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CONSID~RAÇOES SOBRE A INFLUÊNCIA DA VARIAVEL AMBIENTAL NA EMPRESA * Denis Donaire A observação de casos reais fornece informações úteis para empresas interessadas em equacionar seus problemas ambientais. The observation of real cases brings useful information to the companies interested in evaluating their enuironmental problems. PALAVRAS-CHAVE: Variável ambiental, variável ecológica, atividade/função ambiental, atividade/função ecológica, integração empresa- meio ambiente, gestão ambien- tai na empresa. KEY WORDS: Environment, ecology, environ- mental activity/function, eco- logical activity/ tunction, orga- nization-environmental inte- çrstion, environmental mana- gement in organization. * Professor da FEA - USP. 68 Revista de Administração de Empresas Mar./AbL 1994 São Paulo, v. 34, n. 2, p. 68-77
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Apr 27, 2023

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CONSID~RAÇOES SOBRE A INFLUÊNCIADA VARIAVEL AMBIENTAL NA EMPRESA

* Denis Donaire

A observação de casos reais fornece informações úteis para empresasinteressadas em equacionar seus problemas ambientais.

The observation of real cases brings useful information to the companies interested inevaluating their enuironmental problems.

PALAVRAS-CHAVE:Variável ambiental, variávelecológica, atividade/funçãoambiental, atividade/funçãoecológica, integração empresa-meio ambiente, gestão ambien-tai na empresa.

KEY WORDS:Environment, ecology, environ-mental activity/function, eco-logical activity/ tunction, orga-nization-environmental inte-çrstion, environmental mana-gement in organization.

* Professor da FEA - USP.

68 Revista de Administração de Empresas Mar./AbL 1994São Paulo, v. 34, n. 2, p. 68-77

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o ambiente atual em que as empresasoperam tem presenciado o surgimento denovos papéis que devem ser desempe-nhados como resultado de alterações nosvalores e ideologias de nossa sociedade.Assim, a atividade das organizações mo-dernas, além das considerações econômi-co-produtivas, incluem preocupações decaráter político-social, que envolvem as-sistência médica e social, defesa de gru-pos minoritários, controle da poluição,proteção ao consumidor etc.

Essa mudança se consubstancia no fatode que, como enfatiza Ashen 1, apesar dovisível sucesso obtido pelo sistema capi-talista, em conseqüência de uma eficientecombinação de ciência e tecnologia e deuma eficaz administração dos recursos,quando confrontamos seus resultadoseconômicos e monetários com outros re-sultados sociais, tais como redução dapobreza, degradação de áreas urbanas,controle da poluição, diminuição das ine-qüidades sociais, entre outros, verifica-seque ainda há muito a ser conseguido.Dessa forma, a sociedade tem exigido,por parte das organizações, um posicio-namento mais adequado e responsável,no sentido de minimizar a diferença veri-ficada entre os resultados econômicos esociais.

Entre as diversas reivindicações exigi-das pela sociedade, que afetam o mundodos negócios, a preocupação ecológicatem ganho um destaque significativo emface de sua relevância para a qualidade devida das populações, o que tem exigidodas empresas, um novo posicionamentoem sua interação com o meio ambiente.

Segundo Rox02, a Carta de Princípiossobre Desenvolvimento Sustentável, ela-borada pela Câmara de Comércio Interna-cional e lançada no dia 10/04/1991, repre-senta um grande avanço no gerenciamen-to ambiental na indústria desde os pri-mórdios da industrialização.

As primeiras indústrias surgiram emuma época em que os problemas ambien-tais eram de pequena expressão, em virtu-de das reduzidas escalas de produção edas populações comparativamente meno-res e pouco concentradas. As exigênciasambientais eram poucas e a fumaça daschaminés era um símbolo de progresso,apregoada orgulhosamente na propagan-da de diversas indústrias.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A INFLUÊNCIA DA VARIÁVEL AMBIENTAL NA EMPRESA

o agravamento dos problemas ambien-tais veio alterar profundamente este qua-dro, gerando um nível crescente de exigên-cias. A nova consciência ambiental, surgi-da no bojo das transformações culturaisque ocorreram nas décadas de 60 e 70, ga-nhou dimensão e situou a proteção domeio ambiente como um dos princípiosmais fundamentais do homem moderno.Na nova cultura, a fumaça passou a servista como anomalia e não mais como umavantagem.

Dessa forma, as empresas passaram a sepreocupar com a questão ambiental e pro-curaram desenvolver atividades no senti-do de atender a essa nova crescente de-manda de seu ambienteexterno.

Em função disto,verifica-se que as res-postas da indústria aonovo desafio ocorremem três fases, muitasvezes superpostas, de-pendendo do grau deconscientização daquestão ambientaldentro da empresa:controle ambiental nassaídas, integração docontrole ambiental naspráticas e processosindustriais, e integra-ção do controle am-biental na gestão admi-nistrativa. Algumas organizações se perfi-lam na primeira fase, enquanto a maioriase encontra na segunda fase e apenas umaminoria, na já amadurecida terceira fase.

