizar o exercício poderá sem ajuda.
São exemplos de exercícios de flexibilidade articulada os exercícios de flexão,
extensão, de adução, abdução, etc. No entanto, é importante ter em conta que se
estes forem realizados de modo exagerado poderão produzir mais prejuízos do que
benefícios. Por exemplo os exercícios de extensão demasiado vigorosos e os exercícios
para as dorsalgias estão muitas vezes contra indicados.
Os exercícios de flexibilidade poderão ser realizados todos os dias, por períodos
da manhã, tarde e noite. A pessoa deverá escolher o momento que se sentir melhor,
por exemplo após o banho. Os exercícios em posição de sentada podem ser
realizados enquanto vê televisão. Os exercícios poderão ser repetidos de duas a dez
vezes sendo a enfermeira a fixar o número de repetições personalizando o programa
para cada pessoa. Se a pessoa sentir mal-estar ou e este persistir durante meia hora a
uma hora os exercícios foram excessivos.
Fig. 6 - Exemplos de exercícios de flexibilidade
Estender os braços e as pernas e Colocar os braços ao longo do
respirar profundamente corpo, fechar os punhos, em seguida flectir os antebraços como que para
salientar os músculos dos braços.
Bater as palmas, acima da cabeça Abrir os braços à altura dos ombros
e descrever pequenos círculos,
primeiro num sentido e depois
noutro.
Com os punhos fechados e
antebraços flectidos, juntar os
cotovelos. Elevar os ombros e rodar, primeiro
para a frente e em seguida para trás, um
ombro de cada vez.
Adaptado de : Berger e Mailloux-Poirier, 1995, p.305
- 41 -
Fig. 6 - Exemplos de exercícios de flexibilidade (continuação)
Segurando o espaldar de uma Segurar a perna flectida com as duas
cadeira ou o bordo da cama, dobrar mãos, puxando-a suavemente para o
ligeiramente os joelhos e fazer flexões tórax
A marcha é o exercício por excelência para as pessoas idosas que pretendem
manter a flexibilidade articular, já esta permite melhorar o tonús muscular e é ideal
para o coração e o sistema circulatório.
A marcha deverá ser de 20 minutos por dia, três vezes por semana. No entanto a
enfermeira especialista de reabilitação deverá aconselhar a pessoa idosa consoante
as suas capacidades. Para sabermos se a rápida é demasiado rápida a enfermeira
poderá experimentar manter uma conversa durante a mesma. Se a conversa não for
possível então é necessário ir mais devagar. Do mesmo modo para as pessoas idosas
que não conseguem manter o ritmo durante muito tempo a enfermeira recomendará
que andem até sentir fadiga muscular.
Fig. 7 - Marcha
Adaptado de Berger e Mailloux-Poirier, 1995, p.310
Se acontecer sintomas tais como cansaço excessivo, dor no peito, dores intensas
nas articulações, vertigens, sensação de perda de consciência e/ou palpitações o
exercício deverá ser imediatamente interrompido e a enfermeira especialista em
reabilitação deverá avaliar a situação, provavelmente o organismo ultrapassou os seus
limites.
Refere Poirier-Mailloux (1994), que a enfermeira poderá indicar outros exercícios
para ajudar a manter a mobilidade das articulações da pessoa idosa, tais como a
bicicleta, a ginástica e a jardinagem. A mesma autora descreve alguns conselhos que
a enfermeira deverá indicar ao idoso para a prática de exercício tais como:
- 42 -
Utilizar o mínimo de roupa possível, especialmente se tiver calor sendo que
estas devem ser amplas e ligeiras para permitir o ar circular. As roupas devem
ser de algodão e preferencialmente brancas pois impede a penetração do
calor. O chapéu é um acessório importante nos dias de calor, bem como
escolher locais com sombra para a prática dos exercícios; Beber entre 200 a 250ml de água de quinze em quinze minutos, para
reposição dos líquidos eliminados. Não utilizar a sede como indicador, isto é,
não aguardar a sede para beber;
Molhar a cabeça, braços e pernas pois permite a evaporação do calor;
Evitar beber álcool. O álcool impede a transpiração;
Evitar ingerir proteínas em excesso Comer frutos e legumes frescos para
contribuir para o equilíbrio electrolítico;
Detectar sintomas de insolação: vertigens, astenia, desorientação, náuseas e
cefaleias. Na presença destes sintomas retirar-se e procurar um lugar fresco e
molhar-se para ajudar a baixar a temperatura do corpo e/ou beber um
pouco de água.
