-
Braz. J. Aquat. Sci. Technol., 2014, 18(1):9-18.
9
INTRODUO
Manguezal um ecossistema que ocorre em regies tropicais e
sub-tropicais ocupando reas entremars. caracterizado por vegetao
lenhosa tpica, adaptada s condies de mar, salinidade, substrato
inconsolidado e pouco oxigenado. Uma fauna tpica compe ainda esse
ecossistema, igual-mente adaptada as caractersticas peculiares do
ambiente (Soares, 1997).
A fisionomia e formao da vegetao dos manguezais parecem ser
fortemente controladas por padres locais relacionados mar e
drenagem da superfcie terrestre. Por isso, Lugo & Snedaker
(1974) classificam esta comunidade vegetal de acordo com topografia
e influncia da mar na distribuio das espcies tpicas e das unidades
fisionmicas. Segundo este sistema de classificao, os bosques de
mangue podem ser: (1) Bosques ribeirinhos; (2) Bosques de franja e
ilhota; e (3) Bosques de bacia.
Uma caracterstica marcante dos manguezais a existncia, em alguns
bosques, de zonas ou faixas distintas, compostas por apenas uma
espcie ou por um dado conjunto de espcies arbreas. D-se o nome de
zonao a distribuio dos organismos em reas, camadas ou zonas
distintas. Podem-se apresentar dois tipos de zonao: vertical e
horizontal, e esta se divide em zona externa, interna, apicum e
transio (Lugo & Snedaker, 1974; Cintrn & Schaeffer-Novelli,
1983; Schaeffer-Novelli et al., 2001). Para Lugo (1987 apud
Sessegolo, 1997), as zonaes obedecem a gradientes ambientais de
salinidade, topografia e hi-drologia, entre outros, enquanto que as
sucesses so fenmenos temporais. Segundo Snedaker (1982), a zonao no
manguezal uma expresso da sucesso
vegetal, uma resposta a mudanas geomorfolgicas e fisiolgicas, e
aos gradientes de mars, alm de uma consequncia da disperso
preferencial de propgu-los. O processo de desenvolvimento
estrutural de um bosque pode ser descrito segundo modelo proposto
por Jimenz et al. (1985), e consiste nas seguintes etapas: (1)
Perodo de colonizao; (2) Perodo de desenvolvimento; (3) Perodo de
maturidade; e (4) Senescncia.
Os bosques de mangue apresentam grande var-iabilidade, ao longo
do litoral catarinense, em relao as suas caractersticas estruturais
e funcionais. No litoral catarinense so encontradas trs das seis
espcies tpicas de mangue, que ocorrem no Brasil: Rhizophora mangle
(mangue vermelho), Laguncularia racemosa (mangue branco) e
Avicennia schaueriana Stapf and Leechman ex Moldenke (mangue
preto), alm de algumas espcies associadas.
Santa Catarina o Estado limtrofe de dis-tribuio do ecossistema
manguezal no Brasil, e possui poucas regies onde o mesmo bastante
ex-pressivo como, por exemplo, Baa da Babitonga (So Francisco do
Sul e Joinville) e a Ilha de Santa Catarina, sendo muitas vezes
substitudo por vegetao de marisma. O municpio Laguna o limite
austral dos manguezais no continente americano.
Em outras regies estuarinas do estado existem bosques com menor
expressividade em termos de extenso, mas bastante importantes na
contribuio da qualidade ambiental costeira, como aqueles manguezais
localizados nas cidades de Barra Velha, Piarras/Penha,
Penha/Navegantes, Itaja, Balnerio Cambori, Itapema, Bombinhas,
Laguna, entre outros.
A avaliao dos parmetros estruturais fun-damental para o
acompanhamento em longo prazo
PROCESSO DE COLONIZAO DO MANGUEZAL DO RIO TAVARES POR ANLISE DA
ESTRUTURA DE DIFERENTES BOSQUES
OLIVEIRA, R.G.* & TOGNELLA, M.M.P.1
1 - Universidade Federal do Esprito Santo*Corresponding author:
[email protected]
ABSTRACT
Oliveira, R.G. & Tognella, M.M.P. (2014) Processo de
colonizao do manguezal do rio Tavares por anlise da estrutura de
diferentes bosques. Braz. J. Aquat. Sci. Technol. 18(1): 9-18.
eISSN 1983-9057. DOI: 10.14210/bjast.v18n1.p9-18 Mangrove forests
physiography was studied to understand the colonization process.
