Somos associados da Fundação Abrinq pelos direitos da criança. Nossos fornecedores uniram-se a nós e não utilizam mão-de-obra infantil ou trabalho irregular de adolescentes. BIBLIOTECA B`SICA ESP˝RITA Guia dos MØdiuns e dos Evocadores
Somos associados da Fundao Abrinqpelos direitos da criana.Nossos fornecedores uniram-se a ns e noutilizam mo-de-obra infantil ou trabalhoirregular de adolescentes.
BIBLIOTECA BSICA ESPRITA
Guia dos Mdiuns e dos Evocadores
Ttulo do original francsLe Livre des Mdiuns (Paris, 1861)
Copyright by Petit Editora e Distribuidora Ltda. 20042-8-04-2.000-10.000
(6.000 brochura/4.000 espiral)Direo editorial:Flvio Machado
Traduo:Renata Barboza da Silva e Simone T. N. Bele da Silva
Capa:Flvio Machado
Chefe de arte:Marcio da Silva Barreto
Diagramao:Ricardo Brito
Reviso:Sabrina Cairo e Maria Aiko Nishijima
Fotolito da capa:DigigraphicImpresso:
OESP Grfica S/A
Direitos autorais reservados. proibida a reproduo total ou parcial, de qualquer formaou por qualquer meio, salvo com autorizao da Editora.
(Lei n 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.)
Impresso no Brasil, no inverno de 2004.
Rua Atua, 383/389 Vila Esperana/Penha CEP 03646-000 So Paulo SPFone: (0xx11) 6684-6000 www.petit.com.br e-mail: petit@petit.com.br
Caixa Postal 67545 CEP 03102-970 Ag. Almeida Lima So Paulo SP
e d i t o r a
ndices para catlogo sistemtico:
1. Comunicao medinica : Espiritismo 133.92. Espiritismo 133.9
3. Mediunidade : Espiritismo 133.9
Ficha catalogrfica elaborada porLucilene Bernardes Longo CRB-8/2082
Kardec, Allan, 1804-1869.O Livro dos Mdiuns : guia dos mdiuns e dos evocadores / Allan Kardec;
traduzido por Renata Barboza da Silva, Simone T. Nakamura Bele da Silva. So Paulo : Petit, 2004.
1. Espiritismo 2. Mdiuns. I. Ttulo. II. Srie
CDD133.9
O EvangelhoSegundo
o Espiritismo
O EvangelhoSegundo
o Espiritismo
Espiritismo experimental
porALLAN KARDEC
e d i t o r a
BIBLIOTECA BSICA ESPRITA
Guia dos Mdiuns e dos Evocadores
Contendo
O ensino especial dos Espritos sobre a teoriade todos os gneros de manifestaes.
Os meios de comunicao com o mundo invisvel.O desenvolvimento da mediunidade.
As dificuldades e os obstculos que se podem encontrarna prtica do espiritismo, em continuao de
O LIVRO DOS ESPRITOS.
ALLAN KARDEC
Allan Kardec ou Hippolyte LonDenizard Rivail nasceu em Lyon,na Frana, em 3 de outubro de1804 e desencarnou em 1869.
Antes de se dedicar codifi-cao do Espiritismo, exerceu,durante 30 anos, a misso deeducador. Foi discpulo de Pesta-lozzi, tendo publicado diversasobras didticas.
A partir de 1855 comeou aestudar os fenmenos das mani-festaes dos Espritos que serevelavam pelas mesas girantes,grande atrao pblica da pocana Frana.
Em 1858, fundou a SociedadeParisiense de Estudos Espritas ea Revista Esprita, lanando naprtica o Espiritismo no apenasem Paris, mas em toda a Frana,alcanando a Europa inteira etodo o mundo, incluindo a Am-rica Latina.
Alguns anos depois de suamorte, foi editado o livro ObrasPstumas, publicado por seusfiis continuadores, contendo,entre outros escritos inditos, a suaprpria iniciao e base para ahistria do Espiritismo no mundo.
OBRAS COMPLETASDE ALLAN KARDEC
O LIVRO DOS ESPRITOS 1857Princpios da Doutrina Espritano seu aspecto filosfico.
REVISTA ESPRITA 1858Publicada mensalmente de 1858a 1869, sob a direo de Kardec,constituindo hoje uma coleo,em 12 volumes, com todas asedies originais desse perodo.
O QUE O ESPIRITISMO? 1859Resumo dos princpios daDoutrina Esprita e respostas sprincipais objees.
O LIVRO DOS MDIUNS 1861Teoria dos fenmenos espritas.Aspectos cientfico, experimentale prtico da Doutrina.
O ESPIRITISMO EM SUAEXPRESSO MAIS SIMPLES 1862Exposio sumria dosensinamentos dos Espritos.
O EVANGELHO SEGUNDOO ESPIRITISMO 1864Ensinamentos morais do Cristo,sua concordncia com oEspiritismo e a revelao danatureza religiosa da Doutrina.
O CU E O INFERNO 1865A Justia Divina segundoo Espiritismo.
A GNESE 1868Os milagres e as prediessegundo o Espiritismo.
VIAGEM ESPRITA DE 1862Srie de discursos de Allan Kardecproferidos durante visita a cidadesdo interior da Frana, em suaprimeira viagem a servio doEspiritismo.
OBRAS PSTUMAS 1890Escritos e estudos do codificador,com anotaes preciosas sobre osbastidores da fundao do Espiritismo.
A MEDIUNIDADENO TERCEIRO MILNIO
Lanado em Paris, na Frana, em 1861, O Livro dos Mdiuns, aoadentrar do terceiro milnio, mantm-se atual, obra bsica de valor ines-timvel, verdadeiro guia para aqueles que pretendem entender e lidar comos fenmenos medinicos, luz da razo e da experimentao isenta depreconceitos.
Empreendemos a presente edio, certos de que a atualidade exigiaa reviso de sua linguagem e tambm uma composio editorial e grficacompatveis com os padres vigentes.
Buscando a excelncia, aliceramo-nos em uma equipe de profissio-nais tecnicamente habilitados e, ao mesmo tempo, unidos pelo mesmoideal, o qual nos motivou a valorizar essa obra esprita da primeira hora,cujo estudo metdico nos aprimora moral e intelectualmente.
Lanada a pblico no mesmo ano em que se comemora, com res-peito e venerao, o bicentenrio de Allan Kardec, esta edio cumpreo objetivo de facilitar a leitura, o manuseio e o acesso a essa fonte cristalinade informaes, compndio imprescindvel para o nosso aprimoramentodoutrinrio.
Sentindo-nos amparados pela espiritualidade, desejamos expressarnosso melhor agradecimento a todos aqueles que contriburam para estarealizao, dividindo, com estes devotados companheiros a satisfaode dar a pblico um trabalho que enaltece a mediunidade a servio daelevao moral da humanidade O Livro dos Mdiuns, de Allan Kardec.
Os Editores
INSTRUESTEIS
Fiel ao contedo do original, a presente edio de O Livro dosMdiuns, de Allan Kardec, foi rigorosamente traduzida, trazendo paraa atualidade o seu valioso contexto, que, alm da atualizao, ganhou,nesta edio, um tratamento editorial compatvel com a modernidadedos nossos dias.
Obedecendo a disposio originalmente estabelecida, a introduonos apresenta, inicialmente, em linhas gerais, os objetivos da obra,detalhando as necessidades observadas na poca da sua preparao.
A obra foi dividida, por Allan Kardec, em duas partes.
A primeira, Noes preliminares, apresenta-se em quatro captulos, ea segunda, Manifestaes Espritas, em trinta e dois. Seu ltimo captulo um vocabulrio esprita, de grande utilidade para aqueles que seiniciam no estudo da mediunidade luz da Doutrina Esprita.
Com o intuito de dinamizar a leitura do texto, padronizamos a sinali-zao grfica, a partir de quatro indicativos:
Identifica nota do prprio Allan Kardec.
* Remete o leitor ao glossrio.
F Assinala um comentrio de Allan Kardec.
1, 2 etc. Indica nota do editor.
7
Introduo .......................................................................................................... 11
PARTE PRIMEIRANOES PRELIMINARES
Captulo 1 H ESPRITOS? .......................................................................... 15
Captulo 2 O MARAVILHOSO E O SOBRENATURAL .................................. 20
Captulo 3 MTODO ...................................................................................... 29
Captulo 4 SISTEMAS ................................................................................... 39
PARTE SEGUNDAMANIFESTAES ESPRITAS
Captulo 1 AO DOS ESPRITOS SOBRE A MATRIA ............................ 53
Captulo 2 MANIFESTAES FSICAS ........................................................ 58Mesas girantes
Captulo 3 MANIFESTAES INTELIGENTES ............................................ 61
Captulo 4 TEORIA DAS MANIFESTAES FSICAS ................................. 64Movimentos e suspenses Rudos Aumento e diminuio do peso do corpo
Captulo 5 MANIFESTAES FSICAS ESPONTNEAS ............................ 75Rudos, barulhos e perturbaes Arremesso de objetos Fenmeno de transporte Dissertao de um Espritosobre o fenmeno de transporte
Captulo 6 MANIFESTAES VISUAIS ........................................................ 94Noes sobre as aparies Ensaio terico sobre asaparies Espritos glbulos Teoria da alucinao
Captulo 7 BICORPOREIDADE E TRANSFIGURAO .............................. 111Apario de Esprito de pessoas vivas Homens duplos Santo Alfonso de Liguori e Santo Antnio de Pdua Vespasiano Transfigurao Invisibilidade
S U M R I O
8
O LIVRO DOS MDIUNS
Captulo 8 LABORATRIO DO MUNDO INVISVEL .................................... 119Vesturio dos Espritos Formao espontnea de objetostangveis Modificao das propriedades da matria Ao magntica curativa
Captulo 9 LUGARES ASSOMBRADOS ....................................................... 126
Captulo 10 NATUREZA DAS COMUNICAES .......................................... 131Comunicaes grosseiras, frvolas, srias e instrutivas
Captulo 11 SEMATOLOGIA E TIPTOLOGIA ................................................. 134Linguagem dos sinais e das pancadas Tiptologia alfabtica
Captulo 12 PNEUMATOGRAFIA OU ESCRITA DIRETA PNEUMATOFONIA ...................................................................... 139Escrita direta
Captulo 13 PSICOGRAFIA ............................................................................. 144Psicografia indireta: cestas e pranchetas Psicografia direta ou manual
Captulo 14 MDIUNS ..................................................................................... 147Mdiuns de efeitos fsicos Pessoas eltricas Mdiuns sensitivos ou impressionveis Mdiunsauditivos Mdiuns falantes Mdiuns videntes Mdiuns sonamblicos Mdiuns curadores Mdiuns pneumatgrafos
Captulo 15 MDIUNS ESCREVENTES OU PSICGRAFOS ....................... 160Mdiuns mecnicos, intuitivos, semimecnicos,inspirados e involuntrios, de pressentimentos
Captulo 16 MDIUNS ESPECIAIS ................................................................. 164Aptides especiais dos mdiuns Quadro sinticodas diferentes variedades de mdiuns
Captulo 17 FORMAO DOS MDIUNS ...................................................... 178Desenvolvimento da mediunidade Mudana decaligrafia Perda e suspenso da mediunidade
Captulo 18 INCONVENIENTES E PERIGOS DA MEDIUNIDADE ................ 191Influncia do exerccio da mediunidade sobre a sade,sobre o crebro e sobre as crianas
Captulo 19 PAPEL DO MDIUM NAS COMUNICAES ESPRITAS ........ 194Influncia do Esprito pessoal do mdium Sistema dos mdiuns inertes Aptido de algunsmdiuns para as coisas que no conhecem:lnguas, msica, desenho Dissertaode um Esprito sobre o papel dos mdiuns
9
SUMRIO
Captulo 20 INFLUNCIA MORAL DO MDIUM ........................................... 205Questes diversas Dissertao de umEsprito sobre a influncia moral
Captulo 21 INFLUNCIA DO MEIO ............................................................... 213
Captulo 22 MEDIUNIDADE ENTRE OS ANIMAIS ........................................ 216Dissertao de um Esprito sobre essa questo
Captulo 23 OBSESSO .................................................................................. 222Obsesso simples Fascinao Subjugao Causas da obsesso Meios de combat-la
Captulo 24 IDENTIDADE DOS ESPRITOS .................................................. 235Provas possveis de identidade Distino entre os bons e os maus Espritos Perguntas sobre a natureza e a identidade dos Espritos
Captulo 25 EVOCAES ............................................................................... 252Consideraes gerais Espritos que podem serevocados A linguagem que se deve usar com osEspritos Utilidade das evocaes particulares Questes sobre as evocaes Evocaes dos animais Evocaes das pessoas vivas Telegrafia humana
Captulo 26 PERGUNTAS QUE PODEM SER FEITAS AOS ESPRITOS ...... 275Observaes preliminares Perguntas simpticas ouantipticas Sobre o futuro Sobre as existnciaspassadas e futuras Sobre os interesses morais emateriais Sobre a sorte dos Espritos Sobre asade Sobre as invenes e descobertas Sobreos tesouros ocultos Sobre os outros mundos
Captulo 27 CONTRADIES E MISTIFICAES ........................................ 290
Captulo 28 CHARLATANISMO E TRAPAA ................................................. 299Mdiuns interesseiros Fraudes espritas
Captulo 29 REUNIES E SOCIEDADES ESPRITAS ................................... 308Reunies em geral Sociedades propriamente ditas Assuntos de estudo Rivalidade entre as sociedades
Captulo 30 REGULAMENTO DA SOCIEDADE PARISIENSE DEESTUDOS ESPRITAS ................................................................. 324
Captulo 31 DISSERTAES ESPRITAS ...................................................... 332Sobre o Espiritismo Sobre os mdiuns Sobre as reunies espritas Comunicaes apcrifas (falsas)
Captulo 32 VOCABULRIO ESPRITA .......................................................... 358
Anotaes ......................................................................................................... 361
11
A experincia nos confirma todos os dias que as dificuldades e asdecepes que encontramos na prtica do Espiritismo* tm sua origemna ignorncia dos princpios dessa cincia, e estamos felizes por constatarque o trabalho que temos feito para precaver os seus seguidores sobreas dificuldades desse aprendizado produziu seus frutos, e muitos devem leitura desta obra t-las evitado.