II. Intervenções Terapêuticas
Os cuidados terapêuticos ou de prevenção secundária e terciária no que diz
respeito à pessoa idosa com alterações da mobilidade compreendem a exclusão dos
efeitos adversos da imobilidade, potenciando ao máximo a mobilidade de acordo
com os limites de cada pessoa idosa. Estas intervenções estipulam os mesmos pontos
que as intervenções preventivas.
Os motivos alegados pelos enfermeiros para a não realização dos exercícios
prescritos nos planos de cuidados são geralmente os mesmos. Nomeadamente a falta
de tempo ou que a pessoa idosa merece que os deixem tranquilos, ou ainda que a
mobilização da pessoa idosa é da competência dos fisioterapeutas. Assim sendo a
enfermeira especialista em reabilitação deverá ter como primeiras intervenções: rever
o seu próprio papel e situar-se dentro dos objectivos estabelecidos pelos diversos
profissionais que constituem a equipa multidisciplinar; rever a gestão do seu tempo, e
da pessoa a quem irá prestar cuidados. Nem sempre é necessário elaborar um
programa muito estruturado, como nos diz Poirier-Mailloux (1994) durante o momento
do banho ou enquanto se vestem podem as pessoas executar exercícios activos ou
passivos que muitas vezes são suficientes para dar resultados importantes; debater a
sua visão sobre o processo de envelhecimento, os seus sentimentos face à pessoa
idosa e os cuidados de que estes necessitam.
As pessoas idosas por seu lado são grandemente influenciáveis pela sua
percepção do papel de ―doentes‖, muitas vezes quando a enfermeira quer que a
pessoa realize determinados exercícios terapêuticos esta justifica que deve repousar
para recuperar forças e para se curar.
Cabe à enfermeira especialista em reabilitação conhecer a percepção da
pessoa e da sua família quanto ao papel do idoso no processo de actividade física;
explicar à pessoa e à família/cuidador o que espera dela; de seguida deverá tal
como na intervenção preventiva deverá estabelecer um plano de cuidados
adequado às capacidades da pessoa, envolvendo-o e instruindo sobre os exercícios
propostos, de forma a motivá-lo e prevenindo assim problemas de dependência da
enfermeira e/ou o não cumprimento do programa de exercícios.
A enfermeira especialista em reabilitação recorre a exercícios de força e de
resistência muscular na pessoa idosa sempre que deseja aumentar a força e prevenir
a atrofia muscular.
Os exercícios isométricos dos quadricípedes, dos abdominais e glúteos são
essenciais para a mobilidade vertical, no entanto antes de iniciar a execução destes
exercícios a enfermeira deverá algumas precauções: pedir à pessoa idosa para
realizar os exercícios ao mesmo tempo que expulsa o ar dos pulmões para assim não
correrem o risco de aumentar a pressão intra-torácica e consequentemente provocar
a manobra de valsava, que pode levar à paragem cardíaca na pessoa idosa com
predisposição.
- 43 -
No caso das pessoas que repousam na cama pode a enfermeira instruir a
execução de exercícios isotónicos simples como empurrar trave de suporte com os
pés; elevar-se utilizando o trapézio ou realizar o exercício da ponte durante os
cuidados.
As pessoas idosas com mobilidade limitada resultante de afecções articulares,
devem ser recomendados pela enfermeira a realizar exercícios de amplitude para
prevenção deformações dolorosas. Esta prescrição da enfermeira especialista em
reabilitação deverá ser efectuada após a selecção personalizada prévia dos
exercícios mais adequados. A Enfermeira deve também explicar a importância da
execução dos referidos exercícios para a manutenção da flexibilidade das
articulações e prevenção de contracturas.
Os exercícios deverão ser realizados pelo menos uma vez por dia, de preferência
à hora do banho pela manhã repetindo-se o mesmo pelo menos três vezes. A
frequência dos exercícios no entanto deverá ser fixada de acordo com o estado de
saúde da pessoa idosa e das suas capacidades.
