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IN T E R A ES DI G I T A IS USOS SO C I A IS D A IN T E RN E T E
M
PE RSPE C T I V A E T N O G R F I C A
Aluna: Rebeca Herval O r ientadora: Adr iana Braga
Resumo: A dinmica comunicacional estabelecida nos ambientes
interacionais das redes sociais foi analisada. Em particular,
buscamos discutir as formas especficas com as quais arranjos
interacionais se organizam, e como as relaes de pertena e
reconhecimento se estabelecem. Os dados so oriundos das interaes no
mbito dos ambientes digitais, de encontros presenciais, entrevistas
pessoais e gravaes em vdeo de interaes entre participantes e a
tecnologia comunicacional em situaes de uso. A perspectiva da
Ecologia das Mdias e a aplicao de conceitos da Anlise do Discurso,
das teorias da Interao Social e da Etnometodologia, possibilitam
identificar categorias interacionais e discursivas, descritas e
analisadas.
Introduo
O foco terico desta pesquisa centra-se no estudo da interao
ocorrente no
ambiente da Internet, desde uma perspectiva ecolgica da mdia. O
termo ecologia da
mdia (media ecology) foi originalmente definido por Neil Postman
em 1970 (apud
Strate, 2003, p. 19) como o estudo da mdia como ambientes.1
Walter Ong (2002)
destaca que, com a exploso de informao que marca a poca atual, a
conscincia das
inter-relaes de todas as coisas da vida e das estruturas do
mundo em torno de ns
tornou possvel o estabelecimento de relaes precisas e elaboradas
entre realidades e
particularidades especficas com outras realidades no universo e
ambiente humanos.
Esse autor considera que, dado o intensivo e detalhado
conhecimento atual do universo
interconectado e sua histria evolutiva, vivemos no que poderia
ser chamado de era
ecolgica.Logan(2002)creditaoinciodaperspectivaecolgicadamdiasacepes
mcluhanianas, pioneiras na preocupao com o papel dinmico da mdia
e da tecnologia
1 Traduo pessoal. Nooriginal,...the study of media as
environments.
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nos ambientes econmico, poltico, social e cultural.2 Nesse
sentido, a perspectiva
ecolgica da mdia agrega como aspectos da comunicao os estudos da
mdia, da
tecnologia e da linguagem, e a interao entre esses trs domnios,
entendidos como um
ecossistema (Logan, 2002).
Este estudo buscou investigar as interaes ocorrentes a partir
dos
ambientes de Internet estabelecido em torno das redes sociais. O
objetivo central
consiste em descrever e analisar aspectos da dinmica
interacional estabelecida nestes
ambientes. Em termos mais especficos, pretendo discutir as
formas particulares com as
quais arranjos interacionais se organizam, bem como as relaes de
pertena e
reconhecimento entre participantes, luz de teorias da enunciao e
da interao social.
A partir da noo de sociabilidade, que poderia ser definida
brevemente como uma
forma autnoma, esttica e ldica da sociao (Simmel, 1983),
procurei caracterizar este
ambiente de mdia como locus privilegiado do encontro entre
cultura miditica, prticas
sociais e tecnologia computacional.3
Ambientes Digitais e Identidades: j ustificativa
A problemtica que norteia este estudo parte da compreenso das
redes
sociais, fenmeno miditico expressivo surgido na ltima dcada,
como ambientes
especficos possibilitados pelo suporte tcnico e seus usos, que
originam prticas sociais
peculiares. Acredito que essas interaes verbais tecnologicamente
mediadas podem ser
pensadas como um interessante ponto de partida para investigar a
relao entre
tecnologias da informao e interao social na
contemporaneidade.4
As fontes de sentido da vida social so diversas, originadas de
campos
sociais distintos. As mdias, tomadas como uma dessas fontes,
realizam uma ao
significante nos processos identitrios nos nossos dias. As
mdias, entendidas como
importantesdispositivosdesocializao,deintegraosocialedereproduocultural
(Esteves, 2000, p. 26) podem ser consideradas agentes ativas no
processo de
constituio das identidades sociais. 2 Entretanto, McLuhan
recebeu crticas severas por propor uma teoria miditica incapaz de
articular satisfatoriamente a relao entre mdia, poder e comrcio. 3
Peculiaridades diversas da sociao online tm sido objeto de
pesquisas recentes no campo da Comunicao, como as de Gomes (2001),
Lemos (1998) e Martins (2003), entre outros. 4 Sobre a relao entre
tecnologia e gnero, ver Paglia (1992).
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Os grupos pesquisados so compostos na sua maioria por pessoas de
classe
mdia, que lidam com o computador diariamente, usurios/as leigos
dessa tecnologia.
As possibilidades proporcionadas por essas tecnologias delineiam
um fenmeno
histrico emergente que assinala uma tendncia, e que demanda
compreenso. A
considerar a implementao constante de programas e campanhas de
alfabetizao,
escolaridade, busca de soluo para a problemtica de acesso,
incluso digital nas
escolas e periferias, as prticas sociais realizadas pelos grupos
observados apontam para
uma perspectiva de crescimento exponencial, mesmo que hoje essas
pessoas ainda
possam ser tomadas como uma elite privilegiada.
Objeto e Problema de Pesquisa
O fenmeno que este estudo se prope a investigar se refere a
uma
atualizao contempornea especfica, o uso social das tecnologias
computacionais
recentes por grupos em interao.
As atividades on-line esto inseridas em condies prticas de
uso,
utilizando-se de recursos de outros contextos interacionais em
combinaes especficas
de acordo com a demanda do caso de uso em questo. Tais
atividades no parecem
substituir atividades tradicionais, mas funcionar como seus
complementos ou
transformaes. Vrios aspectos da conversao oral-auditiva podem
ser identificados
na CMC; entretanto, outros modelos podem compor essa atividade
especfica, como
escritura de cartas, telefonema, conversao presencial, etc.
Nesse sentido, o material
em exame aponta para a necessidade de observao do modo peculiar
de expresso
verbal nesses ambientes, buscando compreender a especificidade
dessa cultura
comunicacional feita de textos escritos a partir do modo pelo
qual participantes
interagem.
A forte dimenso interacional do fenmeno observado aponta para
a
necessidade de complementar a anlise do discurso de
participantes com uma
abordagem de cunho etnogrfico, visando a compor um aparato que
possa captar com
maior preciso e abrangncia a complexa a relao interacional
estabelecida. Assim,
sero examinadas transcries de entrevistas realizadas com
informantes
selecionados/as, anotaes feitas a partir da participao nos
encontros promovidos
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periodicamente por participantes, interaes verbais encontradas
nas mais variadas
redes sociais, e ainda, o contedo de um dirio de campo
etnogrfico.
