História da Enfermagem no Brasil

História da Enfermagem no Brasil

Mônica S. Braga


Considera-se 3 fases principais:1. A Organização da Enfermagem na Sociedade

Brasileira: período colonial até o final do séc. XIX

2. O Desenvolvimento da Educação em Enfermagem: final do séc. XIX até 2ª Guerra Mundial

3. A Enfermagem no Brasil Moderno: inicia-se com a 2ª Guerra Mundial até a atualidade


A Organização da Enfermagem na Sociedade Brasileira:período colonial até o final do séc. XIX

1500 – Chegada dos portugueses com os jesuítas;

• as ações do cuidar são ligadas aos rituais místicos;realizadas pelos pajés e feiticeiros

• práticas domésticas desenvolvidas pelas mulheres índiaspara o cuidado das crianças, velhos e enfermos

Chegada do colonizador europeu e do negro africano trouxe novo cenário nosológico – epidemias e extinção dos nativos

• 1ª forma de assistência dada aos doente foi estabelecida pelos jesuítas – missão – doutrinação cristã

• Fundação de colégios e missões e construção deenfermarias ao redor


medicina popular é composta por conhecimentos empíricos;

• Assistência dada pelas religiosas, voluntários e escravos – em sua maioria homens

Criação das Santas Casas e hospitais militares


• 1543 – Primeira Santa Casa de Misericórdia

- Santos

• 1549 - Santa Casa – Bahia

• 1560 - Santa Casa – Pernambuco

• Padre José de Anchieta + Frei Fabiano de Cristo (Convento de Santo Antonio – RJ) e escravos


Francisca de Sande 1ª voluntária de enfermagem – séc. XVII – Bahia – atuou nas grandes epidemias.

Os conhecimentos médicos relatam uso de antídotos contra veneno das cobras, de plantas medicinais como o guaraná, talas de casca de árvores, ligaduras de cipó.

Os médicos eram figuras esporádicas no cotidiano hospitalar.


1822 - José Bonifácio de Andrada e Silva abriu a 1ª sala de partos na Casa dos Expostos – RJ – 1ª medida de proteção à Maternidade que se conhecem na legislação mundial. Referem-se a mãe escrava e dizem:

“A escrava, durante a prenhez e passado o 3º mês, não será obrigada a serviços violentos e aturados; no 8º mês só será ocupada em casa; depois do parto terá um mês de convalescença e, passado este, durante um ano não trabalhará longe da cria”


1828 – Criado o Serviço de Inspeção de Saúde Públicado Porto do RJ (pestes que chegavam junto com osnavios);

• 1832 - organizou-se o ensino médico. A escola departeiras em 1833 e Madame Durocher, 1ª parteira.

• Começam a aparecer as Reais e BeneméritasSociedades Portuguesas de Beneficência - entidadesfilantrópicas.


Desenvolvimento da Educação em Enfermagem no Brasil

• 1842 – criado o Hospício D. Pedro II – RJ – solicitaçãode médicos sanitaristas.

Problemas de saúde na cidade – urbanização e higienização

• Médico Oswaldo Cruz - encarregado do saneamento eo prefeito Pereira Bastos da urbanização

• 1890 – Hospital Nacional de Alienados – saída dasirmãs de caridades


1890 - Criada a Escola Profissional de Enfermeiros e

Enfermeiras – cuidadas pelas enfermeiras francesas –

Salpêtrière– Curso: 2 anos, ambos os sexos, ênfase na

assistência hospitalar– Noções gerais de anatomia, fisiologia, higiene

hospitalar e cuidados especiais com algumas doenças

• 1920 – passou a ser chamada Escola Alfredo Pinto – em

homenagem ao ministro da Justiça e Negócios Interiores


1890 - Sociedade Hospital Samaritano –médicos ingleses e americanos

• 1900 – 1901 - Escola de Enfermeiras doHospital Samaritano - enfermeiras inglesas

• 1908 - Cruz Vermelha - presidente OswaldoCruz – Escola de Enfermagem da CruzVermelha



1920 - Criado o Departamento Nacional deSaúde Pública – DNSP – Direção de CarlosChagas – reforma sanitária 1921 - Vinda das enfermeiras americanas –patrocínio da Fundação Rockfeller –redimensionaram o modelo de enfermagemprofissional Criado o serviço de enfermeiras do DNSP e aEscola de Enfermeiras – atual Anna Nery


1921: Enfª Ethel Parsons - encarregada de estudar asituação da enfermagem no Brasil, organizar e chefiarum serviço de enfermagem:

Constatou: não havia escola no modelo anglo-saxões; enfermagem realizada por homens e mulheresignorantes; hospitais superlotados; falta de treinamento das enfermeiras

Ethel Parsons


1922 – Chegaram mais 13 enfermeiras americanas 1923 – Criado o Serviço de Visitadoras de Higiene –

supervisão das americanas– Treinamento emergencial teórico-prático – 6 meses– Formação provisória até a formação de enfermeiras– Visitar famílias onde houvesse doentes, incapacitados,– problemas sanitários, ensinar famílias e vizinhos– Procedimentos de enfermagem e higiene do lar