Se a capacidade cognitiva da pessoa permitir poder-se-á ensinar a
continuidade dos exercícios, o mesmo acontece se existir um cuidador com
capacidades para continuar a realizar os exercícios.
Novamente se evidencia a marcha como um meio de excelência para mobilizar
as articulações, aumentando assim a participação da pessoa idosa nas actividades
de vida diária e nas actividades instrumentais da vida diária.
A enfermeira especialista de reabilitação dá ênfase sempre que possível à
marcha no seu programa de actividades, a fim de manter e melhorar a resistência e
as actividades físicas, tendo sempre em mente o envolvimento da pessoa e o
estabelecimento de objectivos realistas.
A enfermeira especialista de reabilitação poderá, muitas vezes, contribuir para a
prevenção de deformações ou complicações através do posicionamento adequado,
nas pessoas com a mobilidade reduzida, cumprindo quatro princípios básicos: um bom
alinhamento corporal; o alinhamento das regiões e segmentos sustentados por
aparelhos deverá ser adequado; dever-se-á evitar a flexão prolongada dos
segmentos alterando a posição da pessoa a cada duas horas; reduzir a pressão em
toda ou parte do corpo mediante a mudança de posição ou utilização de suportes
suplementares como a utilização de colchão de pressão alterna.
A imobilidade da pessoa idosa é particularmente perigosa pois aumenta o risco
de pneumonia, úlceras de pressão, incontinência, problemas cognitivos, depressão,
osteoporose.
1.4.5.4 Avaliação de cuidados de Enfermagem de Reabilitação
relativamente à mobilidade da pessoa idosa
A avaliação dos cuidados que visam a promoção da mobilidade da pessoa
idosa poderá ser realizada através da reavaliação da função motora, ou seja, de
componentes como o tonús muscular, força e dimensão dos músculos, resistência a
amplitude articular.
O tonús muscular de uma pessoa deve ser avaliado com esta em relaxamento
muscular. Esta reavaliação deverá ser feita pela mesma enfermeira que fez a
avaliação inicial pois assim a avaliação é mais objectiva e mais fiável.
A força muscular deverá ser avaliada através das escalas existentes para tal e
subjectivamente do grau de resistência oferecida pelos diferentes grupos musculares
ou através do aperto de mão.
A autonomia observada durante o desempenho das actividades da vida diária
fornece por seu lado importantes evidências acerca da resistência muscular. Os sinais
de cansaço e lentidão após a realização dos auto-cuidados poderão ser uma
evidência de falta de resistência. Da mesma forma o tempo gasto no desempenho
das tarefas poderá ser outra evidência a considerar, o mesmo acontecendo com a
frequência cardíaca e respiratória. A observação é também importante durante as
AVD, pois permite avaliar a mobilidade das articulações envolvidas.
- 44 -
A inexistência de úlceras de pressão, contracturas, anquiloses ou outras
complicações são indicadores positivos da promoção da mobilidade adequada.
São múltiplas as causas e factores que podem impedir a mobilidade na pessoa
idosa, esses factores podem ser, como refere Poirier-Mailloux (1994), de origem
biofisiológica, psicológica, sociológica, cultural e/ou espiritual.
A pessoa idosa é frequentemente alvo de alterações dos sistemas musculo-
esquelético e nervoso associadas ao envelhecimento, que lhes posiciona como uma
população de alto risco para os problemas relacionados com a mobilidade, a
enfermeira especialista em reabilitação é pelos seus conhecimentos científicos e
específicos nesta área, uma profissional cujo os cuidados são essenciais na promoção
da mobilidade na pessoa idosa, o mesmo é dizer no envelhecimento funcional.
1.5 Selecção e organização de meios e estratégias
A escolha das actividades a desenvolver através da metodologia de projecto,
dependem da consecução dos objectivos, porque pretende-se com as actividades
atingir os objectivos delineados.
No âmbito deste projecto tive como estratégias:
Pesquisar, reflectir e seleccionar documentação sobre o envelhecimento e
sobre a mobilidade no idoso bem como sobre o papel do enfermeiro de
reabilitação na promoção de boas práticas de actividade física e de
mobilidade do idoso.
