HISTÓRIA E DANÇA: PERPECTIVA DE PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA COM BASE NA MANIFESTAÇÃO ESTÉTICA DO ROCK ‘N’ ROLL, NOS ANOS 50 Sônia Maria Flach de Almeida Trabalho Final exigido para a conclusão do PDE sob a orientação da Prof. Drª. Sarah Iurkiv Gomes Tibes Ribeiro. Resumo O Rock ‘n’ roll e a sua dança surgem após a Segunda Guerra Mundial como significado de rebeldia e contestação apresentadas pela juventude, isto é, como manifestação cultural no contexto histórico dos anos 50. Desta forma este artigo pretende apresentar uma abordagem considerada como objeto de análise ou fonte documental desta forma de manifestação estética, cultural e artística. As interpretações culturais desta década mereceram investigação histórica para perceber que a maneira de abordar a relação entre o Rock ‘n’ roll nos anos 50 e a História é mais do que uma ilustração, ou seja, ocorre uma transcendência da perspectiva lúdica. Implica em utilizar a dança enquanto uma prática da juventude estadunidense e brasileira, como sujeitos inseridos no contexto sócio-histórico da década de 50, ou seja, do Pós-Guerra. Pautada em referencial teórico denominado história social da cultura será adequada como instrumento de análise do contexto sócio-histórico do Rock ‘n’ roll e a Dança. É relevante compreender os significados da rebeldia e da contestação manifestadas pela juventude. A prática levada a efeito pelos jovens remete à relevância das conseqüências ou resultados involuntários que a influenciaram. A Indústria Cultural criou necessidades de consumo que revelaram o cotidiano, ações, atitudes, hábitos mentais que indicaram mudanças de novos padrões comportamentais que se sucederam a partir dos anos 50 e os significados que a prática do Rock ‘n’ roll assumiu para a juventude. Palavras Chave: Dança. Rock ‘n’ roll anos 50. Indústria Cultural.Juventude. Contestação.
23
Embed
HISTÓRIA E DANÇA: PERPECTIVA DE PRODUÇÃO … · da sociedade branca, o Country e o Folk. Gênero musical este, a princípio, ... Assim, o Rock ‘n’ roll, usando a guitarra,
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
HISTÓRIA E DANÇA: PERPECTIVA DE PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA
COM BASE NA MANIFESTAÇÃO ESTÉTICA DO ROCK ‘N’ ROLL, NOS
ANOS 50
Sônia Maria Flach de Almeida
Trabalho Final exigido para a conclusão do PDE sob a orientação da Prof. Drª.
Sarah Iurkiv Gomes Tibes Ribeiro.
Resumo
O Rock ‘n’ roll e a sua dança surgem após a Segunda Guerra Mundial como significado de rebeldia e contestação apresentadas pela juventude, isto é, como manifestação cultural no contexto histórico dos anos 50. Desta forma este artigo pretende apresentar uma abordagem considerada como objeto de análise ou fonte documental desta forma de manifestação estética, cultural e artística. As interpretações culturais desta década mereceram investigação histórica para perceber que a maneira de abordar a relação entre o Rock ‘n’ roll nos anos 50 e a História é mais do que uma ilustração, ou seja, ocorre uma transcendência da perspectiva lúdica. Implica em utilizar a dança enquanto uma prática da juventude estadunidense e brasileira, como sujeitos inseridos no contexto sócio-histórico da década de 50, ou seja, do Pós-Guerra. Pautada em referencial teórico denominado história social da cultura será adequada como instrumento de análise do contexto sócio-histórico do Rock ‘n’ roll e a Dança. É relevante compreender os significados da rebeldia e da contestação manifestadas pela juventude. A prática levada a efeito pelos jovens remete à relevância das conseqüências ou resultados involuntários que a influenciaram. A Indústria Cultural criou necessidades de consumo que revelaram o cotidiano, ações, atitudes, hábitos mentais que indicaram mudanças de novos padrões comportamentais que se sucederam a partir dos anos 50 e os significados que a prática do Rock ‘n’ roll assumiu para a juventude. Palavras Chave: Dança. Rock ‘n’ roll anos 50. Indústria Cultural.Juventude. Contestação.
