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2
a
Edição
.Cham. 30 I H 167m 12 ed.
Autor: Haguette Teresa Maria Frota I
Título: Metodologias qualitativas na so
140189 2 Ac 115508
BCH
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R E S M KI FROT H GUETTE
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o
livro trata de algumas
metodolpgias de pesquisa
de cunho qualitativo
confonne se tem
observado na sociologia
nos últimos anos.
Entende a autora que as
fonnas de abordagem do
real não estão
desvinculadas das
concepções abstratas que
tentam explicá-lo razão
por que parte do trabalho
discute os fundamentos
teóricos do
interacionismo simbólico
da etnometodologia e da
dramaturgia social.
Apresenta os
fundamentos teóricos de
algumas metodologias
qualitativas na sociologia
a crítica e a alternativa
aos métodos tradicionais.
As técnicas de coleta de
dados mais usuais nas
ciências sociais são
apresentadas
didaticamente: A
etodologias qu lit tiv s na sociologia
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adosInternacionais de Catalogação na
Publicação
CIP)
Câmara Brasileira do Livro, Sp Brasil)
Haguette Teresa Maria Frota
Metodologias qualitativas na sociologia /
Teresa Maria Frota Haguette. -
12
ed. - Petrópolis
RJ
:
Vozes 2010.
ISBN 978-85-326-0854-3
Bibliografia.
1
Interacionismo simbólico
2
Observação
participante 3. Pesquisa-ação 4 Pesquisa qualitativa
5
Sociologia - Metodologia I Título.
07-0643
CDD-301.01
Índices para catálogo sistemático:
1
Sociologia: Metodologias qualitativas 301.01
Teresa Maria Frota Haguette
METODOLOG1AS
QUAL1TAT1VAS
NA SOC1 LOG1A
•
EDITORA
Y VOZES
etrópolis
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umário
Prefácio terceira edição 11
Introdução
13
PRIMEIR
PARTE: Fundamentos teóricos de algumas metodologias
qualitativas na sociologia
23
1
A interação simbólica 25
1 Introdução 25
2
George Herb ert Mead 25
2.1. A sociedade 27
2.2. O
self 29
2.3. A mente
31
2.4. Considerações críticas 32
2.5. A natureza da interação simbólica 34
2.6. Princípios metodológicos do interacionismo simbólico 39
2.7. Variações na orientação interacionista
43
2
A etnometodologia
47
1 Origem e objeto 47
3. A dramaturgia social de Goffman
51
4
Conclusões teóricas 54
SEGUND PARTE: Metodologias qualitativas
57
5 O objeto das metodologias qualitativas 59
6
A observação participante
62
1
Origens
62
2
Definição e objeto 64
7 A história de vida 74
1
Origem e desenvolvimento da história de vida e suas funções 74
2
A utilização da história de vida no Brasil 78
8 A entrevista 81
9
A história oral
87
1
Características e limitações
87
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2 A técnica 90
10. Conclusões 95
TERCEIRA
PARTE: A crítica e a alternativa aos métodos de pesquisas
tradicionais 101
11. Pesquisa-ação e pesquisa participante
103
1
A pesquisa-ação 105
1.1. A enqu ete operária 112
1.2. A intervenção sociológica 123
1.3. A pesquisa-ação institucional 134
2 A pesquisa participante 141
2.1. Definição e características
141
2.2. Fund amentos teóricos epistemológicos e metodológ icos da
pesquisa participante 149
QUART A PARTE:Holismo e individualismo metodológico
no
marxismo
recente 169
12. O individualismo metodológico na confluência da estrutura e da
ação individual
171
1
Introdução
171
2 O pós-marxismo 174
3. O novo marxismo estrutura l 175
4
O marxismo analítico 177
5 Algumas origens 182
6
O individualismo metodológico 186
7 O problema
do
reduc ionismo na sociologia 192
8 A teoria da escolha racional 198
9
Últimas questões 204
13. Conclusões 207
14. Conside rações finais 209
Bibliografia 216
refácio terceira edição
Metodologias qualitativas na sociologia publicado ao final de 1987
representou a minha tese para professor titular em Sociologia na UFC
Foi escrito em poucos meses dada a premência exigida pelo Edital do
concurso realizado
em
1986. Muitas de minhas preocupações ficaram
ausentes da discussão por absoluta falta de tempo. Uma delas referida
nas considerações finais
do
livro destaca a importância de uma análi
se das teorias marxistas vis à vis a uma questão crucial que há décadas
perpassa muitas das polêmicas teóricas na sociologia
ou
seja as relações
entre estrutura e
ação
individual.
Na opor tuni dade da publicação desta terceira edição pareceu
me conveniente a inserção de um capítulo
que
trouxesse esclarecimentos
sobre o estágio atual dos debates em torno desse tema.
Incluo pois
um
texto inédito que
se
intitula O
individualismo
me-
todológico na
confluência
da
estrutura
e da ação
individual que representa
uma
prestação de contas comigo mesma cujo compromisso eu silenciosa
mas pertinazmente contraíra
em
1986.
O pressuposto neoclássico de que os indivíduos agem em função
de escolhas racionais decididas em situações diferenciadas assumido pelo
marxismo analítico restabelece o trânsito entre o individual o coletivo
e o estrutural abrindo amplas possibilidades para a explicação de fenô
menos sociais antes obnubilados pelas várias ortodoxias que cerceavam a
imaginação
sociológica tão cara a Marx quanto a Wright Mills.
Não obstante o esforço delineado até aqui não deve ser ente ndi
do como indicativo de satisfação arrematada de minhas dúvidas e preocu
pações sobre o conhecimento das formas e dos mecanismos de manuten-
ção da sociedade e da ligação entr e as micro e as macroestruturas.
Se por um lado as teorias são construídas a partir da observação
do real por outro o real só é conhecido através
do
emprego de métodos
científicos rigorosos. O
individualismo
metodológico expresso na proposta
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a segundo plano na visão baconiana: a razão precede a convivência dos
sentidos com o dado empírico
uma
vez que o
homem
foi agraciado
por
Deus com um aparato que
lh e
confere o
poder
de
ter
ideias
priori ou
seja, prescindindo de contatos diretos com o real através dos sentidos.
Isto significa que certas ideias são inatas. A crença neste pressuposto
levou Descartes a desenvolver com maestria as técnicas da reflexão e em
consequência, a descuidar daquela aproximação do pesquisador com o
real, pré-requisito
do conhecimento
defendido por Bacon e Locke. Assim
sendo, a mane ira apropria da de fazer generalizações sobre a realidade seria
pelo método dedutivo: através da razão descobre-se princípios gerais sobre
a realidade que serão confirmados mediante, também, o conhecimento de
fatos particulares. A crença na razão e no poder de conhecer propiciou, na
história das ideias, a rubricação da visão cartesiana de
racionalismo.
Percebe-se, pois, que a questão principal do confronto entre em
pirismo e racionalismo residia
na
disputa sobre quem melhor garante o
domínio do real: a razão ou os sentidos, o que, consequenteme nte, con
duz a
uma
ponderação maior
ou menor
alocada pelos pensador es
à
neces
sidade de
uma
aproximação ma ior
ou menor com
o real
em
consequência.
também, de crenças divergentes sobre a própria constituição do
homem
enquanto ser pensante. O problema era, pois, de
ordem
ontológica.
Como
sempre
acontece, as ideias ou convicções polares são sem
pre contestadas, dando surgimento a propostas ecléticas que sabiamente
retiram daquelas o que têm de melhor, ou de convincente. Foi o que fez
Kant que, cético sobre a possibilidade de
conhecimento
do real, limita-se
observação de seu comportamento e de suas relações,
ou
seja, do ob
Jeto fenomenal. Concebendo o
homem
como um ser que dispõe de
um
~ p a r a t o mental sui generís que o qualifica como ser consciente, mostra que
~ p n m e
as
leis ao real. Estava
bnçada
a grande controvérsia epistemoló
gIca moderna.
Até o século XVIII
as
discussões epistemológicas parecem se si
tuar
em campo neutro,
onde as
preocupações
com
a objetividade
do
co
nhecimento ocupam o mai or espaço.
É contudo
no
século XIX que, ao se inaugurar a individualização
d A •
as ClenCIas sociais, se instaura o "problema político" dentro das meto-
dologias em v . d .
oga. o pOSItIVIsmo e Comte caudatáno do empirismo.
14
e a dialética marxista, desdobramento da dialética hegeliana; esta,
bem
próxima do racionalismo cartesiano enquanto defensora da primazia da
razão sobre os sentidos,
embora
introduzindo relevantes modificações
nas concepções sobre o processo do pensamento: a ideia de totalidade, de
movimento (história) e da contradição. Entretanto, a diferença marcante
entre os dois residia no fato de que Hegel enfatizava a teoria
-
ou
contem
plação do mundo - enquanto que Marx estava preocupado
com
a
práxis.
Nesse
momento
a dialética não estava "politizada"; ela se politiza
com
Marx que, insatisfeito
com
as
aplicações etéreas da dialética hegeliana,
dá-lhe
uma
inflexão brutal, colocando-a de cabeça para baixo, ou seja,
retira-a do mundo das ideias e aplica-a ao processo de desenvolvimento
social: o materialismo histórico e o materialismo dialético.