A primeira fase constitui-se na instala-ção de equipamentos de controle da polui-ção nas saídas, como chaminés e redes deesgotos, mantendo a estrutura produtivaexistente. A despeito de seu alto custo e daelevada eficiência dos equipamentos insta-lados, esta solução nem sempre se mostraeficaz, tendo os seus benefícios sido fre-qüentemente questionados pelo público epela própria indústria.

Essa insatisfação conduziu a uma se-gunda geração de respostas, em que o con-trole ambiental é integrado nas práticas eprocessos produtivos, deixando de seruma atividade de controle da poluição epassando a ser uma função da produção.O princípio básico passa a ser o da preven-

A nova consciência

ambiental, surgida no bojo das

transformações culturais que

ocorreram nas décadas de 60 e 701

ganhou dimensão e situou a

proteção do meio ambiente

como um dos princípios mais

fundamentais do homem

© 1994, Revista de Administração de Empresas / EAESP / FGV, São Paulo, Brasil.

moderno.

1. ASHEN, Melvin. Changing thesocial contract: a role for busi-ness. Joumal af World Business.Columbia, v.5., p. 6-10, nov./dez.1970.

2. ROXO, Carlos Alberto. O con-ceito moderno de gerenciamentoambiental na indústria. GazetaMercantil, S. Paulo, 14 maio1991, p.5.

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AMBIENTAL

ção da poluição, envolvendo a seleção dasmatérias-primas, o desenvolvimento denovos processos e produtos, o reaproveita-mento da energia, a reciclagem de resí-duos e a integração com o meio ambiente.

Mas as preocupações com o meio am-biente não pararam de crescer e acabaramatingindo o próprio mercado, redesenhan-do-o com O estabelecimento de um verda-deiro mercado verde, que toma os consu-midores tão temíveis quanto os órgãos demeio ambiente. Surgido inicialmente nospaíses desenvolvidos, este mercado temorigem em consumidores já satisfeitos em

suas necessidades quantitativas, e quepassam a preocupar-se com o con-

teúdo dos produtos e a formacomo são feitos, rejeitando osque lhes pareçam mais agres-

sivos ao meio ambiente -nem sempre com fun-

damentação e muitasvezes na esteira decampanhas idealiza-

das por empresas e se-tores concorrentes;

Com isso, a proteção aomeio ambiente deixa de ser

uma exigência punidacom multas e sanções einscreve-se em um

quadro de ameaçase oportunidades, emque as conseqüên-

cias passam a poder sig-nificar posições na concorrência e a pró-pria permanência ou saída do mercado.

Neste quadro, firma-se o conceito de ex-celência ambiental, que avalia a indústrianão só por seu desempenho produtivo eeconômico, mas também por sua perfor-mance em relação ao meio ambiente. Em-bora não suficiente, a excelência ambientalpassa a ser considerada necessária para osucesso da empresa: quando inatingida,capaz de ser ruinosa e irrecuperável; quan-do alcançada no momento adequado ebem explorada, passível de se converterem oportunidades de novos ganhos e cres-cimento. O mercado de capitais tambémcaptou prontamente esta tendência e pas-sou a levar crescentemente em considera-ção o aspecto ambiental em suas decisõesde investimento.

Esta evolução levou algumas organiza-ções a integrar o controle ambiental em

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sua gestão administrativa, projetando-onas mais altas esferas de decisão. Atenderao presente e gerar respostas setoriais e es-tanques passou a não ser suficiente; olharo futuro, horizontalizar a análise e planejarcorporativamente passou a ser o caminhonatural.

A proteção ambiental deslocou-se umavez mais, deixando de ser uma função ex-clusiva de produção para tomar-se tam-bém uma função da administração. Con-templada na estrutura organizacional, in-terferindo no planejamento estratégico,passou a ser uma atividade importante naorganização da empresa, seja no desenvol-vimento das atividades de rotina, seja nadiscussão dos cenários alternativos e aconseqüente análise de sua evolução, ge-rando políticas, metas e planos de ação.Essa atividade dentro da organização pas-sou a ocupar o interesse dos presidentes ediretores e a exigir uma nova função admi-nistrativa na estrutura administrativa, quepudesse abrigar um corpo técnico específi-co e um sistema gerencial especializado,com a finalidade de propiciar à empresauma integração articulada e bem conduzi-da de todos os seus setores e a realizaçãode um trabalho de comunicação social mo-derno e consciente. Assim, a preocupaçãocom o meio ambiente torna-se, enfim, umvalor da empresa, explicitado publicamen-te como um dos objetivos principais a serperseguido pelas organizações.

PROBLEMA DE PESQUISA E METODOLOGIA

Verifica-se, então, que algumas organi-zações, em função da crescente preocupa-ção em relação à variável ambiental porparte da sociedade, têm procurado dar res-postas a esse anseio, seja através da sim-ples vigilância das ameaças e das oportu-nidades existentes, seja através do geren-ciamento dos efluentes industriais até acriação de atividades ou funções adminis-trativas específicas em sua estrutura orga-nizacional.

Assim sendo, este trabalho tem comopropósito registrar e caracterizar algumasrespostas que as empresas estão imple-mentando em sua organização, para aten-der a essa nova e crescente demanda dasociedade.

