HISTÓRICO DA FITOTERAPIA Fernanda Penteado A fitoterapia cresce em importância na medida em que o homem vai se tornando pequeno frente ao desenvolvimento tecnológico espantoso, que ele mesmo criou. Este mesmo conhecimento tecnológico levou-o a perceber o quanto estava se afastando da natureza, de quem tanto o recebeu. 7 A tecnologia que, por um lado torna o homem pequeno, por outro, quando associada por ele à natureza, nos leva ao fantástico mundo da moderna fitoterapia. Fitoterapia originada no conhecimento empírico, respaldada por resultados de cromatografias, cortes histológicos, avaliações microscópicas e microbiológicas, confirmadas por ensaios farmacológicos e clínicos. 7 DEFINIÇÃO DE FITOTERAPIA Fitoterapia é uma palavra que deriva do grego. Phyton significa planta e Therapeia, terapia. Assim, é chamado de fitoterapia o tratamento das doenças através das plantas medicinais. Pode-se afirmar que o hábito de recorrer às virtudes curativas de certos vegetais é uma das primeiras manifestações do esforço do homem para compreender e utilizar a natureza. 7 Na antiguidade, o homem sempre buscou a solução de seus males na natureza. As propriedades curativas das plantas foi, no início, meramente
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HISTÓRICO DA
FITOTERAPIA
Fernanda Penteado
A fitoterapia cresce em importância na medida em que o homem vai se
tornando pequeno frente ao desenvolvimento tecnológico espantoso, que ele
mesmo criou. Este mesmo conhecimento tecnológico levou-o a perceber o
quanto estava se afastando da natureza, de quem tanto o recebeu.7
A tecnologia que, por um lado torna o homem pequeno, por outro,
quando associada por ele à natureza, nos leva ao fantástico mundo da
moderna fitoterapia. Fitoterapia originada no conhecimento empírico,
respaldada por resultados de cromatografias, cortes histológicos, avaliações
microscópicas e microbiológicas, confirmadas por ensaios farmacológicos e
clínicos. 7
DEFINIÇÃO DE FITOTERAPIA
Fitoterapia é uma palavra que deriva do grego. Phyton significa planta e
Therapeia, terapia. Assim, é chamado de fitoterapia o tratamento das doenças
através das plantas medicinais. Pode-se afirmar que o hábito de recorrer às
virtudes curativas de certos vegetais é uma das primeiras manifestações do
esforço do homem para compreender e utilizar a natureza. 7
Na antiguidade, o homem sempre buscou a solução de seus males na
natureza. As propriedades curativas das plantas foi, no início, meramente
intuitiva ou, observando os animais que, quando doentes, buscavam nas
ervas cura para suas afecções (restaurar suas feridas ou diminuir suas
enfermidades). 7
“Que o teu alimento seja o teu remédio e que o teu
remédio seja o teu alimento” – esta frase, atribuída à
Hipócrates, foi registrada há mais de 3 mil anos, sendo uma
das provas mais antigas de que comida e cura estão
relacionadas desde os primórdios. Desta forma, não se sabe
a data precisa do início da utilização das plantas sob a
forma medicinal, pois a sua história se entrelaça
diretamente à própria história da humanidade, acumulando um
conhecimento de milhares de anos. 5
Acredita-se, entretanto, através dos estudos da arqueologia, que há
mais de 3.000 anos as ervas são utilizadas como alimentos, medicamentos e
cosméticos. 7
Numerosas etapas marcaram a evolução da arte de curar, porém, torna-
se difícil delimitá-las com exatidão, já que a medicina esteve longamente
associada a práticas mágicas, místicas, ritualísticas.9
MITO E MAGIA DAS PLANTAS
O homem primitivo buscava satisfazer todas as suas necessidades
através da natureza. Assim, dependentes
das plantas os seres humanos se
voltaram para o reino vegetal na busca
de ajuda na luta indômita para dominar
o meio ambiente e o destino. 8
A partir da Antiguidade, ou talvez
até antes dela, passou-se a acreditar que
o domínio da magia do reino vegetal
repousava no conhecimento dos espíritos das plantas – habitantes do plano
astral que aspiravam elevar-se até a condição humana. Segundo a crença,
retomada pelo alquimismo e sustentada pelo ocultismo, estes seres, dotados
de inteligência instintiva e de intenso poder sobre o plano material, poderiam
efetuar curas surpreendentes, bastando para isso, serem bem dirigidos. 9 O
domínio do poder mágico das plantas, sem dúvida traria alivio da infelicidade
e da doença, controle do futuro e paz com os deuses. 8 A magia foi
reconhecida como instrumento de saúde, felicidade e sucesso, vinculada a
tabus, superstições, histórias fantásticas, imaginação e folclore. 14
Inúmeras espécies foram testadas por feiticeiros, que esperavam
conquistar esse poder. Muitos nomes de plantas dão
testemunho de tais experiências, mesmo muito tempo depois
de as próprias plantas terem perdido sua fama sobrenatural.
