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IMPORTNCIA DA DETECO DE Sclerotinia sclerotiorum EM SEMENTES DE
SOJA
henneberg, L. 1
jaccoud fILho, d. S. 2
grzybowSkI, c. r. S. 3
PanobIanco, M. 4
reSuMo - epidemias de Sclerotinia sclerotiorum tm causado perdas
significativas na cultura da soja, tornando-se uma das doenas mais
importantes na atualidade. O uso de sementes isentas do patgeno tem
sido um dos principais meios de controle de inculo da doena na fase
inicial, bem como da introduo da doena em novas reas, pois a
presena de uma semente infectada na amostra representa no mnimo
2.000.000 de focos de infeco. Assim, a deteco do patgeno em
sementes torna-se um dos pontos importantes para tomada de deciso
das estratgias de controle a serem utilizadas. Existem vrios mtodos
para deteco de S. sclerotiorum na semente, com variaes na
sensibilidade, reprodutibilidade, economicidade e rapidez de
resultados; no entanto, esses mtodos ainda so demorados, pouco
precisos e necessitam ser melhorados para uso como mtodo de rotina
em laboratrio de anlise de sementes. Para deteco de S. sclerotiorum
na semente deve-se considerar vrios fatores, tais como o grau de
contaminao do patgeno, a amostragem e as condies e perodo de
armazenamento. Com base na literatura, conclui-se que a doena da
soja causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, denominada mofo
branco, pode ser transmitida pela semente, aumentar o potencial de
inculo da doena no campo e que h necessidade da realizao de estudos
envolvendo procedimentos mais representativos de amostragem e
mtodos de deteco mais sensveis de Sclerotinia sclerotiorum em
sementes de soja.
Termos para indexao: mofo branco, mtodos de deteco, rolo
modificado.
INTRODUO
Sclerotinia sclerotiorum um patgeno de importncia mundial por
ocorrer tanto em regies temperadas quanto subtropicais ou
tropicais, alm de ser um fungo polfago, abrangendo 408 espcies e
278 gneros de plantas hospedeiras (Bolton et al., 2006).
As epidemias causadas por esse patgeno na cultura da soja tm
sido responsveis pela diminuio da produo agrcola brasileira, com
perdas de at 40% em condies favorveis para o desenvolvimento do
fungo, tais como excesso de precipitao aliado a temperaturas amenas
(Almeida et al., 2005; Leite, 2005; Carregal et al., 2010). Na
Figura 1 ilustra-se uma rea com perda de produo provocada pela
incidncia do fungo.
1 Eng. Agr., Doutoranda em Agronomia - Produo Vegetal, UFPR,
[email protected] Professor associado, departamento de
fitotecnia e fitossanidade, UEPG, Avenida Carlos Calvacanti, 4748,
CEP 84030-900,Ponta Grossa, PR, [email protected].
3 Eng. Agr., Mestranda em Agronomia - Produo Vegetal, UFPR,
bolsista CNPq, [email protected] Professora Adjunto,
Departamento de Fitotecnia e Fitossanitarismo, UFPR, Rua dos
Funcionrios, 1540, 80035-050, Curitiba-PR, [email protected]
(*Autor para correspondncia).
FIguRA 1. rea de plantio de soja infectada pelo fungo
S. sclerotiorum (Fonte: Jaccoud Filho).
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A doena causada pelo patgeno S. sclerotiorum mais conhecida como
mofo branco, em funo dos sintomas causados na planta. Na soja, os
sintomas ocorrem geralmente no tero mdio das plantas, atingindo a
haste principal, pecolos, folhas e vagens. Inicialmente, ocorre nas
folhas encharcamento do limbo foliar,
sendo que com a evoluo da doena as folhas secam (Figura 2). Na
haste principal observam-se, primeiramente, manchas de colorao
parda e de consistncia mole; com o progresso da doena, h a formao
de miclio branco de aspecto cotonoso (Figura 3) e, no final do
ciclo, leses avermelhadas a arroxeadas (Figura 4).
Os sintomas so acompanhados, frequentemente, com a formao de
esclerdios (estruturas negras e compactas) que caracterizam a
doena. O patgeno tambm atinge internamente a haste principal da
planta, formando miclios e esclerdios (Leite, 2005; Bolton et al.,
2006).