Two transversals were made perpendicular to the Tavares River and
twelve plots were established along an inundation flux. The
quadrats were delimited and took structural data was collectd on
specimens density, tree stature and diameter breast height.
Avicennia schaueriana was the dominant species and Rhizophora
mangle and Laguncularia racemosa were registries. Nine quad-rats
was dominated by A. schaueriana, two of them showed R. mangle and
one, L. racemosa. A. schaueriana is the most adapted species,
dominating in basal area and it is the first species to colonize
the plots. Our structural data give us some classification of the
stand colonization, being able to differentiate forest in
colonization, development and mature stages.
Keywords: colonization, mangrove structure, mangrove
forests.
-
Oliveira & Tognella: Colonizao do manguezal do Rio
Tavares.
10
dos processos ecolgicos que ocorrem em florestas como, por
exemplo, processos de sucesso de esp-cies. O principal objetivo
deste estudo averiguar o processo de colonizao do manguezal do Rio
Tavares avaliando a estrutura e a composio de espcies em diferentes
bosques, podendo contribuir com a produo de dados e embasamento
terico para os estudos ecolgicos do manguezal do Rio Tavares e suas
respostas s mudanas ambientais naturais ou induzidas pelo homem,
nas diversas escalas temporais.
MATERIAIS E MTODOS
O presente estudo foi realizado no manguezal do Rio Tavares
localizado na Baa Sul (Figura 1), ao sul da zona central do
Municpio de Florianpolis (Ilha de Santa Catarina). O manguezal
estudado situa-se na bacia hidrogrfica do Rio Tavares, que a
segunda maior da ilha em superfcie, composta principalmente por
dois cursos dgua localizados quase inteiramente na regio oeste: o
Rio Tavares (com aproximadamente 7 Km de extenso, com poucos e
estreitos afluentes e desaguando na Baa Sul) e o Ribeiro da
Fazenda, que se une ao Rio Tavares (Caruso, 1983).
Para escolha das parcelas foram analisadas fotografias areas da
regio, referentes obtidas em novembro de 2001, sendo determinadas
as reas onde seria possvel avaliar o processo de colonizao do
bosque e onde no ocorresse a presena de clareiras.
Neste estudo foram realizadas 12 parcelas no manguezal do Rio
Tavares, sendo que na margem esquerda foram posicionadas as
parcelas I, II, III, IV e V, situadas perpendicularmente ao canal
do rio ao longo de um canal de mar, sendo denominadas do continente
para a margem do rio. Na margem direta foram distribudas
perpendicularmente margem
as parcelas VI, VIII e IX, nomeadas da borda do rio para o
continente, e foram distribudas paralelamente margem as demais
(VII, X, XI e XII) (Figura 2). Destaca-se a ocorrncia das trs
espcies existentes para o sudeste-sul do Brasil, A. schaueriana, L.
racemosa e R. mangle, em diferentes composies estruturais. Foram
obtidos dados de posicionamento para cada parcela amostrada com GPS
Garmin.
A coleta de dados foi realizada de maio a outu-bro de 2004 e de
maro a maio de 2005. A metodologia de amostragem baseada em
Schaeffer-Novelli & Cintrn (1986). Cada parcela tem tamanho de
20x20m, contendo no mnimo 30 a 40 indivduos, cuja altura seja
superior a 1,3m, conforme metodologia citada acima.
Foram observados os seguintes parmetros para cada espcie: nmero
de indivduos e de troncos (vivos e mortos), dimetro (cm), altura
(m) e presena de propgulos e plntulas. A altura foi estimada com
telmetro ptico e o dimetro foi obtido diretamente, empregando-se
trena calibrada em . Em laboratrio, esses dados foram trabalhados e
transformados em densidade absoluta (convertida para indivduos por
hectare) e relativa e dominncia por classe de dimetro, por espcie,
para troncos e indivduos. Cada um destes parmetros serve como
indicativo da estrutura e do funcionamento do bosque, pois
determinando a maturidade, a espcie predominante e o grau de
preservao do mesmo, pode-se avaliar como est ocorrendo o processo
de ocupao desse ecossistema.
