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IGUAL #03 _ parte dois

Mar 07, 2016

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Miguel C

popcult + web2.0
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CENTRAO__________

JAVIERFABREGAS

flickr.com/photos/hi_sci_fi

myspace.com/3vecesmaldito

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ÍDESTAQUES__________

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ARTESANATOMUSICALHIGH-TECHNão criam bibelôs para enfeitar a sala lá de casa, mas o resultado “caótico” doprocesso criativo pode assemelhar-se a uma feira de ciência. Importada de NovaIorque, a ideia das festas Handmade Music chegou ao Porto para ficar. É a leide Lavoisier adaptada: na música, “nada se perde, tudo se transforma”.

por Ana Maria Henriques

DR

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agosto 2009Uma flauta transversal “ligada àsmáquinas” – que neste caso é umcomputador – através de fios colori-dos e manejada por uma canadianavestida de verde floral seria umavisão invulgar em qualquer sala deespectáculos da cidade do Porto,mas não na Casa da Música (CdM).A Digitópia - Plataforma para o De-senvolvimento de Comunidades deCriação Musical em Computadoracolheu criadores de música quenão se regem pelas tradicionais partituras, como Cléo Palacio-Quintin, no Porto para participar na SMC 2009 – Sound and MusicComputing Conference. A composi-tora – que viajou de Montreal –viveu na Holanda onde estudou econcebeu a ideia de “aumentar a po-tencialidade da flauta transversalconvencional”, instrumento que to-cava mas cujo resultado não a satisfazia “enquanto compositora eintérprete”. Influenciada pelamúsica “electrónica acústica”, que“sempre ouviu”, Cléo decidiualargar o conceito de um instru-mento acústico de sopro através dacriação de um interface que estab-elece a ligação com o computador,graças à tecnologia midi. Se hoje ahyper-flute se destaca por materi-alizar um conceito original, “hácerca de dez anos”, quando foi ide-alizada, a surpresa por um objectotão inusitado “era enorme”.

Na festa Handmade Music queocupou o espaço da Digitópia (juntoàs bilheteiras da CdM), os aparel-hos electrónicos que os criadores eperformers manuseiam emitem sonsque fogem às notas musicais. Ocomputador de Graham, engenheironorte-americano a viver emBarcelona, transforma-se num doselementos da sua laptop orchestraenquanto os mais curiosos decidemexperimentar o software e hardwareque tomou de assalto a Digitópia.Brinquedos adaptados e toyboardsque nos remetem para o imagináriomusical infantil podem aqui sertransformados em instrumentos que,segundo Rui Penha, curador do es-paço, produzem um “resultadosonoro um bocado caótico”. Apesardo “caos”, a apresentação individ-ual de todos os participantes, comuma pequena introdução para cadaaparelho ou instrumento, foi oponto de partida para que público ecriadores assumissem o mesmo

espaço e interagissem sonoramente.

Mas a noite na Casa da Músicaacabou por ser, sem dúvida, doscanadianos. Joseph Malloch, quetambém integrou a SMC 2009, foi,a par de Cléo e da hyper-flute, ocriador mais original da festa Hand-made Music. Cientista, Joseph ded-ica-se à investigação no laboratóriode Input Devices and Music Interac-tion da McGill University, ondeidealizou a criação apresentada naDigitópia. O que à partida pareciaum simples e desinteressante stick,manuseado como se de um sabre setratasse, revelou-se ser um interfacecom uma sensibilidade extrema aotoque humano. Esta espécie de tuboque “envolve um microfone gi-gante” capta todos os contactos,apertos, abanos e demais movimen-tos que se possam imaginar, “reper-cutindo-os em sons” que reflectema intensidade e a localização dotoque. Já foi utilizado em perform-ances teatrais e de dança, contaJoseph, enquanto explica não ser apessoa mais indicada para demon-strar todas as potencialidades do t-stick. “É defeito de cientista”,brinca: “Estou sempre a reparar emimperfeições e a pensar em formasde as corrigir”. O hardware está,nas palavras do canadiano, “aindaem desenvolvimento”, aberto atodos os interessados em experi-mentar. Enquanto Joseph procuramostrar aos mais curiosos da festacomo produzir “sons sintéticos” not-stick, aproveita para carregar noplay do seu computador e deixartodos de boca aberta com vídeos desituações em que o instrumento foiutilizado, “algumas delas com-posições originais, se bem quemuito do trabalho passa pela impro-visação”, remata.