O controle de S. sclerotiorum dificultado principalmente pela
formao de estruturas de resistncia, os esclerdios, que podem
sobreviver vrios anos na ausncia do hospedeiro e no se tem
verificado eficincia dos fungicidas normalmente utilizados. Assim,
as recomendaes para o controle do mofo branco baseiam-se no sistema
integrado de medidas, como rotao de culturas, espaamento
entrelinhas, uso de fungicidas, controle biolgico e utilizao de
sementes isentas do patgeno (Lobo Jnior e Abreu, 2000; Vieira et
al., 2001; Fontana et al., 2006; Remuska e Dalla Pria, 2007;
Embrapa, 2008). Neste sentido, o uso de sementes isentas do
fungo tem sido um dos principais meios de controle de inculo da
doena na fase inicial, bem como da introduo do patgeno em novas
reas.
Alguns trabalhos tm demonstrado que S. sclerotiorum transmitido
por sementes. Yang et al. (1998) comprovaram a transmisso de S.
sclerotiorum pela semente de soja internamente infectada,
demonstrando que a mesma um agente de disseminao do patgeno para
novas reas. Silva et al. (2008) observaram a formao de esclerdios
em sementes de feijo submetidas a teste de patologia, recomendando
a no utilizao dessas sementes.
A Portaria n 47, de 26 de fevereiro de 2009, da Secretaria de
Defesa Agropecuria do Ministrio da Agricultura, Pecuria e
Abastecimento, recomenda que sejam recusados lotes de sementes de
soja que apresentam um esclerdio. Porm, a deteco da presena de uma
semente infectada na amostra preocupante, pois cada semente produz
mais que
FIguRA 2. Encharcameto do limbo foliar e folha da soja causada
pelo fungo S. sclerotiorum (Fonte: Hennenberg).
FIguRA3. Formao de miclio branco e esclerdios na haste da soja
causada pelo fungo S. sclerotiorum (Fonte: Jaccoud Filho).
FIguRA 4. Colorao avermelhada da haste da soja causada pelo
fungo S. sclerotiorum (Fonte: Jaccoud Filho).
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um esclerdio e que este, por si s, pode produzir 20 apotcios com
a capacidade individual de liberar 2.000.000 ascosporos em 10 dias
(Steadman, 1983). Neste sentido, uma semente tem a possibilidade de
produzir, no mnimo, 2.000.000 de focos de infeco.
MTODOs De DeTecO De S. Sclerotiorum
Existem vrios mtodos para deteco de S. sclerotiorum na semente,
com variaes na sensibilidade, reprodutibilidade, economicidade e
rapidez de resultados (Machado et al., 2002; Brasil, 2009).
O mtodo recomendado pelas Regras para Anlise de Sementes
(Brasil, 2009) e mais utilizado em laboratrio de rotina para deteco
de S. sclerotiorum o do blotter test, que consiste na incubao das
sementes por 14 dias em temperaturas entre 10 a 15 C, sob escuro
contnuo. Menten (1985) verificou que o uso de meio cultura de gar
Batata Dextrose (BDA) em placas incubadas a 5 a 7 C durante sete a
30 dias de escuro contnuo tambm foi adequado para deteco do
patgeno. Como desvantagem desses dois mtodos pode-se citar que
alguns fungos fitopatognicos e saprfitas tm crescimento mais rpido
que o fungo S. sclerotiorum, dificultando a anlise e podendo gerar
um dado de falso negativo (ou seja, no se detectando a presena de
S. sclerotiorum numa anlise de rotina).
Trabalhos recentes tm destacado um mtodo promissor para a deteco
de S. sclerotiorum, denominado mtodo Neon, no qual as sementes so
incubadas por sete dias em temperaturas na faixa de 14 a 20 C no
escuro, sendo o patgeno detectado pela mudana de colorao do meio,
que ocorre na presena de substncias cidas (cido oxlico) liberadas
pelo S. sclerotiorum durante seu crescimento. Este mtodo um dos
recomendados pelas Regras para Anlise de Sementes (Brasil, 2009)
para deteco do patgeno em semente de soja; porm, como h outros
fungos que produzem cidos, para a distino dos mesmos torna-se
necessrio o emprego de lupas (Nasser et al., 2010 ).