Um desejo bastante natural dos espritas** entrar em comunicaocom os Espritos***; para lhes aplainar o caminho que se destina estaobra, ao fazer com que aproveitem o fruto de nossos longos e traba-lhosos estudos, porque faramos uma idia muito errnea se penss-semos que, para ser um especialista nessa matria, bastaria sabercolocar os dedos sobre uma mesa para faz-la girar ou ter um lpispara escrever.
Estaramos igualmente enganados se acreditssemos encontrar nestaobra uma receita universal e infalvel para formar mdiuns. Ainda queem cada um haja o germe das qualidades necessrias para tornar-semdium****, essas qualidades existem em estgios muito diferentes, eseu desenvolvimento possui causas que no dependem de ningumfaz-las desabrochar. As regras da poesia, da pintura e da msica nofazem poetas, nem pintores, nem msicos que no tenham o gniodessas artes: elas guiam os que possuem essas faculdades naturais.Ocorre o mesmo com este trabalho; seu objetivo indicar os meios de
I N T R O D U O
* EspiritismoEspiritismoEspiritismoEspiritismoEspiritismo: doutrina fundada sobre a crena na existncia dos Espritos e em suas manifes-taes (Nota do Editor).** Esprita:Esprita:Esprita:Esprita:Esprita: todo aquele que aceita a Doutrina Esprita baseada nos ensinamentos morais doCristo, que trata da inter-relao do mundo corpreo com os Espritos, a reencarnao, as vidassucessivas e os mundos evolutivos, conforme a codificao de Allan Kardec das instrues quelhe deram os Espritos (N.E.).*** EspritoEspritoEspritoEspritoEsprito: no sentido especial da Doutrina Esprita, os Espritos so os seres inteligentes dacriao, que povoam o universo fora do mundo material e que constituem o mundo invisvel.No so seres de uma criao particular, mas as almas daqueles que viveram sobre a Terra ouem outras esferas e que deixaram seu envoltrio corporal (N.E.).**** MdiumMdiumMdiumMdiumMdium: (do latim medium, meio, intermedirio). Pessoa que pode servir de intermedirioentre os Espritos e os homens (N.E.).
12
O LIVRO DOS MDIUNS
desenvolver as mediunidades* tanto quanto o permitam as disposies decada um e, principalmente, de orient-las com segurana quando a fa-culdade existe. Mas esse no o objetivo nico a que nos propusemos.
Alm dos mdiuns propriamente ditos, h uma multido de pessoas,que aumenta todos os dias, que se ocupam das manifestaes espritas;gui-las em suas observaes, assinalar-lhes os obstculos que podeme devem necessariamente encontrar numa nova cincia, inici-las namaneira de conversar com os Espritos, indicar-lhes os meios de ter boascomunicaes, esse o campo que devemos abranger sob pena defazermos algo incompleto. No ser, portanto, surpreendente encontrarem nosso trabalho esclarecimentos que, primeira vista, pareceroestranhos: a experincia mostrar sua utilidade. Depois de t-lo estudadocom cuidado, poderemos compreender as manifestaes e a linguagemde alguns Espritos, que nos parecero menos estranhas. Como instruoprtica, no se destina exclusivamente aos mdiuns, mas a todos queobservam os fenmenos espritas e lidam com eles.
Algumas pessoas desejariam que publicssemos um manual prticomais resumido, contendo em poucas palavras a indicao dos processosa seguir para se comunicar com os Espritos; imaginam que um livrodessa natureza, podendo ser distribudo em profuso por um preo baixo,seria um fator poderoso de propaganda, multiplicando os mdiuns. Quantoa ns, vemos uma obra desse teor mais nociva do que til, pelo menospara o momento. A prtica do Espiritismo requer alguns cuidados e noest isenta de inconvenientes que s um estudo srio e completo podeprevenir. Seria, ento, de temer que uma instruo muito resumida provo-casse experincias levianas e das quais se poderia ter motivo de arrepen-dimento. Essas so situaes com as quais no nem conveniente nemprudente brincar, e prestaramos um mau servio ao coloc-las disposiodo primeiro curioso que julgasse divertir-se ao conversar com os mortos.Ns nos dirigimos s pessoas que vem no Espiritismo um objetivo srio,que compreendem toda a sua importncia e no fazem das comunicaescom o mundo invisvel um passatempo.
Publicamos uma Instruo Prtica com o objetivo de guiar os mdiuns;essa obra est esgotada e, embora feita com um objetivo eminente-mente elucidativo e srio, no a reimprimiremos, porque no a achamos
* MediunidadeMediunidadeMediunidadeMediunidadeMediunidade: dom dos mdiuns. Sinnimo de medianimidade. Essas duas palavras so fre-qentemente empregadas indiferentemente; se se quiser fazer uma distino, pode dizer quemediunidade tem um sentido mais geral, e medianimidade, um sentido mais restrito. Ele tem odom da mediunidade. A medianimidade mecnica (N.E.).
13
INTRODUO AO ESTUDO DA DOUTRINA ESPRITA
suficiente para esclarecer todas as dificuldades que podem ocorrer. Nsa substitumos por esta, na qual reunimos todos os dados de uma longaexperincia e de um estudo consciente, que contribuir, pelo menos oque esperamos, para dar ao Espiritismo um carter srio, que suaessncia, e para evitar que ele seja visto como um objeto de ocupaofrvola e um divertimento.
A essas consideraes acrescentamos uma muito importante: apssima impresso que produz nas pessoas iniciantes ou mal preparadasas dedues que tiram de experincias feitas levianamente e sem conhe-cimento; elas tm o inconveniente de dar uma idia muito falsa do mundodos Espritos e de se prestar zombaria e a uma crtica, nesses casos,procedente; por isso que os incrdulos saem dessas reunies maisdescrentes e pouco dispostos a ver no Espiritismo algo srio. A ignornciae a leviandade de alguns mdiuns causaram opinio de muitas pessoasmais danos do que se cr.
O Espiritismo fez grandes progressos desde alguns anos, mas fezum progresso imenso desde que entrou no caminho filosfico e passou aser apreciado por pessoas esclarecidas. Hoje, deixou de ser visto comoespetculo; uma doutrina da qual no riem mais os que zombavamdas mesas girantes. Ao fazer esforos para conduzi-lo e mant-lo nesseterreno, temos a convico de conquistar-lhe mais seguidores teis doque provocssemos, sem razo nenhuma, manifestaes passveis deabusos. Temos a prova disso todos os dias pelo nmero dos que setornaram espritas apenas com a leitura de O Livro dos Espritos1.
Aps termos exposto a parte filosfica da cincia esprita em O Livrodos Espritos, apresentamos nesta obra a parte prtica para o uso dosque querem se ocupar das manifestaes, seja para si mesmos ou parase darem conta dos fenmenos que podem observar. Nela trataremosdos obstculos que podem ser encontrados e do modo de evit-los. Essasduas obras, embora faam seqncia uma outra, so at certo pontoindependentes. Recomendamos ler primeiro O Livros dos Espritos, porquecontm os princpios fundamentais, sem os quais algumas partes destaobra seriam dificilmente compreendidas.
Alteraes importantes foram feitas na segunda edio, muito maiscompleta do que a primeira. Ela foi corrigida com cuidado particular pelosEspritos, que acrescentaram um grande nmero de observaes e deinstrues do mais alto interesse. Como eles revisaram tudo, aprovaram
1 - KARDEC, Allan. O Livro dos Espritos. So Paulo: Petit Editora (N.E.).
14
O LIVRO DOS MDIUNS
ou modificaram sua vontade, pode-se dizer que, em grande parte, aobra deles, visto que sua interveno no se limitou apenas a algunsartigos assinados; indicamos os seus nomes somente quando nos pareceunecessrio para caracterizar algumas citaes um pouco extensas,emanadas deles textualmente, porque seno seria necessrio cit-losquase a cada pgina, notadamente em todas as respostas dadas squestes propostas, o que no nos pareceu til. Os nomes, como foidito, pouco importam em semelhante matria; o essencial que o conjuntodo trabalho responda ao objetivo a que nos propusemos.
Como acrescentamos muitas informaes e muitos captulos inteiros,suprimimos alguns outros que estavam em duplicidade, entre eles a EscalaEsprita, que j se encontra em O Livro dos Espritos. Suprimimos igual-mente do Vocabulrio, o que no se ajustava ao plano desta obra e quese encontra utilmente substitudo por informaes mais prticas. Desde asegunda edio no houve mais alteraes no texto.
15
PARTE PRIMEIRA
NOES PRELIMINARES
CAPTULO
1H ESPRITOS?
1 A dvida em relao existncia dos Espritos tem como causaprimria a ignorncia quanto sua verdadeira natureza. Geralmente, soimaginados como seres parte na criao, desnecessrios e inteis.Muitos os conhecem somente pelos contos fantsticos com que foramembalados quando crianas, mais ou menos como se conhece a histriapelos romances, sem indagar se nesses contos, isentos dos acessriosridculos, h ou no um fundo de verdade. S o lado absurdo os impres-siona, e eles no se do ao trabalho de tirar a casca amarga para descobrira amndoa; rejeitam o todo, como fazem, na religio, aqueles que,chocados com alguns abusos, nivelam tudo na mesma reprovao.