Tendo em vista a especificidade dotema e levando-se em conta que ainda é

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SOBRE A INFLUÊNCIA DA VARIÁVEL AMBIENTAL NA EMPRESA

reduzido o número de empresas que,preocupadas com essa problemática, de-senvolveram ações administrativas efeti-vas para a integração da empresa ao seumeio ambiente, o método escolhido foi oEstudo de Casos.

De acordo com Yin J, o estudo de casos éum estudo empírico que investiga um fe-nômeno atual dentro de seu contexto real,onde as fronteiras entre o fenômeno e ocontexto não são claramente definidas eonde devem ser usadas várias fontes deevidência. Nesse sentido, justifica-se suautilização quando as questões propostassão do tipo "como" e "por que" (questõesexplicativas), que estão sendo feitas sobreuma série de eventos atuais sobre os quaiso pesquisador tem pouco ou nenhum con-trole e quando o grupo a ser pesquisadoapresenta variáveis cuja variância é muitogrande.

Dessa forma, entende-se que o Estudode Casos é a maneira mais apropriadapara delineamento e desenvolvimentodesta pesquisa, não só por se enquadrar nocontexto acima citado, pois procura carac-terizar por que e como a variável ecológicaestá sendo introduzida como atividade ad-ministrativa na estrutura organizacional,mas também porque, além de apresentarum número reduzido de casos passíveisde observação prática, caracteriza-se porevidenciar diferenças significativas em re-lação ao arranjo que cada organizaçãoidealizou para lidar com a variável am-biental, no que tange ao seu tipo, qualida-de, importância e abrangência.

Para atender ao objetivo do estudo, pro-curou-se pesquisar empresas pertencentesa ramos industriais diferenciados, de for-ma a conseguir uma maior abrangênciaque permitisse uma melhor compreensãoe familiarização de como a variável am-biental está afetando tais organizações.

Dessa forma, foram pesquisadas as se-guintes empresas:

ANÁLISES E CONSIDERAÇÕES

Diferentes ramos, diferentes realidades,distintas soluções

A abrangência dos ramos industriaisdo presente trabalho propiciou uma vi-são clara de que, dependendo do tipo deatividade a que a empresa se dedica, ha-verá um maior ou menor envolvimentocom a variável ecológica e portanto issose traduzirá em arranjos organizacionaisdiferenciados para lidar com essa temáti-ca, seja a nível das atividades/ responsa-bilidades relativas a sua área de atuação,seja no exercício de sua autoridade emesmo no entrosamento e na comunica-ção desta atividade/função com as de-mais funções organizacionais.

Assim, no quadro 1, nos casos estuda-dos, pode-se identificar os seguintes ní-veis de envolvimento em relação à variá-vel ecológica.

Além da atividade a que a empresa sededica, é extremamente importante paraa definição da localização da variávelambiental na estrutura, o conhecimentode como essa problemática está sendotrabalhada pela Alta Administração daempresa, qual sua influência na concep-ção da política organizacional e como elainterfere no estabelecimento do planeja-mento estratégico. A forma com quecada uma das empresas lida com essastemáticas se reflete em diferentes reali-dades, que conduzem a distintas reper-cussões a nível interno e a vários arran-jos organizacionais para o equaciona-mento dos problemas relativos à variávelecológica.

O modelo descrito por Ackerman eBauer=, citado a seguir, que indica as fa-ses do envolvimento organizacional noprocesso de conscientização social das or-ganizações, apresenta grande similarida-de com o que foi observado na prática,em relação à variável ambiental.

EMPRESA RAMO

Rhodia S/ A Químico, fibras, farmácia-veterinária e agro-química

Arafértil S/A Mineração e fertilizantes

Ripasa S/A Papel e celulose

General Motors Ltda. Automobilístico

ABC* • Nome Ficlicio Petroquímico

Nestlé Industrial e Comercial Ltda. Produtos alimentícios

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3. YIN, Robert K. Case Study re-search: design and methods. In:Applied Social Research MethodSeries. Califórnia: SAGE Publica-tions, 1989, v.5; o Thecase study as a serious researchstrategy. Knowledge: creation,diftusion, utilization, v.3, p.97-114, sep. 1981.

4. ACKERMAN, Robert, BAUER,R. Corporate social responsive-ness: Ttie modem dilemma.Reston, 1976, p.128.

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AMBIENTAL

QUADRO 1: Níveis de Envolvimento em Relação à Variável Ecológica

1. FORTE 2. REGULAR 3. FRACOENVOLVIMENTO ENVOLVIMENTO ENVOLVIMENTO

EMPRESA(ligação direta com a (ligação indireta (ligação indireta e mais distanteatividade produtiva) com a atividade da atividade produtiva)

produtiva)

ARAFÉRTll RIPASA RHOOIA GM ABe NESTlÉ

Ramo Mineração Papel e Celulose Químico Automobilístico Petroquimico Alimentação

Atividade (tipo) Fim (linha) Fim (linha) Apoio Linha! Apoio Linha e(Assessoria) Assessoria (Assessoria) Assessoria

Atuação Centralizada Centralizada Descentralizada Centralizada Descentralizada Descentral izada