Quadro Terico de Referncia Especificidades da atividade
on-line
Buscando lidar com um objeto de natureza tecnolgica, preciso
evitar
tanto a tentao do determinismo quanto da negao que este tipo de
objeto suscita. A
abordagem de Ong (1998) apresenta um meio termo sensato, que, a
partir de uma
perspectiva histrica, realoca a oralidade no lugar de
originadora da cultura escrita. A
escrita, considerada como tecnologizao da palavra, por estar to
incorporada ao
prprio pensamento humano, tem sua forma e organizao tomadas como
bvias,
dadas.5 As semelhanas e diferenas entre oralidade e escrita,
entretanto, apontam
aspectos interessantes de subculturas de sociedades de cultura
escrita de alto grau como
a nossa, onde fragmentos de oralidade podem ser identificados,
revelando aspectos de
grande interesse de estudo. Na passagem da fala para a escrita,
opera-se um desvio do
universo sonoro para o espao visual (Ong, 1998, p. 135). Nesse
sentido, observa-se no
LV um modo frequente e curioso de expresso, registros por
escrito com ritmo e
expressividade caractersticos de formas basicamente orais.
Este uso subversivo da lngua culta aquela dos documentos
formais
reitera o distanciamento eletivo do mundo do trabalho, e a
consequente adeso ao
descompromisso prprio da sociabilidade. Uma distino importante
ressaltada por
Ong com relao escrita e oralidade, e parece se aplicar aos dados
de campo:
A escrita e a leitura diferem da oralidade, em termos de
ausncia: o leitor est normalmente ausente quando o escritor
escreve, e o escritor est normalmente ausente quando o leitor l, ao
passo que, na comunicao oral, fal ante e ouvinte esto presentes, um
diante do outro (Ong, 1998, p. 191).
Para Ong, uma das diferenas operadas pelo surgimento da escrita
com
relao cultura oral foi a introduo de um tipo de reflexo analtica
at ento
inexistente. Livre da obrigatoriedade da presena fsica do outro
e da concomitante
necessidade do improviso demandado pela cultura oral, a cultura
escrita permite tempo
para reflexo, para escolher as melhores palavras. Com isso,
ganha-se em preciso
5 Entretanto, a experincia proporcionada pelos meios de
comunicao tem influenciado a auto-identidade e a organizao das
relaes sociais desde a primeira experincia da escrita (Giddens,
2002, p. 12).
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verbal, mas perde-se um pouco em espontaneidade. Em nossa poca
de oralidade
secundria oralidade ps-tecnologia da escrita , a promoo da
espontaneidade se d
atravs da reflexo analtica operada pela escrita: decide-se que
conveniente ser
espontneo (Ong, 1998, p. 155).
Assim, a introduo de uma nova tecnologia em dada cultura implica
uma
reorganizao desta nos mais diversos nveis, promovendo novo
repertrio de palavras,
novas prticas sociais, novos protocolos de interao, nova viso de
mundo. A partir
disso, no se tem a cultura mais a nova tecnologia, mas outra
cultura. Nos termos de
NeilPostman,amudanatecnolgicanonemaditivanemsubtrativa.ecolgica.
Refiro-meaecolgicanomesmosentidoemqueapalavrausadapeloscientistasdo
meio ambiente. Uma mudana significativageraumamudana total
(Postman,1994,
p. 27).6
O computador pode ser usado como ferramenta, quando realiza
tarefas
como processamento de texto, gerenciamento de base de dados, bem
como meio de
comunicao, quando usado para a comunicao interpessoal atravs da
rede de
computadores. Enquanto a tecnologia mera mquina, na medida em
que utilizada
para o uso de um cdigo simblico e estabelece-se em certo espao
social, torna-se
meio, isto , um ambiente social e intelectual criado pela mquina
(Postman, 1985). A
interao estabelecida entre usurios/as cria o ambiente de mdia,
esse novo espao
intelectual e social denominado ciberespao.
A ideia de usar computadores como meio de comunicao foi
introduzida
por J.C.R. Licklider e Robert Taylor, em 1968 (Barnes, 2003), e
forneciam as ideias
conceituais para o desenvolvimento da Internet: i) redes de
comunicao so mais que
enviar e receber informao de um ponto a outro, os agentes so
participantes ativos que
tm papel central no processo comunicativo; ii) comunicao um
processo de reforo
mtuo, que envolve criatividade; iii) o computador digital um
meio flexvel, interativo
que pode ser utilizado para a comunicao humana cooperativa; iv)
a comunicao
baseada em computadores exige um enquadramento comum da
situao.
A tecnologia digital, em rede, permite que as pessoas distribuam
mensagens
rapidamente pelo mundo, estendendo o alcance da comunicao
humana. Nesse
6 Como exemplos, pode-se pensar nas alteraes promovidas na
cultura com a introduo da escrita, da imprensa e do telefone.
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movimento, amplia-se o espao de acolhimento e visibilidade da
expresso individual
ou interesses de grupos especficos. Entretanto, importante
ressaltar que este mesmo
movimento, que promove a democratizao deste espao, entendido
como espao
pblico, tem como para-efeito uma banalizao e desconfiana com
relao a grande
parte do volume dos contedos publicados nestes ambientes. Pginas
na web so criadas
por uma variedade de indivduos e organizaes, tornando
indispensvel uma avaliao
das informaes veiculadas quanto exatido, autoridade,
objetividade, segurana e
atualidade por parte de quem as utiliza. Se a informao ali
livre, tambm duvidosa.
possvel observar em vrias instncias da Internet a utilizao deste
espao apenas
como uma possvel via de acesso s mdias tradicionais, que possuem
a legitimidade
pretendida pelos/as autores/as.
Em 1999, o lanamento de sistemas de criao e hospedagem gratuita
de
pginas pessoais baseadas na web, possibilitou que usurios/as que
no dominavam o
script HTML (hipertext markup language), recurso bsico para a
criao de websites,
criassem seus blogs, fenmeno que registra crescimento
exponencial.
O blog um website pessoal ou coletivo, na maioria dos casos, sem
fins
comerciais, que mantm arquivos de registros datados e
atualizados regularmente. Os
blogs veiculam contedos que expressam a opinio dos/as autores/as
sobre os temas
tratados em ordem retrospectiva, baseia-se em independncia e
partilhamento,
geralmente, com livre acesso. A maioria dos blogs disponibiliza
um espao de
interao, de debate, de arena pblica, onde visitantes podem
deixar seus
comentrios, criticar, interagir com o/a blogueiro/a, e com os/as
demais visitantes. Os
blogs geralmente oferecem uma lista de indicao com l inks
internos e externos que
apontam para posts de arquivo, outros blogs recomendados e
contedos que guardam
afinidade com o tema de interesse do grupo.