Escola Anna Nery (1926) – currículo:– 3 anos com exigência do secundário– Trabalho nas enfermarias – 48h/semana

Aulas teóricas e pequena remuneração:– Recrutamento Classe média alta– Negras barradas– Pobres poderiam ser bem recebidas– Obediência a hierarquia, disciplina


1931 –Decreto Federal nº. 20.109/31: Escola

Oficial Padrão – cursos de 4 anos. Retira-se a missão Parsons e Raquel Haddock Lobo

assume a direção da Escola de Enfermeiras. 1932 – Decreto 22.257 – equiparação das

irmãs de caridade com prática em enfermagem às enfermeiras de saúde pública


• Anna Nery - Anna Justina Ferreira Nery Biografia sucinta. Nasceu na Bahia - em 13/12/1814 e morreu em 20/05/1926 Vinda de família da sociedade, tinha 4 irmãos com profissões

destacadas. Casou -se com Isidoro Antonio Nery – Capitão da marinha

em 1838 com quem teve 3 filhos. Ficou viúva aos 29 anos. Criou seus filhos em Salvador.

Todos seguiram carreira militar , porém dois se formaram médicos.

1865 - Guerra do Paraguai – voluntária para trabalhar nos hospitais do Rio Grande do Sul

Ana Neri (1814- 1926)


• Conferido pelos soldados o título de “Mãe dosBrasileiros”, identificado na obra de Resende Muniz Barreto.

• O filho mais velho e um sobrinho morreram na guerra

• Retornou para o Brasil em 1870, com seis órfãos

• Recebeu do Governo Brasileiro e da comunidadeBaiana inúmeras homenagens e pensão anual de 120mil reis

Escola Anna Nery – 1931 - Escola Padrão• Escola Carlos Chagas – 1932 -MG – Escola de

religiosas• Escola do Hospital São Paulo - 1939 – SP• Escola Luiza de Marillac – 1939 - DF• Escola Florence Nightingale e Cruzeiro do Sul –• 1933 – GO – Evangélicas• Escola de Enfermagem da USP - 1944 – SP• Escola São José - 1959 - Santa Casa - São Paulo• Centro Universitário São Camilo - 1982


Entidades de Classe - primórdios

Em 1926, um grupo de ex-alunas da Escola Ana Nery, formou a Associação Brasileira de enfermeiras Diplomadas, que visava estabelecer regras para o exercício profissional, promover intercâmbio de conhecimentos entre a categoria, além de ser o canal de expressão das necessidades da profissão. Em 1928, esta Associação é registrada com o nome de Associação Nacional de Enfermeiras diplomadas Brasileiras (atual ABEN).

Em 1932 a Associação Nacional de Enfermeiras

Diplomadas Brasileiras criam a Revista Brasileira de Enfermagem, publicada inicialmente com o nome de Annaes de Enfermagem.

Em 1933, foi criado o Sindicato de Enfermeiros

Terrestres que incluía enfermeiros diplomados e

enfermeiros práticos.

Entidades de Classe - Primórdios

A Enfermagem no Brasil Moderno

Décadas de 30 à 60 Dec. de 20 e 30- marcaram a

implantação da enfermagem profissional na sociedade brasileira, sendo absorvidas, em sua maioria, pela saúde pública.

Final década de 50 - havia em todo o Brasil, 39 escolas de enfermagem e 67 cursos de auxiliar de enfermagem.

Dec. 40 e 50 - as enfermeiras diplomadas nos anos, passaram a destinar-se principalmente à rede hospitalar em processo de modernização e de expansão, cujo aspecto marcante foi o surgimento de hospitais públicos com fins educacionais, como o Hospital das Clínicas de São Paulo e o Hospital São Paulo

A Enfermagem no Brasil Moderno


Década de 60 - industrialização rápida ocasionando:– Crescimento urbano desordenado – favelas– Custo alto de vida– Deterioração da saúde do povo

Repercussões na área da saúde– Consolidação da industrialização: tecnologia

hospitalare industria farmacêutica – privilegia a medicina curativa / hospital

– Saúde Pública - composição secundária– Educação em Enfermagem: integração dos

programas universitários e governamentais


Repercussões no Ensino 1931 – Decretado o Estatuto das Universidades

Brasileiras Década de 40 – Escola Anna Nery – incorporada

à Universidade do Brasil – RJ 1949 – Projeto de Lei 775 de 06/08/49

– vinculação à universidade– exigência do curso secundário completo– cria os cursos de auxiliares de enfermagem


1955 – Lei 2.604 – Regulamenta o Exercício Profissional – define as categorias que poderiam exercer a

Enfermagem no País (eram os enfermeiros práticos, os práticos de enfermagem, os enfermeiros assistentes, assistentes de enfermagem, enfermeiro militar, atendentes entre outras denominações).