Entrevista com Enfermeira coordenadora, Otília Freitas, para discussão do
tema do projecto e viabilidade do mesmo
Fazer diagnóstico da situação da população idosa do caniço e seu grau de
dependência e actividade física
Contactar enfermeira especialista de reabilitação da área, para saber
disponibilidade para orientação do projecto e a sua opinião sobre a
pertinência do mesmo para a população em questão e para a
actuação do enfermeiro especialista em reabilitação
Realizar o ensino clínico III entre 25 de Fevereiro e 14 de Março
Planear idosos a cuidar e aplicar o processo de enfermagem, discutindo o
plano de cuidados com a Enfermeira de referência Mireya Fernandes,
(Especialista de Enfermagem Reabilitação do Centro de Saúde do
Caniço), tendo em atenção:
Avaliação de capacidades (auto-cuidados, capacidade funcional,
cognitiva, psicológica, e de aprendizagem)
Avaliação da mobilidade da pessoa idosa a cuidar
Acessibilidades da pessoa idosa aos recursos da comunidade
Avaliação do edifício residencial
Processo familiar e rede de apoio á pessoa idosa
Diagnóstico de problemas da pessoa idosa relevantes para a prática de
Enfermagem de Reabilitação
Intervenção e resolução de problemas diagnosticados
Elaborar programa de promoção do exercício físico a um grupo de 6 idosos
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do Lar da Santa Casa da Misericórdia, (Lar Jardim do Sol) integrado no
Centro de Saúdo Caniço com um nível de independência moderada a
ligeira, de acordo com escala de MIF
Elaborar ficha individual para cada pessoa idosa a participar nas sessões de
exercício do programa de actividade física para a pessoa idosa
Seleccionar, reunir e apresentar programa às 6 pessoas idosas seleccionados
Proceder à avaliação inicial das pessoas idosas seleccionados para o
programa.
Da avaliação consta de um questionário, o qual é constituído por duas partes:
A primeira parte inclui a identificação da pessoa a avaliar; 4 questões sobre os
antecedentes e motivação para a prática da actividade física e os antecedentes de
saúde. Numa segunda parte é usada a escala EASY CARE para avaliar de forma
precisa a capacidade funcional e bem-estar social e cognitivo do idoso. Esta fase de
avaliação compreende cerca de 45 minutos de intervenção junto do idoso, estando
este tempo condicionado pela compreensão e colaboração da pessoa idosa a
avaliar.
Numa segunda fase, procede-se á avaliação prática pela aplicação de uma
bateria de testes, da postura, do risco de queda e do tipo de marcha da pessoa
idosa, (através da escala de equilíbrio de Berg) assim como da avaliação
cardiovascular, através da monitorização da:
Frequência de repouso; máxima e de treino
Pressão arterial
Consumo Máximo de 02
Resistência cardiovascular;
A avaliação da composição corporal, através da monitorização:
Peso
Estatura
Massa gorda
Medidas antropométricas, (Perímetro pélvico, braquial e do
quadrícipede);
Avaliação da aptidão física funcional
Força muscular dos membros superiores e inferiores
Resistência dos membros superiores e inferiores
Flexibilidade dos membros superiores e inferiores
Velocidade
Agilidade
Equilíbrio
Todos estes componentes de avaliação constam do INSTRUMENTO DE
AVALIAÇÃO PARA A PRÁTICA DA ACTIVIDADE FÍSICA DA PESSOA IDOSA e na FICHA DE
AVALIAÇÃO PARA A PRÁTICA DA ACTIVIDADE FÍSICA DA PESSOA IDOSA por mim
elaborado, e que se encontra em anexo.
Leccionar aulas de instrução e treino de exercícios adequados às pessoas
idosas envolvidas no programa
Executar avaliação final das pessoas idosas envolvidas no programa de
exercício físico
Planear e executar sessões de educação para a saúde para as pessoas
idosas seleccionados, sobre as seguintes temáticas:
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Importância da actividade física no idoso e factores de risco
modificáveis
Prevenção de quedas, (dependente do risco de queda avaliado)
Elaborar panfletos de apoio às sessões realizadas
1.6 Descrição da execução das actividades
As actividades realizadas no âmbito do presente projecto estão expressas no
cronograma e programa de actividades no lar de idosos, que se segue.