Interao Social e Apresentao do Self na C ibercultur a
Desde a criao de interfaces simplificadas para veiculao de
contedos
on-line, os ambientes de Internet passaram a ser largamente
utilizados por usurios/as
no especializados/as como meio de expresso individual e
coletiva, operando como um
espao social para apresentaes do se lf, onde so veiculadas
representaes de
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identidade e de individualidade, em uma dinmica anloga ao que
Goffman (1998)
denominagerenciamentodaimpresso(impression management).
Os indivduos se agregam a partir de interesses e necessidades
que definem
contedos especficos. Mas para alm desses contedos, o fato de se
sentirem sociados
provoca satisfao em seus membros, a formao daquela sociedade
como tal em si
um valor. O puro processo de sociao, a forma desse processo ,
assim, um valor
esttico socialmente apreciado. Sendo assim, a sociabilidade
(Simmel, 1983) evita
atritos com a realidade, de modo que os motivos da sociao,
implicados na vida
prtica, no tm importncia neste contexto interacional. Ponto
semelhante
desenvolvido por Goffman, para quem a maior parte da interao
social cotidiana
possibilitada pelo engajamento comum e voluntrio dos
participantes no que ele chama
deconsensooperacional(Goffman,1998),umaespciedeconcordnciasuperficial,
onde cada participante abstrai suas posies pessoais em prol de
uma definio da
situao compartilhada por todos:
A conservao desta concordncia superficial faci litada pelo fato
de cada participante ocultar seus prprios desejos por trs de
afirmaes que apiam valores aos quais todos os presentes se sentem
obrigados a prestar falsa homenagem. (...) Os participantes, em
conjunto, contribuem para uma nica definio geral da situao, que
implica no tanto num acordo real quanto s pretenses de qual pessoa,
referentes a quais questes, sero temporariamente acatadas, haver
tambm um acordo real quanto convenincia de se evitar um conflito
aberto de definies da situao. Referir-me-ei a este nvel de
acordocomoumconsensooperacional(Goffman,1998,pp.18-19).
Mesmo com toda a mediao tecnolgica, a interao no LV parece
no
prescindir do encontro presencial. Por vezes, frequentadoras
efetivamente promovem
encontros presenciais, mais aos moldes da sociabilidade descrita
por Simmel. Os
encontros so concebidos, planejados e comentados no ambiente dos
blogs, e
documentados por participantes. Nesse caso, as relaes mediadas
pelas tecnologias
participam do contexto da interao, e a propsito dela: blog + bar
+ e-mail + MSN +
celular + fotografia digital + fotolog + lista de discusso
restrita + Orkut + Facebook +
Twitter. Esta espcie de interao, assemelhada de um clube,
associao de interesses
compartilhados, utiliza as mdias disponveis de modo
complementar, a servio da
interao.
Se por um lado, a teorizao de Goffman sobre a ordem da interao
face a
face parece se aplicar muito bem ao objeto sob investigao, por
outro, os dados
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apontam tambm diferenas importantes. Goffman considera que h
duas espcies de
expressividade do indivduo, atividades radicalmente diferentes e
igualmente
significativas: a expresso transmitida, ligada linguagem verbal
e
intencionalidade, e a expresso emitida, que inclui os gestos,
olhares, suores, sorrisos
ou expresses faciais, permitindo inferncias nem sempre
controladas pelo indivduo.
No caso do weblog, h menos elementos de emisso de expresso,
somente aqueles
veiculveis por forma verbal erros de portugus, por exemplo
havendo uma
preponderncia da informao deliberadamente transmitida. Isso traz
conseqncias ao
tipo de interao que se estabelece. Relativamente livres da
expressividade via emisso,
os sujeitos encontram menos obstculos ou obstculos de outra
ordem em tentar
manejar a impresso causada nos outros atravs de pseudnimos,
nicknames, tentativas
de controle com relao informao fornecida.
Segundo Goffman (1998), um indivduo, ao se apresentar diante de
outros,
pode agir de vrias maneiras com relao ao que esses outros
esperam dele. O processo
de apresentao de si no contexto dos blogs se d de diversas
maneiras; no obstante,
alguns padres podem ser identificados. A temtica proposta pelo
blog geralmente
participa do contedo das mensagens de entrada em cena no
ambiente, mas no
necessariamente. O elemento que garante reconhecimento e
pertencimento ao grupo o
elogio, padro de entrada mais recorrentemente encontrado. O
elogio ao espao e
iniciativa geralmente bem recebido e respondido pelo grupo.
Entretanto, outros
padres se observam, os quais denominei no-elogio e crtica
(Braga, A., 2005) O
no-elogio, que pode ser um pedido de informao, uma dica ou
comentrio, geralmente
respondido com hospitalidade ou simplesmente no respondido. As
crticas tm como
resposta o ostracismo, a ironia ou a agressividade.
O ambiente dos blogs tambm apresenta caractersticas de
interao
diferenciadas daquelas apresentadas pela sociabilidade, deixando
perceber o
desenvolvimento de outra forma de sociao, o conflito. A
importncia sociolgica do
conflito (kampf) problematizada por Simmel (1983) de forma
original. Enquanto
admite-se que o conflito modifique ou at produza grupos de
interesse, o autor se
pergunta se o conflito, independente de qualquer fenmeno do qual
resulte ou
acompanhe, , em si mesmo, uma forma de sociao. Apesar do
conflito ser motivado
por fatores de dissociao, tambm um modo de se conseguir algum
tipo de unidade.
Assim, o conflito pode ser visto como algo positivo, na medida
em que ambas as formas
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de relao, a divergente ou a convergente, se diferenciam
fundamentalmente da
indiferena entre indivduos ou grupos, que seria nesse sentido
puramente negativa.
da divergncia de nimos e direes de pensamentos que fluem a
estrutura orgnica e a
vitalidade do grupo. Ao contrrio do que pode parecer, unidade e
discordncia so tipos
de interao que no se anulam, mas se somam; e mesmo que a
discordncia possa ser
destrutiva em relaes particulares, no tem necessariamente o
mesmo efeito no
relacionamento total do grupo, podendo at ter um papel
inteiramente positivo nesse
quadro mais abrangente. As hostilidades preservam limites no
interior dos grupos e
muitas vezes garantem suas condies de sobrevivncia. O direito e
o poder de rebeldia
contra tiranias, arbitrariedades, mau-humor contribui para a
manuteno da relao com
pessoas cujo temperamento no poderia ser suportado de outra
forma.