Diferentemente do proposto pela literatura (Schaeffer-Novelli
& Cintrn 1986), os dados de estrutura foram avaliados em
classes de dimetro em intervalos de 2,5cm entre elas. Esta diviso
foi proposta como mtodo para avaliar os processos de colonizao
entre as parcelas.
Figura 1 - Localizao esquemtica do manguezal do Rio Tavares
(Florianpolis, SC), destacando a rea de estudo.
-
Braz. J. Aquat. Sci. Technol., 2014, 18(1):9-18.
11
Para diferenciar os indivduos mortos entre mor-talidade natural
e induzida pelo homem, em campo, foram realizadas observaes do tipo
de morte do indivduo. Estes dados foram utilizados para a
inter-pretao dos processos de colonizao das parcelas.
RESULTADOS E DISCUSSO
Analisando os dados de estrutura, a parcela I (Tabela I),
localizada no interior do manguezal (Figura 2), apresentou o menor
DAP mdio, o que resultou na maior densidade de indivduos entre
todas as parcelas, destacando-se R. mangle com 68,9% dos indivduos
(Tabela II) e A. schaueriana dominando em rea basal. A parcela IX,
tambm no interior do bosque, mas na margem oposta do rio em relao
parcela I, registrou a menor densidade de indivduos (Tabela I)
dominando A. schaueriana tanto em rea basal quanto em densidade de
indivduos (Tabela II).
A parcela XI, na margem direita do rio, apresentou a menor rea
basal total (10,28m/ha). A parcela XII, na margem esquerda rio na
mesma direo da parcela XI, registrou o maior DAP mdio (12,4cm) e o
maior ndice de rea basal total (31,63m/ha), sendo que A.
schaueriana domina em rea basal e em densidade de indivduos.
A proporo de troncos por indivduos manteve-se prxima a 1 em
todas as parcelas, sendo indicativo de um baixo estresse ambiental
como, por exemplo, variao de salinidade ou condies de anoxia que
drenam energia do indivduo e, consequentemente, aumentam o nmero de
troncos para cada indi-vduo. Bosques bem desenvolvidos, crescendo
sob condies adequadas, tm uma relao de troncos por indivduo prximo
a 1 e sob condies menos favorveis aumentam o nmero de ramificaes
por indivduos (Shaeffer Novelli & Citrn, 1986).
Na parcela XI, situada na margem direita do rio, A. schaueriana
apresenta domnio em rea
Figura 2 - Localizao esquemtica das parcelas na rea de estudo
(IPUF, 2001, escala 1:8.000), sendo o curso de gua central o Canal
do Rio Tavares.
Tabela 1 - Caracterizao estrutural das parcelas.
-
Oliveira & Tognella: Colonizao do manguezal do Rio
Tavares.
12
basal (5,45m/ha), L. racemosa, em dominncia de indivduos
(55,17%) e R. mangle ocorre de forma menos representativa (Tabela
III). Nas parcelas I e II, conforme pode ser observado na Tabela
III, o domnio em nmero de indivduos registrado para R. mangle com
68,89 e 40,87%, respectivamente.
Conforme pode ser observado na Tabela II, A. schaueriana
apresentou os maiores valores de rea basal viva em todas as
parcelas e dominou em nmero de indivduos em 75% das parcelas.
Na parcela XII h ocorrncia de A. schaueriana e L. racemosa,
sendo esta representada por menos de 1% de dominncia de indivduos
com uma rea basal total de 0,07m/ha (Tabela II). Embora essa
parcela esteja localizada na margem do rio, no h presena de R.
mangle. Em geral, na distribuio horizontal do manguezal, a espcie
dominante comumente R.
mangle (Lugo & Snedaker, 1974; Cintrn &
Schaeffer-Novelli, 1983; Schaeffer-Novelli et al., 2001), mas isso
no acontece neste ponto, onde h dominncia de A. schaueriana, tanto
em rea basal quanto em densi-dade de indivduos, respectivamente,
com 31,52m/ha e 99,65% (Tabela II). Estas observaes indicam que a
zonao e a disposio das espcies ao longo de um gradiente varivel de
um bosque para outro, devido suas peculiaridades ambientais.
Na anlise da altura mdia por espcie (Tabela III), A. schaueriana
apresentou a maior altura mdia, com exceo das parcelas VI e VII,
nas quais a R. mangle apresentou os maiores valores. J em relao
altura mdia total, destaca-se a parcela XII com a presena de rvores
mais altas e tambm com maior desvio padro entre as observaes.