Nome da Atividade Gerente Divisão de Assessoria de Engenharia Assessoria Área de Meiode Meio de Meio Segurança de Ambiental e de Segurança Ambiente eAmbiente Ambiente Processos e Mecânica e Meio Tratamento

Meio Ambiente Industrial Ambiente de Água eVasos sobPressão

Específica Sim Sim Não (mista) Não (mista) Não (mista) Não (mista)

Subordinação Divisão Diretoria Gerência de Planejamento Gerência DepartamentoIndustrial Industrial Segurança de Instalaçôes Administrativa de Engenharia

e Meio Ambiente de Serviços IndustrialDiretoria de

Divisão Cientifica Manufatura Diretoria Diretoriae Tecnológica São Paulo Técnica

Assim, quando a empresa se encontrana fase da percepção, () que ocorre é que acúpula administrativa entende que a variá-vel ecológica é importante, que deve serconsiderada na política organizacional,que há necessidade de assessoria especiali-zada, porém essa conscientização não sedissemina para os níveis hierárquicos maisbaixos da empresa, restringindo-se apenasà Alta Administração (ver quadro 2).

Por outro lado, na fase de compromisso,ocorre a contratação de assessoria específi-ca para lidar com a variável ambiental.

Essa providência desencadeia um pro-cesso de disseminação do comprometi-mento organizacional, que começa a atin-gir os gerentes de linha com quem essa as-sessoria se relaciona, e prepara o terrenopara se atingir a fase de ação, quando en-tão a variável ecológica atinge um nível dematuração dentro da organização, que secaracteriza pela incorporação de sua ava-liação nas atividades de linha da estrutura,notadamente na função produtiva e na ad-ministrativa, modificando processos, exi-gindo investimento de recursos e modifi-

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cando a própria estrutura e cultura organi-zacional.

Como conseqüência, a autoridade e opoder que a atividade/função de meioambiente deve desfrutar dentro da organi-zação, que deveria ser exclusivamente oresultado de considerações técnicas refe-rente aos seus problemas ambientais -quanto maiores as possibilidades de danosambientais maior sua autoridade funcional- e do estágio de seu desenvolvimento ad-ministrativo - se na fase da percepção, docompromisso ou da ação - acaba tendoforte envolvimento filosófico e político queé proveniente de como esta atividade éconcebida pela cúpula da empresa: se ela éconsiderada uma variável importante den-tro da organização, então a atividade/fun-ção ecológica possui status, prestígio e au-toridade; caso contrário, transforma-se emuma atividade meramente acessória, queexiste apenas para configurar que a em-presa tem algo ou alguém para lidar comessa atividade, mas que não se traduz emuma ação efetiva e muito menos em umcompromisso organizacional.

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Dessa forma, percebeu-se a existênciade diferentes fases nas empresas pesquisa-das que podem ser identificadas noquadro 3.

Origem e desenvolvimentoO estudo efetuado evidencia que a

preocupação com a variável ambiental,por parte de nossas empresas, que tenharesultado em alterações em suas estruturasorganizacionais, é relativamente recente,não atingindo, na sua maioria, 15 anos deexistência. Assim, podemos dizer que apreocupação ecológica e sua interiorizaçãoorganizacional é, sem dúvida, uma das ca-racterísticas administrativas observadasnas décadas de 70 e 80.

Considerando os casos estudados verifi-ca-se que, com exceção da Nestlé e da Rho-dia, onde as atividades ligadas ao meioambiente tiveram seu nascedouro em 1963e 1973, respectivamente, por influência dasiniciativas que se desenvolviam em suasmatrizes, nas demais empresas elas se ini-ciaram e se desenvolveram a partir de1976, quando foi sancionada a Lei Esta-dual do Meio Ambiente. Na General Mo-

CONSIDERAÇÕES SOBRE A INFLUÊNCIA DA VARIÁVEL AMBIENTAL NA EMPRESA

tors, essa atividade foi uma conseqüênciadessa legislação, enquanto que na Ripasa,Arafértil e ABC, elas foram iniciadas so-mente na década de 80, sendo a mais re-cente a da ABC, implantada em 1989.

Na Ripasa e na Arafértil, ela se iniciouem 1980 e 1987, respectivamente, por fortepressão da comunidade local. Por outrolado, na ABC, a mais recente, já se nota ainfluência da existência de um ProgramaNacional de atuação, monitorado pelaABIQUIM, influenciando em seu surgi-mento.

É interessante assinalar que, no caso daárea automobilística, a preocupação dasempresas com relação ao meio ambienteocorreu simultaneamente com a de suaAssociação Nacional, a ANFAVEA - quecriou o Grupo de Trabalho de Poluição porFontes Fixas, tão logo notou que a criaçãoda Lei Ambiental poderia provocar modi-ficações no desenvolvimento do processoprodutivo. Este Grupo de Trabalho, criadoem 1976, tem desenvolvido atividades im-portantes em relação à variável ambientaljunto às montadoras de veículos, desde asua criação até o momento presente.

