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Imagens Religiosas nos Desfiles de Escolas de Samba no Rio de Janeiro: Entre
Interdições e Tolerâncias.
AndréLuiz Porfi ro
(Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro – ISERJ eGrupo de Estudos Ilè Obà Òyó – ProPEd – UERJ)
RESUMO
O artigo pretende analisar as táticas das Escolas de Samba para enfrentar as
interdições e as tolerâncias da Igreja Católica, no que se refere a apresentação de
imagens religiosas nos desfiles carnavalescos no Rio de Janeiro. No foco da análise
estará a Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis, pela sua explícita ligação com as
religiões de matriz africana e afro-brasileira. Serão analisados os desfiles do ano de
1989, com o enredo “Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia”, do ano de 2002, com
o enredo "O Brasil dá o Ar de sua Graça. De Ícaro a Ruben Berta: O Ímpeto de Voar" e,
por fim, o desfile do ano de 2011, com o enredo “Roberto Carlos, A Simplicidade de
um Rei”, onde com o cantor popular Roberto Carlos, Cristo é liberado para participar dodesfile, sendo ovacionado pelo público com gritos de “já ganhou” nas mágicas luzes do
Sambódromo.
Palavras-chave: Interdição - Escolas de Samba - Intolerância Religiosa - Liberdade de
Expressão - Cultura Popular.
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No ano de 1989, na grande festa de cultura popular de massas, o desfile das
Escolas de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro1, a Cúria Metropolitana do Rio
de Janeiro, através de uma liminar impetrada no Poder Judiciário, interditou uma
alegoria, o carro abre-alas, da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis. A alegoria
carnavalesca em questão, que representava uma das imagens símbolo da cidade do Rio
de Janeiro, o Cristo Redentor, foi proibida de ser apresentada. O carro alegórico, em
conformidade com a concepção do enredo “Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”,
pretendia apresentar a imagem de um Cristo Redentor maltrapilho, em farrapos, como
um mendigo, tal qual os atores e desfilantes da Escola de Samba que estariam a sua
volta.
Com a interdição, ocorrida as vésperas do desfile carnavalesco, a Escola de
Samba de Nilópolis, pequeno município da Baixada Fluminense, região metropolitana
do Estado do Rio de Janeiro, ficou entre “a cruz e a espada” e o regulamento. Havia a
obrigatoriedade, imposta pelo regulamento do concurso, da apresentação da alegoria2.
A Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis cercada por um lado, pelo
regulamento do desfile que exigia a alegoria, por fazer parte da proposta do enredo, e
por outro, pela liminar da justiça, que acatou a solicitação de interdição feita pela Cúria
Metropolitana, foi obrigada a criar uma estratégia de apresentação da alegoria. A tática
consistiu em cobrir a escultura do Cristo esfarrapado com sacos plástico de lixo na cor
preta, deixando transparecer a forma básica da escultura do Cristo Mendigo,
transversalmente, de um braço a outro, colocou uma enorme faixa com a frase "Mesmo
Proibido Olhai por Nós".
Em 2011, novamente a Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis, volta com a
imagem de um Cristo numa alegoria apresentada nas mágicas luzes do Sambódromo.
Dessa vez não houve interdições. A alegoria que finalizou o desfile, do enredo “Roberto
1 Os desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro estão divididos em Grupo Especial, com 12 Escolas
de Samba – concurso organizado pela LIESA – Liga Independente das Escolas de Samba do Rio deJaneiro-. Série A, com 19 Escolas de Samba – concurso organizado pela LIERJ – Liga das Escolas deSamba do Rio de Janeiro-. Os dois primeiros grupos fazem seus desfiles no Sambódromo, Av. Marquesde Sapucaí, centro do Rio de Janeiro. Grupo B, com 13 Escolas de Samba, Grupos C e D, com 12 Escolasde Samba – concurso organizado pela AESCRJ – Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio deJaneiro-. As Escolas de Samba afiliadas a AESCRJ desfilam na Av. Intendente Magalhães, no bairro deCampinho, subúrbio do Rio de Janeiro. Dados dos desfiles de 2013. Fonte: sites da LIESA, LIERJ eAESCRJ. 2
As Escolas de Samba apresentam aos organizadores do concurso um libreto com o detalhamento das partes do desfile. Os jurados são orientados a observarem os detalhes para avaliarem a exibição dasEscolas, podendo retirar pontos nos quesitos não apresentados.
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Carlos, a Simplicidade de um Rei”, apresentava o cantor popular Roberto Carlos,
cercado de crianças com vestes assemelhadas de Nossa Senhora da Aparecida, entre os
braços estendidos de um Cristo com as cores azul e branco, cores da Escola de Samba e
da predileção do artista popular homenageado. Um olhar mais detalhado nas imagens da
alegoria percebe-se que o duplo ali estava presente. Retomando a influência das
religiões de matrizes africanas e afro-brasileiras nos desfiles das Escolas de Samba, o
público presente na Passarela do Samba, saudou no final do desfile a Beija-Flor de
Nilópolis, o artista popular e o Cristo/Oxalá ovacionando-os com gritos de “é
campeã!!!”.