Esta violenta inflexão empreendida por
Marx
propiciou um en
contro da dialética hegeliana com o real e, consequentemente, com o pos
tulado empirista de que o con hecimento não pode prescindir dos sentidos,
distanciando-a
do
princípio cartesiano das ideias inatas.
O
materialismo
histórico, pedra angular do marxismo,
propugna
que não é a consciência
do
homem
que determina sua existência, mas, ao contrário, é sua exis
tência social
que determina
sua consciência. Desta forma o materialismo
histórico, ao enfatizar a determinação das condições materiais de existên
cia sobre a consciência do homem traz implícita a ideia de que o contato
com o real - trabalho produtivo ou intelectual - é fator sine qua non do
conhecimento, seja este
conhecimento
consubstanciado sob a forma de
uma "falsa consciência" ou de uma produção científica que
pretende
re
constitu ir e explicar este real. Para a dialética marxista e para o materialis
mo
histórico, pois, o concreto real é a base
do
conhecimento .
Enquanto
o materialismo histórico representa o veio teórico
que
explica o
andamento do
real, ou da sociedade, a dialética representa o
método
de abordagem deste real esforçando-se
por
compreender o fato
da historicidade humana por analisar a prática efetiva do
homem empíri
co e por fazer a crítica das ideologias. Em suma, a dialética diz respeito à
1: Foge aos nossos propósitos discutir outros aspectos da oposição entre a dialética mar
XIsta
e o empirismo e, posteriormente, o positivismo, vez
que
nosso interesse se
prende
ao aspecto específico da afinidade entre os dois
em
termos da imprescindibilidade de
convivência
com
o real para fins da produção de conhecimento.
15
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compreensão dos processos que comandam a análise científica
2
da socie-
as
determinações inevitáveis da pobreza e da dominação.
Ao
positivismo
dade a partir da luta de classes e prática coletiva pela emancipação do restoU o apego
à
quantidade, sempre mais facilmente obtida, e
à
vigi
homem, contra a exploração, em prol da igualdade social. O positivismo, lância epistemológica que, apesar de tudo, tem prestado inquestionáveis
ao se distanciar das questões metafísicas, debruçou-se sobre o método de beneficios
às
ciências humanas. O apelo marxista tem levado quase sem
conhecer, concebendo o fato como autôn omo e verdadeiro levando a
um
pre
ao
compromisso político (ou é o compromisso político que leva
ao
parcelamento do real nas investigações de problemas passíveis de serem marxismo?) enquanto o apelo positivista se restringe aos aspectos aparen
percebidos e constatados. Ao fazê-lo, descurou do sujeito cognoscente, temente neutros da objetividade no ato de conhecer.
É
esta omissão de
privilegiando o fato que
se
tornou soberano; descurou também da teoria compromisso
com
ajusti ça e a equidade que
faz
do positivismo um servo
prévia que sempre informa o objeto do conhecimento. Coube
ao
grupo da injustiça e da opressão.
Se
não há, pelo menos assim acreditamos,
uma
de Viena, aos neopositivistas, a recuperação lógica do sujeito, problema- ciência social descompromissada, não pode haver teoria omissa que não
tizando seu papel e as consequências deste no ato de conhecer. Ambos, implique em aceitação de um status
quo.
marxismo e positivismo, guardam
em
comum, entretanto, a herança do Ao situar a causa das desigualdades sociais no movimento expan
iluminismo que exige o uso da ciência,
ou
seja, que a ciência tenha apli- sionista do sistema capitalista mundial, Marx abdica do ind ivíduo e dos
cações práticas e que
se
coloque em benefício do homem. O século XXpequenos grupos como objeto de análise
3
, embora acredite na sua força
presenciou um brutal desenvolvimento das chamadas metodologias de como membros de uma classe social. Se o sistema capitalista já traz
em
si
pesquisa, envolvendo discussões relevantes sobre formas de controle do a semente de sua destruição, resta
ao
homem, ou à consciência, esperar
erro na captação da realidade, partindo quase sempre do pressuposto de que isto aconteça, dizem alguns, pois ao indivíduo não cabe um papel
que ela é cognoscível. Aqui também, marxismo e positivismo estão acor- na história. Se, por outr o lado, aceitarmos que as macroestruturas sejam
des: o real é objetivo. Objet ivo e contraditório, diz o primeiro; objetivo formadas pelas microestruturas, evitando o determin ismo paralisante da
e não problemático, afirma o segundo. O forte componente humanista quelas em relação a estas e dando margem ao indivíduo para agir como
da teoria marxista - além, obviamente, de seu poder explicativo - atraiu protagonista da história, não há dúvida que, como cientistas sociais, valo
os cientistas sociais comprometidos com a justiça e a equidade, quando rizaremos a dinâmica da sociedade consubstanciada nos grupos de bair
o método positivista se adaptava como uma luva à análise das sociedades ros, nas comunidades, nos sindicatos, nas instituições, enfim, nos loei de
opulentas mascarando conflitos e enfatizando o consenso como cimento convivência e interação social, onde
as
definições de situação estão
em
entre as micro e
as
macroestruturas sociais. Tal não era possível crer em constante mutação obedecendo
ao
próprio ritmo da dinâmica societal,
outras realidades. Urgia a busca das causas da desigualdade e da opressão levando seja
à
acomodação, seja ao protesto, face as experiências iníquas
na maior parte dos países do globo. Eram causas estruturais, permanentes a que estes grupos estão sujeitos.
É
preciso destacar que
as
margens de
no movimento periférico, que iludem, mantendo
as
bases e agitando gen- manobra ,
ou
o poder de decisão da maioria,
se
chocam
com
o poder
tilmente a superfície. Ao expor em toda a sua crueza os mecanismos de constituído _ poder econômico, poder do saber, e outros poderes - que
funcionamento do
sistema capitalista, Marx desnudou as imagens mo- molda
as
consciências e os imaginários, anulando a ação contestadora em
dernizantes de seu percurso de exploração e miséria, apontando para busca de l d d d d ll b rtá .
uma rea
1
a e e
1
ea
1
e no.
2. Cf. François Chatelêt
Questions
Objections,
l recherche des Vraies Semblances.
Paris, Édi-
tions Denoel, 1979, cap. II,
Le
Plaisir de
la
Definition, p. 67-144) para uma discussão dos 3 Vale salientar que desdobramentos posteriores, e mais recentes, da visão marxiana per
conceitos de alienação, comunismo/socia lismo, dialética, ideologia, marxismo, materialis- mite m uma abordagem de micr oprocessos societais, confor me atestam os trabalhos de
mo, ocidente, progressismo, reformismo, república, revolução, soberania e tecnocracia. Castoriadis, L Goldmann e H. Lefebvre.
16
17
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Entendemos que as questões epistemológicas e m e ~ o d o l ó ~ c s consequências do exacerbado poder de poucos sobre muitos, não é, a
nas ciências sociais estão, por definição, subordinadas às teonas exphca, nosso ver, o domínio dos métodos e técnicas de pesquisa social, mas o
tivas que o pesquisador elege como responsáveis pelo funcionamento d, escrutínio de sua próp ria visão de mundo, pré-requisito fundamental
sociedade.
Por
trás delas situa-se, e,m última instância, sua visão de mun,daquilo que dela decorre, a atividade de analista do real, de intérprete das
do (T ltanschauung)4,
ou
sua ideologia,
que f o r n e c e ~ á
o
~ u b ~ t ~ t o
da sU'experiências alheias e de protagonista ativo das transformações
que
lhe
crença na forma como a sociedade se mantém, na mevItablhdade dest, parecerão necessárias, mas que nem sempre serão
as
melhores. O arbítrio
manutenção
ou
na possibilidade e necessidade de uma transformaçã0
5
. do pesquisador representa sua mais pesada carga de responsabilidade
se
Neste sentido, pois, entendemos que as teorias devem ser ava'admitirmos a complexidade e incomensurabilidade do real e o fato de
liadas
em
termos
de seu
poder
explicativo sobre alguns
s p e c ~ o ~
da rea'
que
ele apenas faz
uma
leitura deste real; se admiti rmos
que
a captação
lidade. Dizemos alguns aspectos porque não nos parece
eX1stIr
na sO'do real como
um
retlexo é uma utopia; se aceitarmos que a reprodução
ciologia uma teoria suficientemente abrangente para comportar todos a interpretação da realidade são problemáticas e que a multiplicidade de
fenômenos sociais e muito menos fornecer todas as respostas passíveis d(formas de convivência social juntamente com o intenso
movimento
das
serem
levantadas; mesmo que esta t eoria existisse, nada asseguraria qU(sociedades dificulta e, talvez, impossibilita a generalização dos achados de
suas explicações fossem as verdadeiras , isto porque não
há
forma d(uma investigação e, consequentemente, a descoberta de regularidades.
comprovar a veracidade absoluta de um enunciado. O que, com efeito
As
chamadas metodologias qualitativas na sociologia são
exem-
acontece, é que aderimos a certas explicações em termos de sua plausi'plos de reação contra o paradigma estrutural, quase sempre associado a
bilidade. Aqui também, o tipo de questão que vai interessar ao soci6modelos quantitativos de análise, com algumas exceções, tais como o mo -
logo
depende
de tudo aquilo de que já falamos acima.
