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Hortênsio Bondo

Nov 03, 2015

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Hortensio Bondo

FCUAN - Trabalho de fim de curso de licenciatura em Geologia
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  • UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO FACULDADE DE CINCIAS

    DEI-GEOLOGIA

    TRABALHO DE FIM DE CURSO DE LICENCIATURA EM GEOLOGIA

    (GEOLOGIA APLICADA)

    No 71/2011

    Elaborado por: Hortnsio Felisberto de Ftima Bondo 91096 Igdio Miguel de Carvalho 37207

    CARACTERIZAO GEOLGICA E GEOTCNICA DA REA DE IMPLANTAO

    DO NOVO PORTO DE LUANDA A PARTIR DE RESULTADOS DO

    STANDARD PENETRATION TEST (SPT)

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    ii

    UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO FACULDADE DE CINCIAS

    DEI-GEOLOGIA

    TRABALHO DE FIM DE CURSO DE LICENCIATURA EM GEOLOGIA

    (GEOLOGIA APLICADA)

    No 71/2011

    Elaborado por: Hortnsio Felisberto de Ftima Bondo 91096 Igdio Miguel de Carvalho 37207 Orientadores: Professor Doutor Andr Buta Neto Professor Doutor Fernando Bonito

    CARACTERIZAO GEOLGICA E GEOTCNICA DA REA DE IMPLANTAO

    DO NOVO PORTO DE LUANDA A PARTIR DE RESULTADOS DO

    STANDARD PENETRATION TEST (SPT)

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    iii

    ndice Geral Pg

    AGRADECIMENTOS ix

    RESUMO x

    ABSTRACT xi

    DEDICATRIA xii

    INTRODUO 1

    OBJECTIVOS GERAIS 1

    OBJECTIVOS ESPECFICOS 1 CAPTULO 1- METODOLOGIA DE TRABALHO

    1.1 METODOLOGIA DE TRABALHO 3

    1.2 MATERIAIS E TCNICAS 8

    1.2.1 Fotografias Areas 8

    1.2.2 Imagens Satlite 8

    1.2.3 Mapas Topogrficos 9

    1.2.4 Carta Geolgica 10

    1.2.5 Fotografias areas da rea de estudo 13

    1.2.6 Imagens satlites da rea de estudo 15

    CAPTULO 2- ENQUADRAMENTO GEOGRFICO DA REA

    2.1 VIAS DE ACESSO 17

    2.2 HISTRIA / CULTURA 18

    2.3 CLIMA E VEGETAO 19

    2.4 SOLOS 20

    2.5 GEOMORFOLOGIA E HIDROGRAFIA 22

    CAPTULO 3- ENQUADRAMENTO GEOLGICO DA REA

    3.1 PRINCIPAIS BACIAS SEDIMENTARES DE ANGOLA 29

    3.2 EVOLUO TECTNICA-SEDIMENTAR 30

    3.3 SUBSIDNCIA REGIONAL 33

    3.4 ESTRATIGRAFIA DA BACIA DO KWANZA 34

    3.5 CARACTERIZAO GEOLGICA DA REA DE ESTUDO 38

    3.6 COLUNA LITOESTRATIGRFICA 41

    3.7 IDENTIFICAO DA MICROFAUNA 45

    3.8 PALEOAMBIENTE 46

    3.9 MAPA DE AMOSTRAGEM 49

    3.10 DESCRIO DAS SECES LITOLGICAS (LOGS) 50

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    iv

    3.11 UNIDADES LITO - BIOESTRATIGRFICAS 64

    3.12 CORRELAO LITO-BIOESTRATIGRFICA 65

    3.13 DESCRIO DO ESBOO LITOLGICO DA REA DE ESTUDO

    CAPTULO 4- CARACTERIZAO GEOTCNICA

    4.1 ENSAIOS DE CAMPO 70

    4.2 PRINCIPIOS E REALIZAO DE ENSAIOS SPT 70

    4.3 APLICABILIDADE 73

    4.4 FACTORES QUE AFECTAM OS RESULTADOS 73

    4.4.1 Preparao da sondagem 73

    4.4.2 Comprimento das Varas e dimetro do furo 74

    4.4.3 Dispositivo de golpe 75

    4.4.4 Normalizao do sistema de pancada 76

    4.5 CORRECES DE NSPT 76

    4.5.1 Correco devido ao nvel fretico 76

    4.6 PARAMETROS GEOTECNICOS PARA TERRENOS GRANULARES 78

    4.6.1 Densidade relativa 78

    4.6.2 DR e a classificao de Terzagui e Peck 78

    4.6.3 DR e presso de confinamento 80

    4.6.4 DR consideraes finais 80

    4.6.5 ngulo de Atrito Interno 82

    4.6.6 Deformabilidade 83

    4.7 PARAMETROS GEOTECNICOS PARA TERRENOS COESIVOS 84

    CAPTULO 5- APRESENTAO E DISCUSSO DOS ESULTADOS 5.1 APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS 87

    CAPTULO 6- CONCLUSES E RECOMENDAES

    6.1 CONCLUSES 100

    6.2 RECOMENDAES PARA TRABALHOS FUTUROS 100

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 102

    67

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    v

    LISTA DAS FIGURAS

    Captulo 1

    Figura 1: Reconhecimento do local do furo e montagem do equipamento

    Figura 2: Colocao do amostrador Terzaghi e realizao do ensaio

    Figura 3: Descrio macroscpica dos testemunhos de sondagem

    Figura 4: Testemunhos de sondagem rotativa

    Figura 5: Testemunhos de sondagem SPT

    Figura 6: Etapas da anlise da anlise micropaleontolgia

    Figura 7: Sequncias de fotografias da regio do Dande (a, b, c e d)

    Figura 8: Foto mosaico da regio do Dande Figura 9: Imagens satlite da zona de estudo, ilustrando as caractersticas

    geomorfolgicas Captulo 2

    Figura 10: Mapa de Angola e destaque da Provncia do Bengo, com localizao do Municpio do Dande

    Figura 11: Vegetao existente na regio do Dande

    Figura 12: Bacia hidrogrfica do Dande, Provncia do Bengo

    Figura 13: Bacia hidrogrfica do Lifune, Provncia do Bengo Figura 14: Bacia hidrogrfica da baixa do Dande, evidenciando o rio

    Dande e as eventuais lagoas Figura 15: Bacia hidrogrfica da baixa do Lifune, evidenciando o rio Lifune

    Captulo 3

    Figura 16: Principais bacias sedimentares de Angola

    Figura 17: Esquema representativo da fase Pr-rift

    Figura 18: Esquema representativo da fase Sin-rift I

    Figura 19: Esquema representativo da fase inicial (a) e final (b) doSin-rift II

    Figura 20: Esquema representativo da fase inicial (a) e final (b) doPs-rift

    Figura 21: Esquema representativo da fase de Subsidncia regional

    Figura 22: Estratigrfica da bacia do Kwanza

    Figura 23: Carta geolgica da bacia do Kwanza

    Figura 24: Coluna litoestratigrficas da bacia do Kwanza

    Figura 25: Afloramento (AF1)

    Figura 26: Afloramento (AF2)

    Figura 27: Afloramento (AF3)

    Figura 28: Distribuio paleoambiental dos foraminferos

    Figura 29: Mapa de amostragem

    Figura 30: Sondagem SP10

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    vi

    Figura 31: Sondagem SP1

    Figura 32: Sondagem SP2

    Figura 33: Sondagem SP4

    Figura 34: Sondagem SP6

    Figura 35: Sondagem SP9

    Figura 36: Sondagem SP11

    Figura 37: Sondagem SP17

    Figura 38: Sondagem SP3

    Figura 39: Sondagem SP16

    Figura 40: Sondagem SP15

    Figura 41: Sondagem SP8

    Figura 42: Sondagem SP12

    Figura 43: Sondagem SP5

    Figura 44: Corte sinttico litolgico

    Figura 45: Correlao lito-bioestratigrfica

    Figura 46: Esboo litolgico da rea de estudo

    Captulo 4

    Figura 47: Amostrador padro

    Figura 48: Diferentes fases do ensaio

    Figura 49: Ensaio SPT

    Figura 50: Testemunhos de sondagem SPT com os respectivos dados

    Figura 51: Vrios tipos de martelo

    Figura 52: Dispositivo de golpe com corda e roldana

    Figura 53: Comparao dos distintos factores de correco CN

    Figura 54: Relao entre N e DR%

    Figura 55: baco de Gibbs e Holtz comparado com o de Terzaghi e Peck

    Figura 56: Estimativa de Meyerhof e Peck et al

    Figura 57: Estimativa de em funo de NSPT e Tenso efectiva vertical Figura 58: Valores da resistncia a compresso simples a partir de NSPT para solos

    coesivos de distintas plasticidades

    Captulo 5

    Figura 59: Localizao dos furos de sondagem

    Figura 60: Sondagem SP1

    Figura 61: Sondagem SP3

    Figura 62: Sondagem SP4

    Figura 63: Sondagem SP6

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    vii

    Figura 64: Sondagem SP8

    Figura 65: Sondagem SP9

    Figura 66: Sondagem SP10

    Figura 67: Sondagem SP11

    Figura 68: Sondagem SP12

    Figura 69: Sondagem SP14

    Figura 70: Sondagem SP15

    Figura 71: Sondagem SP16

    Figura 72: Sondagem SP17 LISTA DAS TABELAS

    Tabela 1: Coordenadas geogrficas da provncia do Bengo

    Tabela 2: Localizao geogrfica dos afloramentos estudados

    Tabela 3: Ambientes, hbito, e idades das espcies de foraminferos

    Tabela 4: Amostragem dos poos estudados

    Tabela 5: Correco de N pelo comprimento das varas

    Tabela 6: Correco de N pelo dimetro da sondagem

    Tabela 7: Comparao dos distintos factores de correco

    Tabela 8: Valores de CN para distintos tipos de solos

    Tabela 9: Classificao de Terzaghi e Peck, modificado por Skempton

    Tabela 10: Propriedades comuns de solos argilosos

    Tabela 11: Dados dos furos de sondagens LISTA DE SMBOLOS E ACRNIMOS ABNT - Associao Brasileira de Normas Tcnicas ASTM - American Society for Testing Materials AFT - Afloramento CN - Factor de correco Dr - Densidade Relativa (ou compacidade) do solo

    qu - Resistncia a compresso simples (tsf) Log - Logartimo L - Comprimento das varas N - Nmero de golpes N1 - Valor de NSPT corrigido para uma tenso de referncia de 100

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    viii

    NSPT - ndice de resistncia penetrao NBR - Associao Brasileira de Normas Tcnicas N60 - Valor de NSPT corrigido para 60% da energia terica de queda livre (N1)60 - Valor de NSPT corrigido para energia e nvel de tenses KPa - Kilopascal SPT - Ensaio de penetrao padro (Standard Penetration Test) SP - Furo de Sondagem t/m2 Tonelada por metro quadrado Tg - Tangente

    v0 - Tenso efectiva vertical em repouso - ngulo de atrito interno Kg/cm2 Kilograma por centmetro quadrado psi pounds per square inch ISSMFE T16 International Society of Soil Mechanics and Foundation Engineering Technical Com e max - ndice de vazios mximo e min - ndice de vazios mnimo e0 - ndice de vazios in situ

    Peso volmico do solo

    dmax - Peso volmico seco mximo

    max - Peso volmico mximo

    min - Peso volmico mnimo

    ap - Peso volmico aparente

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    ix

    AGRADECIMENTOS

    A Deus, o grande Arquitecto do Universo, por nos ter concedido a vida e a fora

    necessria para a realizao deste trabalho. Aos nossos pais, familiares pelo apoio incondicional. Aos nossos orientadores Prof. Doutor Andr Buta Neto e Prof. Doutor Fernando Bonito por fazerem sempre a diferena nos momentos de maiores dificuldades.