Analisando as curvas referentes s distribuies de frequncia de
indivduos por classe de dimetro para cada parcela (Figura 3),
pode-se concluir que as parcelas I e V apresentam tipo de
distribuio em forma de J invertido, onde h predomnio de indivduos
nos intervalos de dimetro 2,6-5,0 cm e 5,1-7,5 cm, respectivamente.
Este tipo de curva de distribuio de indivduos indica um processo de
mortalidade natural, causado por competio devido maior densidade de
mortos nas classes inferiores, associada a processo de
amadurecimento do bosque, que apresenta alta probabilidade de se
sustentar devido disponibilidade de indivduos jovens (Soares et
al., 2003). Porm, no caso dessas parcelas h uma baixa dominncia de
indivduos mortos, sendo representada por 5,19 e 8,16%,
respectivamente, do total de indivduos. Isso pode representar o
ingresso recente de indivduos na rea sem estar ocorrendo ainda o
processo de com-petio que induziria uma alta mortalidade de
juvenis.
Em relao parcela I e analisando os resulta-dos da interpretao
das fotografias areas realizadas por Lugli (2004), pode-se afirmar
que esta parcela rep-resenta um processo de colonizao recente,
iniciada a partir do ano de 1994.
As parcelas IV e IX possuem distribuio de indivduos mais
homognea, com densidades prximas em quase todas as classes de
dimetro. Proporcionalmente, na parcela IV h tanto indivduos vivos
quanto mortos para as classes de DAP entre 2,6-7,5 cm, mas os
indivduos mortos so na maioria devido ao corte de rvores de A.
schaueriana, que representa cerca de 20,8% do total de indivduos
dessa parcela, causando um impacto acentuado na estrutura do
bosque.
As parcelas II, III, VI, VII, X e XI apresentam curvas normais
de distribuio de frequncia. Nas parcelas II e III, os indivduos
esto concentrados principalmente nas classes entre 2,6-5,0 cm e
5,1-7,5cm. Na parcela VI, as classes representativas de
Tabela 2 - Dados de rea basal e porcentagem de indivduos por
espcie, onde: Lg: Laguncularia racemosa, Av: Avicennia schaueriana
e Rz: Rhizophora mangle..
-
Braz. J. Aquat. Sci. Technol., 2014, 18(1):9-18.
13
indivduos vivos e mortos situam-se entre 2,6-5,0 cm e 5,1-7,5cm,
mas os indivduos mortos esto em menor quantidade, representando
13,5% do total de indivduos. Na VII h predomnio de indivduos na
classe de DAP 5,1-7,5 cm. E, nas parcelas X e XI, a maior densidade
de indivduos est entre as classes de DAP de 2,6-5,0 cm e 5,1- 7,5
cm. Nesse tipo de curva de distribuio, o bosque caracteriza-se como
sendo relativamente homogneo. Neste caso, o domnio de indivduos
ocorre nas classes de dimetro mdio; os mortos apresentam-se nas
classes intermedirias, indicando bosques saudveis, cuja mortalidade
um processo natural de amadurecimento do bosque e recrutamento de
novos indivduos, mesmo que es-pordico, e os jovens depois de um
tempo morrem por competio (Soares et al., 2003). Das parcelas que
apresentam este tipo de curva, em geral, todas con-tinham indivduos
nas classes extremas de dimetro.
As parcelas VIII e XII apresentam um tipo de curva que definimos
como bimodal, onde na parcela VIII h predominantemente indivduos
vivos (98,5% de dominncia na parcela) nas classes entre 5,1-7,5 cm
e 15,1-17,5 cm, principalmente; e na XII, nas trs primeiras classes
de DAP (que corresponde de 0,1cm at 7,5 cm) e, posteriormente,
entre 20,1-35,0 cm de dimetro.
Lugli (2004) utilizou fotografias areas para interpretaes sobre
uma clareira deste manguezal em estudo, empregando o princpio da
esteroscopia para determinar os diferentes padres da vegetao, para
isto baseou-se em diferentes texturas, tons de cinza e altura que
pudessem indicar processo de ocupao dos bosques de mangue. As
parcelas VIII e IX localizam-se no interior do bosque na margem
direita do rio, em uma rea que segundo esta autora possui
caractersticas de vegetao de alto porte, com densidade mdia,
representando bosques de mangue maduros dominados pela espcie A.
schaueriana.