Qualquer que seja a idia que se faa dos Espritos, essa crena estnecessariamente fundada na existncia de um princpio inteligente forada matria, e incompatvel com a negao absoluta desse princpio.Tomamos, portanto, como nosso ponto de partida a existncia, a sobre-vivncia e a individualidade da alma, da qual o espiritualismo* a demons-trao terica e dogmtica e o Espiritismo a demonstrao patente.Faamos por um instante abstrao das manifestaes propriamente ditase, raciocinando por induo, vejamos a quais conseqncias chegaremos.
2 A partir do momento em que se admite a existncia da alma e suaindividualidade aps a morte, preciso admitir tambm:
1o) que de natureza diferente do corpo e, uma vez dele separada,no tem as propriedades caractersticas do corpo; 2o) que possui cons-cincia de si mesma, uma vez que se atribui a ela a alegria ou o sofrimento;de outro modo seria um ser inerte, e assim de nada valeria para ns t-la.
Admitido isso, essa alma ter que ir para alguma parte; em que setransforma e para onde vai? Conforme a crena comum, vai para o cu oupara o inferno; mas onde o cu e o inferno? Dizia-se antigamente que ocu ficava em cima, e o inferno, embaixo. Mas onde o alto e o baixo no
* EspiritualismoEspiritualismoEspiritualismoEspiritualismoEspiritualismo: diz-se no sentido oposto ao do materialismo (academia); crena na existncia daalma espiritual e imaterial. O espiritualismo a base de todas as religies (N.E.).
16
O LIVRO DOS MDIUNS PARTE PRIMEIRA
universo, desde que se sabe que a Terra redonda, que o movimento dosastros faz com que o que alto em um determinado momento torne-sebaixo em doze horas e que conhecemos o infinito do espao, onde oolhar mergulha em distncias inimaginveis? verdade que por lugaresinferiores ou baixos se entende tambm as profundezas da Terra; mas oque so agora essas profundezas desde que foram pesquisadas pelageologia? Igualmente, em que se transformaram essas esferas concn-tricas chamadas de cu de fogo, cu de estrelas, desde que se constatouque a Terra no o centro dos mundos, que nosso prprio Sol apenas umdos milhes de sis que brilham no espao e que cada um deles o centrode um turbilho planetrio? Qual a importncia da Terra perdida nessaimensido? Por que privilgio injustificvel esse gro de areia imperceptvel,que no se distingue nem por seu volume, nem por sua posio, nem por umpapel particular, seria o nico povoado com seres racionais? A razo serecusa a admitir essa inutilidade do infinito, e tudo nos diz que esses mundosso habitados. Se so povoados, fornecem, portanto, seu contingente aomundo das almas, uma vez que a astronomia e a geologia destruram asmoradas que lhes eram designadas e especificamente depois que a teoriato racional da pluralidade dos mundos as multiplicou ao infinito?
A doutrina de um lugar determinado para as almas no est de acordocom os dados da cincia, mas outra doutrina mais lgica lhes d pormorada no um lugar determinado e limitado, mas o espao universal: todo um mundo invisvel no meio do qual vivemos, que nos rodeia conti-nuamente. Haver nisso uma impossibilidade, algo que repugne a razo?De modo algum; tudo nos diz, ao contrrio, que no pode ser de outramaneira. Mas, ento, em que se transformam os castigos e as recom-pensas futuras, se lhes tiramos os lugares especiais de exame? Notemosque a incredulidade em relao a esses castigos e recompensas ge-ralmente decorrente por se apresentarem esses locais em condiesinadmissveis. Mas, dizei, em vez disso, que as almas levam sua felicidadeou infelicidade em si mesmas; que sua sorte est subordinada ao seuestado moral e que a reunio das almas simpticas e boas uma fontede felicidade; que, de acordo com seu grau de depurao, penetram eentrevem coisas inacessveis s almas grosseiras, e todo mundo o com-preender facilmente. Dizei ainda que as almas somente chegam ao grausupremo pelos esforos que fazem para melhorar e depois de uma sriede provas que servem para sua depurao; que os anjos so as almasque chegaram ao ltimo grau, grau este que todos podem atingir por suavontade; que os anjos so os mensageiros de Deus, encarregados develar pela execuo de seus desgnios em todo o universo, que so
17
CAPTULO 1 H ESPRITOS?
felizes com suas misses gloriosas, e dareis sua felicidade um objetivomais til e mais atraente do que o de uma contemplao perptua, queno seria outra coisa seno uma inutilidade perptua; dizei, enfim, que osdemnios so nada mais, nada menos do que as almas dos maus aindano depuradas, mas que podem chegar, como as outras, mais elevadaperfeio, e isso parecer mais de acordo a justia e a bondade de Deusdo que a doutrina de seres criados para o mal, perpetuamente voltadospara o mal. Enfim, eis a o que a razo mais severa, a lgica mais rigorosa,o bom senso, em uma palavra, podem admitir.
Acontece que essas almas que povoam o espao so precisamenteo que se chamam de Espritos; os Espritos so a alma dos homens sem oseu corpo fsico. Se os Espritos fossem seres criados parte, sua exis-tncia seria hipottica; mas, se admitirmos que h almas, tambm preciso admitir que os Espritos no so outros seno almas; se admitirmosque a alma est em todos os lugares, preciso admitir igualmente que osEspritos esto em todos os lugares. No se pode, por conseguinte, negara existncia dos Espritos sem negar a das almas.
3 Na verdade, isso somente uma teoria mais racional do que aoutra; mas j admirvel que uma teoria no contradiga nem a razo nema cincia; se, alm disso, confirmada pelos fatos, tem a seu favor oprivilgio do raciocnio e da experincia. Encontramos esses fatos nofenmeno das manifestaes espritas, que so a prova patente daexistncia e da sobrevivncia da alma. No entanto, muitas pessoas, e atambm est inclusa a sua crena, admitem sem dvida a existncia dasalmas e por conseguinte a dos Espritos, mas negam a possibilidade dese comunicar com eles, pela razo, dizem, de que seres imateriais nopodem agir sobre a matria. Essa dvida est fundada na ignorncia daverdadeira natureza dos Espritos, dos quais se faz, geralmente, uma idiamuito falsa, porque so erradamente concebidos como seres abstratos,vagos e indefinidos, o que no corresponde realidade.
Imaginemos, primeiramente, o Esprito em sua unio com o corpo; oEsprito o ser principal, o ser pensante e sobrevivente; o corpo apenas um acessrio do Esprito, um envoltrio, uma vestimenta que eledeixa quando est estragada. Alm desse envoltrio material, o Esprito temum segundo, semimaterial, que o une ao primeiro; na morte, o Esprito sedespoja do corpo fsico, mas no do segundo envoltrio, ao qual damoso nome de perisprito*. Esse envoltrio semimaterial, que tem a forma
* PerispritoPerispritoPerispritoPerispritoPerisprito: (do grego pri, ao redor). Envoltrio semimaterial do Esprito. Nos encarnados, servede lao ou intermedirio entre o Esprito e a matria; nos Espritos errantes, constitui seu corpofludico (N.E.).
18
O LIVRO DOS MDIUNS PARTE PRIMEIRA
humana, constitui para ele um corpo fludico, vaporoso, que, emborainvisvel para ns em seu estado normal, no deixa de possuir algumaspropriedades da matria. O Esprito no , portanto, um ponto, umaabstrao, mas um ser limitado, ao qual falta apenas ser visvel e palpvelpara ser igual aos seres humanos. Por que, ento, no haver de agirsobre a matria? por que seu corpo fludico? Mas no entre osfludos, os mais rarefeitos, os considerados imponderveis, a eletricidade,por exemplo, que o homem encontra as suas mais poderosas foras? Eno certo que a luz impondervel exerce uma ao qumica sobre amatria pondervel? Ns no conhecemos a natureza ntima do perisprito;mas, supondo-o formado da matria eltrica, ou outra to sutil quanto ela,por que no teria a mesma propriedade ao ser dirigido por uma vontade?
4 A existncia da alma e a de Deus, que so conseqncia uma daoutra, so a base de todo o edifcio e, antes de iniciar qualquer discussoesprita, importante se assegurar de que o interlocutor admite essa base.
Acredita em Deus?Acredita ter uma alma?Acredita na sobrevivncia da alma aps a morte?Se ele responder negativamente ou se disser simplesmente: No sei;
gostaria que fosse assim, mas no tenho certeza, o que, muitas vezes,equivale a uma negao benevolente ou educada disfarada sob umaforma menos chocante para evitar ferir muito francamente o que ele chamade preconceitos respeitveis, ser to intil ir alm quanto tentar demonstraras propriedades da luz a um cego que no admite a luz. Porque, definiti-vamente, as manifestaes espritas no so outra coisa a no ser osefeitos das propriedades da alma. Com um interlocutor assim, neces-srio seguir uma ordem diferente de idias, se no se quer perder tempo.
Admitida a base, no a ttulo de probabilidade, mas como coisaaveriguada, incontestvel, a existncia dos Espritos ser uma decor-rncia natural.
5 Agora resta saber se o Esprito pode se comunicar com o homem,ou seja, se pode haver entre ambos troca de pensamentos. E por queno? O que o homem, seno um Esprito aprisionado num corpo? Porque o Esprito livre no poderia se comunicar com o Esprito cativo, comoum homem livre se comunica com um que est aprisionado? Desde quese admita a sobrevivncia da alma, racional negar a sobrevivncia dasafeies? Uma vez que as almas esto em todos os lugares, no naturalpensar que a de um ser que nos amou durante a vida venha para perto dens, que deseje se comunicar conosco e que para isso se sirva de meiosque esto sua disposio? Durante sua vida no agia sobre a matria
19
CAPTULO 1 H ESPRITOS?
de seu corpo? No era ela, a alma, quem lhe dirigia os movimentos?Por que razo aps a morte do corpo e em concordncia com um outroEsprito ligado a um corpo no emprestaria esse corpo vivo para manifestarseu pensamento, como um mudo pode se servir de uma pessoa que falapara ser compreendido?
6 Separemos, por um instante, os fatos que, para ns, so incontes-tveis e admitamos a comunicao como simples hiptese; peamosque os incrdulos nos provem, no por uma simples negao, visto quesua opinio pessoal no pode valer por lei, mas por razes evidentes einegveis, que isso no possvel. Ns nos colocamos no seu terreno, e,uma vez que querem apreciar os fatos espritas com a ajuda das leis damatria, que tomem nesse arsenal alguma demonstrao matemtica,fsica, qumica, mecnica, fisiolgica e que provem por a mais b, semprepartindo do princpio da existncia e da sobrevivncia da alma:
1o) que o ser que pensa em ns durante a vida no pode mais pensardepois da morte;
2o) que, se pensa, no deve mais pensar nos que amou;3o) que, se pensa nos que amou, no deve mais querer se comunicar
com eles;4o) que, se pode estar em todos os lugares, no pode estar ao nosso
lado;5o) que, se pode estar ao nosso lado, no pode comunicar-se conosco;6o) que, por meio de seu corpo fludico, no pode agir sobre a matria
inerte;7o) que, se pode agir sobre a matria inerte, no pode agir sobre um
ser animado;8o) que, se pode agir sobre um ser animado, no pode dirigir sua mo
para faz-lo escrever, e9o) que, podendo faz-lo escrever, no pode responder s suas
questes nem lhes transmitir seus pensamentos.Quando os adversrios do Espiritismo nos demonstrarem que isso
no pode acontecer, por meio de razes to patentes quanto as comque Galileu demonstrou que no o Sol que gira ao redor da Terra, entopoderemos dizer que suas dvidas tm fundamento; infelizmente, at agoratoda a sua argumentao se resume nestas palavras: No acredito,portanto isso impossvel. Eles nos diro, sem dvida, que cabe a nsprovar a realidade das manifestaes; ns as provamos pelos fatos epelo raciocnio; se no admitem nem um nem outro, se negam at mesmoo que vem, devem eles provar que nosso raciocnio falso e que osfatos espritas so impossveis.