No
nosso casodelo marxista que, embora estrutural, se apoia com veemência nos dados
explicitamos o que mais nos interessa e atrai a fim de fornecer com clahistóricos, específicos e únicos
em
sua qualidade reconstitutiva do passa
reza ao leitor uma ideia dos parâmetros
que
regem nossa preocupaçã(do.
Há
que considerar
que
esta reação não represen ta
um
repúdio cabal às
no presente trabalho. Interessa-nos descobrir:
a)
como uma sociedade slmacroanálises e, sim, o rec onhe cimen to de que a sociedade é constituída
mantém e se transforma, quais os mecanismos que ligam as micro e ade microprocessos que, em seu conjunto, configuram
as
estruturas maci
macroestruturas; b) qual o papel da ação humana
na
história; c) quais °ças, aparentemente invariantes, atuando e conformando inexoravelmente
fatores principais que dinamizam a história; d) como fazer para conhece
a
ação social individual.
É
esta a crença que acalentamos, responsável pela
a sociedade e obter indícios de respostas para (a), (b) e (c). opção que agora nos apresenta as metodologias qualitativas, não como
As
técnicas,
na
verdade, são secundárias
no
sentido de qUalternativas aos modelos quantitativos, oposição frequente na literatura
poderão ser sempre justificadas dentro do método científico. A grandespecializada
que
reflete uma visão maniqueísta
que
é de certa forma nor-
questão
que
se coloca hoje para o cientista social, especialmente nCmativa, ao asseverar
as
vantagens sumárias de
um
modelo
e os defeitos
países periféricos onde sua atuação o aproxima com mais violênc ia dÓcongênitos do ou tro, mas como uma necessidade e uma urgência dentro
da sociologia para aqueles
que
estão convencidos de
que
a sociedade é
4. Empregado
aqui no sentido
que lhe aloca
Sombart (1964: 18) [ .. ] o
significado
dupluma estrutura que se movimenta mediante a força da ação social indivi
do
conceito
de Weltanschauung,
isto é,
que
por
um
lado
implica nossas ideias
fundJjual e grupal. O desprezo por este aspecto do social implica, a nosso ver,
. b 'd
outro
nossos valores fundamentais
na vida
[traduzido ( _ i d
mentais so re
a
VI
a e, por ,
.m
uma concepçao determmlsta que u mma, na ongem, a esperança e
espanhol pelo
A.].
'lu d ld d - d b . d
. - -, , e a eSlgua a e e a opressao possam um la ser su stltm as por es-
5. Embora esta
visão de
mundo contenha elementos
de
determmaçao,
ela
nao e absolut. . . .
truturas dignas e Justas. Não há dúvida que as estruturas
eX1stem
e
devem
odendo ser reformulada ou modificada
através
da autocrítica.
18
19
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Entendemos que
as
questões epistemológicas e metodológiaS
nas ciências sociais estão,
por
definição, subordinadas
às
teorias explica
tivas
que
o pesquisador elege
como
responsáveis pelo funcionamento d
sociedade. Por trás delas situa-se,
em últi;'a
instância, sua visão
de mun-
do
(l ltanschauung)4, ou sua ideologia, que fornecerá o substrato
d
su
crença na forma como a sociedade se mantém,
na
inevitabilidade desta
manutenção ou na possibilidade e necessidade de urna transfonnaçã
0
5.
Neste sentido, pois, entendemos que
as
teorias devem ser
ava-
liadas
em
termos de seu
poder
explicativo sobre alguns aspectos da rea
lidade. Dizemos alguns aspectos porqu e não nos parece existir na so
ciologia uma teoria suficientemente abrangente para comportar todos os
fenômenos sociais e muito menos fornecer todas as respostas passíveis de
serem levantadas; mesmo que esta teoria existisse, nada asseguraria que
suas explicações fossem as verdadeiras , isto porque não há forma de
comprovar a veracidade absoluta de um enunciado. O que, com efeito,
acontece, é que aderimos a certas explicações em termos
de
sua plausi
bilidade. Aqui também, o tipo de questão que vai interessar ao soció
logo depende de tudo aquilo de que
já
falamos acima. No nosso caso,
explicitamos o que mais nos interessa e atrai a fim
de
fornecer com cla
reza ao leitor uma ideia dos parâmetros que regem nossa preocupação
no presente trabalho. Interessa-nos descobrir: a)
como uma
sociedade se
mantém e se transforma, quais os mecanismos que ligam as micro e as
macroestruturas; b) qual o papel da ação humana na história;
c)
quais os
fatores principais que dinamiz am a história; d)
como
fazer para conhecer
a sociedade e obter indícios de respostas para (a), (b) e (c).
As
técnicas, na verdade, são secundárias
no
sentido de que
poderão ser sempre justificadas
dentro
do
é t o ~ o
científi.co. A grande
questão que se coloca hoje para o cientista socIal, especIalmente nos
países periféricos onde sua atuação o aproxima com mais violência das
4. Empregado aqui no sentido
que
lhe aloca Sombart (1964: ?8) ... ] o s i g n ~ f i c m o duplo
d
. d IT' h uung I Sto é
que
por um lado Implica nossas Ideias funda-
o conceito e we tansc a , ,
. b 'd r outro nossos valores fundamentais na vida [traduzido do
mentais so re a
VI
a e, po ,
espanhol pelo
A.].
5 E
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contenha elementos de determinação, ela não é absoluta
. m ora esta vlsaoem
odendo ser reformulada ou modificada através da autocrítica.
18
. consequências do exacerbado pod er de poucos sobre muitos, não é, a
nosso ver, o domínio dos métodos e técnicas de pesquisa social, mas o
escrutínio de sua própria visão de
mundo,
pré-requisito fundamental
daquilo que dela decorre, a atividade de analista do real, de intérprete das
experiências alheias e de protagonista ativo das transformações que lhe
parecerão necessárias, mas que nem sempre serão
as
melhores. O arbítrio
do pesquisador representa sua mais pesada carga de responsabilidade se
admitirmos a complexidade e incomensurabilidade do real e o fato de
que ele apenas
faz
uma leitura deste real;
se
admitirmos que a captação
do real como um reflexo é uma utopia;
se
aceitarmos que a reprodução
e a interpretação da realidade são problemáticas e que a multiplicidade
de
formas de convivência social
juntamente
com o intenso movimento das
sociedades dificulta e, talvez, impossibilita a generalização dos achados de
uma investigação
e,
consequentemente, a descoberta de regularidades.
As chamadas metodologias qualitativas na sociologia são exem-
plos de reação contra o paradigma estrutural, quase sempre associado a
modelos quantitativos de análise, com algumas exceções, tais como o mo -
delo marxista que, embora estrutural, se apoia com veemência nos dados
históricos, específicos e únicos
em
sua qualidade reconstitutiva do passa
do.
Há
que considerar que esta reação não representa
um
repúdio cabal às
macroanálises
e,
sim, o reconhecimento de que a sociedade é constituída
de microprocessos que,
em
seu conjunto, configuram as estruturas maci
ças, aparentemente invariantes, atuando e conformando inexoravelmente
a ação social individual. É esta a crença que acalentamos, responsável pela
opção que agora nos apresenta as metodologias qualitativas, não como
alternativas aos modelos quantitativos, oposição frequente na literatura
especializada que reflete uma visão maniqueísta que é de certa forma nor-
mativa, ao asseverar
as
vantagens sumárias de
um
modelo e os defeitos
congênitos do outro, mas como uma necessidade e uma urgência
dentro
da sociologia para aqueles que estão convencidos de que a sociedade
é
uma estrutura que se movimenta mediante a força da ação social indivi
dual e grupal. O desprezo por este aspecto do social implica, a nosso ver,
em uma concepção determinista que fulmina, na origem, a esperança
de
que a desigualdade e a opressão possam um dia ser substituídas por
es-
truturas dignas e justas. Não há dúvida que as estruturas existem e devem
19
8/17/2019 Haguette-Teresa-Metodologias-Qualitativas-Na-Sociologia.pdf
11/112
ser conhecidas, mas é a ação humana, a interação social, que constitui
o motor da história. Àqueles que poderão argumentar que a única ação
efetiva é a ação de classe, respondemos que a classe social é, com efeito,
uma entidade fundamental na análise da sociedade capitalista, mas que
sua ação se inicia nos pequenos grupos, nos sindicatos, nos bairros, nos
partidos; ou seja, as decisões são tomadas por indivíduos e grupos que
interagem e decidem sobre uma ação comum.
Não
vemos incompatibi
lidade entre
as
duas coisas.
Acreditamos, pois, que tanto as estruturas quanto os micropro
ces sos de ação social devem ser conhecidos, analisados e interpretados,
cabendo a cada
um a metodologia apropriada, a metodologia que me lhor
se adequa ao problema que se deseja investigar. Por o utro lado, conforme
já referimos, existe um substrato teórico, uma visão de como a sociedade
funciona, por trás das metodologias, aparentemente neutras . As meto
dologias qualitativas derivam da convicção de que a ação social é funda
mental na configuração da sociedade.