- 47 -
1.8 Implementação do projecto e resultados obtidos
A avaliação do projecto pretende a eficácia e das actividades desenvolvidas,
analisar e discutir os resultados obtidos, os obstáculos e justificativas das actividades
realizadas e não realizadas, e apurar se o objectivo delineado foi atingido. Esta é
realizada ao longo de todo o projecto com reformulação de estratégias se assim for
necessário.
Tendo em conta o objectivo principal delineado para o desenvolvimento deste
projecto: Aprofundar competências teóricas e teórica-práticas sobre a promoção da
mobilidade na pessoa idosa implementei actividades junto da pessoa idosa com duas
vertentes de acordo com o nível de dependência das mesmas, e tendo como
finalidade intervir na mobilidade da pessoa idosa aos três níveis de prevenção.
Assim desenvolvi entre 25 de Fevereiro e 14 de Março de 2008, no Ensino Clínico
III – Enfermagem de Reabilitação Opcional, nos cuidados primários, prestei cuidados
de enfermagem de reabilitação na área de promoção da mobilidade a cinco
pessoas idosas no domicílio e simultaneamente implementei um programa de
actividade física para seis pessoas idosas do Lar ―Jardim do Sol‖, na freguesia do
Caniço. No portfólio apresento fotografias que documentam as diferentes actividades
do projecto.
Relativamente à intervenção junto das pessoas idosas no domicílio, actuei junto
de pessoas idosas no sentido de melhorar a sua qualidade de vida e através da
melhoria da sua capacidade funcional. No que concerne à avaliação esta constou
da avaliação da função motora, da capacidade funcional para o desempenho das
actividades de vida diária e actividades instrumentais da vida diária. Realizei também
avaliação do risco de quedas através da escala de equilíbrio funcional de Berg, onde
pude detectar os factores de risco para quedas da pessoa a ser avaliada e a
avaliação do risco de úlcera de pressão através da escala de Braden.
A avaliação da função motora foi feita tendo em conta os componentes de
força, amplitudes articulares e tonús muscular. Cujos dados encontram-se na folha de
avaliação de reabilitação, foram também avaliados outros parâmetros tais como os
sinais vitais, a sensibilidade e a marcha de modo a conseguir uma avaliação mais
completa e uma intervenção mais eficaz.
Para avaliação da capacidade funcional da pessoa idosa no domicílio foi
utilizada a MIF – Medida de Independência Funcional, foi também utilizada a escala
de Lawton para avaliação da capacidade de desempenho das actividades
instrumentais, pelas razões já documentadas no subcapítulo 1.4.5.1.
Da aplicação da escala de Berg e da minha observação pessoal resultou que
as pessoas idosas no domicílio têm na sua maioria o equilíbrio comprometido e
portanto alto risco de cair.
Da aplicação das escalas de capacidade funcional advém que a autonomia
da pessoa idosa está muito limitada senão inexistente e a capacidade de
desempenho das actividades de vida diária é fraco, ou seja, estas pessoas tinham um
nível de dependência moderada. Outro dos problemas que detectei é que a pessoa
idosa frequentemente passa o dia sozinha embora tenha companhia durante a noite.
Este facto influencia não só a ajuda que estas pessoas necessitam mas também a
educação e treino que poderíamos investir no cuidador assegurando assim uma
melhor continuidade de cuidados.
As condições do domicílio mais frequentemente os acessos externos dificultam
na maioria dos casos a promoção da mobilidade. Outros factores que acontecem
frequentemente são a motivação diminuída para a prática da mobilidade, bem
como sintomas como a dor e a dispneia que dificultam também a participação da
pessoa idosa nas actividades propostas.
Perante os problemas detectados e os diagnósticos de enfermagem de
reabilitação formulados foram implementadas intervenções tais como:
Ensino sobre a importância da mobilidade da pessoa idosa;
Instrução e treino de exercícios isotónicos a todos os segmentos articulares dos
membros superiores e inferiores personalizados;
Ensino sobre medidas de protecção de queda relativamente ao ambiente,
vestuário, realização de actividades de mobilidade, medicação e realização de auto-
cuidados;
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Massagem para diminuição de contracturas e edema dos membros inferiores;
Instrução e treino de marcha com e sem auxiliares;
Instrução e treino de exercícios de equilíbrio estático e dinâmico de pé;
Instrução e treino do auto-cuidado erguer-se;
Ensino da importância de participação em tarefas domésticas leves tais como:
dobrar roupa, descascar verdura, fazer a cama, etc.