20
CAPTULO
2O MARAVILHOSO E O SOBRENATURAL
7 Se a crena nos Espritos e nas suas manifestaes fosse umaconcepo isolada, produto de um sistema, poderia, com certa razo,ser considerada iluso; mas nos digam, ento, por que encontrada toclara entre todos os povos antigos e modernos, nos livros santos de todasas religies conhecidas? Alguns crticos dizem: porque o homem sempreamou o maravilhoso em todos os tempos. Ento, o que maravilhosopara vs? Maravilhoso o sobrenatural. O que entendeis por sobre-natural? O que contrrio s leis da natureza sobrenatural. Entodeveis conhecer to bem essas leis que julgais possvel fixar um limite aopoder de Deus? Pois bem! Ento provai que a existncia dos Espritos esuas manifestaes so contrrias s leis da natureza; que no nempode ser uma dessas leis. Examinai a Doutrina Esprita e vede se o seuencadeamento no tem todos os caracteres de uma lei admirvel, queresolve tudo o que as filosofias no puderam resolver at o momento. Opensamento um dos atributos do Esprito; a possibilidade que ele temde agir sobre a matria, de impressionar nossos sentidos e, por conse-guinte, de transmitir seu pensamento, resulta, se podemos nos exprimirassim, de sua constituio fisiolgica; portanto, no h no fato nada desobrenatural, nada de maravilhoso. Que um homem morto, e bem morto,reviva corporalmente, que seus membros dispersos se renam para formarnovamente o corpo, isso sim seria o maravilhoso, o sobrenatural, o fants-tico; isso seria contrrio a Lei, que Deus somente pode realizar por ummilagre; mas no h nada semelhante na Doutrina Esprita.
8 Entretanto, havereis de dizer, admitis que um Esprito pode ergueruma mesa e mant-la no espao sem ponto de apoio; no isso contrrioa lei da gravidade? Sim, da lei conhecida; mas ser que a natureza dissea sua ltima palavra? Antes que se tivesse experimentado a fora ascen-sional de certos gases, quem diria que uma mquina pesada, levandomuitos homens, pudesse se erguer do cho e superar a fora de atrao?Aos olhos de pessoas simples, isso no deve parecer maravilhoso, diab-lico? Aquele que tivesse proposto, h sculos, transmitir um telegrama,uma mensagem, a 3.300 quilmetros e receber a resposta em segundosteria passado por louco; se o tivesse feito, teriam dito que era coisa dodiabo, porque apenas o diabo seria capaz de agir to rapidamente. Por queum fluido desconhecido no teria a propriedade, nessas circunstncias, no
21
CAPTULO 2 O MARAVILHOSO E O SOBRENATURAL
caso da mesa que se ergue, de contrabalanar o efeito da gravidade,como o hidrognio contrabalana o peso do balo? Notemos isso depassagem, uma comparao, e no uma assimilao, unicamente paramostrar, por pontos de semelhana, que o fato no impossvel. Aconteceque foi precisamente quando os sbios, na observao dos fenmenosespritas, quiseram proceder pelo caminho da assimilao que eles seenganaram. Contudo, o fato est a; todas as negaes no podero fazercom que ele deixe de existir, porque para ns negar no provar. Notem nada de sobrenatural, tudo o que podemos dizer no momento.
9 Se o fato est constatado, diro, ns o aceitamos; aceitamos atmesmo a causa que o origina, um fluido desconhecido; mas e a inter-veno dos Espritos? Isso maravilhoso, sobrenatural.
Aqui seria preciso toda uma demonstrao sem sentido e, alis, repe-titiva, pois sobressai em todo ensinamento. Entretanto, para resumi-la emalgumas palavras, diremos que a teoria est fundada sobre o seguinteprincpio: todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente. Do pontode vista da prtica, diremos que os fenmenos espritas, tendo dadoprovas de inteligncia, ho de ter sua causa fora da matria; que essainteligncia no sendo a dos assistentes, como se comprovou, deve estarfora deles; uma vez que no se via o ser agindo, era, portanto, um serinvisvel. Foi assim que, de observao em observao, se chegou a co-nhecer que esse ser invisvel, ao qual se deu o nome de Esprito, no eraoutro seno a alma dos que viveram corporalmente, aos quais a mortedespojou de seu grosseiro corpo fsico, deixando-lhes apenas um envol-trio etreo, invisvel em seu estado normal. Eis, assim, o maravilhoso e osobrenatural reduzidos sua expresso mais simples. Uma vez consta-tada a existncia de seres invisveis, sua ao sobre a matria resulta danatureza de seu envoltrio fludico; uma ao inteligente, visto que, aomorrer, deixaram o corpo, mas conservaram a inteligncia, que suaessncia. Nisso est a chave de todos esses fenmenos consideradoserroneamente sobrenaturais. A existncia dos Espritos no , em vistadisso, um sistema preconcebido, uma hiptese imaginada para explicaros fatos; o resultado de observaes e a conseqncia natural daexistncia da alma; negar essa causa negar a alma e seus atributos. Seaqueles que pensam poder dar a esses efeitos inteligentes uma soluomais racional, podendo principalmente explicar a razo de todos os fatos,queiram faz-lo, e ento se poder discutir o mrito de cada um.
10 Aos olhos dos que consideram a matria a nica fora da natureza,tudo o que no pode ser explicado pelas leis da matria maravilhoso ousobrenatural, e maravilhoso , para eles, sinnimo de superstio. Partindodessa idia, a religio, fundada sobre um princpio imaterial, seria uma
22
O LIVRO DOS MDIUNS PARTE PRIMEIRA
teia de supersties; no ousam diz-lo bem alto, mas o dizem boca-pequena, e acreditam salvar as aparncias ao concordar que precisouma religio para o povo e para tornar as crianas boazinhas e educadas;acontece que de duas coisas uma: ou o princpio religioso verdadeiroou falso; se verdadeiro, para todos; se falso, no melhor para osignorantes do que para as pessoas esclarecidas.
11 Os que atacam o Espiritismo em nome do maravilhoso se apiamgeralmente no princpio materialista, uma vez que, negando todo efeitoextramaterial, negam, por isso mesmo, a existncia da alma; sondai ofundo de seu pensamento, estudai bem o sentido de suas palavras e vereisquase sempre esse princpio, categoricamente formulado ou camufladosob as aparncias de uma pretensa filosofia racional com que o encobrem.Ao rejeitar por conta do maravilhoso tudo o que decorre da existncia daalma, esto rigorosamente conseqentes consigo mesmos; no admitindoa causa, no podem admitir os efeitos; da haver entre eles uma opiniopreconcebida que os torna incapazes de um julgamento imparcial do Espi-ritismo, visto que partem do princpio de negar tudo o que no material.Quanto a ns, pelo fato de admitirmos os efeitos que so a conseqnciada existncia da alma, ser que aceitamos todos os fatos qualificadosde maravilhosos, que somos defensores de todos os sonhadores, quesomos adeptos de todas as utopias*, de todos os sistemas excntricos eestranhos? Seria preciso conhecer bem pouco o Espiritismo para supordessa maneira; mas nossos adversrios no pensam assim. A obrigaode conhecer aquilo de que falam o menor de seus cuidados. Para eles,o maravilhoso absurdo; o Espiritismo se apia nos fatos maravilhosos,logo absurdo: para eles um julgamento sem apelao, sem contestao.Acreditam apresentar um argumento sem rplica1 quando, aps teremfeito pesquisas eruditas sobre os convulsionrios de Saint-Mdard2,
* Utopia: Utopia: Utopia: Utopia: Utopia: projeto irrealizvel; quimera; fantasia (N.E.).1 - Allan Kardec refere-se aqui a questes que muitas vezes foram trazidas baila pelos contestadoresdos fatos espritas, mas que a prpria Doutrina Esprita no aceita, que contesta e esclarece (N.E.).2 - Em 1729 Paris foi sacudida por uma febre de milagres que estariam ocorrendo no cemitrio deSaint-Mdard junto ao tmulo do padre Franois de Paris, desencarnado dois anos antes e que emvida, muito humilde e caridoso, havia se dedicado aos pobres. Pertencia o padre Franois facodos jansenistas, que pregavam uma vida austera e de grande rigor moral e que mantinham muitospontos discordantes com o Vaticano. Os milagres ocorriam no tmulo do referido padre e na reaque o circundava; as pessoas chegavam a fazer com a terra volta de sua sepultura um beberragempara se curar das doenas. Esses fatos acabaram por causar um terrvel celeuma, porque as coisasdegeneraram para o fanatismo e o acirramento dos nimos. Por fim, depois de investigar o caso, aautoridade clerical de Paris proibiu as visitas ao tmulo do padre e a entrada de pessoas no cemitrio,e no porto se lia afixado o seguinte aviso: Proibe-se a Deus, em nome do rei, que neste lugar faamilagres (N.E.).
23
CAPTULO 2 O MARAVILHOSO E O SOBRENATURAL
os calvinistas de Cvennes3 ou as religiosas de Loudun4, chegaram concluso de fraude indiscutvel que ningum contesta; mas essas his-trias tm fundamento no Espiritismo? Os espritas alguma vez negaramque o charlatanismo havia explorado alguns fatos em seu proveito, quea imaginao havia criado muitos deles e que o fanatismo tivesse exa-gerado muito? O Espiritismo no solidrio com as extravagncias quese pode cometer em seu nome, assim como a verdadeira cincia no o com os abusos da ignorncia nem a verdadeira religio no o com osexcessos do fanatismo. Muitos crticos apenas comparam o Espiritismoaos contos de fadas e lendas populares, que so fices: seria comojulgar a histria pelos romances histricos ou as tragdias.
12 Em lgica elementar, para discutir um assunto, preciso conhe-c-lo, porque a opinio de um crtico somente tem valor quando ele falacom perfeito conhecimento de causa; somente assim sua opinio, aindaque contrria, pode ser levada em considerao; mas qual seu pesoquando analisa uma matria que no conhece? O verdadeiro crtico deveprovar no somente erudio, mas tambm um saber profundo no quediz respeito causa em estudo, um julgamento sadio e uma imparcialidadea toda prova, seno o primeiro violinista que aparecesse poderia achar-seno direito de julgar Rossini, e um pintor de paredes, de censurar Rafael.