QUADRO 2: Fases do Envolvimento Organizacional no Processo de Conscientização Social das Organizações

NíVEL FASE 1 FASE 2 FASE 3ORGANIZACIONAL

• Reconhece importância na • Obtém conhecimento • Obtém compromissos

CÚPULApolítica organizacional organizacionais

• Escreve e comunica essa • Contrata assessoria • Modifica padrões deimportância aos grupos externos especializada desempenho organizacional

• Desenvolve projetosespeciais internos

• Soluciona problemas técnicos • Provoca alterações nas• Desenvolve sistema de unidades operacionais

ASSESSORIA aprendizado nos níveis • Aplica os dadostécnicos/administrativos desenvolvidos na avaliação

ESPECIALIZADA • Desenvolve sistema de do desempenho organizacionalinterpretação do ambiente externo

• Representa a organização externamente

• Incorpora função na atividadelinha da estrutura organizacional

UNIDADE • Modifica os processos einveste recursos

ADMINISTRATIVA • Dissemina a responsabilidade portoda a organização (insere na Cultura)

FASE 1: Preocupação social existe, mas não está especificamente ligada com a organização (PERCEPÇÃO)FASE 2: Fica clara a implicação da organização, mas a obrigatoriedade da ação é reduzida (COMPROMISSO)FASE 3: Exige ações especificas da organização e torna-se possivel a ocorrência de sanções (AÇÃO)

(Adaptado de ACKERMAN, R" BAUER. R, - Corporate Social Responsiveness: The modem Dilema, p. 128,)

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AMBIENTAL

QUADRO 3: Autoridade e Poder da Atividade/Funçãode Meio Ambiente na Organização

POSSIBILIDADEEMPRESA DE RISCOS FASE AUTORIDADE

AMBIENTAIS

ARAFÉRTIL Forte Ação ForteRIPASA Forte Ação ForteRHODIA Forte Compromisso RegularABC Forte Percepção/Compromisso FracaGM Fraca Percepção/Compromisso FracaNESTLÉ Fraca Percepção/Compromisso Fraca

formal de todo o setor, que passa a ser mo-nitorado pela respectiva Associação.

Essa troca de experiência ao nível dasAssociações é fundamental para evitar arepetição de erros cometidos por outras or-ganizações, para acompanhamento daatualização tecnológica ao nível de sua es-pecialidade e pode se transformar no pri-meiro passo no sentido da criação de umabolsa de resíduos, ou de troca de informa-ções sobre reciclagem e reaproveitamentode resíduos.

Situação atualComo resultado dos casos observados,

verifica-seque a situação atual da interiori-zação da variável ecológica em nossas em-presas industriais é fruto, em um primeiromomento, de influências externas, prove-nientes da legislação ambiental e das pres-sões exercidas pela comunidade nacional einternacional, que resultam, num segundomomento, em repercussões ao nível inter-no das organizações.

Aquelas organizações que, entre as es-tudadas, tiveram problemas ambientais re-levantes junto à comunidade onde se loca-lizam, como ocorreu com a Arafértil e a Ri-pasa, e que resultaram em confrontos des-gastantes, com possibilidades de interven-ções e até de fechamento, ameaçando a so-brevivência da empresa, são aquelas nasquais as atividades/responsabilidades daárea de meio ambiente apresentam um

o mesmo está ocorrendo atualmenteem relação às empresas da área química epetroquímica, onde à sua Associação - aABIQUIM- está reservado um papel fun-damental na implantação do Programa deAtuação Responsável (Responsible Care)que está sendo desenvolvido junto aosseus filiados.

O envolvimento das AssociaçõesNacio-nais na problemática ambiental é extrema-mente importante e positivo no sentido decriar mecanismos para auxiliar as organi-zações que estão interessadas em equacio-nar seus problemas ecológicos.Isso se con-cretiza não só porque passa a existir umaconstante troca de experiências entre asempresas associadas, mas também porquecada uma das empresas se conscientiza emassumir compromissos efetivos com as de-mais, resultando num comprometimento

QUADRO 4: Situação da Atividade/Função Ambiental nas Empresas Pesquisadas

I I I I I

63 I 73 : 76 : 80 : 87 : 89 :I I I I I I-----.------------------~-----------------+-----------------~-------------------~------------------~----I I I I I I

: 68 : : 78 : 83 : 88 :

Situação Atual Fraco Regular Fraco Forte Forte FracoVariável Envolvimento Envolvimento Envolvimento Envolvimento Envolvimento Envolvimento

EcológicaPerspectiva Manu.t~nção Ampliação Manutenção Manutenção Manutenção Amp~ação

Futura * **L_

* Tendência de que haja uma intensificação do envolvimento para as empresas químicas e petroquímicas (Rhodia e ABe)Tendência a permanecer na situação atual, a não ser que haja uma ampliação e potencialização de sua atuação dentro da empresa (GM e Nestlé)

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maior nível de autoridade, possuindo, in-clusive, como no caso da Ripasa, autorida-de funcional até para interromper o pro-cesso produtivo, na eventualidade de umincidente ambiental crítico. Quando issonão ocorre, o prestígio da área de meioambiente dentro da organização não tem omesmo brilho e intensidade.