Passados mais de duas décadas do episódio inicial, o Cristo oculto, ao aplauso na
apresentação do Cristo presente, interdições e várias formas veladas de censura a
liberdade de expressão artística aconteceram a diversas Escolas de Samba, antes de
virarem o cotovelo e pisarem no asfalto sagrado do samba, da Avenida Marquês de
Sapucaí, para iniciarem seus desfiles. Pretendo neste artigo descrever as táticas das
Escolas de Samba para enfrentar as interdições da Igreja Católica e dos demais poderes
instituídos, no que se refere a apresentação de imagens religiosas nos desfiles
carnavalescos. Utilizarei a Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis como foco da
análise, pela sua ligação explícita com as religiões de matriz africana e afro-brasileira,
sendo também, nesta Escola, onde as interdições e proibições foram mais constantes e
as táticas para a apresentação das suas criações conseguiram subverter a ordem que se
queria estabelecer.
OS GREMIOS RECREATIVOS ESCOLAS DE SAMBA
Quando é que a gente podia imaginar que aquelas brincadeiras iam dar
nisso? Uma coisa de esquina encher avenida? Hoje isso não é mais escola. Éuniversidade, é academia, é faculdade, sei lá! E amanhã é a formatura do
pessoal que estudou o ano inteiro. Colação de grau, desfile em passarela,
festa maior do mundo. Que coisa!...3
Das primeiras manifestações espontâneas até as grandes Escolas de Samba foi
grande o percurso traçado. Passando pelos Blocos, Ranchos, Cordões, Grandes
3
Depoimento de Ismael Silva ao MIS -Museu da Imagem e do Som- , bamba do Estácio, queinicialmente cunhou o termo 'Escola de Samba' in: ESPILOTRO, Sandra (Org.). História do Samba. Riode Janeiro, Globo, 1997, pág 84.
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Sociedades, Clubes Carnavalescos. Juntando a influência dos afrodescendentes, com os
portugueses e seus descendentes e também com os brasileiros mestiços, chegou-se a
grande festa de cultura popular de massa que mostra a face criativa, alegre e de
superação do Brasil, o Desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro.
No início do século XX, a barreira social dividia a festa. De um lado os mais
abastados, a elite do país, brancos da classe média alta, aristocratas, ricos fazendeiros,
grandes banqueiros, prósperos comerciantes, fazia o que se denominava "O Grande
Carnaval". Uma passeata que o povo só tinha espaço como espectador. Os Clubes
Carnavalescos e as Grandes Sociedades eram as organizações que desempenhavam o
desfile. Tinham como características, que depois foram incorporadas as Escolas de
Samba, a beleza dos carros alegóricos, os carros de ideias e os de crítica, o luxo das
fantasias, os fogos de artifício.
Do outro lado havia o "Pequeno Carnaval", termo cunhado na época, com
participação popular. Era realizado pelos Cordões, Ranchos e Blocos. Essas
agremiações legaram o lado afrodescendente ao surgimento das Escolas de Samba.
Os Cordões se originaram na Festa de Nossa Senhora do Rosário, realizada nos tempos
coloniais e com grande participação dos negros escravizados. Foi lá que surgiram os
Cordões dos Velhos e o dos Cucumbis, considerados os mais importantes na formação
das Escolas de Samba, pela contribuição integral da cultura afrodescendente. Donga e
João da Bahiana, sambistas tradicionais participaram de muitos carnavais nos Velhos e
Cucumbis.
O Rancho era uma espécie de Cordão mais organizado. Era possível a presença
feminina. Na disposição do desfile havia um coro para entoar a marcha e coreografias.
O porta-estandarte era obrigatório. Haviam mestres de harmonia, um para o canto, um
para a orquestra e outro para a coreografia. Esses elementos foram incorporados as
Escolas de Samba.Da união dos Blocos surgiram várias Escolas de Samba do Rio de Janeiro. A
Deixa Falar, considerada a primeira agremiação a utilizar o título de Escola, originou-se
do Bloco Vai Como Pode. O mesmo Vai Como Pode em junção com o Quem Fala de
Nós Come Mosca e ao Baianinhas de Osvaldo Cruz, transformou-se na Portela.
Para se diferenciar dos blocos, que na ocasião eram perseguidos pela polícia e
não obtinham autorização para fazerem seus desfiles, Ismael Silva, líder dos sambistas
do Estácio, criou o termo Escola de Samba. Foi uma estratégia para melhorar as
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relações com a polícia. A partir daí, obteve autorização para as rodas de samba no bairro
e o desfile das nova agremiação, agora intituladas de Escola de Samba Deixa Falar.