No final da noite, em jeito de bal-anço, Rui Penha confessou-se “sur-preendido e satisfeito” por terconseguido reunir cerca de noventapessoas na festa Handmade Music,principalmente pelo facto de estater atraído para a Digitópia “genteque, se calhar, de outra forma, iriaolhar para o projecto como algomais direccionado para amadores”.“Acho que tivemos aqui propostasque estão na crista da onda do quese faz no mundo nesta área”, conclui o também compositor.

O AUTOR

Peter Kirn, o autor das festas Hand-

made Music, descreve-as como uma

fusão entre “performance, festa e

feira de ciência” onde as pessoas se

juntam para “descontrair e

descobrir novos sons”. As noites

transformam-se em “reuniões de

criadores de novos instrumentos

e de tecnologia musical”.

A festa Handmade Music que aconte-

ceu na Casa da Música foi, segundo

Rui Penha, a “primeira fora de Nova

Iorque”, em resposta ao desafio

lançado por Peter Kirn para a

internacionalização da iniciativa.

Rui Penha adiantou que, “a partir

de Novembro”, a Casa da Música

vai acolher este tipo de festas “de

dois em dois meses” e que, em

Maio, “o convidado especial será

o próprio autor do blogue

CreateDigitalMusic.com,

Peter Kirn” [na foto].

createdigitalmusic.com

handmademusic.noisepages.com

netnewmusic.ning.com/profile/Cleo

PalacioQuintin

idmil.org/projects/the_t-stick

DR

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MEMóRIASDO VERãO

Colaboradores da IGUAL contam episódios marcantes de Verões passados.

Venham todos ao Circo Carbinaly Por Luís Lago

Quando era pequeno, parte das férias de Verão era sempre passada em Aboim das Choças, uma pequena aldeia na terra de “Deixa que te Leve”. A minha família tem lá uma casa decrépita, onde todos os anos as minhas tias e os seus amigos passam uma temporada. Como esta casa não tem televisão nem computador,a única coisa que me restava fazer era ler pela centésima vez o mesmo Almanaque do Professor Pardal, fazer batota ao peixinho, ir ao Café São Pedro ou passar os dias todos no rio Vez. Certo Verão, algures nosfinais do milénio passado ou no início deste, algo trouxe mais vida à aldeia: o Circo Carbinaly.

O nome parece, obviamente, uma imitação de Cardinali, o grande clã circense português, encabeçado pelomítico Victor Hugo. Eu prefiro vê-lo, ou antes, relembrá-lo, como uma espécie de Wacky Packages, ou seja,uma paródia grotesca do Cardinali. Se bem me lembro, este circo era composto por pouco mais de quatro artistas multifacetados. A rapariga dos bilhetes era também acrobata, o MC era domador e palhaço e por aífora.A memória falha-me quanto aos números apresentados. Lembro-me no entanto, de ser prometido uma espectacular acrobacia em que o MC/domador/palhaço/daredevil iria caminhar sobre vidro. Esse número seriao grand finale da estadia do circo na aldeia, tendo lugar apenas na véspera do espectáculo partir para outras terras. Essa partida, no entanto, era sempre adiada, numa tentativa de convencer os “serranos” a comprarnovo bilhete para assistir ao espectacular número.

Provavelmente resultava, porque o Circo, que tinha anunciado ficar apenas três dias nas Choças, acabou porficar lá uma semana. Mas o que mais me marcou foi o número de palhaços. Sendo este um circo pobre, nãohavia dinheiro para contratar o palhaço rico, tendo os espectadores que se contentar com Jony, o palhaço pobree zangado com a vida. O drama deste palhaço revelava-se na quantidade de palavrões empregues e nas críticasacertadas ao Governo de António Guterres, vigente na altura. Infelizmente não me recordo de nenhuma tiradaem específico, para vos poder deleitar. Foi a primeira vez que saí deprimido do “Melhor Espectáculo doMundo”. Ver aqueles animais mal tratados e todo o material a cair aos pedaços retirou-me a inocência aomostrar a vida tal e qual como ela é nos bastidores do circo. Apesar de tanta miséria, o Carbinaly ainda andapor aí. Antes de escrever este artigo, pesquisei o seu nome e encontrei vários blogues e fóruns a manchar o seu nome. Eu, no entanto, gostaria de rever este espectáculo. Fiquei sempre curioso de como seria o grand finale e gostaria de saber o que Jony pensa deste novo governo socialista. Se alguém souber a agenda deste circo, por favor, informe-me.