    Ao colectivo de professores do Departamento de Geologia, em especial ao Dr. Mega

    Fontes e Dr. Cirilo Cauxeiro por nos terem ajudado no processo de busca de conhecimentos necessrios para desenvolver este projecto.

    Empresa SOLOTCNICA CIS, principalmente ao Engenheiro desse projecto, e ao

    Sondador Belmiro e seus ajudantes por terem demonstrado imensa boa vontade e esprito de cooperao ao transmitirem informaes dos ensaios SPT e executarem as sondagens, parte fundamental deste trabalho de fim de curso da Licenciatura.

    A todos os colegas que directa ou indirectamente mostraram-se sempre dispostos a

    ajudar nos momentos difceis.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    x

    RESUMO

    O presente trabalho tem como tema Caracterizao Geolgica e Geotcnica da rea

    de Implantao do Novo Porto de Luanda, a partir de resultados de Ensaios Standard

    Penetration Test SPT. Foi elaborado pelos estudantes Hortnsio Felisberto de Ftima Bondo

    e Igdio Miguel de Carvalho, no mbito de um projecto de fim de curso de Licenciatura em

    Geologia na especialidade de Geologia Aplicada, no Departamento de Geologia da

    Universidade Agostinho Neto, com os apoios da Empresa SOLOTCNICA, Gabinete de

    Reconstruo Nacional (GRN) e Departamento de Geologia da Faculdade de Cincias da

    Universidade Agostinho Neto.

    A caracterizao geolgica da rea de estudo, baseou-se no reconhecimento

    geolgico da referida rea, na interpretao das distintas seces litolgicas (logs), nas

    anlises paleontolgicas onde identificaram-se algumas espcies de foraminferos, o que

    permitiu determinar o paleoambiente da rea de estudo. Efectuou-se tambm correlaes

    lito-bioestratigrficas a partir de algumas seces litolgicas, permitindo assim a elaborao

    do corte sinttico litolgico. Finalmente elaborou-se o esboo litolgico da rea de estudo.

    Foram realizados ensaios SPT em algumas localidades do municpio do Dande,

    essencialmente na zona de Cabacaa, Calenguela, Catumbo, Pambala. Efectuou-se tambm

    correces dos resultados SPT considerando os efeitos do peso volmico, da tenso efectiva

    vertical, do dimetro do furo, do comprimento do trem de varas, estes dois ltimos de acordo

    com as propostas de Skempton (1986) e Uto & Fujuki (1981). Foram tambm efectuadas

    correces devidas aos efeitos da presso de confinamento de acordo com as propostas de

    Skempton (1986), Liao & Whitman (1985) e Gibbs & Holtz (1957).

    Tendo por base a Bibliografia, foi realizada a parametrizao geotcnica, a partir das

    correlaes clssicas que permitem estimar a ordem de grandeza dos parmetros indexados

    s propriedades fsicas, compacidade, consistncia, resistncia e deformabilidade.

    Por outro lado, aquela avaliao permitiu uma abordagem comparativa com as

    propriedades e caractersticas geolgicas determinadas em estudos de fotointerpretao,

    estudos de campo, bem como anlises de laboratrio.

    Palavras-Chave: Correces, Correlaes, Formaes, Golpes, Solos, Sondagem, seces

    litolgicas.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    xi

    ABSTRACT

    This work has theme Geological and geotechnical characterization in the Area of

    Implantation of the new Porto of Luanda, from results of tests SPT Standard Penetration

    Test. It was prepared by the following students Hortnsio Felisberto de Ftima Bondo e Igdio

    Miguel de Carvalho, under a draft order Degree in Geology in the specialty of Applied Geology,

    in the Department of Geology at Agostinho Neto University, with the support of the Company

    SOLOTCNICA, General Office of National Reconstruction (GNR) and Department of

    Geology in Faculty of Science at Agostinho Neto University.

    The geological characterization of the study area was based on the geological

    reconnaissance of the aforementioned area in the interpretation of the different lithological

    sections (logs), in paleontological analysis where we identified some species of foraminifera,

    which allowed us to determine the paleoenvironment of the study area. Correlations litho-

    biostratigraphycs were also made from some sections of lithological sections, thereby

    enabling the preparation of synthetic litologic cut. Finally we elaborated the outline geology of

    the study area.

    SPT tests were conducted in some localities of the municipality of Dande, primarily in

    the area of Cabacaa, Calenguela, Catumbo, Pambala. It also made corrections to the SPT

    results considering the effects of volume weight, the vertical effective stress, the diameter of

    the hole, the length of the train of rods, the two last ones according to the proposals of

    Skempton (1986) and Uto & Fujuki (1981). Corrections were also made to the effects of

    pressure containment according to the proposals of Skempton (1986), Liao & Whitman (1985)

    and Gibbs & Holtz (1957).

    Based on the Bibliography, we performed a geotechnical parameter, from classical

    correlations that allow to estimate the size of the indexed parameters to physical properties,

    compactness, consistency, resistance and deformability.

    On the other hand, that evaluation allowed a comparison with the properties and

    geological characteristics determined in studies of photo interpretation, field studies and

    laboratory analysis.

    Keyword: Corrections, Correlations, Training, Hitting, Soil, Survery, lithological sections.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    xii

    Aos meus pais pelo total apoio e incentivo, aos meus irmos por estarem sempre do meu lado.

    Hortnsio Felisberto de Ftima Bondo

    A Deus pelo flego da vida, aos meus pais por me apoiarem sempre incondicionalmente, aos meus irmos e amigos por estarem sempre do meu lado

    e acreditarem em mim.

    Igdio Miguel de Carvalho

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    1

    INTRODUO

    O presente trabalho de fim de curso foi desenvolvido na rea cientfica de Geologia

    Aplicada, mais especificamente no domnio da Geotecnia e trata da caracterizao geolgica

    e geotcnica da rea de implementao de um novo Porto Comercial, situado na zona da

    Barra do Dande, a partir da interpretao de uma quantidade significativa de resultados

    obtidos mediante a realizao do designado Ensaio de Penetrao Normalizado ou, como

    mais conhecido, na literatura inglesa, Standard Penetration Test (SPT). Trata-se de um

    ensaio de penetrao dinmica e tanto em Geologia de Engenharia como em Geotecnia ou

    em Engenharia Civil, o mtodo mais utilizado mundialmente para reconhecimento do subsolo

    e avaliao da resistncia dos macios terrosos, fundamentalmente devido facilidade de

    execuo e baixo custo associado.

    Com efeito, os parmetros obtidos atravs deste ensaio so amplamente utilizados

    para o clculo da capacidade resistente dos macios de fundao.

    Assim, o SPT consiste, em medir o nmero de golpes necessrios para fazer um amostrador

    normalizado penetrar no solo trs trechos sucessivos de 15 cm, totalizando 45 cm. Nesta

    base, na rea de estudo foram executados 20 sondagens com SPT. Foram utilizados os

    resultados de 14 furos de sondagem para a realizao do presente trabalho.

    OBJECTIVOS GERAIS

    Determinar as diferentes litologias da rea de estudo e o respectivo paleoambiente.

    Estimar a capacidade de carga dos solos da rea de estudo a partir de resultados do

    ensaio SPT, bem como compreender a sua ordem de grandeza luz do conhecimento

    geolgico recolhido quer da bibliografia quer adquirido nos trabalhos de campo.

    OBJECTIVOS ESPECFICOS

    Reconhecer e classificar a microfauna de foraminferos;

    Elaborar seces litolgicas (Logs) a partir dos furos de sondagem;

    Compreender a execuo do ensaio e aplicar as correces aos valores do NSPT;

    Estabelecer correlaes entre os valores do SPT (registados e corrigidos) e os

    diferentes parmetros geotcnicos.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    2

    CAPTULO 1

    METODOLOGIA DE TRABALHO

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    3

    1. METODOLOGIA DE TRABALHO

    A metodologia seleccionada, com base nos objectivos preconizados, foi a seguinte:

    1. Elaborao do modelo de investigao e levantamento bibliogrfico. Para esta fase,

    recorreu-se inicialmente ao estudo de fotografias areas da regio que permitiu a

    elaborao de cartas preliminares, esboos, ulteriormente o reconhecimento de

    algumas formaes referidas nos trabalhos j efectuados na rea segundo Agostinho

    et al (1995) e Victorino e Nascimento, (2006).

    2. Levantamento de dados de campo: Esta fase baseou-se no acompanhamento das

    sondagens em obra (Figura 1), na identificao e descrio das diferentes litologias

    presentes na rea de trabalho a partir das amostras recolhidas no amostrador

    Terzaghi, bem como no reconhecimento dos tipos de contactos existente entre as

    distintas formaes;

    a

    b

    FIGURA 1 - a) Reconhecimento do local do furo; b) Montagem do equipamento

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    4

    b

    FIGURA 2- a) Colocao do amostrador Terzaghi; b) Realizao do ensaio SPT

    3. Trabalho de laboratrio: Esta fase dividiu-se em duas etapas:

    1. Descrio das carotes e testemunhos de sondagem SPT

    As amostras utilizadas no presente trabalho so testemunhos (carotes) dos furos de

    sondagem rotativa e percusso. Algumas foram recolhidas com recurso ao amostrador

    Terzaghi, durante a excuo do SPT na rea de trabalho, como se pode observar nas pginas

    4 e 5.

    Aps a sua recuperao, as amostras foram conservadas em caixas devidamente

    etiquetadas, com indicao da ordem de amostragem atravs de setas e respectivas

    profundidades e penetraes.

    As amostras foram descritas macroscopicamente com ajuda de uma lupa e cido clordrico

    (HCI).

    a

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    5

    FIGURA 3- Descrio macroscpica dos testemunhos de sondagem (Carotes)

    Para o tratamento da informao, a amostragem foi utilizada segundo a variao de

    fcies, quer do ponto de vista litolgico, quer do ponto de vista paleontolgico. Assim, foram

    seleccionadas algumas amostras para anlise paleontolgica com ajuda da lupa binocular,

    com o intuito de descrever as idades das diferentes formaes existentes na rea de estudo.