É
nosso propósito neste trabalho
apresentar o embasamento teórico dos dois tipos de metodologias quali
tativas que reputamos mais relevantes para a sociologia, ambos apoiados
na crença da importância dos aspectos subjetivos da ação social: o intera
cionismo simbólico e a pesquisa - ação-pesquisa-participante. Enquanto
a primeira vertente exibe contornos teóricos sólidos e uma metodologia
já
curtida pela experiência científica de mais de meio século, a segunda
é jovem e ainda imatura
em
seus princípios teóricos e metodológicos,
pretendendo-se uma alternativa aos métodos da ciência social tradicional,
incapaz de resolver
os
problemas e
as
injustiças sociais dos países perifé
ricos.
om
razão, argumenta sobre a necessidade de uma tomada de po
sição política da parte do investigador, de sua intervenção no ambiente
de pesquisa, quebrando com os limites artificiais entre sujeito e objeto
do conhecimento em nome da objetividade e da nt:\.1tralidade científicas.
Cônscia do poder inexorável de poucos sobre muitos na realidade socie
tal, a segunda vertente adota a instância moral de opção pelos oprimidos,
dando
um
passo além do interacionismo simbólico, ainda despolitiza
do , embora, a nosso ver, com todas
as
possibilidades de se tornar
um
aliado da ciência compromissada.
2
trabalho está dividido em quatro partes; na primeira expomos
os fundamentos teóricos do interacionismo simbólico, elegendo George
Herbert Mead como elemento exemplar da concepção interacionista. A
etnometodologia de Harold Garfinkel e a dramaturgia social
de
Erving
Goffman
são
elaborações particulares da mesma corrente, ilustrando
aplicações concretas dos princípios interacionistas. A segunda parte trata
de alguns métodos ou técnicas qualitativas de captação de dados que
se
prestam à análise da ação social, tais como: a observação participante, a
história da vida, a história oral e a entrevista. A terceira parte apresenta
a proposta alternativa aos métodos da pesquisa tradicional consubstancia
da na pesquisa-ação e pesquisa-participante. omo exemplos de pesqui
sa-ação tomamos a enquete operária, conforme foi exposta por Michel
Thiollent, a intervenção sociológica de Alain Touraine e a pesquisa-ação
institucional de René Barbier. O capítulo sobre a pesquisa-participante
foi composto como uma síntese de vários trabalhos. Dada a falta de uni
formidade e de homogeneidade entre os diferentes autores, ensaiamos
uma apresentação ideal típica sem muita segurança de estar atingindo o
objetivo de colocar
com
clareza seus fundamentos teóricos básicos e suas
coordenadas metodológicas mais comuns.
A quarta parte retoma
um
tema apenas lembrado nas onclusões
das edições anteriores. Ao mesmo tempo em que atualiza os debates em
torno de algumas correntes marxistas contemporâneas, especialmente o
marxismo analítico, explicita certas desavenças e controvérsias sobre a va
lidade de utilização do individualismo metodológico face aos postulados
marxianos.
Ao final de cada parte introduzimos comentários críticos que re
fletem as dificuldades de o rdem epistemológica e metodológica que nos
parecem mais evidentes. Este não pretende ser
um
trabalho exaustivo
sobre os temas tratados, mas uma contribuição à reflexão sobre a forma
ou formas possíveis de produção do conhecimento dentro do espírito
sugerido por Carlos Rodrigues Brandão, de que faz falta na literatura
especializada uma crítica científica e uma crítica política das diferentes
propostas de pesquisa participante, ao que acrescentaríamos: uma dis
cussão que exiba as angústias e impotências de um cientista social que
se
pretende compromissado com a justiça e a equidade, mas que
se
sente
21
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preso aos imperativos do rigor científico. omo fazer a união das duas
preocupações é uma questão sobre a qual apenas tateamos respostas
em-
bora estejamos mais propensos a crer que o problema epistemológico nas
ciências humanas não
tem
solução re·stando a instância moral da opção
pelos oprimidos.
omente os homens que
creem
apaixonadamente
nos
valores
e
põem
em jogo uma
vontade
apaixonada
podem
chegar a
ser
grandes
cientistas Sombart).
PRIMEIR P RTE
Fundamentos
teóricos
de
algumas
metodologias qualitativos no sociologia
8/17/2019 Haguette-Teresa-Metodologias-Qualitativas-Na-Sociologia.pdf
13/112
L
interação
simbólica
1
Introdução
A escola da interação simbólica
se
reporta em origem a clássicos
da sociologia do fim do século XIX tais como Charles
Horton
Cooley
(1864-1929), WI. Thomas (1863-1947) e George Herbert Mead (1863-
1931)6, embora o termo interacionismo simbólico tenha sido cunhado
por Herbert Blumer em
19371. Os
pontos comuns aos três envolvem as
concepções da sociedade como
um
processo, do indivíduo e da sociedade
como estreitamente inter-relacionados e do aspecto subjetivo do com
portamento humano como uma parte necessária no processo de forma
ção e manutenção dinâmica do self social e do grupo social (PSATHAS,
1973: 5). Alguns de seus conceitos já
se
incorporaram à terminologia
sociológica como a introspecção simpatética de Cooley, a definição
de situação g de Thomas ou o outro generalizado de Mead. A obra de
Mead, entretanto, foi aquela que mais cont ribuiu para a conceptualização
da perspectiva interacionista. Por esta razão nos deteremos sobre ele para
um
melhor exame dos fundamentos desta escola.
2
George Herbert
Meod
Mead não publicou uma obra completa e sistemática sobre sua
teoria. Todos os seus quatro livros são póstumos e organizados por edito-
6. COOLEY, Charles H. uman
Nature
and
the
Social
Order.
Nova York: Schoken, 1964
[originalmente publicado
em
1902]. COOLEY, Charles
H.
The Roots of Social Kno
wledge . ln:
The
American
Journal o
Sociology vol. 32
Oul.
1926), p. 59-79. COOLEY,
Charles H. A Study ofthe Early Use ofSelf-Words by a Child . Psychological Review vol.
15
nov. 1908),
p.
339-357.
THOMAS
William
r
On Social
Organization and
Social Perso-
nality: Selected Papers. Chicago: UniversityofChicago Press, 1966 [com uma introdução
de Morris]anowit z]. MEAD, George Herbert: nota sobre o autor, adiante.
7 CE
BLUMER, H. 1969:
1,
nota de rodapé.
8.
Muit o utilizada na literatura especializada é a frase de Thomas: Se os homens definem
situações como reais, elas são reais nas suas consequências .
25
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14/112
res a partir de palestras, aulas, notas e manuscritos fragmentários.
Seu
sistema de psicologia social, entretanto, é apresentado de
forma
completa
em Mind Self and Society9 um dos mais importantes e influentes livros
na área da interação simbólica, onde autor explora não somente a
complexa relação entre a sociedade e o indivíduo,
como
expõe a gênese
do self o desenvolvimento de símbolos significantes e o processo de
comportamento
da
mente.
Apesar de sua obra como
um
todo exibir
uma
orientação filosófica, ele preocupou-se
em
ilustrar suas proposições
a partir de fatos da vida cotidiana. Mead, o arquiteto por excelência do
interacionismo simbólico, ensinou na Universidade de Chicago
no
perío
do de 1893 a 1931,
quando
faleceu. Ele próprio
se
referia à sua teoria
em
termos de behaviorismo social lo, ente ndendo
por
isto a descrição
do comportamento do nível humano cujo dado principal é o ato social
concebido não só
como
o compor tament o externo observável,
como
também
a atividade encoberta do ato. Neste sentido, sua teoria
se
opõe
ao behaviorismo radical de John B. Watson, que reduz o co mportamento
humano
aos mesmos mecanismos encontrados ao nível infra-humano e
onde
a dimensão social é vista
como
uma
mera
influência externa sobre
o indivíduo. Enquanto Watson insiste no estudo estritamente científico
do comportamento aparente, Mead permite uma instintiva investigação
compreensiva de aspectos do
comportamento
ausente
na
perspectiva
de Watson. A lógica natural
do
pensamento de
Mead
parece indicar a
precedência da sociedade sobre o selfe, por último, a
mente
invertendo,
assim, a
ordem
do título de sua principal obra: Mind Self and society
(MELTZER, 1972: 5; TROYER 1972: 321).
9. As quatro obras publicadas são: Philosophy qf he Present (1932) que contém
as
palestras
de Mead na Paul
Carus
Foundati on, sobre filosofia da história
dentro
de
uma
perspectiva
pragmática; Mind Seifand Society. Chicago, U niversity of Chicago Press, 1934, que, apesar
de ser a principal publicação de Mead, representa uma coleção de aulas ministradas no
curso de psicologia social na Universidade de Chicago;
Movements ofThought
in the
19 th
[entury. Chicago: University of Chicago Press, 1936, foram aulas proferidas sobre a his
tória das ideias e, finalmente, Philosophy of he
Act.
Chicago: University of Chicago Press,
1938,
que
representa afirmações sistemáticas, sobre a filosofia do pragmatismo (MELT-
ZER 1972: 4 .
10. Behaviorismo social, distinto do behaviorismo radical de John B. Watson, fundador
do
behaviorismo em psicologia.