Outro mtodo recomendado pelas Regras para Anlise de Sementes
(Brasil, 2009) o rolo de papel modificado, que tem o mesmo princpio
da germinao da semente, mas com a finalidade de detectar miclio
cotonoso nas sementes analisadas, com a presena de esclerdios
(Peres, 1996; Parisi et al., 2006).
Apesar dos avanos obtidos, os procedimentos disponveis ainda so
lentos, pouco precisos e necessitam ser melhorados para uso como
mtodo de rotina em laboratrio de anlise de sementes. Os mtodos
moleculares tm sido utilizados na Fitopatologia para a identificao
de patgenos difceis de serem detectados e identificados pelas
tcnicas tradicionais disponveis. As tcnicas moleculares,
especialmente as que envolvem PCR (Reao de Polimerizao em Cadeia),
tm sido empregadas com sucesso para o desenvolvimento de testes de
patologia de sementes visando deteco de patgenos em diversas
culturas agrcolas, sendo uma metodologia a ser desenvolvida e tambm
otimizada (Jaccoud Filho et al., 2002; Taylor et al., 2006).
DeTecO Da TRaNsMIssIbIlIDaDe Da DOeNa pela seMeNTe
A deteco da transmissibilidade de doenas por meio da semente
muito complexa, uma vez que depende do grau de contaminao do
patgeno, amostragem, armazenamento, dentre outros fatores.
Dependendo do grau de contaminao do patgeno na semente, a
expresso da doena externa na semente pode variar, conforme
demonstrado pelos mtodos de deteco nas sementes. A semente quando
infectada artificialmente em laboratrio por S. sclerotiorum
facilmente detectada pelos testes de sanidade de sementes. Em
pesquisas onde sementes de soja foram inoculadas com S.
sclerotiorum foi constatada a presena de esclerdios em poucos dias
(Napoleo et al., 2006). Entretanto, so de difcil deteco as sementes
infectadas naturalmente, ou seja, sementes de lotes provenientes de
reas infectadas, sendo necessrio o aumento do nmero de dias de
incubao das sementes pelo mtodo de deteco blotter test de sete dias
para 30 dias (Brasil, 2009).
Dependendo do nvel de contaminao do patgeno na semente, o grau
de agressividade da doena pode variar, pois quanto maior o grau de
contaminao da semente mais rpido o seu desenvolvimento, com formao
de esclerdios em poucos dias. Em situao de campo, isto poder
representar uma maior capacidade de produo de apotcio e menor
dependncia das condies ambientais, uma vez que possivelmente no
necessitaria de muitos dias de ambiente favorvel para a formao do
esclerdio e apotcio. Estudos abrangendo esses aspectos ainda so
escassos.
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A amostragem usada para anlise sanitria de sementes segue o
mesmo procedimento empregado para a determinao da porcentagem de
germinao, o que talvez possa no ser representativo para a deteco de
patgenos presentes em um lote de sementes. Indiretamente, isso
poderia afetar os resultados da anlise sanitria da semente
resultando em falsos negativos, ou seja, considerar que o lote no
contenha S. sclerotiorum na semente, sendo que o patgeno est
realmente presente no lote.
Henning et al. (2009) verificaram que em 10.400 sementes
incubadas pelo mtodo blotter test, representando um lote, foram
observadas apenas oito sementes contaminadas por S. sclerotiorum.
Assim, h possibilidade que analisando somente 400 sementes no se
detecte a presena do patgeno na semente, resultando num falso
negativo. Estudos de amostragem devem ser uma das abordagens
pesquisadas para novos parmetros de representatividade do teste de
deteco de patgenos em sementes.
A relao entre o perodo de armazenamento da semente e a reduo do
inculo de S. sclerotiorum outro fator importante a ser considerado,
principalmente na deciso do uso do tratamento da semente, pois
alguns fungos tm apresentado a diminuio de sua incidncia durante o
armazenamento, podendo-se racionalizar o tratamento de sementes
(Martins Filho et al., 2001; Galli et al., 2007). No caso da S.
sclerotiorum, em trabalho realizado por Michelli et al. (2009)
observou-se que o perodo de armazenamento de seis meses com
temperatura variando de 22 a 25 C e umidade relativa 55 a 60% no
diminuiu o inculo do fungo em sementes de soja e feijo,
recomendando o tratamento de semente. Porm, h necessidade de mais
pesquisas sobre o assunto.