    FIGURA 4- Testemunhos de sondagem rotativa

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    6

    FIGURA 5- Testemunho de sondagem SPT

    2. Anlise micropalentolgica

    A anlise micropaleontogica foi feita de maneira metdica, meticulosa e precisa, com

    a finalidade de se evitar possveis contaminaes entre amostras, misturas fortuitas, e erros

    de identificao das preparaes, com o objectivo de enquadrar a rea de estudo no contexto

    geodinmico, conforme recomendado por Seyve (1990).

    a) Lavagem

    a tcnica mais frequentemente utilizada para extrair das rochas mveis os microfsseis de

    tamanho superior a 100 micrmetros.

    Assim, as amostras foram colocadas em recipientes contento gua, durante oito (8)

    horas, a fim de serem desagregadas da soluo. Posteriormente, a lavagem foi feita com

    gua corrente e peneiros circulares de 149 microns de abertura da malha, para a recuperao

    dos resduos. Estes foram levados para secagem, em estufa uma temperatura de 100 C.

    Para o efeito, foi utilizada uma soluo com o azul-de-metileno, na qual foram imersos os

    peneiros medida que decorria a lavagem, para colorir e reconhecer nas lavagens ulteriores

    os microfsseis que poderiam ficar retidos nas malhas. A triagem foi feita numa cuveta

    metlica rectangular, de fundo escuro, sob observao na lupa binocular. Os microfsseis

    foram levantados com um estilete que de vez em quando foi picada na plasticina e,

    posteriormente, foram colocados em clulas ou lamelas.

    b) Observao dos microfsseis

    No momento da identificao dos fsseis so utilizadas algumas tcnicas de trabalho,

    ou seja, o reconhecimento de cada grupo, gnero ou espcie, que necessita do conhecimento

    de base da micropaleontologia sistemtica e a utilizao da bibliografia. Seyve (1990)

    aconselha para o efeito o uso dessas tcnicas.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    7

    Para a descrio e ilustrao dos microfsseis, foram feitos alguns desenhos e

    fotografias, foi feita a descrio das formas, dos atributos morfolgicos mais tpicos, o que se

    revelou de grande interesse para ns como autores do presente trabalho, uma vez que

    permitiu aliar a teoria prtica.

    3. Interpretao dos dados

    Os dados so descritos sob a forma de texto e apresentados preferencialmente sob a

    forma de tabelas, colunas litolgicas e grficos. Os dados utilizados resultaram dos resultados

    do ensaio SPT, da anlise macroscpica, petrogrfica e paleontolgica, com recurso a alguns

    programas informticos (software), designamente o Rockworks 2002, o Surfer 8, o Grapher

    7, o Corel DRAW12, o Fotoshop e as ferramentas do Microsoft Office.

    4. Nesta fase, foi elaborado o relatrio final com base na estratigrafia definida.

    a

    b

    c

    d

    FIGURA 6- Etapas da anlise micropaleontolgica:

    a Dissoluo; b Lavagem; c Secagem; d Triagem e classificao

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    8

    O referido relatrio contm aspectos relevantes ao conhecimento geolgico da rea,

    dentro do objectivo a que se props o projecto. Deve ser realado que o esboo litolgico, as

    correlaes lito-bioestratigrficas, o corte sinttico, o paleoambiente da rea de estudo, os

    resultados corrigidos dos ensaios SPT, bem como as correlaes deles deduzidas, so

    efectivamente os resultados mais importantes obtidos com a realizao do presente trabalho.

    1.2 MATERIAIS E TCNICAS

    Os materiais utilizados para a realizao do trabalho consistiram nas diferentes litologias,

    identificadas na rea de estudo, sendo algumas de idade j conhecida e outras por

    determinar. Deste modo, foram tomadas vrias amostras dos distintos furos de sondagem

    com o objectivo de ser feita a datao de algumas unidades litolgicas. As ferramentas de

    apoio para a realizao deste trabalho, utilizadas com diferentes fins, foram fotografias

    areas, imagens de satlite e mapas topogrficos e geolgicos, imprescindveis para um

    trabalho do gnero.

    1.2.1 Fotografias Areas

    Esta ferramenta foi de extrema importncia devido sua capacidade em individualizar

    os diferentes depsitos sedimentares, assim como todas as estruturas geolgicas (falhas,

    dobras), cursos de gua, formas de relevo e algumas estruturas antrpicas presentes nas

    imagens areas.

    A fotointerpretao permitiu, igualmente, compreender o significado individual e colectivo

    dos atributos acima citados, atravs da observao de alguns aspectos bsicos, tais como a

    textura, drenagem, tonalidade, forma, padro, densidade, declividade, dimenso, sombra e

    posio dos objectos que podem ser observados nas fotografias.

    Para que esta interpretao fosse realizada com sucesso, foi necessrio primeiramente

    um estudo sobre fotografias areas que consistiu na montagem de um mosaico ou conjunto

    de fotos da rea de estudo, montadas tcnica e artisticamente, de forma a dar a impresso

    que todo conjunto se torna numa s.

    Este estudo bastante til seja para dar uma viso de conjunto da rea, seja para permitir

    uma boa seleco preliminar do local que requer maior ou menor grau de detalhe. Foi utilizado

    o estereoscpio de espelhos para garantir uma viso estereoscpica.

    Os estudos de fotointerpretao foram realizados de acordo com os seguintes passos:

    1- Unio das marcas fiduciais para obteno do centro de cada fotografia, a fim de

    localizar o ponto principal;

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    9

    2- Sobreposio das fotografias areas de maneira a determinar a imagem de cada

    ponto principal na outra fotografia, seguindo-se para a observao das duas fotos

    sucessivas com o estereoscpio. A foto posicionada do lado esquerdo simula uma

    viso do olho esquerdo no ponto acima da foto, a posicionada do lado direito, a viso

    do olho direito, que recobre 60% da foto esquerda, permitindo ver o modelado

    topogrfico a trs dimenses;

    3- Marcao da linha de voo (linha que vai do ponto principal de uma fotografia, at a

    sua imagem na outra fotografia).

    4- Determinao do estereobase (distanciamento entre os dois pontos principais);

    5- Individualizao, caracterizao e identificao de todos os objectos geomorfolgicos

    observados nas fotografias areas.

    1.2.2 Imagens Satlite

    O uso desta ferramenta foi de grande utilidade, pois permitiu uma viso panormica

    da rea de estudo, tendo em conta que a presena ou significado de determinadas

    caractersticas geolgicas que se exprimem por dezenas ou mesmo centenas de quilmetros,

    podem escapar observao de fotografias areas de baixa altitude, mas so claramente

    visveis numa imagem de satlite (imagens Landsat).

    O detalhe destas imagens por vezes tal, que se torna possvel reconhecer a

    geometria das camadas, o que permite a interpretao da estrutura regional. Isto permite que

    estas imagens constituam frequentemente um auxiliar precioso nos levantamentos de campo.

    Todavia, devido a diferena de escala e de resoluo, as imagens Landsat funcionaram mais

    como um meio de interpretao complementar, no substituindo as fotografias areas de

    baixa altitude, que permitem um estudo escala local. Neste sentido, esta ferramenta permitiu

    a localizao das estaes em estudo, identificao de algumas unidades litolgicas, vales

    de drenagem, individualizar as diferentes condies do terreno e traar os limites entre elas.

    1.2.3 Mapas Topogrficos

    So mapas que representam a topografia de uma determinada regio e apesar de no

    possurem um fim determinado, so a principal base das cartas temticas. Deles constam

    vrios elementos, nomeadamente:

    Construes humanas (estradas, linhas de alta tenso, gasodutos, casas, barragens,

    etc.);

    Aspectos naturais (rios, praias, montanhas, lagos, etc.);

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    10

    Geografia poltica (fronteiras e limites);

    Enquadramento geogrfico do mapa em relao longitude e latitude;

    Escala de distncias horizontais;

    Declinao magntica da regio;

    Data do levantamento topogrfico e

    Legenda.

    Tendo como base o mapa foto-areo da rea de estudo resultante da sobreposio, e

    consequentemente da juno e uniformizao das fotografias areas, foi possvel, com

    recurso ao programa informtico Fotoshop, efectuar a ampliao do mesmo a fim de obter

    uma melhor visualizao da rea de trabalho, garantindo, deste modo, um maior grau de

    detalhe dos objectos a serem projectados na carta geolgica, como por exemplo a litologia.

    1.2.4 Carta Geolgica

    As cartas geolgicas so elaboradas tendo em vista um fim especfico, isto , contm

    informaes bastante pormenorizadas sobre a geologia de uma determinada rea estudada.

    Podem ser entendidas como a representao sinttica e reduzida, num plano, dos diferentes

    complexos rochosos e das estruturas presentes numa rea, assim como das respectivas

    atitudes (Cardoso, 1985).

    As cartas geolgicas contm certos elementos fundamentais que so:

    Base topogrfica;

    Tipo e localizao das diferentes unidades geolgicas;

    Idade das diferentes unidades geolgicas;

    Tipo e localizao do contacto entre as diferentes rochas;

    Tipo e localizao de dobras e falhas;

    Direco e inclinao das rochas estratificadas;

    As cartas geolgicas devem representar igualmente a coluna estratigrfica que relaciona as

    vrias unidades em termos cronolgicos, colocando em evidncia o tipo de contacto e a

    eventual existncia de descontinuidades entre elas.

    Devem ainda representar um perfil geolgico interpretativo, definido segundo direces

    que permitem uma melhor interpretao das principais estruturas geolgicas existente na

    regio. Deste modo, esta ferramenta teve grande importncia devido ao facto de permitir a

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    11

    identificao e localizao de algumas formaes presentes na rea de trabalho, assim como

    os seus possveis contactos, idades relativas e a identificao de alguns acidentes tectnicos

    verificados no decurso dos tempos geolgicos.

    Foram tambm utilizadas diferentes tcnicas no levantamento de campo e nos trabalhos

    de laboratrio, sendo importante definir cada uma delas, indicar os seus procedimentos e sua

    utilizao. Neste contexto, as tcnicas utilizadas foram as seguintes:

    Descrio macroscpica das amostras

    Anlise bioestratigrfica.

    - Descrio macroscpica das amostras

    A observao e identificao macroscpica um mtodo que se aplica no campo e d-

    nos uma ideia aproximada do tipo de rocha colhida, implicando um reconhecimento bastante

    minucioso da forma como ela se encontra no terreno (forma de jazida).

    A observao de dados no campo implica que o gelogo utilize um martelo, canivete,

    lupa, um frasco de cido clordrico (HCl) e, finalmente um caderno onde assente as principais

    caractersticas da amostra, tais como a localizao rigorosa da colheita, forma de jazida,

    textura, tipo de minerais presentes, se faz ou no efervescncia com o HCl, tipo de contacto

    com outras rochas e fracturas que afectam o afloramento etc. As amostras recolhidas foram

    analisadas seguindo os parmetros macroscpicos que permitiram classifica-las de acordo

    as caractersticas que apresentavam, que foi posteriormente confirmado e quantificado no

    laboratrio.