26
2 1 socied de
De
acordo
com
Mead, toda atividade grupal se baseia no compor
t a m ~ n t o cooperativo. Embora algumas sociedades infra-humanas ajam
conjuntamente, fazem-no levadas pelas características biológicas de seus
m e m b r ~ s
O comportamento cooperativo dos insetos, por exemplo, é
determmado fisiologicamente sem que seus padrões de associação se al
terem mesmo ao longo de inúmeras gerações, enquanto que a cooperação
huma_na, com sua diversidade de padrões, atesta que os fatores fisiológi
cos nao
podem
explicá-la. A associação
humana
surge somente quando:
a
cada, t o r i n ~ i v i ~ u l percebe a intenção dos atos dos outros e, então, b)
constrol sua
propna
resposta baseado naquela intenção. Isto significa que,
p r ~ haver cooperação entre seres humanos, é necessário que alguns
me
camsmos estejam presentes de forma que cada ator individual: a possa
entender as linhas de ação dos outros e b) possa direcionar seu próprio
comportamento
a fim de acomodar-se àquelas linhas de ação. O compor
tamento
humano
não é
uma
questão de resposta direta às atividades dos
outros, mas envolve uma resposta
às
intenções dos outros, ou seja, ao
fu
turo e intencional comportamento dos outros, não somente às suas ações
presentes (MELTZER, 1972: 6). Estas intenções são transmitidas através
de ges.tos que se tornam simbólicos isto é, passíveis de
serem
interpretados.
A
SOCIedade humana
se funda, pois, na base
do
consenso, de sentidos
compartilhados sob a forma de compreensões e expectativas
comuns.
Quando
os gestos assumem um sentido
comum ou
seja, quando eles
adquirem
um elemento
linguístico, podem ser designados de símbolos
significantes . O componente significativo de um ato
ll
, que representa
uma atividade mental, acontece através do role-taking: o indivíduo deve
colocar-se na posição de
outra
pessoa, deve identificar-se
com
ela
12
. Para
Mead a relação dos seres humanos entre
si
surge
do
desenvolvimento de
sua habilidade de responder a seus próprios gestos. Esta habilidade permi
te que diferentes seres humanos respondam da mesma forma ao mesmo
11. Que Mead chama meaning .
12. Este proces -
so ocorre nao soment e em termos da assunção do papel de uma pessoa
espeCifica com o d I do pape e um grupo, o que Mead chamageneralized other. Além do con-
ceito
Taking
the
role q
he other Mead se refere à
conversat;on
qfi?estures ou conversação de
gestos , no mesmo sentido.
27
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15/112
gesto, possibilitando a compartilhar de experiências, a incorporação entre
si
do
comportamento. O comportamento é, pois, social e não meramente
uma
resposta aos outros. O ser
humano
responde a si
mesmo
da
mesma
forma
que
outras pessoas lhe
respondem
e, ao fazê-lo, imaginativamente
compartilha a
conduta
dos
outros
(MELTZER, 1972:
8). De
acordo
com
a interpretação de
Blumer
(1969: 82), são estas as características da análise
de Mead, baseada na interação simbólica
l3
.
Elas pressupõem:
que a sociedade humana é feita
de
indivíduos que têm
selves
(isto
é
que fazem indicações para
si
mesmos); que a
ação
individual é uma construção e não um dado, erigida pelo
indivíduo através
da
percepção
(noting)
e interpretação das
características das situações nas quais ele atua; que a ação
grupal ou coletiva consiste do alinhamento de ações indivi
duais trazidas pelas interpretações que
os
indivíduos alocam
às
ações dos outros ou consideram em termos
da ação de
cada um
(T.
do
A.).
A sociedade humana deve ser vista como consistindo de
pessoas em ação e a vida
da
sociedade deve ser vista como
consistindo de suas
ações. As
unidades atuantes podem ser
indivíduos separados, coletividades cujos membros agem
conjuntamente com vistas a uma ação
(quest)
comum, ou
organizações atuantes em benefício de uma constituência
(constituency). Respectivos exemplos são compras individu
ais
em um mercado, um grupo que joga ou uma banda mis
sionária, e uma cooperação de negócios ou uma associação
profissional nacional. Não existe nenhuma atividade empi
ricamente observável em uma sociedade humana que não
surja
de
alguma unidade
de ação
(T.
do
A.).
13.
Ao fazer a explanação do pensamento de Mead, Blumer critica a sociologia convencio
nal por acreditar que o comport amento das pessoas como mem bros de uma sociedade é
uma expressão do jogo de forças societais sobre elas, como sistema social, estrutura social,
cultura, costume, instituição, normas, valores, etc. Blume r alega que esta abordagem ignora
que as ações sociais dos indivíduos numa sociedade são construídas por eles através de um
processo de interpretação.
28
A ação
comum,
contudo, ocorre
em
relação a
um
lugar e a
uma
situação. Toda e
qualquer
unidade de ação -
um
indivíduo,
uma
família,
uma
escola,
uma
igreja,
uma
firma,
um
sindicato,
um
legislativo, assim
por
diante a ação
em si
- é feita
à
luz de
uma
situação específica. Logo, a
ação é construída através da interpretação da situação, consistindo a vida
grupal de unidades de ação desenvolvendo ações para enfrentar situações
nas quais elas estão inseridas
BLUMER,
1969:
85 14.
2 2
s lf
Ao afirmar que o ser
humano
possui um self, Mead quer enfatizar
que, da mesma forma
que
o indivíduo age socialmente
com
relação a
outras pessoas, ele interage socialmente consigo mesmo. Ele pode tornar-se
o objeto de suas próprias ações. O self, assim como outros objetos, é for
mado através das definições feitas por outros que servirão de referen
ciai para
que
ele possa ver-se a si
mesmo
l5
.
Assim sendo, o ser
humano
pode tornar-se objeto de suas próprias ações
dentro
da sociedade que,
de
acordo
com
Mead, precede a existência
do
self. A sociedade representa,
pois, o contexto
dentro do
qual o
s lf
surge e se desenvolve. Este
desen-
volvimento tem início em um estágio de imitação por parte da criança,
sem qualquer componente significativo. Em seguida ela passa a assumir
o papel de outros
em
relação a si própria; exemplos destes papéis são a
14.
Paralelamente ao trabalho de Mead, Willian
I.
Thomas elaborava o conceito de defi
nição de situação : preliminar a qualquer ato de comportament o autodeterminado existe
sempre
um
estágio de exame e deliberação que nós podemos chamar de 'definição de
situação'. Na verdade, não apenas os atos concretos são dependentes da definição de si
tuação, mas gradualmente uma completa política de vida e a personalidade do próprio
indivíduo seguem de uma série de tais definições . The
Unadjusted
Gir . Boston: Little,
Browand Company, 1931, p. 41.
15.
Este aspecto foi desenvolvido concomitantement e por Charles H. Coo ley através do
conceito looking glass self : muna larga e interessante classe de casos a referência social
~ o m a forma de alguma imaginação definida de como o s lfde alguém - isto é qualquer
Ideia que ele se aproprie - aparece muna mente particular, e o tipo de autossentimento
(self:feeling)
que alguém sente é determinado pela atitude dirigida a isto, atribuída por esta
outra mente. O s lfsocial deste tipo poderia ser chamado de vidro refletido ou looking
glass self CE COOLEY C.H . Looking-Glass SelE ln: MARIS J.G. MELTZER B.N.
(org.), 1972. De acordo com Manford H . Kuhn (1972), Cooley representa um dos inte
lectuais que antecede ram a teoria do papel .
29
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16/112
mãe ,
a professora , o
bandido ,
o mocinho
etc. Quando
a criança
é capaz de fazer o jogo de diferentes papéis ela
já
constrói ~ u e Mead
chama
de
generalized other
ou
papel
coletivo,
o
que ele adqumU no
~ u r -
so
de sua
associação
com
os outros e
cujas expectativas ela
internahzou
(MELTZER, 1972: 10). Meltzer,
ao
interpretar o pensamento ~ e a d
enfatiza
que o s lf representa
um processo
social no interior do mdlVlduo
envolvendo duas fases analíticas distintas:
O Eu é a tendência impulsiva do indivíduo. Ele é o aspecto ini-
cial
espontâneo e desorganizado da experiência humana.
Logo
ele representa as tendências não direcionais do indivíduo.
O Mim representa o outro incorporadoao indivíduo.
Logo
ele
compreende o conjunto organizado
de
atitudes e definições, com
preensões e expectativas - ou simplesmente sentidos - comuns ao
grupo.
Em qualquer situação o Mim compreende o outro gene
ralizado e raramente,um outro particular (não grifo do A).
Todo ato começa na forma de um Eu e geralmente termina na
forma de um Mim . Porque o Eu representa a iniciação do
ato antes dele cair sob o controle das definições e expectativas dos
outros
(Mim).
O Eu , pois, o dá propulsão, enquanto o Mim
dá direção ao ato. O comportamento humano, então, pode ser
visto como uma série perpétua de iniciações de atos pelo Eu
e de ações retroativas sobre o ato (isto é direcionarnento do ato)
pelo Mim . O ato é a resultante desta interação
l6
T. doA).
A formação
do self assim como
o ato humano,
tem uma
fun
damentação social.
Entretanto, nem
o
self nem
o ato social
são
estáticos.
Eles evoluem ou
se
modificam
de
acordo com as mudanças nos padrões
e nos conteúdos das interações que o indivíduo experiencia, não só
com
os
outros,
como
consigo mesmo. Por
que
o
indivíduo
p o s s ~ i
um
seif é
capaz de ter
uma
vida
mental: ele
pode fazer i n d i c a ç ~ s
para
SI pró
pno _ o que constitui a
própria
mente. Por
que
ele pOSSUi uma
mente,
16. Meltzer (1972: 11, nota 3) discute a aparente semelhança existente entre os conceitos
do Eu e do Mim , de Mead, e aqueles do ID , EGO e Superego de Freud. Ele
afirma que, enquanto o Superego age de forma frustrante e repressiva sobre o
ID ,
o
MIM proporciona a direção necessária e muitas vezes, gratificante
aos
Impulsos desor
denados do EU . Outras comparações menores são elaboradas.