As parcelas III, IV e V, localizadas ao longo da gmboa na margem
esquerda do rio, e as parce-las VI, VII, X, XI e XII dispostas na
margem do Rio Tavares, tambm possuem caractersticas similares s
descritas por Lugli (2004), correspondendo tambm a bosques maduros.
Entretanto, para a parcela XI obteve-se dominncia de L. racemosa em
densidade (Tabela II), e no por A. schaueriana, como proposto no
padro definido por Lugli (2004).
As parcelas I e II localizam-se na poro mais interna do bosque
na margem esquerda do rio, ocor-rendo em rea classificada por Lugli
(2004) como possuindo caractersticas similares as descritas
anteri-ormente, mas na prtica no foi isso o observado, pois estas
parcelas apresentam dominncia de R. mangle em densidade de
indivduos e possui caractersticas de vegetao de mdio porte.
A representatividade de indivduos mortos foi bastante baixa em
todas as parcelas, refletindo em muitas ocasies a mortalidade
natural esperada para o bosque de mangue. Exceto na parcela IV que,
como descrito anteriormente, h indivduos cortados, o que resultou
na maior taxa de mortalidade registrada, con-forme pode ser
observado na Tabela II e na Figura 3.
Na Figura 4 encontram-se descritos os dados de anlise por classe
de dimetro para cada espcie presente nas parcelas considerando-se
indivduos vivos e mortos.
Destaca-se nas parcelas I e II (Figura 4) a dom-inncia de
indivduos para R. mangle, principalmente nas classes de dimetro
entre 2,6-5,0 cm e nas classes de 2,6- 5,0 cm e 5,1-7,5 cm,
respectivamente. Essa dominncia mais expressiva na parcela I, onde
se registra tambm menor densidade das outras esp-cies. Conforme
pode ser visualizado, a espcie pio-neira nessas duas parcelas foi
A. schaueriana, apre-sentando indivduos nas classes de maior
dimetro, sendo, posteriormente, substituda por R. mangle e L.
racemosa, esta em menor densidade que aquela.
Tabela 3 - Altura mdia (m) das espcies, altura total mdia e
desvios padres, e altura do dossel, onde: Lg: L. racemosa, Av: A.
schaueriana e Rz: R. mangle.
-
Oliveira & Tognella: Colonizao do manguezal do Rio
Tavares.
14
Nas parcelas III e IX h uma maior distribuio das espcies ao
longo das diferentes classes de dimetro (Figura 4), mas A.
schaueriana se sobres-sai, sendo seguida por R. mangle. J na
parcela IV ocorre predomnio de A. schaueriana, que est sendo
sucedida por L. racemosa, muito provavelmente em funo do impacto
causado pelo corte de rvores de
A. schaueriana de menor porte. muito comum na rea de estudo a
utilizao de troncos e galhos finos dessa espcie para a captura de
caranguejos pela tcnica da redinha. Esta atividade de coleta,
utilizada por muitos pescadores, altamente predatria, tanto para os
caranguejos, pela sua captura, como para rvores, pelo seu
corte.
Figura 3 - Densidade indivduos/hectare, vivos () e mortos (),
por classe de DAP.
-
Braz. J. Aquat. Sci. Technol., 2014, 18(1):9-18.
15
Em relao parcela V (Figura 4), observa-se aumento de densidade
de A. schaueriana nas classes de dimetro entre 2,6-5,0 cm e entre
7,6-10 cm. As demais espcies presentes tambm foram mais frequentes
nessas classes de dimetros inferiores a 10,0 cm. A parcela VI
registra maior ocorrncia
de R. mangle nas classes entre 10,1-12,5 cm, com A. schaueriana
distribuindo-se em todas as classes de dimetro e apresentando maior
densidade em dimetros inferiores a 10,0 cm. Similar a parcela VI, a
VII apresenta maior frequncia de ocorrncia de R. mangle nas classes
de dimetro de 5,1 cm at 10 cm.
Figura 4 - Distribuio de indivduos, por densidade (nmero
indivduos/ha) por classes de DAP nas parcelas, entre as espcies e
suas condies de sobrevivncia.
-
Oliveira & Tognella: Colonizao do manguezal do Rio
Tavares.