Verbena, por exemplo, é o nome genérico de muitos arbustos
e ervas. Lembra o uso de uma das espécies, a V. officinalis, a
verbena propriamente dita (foto ao lado), em festas religiosas
da Roma antiga. 8
Alguns exemplos típicos relacionados à crença na magia e misticismo
das plantas são citados abaixo:
GIRASSOL (Helianthus annuus L.) – No Peru, os
índios que adoravam o sol, veneravam o girassol como a
encarnação terrena do astro, pois este acompanhava o
movimento do sol no céu;
IPOMÉIAS
No Japão, as ipoméias, também chamadas de “glórias da manhã”, eram
conhecidas como as “jóias do céu”, porque sua beleza atraía a deusa Sol
de volta ao céu ao amanhecer;
ERVAS AROMÁTICAS - cheiro teve muita importância na escolha das
ervas para as curas serem efetuadas. Na Idade Média acreditava-se que
determinados aromas espantavam os espíritos das doenças que acometiam o
corpo. Os antigos egípcios há 4.500 anos a.C., utilizavam grande variedade de
aromas consagrados a certas divindades.
TOMILHO (Thymus vulgaris) - Desde a
Antigüidade, o tomilho tem sido amplamente
usado em terapias por suas propriedades
estimulantes e purificadoras. O aroma desta planta
é considerado energizante. Uma tradição muito
antiga recomendava que, no final de um dia
cansativo, era só amassar levemente entre as mãos
alguns ramos de tomilho e aspirar o perfume para recuperar a energia e
aumentar a disposição para o sexo.
URUCUM (Bixa orellana L.) - O urucum tornou-se muito conhecido graças ao
pigmento extraído de suas sementes. Originária
da América tropical, é planta espontânea na
região que vai das Guianas até a Bahia. A pintura
do corpo com o pó de urucum faz parte das
tradições indígenas, sendo usada há séculos, em
cerimônias e rituais. Na medicina popular, o
urucum é utilizado desde o século XVII. Os
indígenas usam o pó das sementes como afrodisíaco e como um remédio
contra a intoxicação pela ingestão da mandioca-brava
ALHO
O alho (Allium sativum), planta que há muito desfruta da
fama de instrumento de magia branca – teria o poder de
repelir as forças malignas da magia negra. Se a magia está
na capacidade de impedir a má nutrição, o alho é sem
dúvida algo mágico. Durante séculos, essa erva doméstica
não apenas acrescentou vitaminas e minerais aos alimentos,
mas também consta a tradição popular que tenha defendido
pessoas contra vampiros e contra a peste. 8
Para os egípcios, o alho, além de servir de alimento, estimulava a boa
voz e a coragem. Nero, imperador romano, com freqüência comia os bulbos do
alho chegando às vezes interromper o consumo de qualquer outro alimento.
A mandrágora, erva comum em toda região do Mediterrâneo adquiriu
fama de ter poderes mágicos em parte devido a sua
toxicidade. Essa planta potente é capaz de matar os
incautos, embora também tenha servido como
importante fonte de remédios. Aumentando a
mística em torno da mandrágora, há a aparência da
raiz. Grossa e tuberosa, pode-se imaginar que se
assemelha a um pequeno ser humano. Além disso,
é uma planta fosforescente e às vezes, a noite,
substâncias químicas em suas
com o orvalho e emitem luz clara.