30
tem a possibilidade de dirigir e controlar seu comportamento,
ao
invés de
tornar-se
um agente
passivo dos impulsos
e
estímulos.
Neste sentido, Mead
(1936:
389-390
citado
por TROYER, 1972)
afirma
que
o organismo social
2 3 mente
17
[ .. ] não é
um
protoplasma sensitivo
que
está simplesmente
recebendo estes estímulos de fora e, então, respondendo a
eles. Ele está primariam ente procurando certos estímulos ..
Qualquer coisa que estejamos fazendo
determina
o tipo de
estímulo
que
desencadeará certas respostas
que
estão
mera
mente prontas para expressar-se, e é a atitude
em termos
de
ação
que
nos determina
que
estímulo será
(T. do
A.).
Mead considera indispensável o aparato fisiológico
do organismo
para
o desenvolvimento
da
mente (sistema nervoso
central
e córtex). É
através
dele que a gênese das mentes e dos selves
se
torna biologicamente
possível
em indivíduos
humanos
através
dos processos sociais de experiên
cia
e comportamentos, dentro de
uma
matriz de relações sociais e intera
ções. O
cérebro
é necessário para a
emergência
da mente, mas ele
sozinho
não
faz a
mente. É
a sociedade-interação social
que, usando os
cérebros,
forma
a
mente.
O comportamento
humano
inteligente é essencialmente
e fundamentalmente social (TROYER, 1972:
324
- T.
do
A.).
Como um
selfpode surgir somente em uma sociedade onde
haja comunicação, da mesma forma a
mente
só pode
emer
gir em
um
selfou personalidade dentro da qual esta conver
sação de atitudes ou participação social toma lugar. É esta
conversação, esta interação simbólica, interposta
como
uma
parte integral
do
ato,
que
constitui a
mente
(MEAD, 1936:
384-385, citado por TROYER, 1972: 324 -
T.
do A.).
A mente é concebida por Mead como
um processo
que
se
mani
festa sempre
que
o indivíduo interage consigo próprio usando
símbolos
significantes. Esta significância ou sentido é
também
social em
origem,
17.
Por considerarmos
os
aspectos propriamente fisiológicos da mente
fora dos
propósitos
da presente discussão, não nos referiremos a
eles.
Remetemos, entretanto, o leitor a Mead
(1936).
31
8/17/2019 Haguette-Teresa-Metodologias-Qualitativas-Na-Sociologia.pdf
17/112
conforme já referimos anteriormente.
Da
mesma forma a mente é social
tanto
em
sua origem
como em
sua função, pois ela surge do processo
social de comunicação. Dentro deste processo, o organismo seleciona
aqueles estímulos que são relevantes para suas necessidades, rejeitando
outros que considera irrelevantes. Todo comportamento implica
em
uma
percepção seletiva de situações.
A
percepção não pode, assim, ser conce
bida como
uma
mera impressão de alguma coisa do exterior no sistema
do
indivíduo.
Por outro lado, o ser animal vive
em um mundo
de "objetos"
que constituem seu ambiente circundante. Entretanto, o ser humano,
diferentemente do animal irracional, é capaz de "formar" seus próprios
"objetos",
ou
seja, através de sua atividade ele estabelece seu ambiente e
os objetos sociais que dele fazem parte. O "objeto" é destacado pela
men
te através da percepção, possibilitando ao indivíduo planejar suas ações.
A atividade mental necessariamente envolve sentidos que são atribuídos
aos objetos, definindo-os.
O
sentido de
um
objeto ou evento é simples
mente uma imagem do padrão de ação que define o objeto ou o evento"
(MELTZER, 1972: 18).
Finalmente, depois da apresentação sumária e, certamente, sim-
plificada do pensamento de George
Herbert
Mead, pretendemos ter
mostrado a vinculação e a unidade orgânica existentes entre os principais
conceitos do autor, tais como a interação simbólica, a assunção de papéis,
o sentido, o s lfe a mente que caracterizam o ato humano.
2.4. Considerações críticas
A
obra de Mead, embora original e coerente, apresenta algumas
deficiências e incompletudes, fruto da forma como o autor elaborou seu
pensamento e da não intencionalidade de publicação de seus escritos na
época. Confor me
já
referido anteriormente, eles representavam, na sua
maioria, apontamentos fragmentários e esquemas das aulas
ou
palestras
que ministrava e que foram selecionadas e editadas postumamente sem
muita preocupação quanto à organização, justificando-se, assim, as repe
tições e as ideias mal-acabadas
ou
vagas. Meltzer
(1972: 18-21)
empre
ende
uma
avaliação crítica detalhada, dentro da perspectiva da psicologia
social, do pensamento de Mead, especialmente no que diz respeito à
alta
32
de clareza
à
ambiguidade
de certos conceitos relacionados com a natureza
dos "impulsos"; falta de consistência no uso dos conceitos de "sentido"
e "mente"; ambiguidade nos conceitos de "Eu" e "Mim", assim como de
self simplificação
no
uso do conceito de "outro generalizado"18. "ouso
lm-
preciso dos conceitos de "obieto" e "imagem" e finalment b
J , , e,
a am
19u1-
dade
no
uso dos conceitos de "atitude", "gesto" e "símbolo" ao tratar do
comportamento infra-humano. Outra parte da crítica de Meltzer se dirige
às omissões da teoria de Mead: falta de poder explicativo por negligenciar
"
A
d d
porque a con uta e restringir-se ao "como"; sua missão quanto ao
papel dos elementos efetivos no surgimento do s lfe da interação sociaP9:
omissão, também, quanto à natureza (ou até
eXl steAncl a)
d "
mconSCiente
ou subconsciente e dos mecanismos de ajustamento. Finalmente, Meltzer
chama a atenção para a ausência de uma proposta metodológica na obra
de Mead - o que será retomado por Blumer e discutido mais adiante - e
da falta de evidência sistemática para seus posicionamentos.
Quanto às
contribuições, Meltzer
(1969: 21-22)
relaciona a in
f l u ~ n c i de Mead na sociologia sobre Cooley, Tho mas, Park, Burgess,
E.
Fans e Blumer, além de outros na área da psicologia sociapo; sua ênfase
nos aspectos encobertos, subjetivos do comportamento; sua crença de
~ u e o comportamento
humano
é comportamento
em
termos do que as
s l t ~ ç õ e s
simbolizam e de que a mente e o s lfsão sociais ao invés de bio
logt.camente dados; a importância que ele aloca à linguagem como me
camsmo emergência da mente e do
self;
sua definição de
s lf
como
um
agente atlvo; sua concepção de "ato" enfatizando a tendência dos indiví
duos de construir seu comportamento
no
curso da atividade e descobrir
~ b j e t o s
e seu ambiente circundante; sua discussão da maneira como os
m d ~ v í d u o s
constroem seu mundo comum; e, finalmente, a forma como
e.le dumina o caráter da interação social, concebendo-a como o compar-
tdhar de comp t " 'd A I
or
amentos, ao mves e ve- os como resposta passiva a
um
estímulo externo.
18. Limitação re
d
d h
co
d me
la
a, 0Je, pelos trabalhos sobre "grupo de referência" que criaram o
ncelto e "out f i
do"
(MET'T'
ros Slgnl Cantes , aclarando a concepção de Mead de "o utro generaliza-
LIZER,
1969:
20)
19. Problema superado por Cooley"
20 L d
~ 1 4 ; h ; ~ n ~ ~ 1 T. No::omb, W c o n ~ ~ ~ J M
"T-lCH /U13(;
8/17/2019 Haguette-Teresa-Metodologias-Qualitativas-Na-Sociologia.pdf
18/112
I
I
I
I
Muitas das críticas, acima referidas brevemente,
têm como
re
ferencial a psicologia social, perdendo, pois,
seu
impacto
dentro
de
uma
avaliação propriamente sociológica. Desta forma, não podemos perder de
vista que os
insights
de Mead foram de
uma
importância u ~ d a m e n ~ l
: ~ r a
o desmembramento
do
interacionismo simbólico em teonas SubsIdIanas
tais
como,
entre outras
21
,
o
dramaturgismo
de Goffman e a etnometodologia
de Harold Garfinkel que discutiremos mais adiante.
2 5
A
natureza
da
interação
simbólica
Apesar da relevância dos estudos clássicos acima referidos, além
de outros, eles não exibem
uma
sistemática capaz de representar
com
clareza os pressupostos básicos da abordagem interacionista. Coube.a
Herbert
Blumer fazê-lo através de seus escritos iniciados em 1937, CUJa
maioria está reproduzida em sua mais import ante publicação,
Symbolic
Interactionism Perspective and Method New
Jersey: Prentice-Hall, Inc. /
Englew ood Cliffs, 1969). .
Blumer
apresenta e discute os mais importantes aspectos da m-
teração simbólica
tentando
ser fiel ao
pensamento
de Mead, abordando
sobretudo a natureza
da
interação simbólica, a natureza da sociedade e da
vida
em
grupo, a natureza dos objetos, da ação
humana
e a ação
c o n j u n ~ a
Vejamos seus
pontos
básicos. De acordo com este autor, são três premIS
sas básicas do interacionismo simbólico:
1.