16
Na parcela VIII h o domnio de A. schaueriana tendo presena quase
constante ao longo das difer-entes classes de dimetro, registrando
um pequeno aumento no intervalo de 2,6-5,0 cm. Na parcela IX, A.
schaueriana dominante em todos os dimetros observados, a parcela
apresenta ainda registros dis-cretos das outras duas espcies nas
menores classes de dimetro (Tabela II). Na parcela X, A.
schaueriana ocorre principalmente na classe de dimetro 5,1-7,5 cm
sendo seguida por L. racemosa. J na parcela XI, o domnio em
densidade de indivduos de L. racemosa, entre 5,1-7,5 cm, declinando
nas classes de dimetros seguintes. E, na XII h dominncia de 99,65%
de densidade de indivduos de A. schaueriana.
As parcelas III e IV esto localizadas no interior do bosque,
prximas a um canal na margem esquerda do rio apresentando
similaridade em relao dom-inncia de A. schaueriana e as demais
espcies. As parcelas VII e VIII esto localizadas na margem direita
do rio e possuem caractersticas estruturais semelhantes com domnio
de A. schaueriana tanto em densidade de indivduos como em rea basal
(m/ha). As parcelas V, VI e X esto localizadas nas margens ao longo
do rio ajustando entre si suas caractersticas. As parcelas XI e XII
possuem algumas similaridades, mas diferem em termos de dominncia,
pois na parcela XI, a espcie L. racemosa domina em densidade. As
parcelas I, II e IX so as que possuem menos simi-laridade
estrutural em relao s outras parcelas. H variaes de frequncia de
ocorrncia das espcies em diversas classes de dimetro, mas A.
schaueriana foi presena constante em todas as classes, o que
resultou a maior rea basal em relao s outras duas espcies em todas
as parcelas.
No presente estudo, A. schaueriana apresenta a maior rea basal
em todas as parcelas. Resultados similares foram obtidos por Souza
et al. (1993) para o manguezal do Pontal da Daniela, onde L.
racemosa foi espcie dominante, mas A. schaueriana foi a espcie com
maior altura e com maior rea basal mdia.
A parcela I registrou o maior ndice de densidade de indivduos
com menor DAP mdio, devido alta concentrao desses mesmos indivduos
em classes de DAP entre 2,6-5,0 cm, sendo jovens e indicando um
processo de colonizao recente. A parcela IX possui a menor
densidade de indivduos por hectare e a parcela XI a menor rea basal
total com o terceiro menor valor de dimetro mdio. E a XII
apresentou o maior DAP mdio e rea basal total por apresen-tar 22,7%
dos seus indivduos nas ltimas classes dimetro observadas neste
estudo (entre 17,6-20,0 e 20,1-35,0 cm), levando a interpretao de
que esta estrutura representa o bosque mais velho entre todas as
parcelas analisadas.
No Rio Tavares, R. mangle domina em regies de topografia mais
baixa, em geral, caracterizada pela presena de microcanais, onde h
grande circulao e alta frequncia de inundao, como ocorre com a
parcela I, e A. schaueriana se localiza, preferencial-mente, em
pequenas elevaes topogrficas, onde so submetidas a curtos perodos
de submerso da mar, que no caso so as reas onde esta espcie possui
dominncia em densidade de indivduos. Este padro tambm observado por
Cunha-Lignon (2001).
Segundo Soares (1995), as diferentes esp-cies de vegetais de
mangue esto distribudas no manguezal em zonas, em relao linha da
gua; dessa forma, temos geralmente o mangue vermelho (Rhizophora)
ocupando os locais prximos ao mar, na margem de rios e locais
lamosos, pelo fato de seus rizforos permitirem sustentao no
sedimento lodoso, e o mangue branco (Laguncularia) ocupa lo-cais
mais afastados dos rios e do mar, geralmente de topografia mais
elevada, com sedimento mais seco e mais arenoso, os quais so
protegidos das ondas e da fora dos rios.
O modelo de desenvolvimento estrutural proposto por Jimnez et
al. (1985) consiste nas eta-pas de perodo de colonizao,
desenvolvimento, maturidade e senescncia. Considerando essas fases,
procurou-se interpretar o estgio em que se encontram os bosques
estudados. As parcelas I e II apresentam os valores mais altos de
densidade de indivduos com os menores dimetros mdios em relao ao
restante das parcelas, permitindo enquadr-las como parcelas em
perodo de colonizao.
