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Camões viveu os últ imos anos da sua vidaamargurado pela doença e pela miséria. Reza a tradição que, se não morreu de fome, foi devido à solicitude de um escravo, Jau,trazido da Índia, que ia de noite, sem o poeta saber, mendigar de porta em porta o pão do dia seguinte. O seu enterro foi feito a expensas de uma instituição de beneficência, a Companhia de Cortesãos. Um fidalgo seu amigo mandou inscrever-lhe na campa rasa o seguinte epitáfio: “Aqui jaz Luís de Camões príncipe dos poetasdo seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente e assim morreu.”
CuriosidadeCuriosidade O padre Luís António Verney, em meados do séc. XVIII,
na carta VI do seu l ivro VERDADEIRO MÉTODO DE ESTUDAR, pôs em dúvida, pela primeira vez, o valor de Camões. Apontou erros n’OS LUSÍADAS e nas RIMAS.
Mais tarde, o padre José Agostinho de Macedo, autor de OS BURROS, escreveu uma CENSURA AOS LUSÍADAS e um poema épico, em dez cantos, intitulado O GAMA, para substituir o poema de Camões.
Mas nem todos desdenharam do valor do poeta e, em maior número foram os que se levantaram elogiando os seus dotes l i terários.
Muitos anos após a sua morte, os restos mortais do poeta foram transferidos para um túmulo colocado no Mosteiro dos Jerónimos, onde pode ser visitado.
LUSÍADASLUSÍADAS
- Camões adoptou esta - Camões adoptou esta palavra para título da sua palavra para título da sua epopeia como sinónimo epopeia como sinónimo de de Os PortuguesesOs Portugueses, , descendentes de Luso, descendentes de Luso, pastor lendário da pastor lendário da Lusitânia e filho ou Lusitânia e filho ou companheiro de Baco.companheiro de Baco.
Qual o significado da palavra?Qual o significado da palavra?
Fontes de Os LusíadasFontes de Os Lusíadas
Nacionais
Literárias: A Castro Trovas à Morte de Inês de Castro Memorial das Proezas da Segunda Távola
Redonda
Históricas: Crónicas (de Fernão Lopes; Zurara; Rui de Pina; Duarte Galvão; Frei João Álvares) Em André de Resende encontrou o tí tulo do
poema e em Pedro Nunes (tratado da Esfera) as
informações de astronomia que enriquecem o poema.
Estrangeiras:Estrangeiras:
Epopeias clássicas (Ilíada; Odisseia; Eneida); Epopeias clássicas (Ilíada; Odisseia; Eneida); Fastos; Metamorfoses; Geórgicas ( sugerem-lhe a dedicatória Fastos; Metamorfoses; Geórgicas ( sugerem-lhe a dedicatória
que não existia nas outras);que não existia nas outras); Orlando Innamorato, de Boiardo;Orlando Innamorato, de Boiardo; Orlando Furioso; de Ariosto – que lhe fornece a rima em Orlando Furioso; de Ariosto – que lhe fornece a rima em
oitavas;oitavas; Divina Comédia;Divina Comédia; Bíblia;Bíblia; História de muitos povos orientais;História de muitos povos orientais; Obras de natureza filosófica e científica;Obras de natureza filosófica e científica; Obras de Garcia da Horta;Obras de Garcia da Horta; Obras de Ptolomeu;Obras de Ptolomeu; ……/…/…
LUSÍADAS - CANTO PRIMEIRO LUSÍADAS - CANTO PRIMEIRO 11
As armas e os barões assinaladosAs armas e os barões assinaladosQue da Ocidental praia Lusitana,Que da Ocidental praia Lusitana,Por mares nunca dantes navegadosPor mares nunca dantes navegadosPassaram ainda além da Taprobana,Passaram ainda além da Taprobana,Em perigos e guerras esforçadosEm perigos e guerras esforçadosMais do que prometia a força humana,Mais do que prometia a força humana,E entre gente remota edificaramE entre gente remota edificaramNovo Reino, que tanto sublimaram;Novo Reino, que tanto sublimaram;
Influência de Virgílio"Eneida“
Arma uirumque cano, Troae qui primus ab oris Ital iam, fato profugus, Lauiniaque uenit Litora; multum il le terris iactatus et alto Vi Superum, saeuae memorem Iunonis ob iram; Multa quoque et bello passus, dum conderet
urbem, Inferretque deos Latio: genus unde Latinum, Albanique patres, atque altae moenia Romae.
Tradução:
Canto as armas e o varão, o primeiro que, das plagas troianas,perseguido pelo destino, aportou à Itál ia e às praias de Lavínio,tão acossado cm terra e mar pelo poderdos deuses das alturas, devido à ira desperta de Juno cruel,e sofreu também muito na guerra, até fundar a cidadee trazer os deuses para o Lácio. Daí vem a raça latina,os nossos pais Albanos e da alta Roma as muralhas. (I, 1-7)
Estrutura externa
10 cantos10 cantos (com número variável de estrofes) 1102 estrofes Oitavas Versos decassílabos heróicos Esquema rimático abababcc (rimas cruzadas, nos
seis primeiros versos, e emparelhada, nos dois últimos).