    - Anlise bioestratigrfica

    Esta anlise efectuada com base no contedo fossilfero encontrado nas amostras

    colhidas, que permitem determinar a idade relativa das formaes geolgicas,

    proporcionando assim uma valiosa informao acerca das condies que existiram no lugar

    onde encontram-se fossilizados. Esta anlise permite igualmente, com auxlio da litologia e

    das estruturas sedimentares, identificar o possvel ambiente de deposio.

    A idade relativa das rochas sedimentares pode ser calculada com base no seu

    contedo fossilfero ou em virtude da comparao entre rochas com idades desconhecidas,

    com outras rochas que se tenha calculado a idade absoluta, por mtodos fsicos, que se

    encontrem em ntima relao, seja subjacentes ou em contactos diversos.

    No contexto do descrito anteriormente, para que fosse possvel utilizar correctamente

    todos os dados relativos aos resultados das amostras e todo o seu valor, assim como para

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    12

    fazer um bom estudo paleontolgico, foi necessrio realizar de maneira adequada a

    identificao das amostras das sondagens a percusso e rotativas, seguida pela descrio

    detalhada de cada furo de sondagem, reconhecimento de algumas amostras in situ,

    colocao das amostras em sacos adequados a fim de evitar contaminaes e

    posteriormente referencia-las para no confundi-las.

    1.2.5 Fotografias Areas da rea de Estudo

    Aps ter acesso s fotografias areas da rea do Bengo a escala de 1/35.000, que

    foram tomadas em 1979 pelo Instituto de Geodesia e Cartografia de Angola (I.G.C.A) sendo

    as mesmas correspondentes ao registo 125, voo AA-1, fiadas 10,11,12, prova 1484,

    baseamo-nos na anlise de 3 (trs) delas como se pode observar na Figura 7, que permitiram

    a construo do mosaico tal como foi descrito na metodologia apresentada no ponto 4.

    Sobre o mosaico, apresentado na Figura 8, foi colocada uma folha transparente

    durante o estudo estereoscpico, para a transferncia dos vrios objectos possveis de

    identificar, tais como os contornos, vales, rios, alinhamentos, escarpas, vegetao etc. de

    salientar que alguns alinhamentos tectnicos evidenciados podem estar na base da

    geometria costeira do Bengo, aquando da abertura do oceano Atlntico.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    13

    FIGURA 7 Sequncias de fotografias a da regio do Dande (foto a, b, c e d)

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    14

    FIGURA 8- Foto mosaico da regio do Dande

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

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    1.2.6 Imagens Satlites da rea de Estudo

    As imagens de satlite foram de grande importncia na evoluo do conhecimento

    geomorfolgico da rea de estudo, ampliando as possibilidades de observao das formas

    de relevo e sua correlao com o substrato, seja na discriminao litolgica como na anlise

    estratigrfica e estrutural.

    Com a utilizao do programa Google Earth, as imagens de satlite, forneceram

    tambm uma base visual, que permitiu localizar as estaes em estudo e identificar os

    diferentes depsitos sedimentares.

    Em resumo, permitiu uma melhor individualizao da rea de estudo, identificando com

    algum grau de detalhe as diferentes formas de relevo, tais como alguns alinhamentos, os

    vales, escarpas, rios, estruturas antrpicas, etc.

    FIGURA 9- Imagem satlite da zona de estudo (Dande),

    ilustrando as caractersticas geomorfolgicas.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    16

    CAPTULO 2

    ENQUADRAMENTO GEOGRFICO DA REA DE ESTUDO

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    17

    A rea de estudo localiza-se na provncia do Bengo a NE de Luanda, tal como se

    observa na Figura 10, delimitada pelos paralelos e meridianos referidos na Tabela1. A rea

    da zona de estudo de aproximadamente 33.016 Km2.

    Tabela 1 Coordenadas geogrficas da Provncia do Bengo

    Paralelos Meridianos

    7o 36 00 13o 12 01

    10o 24 00 14o 12 01

    2.1 VIAS DE ACESSO

    A provncia do Bengo foi criada em 1982 por diviso da antiga provncia de Luanda,

    na qual estava enquadrada e possua a designao de municpio.

    A provncia do Bengo assegura as ligaes, por rodovia a todo Pas, pelas estradas

    de Catete para leste, do Caxito para Norte e de Cabo Ledo para o sul, atravs da estrada

    Nacional partindo de vrios pontos da cidade de Luanda, e usando a via de Cacuaco-

    Quifangondo chega-se ao municpio do Dande.

    FIGURA 10 Mapa de Angola e destaque da Provncia do Bengo, com localizao do Municpio do Dande (FONTE www.mapaangola.com)

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    18

    As vias secundrias so em terra batida e muitas delas intransitveis em

    consequncia do trabalho rduo de desminagem que se est a desenvolver a nvel da

    provncia, factor que, ao longo da realizao do presente trabalho, condicionou bastante as

    sadas de campo e a recolha de dados realizados pelos estudantes e orientadores.

    2.2 HISTRIA / CULTURA

    A maioria da populao desta provncia configura o complexo scio-cultural Ambundu.

    A sua lngua nacional de expresso o Kimbundu, que partilhada entre os familiares mais

    prximos e as pessoas que habitam outros espaos mais precisamente nos limites que

    conformam por exemplo a provncia de Luanda.

    So muito conhecidos os monumentos histricos desta provncia, localizados nos

    municpios de Muxima, onde se destacam a Fortaleza e a Igreja do mesmo nome, edificaes

    do tempo das conquistas portuguesas por estas terras. So, como tal, os marcos desse

    passado dos povos desta regio.

    A provncia do Bengo contorna a provncia capital, Luanda, e o seu clima

    influenciado essencialmente pelo oceano Atlntico e tem a floresta e a savana como tipo de

    vegetao dominante.

    O Bengo auto-suficiente no que se refere actividade agrcola. Produz mandioca, abacate,

    anans, feijo, mamo, sisal, palmeira de dendm, cana-de-acar caf e outros produtos

    agrcolas.

    A pecuria est dirigida bovinicultura de carne e, beneficiando de uma costa

    favorvel, a pesca praticada na Barra do Dande e no Ambrz (a norte) e no Cabo Ledo (a

    sul). Esta ltima actividade praticada nas pequenas nsulas dos rios Bengo e Ndanji, cuja

    espcie mais procurada o Kakusso. Com este espcime lagunar produz-se um prato que j

    se tornou referncia na gastronomia angolana acompanhado do feijo de leo de palma.

    A pesca martima nesta regio assinalvel sobretudo na rea do Ambrz onde os

    crustceos como o camaro e a lagosta so recursos piscatrios que contribuem na

    promoo de receitas na balana de exportaes.

    Actualmente, o sector industrial da provncia produz materiais de construo

    (agregados britados explorados em pedreiras, areias, e barro), bem como outros recursos

    minerais, designadamente caulino, gesso, asfalto (rocha asfltica), calcrio, quartzo, ferro,

    feldspato e mica. Provncia muito bem localizada, junto capital e ao oceano, ter certamente

    um grande futuro como destino turstico.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    19

    2.3 CLIMA E VEGETAO

    A maior parte da regio caracterizada por um clima tropical seco, com duas pocas:

    poca seca e a poca de chuva. Esta ltima compreende o perodo que vai de Setembro at

    o final de Abril, a precipitao mdia varia entre 50mm e 170 mm. Durante a poca seca

    (Maio a Setembro), a precipitao praticamente nula.

    A temperatura mdia do ms de Agosto de 20,1oC a 21,2oC sendo a temperatura do

    ms de Maro (ms mais quente do ano) de 26,8oC. A humidade relativa do ambiente alta

    durante todo o ano, ultrapassando os 80% o que se explica, essencialmente, devido

    influncia do oceano Atlntico.

    Quase todo o territrio est coberto por vegetao arbrea e arbustiva, havendo

    bosques nas baixas dos rios. A provncia apresenta igualmente uma vegetao do tipo

    savana seca, constituda por herbceas, arbustos ou matas tropicais secas, matebeiras

    (Hyphaene Gossweira) eufrbios, mubanga, capim alto (sub-xerfitas) com algumas rvores

    de grande porte, de que so exemplo os embondeiros (Adansnia Digitata). A lezria de

    alguns rios intensamente pantanosa.

    Ocorrem ainda comunidades de savana herbosa, dominadas por gramneas de porte

    mdio, tpicas de meios hmidos; formaes de floresta ripcola a acompanharem o curso

    fluvial e a revestirem a orla marginal, dominadas por arbreas de grande porte, salientando-

    se as albzias, o embondeiro, a mafumeira, alm da disseminao da palmeira Elaeis;

    comunidades de Cyperus papyrus identificam as reas permanentemente submersas de

    gua doce, as quais mais prximo da orla martima e sob influncia de fluxos aquferos das

    mars vm constituir mangais, dominados por Rhysophora mangle.

    Em grande parte a bacia foi submetida ao cultivo, pelo que so poucos os testemunhos

    do primitivo revestimento vegetal. Todavia, atendendo as condies especficas da baixa, no

    aspecto hdrico, no favorveis a retenes aquferas superficiais, a vegetao dominante

    do tipo florestal ripcola, com as componentes arbreas j referidas para casos anteriores,

    enquanto as reas revestidas por comunidades herbceas higrfilas se confinam a

    determinadas situaes de encharcamento temporrio, sobretudo na faixa limite jusante.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    20

    a) b)

    FIGURA 11 Vegetao existente na regio do Dande: a) Ipopeia sp.; b) Euphorbia conspicua

    2.4 SOLOS

    Na rea de estudo verifica-se uma grande variedade de solos. As condies climticas

    e a topografia exercem influncia na gnese do solo, independentemente da composio

    mineralgica da rocha me (quase uniformemente calcria e argilosa). No aspecto textural

    esto representados tanto os solos grosseiros como os finos.

    Na orla litoral aparecem os solos aluvionares fluviais essencialmente margosos e

    gresosos de cor pardacenta ocupando grandes superfcies.

    Alm dos solos aluvionares existem tambm solos calcrios, argilosos principalmente onde

    afloram margas e argilas. Aparecem igualmente barros delgados muito secos e solos pardos

    nos lugares com topografia ngreme. Estes solos de cor negra ou cinzenta escura

    apresentam-se em camadas de grande espessura nas encostas e depresses dos vales

    (Diniz, 2002).

    Com base ao esboo pedolgico elaborado por Diniz, os solos da rea de estudo, estes

    classificam-se da seguinte forma:

    a) Solos aluvionais fluviais

    Ocupam extensas superfcies sobretudo ao longo dos rios bem como em superfcies baixas.