As parcelas III, IV, V, VII, X e XI caracterizam-se em perodo de
desenvolvimento, pois os valores de densidade de indivduos, rea
basal e altura so considerados como valores intermedirios, podendo
ainda haver um incremento desses valores. Observa-se nessas
parcelas uma densidade bastante elevada (Figura 3) de indivduos nas
classes de dimetro inferiores a 7,5 cm.
Em relao aos bosques classificados como em perodo de maturidade
incluem-se as parcelas VI, VIII, IX e XII. Na Figura 3 pode-se
observar que esses bosques apresentam uma distribuio mais homognea
em todas as classes de dimetro, reg-istrando freqncia de indivduos
nas classes de dimetro superiores a 15,0 cm. Quanto altura do
dos-sel (Tabela IV) so os bosques que vo apresentar as maiores
rvores e tambm os valores mais elevados de altura mdia.
Entretanto, apesar do enquadramento geral dos bosques estudados
nas categorias propostas por Jimnez et al. (1985), esta avaliao
difcil de se realizar em bosques nos limites latitudinais de
dis-tribuio. Por exemplo, percebe-se pela anlise das
-
Braz. J. Aquat. Sci. Technol., 2014, 18(1):9-18.
17
fotografias areas que as parcelas classificadas como em
desenvolvimento registram essa colonizao de forma muito lenta,
ocorrendo h pelo menos dez anos.
As classificaes propostas para as parcelas VI e XII podem ser
comprovadas nas anlises de Lugli (2004) onde na fotografia de 1938
j se pode visual-izar a colonizao desse bosque. Os dados obtidos
neste estudo corroboram as interpretaes realizadas pela autora
tendo em vista que os dados de estrutura apresentam uma densidade
alta de A. schaueriana com dimetros ao redor de 35 cm.
Pode-se afirmar que os estudos ecolgicos necessitam de dados
bsicos sobre a estrutura do ecossistema e que as interpretaes
funcionais so processos mais lentos que respondem diretamente s
influncias ambientais e quelas induzidas pelo homem em diferentes
escalas temporais. Concluindo, pode-se dizer que:
- A espcie Avicennia schaueriana presena constante em todas as
classes de dimetro, domi-nante em rea basal em todas as parcelas,
sendo a espcie que colonizou primeiro os bosques de mangue
estudados.
- Apesar das baixas temperaturas apresenta-das no Estado de
Santa Catarina, Rhizophora mangle dominante em indivduos em duas
parcelas, devido aos bosques estarem localizados em regies com
presena de canais e variao da mar e em bosques onde se encontram
protegidas por outras espcies.
- As parcelas I e II esto em Perodo de Colonizao, as parcelas
III, IV, V, VII, X e XI encon-tram-se em Perodo de Desenvolvimento,
e as parce-las VI, VIII, IX e XII esto em Perodo de Maturidade.
AGRADECIMENTOS
As autoras agradecem a Universidade do Vale do Itaja pelo apoio
tcnico e logstico durante o de-senvolvimento deste estudo.
A primeira autora agradece a Universidade do Vale do Itaja pela
bolsa concedida para a realizao do trabalho de concluso de
curso.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
Caruso, M. M. L. 1983. O Desmatamento da Ilha de Santa Catarina
de 1500 aos dias atuais. Florianpolis: EDUFSC.
Cintrn, G. & Schaeffer-Novelli, Y. 1983. Introduccin a la
ecologia del manglar. Oficina Regional de Ciencia y Tecnologa de la
UNESCO para America Latina y el Caribe. Montevidu: ROSTLAC.
109p.
Cintrn, G. & Schaeffer-Novelli, Y. 1985. Caracteristicas y
desarrollo estructural de los manglares de Norte y Sur America.
Cinc. Interamer. 25(1-4): 4-15.
Cunha-Lignon, M. 2001. Dinmica do manguezal no Sistema de
Canania-Iguape, Estado de So Paulo Brasil. Dissertao de Mestrado.
Universidade de So Paulo USP.
Jimnez, J. A. & Soto, R. S. 1985. Patrones regionales en la
estructura y composicin florstica de los manglares de la Costa
Pacfica de Costa Rica. Rev. Biol. Trop. 33: 25-37.