Posteriormente, a Escola de Samba incorporou na sua estrutura de apresentação
tanto o "Grande Carnaval" das elites quanto o "Pequeno Carnaval" das classes menos
favorecidas. Dentro da procissão carnavalesca se estabeleceu o samba como elemento
principal unindo a dança, a música de percussão - o batuque- e o canto. Criando a
estrutura essencial para o seu desenvolvimento. "O batuque-dança-canto, essa tríade
poderosa, irradia e contagia a todos, entre dançarinos e espectadores que brincam,
todos em atitude indistinta, como se fossem parte de um todo."·4
Com o declínio das Grandes Sociedades, as Escolas de Samba incorporam do
"Grande Carnaval" os luxuosos carros alegóricos ocupados por fantasias grandiosas e
lindas mulheres. Em 1959, inicialmente no Salgueiro, forja-se a união entre o morro,
reduto de afrodescendentes, e o asfalto, através de artistas visuais da Escola Nacional de
Belas Artes. A inovação coube ao casal Marie Louise e Dirceu Nery. No ano seguinte
juntam-se ao casal Fernando Pamplona, o figurinista Arlindo Rodrigues e o aderecista
Nilton de Sá, completando o quinteto do Salgueiro. Posteriormente esse grupo foi
complementado por Maria Augusta Rodrigues, Rosa Magalhães e Joãozinho Trinta,
ícones contemporâneos dos desfiles das Escolas de Samba.
EM CENA: A DEUSA DA PASSARELA - A ESCOLA DE SAMBA BEIJA-FLOR
DE NILÓPOLIS
“ É ela, a deusa da passarela, razão do meu cantar feliz .Beija-Flor minha
escola, minha vida, meu amor.”5
Criada em 25 de dezembro de 1948 como Associação Carnavalesca Beija-Flor,
surgiu para ocupar o espaço deixado com a extinção dos blocos Irineu Perna de Pau edos Teixeiras. Participou pela primeira vez do desfile oficial das Escolas de Samba em
1954 com o enredo "O Caçador de Esmeraldas" obtendo o primeiro lugar do grupo II, o
que lhe deu o direito de ano seguinte desfilar entre as grandes escolas. Nesse período já
se denominava Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor.
4 LIGIÉRO, Zeca. Performances Processionais Afro-brasileiras. Texto inédito utilizado no Curso
Inventando o Brasil da Universidade do Rio de Janeiro - Uni-Rio, 2001. 5 Trecho da música “A Deusa da Passarela” de Neguinho da Beija-Flor,intérprete principal da Escola de
Samba Beija-Flor de Nilópolis nos desfiles de carnaval no Sambódromo. Esta música é cantada antes doinício da apresentação da Escola de Nilópolis, servindo para estabelecer um elo de união e pertencimentoentre os desfilantes e a Escola de Samba.
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Nos seus 65 anos de existência, a Beija-Flor marcou a história dos desfiles
carnavalescos do Rio de Janeiro. Inicialmente criticada por fazer apologia ao Regime
Militar, após a vinda de Joãosinho Trinta começaram as críticas de intelectuais e
acadêmicos em virtude da exuberância e luxo de suas alegorias, como também a
explicitação da representação do negro e das religiões de matriz africana e afro-
brasileira em seus desfiles.
Sua [da Beija-Flor] representação intimamente colada à pesquisa das culturas
e das linguagens africanas tem sido, por sua vez, criticada pelo uso de
palavras estrangeiras que tornam difícil a compreensão do samba pela
comunidade nilopolitana. Pergunto: não seria este um protesto de quem se
esquece de que o próprio termo ―samba‖ possui origens africanas? Se uma
comunidade como a de Nilópolis não entende o que canta, o uso de termos
africanos pode aproximá-la de seu próprio modo de compreensão não
―racional‖. Cantar em ioruba ou qualquer outra língua africana é um modo
de dizer que, embora a África esteja distante do horizonte de vida dos foliões
da Beija-Flor, o que ressurge a cada ano, num canto como o do refrão ―Leba
laro ô ô ô ô / Ebó lebará‖ - uma evocação ao orixá das ruas -, é a questão: o
que pode ser considerado estrangeiro num enredo nacional? Baseada na
experiência deste desfile, a conclusão é fácil: a África é aqui.6
Nos anos de 1976, 1977, 1978 quebrou a hegemonia de vitórias das grandes
escolas ganhando um tricampeonato. Iniciando daí a sua primeira grande virada nos
desfiles.
Com o carnavalesco Joãosinho Trinta realizou uma verdadeira revolução nos
padrões estéticos do desfile. Como afirma Araújo:
Com as arquibancadas cada vez mais altas, as escolas eram vistas muito do
alto, o que obrigou o espetáculo a crescer para cima. Esse crescimento
vertical é o que chamamos de estilo barroco clássico, que foi lançado em
1976 pela Beija-Flor com o trabalho desenvolvido por Joãozinho Trinta7 .
Num processo de adaptação ao novo estilo as outras agremiações passaram a
investir em grandes e luxuosos carros alegóricos destacando o caráter visual do desfile.
6 Lima, Fátima Costa de. Alegoria Benjaminiana e Alegorias Proibidas no Sambódromo Carioca: O Cristo
Mendigo e a Carnavalíssima Trindade. Tese de Doutorado, UFSC – Universidade Federal de SantaCatarina, 2011, pág. 252 7 ARAÚJO, Hiram. Revista Beija-Flor, Uma Escola de Vida. Rio de Janeiro, Beija-Flor, 2002.