13 O Espiritismo no aceita todos os fatos considerados maravilhososou sobrenaturais; longe disso; ele demonstra a impossibilidade de umgrande nmero deles e o ridculo de certas crenas que so, propriamentefalando, supersties. verdade que, naquilo que ele admite, h coisas quepara os incrdulos so puramente do maravilhoso, ou seja, da superstio.Que seja. Mas ento que se discutam apenas esses pontos, pois sobreos outros no h nada a dizer, e pregais em vo. Ao atacar o que elemesmo refuta, provais vossa ignorncia do assunto, e vossos argumentoscaem no vazio. Havero de perguntar: Mas at onde vai a crena no Espi-ritismo? Lede, observai e o sabereis. Toda cincia se adquire somente
3 - Os calvinistas (desde 1685) haviam sido declarados hereges pela Igreja Romana. Na Frana,chamados huguenotes, depois de muitas perseguies, se refugiaram na regio montanhosade Cvennes, no centro da Frana, onde, organizados, ofereceram herica resistncia, chegandoa lutar com paus e pedras contra os exrcitos de nobres catlicos comandados por Luis XIV.Entre eles ocorreram fatos medinicos extraordinrios, mas que com o tempo, premidos pelascircunstncias, acabaram por redundar em exagero, fanatismo e mistificaes de vrios g-neros. Os calvinistas acabaram trucidados (1713) da mais cruel e violenta maneira que se podeimaginar (N.E.).4 - Entre as religiosas de Loudun surgiram fatos medinicos admirveis que causaram grandeagitao, mas que logo caminharam para a exaltao fantica e a mistificao, como ficoucomprovado (N.E.).
24
O LIVRO DOS MDIUNS PARTE PRIMEIRA
com o tempo e o estudo; acontece que o Espiritismo, que toca as questesmais graves da filosofia, em todos os ramos da ordem social, que com-preende ao mesmo tempo o homem fsico e o homem moral, por si stoda uma cincia, uma filosofia, que no pode ser apreendida em algumashoras, como qualquer outra cincia. Haveria tanta infantilidade em ver todoo Espiritismo confinado a uma mesa giratria como em ver toda fsicaresumida a alguns jogos infantis. Para todos os que no querem ficar nasuperfcie, no so horas, mas meses e anos que sero precisos parasondar o conjunto, todo o edifcio. Que se julgue, diante disso, o grau desaber e o valor da opinio dos que atribuem a si o direito de julgar porterem visto uma ou duas experincias como distrao ou passatempo.Diro, sem dvida, que no tm tempo disponvel para dar ateno aesse estudo; nada os obriga a isso; mas, quando no se tem tempo deaprender uma coisa, no se deve falar sobre ela, e ainda menos julg-la,se no quiser ser tachado de leviandade; acontece que, quanto mais seocupa uma posio elevada na cincia, menos se desculpvel por tratarlevianamente de um assunto que no se conhece.
14 Podemos resumir da seguinte maneira o que acabamos de expor:1o) todos os fenmenos espritas tm como princpio a existncia da
alma, sua sobrevivncia ao corpo e suas manifestaes;2o) esses fenmenos, estando fundados numa lei da natureza, no
tm nada de maravilhoso nem de sobrenatural, no sentido vulgar destaspalavras;
3o) muitos fatos so considerados sobrenaturais por no se lhesconhecer a causa; o Espiritismo, ao lhes definir a causa, os traz para odomnio dos fenmenos naturais;
4o) entre os fatos qualificados de sobrenaturais, h muitos que o Espi-ritismo demonstra classificando-os entre as crenas supersticiosas;
5o) ainda que o Espiritismo reconhea em muitas das crenas popu-lares um fundo de verdade, no aceita de modo algum como fatos espritashistrias fantsticas criadas pela imaginao;
6o) julgar o Espiritismo pelos fatos que ele no admite dar prova deignorncia e emitir uma opinio sem valor;
7o) a explicao dos fatos admitidos pelo Espiritismo, suas causas econseqncias morais constituem toda uma cincia e toda uma filosofia,que requer um estudo srio, perseverante e aprofundado, e
8o) o Espiritismo somente pode considerar crtico srio aquele quehaja visto tudo, estudando e aprofundado-se, com a pacincia e a perse-verana de um observador consciencioso; que soubesse tanto sobre oassunto quanto o mais esclarecido dos seus estudiosos; que tivesse
25
CAPTULO 2 O MARAVILHOSO E O SOBRENATURAL
alcanado seus conhecimentos em outros lugares que no nos romancesda cincia; a quem no se poderia apresentar nenhum fato que ele noconhecesse, nenhum argumento sobre o qual no tivesse meditado; quecontestasse no por meras negaes, mas com argumentos mais convin-centes; que pudesse, enfim, comprovar uma causa mais lgica aos fatosaveriguados. Esse crtico ainda est por vir.
15 Mencionada a palavra milagre, uma breve considerao sobre oassunto no estar deslocada neste captulo sobre o maravilhoso.
No seu significado primitivo e pela sua etimologia, a palavra milagresignifica coisa extraordinria, coisa admirvel de ver; mas esta palavra,como muitas outras, se degenerou do sentido original, e hoje se diz(segundo a Academia) um ato do poder divino contrrio s leis comuns danatureza. Este , de fato, seu significado usual, e somente por compa-rao e de maneira figurada que se aplica s coisas comuns que nossurpreendem e cuja causa desconhecida. No de modo algum nossainteno examinar se Deus pde julgar til, em algumas circunstncias,abolir as leis estabelecidas por Ele mesmo; nosso objetivo demonstrarunicamente que os fenmenos espritas, por mais extraordinrios quepossam parecer, no anulam de modo algum essas leis, no tm nenhumcarter miraculoso nem so maravilhosos ou sobrenaturais. O milagreno se explica; os fenmenos espritas, ao contrrio, se explicam de modoracional; no so, portanto, milagres, mas simples efeitos que tm suarazo de ser nas leis gerais. O milagre ainda tem uma outra caracterstica:o de ser raro e isolado. Acontece que, a partir do momento em que umfato se reproduz, por assim dizer, vontade e por diversas pessoas, nopode ser considerado um milagre.
A cincia todos os dias faz milagres aos olhos dos ignorantes; eisporque antigamente os que sabiam mais que as pessoas comuns eramconsiderados bruxos e, como se acreditava que toda cincia sobre-humana vinha do diabo, eram queimados. Hoje estamos muito maiscivilizados; contentam-se em envi-los aos manicmios.
Que um homem realmente morto, como dissemos, seja trazido devolta vida por interveno divina, eis a um verdadeiro milagre, porqueisso contrrio s leis da natureza. Mas, se esse homem tiver apenas aaparncia da morte, se ainda h nele um resto de vitalidade latente e sea cincia, ou uma ao magntica, conseguir reanim-lo, ser para aspessoas esclarecidas um fenmeno natural, mas, aos olhos de um igno-rante, o fato passar por miraculoso, e o autor da faanha ser perseguidoa pedradas ou venerado, conforme o carter dos indivduos. Que no meiode certo campo magntico um fsico lance um papagaio magnetizado e
26
O LIVRO DOS MDIUNS PARTE PRIMEIRA
faa atrair para ele um raio, esse novo Prometeu5 ser certamente vistocomo possuidor de um poder diablico; diga-se de passagem, Prometeunos parece ter singularmente precedido Franklin6; mas Josu7, parando omovimento do Sol, ou antes da Terra, operou verdadeiro milagre, porqueno conhecemos nenhum magnetizador dotado de to grande poder paraoperar esse prodgio. De todos os fenmenos espritas, um dos mais ex-traordinrios , sem dvida, o da escrita direta, que demonstra do modomais evidente a ao das inteligncias ocultas; mas o fato do fenmenoser produzido por seres invisveis no mais miraculoso do que todosos outros fenmenos que se devem aos Espritos, porque esses seresque povoam os espaos so um dos poderes da natureza, cuja ao incessante sobre o mundo material e sobre o mundo moral.
O Espiritismo, ao nos esclarecer sobre esse poder, nos d a chavepara uma multido de coisas inexplicadas e inexplicveis por qualqueroutro meio que, em tempos antigos, passaram por prodgios, milagres;ele revela, como no magnetismo, uma lei, seno desconhecida, pelomenos mal compreendida; ou, melhor dizendo, uma lei da qual se conhe-ciam os efeitos, visto que produzidos em todos os tempos, mas no seconhecia a lei, e foi a ignorncia dessa lei que gerou a superstio. Conhe-cida a lei, o maravilhoso desaparece, e os fenmenos entram na ordemdas coisas naturais. Eis por que os espritas no fazem mais milagres aofazer uma mesa girar ou os mortos escreverem do que o mdico ao reviverum moribundo ou o fsico ao atrair um raio. Aquele que pretendesse, coma ajuda dessa cincia, fazer milagres seria um ignorante em relao aoassunto ou um farsante.
16 Os fenmenos espritas, do mesmo modo que os fenmenosmagnticos, antes que se tivesse conhecido a sua causa, devem tersido considerados prodigiosos; acontece que, da mesma forma que osdescrentes, os muito inteligentes, os donos da verdade, que julgam tero privilgio exclusivo da razo e do bom senso, no acreditam que umacoisa seja possvel quando no a compreendem; eis porque todos os
5 - PrPrPrPrPrometeu:ometeu:ometeu:ometeu:ometeu: deus do fogo na mitologia grega. Formou o homem do limo da terra e emseguida roubou o fogo celeste (do cu) para lhe dar vida, sendo por isso castigado. Foi acorren-tado no alto de uma montanha, onde diariamente um abutre lhe devorava o fgado, que renasciacontinuamente (N.E.).6 - Benjamim Franklin (1706Benjamim Franklin (1706Benjamim Franklin (1706Benjamim Franklin (1706Benjamim Franklin (1706-----1790):1790):1790):1790):1790): jornalista, poltico e diplomata norte-americano que exer-ceu grande influncia na formao da conscincia republicana da nao que se formava, osEstados Unidos. Deve-se a ele a inveno do pra-raios (N.E.).7 - Josu:Josu:Josu:Josu:Josu: personagem bblico. Rei dos hebreus que sucede Moiss na conduo do seu povopara a Terra Prometida e que, segundo relato bblico, teria parado o Sol (ver no Velho Testamento Livro de Josu) (N.E.).
27
CAPTULO 2 O MARAVILHOSO E O SOBRENATURAL
fatos considerados milagres so motivo para suas zombarias; como areligio contm um grande nmero de fatos desse gnero, no acreditamna religio, e da para a incredulidade absoluta apenas um passo. OEspiritismo, ao explicar a maior parte desses fatos, lhes d uma razode ser. Ele vem, portanto, em ajuda religio, ao demonstrar a possibi-lidade de certos fatos que, por no terem mais o carter miraculoso,no so menos extraordinrios, e Deus no nem menor nem menospoderoso por no ter abolido suas leis. De quantos gracejos as levitaesde So Cupertino8 no foram alvo! Acontece que a levitao dos corpospesados um fato explicado pelo Espiritismo; ns, pessoalmente, fomostestemunhas oculares, e o senhor Home9, assim como outras pessoasde nosso conhecimento, repetiu muitas vezes o fenmeno produzidopor So Cupertino. Portanto, esse fenmeno enquadra-se na ordem dascoisas naturais.
17 No nmero dos fatos desse gnero, preciso pr em primeirolugar as aparies, por serem mais freqentes. A de Salette10, que divideat mesmo o clero, no tem nada de estranho para ns. Seguramente,no podemos afirmar que o fato aconteceu, por no possuirmos a provamaterial; mas, para ns, possvel, uma vez que milhares de fatos seme-lhantes e recentes so de nosso conhecimento; acreditamos nisso nosomente porque conhecemos fatos semelhantes, mas porque sabemosperfeitamente a maneira como se produzem. Quem quiser se reportar teoria das aparies, da qual trataremos mais adiante, ver que essefenmeno to simples e to autntico quanto uma multido de fen-menos fsicos que se contam como prodigiosos apenas por falta de seter a chave que os explique. Quanto personagem que se apresentou aSalette, outra questo; sua identidade no foi de modo algum demons-trada; simplesmente admitimos que uma apario pode ter acontecido, oresto no de nossa competncia; respeitvel que cada qual possaguardar suas convices a respeito; o Espiritismo no tem que se ocupardisso; dizemos somente que os fenmenos espritas nos revelam novas
8 - So Cupertino:So Cupertino:So Cupertino:So Cupertino:So Cupertino: tinha em elevado grau a mediunidade de levitao, que exercia com muitafacilidade (N.E.).9 - Daniel Dunglas Home (1833Daniel Dunglas Home (1833Daniel Dunglas Home (1833Daniel Dunglas Home (1833Daniel Dunglas Home (1833-----1886):1886):1886):1886):1886): extraordinrio mdium escocs. Exibiu em todo omundo a sua mediunidade de levitao em espetculos muito concorridos e submeteu-a atestes e anlises de muitos cientistas, entre eles William Crookers, em 1869, em Londres. SirArthur Conan Doyle (criador de Sherlock Holmes), na sua obra Histria do Espiritismo (EditoraPensamento) dedica-lhe um captulo, em que se pode aquilatar um perfil do grande mdium D. D.Home (N.E.).10 - Salette:Salette:Salette:Salette:Salette: refere-se apario de Maria Santssima a duas crianas em 1846 na Frana A Virgem de La Salette (N.E.).