Entre os pontos caractersticos da sociabilidade, Simmel destaca
tambm
sua natureza democrtica, uma espcie de toma l, d c, onde cada
participante
oferece valores sociais ao ambiente (alegria, realce) na mesma
proporo com que
recebe. Eliminado o que pessoal e objetivo, a sociabilidade cria
um mundo
sociolgicoideal(Simmel,1983,p.172),ondeoprazerdoindivduoestimplicadono
prazer dos outros. Esta espcie de clube criado a partir desta
interao especfica, que se
manifesta como um campo finito de significao (Schutz, 1962),
desvinculado dos
assuntos srios e objetivos, aparece frequentemente nos materiais
do LV.
Desta maneira, na sociabilidade, a conversa o propsito em si, a
conversa
a realizao de uma relao ldica, que s quer ser relao. Enfim,
talvez seja
interessante para justificar a investigao sobre esse tipo de
material, a aproximao que
Simmel fazda sociabilidade,exatamentepor suadistnciade
suarealidadeimediata,
pode revelar a natureza mais profunda desta realidade, de
maneira mais completa,
consistente e realista que qualquer tentativa de
apreend-lamaisdiretamente(Simmel,
1983, p. 180). A considerar o relaxamento dos papis formais
desempenhados em outras
situaes interacionais, os momentos de sociabilidade tornam-se
mais propensos ao
fluxo de contedos espontneos, ntimos ou inconscientes, informaes
talvez mais
facilmente protegidas em situaes srias.
Mtodo
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Neste momento busco situar os conceitos citados acima visando
apontar a
pertinncia da articulao entre eles para o objeto de pesquisa e
objetivos deste estudo.
Na construo terica e metodolgica para a anlise, alguns
conceitos
procedentes de contextos e escolas diferentes, tornam-se
operacionais para guiarem a
investigao. Para os fins deste estudo, considero que dois destes
conceitos esto
intimamente articulados, a saber, interao social (Goffman, 1999)
e enunciao
(Benveniste, 1989). Estes conceitos foram produzidos em
contextos bem distintos. A
noo de interao social foi pensada no mbito da Escola de Chicago,
visando a dar
conta dos processos de trocas simblicas entre os/as
participantes de uma situao
social; o conceito de enunciao refere-se a uma dimenso
descritiva dos modos atravs
dos quais se elaboram discursos.
Por sobre os elementos mais palpveis do blog os posts, links,
layout e
espao de comentrios
possvelperceberoquepoderiaserchamadodeumateoria
do grupo, um conjunto de princpios, valores e interpretaes sobre
os eventos.
Negociaes de sentido realizadas por interaes de modo dinmico,
que negociam os
termos a partir de perspectivas e mtodos prticos de
enfrentamento de situaes
concretas e posicionamentos das/os participantes da interao.
Estas perspectivas e
posies so afirmadas e registradas atravs de discursos que se
materializam em textos
escritos.Ostrabalhossobreosdiscursospressupemqueestesjtrazememsimarcas
que revelam aspectos do funcionamento do sistema social e da
cultura dentro da qual
foram gerados, ainda que, muitas vezes, o/a enunciador/a no o
pretenda (Fausto Neto,
1991).
Assim, fragmentos de definies de situao aparecem como tpicos
de
debate nos discursos, seguidos de outros posicionamentos
relativos, estruturando o que
chamei de thread (termo tomado da metodologia desenvolvida por
Rutter & Smith,
2002, que se refere a um conjunto de comentrios motivados por
dado assunto em
interaes on-line), unidade de anlise descrita abaixo. O thread,
assim, se mostra como
resultante de um duplo ordenamento: sujeito ordem do discurso
(na sua dimenso
poltica de negociao de significados), e ordem da interao (na sua
dinmica de
apresentao do self das/os participantes). Desta maneira,
acredito que a articulao
entre enunciao e interao social resulta produtiva para
operacionalizar a leitura do
complexo processo interacional sob exame.
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O contexto discursivo das redes sociais pode ser pensado como um
front de
lutas por definies de realidade, e nessa transao de falas
(Mouillaud, 1997) que
produz os sentidos, significados de toda ordem disputam espao de
legitimidade. No
entrecruzamento de pressupostos, cultura de consumo, saberes
tradicionais, ideais de
movimentos sociais organizados e relaes histricas de poder,
definies de situao
so propostas, negociadas e transformadas no mbito da constituio
desses discursos.
Este tipo de operao discursiva constitui um dos aspectos a ser
analisado neste estudo.
Netnografia: possibilidades e limites da observao no-part
icipante7
Nas relaes interpessoais face a face, por telefone e assim por
diante, as
pessoas sabem como agir visando determinada impresso no interior
de seu grupo de
convivncia cotidiana. Mesmo que nenhuma regra esteja formalmente
codificada, existe
uma regulao tcita que cria expectativas de prticas sociais entre
os indivduos. A
CMC, por sua incipincia, demanda dos/as participantes das
interaes neste contexto
certa improvisao diante de situaes no vividas. Sendo assim,
adapta-se modelos de
outros contextos de interao para experimentar e ao mesmo tempo
criar as regras para
as relaes ocorrentes neste ambiente especfico. Assim, os padres
de expresso
praticados nesses ambientes no deixam de estar submetidos ao
controle social das/os
participantes da interao. A possibilidade do anonimato, por
exemplo, pode funcionar
simultaneamente como estmulo para vnculos de amizade e
intimidade, bem como para
a agressividade e desrespeito ao outro.
Para o exame das trocas sociais ocorrentes no ambiente digital,
uma
aproximao caso a caso busca o refinamento da reflexo sobre os
objetos
comunicacionais emergentes a partir de sua natureza prtica mais
que terica. Ao se
afastar das prticas interativas vividas pelos sujeitos, corre-se
o risco de produzir uma
teoria estipulativa que se baseia na potencialidade oferecida
pela tecnologia disponvel
na Internet como meio de comunicao e no em seus usos
concretos.
O neologismo netnografia (nethnography = net + ethnography)
foi
originalmente cunhado por um grupo de pesquisadores/as norte
americanos/as, Bishop,
Star, Neumann, Ignacio, Sandusky & Schatz, em 1995, para
descrever um desafio
7 Uma verso preliminar deste tpico foi publicada na UNIrevista,
v. 1, n. 3 (Braga, 2006)
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metodolgico no trato com esses materiais: preservar os detalhes
ricos da observao e
campoetnogrficousandoomeioeletrnicoparaseguirosatores.