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Em 1989, novamente a Beija-Flor quebra o paradigma de luxo e exuberância,
põe na avenida o enredo "Ratos e Urubus Larguem a Minha Fantasia". A ascensão do
luxo de treze anos atrás foi substituído pela teatralidade. Grupo de teatro popular como
o Tá na Rua e estudantes da Escola de Teatro da Universidade do Rio de Janeiro -
UniRio- foram escalados como mendigos em performances permanentes durante todo o
desfile. A diretoria vestida com uniforme de trabalhadores da limpeza pública e num
carro alegórico um Cristo, em meio a mendigos, coberto com plástico preto, com uma
faixa onde se lia "Mesmo Proibido Olhai por Nós", fazia cair por terra os anos de luxo e
apontava para outro aspecto inovador trazido para os desfiles das Escolas de Samba pela
Beija-Flor de Nilópolis, a incorporação de elementos teatrais.
A terceira grande inovação ocorre em 1998: a criação da Comissão de Carnaval.
Com a quebra da hegemonia de vitórias das quatro grandes Escolas de Samba,
Mangueira, Portela, Salgueiro e Império Serrano, em 1976, a escola de Nilópolis forjou
a figura do carnavalesco como o grande criador do desfile das Escolas de Samba. A
Beija-Flor tinha em seu barracão João Jorge Trinta, que até hoje é considerado um ícone
dos desfiles carnavalescos. A criação da comissão de carnaval impõe um novo pensar
nas relações de autoria na criação do desfile. Segundo Cabral:
coube a Beija-Flor a mais importante novidade dos últimos anos, que foi
entregar a uma equipe e não a apenas uma pessoa, a responsabilidade de
elaboração do enredo. A impressão que eu tenho é que, com tal decisão,
ocorreu uma redução de vedetismo em favor do aumento de eficiência.8
Uma equipe dá a sua tradução estética ao espetáculo, o coletivo passa a ser
considerado o criador do enredo. A escola passa a ser vista como um todo a
revalorização da comunidade passa a ser a tônica. A Ala das Baianas ganha mais
notoriedade. A bateria volta a ter em seus quadros a maioria de componentes de
Nilópolis e cidades vizinhas. As alas de comunidade e alas de afrodescendentes passam
a representar a maioria da escola. Os ensaios de rua voltam com bastante força e
acontecem a cada semana em um bairro da cidade, a quadra de ensaios retoma seu lugar
de ponto de encontro da comunidade, abrigando em seu interior variados eventos,
religando a escola a gente de sua cidade.
8 CABRAL, Sérgio. Revista Beija-Flor, Uma Escola de Vida. Rio de Janeiro, Beija-Flor, 2002.
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OS LAÇOS ENTRE O SAGRADO E O PROFANO NAS ESCOLAS DE SAMBA
Desde o sequestro de africanos para terras sul-americanas, em fins do século
XVI e início do século XVII, suas manifestações são reprimidas pelo colonizador. Os
negros em sua criatividade forjaram meios para a manutenção de sua cultura e
religiosidade conseguindo legar ao Brasil e ao mundo toda a riqueza de seus hábitos.
Dessa mistura sincrética, intersecionando hábitos trazidos da África com os costumes
adquiridos na nova terra surgiram às manifestações que dão ao mundo a face do Brasil.
O samba desde a sua origem percorre caminhos tortuosos para manter-se vivo.
No início do século XX era proibido pelas autoridades policiais de ser tocado na sala da
casa das tias Baianas da Praça XI. Os sambistas se reuniam no quintal, no fundo da
residência, enquanto na sala, como estratégia para afugentar a determinação policial,
tocava-se chorinho, ritmo originado do samba, mas que era permitido. Os sambistas do
início do século passado utilizaram estratégias parecidas com a dos africanos
sequestrados de sua terra em séculos anteriores. Aceitando nomes cristãos para deuses
africanos mantiveram sua tradição.
Contemporaneamente, o Desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro é
considerado uma das manifestações de cultura popular de massas de maior importância
para a visibilidade do Brasil. A união dos diferentes elementos formadores do povo
brasileiro é ressaltada, sendo a predominância do elemento afrodescendente salientada.