Considero que foi de extrema importância a intervenção no domicílio pela
necessidade que tive de me documentar e adaptar às situações em que tive de
intervir fomentando assim a qualidade da minha aprendizagem.
No que se refere à implementação do programa de actividade física a seis
idosos do Lar ―Jardim do Sol‖, as actividades desenvolvidas foram para mim
inovadoras e gratificantes já que apliquei conhecimentos teóricos pela primeira vez
aprendendo muito com as diferentes fases do programa.
Deste programa, (para Caspersen et al, 1985 citado por Benedetti,1999,
programa de exercícios físicos é toda a actividade física planeada estruturada e
repetitiva que tem por objectivo a melhoria e a manutenção de um ou mais
componentes da aptidão física), constou uma entrevista individual inicial a cada
participante para apresentação do mesmo e para adquirir dados sobre os
antecedentes clínicos e antecedentes de prática de exercício, bem como para
abordar a desejo ou não da participação na actividade física. Foi ainda aplicado o
easycare de modo a constatar a opinião da pessoa idosa relativamente ao seu bem-
estar de saúde e qualidade de vida. Escolhi este formulário pelas razões já enunciadas
no subcapítulo 1.4.5.1. O easycare e a entrevista, fizeram parte do instrumento de
colheita de dados que criei e que se encontra em anexo.
Criei também uma ficha da pessoa idosa praticante de actividade física para
aplicação pela enfermeira especialista em reabilitação, onde se encontra resumidos
os dados recolhidos sobre: a identificação; os antecedentes de saúde e os resultados
da avaliação cardiorespiratória; da avaliação do equilíbrio; da avaliação da aptidão
física; da avaliação da composição corporal e ainda onde se destacam os problemas
detectados na avaliação do bem-estar e qualidade de vida e por fim os diagnósticos
de enfermagem de reabilitação formulados.
A avaliação cardiorespiratória foi feita através de parâmetros como a F.C.de
repouso, treino e máxima a T.A. (no intuito de detectar alterações significativas e
impeditivas da realização da actividade física); o VO2 máximo e a % de VO2 ; a
resistência cardiovascular, não se observando alterações significativas entre a
avaliação inicial e a reavaliação no final do programa de actividade física.
Da aplicação do easycare e das questões abertas do instrumento de colheita
de dados, saliento a vontade que todos participantes demonstram para a realização
de actividade física e o medo de ficar dependente e sem autonomia para decidir a
sua vida, referido directa ou indirectamente pela maior dos intervenientes.
Saliento também capacidade cognitiva e a qualidade de vida como
principais itens afectados, daqueles de entre os que constam o easycare.
As pessoas incluídas no projecto possuem idades compreendidas entre os 59 e
os 92 anos de idade. Possuem um grau de instrução baixo, o que também afecta a
elaboração e assimilação dos exercícios propostos.
Da avaliação inicial é também detectável que as pessoas idosas possuem
diferentes patologias: 1 oligofrénico; com problemas de mobilidade cervical e lombar
devido a acidentes; problemas visuais e auditivos também estavam presentes entre
outros.
Os diagnósticos mais encontrados tal como nos idosos do domicílio foram o
equilíbrio estático e dinâmico de pé. Assim como o risco de cair, o conhecimento
diminuído sobre a importância da mobilidade e dos exercícios a realizar nesse sentido,
bem como o risco de complicações do desuso.
As seis pessoas idosas participantes no referido programa (2 masculino; 4
feminino), possuem um nível de dependência ligeira ou são independentes.
A segunda fase do programa constou da avaliação da aptidão física, através
da bateria de testes desenvolvida no âmbito do LifeSpan Project – a Phyfical
Assessment Study Benefiting Older Adults Fullerton Funcional Fitness Test concebida por
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Rikli, E. E. Jones, C (1999), adaptada e validada para a população Portuguesa por
Sardinha, L. (1999).