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agosto 2009

Mar dos AçoresPor Daniel Sylvester

Era um polvo. Majestoso no seu elemento, flutuava pelas rochas cobertas de musgo. Eu encontrava-me deitadosobre uma toalha. O porto da Caloura, pois era aí que eu me encontrava, consistia numa simples barra derochedo virada para o mar; no fim, existiam umas pequenas escadas que levava a outro patamar, no qual haviauma piscina para os catraios e mais algumas escadas que levavam directamente ao mar. O verdadeiro porto,de onde saíam os barcos dos pescadores que muitas vezes não regressavam a casa, ficava mesmo ao lado. O porto da Caloura era o meu ponto de contacto mais fácil com o mar, a uns meros cinco minutos de casa. A própria Caloura era um lugar a puxar para o deserto, composto principalmente por quintas e casa de Verãopara ricaços. Ficava tudo longe da verdadeira aldeia onde fazíamos compras e onde eu tinha as minhas aulasda primária, um lugar pitorescamente conhecido como Água de Pau. Mas não era só por questões práticas queeu preferia o meu porto às numerosas praias que abundavam pela ilha de S. Miguel. Nas praias era difícil encontrar lugar, com cada pedaço de areia ocupado por alguém a trabalhar o seu bronzeado. E a experiênciade nadar a partir de uma praia é radicalmente diferente de nadar a partir de um porto. No meu sítio do costume,era preciso apenas descer alguns degraus para entrar no mar, no mar verdadeiro e inteiro – não existia o custosocaminho de ir nadando por aquele território em que os pés ainda tocam a areia. O salto directo da terra para omar permitia também evitar os factores mais perigosos da natação de praia – aquele esforço de nadar contra acorrente quando já se está quase em terra firme, e as ondas gigantescas. O porto era mais seguro e, na minhacabeça de criança, mais autêntico – toda a gente sabia que quem ia à praia passava o seu tempo quase todo a tostar numa toalha, e que muita gente nem entrava na água. Algures mais tarde, não sei bem quando, descobri também que não gosto de areia.

Mas estava a falar do polvo. Deitado ou sentado na dura rocha do porto, era possível observar de perto umafauna marítima surpreendentemente diversa. Havia estrelas-do-mar, caranguejos, peixes de toda a espécie. E mesmo a própria rocha fornecia lugares para explorar o reino animal: havia pequenas poças de água salgadadentro das quais se encontravam minúsculos crustáceos e conchas marinhas. De notar que não era só eu quetinha uma relação estreita com as criaturas aquáticas. Um dos nossos poucos vizinhos era John, um britânicode meia-idade que trabalhava como instrutor de mergulho num hotel próximo. Ruivo, barbudo e munido doseu cachimbo, John era quase uma paródia de um inglês e, se apenas a sua barba tivesse sido negra e não ruiva,podê-lo-ia ter confundido com o Capitão Haddock. Como a maioria dos expatriados residentes nos Açores,John limitava os seus conhecimentos de português ao mais essencial possível e , certa vez, contou-nos eminglês que tinha adoptado uma moreia. Quem já viu estes seres deitados em gelo num supermercado sabe quenão têm um aspecto propriamente querido e, de facto, entre os rapazes da aldeia a moreia era quase tão temidacomo o lendário cagarro (a ave indígena dos Açores, e a que supostamente um marujo tomou por açor, dandoassim nome ao ilhéu; possui um grito que devia ser aproveitado pelos gabinetes de efeitos sonoros de Holly-wood, e um amigo confidenciou-me numa certa noite que as aves “chupam o sangue dos humanos”) e a infamecomadrinha (um pequeno mamífero, vagamente semelhante a uma doninha, que numa ocorrência trágica chacinou alguns gatinhos bebés que tínhamos no quintal). Não foi, portanto, grande surpresa quando ouvimos,algumas semanas depois, que o peixe tinha traído o seu amigo e mordido o John no braço.O mar era o meu elemento. O mar era uma diversão eterna e enorme. E ao mesmo tempo tinha o seu não seiquê de assustador – conhecia os dias em que toda a plataforma de baixo estava submergida pela água, as mudanças súbitas de humor das marés, os ocasionais casos de morte por afogamento. Mais do que isso, eraum adepto forte da mitologia grega, e talvez terá sido a vida numa ilha que me atraiu tão fortemente para asaga de Ulisses. Por vezes, para me assustar a mim mesmo, imaginava os enormes e hediondos monstros marinhos que deviam residir algures no fundo do oceano, e a ilusão da sua existência dava uma pitada de perigoao divertimento na água.

E era assim que passava o Verão.

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ATÉ ÀPRÓXIMA VEZ

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ATÉ ÀPRÓXIMA VEZ

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“ tens a vida para viver e tantos sonhos para sonhar”

Rita

Luí

s