Para Machado:
o desfile é uma procissão afro-brasileira em andamento, mais profana para
uns, mais sagrada para outros. As Baianas, duzentas, trezentas, noventa por
cento, são rezaderias, mães de santo, caxambuzeiras, jongueiras, uma
respeitável tradição afro-brasileira. O mestre sala dança, canta, corteja e
protege a porta bandeira com a dança de Ogum....e com qualquer enredo
essas peças não faltam é aí que se estreitam os laços entre a religiosidade e a
festa popular.9
A união entre o sagrado e o profano se dá nas atividades cotidianas da criação
carnavalesca, sendo por vezes explícita, por vezes oculta, relata Júlio Machado, que
durante o carnaval se transforma em Xangô do Salgueiro:
9 MACHADO, Julio. Depoimento ao autor (04/04/2003).
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Dentro do próprio Barracão acontece de peças não serem desmontadas, que
as Escolas tem uma crença sobre elas. Em todas as superstições, chamegos,
crenças há uma postura religiosa. Só essa atitude que reverencia o
sobrenatural mostra uma estreita relação entre o folião e a sua escola com a
religiosidade. O próprio Barracão, onde nasce o espetáculo, é uma evidênciade como se une o profano com o sagrado. Das encomendas que são feitas
para a Escola fazer um desfile melhor, aos banhos é uma relação intima entre
o profano e o sagrado... só que essas coisas não devem ser explicitadas. Eu
guardo os meus princípios eu guardo os meus preceitos. 10
DO CRISTO MENDIGO AO CRISTO COM ROBERTO CARLOS -
PROIBIÇÕES E TÁTICAS PARA APRESENTAÇÃO DE IMAGENSRELIGIOSAS NO DESFILE CARNAVALESCO
A tolerância é o respeito, a aceitação e o apreço da riqueza e da diversidade
das culturas de nosso mundo, de nossos modos de expressão e de nossas
maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanos. É fomentada pelo
conhecimento, a abertura de espírito, a comunicação e a liberdade de
pensamento, de consciência e de crença. A tolerância é a harmonia na
diferença. Não só é um dever de ordem ética; é igualmente uma necessidade
política e jurídica. A tolerância é uma virtude que torna a paz possível e
contribui para substituir uma cultura de guerra por uma cultura de paz.11
Apesar de toda importância e respeito adquiridos pelas Escolas de Samba,
contemporaneamente ainda se faz necessária à solicitação de permissões para a
apresentação de imagens religiosas nos seus desfiles. Em se tratando de um espetáculo
artístico popular, em dias de alteração do cotidiano, ideia básica dos dias carnavalescos,
a censura, a intolerância e a necessidade de permissões atentam claramente contra a
liberdade de expressão.As Escolas de Samba travam uma peleja incessante e desigual com a Igreja
Católica e outros poderes instituídos na sociedade, para exercer a liberdade de expressar
em seus desfiles, criações em que utilizem imagens religiosas.
O momento de maior tensionamento entre as Escolas de Samba e a Igreja
Católica ocorreu no desfile do ano de 1989. Nesse ano, a Escola de Samba Beija-Flor de
10
MACHADO, Julio. Depoimento ao autor (04/04/2003). 11 Declaração de Princípios sobre a Tolerância Artigo 1º - 1.1, in:http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001315/131524porb.pdf, pág 11.
http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001315/131524porb.pdfhttp://unesdoc.unesco.org/images/0013/001315/131524porb.pdf
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Nilópolis apresentou o enredo "Ratos e Urubus Larguem Minha Fantasia", de criação do
carnavalesco Joãozinho Trinta. O centro da celeuma criada pela Igreja Católica foi o
carro abre-alas da Escola de Samba. A alegoria carnavalesca em questão, em
conformidade com a concepção do enredo, pretendia apresentar a imagem de um Cristo
Redentor maltrapilho, em farrapos, como um mendigo, tal qual os atores e desfilantes
da Escola de Samba que estariam a sua volta. O carro alegórico foi interditado e
proibido de ser apresentada através de uma liminar ao Poder Judiciário, impetrado pela
Cúria Metropolitana.
Quando a Igreja interveio no processo de criação da alegoria, ela fez reviver
o terror da Inquisição barroca no contexto carnavalesco atual. Ela pode,
então, ser considerada - além de uma espécie de co-artista na criação do
Cristo Mendigo -, co-autora de uma obra que ela não desejava.12
Subvertendo a ordem de proibição do instituído - a Cúria Metropolitana e o
Poder Judiciário – e em cumprimento ao regulamento, a equipe de criação da Beija-Flor
optou por uma tática que remete o desfile das Escolas de Samba aos seus primórdios
como construção de linguagem artística. Trazendo o oculto a cena, influência das
tradições das religiões de matrizes africanas e afro-brasileiras, a equipe de criação da
Beija-Flor, liderada pela Trindade Profana: Joãosinho Trinta, Laíla e Anísio, opta por
cobrir as chagas mendicantes do símbolo da cidade com sacos pretos, cuja finalidade é
acondicionar os dejetos criados pela cidade para serem carregados pela empresa de
limpeza pública, e transversalmente, entre os braços desse oculto Cristo mendigo,
penduraram uma faixa com a frase “Mesmo Proibido, Olhai por Nós”.
12 GOMES, Fábio. O Brasil é um luxo: trinta carnavais de Joãosinho Trinta. CBPC / Axis, 2008, 256 p., p. 244.,apud Lima, Fátima Costa de. Alegoria Benjaminiana e Alegorias Proibidas no Sambódromo Carioca: O CristoMendigo e a Carnavalíssima Trindade. Tese de Doutorado, UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina, 2011, pág. 350
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Imagem 1 – Cristo Mendigo, 198913
Naquele momento a figura oculta, tornara-se, ao canto do refrão14 do samba-
enredo, Exú: movimentando os pilares dos desfiles de Escola de Samba realizados até
então.