Esse fenômeno, hoje explicado pela
ciência, era atribuído a espíritos e forças mágicas.
bagas reagem
8
Flavius Josephus, general, estadista e historiados judeu do primeiro
século d.C. descreveu os perigos da colheita da mandrágora. Embora seu
brilho a tornasse fácil de localizar, a erva se encolhia sempre que alguém se
aproximava dela; e o simples contato podia se revelar fatal. Uma forma de
colher a erva era cavar cuidadosamente em toda a
sua volta, até que só uma parte da raiz
permanecesse coberta. O colhedor amarrava então
um cachorro à raiz e afastava-se. O animal
arrancava a planta, num esforço suicida para
alcançar o dono. Mas em troca de sua morte, o
dono ganhava um amuleto infalível contra os
demônios. Outros acreditavam que a mandrágora
protegia contra ferimentos em combate, curava
todas as doenças, trazia sorte no amor, promovia a
fertilidade, garantia uma pontaria perfeita e permitia o descobrimento de
tesouros enterrados. 8
Segundo relatos, Joana Darc foi considerada
feiticeira e queimada por usar a mandrágora para
atormentar os ingleses, durante as guerras. Essa planta,
assim como o meimendro, era considerada diabólica
devido seu poder mágico.21
A mirra (Myrrha commifora abissynica) desempenhava um papel vital
nas cerimônias religiosas dos egípcios. Quando
queimada, liberava uma fragrância que eles acreditavam
agradar aos deuses. Como não se podia encontra mirra
no Egito, a rainha Hatshepsut mandou cinco navios à
Terra do Ponto, uma região da África equatorial, famosa
MIRRA
pela produção de mirra. Os egípcios trocaram machado, faca, miçangas,
colares e anéis por ébano, marfim, ouro canela, animais, sacos de mirra e 31
mudas da planta.8
BABOSA (Aloe sp) - É considerada uma planta
poderosa há muito tempo. Antigos muçulmanos
e judeus acreditavam que a babosa representava
uma proteção para todos os males e, por isso,
usavam as folhas até penduradas na porta de
entrada da casa. Alexandre, o Grande, teria
conquistado as Ilhas de Socotorá, no Oceano
Índico (século IV a.C.), porque lá vegetava
abundantemente um tipo de babosa que
produzia uma tinta violácea. Há quem diga, entretanto, que na verdade, o
conquistador conhecia os poderes cicatrizantes da babosa e seu principal
interesse nas ilhas era ter plantas suficientes para curar os ferimentos dos
seus soldados após as batalhas.
MITOLOGIA GREGA
Os mitos gregos são histórias criadas para explicar fenômenos naturais
ou ajudar a definir o papel do sobrenatural na vida cotidiana. Sem dúvida os
gregos brilharam na inventividade de superstições com plantas.8
Estes povos, assim como os
romanos, acreditavam que as plantas
aromáticas procediam dos deuses e
deusas. Segundo os gregos, doze deuses
governavam os céus, a terra, o mar e a
região dos mortos, e viviam no cume do
Monte Olimpo, ao norte da Grécia. Cada um dos deuses olímpicos tinha
atributos distinto e uma personalidade especial, além de terem também suas
plantas favoritas.8
Essas plantas aparecem como símbolos de respectivos deuses. Também
eram considerados elos vivos com eles.
