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João Derly A vida e as histórias do único judoca brasileiro BICAMPEÃO MUNDIAL
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Ídolos do Judô Gaúcho #1

Mar 25, 2016

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Judô RS

Revista oficial da Federação Gaúcha de Judô.
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João DerlyA vida e as histórias do único judocabrasileiro BICAMPEÃO MUNDIAL

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Expediente:Federação Gaúcha de JudôPresidente: Luiz Alcides MaduroVice-presidentes: Carlos Eurico da Luz Pereira e Henry MaggiRevista Ídolos do Judô Gaúcho, edição 1 Jornalista responsável: Tiago Medina / Reg. profissional: 14.238 MTB/RSColaboradores: Ana Maria Bicca e Pedro DreherFotos: Fotocom.net, Vipcomm, COB, Arquivo Pessoal e Divulgação Sogipa

Quando ouviu do médico a reco-mendação de que precisaria prati-car um esporte para melhorar da asma que o afetava, o pequeno João Derly não sabia, mas estava dando uma guinada na sua vida. E também na do judô brasileiro.

O ano era 1988 – o mesmo do primeiro ouro olímpico do judô do Brasil, com Aurélio Miguel – e João vestiu quimono e iniciou a prática da arte marcial, já tendo Antônio Carlos Pereira, o Kiko, como profes-sor, no colégio. O sensei logo per-cebeu o potencial naquele guri e o levou para treinar na Sogipa, onde também dava aulas. Aí começou uma carreira de sucesso.

De categoria em categoria, João foi vencendo adversários e somando títulos. A Seleção Brasileira tornou-se uma rotina. Em 2000, na Tuní-sia, João Derly conquistou o Mun-dial sub-20. Levar o Brasil ao pódio mundo afora passou a ser algo cos-tumeiro para esse gaúcho de 1,64m de altura.

Cinco anos mais tarde Derly es-creveu para sempre seu nome na história do esporte brasileiro. Em uma campanha memorável, chegou

à final do Campeonato Mundial de 2005. O rival era de se temer: Masato Uchishiba, ouro em Ate-nas-2004. O currículo, porém, não pesou e o gaúcho – que começou no judô para vencer a asma – aplicou um ippon e sagrou-se o primeiro brasileiro campeão mundial. A fa-çanha lhe rendeu o reconhecimento do COB, que o elegeu o melhor atle-ta daquele inesquecível ano.

Tal qual como sugere o hino de seu time de coração, Derly seguiu sua senda de vitórias. No ano seguinte, protagonizou outra con-quista inédita para o judô brasileiro: o ouro na super copa do mundo de Paris. Se o desempenho até aí es-tava bom, melhorou ainda mais em 2007. Num espaço de três meses, Derly conquistou o ouro nos Jogos Pan-Americanos e o bimundial, am-bos no Rio.

A sonhada medalha olímpica, em 2008, não se tornou uma realidade. Mas nada de tristeza. Meses depois, Derly faturou o título Pan-America-no de 2009. As lesões, entretanto, começaram a se tornar cada vez mais frequentes e impediram novos títulos.

Da asma ao ouro

“O João é um grande atleta e uma pessoa extraordinária. Venceu no tatame e na vida sempre buscando fazer seu melhor”, KIKO, técnico de judô.

EditorialContinuando o processo iniciado

na gestão do presidente Carlos Eurico, a Federação Gaúcha de Judô alcança mais um sonho, o de ter a sua própria publicação, exaltando atletas e histórias que fizeram o nosso esporte ser reconhecido em nível nacional e internacional. Muitos personagens foram importantes para chegarmos onde estamos. O judô gaúcho deve muito a professores, treinadores e dirigentes abnegados que dedicaram muita energia para atingirmos o que temos hoje.

Vários poderiam ser destaque des-ta edição inicial. A escolha por João Derly se deu em função tanto de seu currículo esportivo ímpar, quanto por sua admirável conduta fora dos

tatames ao longo desses anos. Derly é um exemplo a ser seguido, respal-dado pelo seu bonito trabalho social e dedicação em levar o judô àqueles que não têm condições de frequentar um clube.

Esta revista que está em suas mãos é mais uma homenagem a esse grande atleta, assim como um recon-hecimento a todos que se dedicaram ao engrandecimento do judô no nos-so Estado. Nos próximos números estaremos enfocando outros que merecem destaque e procuraremos realizar um necessário res-gate histórico. Uma ótima leitura a todos.

Luiz Maduro, presidente da FGJ

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Um campeão além dos tatamesDe nada adiantaria ser um ídolo, um

bicampeão mundial no esporte que prati-ca, se não houvesse um legado. Pensando nisso que João Derly fundou em 2005 o Instituto Pódium, que leva judô gratuita-mente a crianças de baixa renda.

“Achei que difundir o judô, um es-porte que deu tudo o que tenho na minha vida, seria a maneira mais adequada de retribuir a felicidade que senti nos princi-pais momentos da minha carreira”, conta Derly. “Sou bicampeão do mundo, mas tenho que pensar no que deixo para os outros.”

Em 2008, o projeto recebeu um grande incentivo e chegou a ter mais de 100 crianças participantes. Hoje, 20 de-las ainda seguem no Pódium e buscam até o alto rendimento. “O Pódium já con-quistou títulos estaduais, além de boas participações em eventos nacionais”, re-lata o professor Daniel Pires.

Mas o legado de João Derly vai muito além dos tatames. Desde sempre ele, sem-pre que pôde, participou de outras ações

“O João sempre foi bastante preocupado com as crian-ças do Instituto. Mas não com os resultados e sim com o re-torno social”, Daniel Pires, professor do Instituto Pódium.