A alegoria coberta, cercada de desfilantes mendigos, mostrou uma visualidade
diferente do que os acostumados olhos espectadores esperavam. O impacto visual da
escolha de cobrir o Cristo Mendigo foi considerado maior do que possivelmente seria a
sua apresentação em descoberto. Segundo Lima:
O Cristo Mendigo [oculto] é obra coletiva. A questão da autoria do Cristo
Mendigo solicita um pensamento dialético. O Cristo de Joãosinho Trinta mal
consegue ser de Joãosinho Trinta: se, por um lado, o Cristo Mendigo foi fruto
de uma mãe amorosa, o carnavalesco; por outro, Dom Eugênio Salles,
arcebispo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro, pode ser assumido como
seu pai que, numa crise de depressão pré-parto, tentou eliminar o feto ainda
na barriga da mãe.
Contudo, se o pai o rejeitou antes do nascimento, teve muitos motivos para
rejeitá-lo ainda mais, depois. A mãe, ao contrário, assim como todo o público
do sambódromo, abraçou os braços abertos da alegoria. Se o pré-natal foi
tranqüilo, o parto foi de risco. O paradoxal natimorto ressuscitado que saiu do
13
Disponível em www.sambariocarnaval.com/rixxa16.htm. 14 O refrão do samba enredo da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis no desfile de 1989 era parte deum ponto para o Orixá Exú―”Leba-larô ôôôô / Ebo-lebará laiá laia ô”
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barracão da Beija-Flor não foi o duplo do Cristo Redentor, o monumento
inspirador da alegoria cuja cópia deveria desfilar, se não fosse proibida,
coberta de trapos brancos: o Cristo Mendigo foi gestado branco, mas nasceu
preto.15
Simbolicamente o oculto tornou-se presente e disseminou a imaginação da
plateia estupefata com a performance beijaflorina. Com um misto de surpresa,
descoberta e êxtase, o Cristo proibido extrapolou seu momento de efemeridade na
Passarela do Samba e estabeleceu interfaces com variadas linguagens artísticas, artigos
e teses em universidades nacionais, com significados plurais, tornando-se um dos
símbolos do Desfile das Escolas de Samba.
No início do século XXI, no desfile do ano de 2002, no enredo, "O Brasil dá o
Ar de sua Graça. De Ícaro a Ruben Berta: O Ímpeto de Voar" a relação entre a Igreja
Católica e a Beija-Flor foi pautada por situações contraditórias. Existiam, pela sinopse
do enredo, dois carros alegóricos com imagens religiosas. O primeiro teria uma
escultura representando São Jorge, que pelo sincretismo religioso, na umbanda, é
Ogum. O outro denominado Carro da Paz, que fecharia o desfile, traria uma enorme
escultura de Nossa Senhora da Aparecida, padroeira do Brasil.
Buscando o diálogo com a Igreja Católica, principalmente em decorrência dos
fatos ocorridos com o Cristo Mendigo e com alegorias interditadas de outras Escolas de
Samba, numa tática de não enfrentamento, a Beija-Flor de Nilópolis convidou membros
da Cúria carioca para visitar o Barracão da Escola e avalizar a apresentação das imagens
religiosas no desfile.
A proibição da alegoria do Cristo Mendigo foi a primeira de outras que
provocaram uma série de censuras impetradas por representantes da Igreja
Católica, das quais a escola de samba de Nilópolis e o carnavalesco
Joãozinho Trinta parecem ter sido alvos preferenciais. A Beija-Flor, por
conta desses problemas, toma hoje como procedimento regular consultar os
representantes da Cúria carioca a cada vez que uma de suas criações artísticas
envolve a inclusão de símbolos católicos em seus desfiles, um procedimento
que encontra seu fundamento e justificativa no evento Cristo Mendigo.16
15 Lima, Fátima Costa de. Alegoria Benjaminiana e Alegorias Proibidas no Sambódromo Carioca: O
Cristo Mendigo e a Carnavalíssima Trindade. Tese de Doutorado, UFSC – Universidade Federal de SantaCatarina, 2011, pág. 349 16 Ibidem, pág. 265
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Houve, em relação ao carro alegórico com a imagem do Santo Guerreiro, um
entendimento entre a Igreja e Escola de Samba. Segundo Cid Carvalho, na época um
dos integrantes da comissão de carnaval da Beija-Flor, "a própria Igreja sugeriu que
colocássemos o dragão mais abaixo do cavalo, meio escondido, assim ficava
descaracterizado como imagem de São Jorge" 17. As mudanças sugeridas foram
realizadas antes da finalização do acabamento da alegoria, criando a possibilidade de
modificação sem a alteração do sentido definido pelo enredo. Para a plateia de credo
católico era a representação de São Jorge, para a Cúria carioca era uma alegoria
carnavalesca, para os umbandistas era Ogum.