    Ao longo do rio Dande, a textura destes solos mdia e fina diminuindo gradualmente no

    sentido da foz e das margens para a periferia. Os solos melhor drenados e de maior fertilidade

    distribuem-se na faixa contgua ao curso do rio;

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    21

    b) Solos ridos tropicais pardos

    A nordeste do Dande sobretudo na rea de transio de clima rido, predominam os solos

    ridos tropicais correspondentes com relevos suavemente ondulados. Estes solos so

    originrios a partir das rochas cristaloflicas do complexo de base.

    A fraco fina do solo composta por argila sialtica (montemorilonites). Podero ser

    considerados como solos de bom nvel de fertilidade, ou seja, bons para a agricultura;

    Barros negros e pardos (expansivos)

    Os barros so solos de textura pesada, em geral de cores negras ou cinzentas escuras

    quando em correspondncia com reas aplanadas ou de depresses de vales. So solos

    argilosos muito pegajosos e plsticos constitudos essencialmente por argilas

    montmorilonticas. Devidas as suas caractersticas fsicas, limitaes quanto ao uso agrcola,

    as operaes culturais so acentuadas. Oferecem susceptibilidade a eroso como resultado

    do seu baixo grau de permeabilidade exigindo prticas de defesa e conservao;

    c) Solos musseques

    Nesta grande unidade pedolgica englobam-se os solos que esto em correspondncia com

    as superfcies sobrelevadas de sedimentos quartzosos do Plistocnico, conhecidos pela

    designao regional de musseques, que significa terreno arenoso.

    Os solos musseques so em geral de textura grosseira, bastante profundos, sem

    estrutura, plidos ou de cores vivas;

    d) Solos calcrios pardos

    Os solos calcrios pardos, de colorao normalmente pardo - olivcea, tm boa

    representao entre o Dande e o Cuanza, em geral correlacionados com os materiais

    calcrios, gresocalcrios ou calcrios margosos do Cretcico e do Eocnico. Quanto s suas

    caractersticas, trata-se de solos de texturas finas, ou mais raramente mdias, em geral

    disseminados de materiais concrecionrios e ndulos de calcrios e cristais de gesso. So

    solos com regular a boa capacidade para a gua utilizvel e regular drenagem interna.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    22

    2.5 GEOMORFOLOGIA E HIDROGRAFIA

    A rea de trabalho , de uma forma geral, caracterizada por um relevo de plancie

    costeira pouco acidentado, com cotas absolutas de 20 a 30m distribudas pelas depresses

    dos rios, linhas de gua efmeras e, pelos cursos de gua permanentes.

    A morfologia da regio estudada apresenta superfcies aterraadas de extenso

    quilomtrica, com alguns altos morfolgicos cortados por vales em forma de V e falsias

    bastante ngremes (Buta Neto et al., 2000).

    Relativamente Rede Hidrogrfica da regio do Dande, importa salientar que, Angola

    tem 77 bacias hidrogrficas, o que indica que um pas com grande potencial hdrico, das

    quais faz parte da rea de estudo a bacia do Dande e a bacia do Lifune (provncia do Bengo).

    Estas bacias so indispensveis para o desenvolvimento desta regio, e compreendem os

    rios Dande e Lifune, ambos rios principais. Tambm notvel na rea de estudo o rio I, cujo

    regime pluvial (intermitente). Para o efeito foram calculados para a bacia do Dande e Lifune

    representados nas Figuras 12 e 13 os seguintes parmetros:

    rea da Bacia; Permetro da Bacia; Altitude mdia e mxima; Descarga especfica

    mdia, mxima e mnima; Descarga mensal e Mdia anual e finalmente a Precipitao mensal

    e mdia anual.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    23

    FIGURA 12 - Bacia hidrogrfica do Dande, provncia do Bengo (Sweco Groner, 2005).

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

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    FIGURA 13- Bacia hidrogrfica do Lifune, provncia do Bengo (Sweco Groner, 2005)

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    25

    A parte extensa da baixa do Dande, que se compreende entre o Porto Quipir-Quijanda,

    no limite da explorao canavieira da Aucareira de Caxito e a foz, o local mais conhecido

    por Barra do Dande.

    A baixa, neste troo jusante, tal como se observa na Figura 14 inclina-se muito

    lentamente para o litoral, desde cotas dos 10/12m at 3/4m e, estreitando-se de algum modo,

    disseminando-se em lagoas, sobretudo na sua periferia da margem direita, facto que contribui

    para a reduo significativa da rea til, alm do rio, ao longo de 30 km do seu percurso final,

    corre em meandros muito pronunciados.

    A bacia do Dande parte integrante do municpio de Caxito, comuna da Barra do Dande,

    servido pela estrada do norte Luanda-Soyo e pelo ramal da Barra do Dande, o qual,

    atravessando-se o rio por jangada junto foz, liga no Lifune estrada do Ambriz. Esta bacia

    constitui uma zona de significativa incidncia agrcola, quer do sector empresarial, com

    algumas exploraes agrcolas implantadas no vale, quer do sector campons, que se

    distribui em aglomerados populacionais na plataforma adjacente ou na baixa, aqui

    estabelecendo as suas reas de cultura de subsistncia, com base na mandioca, batata-

    doce, milho e ginguba e colhendo o dendm nas numerosas palmeiras que se disseminam

    pela orla marginal ribeirinha.

    Do sector empresarial h que distinguir algumas fazendas que tradicionalmente se

    dedicam produo de frescos com destino ao mercado abastecedor de Luanda, incluindo-

    se tambm a cultura frutcola, com destaque para a bananeira, citrinos, mamoeiro e

    mangueira. Ainda de referir a actividade piscatria incidente nas numerosas lagoas, a qual

    constitui fonte alimentar muito importante das populaes locais, alm de registar volume de

    comercializao muito interessante.

    Relativamente Morfologia, observa-se uma plancie aluvial muito perfeita,

    correspondente a fundo de vale profundamente escavado na plataforma sedimentar ceno -

    mesozica, a qual marca diferenas de cotas de algumas dezenas at prximo da centena

    de metros. O leito do rio, bem definido por taludes marginais salientes, traa curso sinuoso e

    arrimado encosta meridional, deixando que do lado oposto a baixa se povoe de lagoas,

    algumas delas de dimensionamento aprecivel, de vrias centenas de hectares.

    Tendo em conta que, a rea de estudo no abarca a rea completa das bacias do Dande

    e Lifune, procuramos estudar apenas as zonas mais baixas das respectivas bacias, isto de

    acordo com Diniz (2002). Assim, a parte baixa da bacia do Dande estreita-se, e parte da

    mesma preenchida por sucessivas lagoas, reduzindo-se consideravelmente a rea de

    utilizao, alm de que o rio, ao divagar e meandros caprichosos, torna difcil a

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    26

    implementao de um adequado esquema de defesa. J nos ltimos quilmetros, com as

    cotas mais reduzidas, a proximidade do mar e a influncia do nvel fritico prximo da

    superfcie enriquecido em sais, a baixa, fortemente susceptvel, no mais do que uma

    superfcie salgada.

    A ocupao agrcola, no faltando sequer as fontes permanentes de regadio, reduz-se

    s situes topogrficas salientes, livres ou pouco afectadas pelo encharcamento,

    normalmente acompanhando as orlas marginas do rio, onde em muitos casos a utilizao

    agrcola recai no intervalo peridico que medeia entre as enchentes que normalmente se

    verificam em Maro/Abril.

    FIGURA 14- Bacia hidrogrfica da baixa do Dande, evidenciando o rio Dande e as eventuais

    lagoas. DINIZ, A. C. 2002. Esc. 1:100.000

    A plancie aluvial da baixa do Lifune, como se observa na Figura 15 tem caracterstica

    muito alongada (cerca de 13 km de extenso por uns 3 km de largura mdia) e descaindo

    para o litoral, desde cotas dos 16 m no extremo montante at aos 8 m na orla martima.

    A bacia fica compreendida nos limites administrativos do municpio de Caxito, e dista uns

    13 km da comuna da Barra do Dande, est bem localizada em relao s grandes vias de

    comunicao, porquanto atravessa-a a rodovia do norte Luanda/Ambriz, que passa por

    Caxito alm da estrada trrea que liga Barra do Dande. No domnio da ocupao agrcola,

    N

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    27

    na baixa implantaram-se duas unidades de produo que tm por base a explorao da

    palmeira dendm: a Fazenda Libongos na parte montante da Fazenda Lifune a jusante da

    estrada nacional.

    No decorrer da dcada de sessenta, ambas fazendas foram alargando as reas de

    explorao cultura da bananeira, chegando a envolver algumas centenas de hectares na

    Fazenda Lifune, pese embora a escassez de disponibilidades hdricas para rega.

    A localizao privilegiada da baixa do Lifune em relao ao porto de Luanda a cerca de

    90km e ligando-a uma boa rodovia, aliada s condies ecolgicas muito favorveis para esta

    cultura, fez com que o incio dos anos setenta a produo banancola atingisse nveis muito

    elevados.

    Relativamente Morfologia, observa-se uma plancie aluvial da foz do Lifune, encaixada

    em plena faixa litoral mesozica de relevo caracteristicamente ondulado, tendo a

    particularidade do rio Lifune drenar convenientemente a baixa em toda a sua extenso, pelo

    que praticamente no se verificam retenes aquferas prolongadas, nem to pouco a

    ocorrncia de lagoas.

    FIGURA 15- Bacia hidrogrfica da baixa do Lifune, evidenciando o rio Lifune. DINIZ, A. C. 2002. Esc.1:100.000

    N

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    28

    CAPTULO 3

    ENQUADRAMENTO GEOLGICO REGIONAL

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    29

    3.1 PRINCIPAIS BACIAS SEDIMENTARES DE ANGOLA

    De acordo com Tavares (2000), o pacote sedimentar angolano subdividido em cinco

    (5) sectores, os quais se resumem a trs bacias costeiras, nomeadamente a Bacia do Congo

    (limitada entre o rio Zaire e a Ponta da Musserra), a bacia do Kwanza (entre Musserra e o

    paralelo 12 00) e, por fim, a Bacia do Namibe (entre o paralelo 13 45S e o limite sul

    representado pela Nambia), tal como representado na Figura 16 (WEC 1991).

    FIGURA 16 - Principais bacias sedimentares de Angola (WEC 1991)

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    30

    A Regio do Dande situa-se dentro dos limites geogrficos da Bacia do Cuanza,

    estando as formaes da rea de estudo (Dande), inseridas nas formaes da Bacia do

    Kwanza. Esta ltima por sua vez, est relacionada com um fenmeno de importncia golobal

    a evoluo da margem Continental angolana, ou seja, a abertura do Atlntico Sul.

    Neste contexto, torna-se relevante apresentar uma breve sntese da evoluo da

    margem angolana, a fim de melhor compreender e enquadrar os processos geolgicos

    estruturais locais no espao tempo. Com base nos conceitos de tectnica de placas e da

    migrao dos continentes, e de acordo com o estilo estrutural e caractersticas litolgicas

    presentes, vrios autores (Cunha Baptista, 1991, Marcelino & Kaziluque, 2000) definiram

    diferentes eventos evidentes nas bacias sedimentares costeiras e na plataforma continental

    que reflectem as diversas fases de evoluo das bacias que compem a margem angolana.