1961 – Governo de João Goulart - Lei das Diretrizes e Bases da Educação – conclusão do ciclo colegial para o ingresso ao ensino

superior.


1955 – Lei 2.604 – Regulamenta o Exercício Profissional e define as

categorias que poderiam exercer a Enfermagem no País (eram os enfermeiros práticos, os práticos de enfermagem, os enfermeiros assistentes, assistentes de enfermagem, enfermeiro militar, atendentes entre outras denominações).

1961 – Governo de João Goulart – Lei dasDiretrizes e Bases da Educação

– conclusão do ciclo colegial para o ingresso ao ensino superior.


Em 1966, surge a categoria de técnico deenfermagem, espelhando a tendência tecnicista dominante de fortalecimento do ensino profissionalizante de nível técnico.


1968 – Reforma Universitária– de 1964 – 1974: criadas 14 escolas– de 1975 - 1979: criados 26 cursos

1943: 66% dos enfermeiros em saúde pública

9,5% no campo hospitalar

1950: 49,4% dos enfermeiros no campo hospitalar 17,2% no campo da saúde pública


Década de 70 e 80 – aspectos políticos-sociais:– Classe média proletariza-se– Crise no setor saúde– 1975 – Lei 6229 do Sistema Nacional de Saúde

– novo modelo – INPS – Assistência individual e curativa e MS – assistência preventiva e de alcance coletivo.

– Sofisticação do ato médico forçou a especialização na área – formação curativa

– Em 13 de julho de 1973, criaram-se os Conselhos Federal (COFEN) e Regionais de Enfermagem (COREN) – lei 5.905/73


Privatizações na Saúde – convênios comfirmas comerciais e industriais

VIII Conferência Nacional de Saúde - 1986 - redefine o conceito de Saúde


Repercussões no Ensino e na Prática profissional• 1972 – criado o 1º curso de mestrado em enfermagem –

Escola Anna Nery / UFRJ• 1973 – criado o 2º curso de mestrado em enfermagem –

EEUSP• A lei nº. 7.498, de 25.6.86, regulamentado pelo Decreto nº.

94.406 de 8.6.87, constituem os atuais dispositivos legais do exercício profissional da enfermagem. Pela lei a Enfermagem é exercida privativamente pelo Enfermeiro, pelo Técnico de Enfermagem, pelo Auxiliar de enfermagem e pela Parteira.


1988 – Promulgada nova Constituição Federal

• 1990 – Criação do SUS

Década de 80: criado mais 26 cursos– Ênfase na área curativa – fragmentação do trabalho– Dicotomia da prática profissional:

Saber (enfermeiro) fazer (auxiliar)


Década de 90 – Aspectos políticos-sociais– Sucateamento da rede pública– Rede privada – 80% dos serviços –

antagonismo à Constituição.– Medicina perde sua autonomia em

razão ao seguro-saúde privado


Repercussões para a Profissão: Formação de 2 grandes grupos:

– 1. Grande grupo: especialistas para atendimento hospitalar– 2. Grupo menor: saúde coletiva – consulta de enfermagem

Incentivo a inter e a multidisciplinaridade Visão integral do homem Inúmeras possibilidades de atuação do enfermeiro

Personalidades da EnfermagemBrasileira

Anna Nery. Edith de Magalhães Fraenkel (organizadora e 1º

diretora USP) Raquel Haddock Lobo (1º diretora brasileira da Escola

Ana Nery) Lays Netto dos Reis (1º diretora e organizadora da Escola

de Enfermagem Carlos Chagas) Wanda de Aguiar Horta. Taka Oguisso. E atualmente, quem se destaca?

Wanda de Aguiar Horta (1926-1981)

Enfermeira graduada pela EEUSP em 1948.

Docente da Escola de Enfermagem Ana Néri (UFRJ) e da Escola de Enfermagem da USP.)

Em 1959, começa a desenvolver o núcleo central de seu trabalho que constitui na elaboração de vasta fundamentação teórica para a enfermagem, culminando com a elaboração da Teoria das Necessidades Humanas Básicas.

Buscou, ao longo de sua trajetória, criar e transmitir um conceito de enfermagem que englobasse os aspectos, muitas vezes conflitantes, de arte humanitária, ciência e profissão:

“ Enfermagem é ciência e a arte de assistir o ser humano no atendimento de suas necessidades básicas, de torná-lo independente desta assistência através da educação; de recuperar, manter e promover sua saúde, contando para isso com a colaboração de outros grupos profissionais”.

Wanda de Aguiar Horta (1926-1981)

Wanda de Aguiar Horta

Segundo a teoria de Wanda de Aguiar Horta, o processo de

enfermagem é a dinâmica das ações sistematizadas e interrelacionadas,

visando a assistência do ser humano.

Para finalizar e refletir...

“ O cuidado é mais que um ato; é uma atitude. Abrange mais que um momento de atenção, de zelo e desvelo.Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilidade e de envolvimento afetivo com o outro”

Leonardo Boff (1999).

História da Enfermagem no Brasil

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