Imagem 2- São Jorge / Ogum18
No Carro da Paz, a beligerância da Cúria Metropolitana carioca foi presente e a
intolerância solidificada. A Igreja Católica manteve-se inflexível, interditando mais uma
vez a liberdade de criação artística no carnaval, proibindo a apresentação da imagem de
17
CARVALHO, Cid. Depoimento ao autor (02/05/2003)18 Acervo do autor. Depois da desmontagem do carro alegórica e escultura de São Jorge/Ogum foi
colocada em lugar de destaque na quadra de ensaios da Beija-Flor em Nilópolis.
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Nossa Senhora da Aparecida, a padroeira do Brasil. Com a interdição, a Escola de
Samba Beija-Flor de Nilópolis foi obrigada a modificar o projeto inicial da alegoria. De
acordo com Laíla, diretor geral de carnaval e coordenador da Comissão de Carnaval da
Beija-Flor, o significado da alegoria no enredo era " fazer um pedido de paz no final do
desfile com a imagem de Nossa Senhora, só que a Igreja proibiu”19.
Em virtude da necessidade de alterar o carro alegórico, mais uma vez a
criatividade da equipe de criação do desfile carnavalesco fez-se presente. É ainda Laíla
que explica de forma sarcástica, a tática para subverter a interdição feita pela Igreja
Católica: “ Foi um pandemônio terrível, aí resolvemos colocar figura viva. Figura viva
não é imagem" 20.
Nossa Senhora da Aparecida foi representada por mulheres negras da
comunidade de Nilópolis. As mulheres ficavam numa posição estática, contrastando
com os movimentos efusivos característico de um desfile de Escola de Samba, e em
momentos predeterminados trocavam de posição, dando significações diferenciadas as
suas formas. A proibição da imagem da santa católica pela Igreja levou o protagonismo
da sagração da paz para as mulheres negras da periferia do Rio de Janeiro, mulheres que
lutam cotidianamente para modificar as condições precárias existentes das relações em
nossa sociedade.
No ano de 2003, a interdição de imagens religiosas nos desfiles carnavalescos
entra na esfera do poder público municipal. A partir de imagens de um ensaio da Escola
de Samba Beija-Flor de Nilópolis mostrando a performance de um ator representando
Cristo, armado com um revólver, assaltando e exterminando uma criança moradora de
rua, veiculados por uma emissora de televisão, o prefeito da cidade do Rio de Janeiro
tomou para si a responsabilidade de zelar pela “moral e bons costumes”. Atentando
contra a liberdade de expressão em arte, publicou um decreto proibindo a utilização de
imagens religiosas no desfile das Escolas de Samba.
Em 2011, novamente a Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis, volta com a
imagem de um Cristo numa alegoria apresentada nas mágicas luzes do Sambódromo.
Dessa vez não houve interdições. A alegoria que finalizou o desfile, do enredo
“Roberto Carlos, a Simplicidade de um Rei”, apresentava o cantor popular Roberto
Carlos, cercado de crianças com vestes assemelhadas de Nossa Senhora da Aparecida,
19 LAÍLA. Depoimento ao autor (02/05/2003)20 Ibidem
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entre os braços estendidos de um Cristo com as cores azul e branco, cores da Escola de
Samba e da predileção do artista popular homenageado. Um olhar mais detalhado nas
imagens da alegoria percebe-se que o duplo ali estava presente. Retomando a influência
das religiões de matrizes africanas e afro-brasileiras nos desfiles das Escolas de Samba,
o público presente na Passarela do Samba, saudou no final do desfile a Beija-Flor de
Nilópolis, o artista popular e o Cristo/Oxalá ovacionando-os com gritos de “é
campeã!!!”.
Imagem 3 – O Cristo com Roberto Carlos, 201121
CHEGANDO A APOTEOSE22
No festivo e imagético desfile das Escolas de Samba, linguagem artística criada
e desenvolvida no Rio de Janeiro, há uma linha tênue entre o sagrado e profano.
Entendo que num Estado Laico e democrático, como se aventa ser em nosso país, inibir
a apresentação de imagens religiosas investe contra a liberdade de expressão artística,
21 Disponível em http://tribunadonorte.com.br/noticia/roberto-carlos-foi-a-grande-atracao-do-segundo-
dia-de-desfiles-das-escolas-no-rio/174847 22 A Praça da Apoteose é o local em que termina a apresentação das Escolas de Samba, no Sambódromodo Rio de Janeiro.
http://tribunadonorte.com.br/noticia/roberto-carlos-foi-a-grande-atracao-do-segundo-dia-de-desfiles-das-escolas-no-rio/174847http://tribunadonorte.com.br/noticia/roberto-carlos-foi-a-grande-atracao-do-segundo-dia-de-desfiles-das-escolas-no-rio/174847http://tribunadonorte.com.br/noticia/roberto-carlos-foi-a-grande-atracao-do-segundo-dia-de-desfiles-das-escolas-no-rio/174847http://tribunadonorte.com.br/noticia/roberto-carlos-foi-a-grande-atracao-do-segundo-dia-de-desfiles-das-escolas-no-rio/174847http://tribunadonorte.com.br/noticia/roberto-carlos-foi-a-grande-atracao-do-segundo-dia-de-desfiles-das-escolas-no-rio/174847
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contra a liberdade religiosa e caracteriza-se como apropriação do público pelo privado.