No caso da Rhodia e da ABC, respecti-vamente pertencentes à área química e pe-troquímica, como bem colocou o vice-pre-sidente da Dow Química, Sr. [ohn Barks-dale, embora atuando em áreas onde o en-volvimento com a problemática ambientalé intenso, elas ainda, em nosso país, nãoestão sujeitas às mesmas pressões e exigên-cias que ocorreram em outros países, nota-damente na Europa Ocidental. Assim queisto ocorrer, haverá um fortalecimentomaior da área de meio ambiente nessas or-ganizações, cujas atividades hoje se desen-volvem sob a forma de assessoria, de acon-selhamento ou de consulta compulsória ouconcorrente, com responsabilidades queincluem outras tarefas além das relativas àvariável ecológica.

É claro que, no caso da Rhodia, a situa-ção da área ambiental, embora de stajj,apresenta uma outra realidade, pois já estáconsolidada e amadurecida dentro da or-ganização, atuando de forma sincronizadajunto das fábricas, pois, devido ao tempoem que ela se inclui como atividade admi-nistrativa, já ganhou credibilidade, aceita-ção e reconhecimento, o que está aindasendo buscado por essa área dentro daABC, em função de seu noviciado comoatividade administrativa.

Nas demais empresas estudadas, Gene-ral Motors e Nestlé, em virtude de apre-sentarem, em relação às demais, um po-tencial poluidor mais reduzido e, portanto,com baixo nível de visibilidade junto à co-munidade em que se localizam, a tendên-cia é a área de meio ambiente apresentarnível de autoridade funcional reduzido,dividindo suas atividades com outras tare-fas. Essa situação só se modificará caso aárea de meio ambiente ampliar seu nívelde ligação com as demais unidades admi-nistrativas, potencializando sua atuação etomando-se assim importante fator dentroda estratégia e da política organizacional.

Essa situação a respeito da ativida-de/ função ambiental pode ser visualizadano quadro 4.

..EONSIDERAÇÕESSOB~E A INFLUÊNCIA DA VARIÁVEL AMBIENTAL NA EMPRESA

CONCLUSÃONas conversas mantidas junto aos res-

ponsáveis pela atividade de meio ambien-te, fica evidente a perspectiva de que apreocupação com a variável ambiental,por parte das organizações, é irreversível,não é um modismo de momento, uma co-queluche de primeiro mundo, mas umapreocupação que deve crescer, em nossopaís, concomitantemente com o atendi-mento de outras necessidadesimportantes, o que exigirá denossas empresas um posi-cionamento cada vez maisresponsável, ético e especia-lizado.

Esta temática, obrigatórianas indústrias com alto po-tencial de efluentes polui-dores, tem atraído mesmoaquelas organizações quenada têm a ver com a polui-ção, mercê de seu alto po-der de apelo, aglutinação ede acatamento popular.Tais organizações acabamutilizando a questão ecológicaem sua propaganda, em promoções, empatrocínios etc., reforçando mercadologi-camente sua imagem de empresa preocu-pada com sua responsabilidade social (7).

Essa tendência crescente, que será umaconstante no seio das organizações queapresentam problemas de efluentes, queexigirá uma atividade administrativa es-pecializada e específica dentro da estrutu-ra organizacional e que deverá se posicio-nar junto aos níveis hierárquicos superio-res, mantendo estreita ligação com a AltaAdministração, pode ocorrer de formamais rápida ou mais lenta em cada umadas empresas.

A rapidez ou lentidão da incorporaçãodessa atividade e sua consolidação, quepode ter tido seu nascedouro por exigêncialegal, por pressões da comunidade ou poriniciativa própria (esta bem mais rara),será determinada em função, principal-mente, de como esta atividade é concebidadentro da organização - se apenas comouma ameaça de despesa obrigatória econstante, ou como uma oportunidadepara redução de custos e de desperdíciono processo produtivo, ou na busca de no-vos produtos e mercados. O

N O caso da Rhodia,

a situação da área ambiental,

embora de staff, apresenta

uma outra realidade, pois já

está consolidada e

amadurecida dentro da

organização.

Artigo recebido pela Redação da RAE, avaliado e aprovado para publicação em março/94. 75

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AMBIENTAL

DECLARAÇÃO CONJUNTA DAS CIDADES E AUTORIDADES LOCAIS *1 a 2 de junho de 1992

Nós, os líderes de govemos locais e autoridades de ci-dades e áreas metropolitanas do mundo, assumimos osseguintes compromissos:

COMPROMISSOS

1. Como primeiro passo trabalhar para estender os servi-ços básicos para todos os cidadãos sem aumentar a de-gradação ambiental.

2. Aumentar progressivamente a eficiência energética.3. Reduzir progressivamente todas as formas de poluição.4. Desperdiçar o mínimo e economizar o máximo.5. Combater a desigualdade social, a discriminação e a

pobreza.6. Priorizar as necessidades da criança e o respeito aos

seus direitos.7. Integrar o planejamento ambiental e o desenvolvimen-

to econômico.s. Aumentar o envolvimento de todos os setores da co-

munidade, no gerenciamento ambiental.9. Mobilizar recursos para ampliar a cooperação entre au-

toridades locais.