Esta bateria é composta por seis testes e um sétimo alternativo, que estão
relacionados com os componentes de aptidão física.
De seguida descrevo, citando Ilano et al, os testes que constam da bateria
utilizada, pela ordem que deverão ser executados.
Levantar e sentar na cadeira
Objectivo: Avaliar a força e resistência dos membros inferiores.
Material: Cronómetro; Cadeira com encosto e sem braços, com altura do
assento de aproximadamente 43cm.
Desenvolvimento: O teste inicia-se com a pessoa sentada no meio da cadeira,
com as costas direitas e os pés afastados à largura dos ombros e totalmente apoiados
no solo. Um dos pés deve estar ligeiramente avançado em relação ao outro para
ajudar a manter o equilíbrio.
Os braços estão cruzados ao nível dos pulsos e contra o peito. Ao sinal de
―partida‖ a pessoa idosa eleva-se até à extensão máxima (posição vertical) e regressa
à posição inicial sentado. O participante é encorajado a completar o máximo de
repetições num intervalo de tempo de trinta segundos.
A pessoa idosa deve sentar-se completamente entre cada elevação.
Enquanto controla o desempenho da pessoa idosa para assegurar o maior rigor, o
avaliador conta as avaliações correctas. Chamadas de atenção verbais (ou gestuais)
podem ser realizadas para corrigir um desempenho deficiente.
Fonte: Pfizer e Faculdade de motricidade humana. (2005). Projecto idade maior. Lisboa: Pfizer
Flexão do antebraço
Objectivo: Avaliar a força e resistência dos membros superiores.
Material: Cronómetro; cadeira com encosto e sem braços; halteres de mão
(2,27kg para as mulheres e 3,63kg para os homens).
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Desenvolvimento: A pessoa idosa está sentada numa cadeira, com as costas
direitas, com os pés totalmente assentes no solo e com o tronco alinhado. O haltere
deverá estar seguro na mão dominante.
O teste começa com o antebraço em posição inferior, ao lado da cadeira,
perpendicular ao solo. Ao sinal de ―iniciar‖ o participante roda gradualmente a palma
da mão para cima, enquanto a flexão do antebraço no sentido completo do
movimento; depois regressa à posição inicial de extensão do antebraço. Especial
atenção deverá ser dada ao controle da fase final da extensão do antebraço.
O avaliador (enfermeiro especialista de reabilitação) ajoelha-se (ou senta-se
na cadeira) junto da pessoa idosa no lado do braço dominante, colocando os seus
dedos no bicípite do executante, de modo a estabilizar a parte superior do braço, e
assegurar que seja realizada uma flexão completa (o antebraço da pessoa idosa
deve apertar os dedos do avaliador). É importante que a parte superior do braço
permaneça estática durante o teste. O avaliador pode precisar de colocar a sua
outra mão atrás do cotovelo de maneira a que o executante saiba quando atingiu a
extensão total, evitando movimentos de balanço do antebraço.
O participante é encorajado a realizar um maior número possível de flexões no
tempo limite de 30 segundos. Cada flexão correcta é contabilizada com chamadas
de atenção verbais sempre que se verifica um desempenho incorrecto.
Fonte: Pfizer e Faculdade de motricidade humana. (2005). Projecto idade maior. Lisboa: Pfizer
Estatura e Peso
Objectivo: Avaliar o índice de massa corporal (Kg/m2).
Material: Balança; Medidor de estatura;
Desenvolvimento: Para medir a estatura, solicita-se à pessoa idosa que se coloque no
medidor de estatura, de pé com as costas, os calcâneos encostados à parede
olhando para a frente e com correcto alinhamento corporal. A pessoa idosa deverá
participar no teste descalça ou então deverá retirar-se de 1,3 a 2,5 cm do total da
estatura usando o critério mais rigoroso possível.
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Para avaliação do peso a pessoa deverá despir todas as peças do vestuário
pesado, tais como casacos, etc. O peso é medido e registado com aproximação às
100g e ajustamentos relativo ao peso do calçado. Em geral deve ser subtraído 450g
para as mulheres e 910g para os homens.