No clssico livro A Interpretao das Culturas, de 1973, Geertz se
posiciona
entre aqueles que se preocupam com a limitao, com a especificao
do conceito de
cultura, visando reduzi-lo a uma dimenso justa que garanta a
continuao de sua
pertinncia. Para substituir a teorizao de seus antecessores que
concebiam inmeras e
amplas definies para o conceito, o autor defende um conceito de
cultura semitico.
Partindo da proposio de Max Weber, segundo a qual o homem um
animal
amarrado a
teiasdesignificadosqueelemesmoteceu,aculturaseriaessasteiasesua
anlise(Geertz,1978,p.15),demandandoassimumacinciainterpretativaembusca
do significado.
A tcnica etnogrfica foi concebida e historicamente aplicada a
grupos
sociais em interao face a face com o/a etngrafo/a, que fazia da
sua experincia uma
fonte de dados. O modo peculiar de interao ocorrente na CMC de
alguma forma
uma novidade, que traz desafios metodolgicos aplicao desta
tradicional tcnica de
pesquisa, tornando necessrio ajustar alguns pressupostos da
etnografia a esse novo
objeto, de que somos testemunhas e agentes em sua confeco.
Em termos metodolgicos, a etnografia se funda na noo de
observao
participante, visto ser impossvel, em situaes face a face, uma
observao no-
participante. Ora, os ambientes interacionais da CMC
caracterizam-se pela ausncia
fsica das/os visitantes, sendo possvel tornar-se invisvel.8
Sendo assim, possvel
apreender a cultura de um grupo somente observando?
possvelumaobservaono-
participante?
A condio que possibilita o ofcio do/a etngrafo/a a imerso e
a
experincia da efetiva participao no ambiente pesquisado. Este
ofcio inclui participar,
observar, descrever: categorias que formam a unidade do fazer
etnogrfico. Ento,
lurking participao? Essa especificidade o objeto central desse
questionamento
metodolgico. A observao participante on-line uma participao
peculiar, na medida
8 Tal prtica denominada lurking, literalmente, ficar
espreita.
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em que, em termos de presena/ausncia, a informao acerca da
presena do/a
observador/a no sett ing no est disponvel s/aos demais
participantes.9
A partir de uma problematizao em torno das particularidades da
interao
em um ambiente baseado em texto, o newsgroup RumCom.local, dois
pesquisadores
ingleses, tendo optado pelo mtodo etnogrfico, relacionam as
vantagens da sua
aplicao ao ambiente on-line.
E tnografia online certamente um sonho do pesquisador. Ela no
implica em deixar o conforto de seu escritrio; no h complexos
privilgios de acesso para negociar; dados de campo podem ser
facilmente gravados e salvos para anlise posterior; um grande
montante de informao pode ser coletado rapidamente e sem custos10
(Rutter & Smith, 2002a , p. 3).
Os autores alertam para a importncia de o/a pesquisador/a estar
atento a
respeito de onde estamos estudando como etngrafos eletrnicos, na
medida em que,
como em uma ligao telefnica, as relaes estabelecidas na rede so
definidas por
atos de interao e comunicao, considerando que no h um lugar no
universo
virtual para alm da metfora (2002a, p. 4).
No estudo das aes sociais, a etnometodologia (Greiffenhagen
& Watson,
2005) trata do seu sentido como sendo situado e prtico, ou seja,
envolvendo um mbito
de consideraes prticas para o uso, o que Schutz (1962) chama de
atitude da vida
cotidiana.Taisatividadessocaracterizadasmaisporsuanaturezaprtica
que terica.
Assim, recomenda-se proceder atravs de anlise emprica adequada,
baseada caso a
caso.
Em termos metodolgicos, esta vertente da Sociologia trabalha com
a noo
de exigncia singular de adequao,11 uma competncia exigida do/a
analista na
atividade concernida. A competncia comum na atividade sob exame
pode evitar que
o/a analista descreva as atividades dos/as pesquisados/as de
forma estipulativa ou
focalize nas vicissitudes do/a novato/a. Ou seja, o que pode ser
familiar para os/as
9 importante ressaltar que a presena de lurkers possa ser
inferida atravs da discrepncia entre o nmero de acessos em relao ao
nmero de comentrios registrados, bem como pela possibilidade de
identificao dos provedores de origem dos comentrios oferecida pelos
contadores do website. Ou seja, esteja ou no presente, o/a
observador/a annimo/a sempre uma possibilidade. 10
Traduopessoal.Nooriginal:onlineethnographyissurelyaresesearchersdream.Itdoesnotinvolveleavingthe
conforts of your office desk; there are no complex access privi
leges to negotiate; fields data can be easi ly recorded and saved
for later analysis; large amounts of information can be collected
quickly and inexpensively. 11 Traduo pessoal. Nooriginal:unique
adequacy requirement .
-
participantes de uma interao especfica pode parecer estranho
para um/a
observador/a pouco competente no campo do fenmeno.
Os logfiles, produzidos atravs da prpria tecnologia da CMC,
muito
freqentemente so tomados como os dados da pesquisa, facilitando
os problemas de
coleta de material para anlise (Miller, 1995). Entretanto, h
muitos perigos nesta opo
metodolgica. Os logfiles apresentam uma vista area da interao
geral, ou seja, um
ponto de vista tpico do/a analista, no do/a participante da CMC,
uma instncia
corrente, em processo, alm de perder a possibilidade de capturar
como os/as
participantes estabelecem aquela interao ao longo do tempo. O
uso do computador
est implicado em atividades mais amplas da vida cotidiana, a
comunicao
estabelecida por esse meio pode ter outro objetivo alm da
comunicao em si, desta
forma a dependncia exclusiva dos logfiles envolve uma
descontextualizao que
arrisca no permitir que o fenmeno seja percebido propriamente.
Assim, h uma
tentao de tratar os logfiles como independentes e priorizar
apenas os seus contedos,
removendo as especificidades da CMC. Nesse sentido, analistas
que tomam os logfiles
como nica fonte de dados poderiam ser caracterizados como o que
Roy Turner chamou
dearquelogos/as por
opo,analistasqueoptamporconsiderarapenasfragmentose
traos de uma sociedade em suas anlises, quando a prpria
sociedade ainda est
disponvel (Greiffenhagen & Watson, 2005).