    3.2 EVOLUO TECTNICA-SEDIMENTAR

    A evoluo tectnica e sedimentar da bacia do Kwanza resultou, numa fase inicial, do

    movimento das placas tectnicas que provocaram a fracturao do supercontinente

    Gondwana. Estes movimentos estiveram, ento, na base da separao dos continentes

    Africano e Sul-americano e que ainda se identificam nos dias de hoje, devido ao aumento

    progressivo do afastamento dessas placas.

    Assim sendo, a abertura do Oceano Atlntico iniciou no Jurssico tardio/Cretcico

    inferior, perodo em que a placa africana foi submetida a esforos distensivos que levaram

    abertura do Rift, ao longo das zonas crustais estruturalmente mais frgeis. A evoluo desta

    bacia ocorreu segundo vrios episdios tectnicos distintos, cada um deles evidenciando

    uma estratigrafia e um estilo estrutural prprio.

    Esses movimentos tectnicos so divididos em 4 episdios, nomeadamente:

    1- Pr-Rift, que caracterizado por um tectonismo suave;

    2- Sin-Rift I e II, que caracterizado por um forte tectonismo;

    3- Ps-Rift, caracterizado por um tectonismo moderado;

    4-Subsidncia regional, que caracterizada pelo forte basculamento da bacia

    (tectonismo activo).

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    31

    Pr-rift

    Durante a etapa inicial, no Cretcico Inferior (Neocomiano), os continentes Africano e

    Sul- Americano que se encontravam estveis e unidos desde o Pr-cmbrico passaram a

    estar sujeitos a fracturamento e ao consequente vulcanismo, perodo em que se depositaram

    sedimentos arenosos.

    O Neocomiano ento caracterizado por um tectnismo suave, no qual se formaram

    algumas bacias intracratnicas que se instalaram de forma discordante sobre o soco Pr-

    cmbrico falhado e erodido. Estas bacias intracratnicas encontram-se preenchidas por

    sedimentos clsticos arenosos de ambiente fluvio-lacustre e sedimentos vulcanoclsticos que

    se depositaram discordantemente sobre o soco metamrfico falhado (Figura 17).

    Figura 17 Esquema representativo da fase Pr-rift (Sheevel, J. et al., 1996).

    Syn-Rift I

    Na fase inicial, (Neocomiano) este episdio caracterizado por levantamento,

    fracturao e inclinao dos blocos do soco. Estes fenmenos levaram formao de um

    sistema de lagos profundos ou bacias profundas (do tipo rift) instaladas nos grabens que, por

    sua vez, produziram um relevo com enormes blocos elevados e rebaixados, preenchidos por

    sedimentos saproplicos (ricos em matria orgnica) e sedimentos lacustres argilosos.

    Na fase final (Barremiano inferior) acentuou-se o deslocamento dos blocos, dando

    lugar a um aumento da compactao e subsidncia como consequncia da carga sedimentar

    (Figura 18).

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    32

    Figura 18- Esquema representativo da fase Sin-rift I (Brice et al., 1982).

    Syn-rift II

    Nesta fase (Barremiano) verificou-se a reactivao de algumas falhas, devido ao

    aumento gradual do adelgaamento e distenso crustal, provocando subsidncia e eroso

    das zonas mais elevadas dos blocos pr-cmbricos.

    No final desta fase (Apciano) deu-se o incio da ruptura continental (frica e Amrica

    do Sul), devido ao rpido alongamento e adelgaamento da litosfera.

    Os sedimentos que se depositaram neste perodo representam uma sequncia

    transicional que corresponde ao incio da mudana de ambientes continentais para marinhos.

    Estes depsitos so constitudos, basicamente, por carbonatos lacustres e arenitos clsticos

    aluvionares, passando para uma sequncia evaportica (Figura 19).

    Figura. 19 Esquema representativo da fase inicial (a) e final (b) doSin-rift II (Baptista C. 1991).

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    33

    Ps-rift

    Esta fase caracterizada pela deposio de uma espessa srie salfera que ocorreu

    numa bacia geometricamente restrita (hipersalina), no incio do Albiano, sendo representada

    por uma sequncia inicialmente transgressiva, passando para uma sequncia carbonatada-

    clstica. Esta sequncia transgressiva depositou-se devido ao processo de subsidncia que

    ocorreu como consequncia da contraco trmica (arrefecimento trmico).

    Nesta fase, os processos tectnicos e sedimentolgicos eram dominados por uma

    oscilao crustal (aumento do nvel do mar) de carcter regional, seguidos por um perodo

    transgressivo (Figura 20).

    Figura 20 Esquema representativo da fase inicial (a) e final (b) doPs-rift (Baptista C., 1991).

    3.3 SUBSIDENCIA REGIONAL

    O intervalo de tempo Campaniano/Mastricciano caracterizado por um afastamento

    acentuado das placas, acompanhado da subida do nvel do mar, durante a qual a

    transgresso marinha atingiu a sua mxima extenso quer em frica quer na Amrica do Sul

    (WEC 1991).

    No Paleognico (Oligocnico mdio) ocorreu uma importante regresso marinha

    resultante do basculamento no sentido Oeste da bacia, induzido pela sobrecarga sedimentar

    da plataforma, tendo como resultado a descida do nvel da gua do mar. Esta regresso teve

    como consequncia a deposio (Oligo-Miocnico) de uma espessa sequncia clstica

    regressiva, assentando discordantemente sobre a antiga plataforma.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    34

    Este perodo , ainda, marcado por vrios hiatos estratigrficos representados quer

    pela no deposio quer pela eroso dos depsitos sedimentares provocados pelas

    pequenas variaes do nvel do mar (Oligocnico Superior, Miocnico e Pliocnico).

    A tectnica salfera permaneceu activa durante todo o Cretcico Superior e o

    Cenozico, fenmeno este que em conjunto com a sobrecarga sedimentar deram origem ao

    desenvolvimento de grandes fossas tercirias (Oligo-Miocnico), produzindo importantes

    falhamentos normais, sintticos, lstricos e antitcticos em meios carbonticos. Assim sendo,

    sobre a unidade carbonatada depositaram-se espessos estratos de sedimentos argilosos

    tpicos de guas profundas, margas e algumas areias turbidticas (Figura 21).

    Figura 21- Esquema representativo da fase de Subsidncia regional (Baptista C., 1991).

    3.4 ESTRATIGRAFIA DA BACIA DO KWANZA

    As formaes da Bacia do Kwanza foram depositadas discordantemente sobre o Soco

    cristalino, em diferentes ambientes (Figura 22).

    Elas compreendem sedimentos de idade ps Pr-cmbrico ao Quaternrio na seguinte

    sequncia:

    I - Formao Cuvo: Onde podemos distinguir:

    A) Cuvo inferior ou vermelho: Formado por conglomerados, que apresentam

    fragmentos de rochas gnaisscas e outras metamrficas do soco cristalino, bem como

    arenitos (possivelmente de cor vermelho), de idade Neocomaniano a Barreniano, de

    ambiente fluvial ou lacustre.

    B) Cuvo superior ou cinzento: Constitudo por arenitos (grossos ou finos) com

    intercalaes de calcrios conquifros normalmente rico em ostracodos, de idade

    Barreniano ou Ante Apciano, de ambiente lagunar com uma evoluo para fcies

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    35

    marinhos. De potencial enquanto rocha reservatrio Play do pr-sal bem como rocha

    reservatrio;

    II - Formao Sal Macio: Constituda por dolomite, anidrite dolomtica, e anidrite ou

    Halite. Esta sequncia evaportica de idade Apciana e foi depositada num ambiente

    lagunar ao marinho nertico;

    III - Formao Binga: Formada por calcrios oolticos e bioclastos, calcrios

    sublitogrficos com dolomia microcristalina e anidrite; esta formao de idade

    Apciano-Albiano foi depositada num ambiente lagunar plataforma;

    IV - Formao Twenza: Representada por dolomias muito anidritizadas por vezes com

    intercalaes de evaportos. Esta formao depositada num ambiente lagunar foi

    definida como sendo de idade Albiana;

    V - Formao Catumbela: Composta por calcarenitos e calcrios marinhos com algas

    e corais, bioclsticos, pisoolitos, fragmentos arredondados e calcarenitos conquifros.

    De idade Albiana Superior e depositada num ambiente marinho pouco profundo

    (plataforma);

    VII - Formao Quissonde: Depositada num ambiente de plataforma externa

    constituda por calcrios margosos com fragmentos de conchas na base, lagemas e

    fragmentos de conchas na parte mdia e lagemas no topo;

    VIII - Formao Cabo Ledo: Caracteriza-se pela dominncia das margas sobre os

    calcrios conquifros. Depositada num ambiente marinho de grande profundidade

    (Batial-Nertico), e de idade Cenomaniana;

    IX - Formao Itombe: Constituda por margas calcrias com amonites e intercalaes

    arenosas. Esta formao foi depositada num ambiente de mar pouco profundo, de

    idade Turoniana;

    X - Formao Ngolome: De idade Turoniano-Campaniana, constituda por margas

    pelgicas caracterizada pelo seu contedo em microfosseis (Globotrucana);

    XI- Formao Teba: Margas com calcrios lumachelicos e restos de Inoceramus com

    nveis fosfatados. Depositou-se num ambiente de plataforma de idade Maastrichiana;

    XII- Formao Cunga-Gratido: Constituda por margas gresosas com lentilhas e

    concrees calcrias e calcrios silicificados. Depositadas num ambiente pelgico de

    idade Eocnica;

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    36

    XIII - Formao Quifangondo: Representada por argilas com intercalaes siltosas,

    calcrios gresosos lumachlicas; e ricas em foraminferos, de idade Oligocenico-

    Mioceninica, depositada em ambientes de plataforma externa batial;

    XIV - Formao Cacuaco: Constituda por calcrios com algas, equinoderme e

    bivalves, com calcarenitos; depositados num ambiente litoral a circo litoral, de idade

    Oligocnica;

    XV - Formao Luanda: Composta por margas castanhas com foraminferos, areias

    litorais e grs com conchas. De idade Pliocnica e depositada num ambiente litoral;

    XVI - Formao Areias Cinzentas: So sedimentos constitudos por areias

    heteromtricas com abundante matriz siltosa-arenosa no seio dos quais se encontram

    imensos seixos sub - arredondados de dimenses de centmetros.

    Este conjunto litolgico, que apresenta uma posio estratigrfica e caractersticas

    litolgicas bem definidas e uma extenso areal significativa, foi designada por

    Formao Areias Cinzentas. Pela presena de fragmentos de quartzo e de calhau

    trabalhados pelo homem, tal formao poder ser considerada como de idade

    Pleistocnica (Putignano, et al, 2000).

    XVII - Formao Quelo: Constituda por areias ferruginosas e grs de cor vermelha.