28
O LIVRO DOS MDIUNS PARTE PRIMEIRA
leis e nos do a chave para uma multido de coisas que pareciam sobre-naturais; se alguns dos fatos que passaram por miraculosos encontramnele uma explicao lgica, motivo suficiente para no se apressar anegar o que no se compreende.
Os fenmenos espritas so contestados por algumas pessoas pre-cisamente porque parecem estar alm da lei comum e por elas no ossaberem explicar. Dai-lhes uma base racional e a dvida cessa. O escla-recimento no sculo dezenove, de muita conversa intil, um poderosomotivo de convico; temos visto todos os dias pessoas que no foramtestemunhas de nenhum fato esprita, que no viram nenhuma mesagirar, nenhum mdium escrever e que esto to convencidas quantons unicamente porque leram e compreenderam. Se acreditssemosapenas no que os olhos podem ver, nossas convices se reduziriam abem pouca coisa.
29
CAPTULO
3MTODO
18 Um desejo natural e muito louvvel de todo esprita desejo quese deve sempre encorajar o de fazer proslitos, isto , novos segui-dores. Foi em vista de facilitar sua tarefa que nos propusemos a examinaraqui o caminho mais seguro, conforme nosso ponto de vista, para atingiresse objetivo, a fim de poupar esforos inteis.
Dissemos que o Espiritismo toda uma cincia, toda uma filosofia;aquele que quer conhec-lo seriamente deve, como condio primeira,dedicar-se a um estudo srio e se compenetrar que, mais do que qualqueroutra cincia, ele no pode ser aprendido brincando. O Espiritismo, comoj dissemos, aborda todas as questes que interessam a humanidade;seu campo imenso e , principalmente, em suas conseqncias queconvm ser examinado. A crena nos Espritos sem dvida forma suabase, mas no suficiente para formar um esprita esclarecido, da mesmaforma que a crena em Deus no basta para formar um telogo. Vejamosde que modo convm ensinar a Doutrina Esprita para levar mais seria-mente convico.
Que os espritas no se espantem com a palavra ensinar; ensinar no somente o que se faz do alto da ctedra ou da tribuna; h tambm o dasimples conversao. Toda pessoa que procura convencer uma outra,seja por explicaes, seja por experincias, pratica o ensinamento; o quedesejamos que esse esforo alcance resultados, e por isso que jul-gamos dever dar alguns conselhos igualmente proveitosos para os quequerem se instruir por si mesmos; neles encontraro o modo de chegarmais segura e rapidamente ao objetivo.
19 Acredita-se geralmente que, para convencer algum, basta mostraros fatos; esse parece sem dvida o caminho mais lgico; entretanto, aexperincia mostra que nem sempre o melhor a se fazer, porque hpessoas a quem os fatos mais evidentes no convencem de maneiraalguma. Por que isso acontece? o que vamos tentar demonstrar.
No Espiritismo, crer na existncia dos Espritos questo secundria; uma conseqncia, no o ponto de partida. a precisamente que est on da questo que muitas vezes provoca repulsa a certas pessoas.
Os Espritos no so outra coisa seno a alma dos homens. Assim, overdadeiro ponto de partida a existncia da alma. Como pode o mate-rialista admitir que seres vivem fora do mundo material quando acredita
30
O LIVRO DOS MDIUNS PARTE PRIMEIRA
que ele mesmo apenas matria? Como pode admitir Espritos suavolta se no acredita ter um em si? Em vo reuniremos diante de seusolhos as provas mais palpveis; ele contestar todas, porque no admiteo princpio. Todo ensinamento metdico deve caminhar do conhecidopara o desconhecido, e para o materialista o conhecido a matria;deve-se partir da matria e procurar, antes de tudo, lev-lo a observ-la,convenc-lo de que h alguma coisa que escapa s leis da matria; emuma palavra, antes de o tornar esprita, tentai torn-lo espiritualista*; paraisso, h toda uma outra ordem de fatos, um ensinamento todo especialem que preciso proceder por outros meios. Falar-lhe dos Espritosantes de ele estar convencido de ter uma alma comear por onde seriapreciso acabar, porque ele no pode admitir a concluso se no admiteas bases. Antes de comear a convencer um incrdulo, mesmo pelosfatos, convm se assegurar de sua opinio em relao alma, ou seja, seele acredita na sua existncia, na sua sobrevivncia ao corpo, na suaindividualidade aps a morte; se a resposta for negativa, ser trabalhoperdido falar-lhe dos Espritos. Eis a regra. No dizemos que no hajaexcees, mas nesse caso h provavelmente outra causa que o tornamenos refratrio.
20 Entre os materialistas, preciso distinguir duas classes: na pri-meira os que o so por sistema; para eles no h dvida, apenas a negaoabsoluta, raciocinada sua maneira; aos seus olhos, o homem apenasuma mquina que funciona enquanto est viva, que se desarranja e daqual, aps a morte, resta apenas a carcaa. So, felizmente, em nmeromuito pequeno e no constituem em nenhuma parte uma escola altamentereconhecida; no temos necessidade em insistir sobre os deplorveis efeitosque resultariam para a ordem social a propagao de uma doutrina seme-lhante; fomos suficientemente esclarecidos sobre esse assunto em O Livrodos Espritos, questo no 147, e Concluso, item no 3.
Quando dissemos que a dvida cessa para os incrdulos com umaexplicao racional, preciso excluir destes os materialistas, pelo menosos que negam qualquer poder ou princpio inteligente fora da matria; amaioria deles teima em sua opinio por orgulho e acredita por amor-prprioque so obrigados a persistir nisso; persistem, apesar de todas as provascontrrias, porque no querem se rebaixar. Com essas pessoas, no hnada a fazer; no preciso nem mesmo se deixar levar pelas falsas
***** Espiritualista:Espiritualista:Espiritualista:Espiritualista:Espiritualista: todo aquele que acredita que tem em si algo mais do que o corpo material, aoqual d os mais variados nomes: alma, esprito, essncia, centelha, sopro etc., mas que nem porisso deve ser considerado esprita, ao passo que todo o esprita espiritualista (Veja em O Livrodos Espritos, Introduo, item no 2, A Alma) (N.E.).
31
CAPTULO 3 MTODO
aparncias de sinceridade dos que dizem: faa-me ver e acreditarei.H os que so mais francos e dizem vaidosamente: ainda que visseno acreditaria.
21 A segunda classe dos materialistas muito mais numerosa, porqueo verdadeiro materialismo neles um sentimento antinatural; compreendeos que o so por indiferena e, pode-se dizer, por falta de coisa melhor;no o so de caso pensado, e o que mais desejam crer, porque paraeles a incerteza um tormento. H neles uma vaga aspirao em relaoao futuro; mas esse futuro lhes foi apresentado de uma forma que suarazo no pode aceitar; da a dvida e, como conseqncia da dvida, aincredulidade. Para eles, a incredulidade no um sistema; apresentai-lhesalgo de racional e o aceitam de bom grado, estes podem nos compreender,porque esto mais perto de ns do que eles mesmos pensam. Aos pri-meiros no se deve falar nem de revelao, nem de anjos, nem de paraso,pois no compreenderiam; mas, ao vos colocar no seu terreno, provai-lhesprimeiramente que as leis da fisiologia so impotentes para explicar tudo;o resto vir a seguir. muito diferente quando a incredulidade no pre-concebida, porque assim a crena no absolutamente nula; h umgerme latente sufocado pelas ervas daninhas, mas que uma fasca podereanimar; o cego a quem se restitui a viso e que fica feliz em rever a luz, o nufrago a quem se estende uma tbua de salvao.
22 Ao lado dos materialistas propriamente ditos, h uma terceiraclasse de incrdulos que, embora espiritualistas, pelo menos de nome,no so menos refratrios; so os incrdulos de m vontade. Estes fica-riam zangados em acreditar, porque isso perturbaria sua satisfao comos prazeres materiais; receiam ver condenadas a ambio, o egosmo eas vaidades humanas, que so os seus prazeres; fecham os olhos parano ver e tapam os ouvidos para no ouvir. S se pode lament-los.
23 Citemos apenas para mencion-la uma quarta categoria, que cha-maremos de incrdulos interesseiros ou de m-f. Estes sabem muito bemtudo em relao ao Espiritismo, mas o condenam ostensivamente porinteresse pessoal. No h nada a dizer sobre eles, como no h nada afazer com eles. Se o materialista puro se engana, tem pelo menos a seufavor a desculpa da boa-f; pode-se corrigi-lo ao provar o erro; porm,nesta categoria de que falamos, h uma determinao radical contra aqual todos os argumentos se chocam; o tempo se encarregar de lhesabrir os olhos e lhes mostrar, talvez custa de sofrimento, onde estavamseus verdadeiros interesses, porque, no podendo impedir que a verdadese espalhe, sero arrastados pela torrente, juntamente com os interessesque acreditavam salvaguardar.
32
O LIVRO DOS MDIUNS PARTE PRIMEIRA
24 Alm de todas essas categorias de opositores, h uma infinidadede nuanas entre as quais se podem contar os incrdulos por covardia: acoragem lhes vir quando virem que os outros no se prejudicam; osincrdulos por escrpulos religiosos: um estudo esclarecido lhes ensinarque o Espiritismo se apia sobre as bases fundamentais da religio erespeita todas as crenas e que uma das suas conseqncias darsentimentos religiosos aos que no os tm e fortific-los naqueles emque esto vacilantes; h ainda os incrdulos por orgulho, por esprito decontradio, por indiferena, por leviandade etc. etc.
25 No podemos omitir uma categoria que chamaremos de incr-dulos por decepes. So pessoas que passaram de uma confianaexagerada incredulidade, causada por decepes; ento, desencora-jadas, abandonaram e rejeitaram tudo. como se algum negasse ahonestidade s por ter sido enganado. a conseqncia de um estudoincompleto do Espiritismo e da falta de experincia. Os Espritos enganamgeralmente aqueles que lhes solicitam o que no devem ou no podemdizer e que no so esclarecidos o suficiente sobre o assunto para dis-cernir a verdade da impostura. Muitos, alis, vem o Espiritismo apenascomo um novo meio de adivinhao e imaginam que os Espritos existempara adivinhar o futuro; acontece que os Espritos levianos e zombeteirosno deixam de se divertir custa dos que pensam dessa forma; porisso que prometem marido s moas; ao ambicioso, honras, heranas,tesouros escondidos etc.; da surgem, muitas vezes, decepes desagra-dveis, das quais o homem srio e prudente sempre sabe se preservar.