Fonte: Pfizer e Faculdade de motricidade humana. (2005). Projecto idade maior. Lisboa: Pfizer
Sentado e Alcançar
Objectivo: Avaliar a flexibilidade dos membros inferiores
Material: Cadeira com encosto e altura do assento aproximadamente de
43cm; Régua de 45cm.
Desenvolvimento: Começando numa posição de sentada a pessoa idosa
avança o seu corpo para a frente se encontrar sentado na extremidade do assento
da cadeira. A sobra entre o topo da perna e as nádegas deve estar ao nível da
extremidade do assento. Com uma perna flectida e o pé totalmente assente no solo,
a outra perna (a perna de preferência) estendida na direcção da coxa, com o
calcanhar no chão e o pé flectido (aproximadamente 90º). A pessoa idosa deve ser
encorajada expirar à medida que flecte para a frente, evitando movimentos bruscos e
rápidos e nunca atingindo o limite da dor.
Com a perna estendida (mas não em hiper-extensão), a pessoa idosa flecte
lentamente para a frente ate à articulação com coxo-femural (a coluna deve manter-
se o mais direita possível), deslizando as mãos (uma sobre a outra, com a ponta dos
dedos sobrepostas) ao longo da perna estendida, tentando tocar os dedos dos pés.
Deve tocar nos dedos dos pés durante alguns segundos. Se o joelho da perna
estendida começar a flectir, solicitar à pessoa idosa que se sente lentamente até que
o joelho fique em extensão antes de iniciar a medição.
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Fonte: Pfizer e Faculdade de motricidade humana. (2005). Projecto idade maior. Lisboa: Pfizer
Sentado, caminhar 2,44m e voltar a sentar
Objectivo: Avaliar a velocidade, agilidade e equilíbrio.
Material: Cronómetro; Fita métrica; Cone (ou outro marcador); Cadeira de
encosto com aproximadamente com 43cm de altura.
Desenvolvimento: O teste é iniciado com a pessoa idosa totalmente sentada
na cadeira (postura erecta), mãos nas coxas e pés totalmente assentes no solo (um pé
ligeiramente avançado em relação ao outro). Ao sinal de ―partida‖ a pessoa idosa
eleva-se da cadeira (pode empurrar as coxas ou a cadeira), caminha o mais rápido
possível dando a volta ao cone (por qualquer um dos lados) e regressa a cadeira.
A pessoa idosa deve ser informada de que se trata de um teste cronometrado,
sendo o objectivo caminhar o mais rápido possível (sem correr). O avaliador deve
funcionar como assistente, mantendo-se a meia distância entre a cadeira e o cone,
de maneira a poder dar assistência em caso de desequilíbrio. O avaliador deve iniciar
o cronómetro ao sinal de ―partida‖ quer a pessoa tenha ou não iniciado o movimento,
e Pará-lo no momento exacto em que a pessoa se senta.
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Fonte: Pfizer e Faculdade de motricidade humana. (2005). Projecto idade maior. Lisboa: Pfizer
Dois minutos de step no próprio lugar
Objectivo: Avaliar a resistência aeróbia (teste alternativo ao de andar 6 min).
Material: Cronómetro; Fita métrica (com pelo menos 75cm); Memómetro (se
possível) para assegurar a contagem exacta do número de steps.
Desenvolvimento: Ao sinal de ―partida‖ o participante inicia o step no mesmo
lugar, realizando o maior número possível de steps no período de tempo estipulado (2
minutos) no próprio local. O avaliador conta o número de steps efectuados servindo-se
de apoio em caso de desequilíbrio da corda da fita métrica com 75cm de modo a
assegurar que o participante mantenha a altura adequada. Logo que altura
adequada do joelho não possa ser mantida, o participante é informado para parar ou
apenas descansar até recuperar. O teste poderá ser efectuado com uma mão do
participante sobre a mesa ou na parede para ajudar a manter o equilíbrio. Este teste
de avaliação de cardio-respiratória deverá efectuar-se fora da sequência dos
anteriores.
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Fonte: Pfizer e Faculdade de motricidade humana. (2005). Projecto idade maior. Lisboa: Pfizer
Andar seis minutos (este teste não foi incluído no projecto, tendo-
se optado pelo step de dois minutos).
Objectivo: Avaliar a resistência aeróbia. Distância percorrida durante 6 minutos.