Jimnez, J. A; Lugo, A. E. & Cintrn, G. 1985. Tree mortality
in mangrove forests. Biotropica 17(3): 177-185.
Lugli, D. O. 2004. Caracterizao Ecolgica do apicum do manguezal
do Rio Tavares, Florianpolis, Santa Catarina. Dissertao de
Mestrado. Universidade do Vale do Itaja UNIVALI.
Lugo, A. E. Avances y prioridades de investigation em manglares.
In: Simposio Sobre Ecossistemas da Costa Sul e Sudeste Brasileira
(Canania, 1987). Sntese dos conhecimentos. So Paulo, vol. 3, p.
59-76 (Publicao da ACIESP, n. 54).
Lugo, A. E. & Snedaker, S. C. 1974. The ecology of
mangroves. Annu. Rev. Ecol. Syst. 5:39-64.
Schaeffer-Novelli, Y. 1987. Manguezais brasileiros: regio
sudeste-sul. In: Anais do Simpsio sobre ecossistemas brasileiros da
costa sul e sudeste: sntese dos conhecimentos, Canania, So Paulo.
ACIESP, Canania, So Paulo. vol 1. 78p.
Schaeffer-Novelli, Y. (coord). 1995. Manguezal: ecossistema
entre a terra e o mar. Caribbean Ecological Research, So Paulo.
64p.
Schaeffer-Novelli, Y. & Cintron, G. 1986. Guia para estudo
de reas de manguezal: estrutura, funo e flora. Caribbean Ecological
Research, So Paulo. 150p.
Schaeffer-Novelli, Y.; Coelho Jr, C. & Tognella-De-Rosa, M.
2001. Manguezais. tica, So Paulo.
Sessegolo, G. C. 1997. Estrutura e Produo de Serapilheira do
manguezal do Rio Baguau, Baa de Paranagu Paran. Curitiba. Dissertao
de Mestrado. Universidade Federal do Paran UFPR.
Snedaker, S. C. Mangrove species zonation: why? 1982. In: Sen,
D.N. & Rajpurohit, K.S. (eds.). Contributions to the ecology of
halophytes: Tasks for vegetation science, vol. 2. Springer,
Netherlands. 111-125 pp.
Soares, M. L. G. 1995. Zonao e as Mars. In: Shaeffer-Novelli, Y.
(ed.) Manguezal: ecossistema entre a terra e o mar. 1. ed.
Caribbean Ecological Research, So Paulo. 23-27 pp.
Soares, M. L. G. 1997. Estudo da biomassa area de manguezais do
sudeste do Brasil- anlise
-
Oliveira & Tognella: Colonizao do manguezal do Rio
Tavares.
18
Catarina, Florianpolis, SC Brasil). Insula 23: 99-119.
Souza-Sobrinho, R. J.; Bresolin, A. & Klein, R. M. 1969. Os
manguezais na Ilha de Santa Catarina. Insula 2: 1-21.
Tognella-De-Rosa, M. M. P. 2000. Manguezais Catarinenses, Baa da
Babitonga e Rio Tavares: uma abordagem parcial dos atributos
ecolgicos e econmicos. Tese de Doutorado. Universidade de So Paulo
USP.
Tomlinson, P. B. 1986. The Botany of Mangrove. Cambridge
Tropical Biology Series: University of Cambridge. 419p.
de modelos. Tese de Doutorado. Instituto Oceanogrfico,
Universidade de So Paulo USP.
Soares, M. L. G.; Chaves, F. de O.; Corra, F. M. & Silva Jr,
C. M. G. da. 2003. Diversidade Estrutural de bosques de mangue e
sua relao com distrbios de origem antrpica: o caso da Baa de
Guanabara (Rio de Janeiro). Anu. Inst. Geocienc. 26: 101-116.
Souza, M. L. D. R.; Falkenberg, D. B.; Amaral, L. G.; Fronza M.;
Araujo, A. C. & S, M. R. 1993. Vegetao do Pontal da Daniela,
Florianpolis, SC, Brasil. II. Fitossociologia do manguezal. Insula
22: 107-142.
Souza, M. L. D. R.; Falkenberg, D. B.; Amaral, L. G.; &
Fronza, M. 1994. Fitossociologia do manguezal do Rio Tavares (Ilha
de Santa
Submetido: Junho/2012Revisado: Outubro/2012
Aceito: Outubro/2013