26 Uma outra classe, a mais numerosa de todas, mas que no po-demos classificar como opositores, a dos indecisos; geralmente soespiritualistas por princpio; na sua maioria, tm uma vaga intuio dasidias espritas, uma aspirao para algo que no podem definir. Falta-lhessomente formular e coordenar os pensamentos; para eles, o Espiritismo como um raio de luz: a claridade que dissipa o nevoeiro; por isso oacolhem com entusiasmo, porque os liberta das angstias da incerteza.
27 Se continuarmos examinando as diversas categorias dos quecrem, encontraremos tambm os espritas sem o saberem; e, especifica-mente falando uma variedade ou uma nuana da classe dos indecisos.Sem nunca terem ouvido falar na Doutrina Esprita, possuem o senti-mento inato dos seus grandes princpios, e esse sentimento se percebeem algumas passagens de seus escritos e discursos, a tal ponto que,ao ouvi-los, julgaramos que so conhecedores da Doutrina. Encontra-senumerosos exemplos disso nos escritores sacros e profanos, nos poetas,nos oradores, nos moralistas, nos filsofos antigos e modernos.
33
CAPTULO 3 MTODO
28 Dentre aqueles que aceitaram a Doutrina Esprita estudando-a,podemos distinguir:
1o) Aqueles que acreditam pura e simplesmente nas manifestaesdos Espritos. O Espiritismo para eles uma simples cincia da obser-vao, uma srie de fatos mais ou menos curiosos; ns os chamaremosespritas experimentadores.
2o) Aqueles que no vem no Espiritismo nada alm dos fatos; com-preendem a parte da filosofia, admiram a moral que dela se origina, masno a praticam. A influncia da Doutrina sobre seu carter insignifi-cante ou nula; no mudam nada em seus costumes e no renunciam aum nico prazer: o avarento continua a ser mesquinho; o orgulhoso,sempre cheio de amor-prprio; o invejoso e o ciumento sempre hostis;para estes, a caridade crist apenas uma bela mxima; so os esp-ritas imperfeitos.
3o) Aqueles que no se contentam em admirar a moral esprita, masque a praticam e aceitam todas as suas conseqncias. Convencidos deque a existncia terrestre uma prova passageira, fazem o possvel paraaproveitar esses curtos instantes e avanar na direo do caminho doprogresso, para poderem se elevar na hierarquia do mundo dos Espritos,esforando-se para fazer o bem e reprimir suas tendncias para o mal.A caridade est em todas as coisas, a regra para sua conduta; a estoos verdadeiros espritas, ou melhor, os espritas cristos.
4o) Finalmente, h os espritas exaltados. A espcie humana seriaperfeita se tomasse sempre o lado bom das coisas. O exagero em tudo prejudicial. No Espiritismo, ele provoca a confiana cega e infantil nascoisas do mundo invisvel e faz aceitar muito facilmente e sem cuidadoo que a reflexo e o exame demonstrariam ser absurdo ou impossvel.O entusiasmo no faz raciocinar, deslumbra. Essa espcie de seguidoresda Doutrina mais prejudicial do que til para a causa do Espiritismo; soos menos competentes para convencer, porque se desconfia, com razo,de seu julgamento; so enganados na sua boa-f por Espritos mistifica-dores, enganadores, ou por pessoas que procuram explorar sua creduli-dade. Se as conseqncias disso atingissem somente a eles, haveriaapenas inconvenientes; o pior que do, inocentemente, argumentos aosincrdulos que procuram antes ocasies de zombar do que de se con-vencer e no deixam de impor a todos o ridculo de alguns. Isso, semdvida, no nem justo nem racional; mas, como j se sabe, os adver-srios do Espiritismo apenas reconhecem a sua razo como de boaqualidade, e procurar conhecer a fundo aquilo do que falam o menorde seus cuidados.
34
O LIVRO DOS MDIUNS PARTE PRIMEIRA
29 As maneiras pelas quais se aceita a Doutrina variam muito con-forme os indivduos; o que persuade uns no consegue nada sobre outros;um convencido observando algumas manifestaes, outro, pelas comu-nicaes inteligentes, e uma grande parte, pelo raciocnio. At mesmo po-demos dizer que, para a maioria, os fenmenos no despertam interesseou so de pouco significado. Quanto mais esses fenmenos so extraordi-nrios e se afastam das leis conhecidas, maior oposio encontram, e issopor uma razo muito simples: se naturalmente levado a duvidar de umacoisa da qual no se tem um conhecimento racional; cada um a v deacordo com o seu ponto de vista e a explica sua maneira: o materialistav uma causa puramente fsica ou um embuste; o ignorante e o supersti-cioso vem uma causa diablica ou sobrenatural; porm, uma prvia expli-cao tem por efeito anular as idias preconcebidas e aclarar, seno arealidade, pelo menos a possibilidade do fenmeno; compreende-se antesde o ter visto; acontece que, a partir do momento em que a possibilidade reconhecida, estamos a meio caminho da convico.
30 Vale a pena tentar convencer um incrdulo obstinado? Dissemosque depende das causas e da natureza de sua incredulidade; muitasvezes, a insistncia em querer convenc-lo o faz acreditar em sua impor-tncia pessoal, que uma razo para a sua teimosia. Aquele que no seconvenceu nem pelo raciocnio nem pelos fatos porque ainda deve sofrera prova da incredulidade; preciso confiar Providncia o momento decircunstncias mais favorveis; muitas pessoas pedem para receber a luz;no h que perder tempo com aquelas que a repelem. Dirigi-vos aoshomens de boa vontade, cujo nmero maior do que se acredita, e seuexemplo, ao se multiplicar, vencer mais resistncias do que as palavras. Overdadeiro esprita nunca deixar de fazer o bem; h sempre coraesaflitos a amparar, consolaes a dar, desesperados a acalmar, reformasmorais a realizar; a est a sua misso, e nela encontrar sua verdadeirasatisfao. O Espiritismo est no ar; ele se espalha pela fora dos fatos eporque torna felizes aqueles que o professam. Quando seus adversriossistemticos o ouvirem ressoar ao redor deles, entre seus prprios amigos,compreendero seu isolamento e sero forados a se calar ou a se render.
31 Para se ensinar o Espiritismo, como qualquer outra cincia, seriapreciso passar em revista toda a srie de fenmenos que se podemproduzir, a comear pelos mais simples, chegando sucessivamente aosmais complicados. Mas no pode ser assim, porque seria impossvelfazer um curso de Espiritismo experimental como se faz um de fsica equmica. Nas cincias naturais opera-se a matria bruta, que se manipula vontade e sempre se tem a certeza de regular os efeitos. No Espiritismo,
35
CAPTULO 3 MTODO
lidamos com inteligncias, que tm liberdade e nos provam a cada ins-tante que no so submissas aos nossos caprichos; preciso, portanto,observar, esperar os resultados colhendo-os no exato momento; da termosafirmado claramente que todo aquele que se vangloriasse de obt-los vontade seria apenas um ignorante ou um impostor. Eis por que o verda-deiro Espiritismo jamais ser um espetculo e nunca se apresentar sobreum tablado. Realmente h algo de ilgico em supor que os Espritosvenham desfilar e se submeter investigao como objetos de curiosi-dade. Os fenmenos poderiam no acontecer quando se tivesse neces-sidade ou se apresentar em uma outra ordem totalmente diferente daquelaque desejaramos. Acrescentamos ainda que, para obt-los, precisopessoas dotadas de faculdades especiais, que variam ao infinito conformea aptido dos indivduos; acontece que, como extremamente raro que amesma pessoa tenha todas as mediunidades, uma dificuldade a mais,porque seria preciso sempre ter mo uma verdadeira coleo de mdiuns,o que totalmente impossvel.
O meio de superar esse inconveniente simples; basta comear estu-dando a teoria na qual todos os fenmenos so passados em revista, soexplicados, podendo deles se inteirar, compreender a sua possibilidade,conhecer as condies nas quais podem se produzir e os obstculos quese podem encontrar; independentemente da ordem em que venham a acon-tecer, no h nada que nos possa surpreender. Esse caminho oferece aindaoutra vantagem: poupar o experimentador que quer operar por si mesmode uma srie de decepes; precavido contra as dificuldades, pode semanter em guarda e evitar adquirir experincias sua custa.
Desde que nos ocupamos com o ensino do Espiritismo, seria difcildizer o nmero de pessoas que vieram depois de ns e, entre estas, quantasvimos permanecer indiferentes ou incrdulas na presena dos fatos maisevidentes e entretanto se convencer mais tarde por uma explicaoracional; quantas outras foram predispostas convico pelo raciocnio;enfim, quantas foram persuadidas sem terem visto nada, simplesmenteporque haviam compreendido. , portanto, por experincia que falamos,e tambm porque dizemos que o melhor mtodo de ensinamento esp-rita o de se dirigir razo antes de se dirigir aos olhos. o que seguimosem nossas lies, e temos alcanado muito sucesso.
32 O estudo preliminar da teoria tem uma outra vantagem: mostrarimediatamente a grandeza do objetivo e o alcance dessa cincia; aqueleque se inicia no Espiritismo vendo uma mesa girar ou bater est maispropenso ao espetculo, porque no imagina que de uma mesa possasair uma doutrina regeneradora da humanidade. Sempre notamos que
36
O LIVRO DOS MDIUNS PARTE PRIMEIRA
aqueles que acreditaram antes de terem visto, porque leram e compreen-deram, longe de se ater ao superficial, so, ao contrrio, os que maisrefletem, ligando-se mais ao fundo do que forma. Para eles, a partefilosfica a principal e os fenmenos propriamente ditos so o acessrio;dizem a si mesmo que, se os fenmenos no existissem, teramos umafilosofia, que a nica capaz de resolver os problemas at agora insolveis,a nica que apresenta uma teoria racional do passado do homem e deseu futuro. Sua razo prefere uma doutrina que explica quelas que nadaexplicam ou que explicam mal. Todo aquele que reflete compreende muitobem que a Doutrina se afirma e subsiste independentemente das mani-festaes espirituais, que vm fortific-la, confirm-la, mas que no soa sua base essencial; o observador consciencioso no as repele; aocontrrio, ele espera as circunstncias favorveis que lhe permitirotestemunh-las. A prova de que avanamos que, antes de ter ouvidofalar sobre as manifestaes, uma grande quantidade de pessoas tevea intuio da Doutrina e apenas aguardava que se lhe desse um corpo,uma conexo lgica s idias.
33 Tambm no seria exato dizer que aqueles que comeam pelateoria deixam de ter o conhecimento das manifestaes prticas; aocontrrio, eles o tm, e, aos seus olhos, porque conhecem as causas,elas se revelam mais naturais, precisas e valiosas; so os numerososfatos das manifestaes espontneas, das quais falaremos nos captulosa seguir. H poucas pessoas que no tm conhecimento delas, ainda queseja por ouvir falar; muitos as viveram pessoalmente, sem lhes prestarmaior ateno. A teoria explica os fatos, e esses fatos tm grande impor-tncia quando se apiam em testemunhos irrecusveis, porque no tiveramnem preparaes nem cumplicidade. Se os fenmenos provocados noexistissem, os fenmenos espontneos bastariam, e o Espiritismo igual-mente lhes daria uma soluo racional, o que j seria muito. Por isso, amaior parte daqueles que estudam a teoria com antecedncia relem-bram-se dos fatos vividos, que confirmam a teoria.