2
Abstract
The Rock’n’roll and your costumer dance appear after Second World War like rebelliousness and contestation significance by the youths, it means, cultural manifestation in historical context fifties. This article intends to approach to a topic or documental source for manifestation aesthetics, cultural and artistic. The interpretations cultural of fifties deserved historical investigation to realize the way to board the relation between Rock’n’roll in the History is most more than an illustration, occurs a transcendence of the ludicrous perspective. It implies in use of the dance while a youth's practice United States of America and Brazilian youth, as subjects inserted in decade context social-historical, in other words, of the Postwar. Rulered in reference denominated theoretical social history of the culture, will be adequate as context social-historical analysis instrument of the Rock’n’roll and your costumer dance. It is important to comprehend the rebelliousness meanings and of the contestation, manifested by the youth. The practice for effect by the young people, remits to the consequences relevance or involuntary results, that influenced then. The Cultural Industry created needs to consumption, that revealed the costume everyday, actions, attitudes, mental habits that indicated changes of new behavioral standards that were happened from fifties and the meanings that the Rock’n’roll practice took over for the youth.
Key words: Dance. Rock’n’roll years 50. Cultural Industry, Youths,
Rebelliousness, Contestation.
Introdução
O Rock ‘n’ roll estabelece uma aproximação com aspectos que lembram
autores como Friedlander, Muggiati, Coelho e alguns artigos de jornais e
revistas publicados desde aquela época. Contribuem com elementos
fundamentais para a compreensão da Dança e Rock ‘n’ roll. Entretanto, apesar
3
disso, faz-se necessário que a investigação se fundamente por meio de
recolhimento de dados históricos pautados no sentido de compreender o
fenômeno, como manifestação estética, artística e cultural relacionado com o
contexto sócio-histórico do Pós-Guerra.
A verificação investigativa do Rock ‘n’ roll se faz sob o recorte dos anos
50, para não incorrer em superficialidades. Isso possibilita uma análise do
Rock ‘n’ roll e sua Dança enquanto uma prática dos jovens inseridos nos
contextos estadunidense e brasileiro, de modo a perceber e compreender os
significados que a prática do Rock ‘n’ roll assume para a juventude da década
de 50.
O Rock ‘n’ roll surge como feito coletivo, atividade em cuja realização da
juventude se funde com a ação, emoção, desejo, rebeldia e contestação de
moldes predeterminados de valores conservadores, patriarcais e religiosos,
Reflete a impressão da época utilizando-o como matéria-prima, como
testemunha deste fenômeno nos anos 50 nos EUA e absorvido pelo Brasil
como produto cultural. Torna-se símbolo de ruptura, contestação e irreverência
que atinge a juventude na década de 50. Entretanto, a análise da Indústria
Cultural, percebe estes jovens apenas como consumidores, público alvo de
mudanças comportamentais e ideológicas, que afetam também a sociedade
conservadora com novos valores produzidos pelo fenômeno do Rock ‘n’ roll.
A partir da realização de um breve recorte cronológico, se busca indicar
um panorama histórico que permita uma melhor compreensão desse fenômeno
conhecido como Rock ‘n’ roll nos anos 50, também utilizado como memória
para documentar ao revivê-lo. Entretanto o convite à dança do Rock ‘n’ roll se
vale da representação dos fatos ocorridos, onde a juventude rebelde de
diversas classes sociais lhe imprimem seu próprio caráter.
4
Desenvolvimento
O Rock ‘n’ roll surge após a II Guerra Mundial e a sua proposta era
contestar os velhos costumes da época. É um ícone da contracultura, mistura
elementos da música negra como o Blues e o Rhythm´n´Blues com a música
da sociedade branca, o Country e o Folk. Gênero musical este, a princípio,
sempre ligado à transgressão, em um momento em que a sociedade
americana da década de 50, principalmente no sul dos Estados Unidos,
ocorria uma forte segregação racial. O Rock inspirado em ritmos africanos
estava destinado a ser marginalizado.
Possivelmente ele serviu para evidenciar as idéias contestatórias da
juventude insatisfeita com o sistema cultural, educacional e político dos
Estados Unidos nos anos 50. Assim, o Rock ‘n’ roll, usando a guitarra, a
bateria, o contrabaixo e convidando para a dança rompeu com outras formas
musicais, sugerindo ritmo, melodia e volume diferentes deflagrando a
transgressão. Identificou assim, as rupturas dos padrões sociais que se
apresentavam na sociedade da época: a moda se transformava em algo
colorido, extravagante, desafiando os padrões da época; a sexualidade
apresentava-se de modo quase obceno pelos artistas. Assim, vários padrões
foram formulados, contestados e rompidos.
O movimento musical denominado Rock ‘n’ roll surgiu nos Estados
Unidos, nos anos 50 como um grito do negro, vindo da África como escravo. As
origens desse ritmo já haviam surgido há muito tempo, mas foi somente após a
Segunda Guerra Mundial que a musicalidade negra foi abraçada pela geração
americana. O Blues, significa triste, melancólico, advindo dos hematomas que
surgiam nos escravos devido à depressão que sentiam. Assim esta música
“doce-amarga” causou uma revolução sonora da década de 50 e fundou as
suas estruturas. (MUGGIATI,1973).