As imagens apresentadas pertencem ao imaginário de religiões diversas e não apenas a
Igreja Católica.
A opressão do instituído contra o manifestar do diferente permanece. As
interdições que ocorrem nos desfiles de Escola de Samba do Rio de Janeiro há muito
deixaram a esfera religiosa e passaram para a esfera pública. Igualmente como ocorria
no início do século passado, agentes dos poderes públicos municipal, estadual e federal,
e do judiciário, com ajuda de policiais percorreram, não mais as casas das tias Baianas
da Praça XI, mas os Barracões das Escolas de Samba para confiscarem imagens
religiosas. Em concordância com Lima:
Entendo que qualquer interdição de expressão e manifestação artística
constitui censura. Se a arte possui uma função política, essa é a de questionar
e transgredir o instituído, o que muitas vezes causa indigestão sociológica
num pensamento que se pretende politicamente correto. 23
As imagens pertencem ao imaginário popular e sua função no desfile é a
sagração da união das diferenças, característica primeira do samba e tradução do
espírito do carioca.
23
Lima, Fátima Costa de. Alegoria Benjaminiana e Alegorias Proibidas no Sambódromo Carioca: OCristo Mendigo e a Carnavalíssima Trindade. Tese de Doutorado, UFSC – Universidade Federal de SantaCatarina, 2011, Pág 288
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REFERÊNCIAS:
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Flor, 2002.
CABRAL, Sérgio. Revista Beija-Flor, Uma Escola de Vida. Rio de Janeiro, Beija-
Flor, 2002.
ESPILOTRO, Sandra (Org.). História do Samba. Rio de Janeiro, Globo, 1997.
FARIAS, Edson. O Desfile e a Cidade – o carnaval espetáculo carioca. Rio de
Janeiro, E-Papers, 2006.
LIGIÉRO, Zeca. Performances Processionais Afro-brasileiras. Texto inédito,
utilizado no Curso Inventando o Brasil da Universidade do Rio de Janeiro - Uni-Rio,
2001.
LIMA, Fátima Costa de. Alegoria Benjaminiana e Alegorias Proibidas no
Sambódromo Carioca: O Cristo Mendigo e a Carnavalíssima Trindade. Tese de
Doutorado, UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina, 2011.
MUNIZ JÚNIOR, José. Do Batuque à Escola de Samba. São Paulo, Símbolo, 1976.
RANCIÈRE, Jacques. A Partilha do Sensível: estética e política. Tradução: Monica
Costa Netto. São Paulo, Ed. 34, 2005.
SANTOS, Nilton. A arte do efêmero – carnavalescos e mediação cultural no Rio de
Janeiro. Apicuri, Rio de Janeiro, 2009.
SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo. Mauad, Rio de Janeiro, 1998.
Páginas eletrônicas:
UNESCO, Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura.
Declaração de Princípios sobre Tolerância. Disponível em
http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001315/131524porb.pdf
Depoimentos:CARVALHO, Cid. Depoimento ao autor. (02/05/2003)
LAÍLA. Depoimento ao autor (02/05/2003)
MACHADO, Julio. Depoimento ao autor (04/04/2003)
Imagens:
Imagem 1 – Cristo Mendigo, 1989 - Disponível em ww.sambariocarnaval.com/rixxa16.htm.
Imagem 2 – São Jorge / Ogum – Acervo do autor.
http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001315/131524porb.pdfhttp://unesdoc.unesco.org/images/0013/001315/131524porb.pdfhttp://unesdoc.unesco.org/images/0013/001315/131524porb.pdf
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Imagem 3 – O Cristo com Roberto Carlos – Disponível em
http://tribunadonorte.com.br/noticia/roberto-carlos-foi-a-grande-atracao-do-segundo-dia-de-
desfiles-das-escolas-no-rio/174847
http://tribunadonorte.com.br/noticia/roberto-carlos-foi-a-grande-atracao-do-segundo-dia-de-desfiles-das-escolas-no-rio/174847http://tribunadonorte.com.br/noticia/roberto-carlos-foi-a-grande-atracao-do-segundo-dia-de-desfiles-das-escolas-no-rio/174847http://tribunadonorte.com.br/noticia/roberto-carlos-foi-a-grande-atracao-do-segundo-dia-de-desfiles-das-escolas-no-rio/174847http://tribunadonorte.com.br/noticia/roberto-carlos-foi-a-grande-atracao-do-segundo-dia-de-desfiles-das-escolas-no-rio/174847http://tribunadonorte.com.br/noticia/roberto-carlos-foi-a-grande-atracao-do-segundo-dia-de-desfiles-das-escolas-no-rio/174847