    Depositou-se num ambiente continental, de idade Plio-Quaternria.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    37

    FIGURA- 22- Estratigrafia da bacia do Kwanza (GeoLuanda2000 Int. Conf., Guide Book Luanda- Benguela-Dombe Grande 2000).1) Rochas intrusivas, granito - 2) rochas efusivas, basalto - 3) rochas metamrficas - 4) conglomerados - 5) areias - 6) shales - 7) evaporitos - 8) gesso - 9) carbonatos - 10) carbonatos e dolomites silicificados 11) Calcilutitos 12) marls. LC Formao Cuvo Inferior - UC Formao Cuvo Superior - SL Formao Chela - MS Formao sal massio - DGG Formao Dombe Grande - TZ Formao Tuenza - CT Formao Catumbela - QS Formao Quissonde - CL Formao Cabo Ledo - ITB Formao Itombe - NGL Formao N Golome TB Formao Teba - TS Tchipupa Shales - RD Formao Rio Dande - GT Formao Gratido - CG Formao Cunga QF Formao Quifangondo -CC Formao Cacuaco - LD Formao Luanda - AC Formao Areia Cinzentas- QL Formao Quelo.

    1

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    38

    3.5 CARACTERIZAO GEOLGICA DA REA DE ESTUDO

    Segundo a carta geolgica da bacia do Kwanza (1968 1972/Total Cap), (Figura 23), a rea

    de estudo caracteriza-se pelas seguintes formaes da base ao topo:

    Plio-Quaternria

    Formao Quelo: Areias vermelhas ferruginosas e grs de cor vermelha.

    Eoceno

    Formao Cunga Gratido: Margas brancas e castanhas, com intercalao

    de calcrio rico em foraminferos.

    Turoniano-Campaniana

    Formao Ngolome: Margas cinzentas fossilferas.

    Turoniano

    Formao Itombe: Margas, argilas, areias argilosas.

    Albiano

    Formao Mucanzo: Areias com grs avermelhados com intercalaes

    dolomticas.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    39

    N

    FIGURA 23- Carta geolgica da bacia do Cuanza (1968 1972/Total Cap).

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    40

    3.6 COLUNA LITOESTRATIGRFICA

    Com base na coluna litoestratigrfica da bacia do Kwanza, (Figura 24) foi possvel

    delimitar os intervalos estudados, em funo das diferentes formaes presentes na referida

    coluna, e as litologias identificadas na rea de estudo, das quais algumas foram submetidas

    anlise micropaleontolgica permitindo posteriormente a determinao da seguinte

    sequncia estratigrfica:

    Um pacote constitudo por areias com grs avermelhados de idade Albiana;

    Um pacote de areia argilosa de idade Tutoniano;

    Um pacote constitudo por margas e calcrias lumachelles inoceramos; de idade

    Maastrichiana;

    Um pacote constitudo por argilas, calcrios e margas (plaquettes septarios) de idade

    Eocnica;

    Um pacote de areias vermelhas de idade Plio-Quaternria.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    41

    Legenda

    Figura 24 Coluna litoestratigrficas da bacia do Kwanza (WEC1991).

    Intervalos estudados

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    42

    Tabela 2 - Localizao geogrfica dos afloramentos estudados

    AFLORAMENTO

    COORDENADAS

    LATITUDE (S) LONGITUDE (E)

    ALTITUDE (m)

    Afloramento (AFT 1) 80 26 51,6 130 2359,1 13

    Afloramento (AFT 2) 80 27 16,4 130 24 5,2 09

    Afloramento (AFT 3) 80 27 41,4 130 25 0,3 42

    O estudo geolgico realizado em algumas zonas do municpio do Dande teve como base,

    o reconhecimento geolgico da rea de estudo, o levantamento de alguns afloramentos, bem

    como a interpretao das distintas seces litolgicas (logs), e posteriormente a elaborao

    do esboo litolgico da rea.

    O afloramento designado por AF1 (Figura 25) notvel a presena de sulcos devido a

    eroso pluvial, e constitudo por margas amarelas e argilas siltosas de colorao escura.

    O afloramento designado AF2 (Figura 26) constitudo por conglomerados e areias

    vermelhas.

    O afloramento designado AF3 (Figura 27) constitudo por areias conglomerticas

    intercaladas com margas brancas e areias vermelhas.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    43

    FIGURA 25- Afloramento (AF1) situado na zona de Cabacaa, evidenciando (a) Marga amarela e

    (b) argilas siltosas de cor castanha escura.

    NW SE

    Sulco

    s

    a

    b

    Camadas inclinadas

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    FIGURA 26 Afloramento (AF2) evidenciando os conglomerados e areias vermelhas.

    FIGURA 27 Afloramento (AF3) evidenciando as margas de colorao branca.

    NW SE

    NW SE

    44

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    3.7 IDENTIFICAO DA MICROFAUNA

    No presente estudo, para a identificao e classificao dos microfsseis, foram

    utilizados os trabalhos sistemticos propostos por Boltovskoy et al 1980, Martinez 1989,

    Jenkins & Murray 1989, Koutsoukos & Klasz 2000.

    De acordo com Tavares 2000, os microfsseis identificados nos furos de sondagem

    prospectados na rea de estudo, fazem parte do grupo dos foraminferos, e segundo Vilela

    2004, estes, so organismos pertencentes ao Filo Granuloreticulosa, pertencentes ao Reino

    Protoctista, inseridos no Super-reino Eucaria.

    Assim, as espcies foraminferas identificadas nos furos de sondagem so:

    1-Globoratalia fohsi;

    2-Textularia ripleyensis;

    3- Globigerina Sp;

    4-Gyroidina Girardana;

    5-Heterohelix;

    6-Melosira granulata;

    7-M. Mercida L.;

    8-Pyrgoella Sphaera;

    9-Styliolina.

    importante realar que, os estudos dos foraminferos contribuem na avaliao das

    condies paleoambientais, pelo facto destes organismos apresentarem caractersticas

    intrnsecas ecologicamente, o que confere ao grupo a posio de bioindicadores marinhos,

    cujas espcies possuem hbito bentnicos ou plantnicos.

    Os bentnicos vivem junto ao substrato marinho, ou permanecem enterrados

    superficialmente podendo ser mveis ou fixos ao substrato.

    Os plantnicos vivem flutuando na lmina de gua, com movimentao dada basicamente

    por subidas e descidas diurnas na zona ftica dos oceanos, sendo dispersos pela aco de

    correntes (Vilela 2004).

    45

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    46

    3.8 PALEOAMBIENTE

    Tal como foi referenciado, os foraminferos tm importncia fundamental para estudos

    do paleoambiente deposicional e respectivas paleobatimetrias, tornando possvel utiliza-los

    para anlise de grandes variaes oceanogrficas, ocorridas durante o tempo geolgico.

    Para Beurlen & Regali 1987, determinadas associaes de foraminferos marcam

    eventos paleoambientais e bioestratigrficos, como por exemplo sistema de circulao em

    guas profundas.

    Os ambientes marinhos tm seus limites mais ou menos posicionados na mesma

    profundidade em que ocorrem as mais significativas mudanas fisiogrficas do fundo

    ocenico. Assim sendo para Antunes & Melo (2001), ambiente nertico ou plataforma, varia

    de 0 a 200m de profundidade; ambiente batial ou talude, varia de 200 a 4000m de

    profundidade e ambiente abissal, que caracterizado por profundidades variando de 4000 a

    11000m.

    De acordo ainda com o trabalho de Beurlen & Regali (1987), realizado na bacia Par-

    Maranho (costa Sul-Americana) as diferentes associaes de foraminferos podem ser

    utilizadas para definir e caracterizar a paleobatimetria durante os Perodos Cretceo e

    Tercirio.

    Tendo em conta que, os foraminferos so de ambiente marinho, foi possvel com base nos

    trabalhos publicados por Koutsoukos & Klasz 2000, e tambm por Beurlen & Regali 1987,

    definir as idades e os ambientes de algumas espcies identificadas neste trabalho.

    A espcie Textularia ripleyensis (bentnico) e a Heterohelix (plantnico), foram

    consideradas espcies mais abundantes, pelo facto de estarem presentes em quase todos

    os furos de sondagem. Seguidamente, outras espcies como a Globorotalia fohsi, a

    Globigerina Sp ambos (plantnicos), aparecem tambm consideravelmente nos furos de

    sondagem.

    Assim, a tabela 3, apresenta os ambientes das respectivas espcies, sobretudo o

    hbito, que foi descrito segundo Seyve 1999, com corroborao dos trabalhos publicados de

    Vilela 2004, Antunes & Melo 2001.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    47

    Tabela 3 Provveis ambientes, hbitos, e idades das espcies de foraminferos

    Espcie Idade Ambiente Hbito

    Globoratalia fohsi Mioceno Batial Plantnico

    Textularia ripleyensis Cretcico Superior Nertico raso Bentnico

    Globigerina Sp Mioceno Inferior Abissal Plantnico

    Gyroidina Girardana Cretcico Superior Nertico profundo Bentnico

    Heterohelix Cretcico Superior Abissal Plantnico

    Melosira granulata Plioceno superior ? Bentnico

    M. Mercida L. Cretcico Nertico Bentnico

    Pyrgoella Sphaera Plioceno ? Bentnico

    Styliolina ? Abissal Bentnico

    A partir da anlise integrada dos dados bioestratigrficos, pode-se afirmar que, as

    associaes de foraminferos, sua ocorrncia e distribuio, respondem eficientemente ao

    gradiente de profundidade. Tal resposta permitiu distinguir ambiente marinho, do Batial ao

    Abissal.

    Uma vez que, essas espcies esto distribudas desde o Cretceo ao Cenozico,

    sugere-se uma paleobatimetria da rea, variando do Batial ao Abissal.

    Assim, na figura abaixo est representada segundo Antunes & Melo, um modelo

    diagramtico generalizado dos ambientes, ilustrando o habitat, e frequncia relativa de

    foraminferos plantnicos e bentnicos.

    Tal modelo vem corroborar a partir da anlise integrada do mesmo, e as espcies de

    foraminferos identificadas nos diferentes furos de sondagem o paleoambiente da rea de

    estudo.

    Assim, com base no modelo, os foraminferos plantnicos so relativamente raros e

    comuns no ambiente nertico, sendo muito abundantes no ambiente batial e raros no

    ambiente abissal. J os foraminferos bentnicos tm uma extensa distribuio em relao

    aos plantnicos, ou seja, so comuns em ambiente transicional (lagunar, praia, delta,

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    48

    esturio, e plancie de mar), abundantes em ambiente nertico, e comuns - raros em

    ambiente batial.

    FIGURA 28 Distribuio paleoambiental dos foraminferos plantnicos e bentnicos

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    49

    3.9 MAPA DE AMOSTRAGEM

    Na figura que se segue, est representada de maneira geral a rea de estudo, bem

    como os pontos correspondentes aos locais onde foram realizados os furos de sondagem e

    os respectivos ensaios (SPT). importante realar que, os autores tiveram apenas acesso

    as coordenadas dos furos de sondagem Sp18, Sp19, e Sp20, sem a respectiva informao

    geotcnica, o que possibilitou apenas o lanamento das coordenadas no mapa referente a

    rea de estudo.