A vegetação é protegida pela maioria das
divindades femininas grego-romanas: Deméter
(deusa das alternâncias entre a vida e a morte,
bem como das terras cultivadas, deusa da
agricultura), Afrodite (Vênus, deusa da
fecundidade), Artemis (Diana, selvagem deusa da
natureza), além de algumas entidades
masculinas como Ares (Marte, que simboliza a
força bruta, é, também, protetor das colheitas,
um dos deveres do guerreiro) e Dioniso (Baco,
símbolo das forças de dissolução da
personalidade, deus da fecundidade, da vegetação, das vinhas). 14
ZEUS NO OLIMPO
Acredita-se que os afrodisíacos tenham surgido na Grécia Antiga,
quando os gregos cultuavam Afrodite - a deusa do
amor, da beleza e da fecundidade - com cerimônias e
rituais especiais, nos quais eram ingeridas poções do
amor, na esperança de que
aumentassem o vigor e o
prazer sexual. Ervas, flores
e especiarias regidas por
Afrodite (Vênus, para os
romanos) eram usadas como
ingredientes no preparo
dessas poções e, com isso, ganharam a fama de
"afrodisíacos". A imagem de belas feiticeiras preparando "poções do amor" à
base de plantas e flores faz parte da mitologia desses povos. 17
O povo chegou a consumir tantos materiais aromáticos para perfumar-
se que no ano de 565 foi decretada uma lei que proibia utilizar essenciais
aromáticas pelas pessoas com temor de não ter suficiente incenso para
queimar nos altares das divindades.
EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO
Sem dúvida, a fitoterapia é considerada a medicina mais ancestral por
excelência e Hipócrates, Galeno e Dioscorides são considerados seus
iniciadores.16
Hipócrates, médico grego, considerado o Pai da
Medicina, reuniu a totalidade dos conhecimentos médicos
de seu tempo no conjunto de tratados conhecidos pelo nome
de Corpus Hipocraticum, onde, para cada enfermidade,
descreve um remédio vegetal e o tratamento
correspondente.7 No total os textos de Hipócrates citam 300
a 400 plantas medicinais e suas propriedades.8
Suas doutrinas dão grande ênfase à dieta, estilo de
vida, ao exercício, luz do sol e água. Seus conhecimentos e ensinamentos
atravessaram os tempos e são seguidos até hoje em alguns tratamentos
medicinais. 17
O autor farmacêutico mais influente da Antiguidade (primeiro século
d.C.) foi o médico grego Dioscorides. 8 Ele inventariou, em seu trabalho, De
Materia Medica, mais de 500 drogas de origem vegetal, mineral e animal. 7
Dioscorides
Especificou remédios provindos dos
três reinos da natureza (animal,
vegetal e mineral). Do reino vegetal,
diversas espécies são descritas e seu
modo de aplicação explicado.
Ilustração da De Materia Medica, obra que
descreve as plantas curativas.
Foi médico de Nero (imperador romano) e com ele e seus soldados viajou
por todo o mundo mediterrâneo, colecionando centenas de tipos de plantas. 17
O exemplar mais antigo que se conhece da sua obra De Materia Medica
encontra-se em Viena, está escrito em grego e possui uma grande quantidade
de desenhos ilustrativos.16
Finalmente, o grego Galeno, ligou o seu
nome ao que ainda se denomina “farmácia
galênica”, onde as plantas não são mais
usadas na forma de pó e sim em preparações,
nas quais são usados solventes como álcool,
água ou vinagre, e servem para conservar e
concentrar os componentes ativos das plantas, sendo utilizadas para preparar
ungüentos, emplastros e outras formas galênicas. 7
Galeno (130-200 a.C.) foi um dos mais famosos médicos de seu tempo.
Encontrou inspiração intelectual no pensamento grego, sobretudo na
medicina de Hipócrates, na ciência de Aristóteles e na filosofia de Platão.
Acreditava no método empírico de testar remédios, uma prática bastante
moderna para a época.8
Foi inicialmente médico dos gladiadores e logo passou a corte como
médico dos imperadores Marco Aurélio, Cômodo e Sétimo Severo.16 Escreveu
mais de duzentas obras, sendo que cerca de cem são hoje reconhecidas como
de sua autoria.17
PERSONAGENS IMPORTANTES
ARISTÓTELES
Depois de Hipócrates, veio Aristóteles, cuja obra inclui
uma tentativa de catalogar as propriedades de diferentes
ervas medicinais. 8
Aristóteles de Estagira, 384 a.C. – 322 a.C. filósofo
grego, um dos maiores pensadores de todos os tempos. Suas
reflexões filosóficas — por um lado originais e por outro
reformuladoras da tradição grega — acabaram por configurar
um modo de pensar que se estenderia por séculos. Prestou inigualáveis
contribuições para o pensamento humano, destacando-se: ética, política,