34 Estaria redondamente enganado quem supusesse que aconse-lhamos desprezar os fatos; pelos fatos que chegamos teoria; verdadeque para isso foi preciso um trabalho assduo de muitos anos e milhares deobservaes; mas, uma vez que os fatos nos serviram e servem todos osdias, seramos inconseqentes com ns mesmos se lhes negssemos aimportncia que tm, especialmente quando fazemos um livro destinadoa conhec-los. Dizemos entretanto que, sem o raciocnio, os fatos nobastam para se chegar convico; que uma explicao preliminar, ex-pondo as prevenes e mostrando que os fatos no tm nada de contrrio
37
CAPTULO 3 MTODO
razo, dispe as pessoas a aceit-los. Isso to verdadeiro que de dezpessoas que assistam a uma sesso de experimentao, nove sairo semestarem convencidas, e algumas sairo mais incrdulas do que antes,porque as experincias no respondem s suas expectativas. Ser com-pletamente diferente com aquelas que puderem compreender os fatos me-diante um conhecimento terico antecipado, porque esse conhecimentoiria servir de meio de controle, de forma que, por conhecerem, nada irsurpreend-las, nem mesmo o insucesso, pois sabem em que condiesos fatos se produzem e que no se pode pedir-lhes o que no podem dar.A compreenso prvia dos fatos as coloca, ento, a ponto de entender nos todas as anomalias, mas tambm de notar uma multido de detalhes,de nuanas, muitas vezes delicados, que so para elas meios de convicoe que escapam ao observador ignorante. Esses so os motivos que noslevam a admitir em nossas sesses experimentais apenas pessoas comnoes preparatrias suficientes para compreender o que se faz; acredi-tamos que as outras perderiam seu tempo ou nos fariam perder o nosso.
35 queles que quiserem adquirir esses conhecimentos preliminarespela leitura de nossas obras, eis a ordem que aconselhamos:
1o) O que o Espiritismo? Essa brochura de apenas cem pginas uma exposio resumida dos princpios da Doutrina Esprita, um relancegeral que permite abraar o conjunto sob um quadro restrito. Em poucaspalavras, v-se o objetivo, e pode-se julgar sua importncia. Contm asprincipais questes e objees que as pessoas novatas habitualmentefazem. Essa primeira leitura, que necessita apenas de pouco tempo, uma introduo que facilita um estudo mais aprofundado.
2o) O Livros dos Espritos. Contm a Doutrina completa ditada pelosprprios Espritos, com toda sua filosofia e todas as suas conseqnciasmorais; a revelao do destino do homem, a iniciao natureza dosEspritos e aos mistrios da vida do alm-tmulo. Ao l-lo, compreende-seque o Espiritismo tem um objetivo srio, e no um passatempo ftil.
3o) O Livro dos Mdiuns. destinado a guiar a prtica das manifes-taes pelo conhecimento dos meios mais apropriados para se comunicarcom os Espritos; um guia tanto para os mdiuns quanto para os evoca-dores e o complemento de O Livro dos Espritos.
4o) Revista Esprita1. uma coletnea variada de fatos, explicaestericas e trechos destacados que completa o que foi dito nas duas obras
1 - Revista Esprita (1858Revista Esprita (1858Revista Esprita (1858Revista Esprita (1858Revista Esprita (1858-----1869):1869):1869):1869):1869): publicao mensal dirigida por Allan Kardec at o seu desen-carne e por cujas pginas passaram os mais variados assunto de todas as partes do mundoreferentes Doutrina Esprita, que se expandia. H no Brasil uma excelente traduo completada Revista Esprita feita pelo doutor Jlio Abreu para a Editora Edicel (N.E.).
38
O LIVRO DOS MDIUNS PARTE PRIMEIRA
precedentes e que de alguma forma a sua aplicao. A leitura pode serfeita ao mesmo tempo, mas ser mais proveitosa e mais inteligvel espe-cialmente aps a leitura de O Livro dos Espritos.
Isso em relao a ns. Aqueles que querem conhecer tudo em umacincia devem necessariamente ler tudo o que escrito sobre a matriaou pelo menos as coisas principais, e no se limitar a um nico autor;devem mesmo ler os prs e os contras, tanto as crticas como as opinieselogiosas, e estudar os diferentes sistemas, a fim de poder julgar comconhecimento. Nesses assuntos, no indicamos nem criticamos nenhumaobra, no querendo influenciar em nada a opinio que se pode formar dela;trazendo nossa pedra ao edifcio, fizemos o que devamos; no nos cabeser juiz e parte, e no temos a ridcula pretenso de sermos os nicos porta-dores da luz; cabe ao leitor separar o bom do mau, o verdadeiro do falso.
39
CAPTULO
4SISTEMAS
36 Quando os fenmenos estranhos do Espiritismo comearam a seproduzir ou, melhor dizendo, reapareceram nos ltimos tempos, o primeirosentimento que causaram foi o da dvida sobre sua realidade e, aindamais, sobre sua origem. Quando foram constatados por testemunhosirrecusveis e por experincias que todos puderam fazer, aconteceu quecada um os interpretou a seu modo, conforme suas idias pessoais, suascrenas ou suas prevenes; da surgirem vrios sistemas, que umaobservao mais atenta viria dar o seu justo valor.
Os adversrios do Espiritismo pensaram encontrar um argumentonessa divergncia de opinies e proclamaram que os prprios espritasno esto de acordo entre si. em si mesmo um argumento pobre eprecrio, se refletirmos que os passos de toda cincia nascente sonecessariamente incertos, at que o tempo permita reunir e coordenaros fatos que podem firmar opinio; medida que os fatos se completame so mais bem observados, as idias prematuras se apagam e a uni-dade se estabelece, seno em todos os detalhes, pelo menos sobre ospontos fundamentais. Foi o que aconteceu com o Espiritismo; ele nopodia escapar lei comum e devia mesmo, por sua natureza, se prestarmais do que qualquer outro assunto diversidade das interpretaes.Pode-se mesmo dizer que, nesse sentido, foi mais rpido do que outrascincias mais antigas, do que a medicina, por exemplo, que divide aindaos maiores sbios.
37 Por questo de ordem metdica, para seguir o caminho pro-gressivo das idias, convm que se coloque frente aqueles que sepodem chamar sistemas de negao, ou seja, os dos adversrios doEspiritismo. J contestamos suas objees na Introduo e na Conclusode O Livro dos Espritos, assim como no pequeno volume intitulado Oque o Espiritismo? Seria intil voltar a isso, mas vamos lembrar, emduas palavras, os motivos sobre os quais eles se fundam.
Os fenmenos espritas so de dois gneros: os de efeitos fsicose os de efeitos inteligentes. No admitindo a existncia dos Espritos,porque no admitem nada fora da matria, compreende-se que neguemos efeitos inteligentes. Quanto aos efeitos fsicos, eles os analisam sobseu ponto de vista, e seus argumentos podem se resumir nos quatrosistemas seguintes:
40
O LIVRO DOS MDIUNS PARTE PRIMEIRA
38 Sistema do charlatanismo. Entre os adversrios, muitos atribuemesses efeitos fraude, porque alguns puderam ser imitados. Essa supo-sio transforma todos os espritas em ingnuos e todos os mdiuns emfazedores de ingnuos, sem considerar a posio, o carter, o saber e ahonradez das pessoas. Se merecesse uma resposta, diramos que algunsfenmenos da fsica tambm so imitados por mgicos, e isso no provanada contra a verdadeira cincia. Alis, h pessoas cujo carter est acimade qualquer suspeita de fraude, e preciso ser desprovido de toda civili-dade e urbanidade para se atrever a dizer-lhes na face que so cmplicesdo charlatanismo.
Num salo muito respeitvel, um senhor, aparentemente educado,fez um comentrio indelicado sobre o servio. A dona da casa lhe disse:Senhor, uma vez que no estais contente, vosso dinheiro ser devolvidona sada e, num gesto, lhe faz compreender o que tinha de melhor afazer. Devemos concluir da que nunca houve abuso? Seria preciso, paraacreditar nisso, admitir que os homens so perfeitos. Abusa-se de tudo,mesmo das coisas mais santas; por que no se abusaria do Espiritismo?Mas o mau uso que se pode fazer de uma coisa no pode servir paraprejulg-la, e podemos considerar a honestidade das pessoas analisandoos motivos que as fazem agir. Onde no h interesse financeiro o charla-tanismo no tem nada a fazer.
39 Sistema da loucura. Alguns, numa espcie de tolerncia caridosa,concordam em pr de lado a suspeita de fraude e pretendem que, se nofazem ingnuos, so eles os prprios ingnuos, o que quer dizer queso imbecis. Quando os incrdulos so menos amveis, dizem simples-mente que loucura, atribuindo assim a si prprios, sem cerimnia, oprivilgio do bom senso. Esse o grande argumento dos que no tmuma boa razo para apresentar. Afinal, esse modo de ataque se tornouridculo por ser banal e no merece que se perca tempo com ele. Osespritas, alis, pouco se importam com isso; prosseguem no seu caminhobravamente e se consolam ao pensar que tm por companheiros deinfortnio muitas pessoas cujo mrito incontestvel. preciso, de fato,convir que essa loucura, se loucura fosse, tem uma caracterstica muitointeressante: a de atingir de preferncia a classe esclarecida, entre a qualo Espiritismo conta, at o momento, com a imensa maioria de seus segui-dores. Se entre eles encontram-se algumas excentricidades, no depemmais contra a Doutrina do que os loucos religiosos contra a religio, osloucos melomanacos contra a msica, os manacos matemticos contraas matemticas. Todas as idias encontraram fanticos exagerados, e preciso ser dotado de um julgamento pouco claro para confundir o
41
CAPTULO 4 SISTEMAS
exagero de uma coisa com a prpria coisa. Recomendamos ao leitor,para amplas explicaes sobre esse assunto, a nossa brochura O que oEspiritismo? e O Livro dos Espritos, Introduo, item no 15.
40 Sistema de alucinao. Uma outra opinio menos ofensiva, porter um pequeno retoque cientfico, consiste em atribuir os fenmenos iluso dos sentidos; assim, o observador estaria de muita boa-f e acre-ditaria ver o que no v. Quando v uma mesa se levantar e se manter noespao sem um ponto de apoio, a mesa no teria se mexido do lugar; elea v no ar por um efeito de miragem, de espelho ou um efeito de refrao,como vemos um astro ou um objeto espelhado na gua, fora de suaposio real. Isso seria possvel a rigor; mas aqueles que presenciaram ofenmeno puderam constatar o isolamento da mesa suspensa passandopor debaixo dela, o que seria impossvel se ela no estivesse suspensado solo. Por outro lado, ocorreu muitas vezes de a mesa se quebrar aocair: ser que isso tambm apenas um efeito de tica?
Uma causa fisiolgica bem conhecida pode, sem dvida, fazer comque se acredite ver girar uma coisa que no se mexe ou que ela prpriagira quando est imvel; mas, quando muitas pessoas ao redor de umamesa a vem ser arrastada por um movimento to rpido que tm dificul-dade em segui-la e algumas vezes ser at lanada por terra, ocorrer quetodas tenham sido tomadas de uma iluso, como o bbado que acreditaver passar sua casa diante dele?
41 Sistema do msculo estalante. Se desse modo que eles explicama vidncia, no seria diferente com a audio. No entanto, quando aspancadas so ouvidas por toda a assemblia; no possvel, racional-mente, atribu-las a uma iluso. Afastamos, com certeza, toda idia defraude e supomos que uma observao atenta constatou que as pancadasno so provocadas ao acaso ou por nenhuma causa material.
O certo que um sbio mdico deu em relao a isso, conforme suaviso pessoal, uma explicao definitiva. Segundo ele: A causa dissoest nas contraes voluntrias ou involuntrias do tendo do msculocurto-pernio. Ele entra, a esse respeito, nos detalhes anatmicos maiscompletos para demonstrar por qual mecanismo esse tendo pode pro-duzir rudos, imitar o ritmo do tambor e at mesmo executa