PLANOS DE AÇÃO

Para cumprir os compromissos assumidos em rela-ção ao desenvolvimento sustentado das cidades, ficaestabelecido que cada autoridade local deverá prepa-rar um plano de ação, uma Agenda Local 21 - que in-clua metas e cronogramas, e incorpore medidas, comoas seguintes:• estabelecer processos de consulta à comunidade que

reúnam representantes de organizações comunitárias,industriais e comerciais, associações profissionais e sin-dicatos, instituições educacionais e culturais, os meiosde comunicação e o governo para criar parcerias para odesenvolvimento sustentado;

• instalar, dentro do governo municipal, um comitê inter-disciplinar para coordenar o planejamento, as políticase as atividades promotoras do desenvolvimento, paraque essas atividades resultem em uso do solo, trans-portes, energia, construções, manejo de resíduos e ge-renciamento hídrico sadios;

• realizar, regularmente, auditorias ambientais, envolven-do todos os setores da comunidade e desenvolver umbanco de dados sobre as condições ambientais locais;

• rever e aperfeiçoar a cobrança de todas as taxas, multase impostos municipais existentes, para:J. apoiar comportamentos ambientalmente corretos e

desencorajar os que não o são;b. cobrar todos os custos ambientais de atividades es-

peciais;c. aumentar os recursos disponíveis para investimento

em projetos locais de desenvolvimento sustentado;• desenvolver processos de aquisição que resultem na

compra de materiais e produtos que não agridam omeio ambiente;

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• estabelecer um curriculum sobre desenvolvimento sus-tentado a ser introduzido em escolas e outras institui-ções sob jurisdição municipal;

• criar um Fórum para educação futura de líderes muni-cipais e comunitários sobre as questões ambientais e dedesenvolvimento sustentável;

• aderir e participar de redes regionais e internacionaisde autoridades locais, para aumentar o intercâmbio deinformações e assistência técnica entre municípios. E,pressionar seus governos nacionais no sentido de queapóiem e financiem suas metas ambientais e de desen-volvimento.

Autoridades locais e metropolitanas unem forças atra-vés de suas associações e redes para responder aos desa-fios da Agenda 21, o programa de ação da Conferênciadas Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvol-vimento. Elas prepararão seus planos de ação com objeti-vos e cronogramas, e apresentarão esses planos às suasrespectivas associações dentro de um ano.

As associações mencionadas no preâmbulo destedocumento assegurarão o acompanhamento das açõesaqui propostas.

As diferentes associações internacionais representandoos prefeitos, líderes locais e todos os tipos de govemo lo-cal em todo o mundo, tendo se reunido no decorrer doano anterior, para examinar problemas urbanos e ques-tões de interesse mútuo, e preocupações comuns, comvistas à preparação da Conferência das Nações Unidassobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada noRio de Janeiro em junho de 1992;

afirmam que:• as declarações feitas pelas várias associações sobre

questões relacionadas ao meio ambiente e ao desenvol-vimento demonstram um consenso significativo noque se refere aos pré-requisitos, princípios básicos, pro-jetos e ações necessários para a obtenção de um desen-volvimento sustentável, com respeito ao meio ambien-te local, tanto nas áreas urbanas como rurais;

• estas declarações enfatizam a necessidade de que aação local se concentre no combate à pobreza, reduzin-do as desigualdades, melhorando e conservando aqualidade do meio urbano dentro e fora das cidades,estruturando e controlando o crescimento urbano, e aomesmo tempo, promovendo e assegurando uma parti-cipação efetiva dos cidadãos por meio de uma adequa-da informação ao público;

• mais da metade da população mundial estará vivendonas cidades no início do século XXI; conseqüentemen-te, um esforço firme da parte das cidades será essencialpara solucionar os problemas de meio ambiente e de-senvolvimento que constam da Agenda da UNCED,tais como a redução da quantidade de resíduos produ-zidos e que tem impacto sobre toda a Humanidade;

• em comunidades de qualquer tamanho, as autoridadeslocais e metropolitanas constituem o nível de autorida-

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DECLARAÇÃO CONJUNTA DAS CIDADES E AUTORIDADES LOCAIS

de mais próximo dos cidadãos. Assim sendo, elas têmresponsilbilidades específicas, e são parceiros indispen-sáveis na implementação de estriltégias de desenvolvi-mento sustentado, seja em áreas urbanas ou rurais;

• qualquer estratégia de desenvolvimento sustentável re-quer um aumento da autoridade local e da democracia;

• o futuro das sociedades urbanas e rurais está indisso-ciavelmente interligado, e o equilíbrio global entre asáreas urbanas e rurais é necessário ao desenvolvimentosustentável, e necessita, por isso, ser uma preocupaçãocentral para todos os goveT11antes;

• a contribuição das associações de cidades e autoridadeslocais paril a formulação de políticas para um desen-volvimento sustentável deve ser reconhecida nacionale internacionalmente, tendo em vista que as questões aserem discutidas na reunião da Cúpula da Terra estãofortemente enraizadas em realidades locais;