“Derly é um jovem de muitas qualidades, um bicampeão mun-dial que mantém a humildade do guri simples. Um batalhador”, Manuela D’Ávila, ex-presidente da Frente Parlamentar do esporte.

sociais, como visitas a hospitais e institu-ições de caridade. “É algo que aprendi na igreja que frequento desde que sou cri-ança”, conta.

A igreja, por sinal, é uma estrutura im-portante na vida de Derly. “Foram diver-sos valores que aprendi e adquiri, junto com o esporte. Só me fortaleceu durante as competições para lidar com a parte emocional, assim como contagiar com alegria a vida do próximo. Deus represen-ta tudo na minha vida. Sem Ele, nada do que eu tenho teria valor.”

Derly sempre buscou ajudar enti-dades beneficentes, como foi o caso da campanha que participou gratuitamente para a Kinder, em 2010. “Me faz um bem enorme. Poucas coisas são mais recom-pensadoras que receber o sorriso de uma criança ou o afago de um idoso cheio de histórias pra contar.” Ao longo dos últi-mos anos, o judoca esteve diversas vezes em hospitais de Porto Alegre, levando, além de alegria, solidariedade e fé aos enfermos.2005: Derly é recebido por multidão em POA Koka! Derly é bicampeão do mundo em 2007

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Tornar-se um ícone do judô mun-dial não fez de João Derly uma pessoa diferente. O guri simples e brincalhão que cresceu treinando na Sogipa não mudou por causa das conquistas.

Desde sempre, foi atencioso com todos, sejam funcionários do clube, fãs ou políticos que o vinham cumprimen-tar. “Nunca quis criar uma distância”, conta Derly. “De que adianta se trans-formar um ídolo no esporte e não dar exemplo como pessoa, ser humano”, completa.

Sempre antenado em novas tec-nologias, João Derly aproveitou redes sociais para aproximar-se ainda mais dos fãs. Só no ano passado criou uma conta no Twitter (@joaoderly) e dois perfis no Facebook – um deles lotou em pouco tempo.

“A internet é uma forma muito boa para se aproximar das pessoas, trocar e debater ideias sobre todos os assun-tos”, justifica. “Admito que comecei meio receoso nessas redes sociais, mas hoje já posso me considerar um fanático”, brinca ele.

E Derly é ativo no Facebook e no Twitter. “Ele passa muito tempo mes-mo”, entrega a esposa Gabriela Pisoni.

Ainda assim, Derly não dispensa o contato pessoal. “Todo mundo tem uma experiência para passar, uma ener-gia única. Para o atleta de alto rendi-mento, isso é fundamental”, conta. “Em 2007, no Mundial do Rio, lutei a de-cisão com o joelho lesionado. Cheguei a pensar em desistir, mas a torcida es-tava linda e me apoiando. Não devia decepcioná-los. No fim, deu certo.”

http://on.fb.me/xWx1vjhttp://on.fb.me/xEOFm6

“Fanático por internet”, João interage com fãs

Antenado e conectado

“O João é um divisor de águas do judô do Brasil. Ajudou muito na visibilidade do nosso esporte e entrou para o hall dos grandes da história”. Paulo Wanderley, presidente da CBJ.

Família é a baseÉ preciso se dedicar para chegar ao auge. Mais que isso. É preciso se su-perar, ir além das expectativas. Assim, e tendo a fé e a família consigo, que João Derly alcançou o topo do mundo duas vezes. Confira na entrevista.

Pergunta básica: um momento mar-cante da sua carreira?Antes do Mundial de 2005 estava ma-chucado no abdomem e ia fazer a fi-nal da seletiva com o Leandro Cunha. Lembro-me que orei e me veio uma palavra: “O cavalo se prepara para a batalha, mas vitória vem do Senhor”. Mesmo lesionado, eu senti uma paz imensa. Venci e essa história acabou no título no Egito. Para quem quiser ler, é Provérbios 21: 31 na Bíblia.Menos mal que essas dores termi-naram antes do Mundial, pelo jeito.Nesse sim. Mas vou contar um peque-no segredo: 2007 foi um ano compli-cado. Tanto nos Jogos Pan-America-nos, quanto no Mundial daquele ano lutei com o ligamento cruzado anterior do joelho rompido. Segurei o tranco na musculatura. Foi sem dúvida a maior prova de superação da minha vida. Ao menos deu tudo certo (risos).

Qual é a sua maior conquis-ta na carreira?Claro que o bi-c a m p e o n a t o do mundo foi a maior conquista de resultados. Mas paralelo a isso, hoje me sinto feliz por todas as amizades que fiz e, por conta disso, poder con-tribuir em outras áreas e não apenas no esporte. Você é um cara muito família? Sim e acho que vem de berço. Sou de família grande e acostumada a grandes reuniões. Gosto desse contato entre as pessoas, através de um chimarrão ou de um bom churrasco (risos). A família é e sempre foi a base de tudo, mas talvez esse conceito tenha se perdido um pouco nos dias de hoje. E como é a relação com os fãs?É ótimo ver teu trabalho ser reconhe-cido através de palavras ou de uma foto, por isso sempre procuro atender quem vem falar comigo, porque pode ser a única impressão de que as pes-soas podem ter de quem eu sou de ver-dade. Já tive e tenho meus ídolos e sei como esse momento pode ser especial.

Siga João Derly

@joaoderly

“João Derly é, e sempre será, referência como judoca bra-sileiro de sucesso. Sempre lembrado na história da nossa modalidade.” Ney Wilson, coordenador técnico da Seleção.

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JOÃO DERLY

Decacampeão gaúchoAtleta da década da FGJ

Prêmio Brasil Olímpico 2005Cinco títulos continentais

Ouro nos Jogos Pan-America-nos do Rio-2007

Campeão mundial sub-2017 medalhas no

circuito internacionalBicampeão mundial

(2005/2007)