As possibilidades e limitaes das abordagens apontadas acima
evidenciam
a necessidade de, a cada pesquisa, desenvolver uma composio de
tcnicas que resulta,
em cada caso, num aparato metodolgico especfico naquilo que
Becker (1993)
denomina multimtodo. Como dito acima, os/as participantes da CMC
conduzem
suas atividades tendo como modelo recursos de vrias prticas
comunicacionais
anteriores, sendo uma delas a escrita em geral, concretizadas em
enunciados passveis
de ser analisados pelo aporte terico fornecido pela Anlise do
Discurso a
complementar o trabalho etnogrfico.
Se por um lado, o arquivo disponibilizado pela tecnologia da
Internet em
logfiles parece oferecer tudo o que se passa nas atividades da
CMC, o que parece
minimizar os problemas de coleta de dados, por outro, a utilizao
deste recurso como
nica fonte de dados pode tirar a oportunidade do/a analista de
perceber os sentidos
intersubjetivamente partilhados pelo grupo em exame.
-
Sistematizao dos Dados e Procedimentos Analt icos
O ambiente disponibilizado pela Internet no ocupado de forma
homognea, h muitas estruturas distintas. Das muitas aplicaes
disponveis, algumas
se estabelecem e permanecem, enquanto que outras formas de uso
dos recursos tcnicos
proporcionados caem em desuso. Entre os formatos que parecem ter
se estabelecido
com vigor, pode-se destacar o e-mail meio de comunicao em geral
pessoal e privado
, o website institucional e pblico , e, mais recentemente, o
instant messenger
pessoal, privado e sincrnico , e o blog, pblico e pessoal, ou
seja, espao pblico, mas
comdono.
O ponto de partida para a operacionalizao deste estudo consiste
em uma
coleo dos comentrios publicados nas redes sociais. A estes
dados, acrescentam-se
entrevistas presenciais, por telefone e instant messenger com
blogueiros/as e alguns
participantes, alm de observao participante em encontros
presenciais, experincias
registradas sistematicamente em um dirio de campo etnogrfico.
Estas opes visam a
ampliar a base emprica de dados para a compreenso do fenmeno
investigado em sua
complexidade, evitando os perigos de ter como nica fonte de
dados os registros
disponveis nos logfiles, como abordado acima.
O uso da mdia eletrnica como contexto para a apresentao do self
parece
acrescentar novas caractersticas e recursos para esta atividade.
A interao on-line
permite que a apresentao do self ocorra de vrias maneiras
diferentes. Para o exame
das representaes do self encontradas nesses ambientes, alguns
elementos se
apresentam como profcuos: descries pessoais, informao para
contato, l inks, letra de
msica, citaes, sinais de afiliao, testemunhos pessoais,
informaes correlatas e
ainda a chegada ao ambiente social sob investigao, matria da
primeira impresso
disponvel aos/s participantes da interao. Assim, a coleta dos
comentrios permite
analisar a formao e o processo de configurao de diferentes
aspectos desses espaos
interacionais, como os protocolos de entrada em cena de novos/as
participantes,
critrios de incluso/excluso/ostracismo de visitantes, princpios
formativos de
circuitos interacionais, alm do tratamento dado a temas
convergentes com a situao
social na contemporaneidade.
-
A unidade bsica de anlise para lidar com os numerosos dados
provenientes dos registros disponveis na rede consiste no
thread, um conjunto de
comentrios relativos a um mesmo tema, fenmeno
interacional/verbal tpico da
interao social na Internet, descrito por Rutter e Smith (2002a;
2002b). Em um thread,
as/os participantes alternam comentrios datados e numerados, em
uma espcie de
radicalizaodadinmicadeturnosde
fala(Schegloff,Sacks&Jefferson,1974)na
conversao face a face, na qual no h corte ou sobreposio de
falas, mas uma
sequncia numericamente configurada.
Assim, considero importante buscar, alm da diversidade dos
contedos
apresentados nos ambientes interacional da rede, os princpios
estruturantes que
fornecem ordem em meio ao fluxo(Smith,2004,p.51).Aestipulaodos
threads, a
observao de sua durao, frequncia e contedos para a organizao e
exame desses
dados em seu conjunto demonstram grande potencial analtico, uma
vez que no
confronto entre posies manifestas ao longo dos threads que a
negociao social dos
sentidos se realiza, tanto na ordem do discurso quanto na ordem
da interao, os dois
eixos principais desta investigao, visando a uma caracterizao
profunda das
modalidades de interao ocorrentes nesses ambientes.
-
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-
AN E X O
Relatrio de atividades
IN T E R A ES DI G I T AIS USOS SO C I AIS D A IN T E RN E T E M
PE RSPE C T I V A E T N O GR F I C A
Aluna: Rebeca Herval
O r ientadora: Adr iana Braga
Introduo
Esse trabalho uma sntese da minha colaborao como estagiria
da
pesquisadora Adriana Braga. O tema base a organizao e as relaes
dos arranjos
interacionais nod ambientes das redes sociais. As informaes
foram obtidas atravs de
pesquisas bibliogrficas e nas redes sociais, onde os grupos
pesquisados, compostos por
pessoas de classe mdia, que usam o computador com frequncia,
puderam participar. A
base terica gira em torno da perspectiva da Interao Social, da
Etnometodologia e a
aplicao de conceitos da Anlise do Discurso.
Objetivos
O objetivo central desse projeto descrever e analisar aspectos
da dinmica
interacional estabelecida entre participantes do ambiente da Web
2.0. Durante seu
estudo sobre blogs e ferramentas da web, como o Twitter, a
orientadora Adriana Braga
percebeu a necessidade de estudar as microcelebridades, annimos
no mundo real,
mas que so celebridades nos ambientes digitais. Estudou tambm
como a internet vem
mudando a recepo e consumo de informao por parte dos internautas
quanto os
Meios de Comunicao de Massa tradicionais.
M etodologia
-
O mtodo utilizado nas pesquisas foi a netnografia (nethnography)
- perspectiva
terico-metodolgica adaptada por Adriana Braga a partir da tcnica
etnogrfica
tradicional da Antropologia para o estudo de ambientes digitais,
cibercultura. Essa
tcnica inclui o contato face a face entre pesquisador e
pesquisado, mas aquele se insere
no dia-a-dia do grupo a ser estudado.