• o objetivo do desenvolvimento urbano sustentável é ode permitir que as cidades funcionem, dentro e fora deseus limites territoriais, como grandes ecossistemasque assegurem um balanço apropriado entre o cresci-mento econômico e a ecologia;

• a grande diversidade de situações existentes em relaçãoao tamanho, ao nível de desenvolvimento, situaçãocultural, geográfica e ambiental que caracterizam as ci-dades e as populações que nelas habitam, exige a má-xima flexibilidade na solução dos problemas urbanos,e em particular os problemas ambientais; no entanto, adespeito destas diversidades, as cidades compartilhamos mesmos desafios e soluções, e sua ação no campoambiental não se limita a aplicar medidas de carátertécnico, mas envolve também a formulação de políticaslocais coerentes;

• o combate li pobreza, à marginalização e à deterioraçãodas condições sociais, fatores que contribuem parapressionar o meio ambiente urbano, é essencial para aqualidade do desenvolvimento sustentável e para amelhoria das condições ambientais nas áreas urbanas;

• a participação da comunidade é essencial a qualquerpolítica definida para a implantação de uma estratégiade desenvolvimento sustentável; esta participaçãodeve promover a educação ambiental e estimular acooperação entre as autoridades locais e o conjunto deatores urbanos, tais como e111presas, universidades, as-sociações e agências sociais e comunitárias;

• como parte do seu processo de desenvolvimento, as au-toridades locais já estão contribuindo para a proteçãodo meio ambiente através da implantação de políticasadequadas, e, por meio das redes atualmente existen-tes de intercâmbio de conhecimentos e cooperação tec-nológicos, para um avanço, a nível mundial, da cons-ciência ambiental, através da participação em váriosacordos bilaterais e multilaterais entre cidades do Nor-te e do Sul e entre cidades do Sul.

Comprometem-se a:• promover, através das cidades, autoridades locais e

metropolitanas, a implantação das medidas necessáriaspara assegurar o equilíbrio entre o desenvolvimentoeconômico e o meio ambiente, e para proteger os espa-ços naturais e o ambiente urbano. Estas medidas deve-rão incluir ações visando a racionalizar a utilização dos

recursos naturais e o consumo de energia, em particu-lar através do controle da produção e o destino dos re-síduos sólidos, o tratamento in situ de todas formas depoluição prod uzidas pela atividade urbana, c, de for-ma geral, o uso de recursos renováveis;

• implementar, juntamente C0111as autoridades associa-das e através de programas de ação, as recomendaçõesque serão feitas pela UNCED, de maneira a aportar umcomplemento essencial aos compromissos que serãoassumidos pelos governos na Cúpula da Terra;

• desenvolver, juntamente com as autoridades associa-das, uma cooperação descentralizada como instrumen-to de uma política internacional para o desenvolvimen-to, demonstrando assim a solidariedade existente entreas cidades e permitindo-lhes assumir seu lugar dentroda ação que terá lugar sob a égide das Nações Unidas.

Recomendam:• que os governos nacionais reconheçam formalmente a

autonomia das cidades, das coletividades locais e dasáreas metropolitanas, para que elas possam adquirirpoderes e obter os recursos necessários para imple-mentar estratégias de desenvolvimento sustentável so-bre seus respectivos territórios e participar de acordosde cooperação internacional;

• que seja dado apoio às redes internacionais de coopera-ção entre autoridades locais para fortalecer as parceriase promover o intercâmbio de conhecimentos sobre osproblemas do meio ambiente e de soluções desenvolvi-das tanto nas cidades e países do Norte como do Su 1;

• que seja estabelecido, junto às Nações Unidas, um me-canismo no qual as associações de cidades e autorida-des locais estejam representadas, que assegure o segui-mento dos princípios, projetos e ações mencionados;

• que as grandes organizações internacionais estabeleçammecanismos de consulta aos representantes das associa-ções de cidades e autoridades locais e que as delegaçõesdos governos nacionais incluam representantes das au-toridades locais em conferências relacionadas às ques-tões de meio ambiente e desenvolvimento;

• que as Nações Unidas criem, seja com recursos já dis-poníveis ou a partir de recursos novos, um Fundo des-tinado a apoiar projetos inovadores ligados ao meioambiente a nível local, e de processos de intercâmbiode informações sobre estes projetos. Este Fundo deveráser administrado conjuntamente pelas Nações Unidas,associações de cidades, autoridades metropolitanas elocais, assim como algumas organizações não governa-mentais. Este Fundo poderia igualmente ser comple-mentado com recursos locais. :J

Documento elaborado sob os auspícios da União Internacio-nal de Autoridades Locais - IULA, a Associação Mundial dasGrandes Metrópoles - METROPOLIS, a Organização das Ci-dades Lnídas - UNlTED TOWNS, a Conferência de Cúpuladas Grandes Cidades do Mundo - SUMMIT e de outras asso-ciações internacionais e regionais de autoridades locais, Riode Janeiro, 1 e 2 de junho de 1992.

* A íntegra deste documento foi compilada a partir da revistaBlO Ano IV, n. 3, jul./set. 1992, publicação trimestral da As-sociação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental -ABES, Rio de Janeiro, RJ.

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