O ser humano age com relação
às
coisas na base dos sentidos que elas
têm
para ele. Estas coisas
incluem todos
os
objetos nsicos, outros
seres
humanos, categorias
de
seres humanos (amigos ou inimigos), institui
ções, ideias
valorizadas (honestidade), atividades dos outros e outras situ
ações que o indivíduo encontra na sua vida cotidiana.
2.
O
sentido
destas coisas é derivado, ou surge,
da
interação social que
alguém estabelece com seus companheiros.
3. Estes
sentidos
são manipulados
e
modificados através
de um
processo
inter-
pretativo usado pela
pessoa ao
tratar
as coisas
que
ela
encontra (grifo do A).
Ao contrário das posturas encontradas em muitas abordagens das
ciências psicológicas, o interacionismo simbólico aloca
uma
importância
21.
Outras
vertentes
do
interacionismo simbólico
podem
ser identificadas nos trabalhO >
sobre teoria
do
papel , grupos de referência e teoria
do self ·
34
fundamental ao
sentido que as
coisas
têm
para o
comportamento humano.
Ignorar isto sigrtifica falsificar o
comportamento
em estudo
BLUMER,
1969: 3). Por
outro
lado, o interacionismo simbólico
também
se diferen
cia de outras abordagens
quando
concebe o
sentido como
emergindo
do
processo de interação entre
as
pessoas, ao invés de percebê-lo seja
como
algo
intrínseco ao ser, seja
como uma
expressão dos elementos consti
tuintes da psique, da mente, ou de organização psicológica.
A utilização de sentidos, entretanto, envolve um processo inter
pretativo
que
acontece
em
duas etapas. Pr imeir ament e o ato r indica a
si
mesmo as
coisas em direção das quais ele está agindo; ele aponta a si
mesmo as
coisas que
têm
sentido. Isto representa um processo social
in
ternalizado no qual o ato r interage consigo mesmo de uma maneira
bem
diversa daquela
na
qual interagem os elementos psicológicos - represen
tando a instância da pessoa engajada
em um
processo de comunicação
consigo
mesma.
Em seguida,
em virtude deste
processo, a
interpreta
ção passa a significar a forma de manipulação
de
sentidos, ou seja, o ator
seleciona, checa, suspende, reagrupa e transforma os sentidos à luz da
situação na qual ele está colocado e da direção de sua ação. A interpreta
ção é, pois, um processo formativo, e não
uma
aplicação sistemática de
sentidos
já
estabelecidos.
Ao fundar-se nestas premissas, a interação simbólica é levada
ne
cessariamente a desenvolver
um
esquema analítico da sociedade
humana
e da conduta
humana que
envolve certas ideias básicas
22
relacionadas
com
a natureza das seguintes matérias: grupos
humanos ou
sociedades,
inte
ração social, objetos, o ser
humano como
ato
,
a ação
humana
e
as
inter
conexões entre
as
linhas de ação.
Em uma
visão de
conjunto
estas ideias
representam a forma
como
o interacionismo simbólico vê a sociedade
humana
e a conduta.
A sociedade humana ou a vida
humana
em grupo é vista
como
consistindo de pessoas
que
interagem,
ou
seja, pessoas em ação
que
de
senvolvem atividades diferenciadas que
as
colocam em diferentes situa
ções. O princípio fundamental é que os grupos humanos, assim
como
a
sociedade, existem em ação e devem ser vistos em termos de ação. É
22 Ou .
.
root
Images como prefere Blumer (1969: 6).
35
8/17/2019 Haguette-Teresa-Metodologias-Qualitativas-Na-Sociologia.pdf
19/112
através deste processo de constante atividade que estruturas e orgamza
ções são estabelecidas. Logo, a vida do grupo necessariamente pressup.õe
a interação entre os membros do grupo ou,
em
outros termos, a SOCle-
dade consiste de indivíduos interagindo uns com os outros, e cujas ativi
dades ocorrem predominantemente
em
resposta de
um
a outro,
ou em
relação de
um
a outro. Torna-se, pois, evidente que a interação não pode
ser tratada _ embora admitida - meramente como
um
meio através do
qual
as
determinações do comportamento passam a produzir o próprio
comportament0
23
.
Tomando
um
outro aspecto do pensamento de Mead, Blumer
discute a necessidade das partes interagentes assumi rem o papel do ou
tro , a fim de que
as
indicações dirigidas à(s) outra(s) parte(s) sejam feitas
a partir do ponto de vista desta outra parte, de modo que sua intenção seja
percebida. A
mútua
assunção de papéis é
uma
condição
sine qua non
da
comunicação e da interação efetiva de símbolos.
Quando uma
pessoa faz
indicações a outra, ela o faz indicando objetos significativos para ela, que
fazem parte de seu mundo . Um objeto é visto, então, como qualquer
coisa que pode ser indicada
ou
referida.
O sentido dos objetos para uma pessoa surge fundamentalmente
da maneira como eles lhe são definidos por outras pessoas que com ela
interagem, consistindo o meio circundante de qualquer pessoa,
unicamen-
te
dos objetos que esta pessoa reconhece. Assim, para que
se
compreenda
a ação das pessoas, é necessário que se identifique seu mundo de objetos.
Os objetos _ em termos de seus
sentidos
- são criações sociais, ou seja, são
formados a partir
do
processo
de
definição e interpretação através
da
interação
humana.
A vida
de
um
grupo humano dentro
da perspecti
va interacionista representa
um
vasto processo de formação, sustentação
e transformação de objetos, na medida
em
que
seus sentidos se modifi-
cam, modificando o mundo das pessoas.
Para ser capaz de interagir, o ser
humano
deve possuir
um self.
Ele
representa
um
organismo que não somente responde aos outros
como
23. Blumer (1969: 7) critica certas perspectivas psicológicas e sociológicas que ignoram
que
a interação não pode ser concebida como interação de elementos psicológicos ou
societais, tais como: a interação entre atitudes, a interação de papéis sociais ou de compo
nentes
do
sistema social. Ele enfatiza que a interação social representa
uma
interação entre
atores e não entre fatores que sobre eles atuam.
36
a
si
mesmo, ou seja, o ser
humano
pode ser
um
objeto de suas próprias
ações. Como outros objetos, o s lf surge do processo de interação social
no
qual outras pessoas estão definindo alguém para
si
mesmo. A fim de
tornar-se um objeto para si mesma a pessoa deve ver-se a si mesma de fo
ra , ou seja, colocando-se no lugar ou no papel dos outros e vendo a si
própria ou agindo para si mesma daquela posição. Consequente mente,
nós vemos a nós mesmos através da forma
como
os
outros
nos
veem
ou
nos definem.
O ser
humano
difere do animal porq ue ele é capaz de fazer in
dicações para
si
mesmo. Isto significa que, ao confrontar o
mundo
de
objetos que o rodeia, ele deve interpretá-lo a fim de agir, construindo
um
guia de ação à luz desta interpretação e não somente responder aos
fatores que sobre ele atuam. A ação da parte do ser
humano
consiste
em
tomar em consideração as várias coisas que ele nota, construindo uma li
nha de conduta na base de como ele as interpreta (BLUMER, 1969: 15).
A perspectiva interacionista, pois, está em completo desacordo
com certas visões dominantes, tanto na psicologia como nas ciências so
ciais que ignoram o processo de autointeração, através do qual o indi
víduo manipula o seu
mundo
e constrói sua ação. Ao contrário, estas
visões concebem a ação como originando-se de
ou
combinando-se com
(motivos, atitudes, complexos inconscientes, configuração de estímulos,
demandas de status ou de situação, etc.). Sumariando o processo de for
mação da ação, Blumer (1969: 16) enfatiza:
Nós devemos reconhecer que as atividades dos seres hu
manos consistem no enfrentamento de uma sequência
de situações nas quais eles devem agir, e
que
suas ações são
construídas à
base do
que
eles notam, de
como
eles avaliam
e interpretam o
que
eles notam, e
do
tipo de linhas de ação
projetadas que eles mapeiam.
As normas de ação humana se aplicam tanto para a ação indivi
dual como para a ação coletiva e, neste ponto, Blumer discute um último
~ p e t o do processo de interação simbólica, que se refere
à
ação con-
Junta j .
omt
actton
ou coletlva. Da mesma forma que a ação individual,
a ação conjunta pode
se
constituir
em
objeto de estudo, não perdendo o
caráter de ser construída através de
um
processo interpretativo, quando
37
que
sempre se utilizam de seu mundo de objetos , de seu conjunto de
8/17/2019 Haguette-Teresa-Metodologias-Qualitativas-Na-Sociologia.pdf
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a coletividade enfrenta situações nas quais é chamada a agir. A ação con
junta, apesar de ser composta da atividade de diferentes linhas de ação
dos indivíduos componentes, tem um caráter
sui generis
isto é um caráter
que torna a articulação
ou
a vinculação das ações individuais diferente do
somatório destas ações
24
• assim que se pode falar de casamento, de tran
sações comerciais, de família, de universidade ou de nação. Apesar de seu
caráter distintivo, a ação conjunta
tem
sempre que operar através de um
processo de formação , ou seja, embora certas ações conjuntas aparen
temente exibam formas estabelecidas e repetitivas de ação, cada
uma
de
suas instâncias deve ser formada novamente. Estas formas decorrentes
de ação permitem ao indivíduo partilhar sentidos comuns e preestabele
cidos sobre as expectativas de ação dos participantes e, conse quente men
te, cada participante é capaz de guiar seu próprio comportamento à luz
destes sentidos.