    FIGURA 29 Mapa de Amostragem

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    50

    3.10 DESCRIO DAS SECES LITOLGICAS (LOGS)

    A recolha de amostras de calhas (remexidas) durante a realizao dos furos

    de sondagem, bem como os testemunhos recolhidos com o amostrador Terzaghi

    permitiram observar a variao litolgica em profundidade, em que a cor dos

    diferentes depsitos foi descrita com base Munsell (1954).

    A seco litolgica (log) designada sondagem SP10 (Figura 30) tem um

    profundidade mxima de 10.5m, e constitudo da base ao topo por areia fina de

    colorao amarelada, entre os 3-4 metros apresenta nveis de dolomites e entre os

    8.6-9m, no foi possvel recuperar amostras.

    Sondagem : SP10 Local: Calenguela Prof. Final(m) -10.05

    Observaes:

    Areia fina 4/3/10YR

    Areia fina com nveis de dolomites, fragmentos de conchas 4/3/10YR

    4/3/10YR

    Amostra no recuperada

    Areia fina 4/3/10YR

    FIGURA 30 Sondagem SP10

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    51

    A seco litolgica (log) designada sondagem SP1 (Figura 31) tem uma

    profundidade mxima de 10.30m, e constitudo por margas e argilas de colorao

    amarela clara, em que entre os 4.45-9m no foi possvel no recuperar amostras.

    Sondagem: SP1 Local: Cabacaa Prof. Final(m) -10.30

    Observao:

    Margas 8/2/2.5Y com presena de fssil (textulria ripleyensis)

    Argilas 8/2/2.5Y (azoica)

    Margas 8/2/2.5Y com presena de fssil (textulria ripleyensis, giroidina girardana)

    Amostras no recuperadas

    Margas 8/2/2.5Y com presena de fssil

    (textulria ripleyensis)

    FIGURA 31- Sondagem SP1

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    52

    A seco litolgica (log) designada sondagem rotativa SP2 (Figura 32) tem

    uma profundidade mxima de 4m, e constitudo por margas amarelas

    esbranquiadas entre 0-3m, e entre 3-4m a colorao acinzentada com nveis

    ferruginosos e micas, reage activamente com HCI.

    Sondagem:SP2 Rotativa Local:Cabacaa Prof. Final(m) -4 Observao:

    Marga 4/6/5YR, compacta com conglomerados.

    Margas 4/6/5YR, com nveis ferruginoso e micas, com

    presena de fssil (heterohelix, textulria ripleyensis)

    Margas 8/1/5Y com nveis ferruginosos e micas, com presena de

    fssil (textulria ripleyensis)

    FIGURA 32 Sondagem SP2

    A seco litolgica (log) designada sondagem SP4 (Figura 33) tem uma

    profundidade mxima de 17.13m, e constitudo por areias de granulomtria mdia

    grosseira, de colorao amarela castanho claro, siltes de cor amarelo claro e

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    53

    argilas de colorao amarela clara, em que, no foi possvel recuperar amostras aos

    3, 6 e 15m de profundidade.

    Sondagem : SP4 Local: Cabacaa Prof. Final(m) -17.13

    Observao:

    Areia mdia, com fragmentos de conchas 4/6/5YR

    Amostra no recuperada

    Areia grosseira com fragmentos de conhas 7/3/10YR

    Amostra no recuperada

    Silte 8/4/2.5Y, com presena de fssil (textulria

    ripleyensis)

    Argila 8/3/5Y, com presena de fssil (gyroidina girardana, textulria ripleyensis)

    Amostra no recuperada

    Argila 8/3/5Y, com presena de fssil (heterohelix)

    FIGURA 33 - Sondagem SP4

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    54

    A seco litolgica (log) designada sondagem SP6 (Figura 34) tem uma

    profundidade mxima de 12.30m, e constitudo por areias mdias grosseiras, de

    colorao castanha a verde olive, siltes de cor verde acastanhado amarelo claro.

    Sondagem : SP6 Local: Catumbo Prof. Final(m) -12.30

    Observao:

    Areia mdia, com restos de moluscos

    5/4/10YR

    Areia grosseira 5/2/5Y

    Silte 6/4/5Y

    Silte 7/3/5Y, com presena de fssil (textulria ripleyensis)

    FIGURA 34 Sondagem SP6

    A seco litolgica (log) designada sondagem SP9 (Figura 34) tem uma

    profundidade mxima de 37.30m, e constitudo por uma alternncia na

    granulometria das areias, que vo desde finas, mdias e grosseiras. A partir dos

    9.45m constitudo por argilas de colorao cinzento esverdeado carregado.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    55

    Sondagem : SP9 Local: Pambala Prof. Final(m) -37.30 Observao:

    Areia fina, com restos de conchas 7/4/10YR

    Areia mdia 4/4/10YR

    Areia fina 7/4/10YR

    Areia grosseira 5/4/10YR

    Areia fina 5/4/2.5Y

    Amostra no recuperada

    Argila 3/2/5Y

    Com presena de fssil (gyroidina girardana, heterohelix,

    textulria ripleyensis)

    FIGURA 34 Sondagem SP9

    A seco litolgica (log) designada sondagem SP11 (Figura 35) tem uma

    profundidade mxima de 36.45m, e constitudo por areias finas, mdias e grosseiras

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

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    de colorao castanha cinzenta, j nas argilas a colorao varia de castanhas

    cinzentas.

    Sondagem : SP11 Local: Calenguela Prof. Final(m) -36.45

    Observao:

    Areia fina 3/2/7.5YR

    Areia mdia 4/4/7.5YR 8/4/10YR 5/4/10YR 5/4/2.5Y

    Areia grosseira 5/3/5Y

    Areia fina 5/2/Y

    Argila 8/4/10YR 4/2/5Y

    3/2/5Y, azica

    Areia mdia 4/2/5Y

    Argila 3/2/5Y, azica

    Areia fina 4/2/5Y

    Argila 4/2/5Y, azica

    Amostra no recuperada

    Argila 4/2/5Y, azica

    Areia fina 5/2/Y

    Argila 4/4/5YR, azica

    Areia fina 8/4/10YR

    As areias possuem todas fragmentos de conchas

    FIGURA 35 Sondagem SP11

    Textura

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

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    A seco litolgica (log) designada sondagem SP17 (Figura 36) tem uma

    profundidade mxima de 20.28m, e constitudo por margas castanhas escuras entre

    os 0-1.50m, e argilas de colorao cinzenta escura, com laminaes de gesso

    Sondagem:SP17 Local: Pambala Prof. Final(m) -20.28

    Observao:

    Margas 8/2/2.5Y, reage fracamente com HCl, com presena de

    fssil (heterohelix)

    Argila 3/2/5Y com laminaes de gesso secundrio.

    Argila 3/2/5Y, azica

    Argila 3/2/5Y com laminaes de gesso secundrio

    Argila 3/2/5Y, azica

    Argila 3/2/5Y laminaes de gesso secundrio.

    Argila 3/2/5Y, azica

    Argila 3/2/5Y com laminaes de gesso secundrio.

    Argila 3/2/5Y, azica

    FIGURA 36 Sondagem SP17

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

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    A seco litolgica (log) designada sondagem SP3 (Figura 37) tem uma

    profundidade mxima de 16.45m, e constitudo por margas de colorao amarela

    esbranquiadas, e argilas de colorao cinzenta clara, em que entre 0-4.45m no foi

    possvel recuperar amostras.

    Sondagem : SP3 Local: Cabacaa Prof. Final(m) -16.45 Observao:

    Amostras no recuperada

    Margas 8/1/5Y, reage facilmente com HCl, com presena de fsseis (textulria ripleyensis, heterohelix)

    Amostra no recuperada

    Marga 8/1/5Y, reage facilmente com HCl

    Argila 8/2/5Y, azica

    FIGURA 37 Sondagem SP3

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    59

    A seco litolgica (log) designada sondagem SP16 (Figura 38) tem uma

    profundidade mxima de 10.45m, e constitudo por margas de colorao amarela

    esbranquiadas, e siltes de colorao cinzenta clara.

    Sondagem : SP16 Local: Pambala Prof. Final(m) -10.45

    Observao:

    Marga 8/4/2.5Y, reage fortemente com o HCl, azica

    Silte 4/2/5Y, azica

    FIGURA 38 Sondagem SP16

    A seco litolgica (log) designada sondagem SP15 (Figura 39) tem uma

    profundidade mxima de 11.45m, e constitudo por um pacote de silte de colorao

    amarelada, e argilas de colorao castanha amareladas.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    60

    Sondagem : SP15 Local: Pambala Prof. Final(m) -11.45

    Observao:

    Argilas 5/Y/10YR, azica

    Siltes 8/2/2.5Y, azica

    Argilas 5/Y/10YR, com presena de fssil (globorotlia)

    A seco litolgica (log) designada sondagem SP8 (Figura 40) tem uma

    profundidade mxima de 20.40m, e constitudo por um pacote nico de argilas de

    colorao variando de castanha escura amarelada amarela clara.

    FIGURA 39 Sondagem SP15

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    61

    Sondagem : SP8 Local: Pambala Prof. Final(m) -20.40

    Observao:

    Argila 3/4/10YR, com presena de fsseis (heterohelix, M. Mercida)

    8/4/2.5Y, com presena de fsseis (heterohelix)

    8/4/2.5Y

    FIGURA 40 Sondagem SP8

    A seco litolgica (log) designada sondagem SP12 (Figura 41) tem uma

    profundidade mxima de 9.06m, e constitudo por areia fina de colorao castanha

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    62

    amarela, em que entre os 0-1.45m registou-se microconglomerados, entre os 2.45-

    4m verificou-se nveis de siltes, e entre os 7-8m no foi possvel recuperar amostras.

    Sondagem : SP12 Local: Pambala Prof. Final(m) -9.06

    Observao:

    Areia fina com seixos ligeiramente achatados

    Areia fina com nveis de silte

    Amostra no recuperada

    Areia fina

    FIGURA 41 Sondagem SP12

    A seco litolgica (log) designada sondagem SP5 (Figura 42) tem uma

    profundidade mxima de 12m, e constitudo por argilas de colorao variando de

    amarela clara cinzenta clara, em que determinadas profundidades no foi possvel

    recuperar amostras.

  • BONDO, H. e CARVALHO, I.

    63

    Sondagem : SP5 Local: Catumbo Prof. Final(m) -12

    Observao:

    Argila 7/3/5Y com presena de fssil (gyroidina girardana) 8/1/5Y 8/2/5Y

    6/3/5Y com presena de fssil (gyroidina girardana)

    Amostra no recuperada

    Argila 8/2/5Y, com presena de fssil (heterohelix) 7/6/5Y

    Amostra no recuperada

    Argila 7/6/5Y,