O Blues surge do encontro de tradições africanas e européias no sul do
EUA. Ao final do século XIX fundindo o seu grito com as canções de trabalho,
5
os acordes dos hinos religiosos e a estrutura das baladas, o negro chegou ao
Blues. O grito era uma espécie de reconhecimento do ambiente em meio às
plantações de algodão. Simbolizava a comunicação do escravo. A proibição do
uso de instrumentos explica parcialmente o fortalecimento da tradição oral. As
canções de trabalho (work songs) refletem uma concepção diferente de
música: para o negro da África Ocidental, “a música e a dança não são
manifestações isoladas de arte e sempre foram usadas como uma função
estritamente comunitária”. (CHACON,1992).
Havia canções de jovens para conquistar moças, de mães para acalmar
filhos, de chefes para impor ordem na comunidade, de guerreiros para criar
coragem, de sacerdotes para influenciar sobre a natureza, de trabalhadores
para cadenciar e suavizar suas tarefas. Destas tradições surgem work-songs
nas plantations de algodão do sul do EUA, algumas em forma de pergunta e
resposta, o que animaria mais tarde o Blues e o Rock.
Em sua adaptação no continente americano, os escravos se convertem
ao cristianismo. Surgiram as Gospel Songs, hinos costurados com trechos da
Bíblia e work-songs, reforçando a recriação musical negra que daria origem ao
Blues, que estabeleceu uma ponte entre as work-songs do século XIX e o Rock
‘n’ roll dos anos 50 do século XX, legando para a posteridade elementos da
cultura africana, remodelados pela convivência européia nos EUA, o que se
estenderia para todo o mundo ocidental, seja pela força das redes de produção
e comercialização, seja pela imediata identificação corporal e das atitudes com
a juventude.
Produzido originalmente em pequenos estúdios do sul dos EUA, o Rock
‘n’ roll alcança um sucesso rápido e inesperado, muito além da capacidade
americana absorver ou aceitar o seu impacto. Seu sucesso é explicado pela
imediata simpatia que o ritmo provoca numa geração de adolescentes, brancos
e negros. Mas também, é explicado pelo rápido golpe comercial dos grandes
estúdios do Leste e Oeste dos EUA (RCA, Capitol, Mercury).
6
O puritanismo sexual e o conformismo do vestuário são atacados sob os
aplausos de jovens que já procuram manter distância dos rígidos valores
tradicionais dos pioneiros norte-americanos do século XVIII. Trabalho,
preparação para o casamento, acúmulo de capital, patriotismo são substituídos
pela descontração, sensualidade, irreverência e liberdade de se divertir.
O convívio racial em festas, salões de dança e shows foi sem dúvida
uma vitória moral do Rock ‘n’ roll nos anos 50, já que havia quase um século
que os adultos se recusavam a tal convívio na sociedade. Entretanto, a quebra
de tabus morais e raciais provocam nos setores conservadores uma reação:
escândalos criados encerram carreiras, já desgastadas pelo sucesso
relâmpago, e versões adocicadas do Rock ‘n’ roll (Platters) são
cuidadosamente promovidas para ocupar o espaço de figuras desafiantes
como Little Richard e Chuck Berry. Afinal, o mercado não podia parar.
Chuck Berry, Bill Haley e os Everly Brothers gravaram músicas que
falavam do próprio rock e das dificuldades da vida dos adolescentes. Estas
músicas eram as mais apreciadas, pois as letras transmitiam valores novos.
Berry cantava que a escola era cansativa. Bill Halley desafiava todo mundo a
dançar, dançar, dançar.... Nos anos 50 não havia ataque direto aos valores
gosto pela pesquisa em aprender, experimenta, investigar e utilizar diversos
21
estímulos para criar composições coreográficas de memórias obtidas através
de: notícia de jornal, poesia, literatura, História, emoções, sentimentos, mitos,
obras de arte, quadros, esculturas, elementos de movimento, sons e silêncio,
etc.
A primeira pergunta era como transportar a prática pedagógica utilizada
para tornar as aulas de História interessantes, de modo a alterar a perspectiva
do uso da Dança utilizada até então.
Os referenciais teóricos possibilitaram perceber o significado de um
determinado contexto sócio-cultural a ser investigado e tomar como objeto de
análise a manifestação estética do Rock ‘n’ roll na década de 50.