Personas M aterno-E letrnicas: feminilidade e interao no blog
Mothern
Nesse livro, que rendeu Adriana Braga apresentao no
Congresso
Internacional de Estudos Latino-Americanos, em Toronto, ela pode
observar o
desenvolvimento de duas publicitrias leigas quanto o blogs. O
livro um estudo
sobre como o Mothern foi planejado e realizado; narra a relao
das blogueiras com os
diferentes pblicos (outras blogueiras, pessoas como elas e,
posteriormente, com o
grande pblico, misto, com ideias e debates diversos das
originais) e diante dos mais
diferentes temas sobre maternidade, vida conjugal e domstica, na
contemporaneidade.
A imagem feminina foi relatada nas mais diversas sociedades, em
todos os
perodos histricos e em tecnologias tambm diversas. A
pesquisadora defendeu que a
possibilidade de mudana na representao feminina no esteja na
tecnologia, mas na
cultura que utiliza esta tecnologia para se expressar. Para ela,
as mudanas ocorrem na
cultura e a Internet forneceu um novo ambiente para as trocas
sociais, a web mais um
espao de expresso para a cultura j estabelecida pela
sociedade.
Foi possvel observar que o publico leitor do blog foi se
modificando com o
tempo. No primeiro momento, outras blogueiras visitavam e
participavam do Mothern.
Eram usurias acostumadas dinmica de manter um blog e, com isso,
sabiam ousar
nas temticas e sabiam argumentar, defender, os pontos de vista
pessoais. O segundo
momento foi datado quando o blog (e/ou as blogueiras)
passou(ram) a ser citado(as) nas
mdias de massa, como jornais e revistas. Tinham disposio para
discutir questes de
gnero e eram abertas a mudanas. Foi necessrio, criar uma lista
de discusso privada,
que no possibilita meios de localizao por sistemas de busca e
oferece privacidade
para, dentre outras coisas, discutir assuntos-tabu e polmicos. O
ltimo grupo foi
formado por pessoas originadas da mdia de massa mais ampla. A
falta de afinidade das
blogueiras com este pblico e a falta de atualizao frequente
fizeram com que a relao
leitora/blogueiras se aproximasse da de fs/dolos.
-
M icrocelebridades: entre meios digitais e massivos
O artigo foi publicado no peridico Contracampo, da Universidade
Federal
Fluminense e levantou o debate sobre o fenmeno
microcelebridades. Para esse
estudo, Adriana Braga recorreu, dentre outros autores, a Joseph
Walther, Susan Barnes e
Willian Thomas ao abordar o assunto Personas digitais e
discorreu sobre o termo criado
porela:microcelebridades,ouseja,personagenscomunsnomundoreal,masqueso
celebridades nas redes sociais, na Internet. A pesquisa se
baseou no fato dessas
microcelebridades sarem do universo online para aparecerem, com
muita frequncia,
os Meios de Comunicao de Massa tradicionais, em especial a
televiso. Os objetos de
estudo foram o blog Mothern, que foi reescrito para o formato de
seriado televisivo,
veiculado no canal de televiso cabo, GNT e a participao de uma
twiteira no
programa Big Brother Brasil 10, da Rede Globo. Para essa
pesquisa, eu colaborei com a
leitura da bibliografia e com a pesquisa de textos, imagens,
udios e vdeos publicados
por e sobre a Tesslia, antes, depois e durante a participao dela
no programa BBB10.
O problema principal desse estudo de Adriana Braga foi O que
acontece
quando as lgicas da produo miditica on-line se encontram com as
lgicas da
produomiditicademassa?.Epararesponder, ela recorreu, dentre
outros autores, a
Evering Goffman e sua analise sobre como uma pessoa age ao se
apresentar. A
pesquisadora trouxe essa questo de apresentao para os contextos
digitais e focou no
comportamento dos que se destacam no universo online, aqueles
que tm seguidores em
nmeros notveis e mantm sobre eles opinies valorizadas.
Por ser um espao pblico, ainda h desconfiana com relao aos
contedos
publicados, j que no h critrio para as publicaes e toda e
qualquer pessoa livre
para produzir e veicular informao. por isso que fundamental uma
avaliao de
cada dado, principalmente quanto exatido, autoridade,
objetividade, segurana e
atualidade. Com isso, possvel ver o quanto a Internet permitiu
certa relativizao do
monoplio de produo de contedos.
Goffman considera duas formas de expressividade do indivduo: a
expresso
transmitida, associada linguagem verbal e intencionalidade e a
expresso emitida,
-
com fatores como gestos e expresses faciais, reaes espontneas,
nem sempre
controlveis. Adriana Braga destaca que nos ambientes digitais, h
menos elementos de
emisso de expresso, somente aqueles veiculveis por forma verbal.
Essa dominao
da expresso transmitida faz com que as pessoas tentam direcionar
a impresso causada
atravs de tentativas de controle com relao informao
fornecida.
Aoidentificarasmicrocelebridades,apesquisadoraidentificoualegitimao
de contedos e autores/as dos ambientes digitais, sendo a
legitimao pelo pblico,
atravs do nmero de visitantes a acessar e comentar e a legitimao
pelos pares,
atravs de onde e quanto o perfil citado e linkado em outros
espaos semelhantes. A
base de estudo foi, uma vez legitimados neste domnio, os
alguns/as autores/as que
ganharam tanto destaque no mbito online entraram nos meios de
comunicao de
massa. A apario desses personagens nas mdias tradicionais, como
o caso das
publicitrias e blogueiras do Mothern
eatwiteiraTessalia,quesaramdawebeforam
parar nos jornais e na televiso, vista como um fator positivo,
como um
reconhecimento do valor que demonstraram ter na Internet.
O fenmeno T witcam: Pode cada computador ser uma emissora?
Publicado no jornal, na metade no ano passado, em 2010, Folha de
So Paulo,
Adriana Braga aborda uma mudana no acesso de pessoas ao processo
de produo das
mdias, atividade que antes do boom da Internet era um poder
restrito a poucos. Os
jovens, pela facilidade na linguagem tecnolgica, so dominantes
nesse meio. A
pesquisadora ressalta a quantidade de mensagens com teor sexual
no ambiente virtual e
tambm refletido no Twitcam. Ela pautou essa prtica com base na
relao histrica, j
que desde a Idade Antiga praticado, falou tambm da diferena da
nova gerao com
relao temtica sexual, mais livre de tabus.
Mas o ambiente Twitcam usado tambm como uma ferramenta de
expresso
de sentimentos e pensamentos para uma grande de pessoas, como o
exemplo citado pela
pesquisadora, que citou o desabafo de Felipe Melo, ao ser
culpado da desclassificao
da seleo brasileira na Copa 2010. ainda um palco mais
igualitrio, onde artistas
annimos atingem grande parte do publico com suas performances ao
vivo. um local
-
privilegiado para a expresso individual em diversas instancias,
seja sexual, comercial
ou humanista. O fato que algumas estruturas surgem e rapidamente
desaparecem na
internet enquanto outras se estabelecem solidamente, como no
caso dos blogs.