Em reas de produo de sementes que tenham histrico de S.
sclerotiorum, as sementes infectadas pelo patgeno aumentam o
potencial de inculo da doena no campo. Tu (1988), estudando a
capacidade da sobrevivncia de S. sclerotiorum em sementes
infectadas por meio de miclios dormentes nos cotildones, observou
que sementes infectadas, semeadas em terra/areia e que no
germinaram, apodreceram e no seu lugar formaram de trs a seis
esclerdios, concluindo que a deteco de miclios dormentes na semente
do patgeno importante no somente na disseminao do fungo mas tambm
na epidemiologia da doena.
Considerando a semente como fonte inicial de inculo de S.
sclerotiorum, Hartman et al. (1998)
fizeram levantamento da deteco de S. sclerotiorum em lotes de
sementes obtidas da Assocition Improvement Crop Illinois - EUA e
concluram a necessidade do levantamento da incidncia do fungo na
semente para determinar o potencial de disseminao de S.
sclerotiorum para novas reas.
levaNTaMeNTO Da INcIDNcIa De Sclerotinia Sclerotiorum eM
seMeNTes De sOja
Diante da importncia do patgeno, foi realizado um levantamento
da incidncia S. sclerotiorum em sementes de soja, produzidas em
vrias reas do Estado do Paran. Utilizaram-se amostras de sementes
de 50 cultivares de soja da safra 2008/09 (Tabela 1), provenientes
de reas de produo dos campos gerais - Paran. as amostras foram
coletadas entre os meses de outubro e dezembro de 2009 e
armazenadas por seis meses em temperatura ambiente. Posteriormente,
foram encaminhadas para o Laboratrio de Anlise de Sementes do
departamento de fitotecnia e fitossanitarismo da Universidade
Federal do Paran, em Curitiba-PR, onde foi conduzido o estudo.
A deteco do fungo S. sclerotiorum em sementes foi realizada pelo
mtodo de incubao em rolo de papel (Brasil, 2009). Foram utilizadas
trs repeties por cultivar, sendo feito para cada repetio exame
laboratorial de 400 sementes, distribudas em oito rolos. Cada rolo
foi constitudo de trs folhas esterelizadas de papel germitest (28,0
x 37,5 cm), umedecidas com gua destilada na proporo de 2,5 vezes a
massa do substrato, colocando duas folhas sob 50 sementes e uma
folha cobrindo-as. Posteriormente, as repeties de sementes de cada
cultivar foram incubadas no germinador, a 20 C, sob condies de 100%
de umidade relativa e regime de escuro contnuo, mantidos no perodo
de 14 dias. Aps esse perodo, foi observada a formao ou no de
esclerdios nas sementes e plntulas.
Pelos resultados obtidos, verificou-se que nas amostras de
sementes das 50 cultivares de soja estudadas no foi detectada a
presena do fungo S. sclerotiorum, ou seja, no observou a formao de
esclerdios. Foram analisadas no total 1.200 sementes por cultivar,
visando obter uma amostragem e resultados mais confiveis.
Embora no tenha sido detectado o patgeno nas amostras coletadas,
os dados encontrados no levantamento so considerados preliminares,
visto
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que h necessidade de continuidade nas pesquisas envolvendo
procedimentos mais representativos de amostragem e mtodos de deteco
mais sensveis de Sclerotinia sclerotiorum em sementes de soja, para
assim se poder afirmar com segurana que uma semente no est
infectada.
cONsIDeRaes FINaIs
Com base na literatura, conclui-se que:- A doena da soja causada
pelo fungo Sclerotinia
sclerotiorum, denominada mofo branco, pode ser transmitida pela
semente;
- Sementes de soja infectadas pelo patgeno Sclerotinia
sclerotiorum aumentam o potencial de inculo da doena no campo;
- necessria a realizao de estudos envolvendo procedimentos mais
representativos de amostragem e mtodos de deteco mais sensveis de
Sclerotinia sclerotiorum em sementes de soja.
aGRaDecIMeNTO
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
CNPq, pelo auxlio pesquisa.
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