O modo de observar a relação entre Dança e História nesse caso é mais
do que mera ilustração. Implica em utilizar a memória da dança enquanto uma
prática dos sujeitos inseridos em contextos sócio-históricos do EUA e do Brasil
na década de 50, de modo a possibilitar a compreensão dos significados que
esta prática assume para os mesmos, assim se fez necessário investigar a
relação do Rock ‘n’ roll dos anos 50 com a Indústria Cultural.
Conclusão
A investigação, apesar da escassez de registros documentais sobre a
Dança do Rock ‘n’ roll, permitiu a percepção de que o Rock ‘n’ roll se tornou
símbolo de ruptura e mudança. Novos padrões de comportamento foram
revelados pela juventude rebelde e contestatória da década de 50, que se
tornou público alvo das estratégias de consumo da Indústria Cultural.
22
Os valores conservadores e patriarcais no contexto sócio-histórico do
Pós-Guerra se tornaram sem sentido, e são substituídos pela descontração,
sensualidade e liberdade de se divertir. O cinema estadunidense apresenta o
Rock ‘n’ roll ao Brasil, que não permaneceu estanque e evoluiu para o iê iê iê,
absorvendo o Rock ‘n’ roll pela influência sócio-histórica de cada década.
Torna-se relevante sugerir novas investigações ou suscitar novas
discussões de estilos e décadas que consagraram o Rock ‘n’ roll, onde cada
década contribui para a construção da outra. A comunicação próxima do Rock
‘n’ roll, não elimina a história anterior de nenhuma década, pois esta poderá
servir de estímulo, suporte ou princípio para investigar o Rock ‘n’ roll nas
décadas de 60, 70, 80, 90...
Bibliografia
ADORNO, Theodor W. A Indústria Cultural e Sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
____________ Textos escolhidos. Trad. Luiz João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Os Pensadores).
BARRETO, Débora. Dança: ensino, sentido e possibilidades na Escola. 2ª edição - Campinas, São Paulo: Autores associados, 2005.
BOURCIER, Paul. História da dança no Ocidente; [Tradução: Marina Appenzeller]. 2ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
BRANDÃO, Antônio Carlos; DUARTE, Milton Fernandes. Movimentos Culturais da Juventude. São Paulo: Ed. Moderna, 1990.
CIAPPINO, César Andres. Rock´n Roll. A Dança da Ideologia. Florianópolis, 2006.
CHACON, Paulo. O que é rock. Ed. Círculo do Livro, 1992.
COELHO, Teixeira. O que é Indústria Cultural. 13ª Edição. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1989.
COHN, Gabriel (org.). Comunicação e Indústria Cultural. 4ª edição. São Paulo: Companhia editora nacional, 1968.
23
CORREA, Tupã Gomes. Rock, nos passos da moda: mídia, consumo X mercado. Campinas: Papirus, 1989.
FARO, Antônio José. Pequena história da dança. 6ª edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.
FRIEDLANDER, Paul. Rock ‘n’ roll. Uma História social. (trad. de A. Costa). 4º edição. Rio de Janeiro: Editora Record, 2006.
HORKHEIMER, M., e ADORNO, T. W., Dialética do esclarecimento: Fragmentos Filosóficos. Trad. Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
LABAN, Rudolf. Domínio do Movimento; edição organizada por Lisa Ullman; [Tradução: Anna Maria Barreto de Vecchi, Maria Silvia Mourão Netto; Revisão Técnica: Anna Maria Barros de Vecchi]. São Paulo: Summus, 1978.
MUGGIATI, Roberto. Rock, o grito e o mito. Petrópolis: Vozes, 1973.
NEVES, Joana. Reflexões sobre o ensino de história: discussão de algumas proposições de Jacques Lê Goff. In.: História & Ensino: Revista do Laboratório do Ensino de História. v.9, pp. 157-170, Londrina: Ed. UEL, out. 2003.
OSSONA, Paulina. A educação pela Dança; [Tradução: Norberto Abreu e Silva Neto]. São Paulo: Summus, 1988.
PARAIRE, Philippe. 50 anos de música: Rock. Lisboa: Ed. Pergaminho, 1992.
PORTER, Roy. História do corpo. In: BURKE, Peter (org). A escrita da História: Novas Perspectivas. São Paulo:UNESP, 1992.
Resumo feito por André Heavyman Morize, com base em textos de José Júlio do Espírito Santo e Adriana Magalhães, Revistas Pop Rock, Revistas o Cruzeiro, capas e contracapas de discos e jornais antigos.
Revista Rock. Música do século XX, nº 3. 1978, Ed. Rio Gráfica Ltda.