AdrianaBraga concluiuque: possibilidade tecnolgicaaberta
peloTwitcam
fantstica e revolucionria, na medida em que radicaliza a quebra
de monoplio dos
polos produtores centralizados, oferecendo recursos para que
cada computador pessoal
ligado internet do planeta se transforme em um local de veiculao
de manifestaes
expressivas, estticas, polticas, identitrias, jornalsticas e
publicitrias. E ressalta a
necessidade de uma legislao para os usos concretos da
tecnologia.
Var iaes sobre o uso do Skype na Pesquisa Empr ica em
Comunicao
Minha orientadora estudou a ferramenta Skype, em especial, o uso
na rea de
pesquisa. O ttulo desse estudo conversa com a obra de Variaes
sobre a tcnica de
gravador no registro da informao viva, de Maria Isaura Pereira
de Queiroz (1991).
Na dcada de 90, o gravador era uma promissora tecnologia, que
estava mudando as
rotinas dos pesquisadores, hoje, juntamente com outros
provedores de tecnologia VoIP
(Voice over Internet Protocol), o Skype vm redefinindo a noo de
comunicao
telefnica em todo o mundo. O uso do gravador possibilitou o
desenvolvimento de uma
importante vertente metodolgica da pesquisa em cincias humanas e
sociais: as
histrias de vida ou histria oral. J a introduo de um canal de
vdeo em um meio de
comunicao interpessoal traz uma srie de consequncias no apenas
para a vida
cotidiana de quem o utiliza, mas tambm para a pesquisa.
O Skype um aplicativo para computadores que combina tecnologia
VoIP com a
organizao de uma base de dados de participantes. Atualmente,
possvel fazer
chamadas usando o microfone e as caixas de som de um computador,
ligando tanto para
outros computadores conectados quanto para telefones fixos e
mveis do mundo todo a
preos inferiores as operadoras convencionais. Alm da opo de
mensagens
instantneas, teleconferncias e videoconferncias. Diante de
tantas alternativas que os
pesquisadores levantaram como questo o contraste: as
potencialidades tcnicas trazidas
pela Internet so do conhecimento dos acadmicos, mas ainda no so
exploradas de
uma ampla forma na pesquisa cientfica, que se limita ao discurso
essencialmente
baseado em texto.
-
Diante do dilema de, atravs do Skype, ver a face uma da outra,
sem
compartilham o mesmo ambiente fsico, os pesquisadores recorreram
ao autor Erving
Goffman para a definio da interao face a face. Chegaram como
concluso que os
exemplos de materiais significantes em termos interacionais esto
disponveis aos
participantes de uma interao mediada por udio e vdeo, mas
elementos
interacionalmente significantes, como cheiros, no esto
acessveis. Alem disso,
considerando face como uma entidade alm do rosto, a maior parte
dos elementos
componentes do trabalho de face pode ser no apenas presenciada,
mas tambm gravada
e mediada por Skype.
Os pesquisadores analisaram o Skype como objeto de investigao
cientfica e
puderam verificar a ampla gama de abordagens empricas, com uso
de dados
quantitativos e em perspectiva etnogrfica, vivel gravar vdeos
das situaes naturais
de uso do aplicativo. O mtodo no anula as tcnicas de pesquisa
mais tradicionais, mas
uma alternativa para ser usado em paralelo, como forma de
enriquecer a pesquisa
atravs de dados recolhidos. Conhecendo o potencial do meio, os
pesquisadores vem
como um retrocesso a existncia de pesquisas em Comunicao
baseadas apenas em
questionrios e trocas de e-mail, como principal fonte de dados,
limitado ao texto.
-
Concluses
Iniciei a leitura da bibliografia partindo do texto Personas
Materno-Eletrnicas:
feminilidade e interao no blog Mothern, de autoria da minha
orientadora (Braga,
2008), com o objetivo de compreender o universo estudado por ela
e a proposta da
pesquisa. Estudei o livro Variaes Sobre a Tcnica de Gravador no
Registro da
Informao Viva, de Maria Isaura Pereira de Queiroz, que em muito
me acrescentou
sobre o comportamento do pesquisar, seu dia-a-dia, os momentos
de dificuldades e as
vitorias, alm de me ensinou sobre as dinmicas de
entrevistas.
Tambm tive a oportunidade de assistir a algumas palestras do XIX
Encontro da
Comps,noanopassado,incluindooGTRecepo,UsoseConsumosMiditicoseo
GT Comunicao e Cibercultura. Esse simpsio permitiu que eu
ampliasse meu
conhecimento sobre a minha rea de pesquisa, j que pude
acompanhar a linha de
raciocnio de diversos pesquisadores, das mais variadas
faculdades do pas. Esse um ano
de trabalho resultou Adriana Braga publicaes de artigos e
captulos de livros no
Brasil e no exterior e a mim, a oportunidade de acompanhar uma
rotina de estudo e
dedicao de uma pesquisadora, alm do acesso a bibliografias que
foram muito alm
da exigida em minha graduao.
-
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4. BRAGA, Adriana A. M aternal-E lectronic Personae . In: XXIX
International
Congress of the Latin America Studies Association-LASA, 2010,
Toronto.
LASA 2010, 2010
Apresentaes de T rabalho
1. BRAGA, Adriana A. Being Brazilian: contemporary dimension of
Brazil ian
culture. 2011. (Apresentao de Trabalho/Conferncia ou
palestra).
2. BRAGA, Adriana A. ; GASTALDO, E. Variaes sobre o uso so Skype
na
Pesquisa Empr ica em Comunicao. 2011. (Apresentao de
Trabalho/Congresso).
3. BRAGA, Adriana A. M icrocelebridades: entre meios digitais e
massivos.
2010. (Apresentao de Trabalho/Congresso).
4. BRAGA, Adriana A. ; GASTALDO, E. Razes tericas de uma
perspectiva
antropolgica da mdia: do pr agmatismo ordem da interao.
2010.
(Apresentao de Trabalho/Congresso).
5. BRAGA, Adriana A. ; STERNBERG, J. Ecologia das M dias:
tecnologias e
sociedade. 2010. (Apresentao de Trabalho/Conferncia ou
palestra).
6. BRAGA, Adriana A. M aternal-E lectronic Personae . 2010.
(Apresentao de
Trabalho/Congresso).