Aqui, Blumer novamente critica as visões dominantes na litera-
tura de ciências sociais que entendem estas formas repetitivas da ação
conjunta como a essência ou a forma natural da vida
humana
em grupo.
Elas acreditam que a sociedade humana existe sob a forma de uma
ordem
estabelecida de vida através da aderência a
um
conjunto de regras, nor
mas, valores e sanções
que
especificam como os indivíduos devem agir
em situações específicas. Exemplos disto são os conceitos de cultura e
de ordem social . O fato é que, por detrás da fachada da ação conjunta
percebida objetivamente, o conjunto de sentidos que sustém esta ação
conjunta tem sua vida própria.
Não
é verdade que
são
as
regras
que criam e
sustentam vida em
grupo mas ao
contrário é o
processo
social
de
vida
grupal
que
cria e
mantém
as
regras.
As
instituições, por exemplo, representam
uma
rede que não fun-
ciona automaticamente
por
causa de certa dinâmica interna
ou
sistema de
requerimentos; funciona porque as pessoas, em momentos diferentes, fa
zem
alguma coisa, como um resultado da forma como definem a situação
na qual são chamadas a agir. Por outro lado, a ação conjunta necessaria
mente surge e se configura a partir das ações prévias de seus participantes
24. Percebe-se aqui a semelhança entre a perspectiva interacionista
com
relação à ação
conjunta e os conceitos de multidão de
Mannhein
e de consciê ncia coletiva de
Durkheim,
no
sentido de cons iderar seu caráter
sui
generis.
38
s e n ~ i d o s e
d.e
seus esquemas de interpretação
que
já possuem. A ação
conjunta, pOlS representa não somente um vínculo horizontal com as
atividades dos participantes,
como
um vínculo vertical com suas ações
conjuntas prévias.
2 6
Princípios
metodológicos do interacionismo simbólico
Apesar de basear-se sobretudo em Mead na formulação e explici
tação dos princípios da interação simbólica, Blumer chama a atenção para
o fato de que
um
posicionamento metodológico definido está ausente
nos escritos daqueles que representam a tradição intelectual do interacio
nismo simbólico, tais como Mead, Dewey, Thoma s, Park, James, Cooley,
Znaniecki, Baldwin, Redfield e With. Assumindo inteira responsabilida
de ele se propõe a identificar os princípios norteadores da metodologia no
caso da ciência empírica e a tratar especificamente com a postura metodo
lógica do interacionismo simbólico.
Sua perspectiva, ao invés de filosófica, pretende-se empírica, ou
seja, designada a prover
um
conhecimento
verificável
sobre a vida humana
em
grupo e sobre a conduta humana. Consequentemente, algumas exi
gências devem ser preenchidas. O primeiro pressuposto básico, que, na
verdade, representa uma redundância, é que uma ciência empírica pres
supõe a existência de um mundo empírico disponível para observação,
estudo e análise. Este mundo empírico deve representar sempre o ponto
central de preocupação do pesquisador, o ponto de partida e o ponto de
chegada da ciência empírica. A realidade , para a ciência empírica, existe
somente
no mundo
empírico e somente
lá
pode ser procurada e veri
ficada. Entretanto, é necessário que não se confunda esta posição com
outras de corte positivista. Ao contrário delas, esta postura se aproxima e
aceita
um
dos postulados idealistas de que o
mundo
da realidade existe
somente na experiência humana e que ele aparece somente sob a forma
de como os seres humanos veem este mundo. A ciência empírica tem
por fim captar imagens do
mundo
empírico sob estudo e testá-las através
do
escrutínio acurado do próprio mundo empírico. Assim sendo, a meto-
dologia se refere aos princípios que estão subjacentes e que direcionam o
processo global de estudo do caráter persistente de determinado
mundo
1
8/17/2019 Haguette-Teresa-Metodologias-Qualitativas-Na-Sociologia.pdf
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empírico. Esta concepção de metodologia implica em t r ~ s i ~ p o r t a n t ~ s
pontos: 1 a metodologia compreende a inteira busca cIentIfica e nao
apenas alguns aspectos selecionados desta busca; 2 cada p a r ~ e da busca
científica, assim como o ato científico completo
em
si, deve ajustar-se ao
caráter persistente do
mundo
empírico sob estudo; logo, os métodos de
estudo estão subservientes a este
mundo
e devem ser testados
por
ele; 3)
o mundo empírico sob estudo, e não os modelos da investigação cientí
fica, provê a última e decisiva resposta a este teste B L ~ M E R . , 1 9 6 ~ : 24).
Percebe-se que esta concepção de metodologIa se dIstancIa da
quelas comumente usadas pelas escolas q u a n t i t a t ~ v i s t a s para
quem
a
me
todologia se resume na discussão de métodos e tecmcas. . .
Blumer (1969: 24-26) identifica os 6 pontos
maIS
Importantes
da investigação científica que são indispensáveis
à
ciência empírica e que
merecem ser conhecidas na sua inteireza:
a A possessão e o uso de uma visão prévia ou esquema do mundo
pírico sob estudo. Representa
um
pré-requisito
inevitável já que é s t ~ vtsa.o
que
orientará a ormulaião de
problemas,
a
escolha dos
tipos de
dados,
e a tdentl-
ficai
ão
das premissas
que
caracterizam o mundo
em estudo.
_
b) A elaboração de questões do
mundo
empírico e a conversao das
questões em problemas. Este é opasso que caracteriza propriamente o ato
da
investigai
ão
pois
são
os tipos
de questões e
os tipos de problemas colocados que
nortearão o desenrolar
da
pesquisa.
c A determinação dos dados a serem coletados e os meios que serão
utilizados para fazê-los.
óbvio que é o
problema
que diftne o
tipo de dados
a serem coletados, e que os meios usados dependem
da
natureza
dos
dados.
d) A determinação das relações entre os dados. Pode-se chegar a
isto seja
através
de
um processo
de
niflexão
acurada
sobre
as
conexões existentes entre os
vários tipos de
dados, seja através
de procedimentos estatísticos
mecânicos
como a
análise de
fator
ou um
esquema de
correlai
ão
.
e A interpretação dos resultados.
nesta fase final
que
o
pesquisador
ex-
trapola o
âmbito
dos
resultados
empíricos
propriamente ditos
e se debruia sobre
o riferencial teórico ou sobre
concepções que
transcendem o
âmbito
de um estudo.
atentando para o ato
de
que se o riferencial
teórico
for falso ou não comprovado.
suas
interpretações também
o serão.
f O uso de conceitos. Os conceitos são fundamentais para oato de investigação
e devem ser diftnidos a
partir
da colocação
dos
problemas. São eles
que
guiarão
40
a busca de dados, a
tentativa
de relacioná-los, assim como a interpretaião dos
resultados.
Com referência ao segundo aspecto de sua concepção de meto
dologia - de que cada parte da busca científica, assim como do ato cien
tífico como um todo, deve moldar-se ao caráter persistente do mundo
empírico sob estudo e de que, consequentemente, os métodos de estu
do devem submeter-se a este mundo devendo também ser testados
por
ele - Blumer critica a metodologia convencional
por
utilizar meios de
estabelecer a validade empírica de certos estudos através de esquemas
inadequados para captar o caráter específico do objeto de estudo. Estes
meios seriam: a a aceitação do protocolo científico; b) o desenvolvimen
to de estudos baseados em réplicas; c a crença no teste de hipóteses; d)
o emprego de procedimentos operacionais. A utilização deste processo,
diz ele, não oferece qualquer segurança de que
as
premissas, os dados,
as
relações, os conceitos e
as
interpretações sejam empiricamente válidos.
Estes procedimentos mostram, a priori que as premissas estabelecidas so
bre a natureza do mundo empírico realmente o refletem, sem que
um
exame acurado destas premissas seja empreendido. A tarefa do estudo
científico, ao contrário, deveria se limitar a levantar o véu que cobre a
área ou a vida do grupo que alguém
se
propõe a estudar. Isto só pode ser
efetuado mediante uma aproximação com a área e de uma escavação
profunda através de
um
estudo cuidadoso. Esquemas metodológicos, que
encorajam ou permitem aquele tipo de procedimento, traem o princípio
cardeal de respeito à natureza do mundo empírico.
Blume r (1969: 40) tenta fundamentar sua opinião perguntando:
Como
pode alguém aproximar-se da área e escavá-la? Isto
não é
uma
questão simples de aproximar-se de determinada
área e olhar para ela.
um
trabalho exaustivo que requer
uma ordem elevada de probing) tentativa cuidadosa e ho
nesta, imaginação criativa e disciplinada, recursos e flexi
bilidade no estudo,
uma
ponderação dos resultados e uma
constante disposição para testar e reorganizar as visões e
imagens da área.
Este processo não é específico das ciências sociais, mas também
das ciências naturais, como atestam os trabalhos de Darwin. Suas partes
2
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fundamentais são a exploraç