CantoCanto N.º estânciasN.º estâncias AssuntosAssuntosII 106106 Proposição, Invocação, Dedicatória,
Narração da viagem Moçambique-Melinde
IIII 113113 Narração da viagem Moçambique-Melinde
IIIIII 143143 Estadia em Melinde e narração da História de Portugal IVIV 104104
VV 100100 Narração da viagem Belém – Melinde
VIVI 9999 Narração da viagem Melinde - Calecut
VIIVII 8787Estadia na Índia
VIIIVIII 9999IXIX 9595 Regresso e estadia na Ilha dos
Amores
XX 156156 Estadia na Ilha dos Amores, Regresso a Portugal e invectiva a D. Sebastião
Estrutura internaEstrutura interna
Camões respeitou com bastante fidelidade a estrutura Camões respeitou com bastante fidelidade a estrutura clássica da epopeia. N’ clássica da epopeia. N’ Os LusíadasOs Lusíadas são claramente são claramente identificáveis quatro partes.identificáveis quatro partes.
ProposiçãoProposição — O poeta começa por declarar aquilo — O poeta começa por declarar aquilo que se propõe fazer, indicando de forma sucinta o assunto que se propõe fazer, indicando de forma sucinta o assunto da sua narrativa; propõe-se, afinal, tornar conhecidos os da sua narrativa; propõe-se, afinal, tornar conhecidos os navegadores que tornaram possível o império português navegadores que tornaram possível o império português no oriente, os reis que promoveram a expansão da fé e do no oriente, os reis que promoveram a expansão da fé e do império, bem como todos aqueles que se tornam dignos de império, bem como todos aqueles que se tornam dignos de admiração pelos seus feitos.admiração pelos seus feitos.
InvocaçãoInvocação — O poeta dirige-se às Tágides (ninfas — O poeta dirige-se às Tágides (ninfas do Tejo), para lhes pedir o estilo e eloquência do Tejo), para lhes pedir o estilo e eloquência necessários à execução da sua obra; um assunto tão necessários à execução da sua obra; um assunto tão grandioso exigia um estilo elevado, uma eloquência grandioso exigia um estilo elevado, uma eloquência superior; daí a necessidade de solicitar o auxílio das superior; daí a necessidade de solicitar o auxílio das entidades protectoras dos artistas.entidades protectoras dos artistas.
DedicatóriaDedicatória — É a parte em que o poeta oferece a — É a parte em que o poeta oferece a sua obra ao rei D. Sebastião. A dedicatória não fazia sua obra ao rei D. Sebastião. A dedicatória não fazia parte da estrutura das epopeias primitivas; trata-se de parte da estrutura das epopeias primitivas; trata-se de uma inovação posterior, que reflecte o estatuto do uma inovação posterior, que reflecte o estatuto do artista, intelectualmente superior, mas social e artista, intelectualmente superior, mas social e economicamente dependente de um mecenas, um economicamente dependente de um mecenas, um protector.protector.
NarraçãoNarração — Constitui o núcleo fundamental da — Constitui o núcleo fundamental da epopeia. Aqui, o poeta procura concretizar aquilo que se epopeia. Aqui, o poeta procura concretizar aquilo que se propôs propôs
Estrutura da narração
A narração d’ Os Lusíadas tem uma estrutura muito complexa, o que decorre dos objectivos que o poeta se propôs. Desenvolve-se em quatro planos diferentes, mas estreitamente articulados entre si.
Plano da viagem A acção central do poema é a
viagem de Vascoviagem de Vasco da Gamada Gama. No entanto, tratava-se de um
acontecimento relativamente recente e historicamente documentado. Para manter a verosimilhança, o poeta estava obrigado a fazer um relato relativamente objectivo e potencialmente monótono, o que constituía um perigo fatal para o seu projecto épico. Daí que Camões tenha sentido a necessidade de introduzir um segundo nível narrativo.
Plano mitológico
Camões imaginou um conflito entre os deuses pagãos: Baco opõe-se à chegada dos portugueses à Índia, pois receia que o seu prestígio seja colocado em segundo plano pela glória dos portugueses, enquanto Vénus, apoiada por Marte, os protege.
O recurso aos deuses pagãos é mais uma forma de o poeta engrandecer os feitos dos portugueses.
Plano da História de Portugal
O objectivo de Camões era O objectivo de Camões era enaltecer o povo português e não enaltecer o povo português e não apenas um ou alguns dos seus apenas um ou alguns dos seus representantes mais ilustres. Não representantes mais ilustres. Não podia por isso limitar a matéria podia por isso limitar a matéria épica à viagem de Vasco da épica à viagem de Vasco da Gama. Tinha que introduzir na Gama. Tinha que introduzir na narrativa todas aquelas figuras e narrativa todas aquelas figuras e acontecimentos que, no seu acontecimentos que, no seu conjunto, afirmavam o valor dos conjunto, afirmavam o valor dos portugueses ao longo dos tempos. portugueses ao longo dos tempos. E fê-lo, recorrendo a duas E fê-lo, recorrendo a duas narrativas secundárias, inseridas narrativas secundárias, inseridas na narrativa da viagem, cujo na narrativa da viagem, cujo narrador é o poeta.narrador é o poeta.
Plano das considerações do poeta
Por vezes, normalmente em Por vezes, normalmente em final de canto, a narração é final de canto, a narração é interrompida para o poeta interrompida para o poeta apresentar reflexões de carácter apresentar reflexões de carácter pessoal sobre assuntos diversos, pessoal sobre assuntos diversos, a propósito dos factos narrados.a propósito dos factos narrados.