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E U E S T I V E N O P L A N E T A V N U S
Salvador Villanueva MedinaTraduo: Karl Bunn
S U M R I O
1 O contato 2 A nave 3 A nave-me 4 Chegada Vnus 5 Primeiras
impresses 6 Examinando o passado venusiano 7 Um vo sobre Vnus 8
Encontro com os franceses 9 Como os venusianos se divertem 10 A
despedida 11 De volta aTerra Apndice Naves interplanetrias
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APRESENTAOpor Karl Bunn
Traduzi este livro nos anos 70, logo que tive oportunidade de
adquiri-lo. Depois, fizemos uma edio impressa mas foi um fracasso
de vendas. Aparentemente, as pessoas sempre estiveram mais
interessadas em histrias de ETs monstruosos e assassinos do que em
relatos simples, diretos e honestos, de gente simples, falando de
bondade, respeito, altrusmo e fraternidade. Portanto, quase 30 anos
aps a traduo, dispondo hoje de canais prprios de comunicao com o
mundo, graas internet, novamente iniciamos a distribuio desta obra
referendada pelo Mestre Samael Aun Weor, que conheceu o autor deste
livro pessoalmente.
Dentro deste campo da vida extra-terrestre temos ouvido muitas
histrias. Muitas, sem dvida, honestas e verdadeiras; outras, puras
fantasias. Todos os que tiveram experincias reais com seres de
outros planetas foram, literalmente levados fogueira das calnias
pelos que se dizem especialistas no tema. Dentre esses
especialistas h aqueles que sequer at hoje avistaram alguma nave,
mas, ainda assim, se julgam superiores aos que nelas viajaram
dentro e fora de nosso sistema solar.
Este livro, junto com mais alguns poucos que tivemos
oportunidade de conhecer, graas aos trabalhos srios, mas annimos,
desenvolvidos por pessoas de nossa confiana em diferentes partes do
mundo, d uma mostra real e autntica de como vivem essas humanidades
que esto em estgios bem mais avanados que ns, os primitivos e
atrasados moradores deste planeta selvagem chamado terra.
A questo mais real e palpitante que os leitores desta obra
sempre colocam : Como pode o planeta Vnus ser habitado se o clima
hostil, venenoso e que as sondas da NASA mostram como imprprio para
a vida humana?
Bem, isso tambm me deu muitos ns em minha pobre mente. Mas, um
dia pude compreender como a vida nasce, cresce e se desenvolve em
vrias dimenses simultaneamente. A, tudo ficou simples de ser
entendido e aceito. Portanto, meus caros amigos, a NASA pode enviar
centenas de aparelhos cientficos para qualquer planeta de nosso
sistema solar, telescpios podem ir alm do sistema solar,
fotografar, filmar, sondar, mas, nunca encontraro vida humana na
terceira dimenso como ns a temos aqui na terra.
Bem, a nasce outra questo: Mas, como v. podem provar que h vida
em outras dimenses?
A resposta : Nunca provaremos nada. No queremos provar nada.
Mas, se v. quiser comprovar isso que dizemos, bem, venha estudar
nossos mtodos de pesquisa e investigao nas dimenses superiores da
natureza e a v. mesmo poder ver pessoalmente essas realidades.
E mais questionamentos surgem: Mas, se os venusianos vivem na
quinta dimenso como podem viajar para a terceira dimenso?
Bem, caros amigos, isso nem a fsica quntica hoje supremo apangio
da vida inteligente deste planeta consegue ainda explicar. Mas,
isso fruto de nosso desconhecimento, como tambm foram certas
barreiras imaginrias que criamos no passado. Houve um tempo que se
acreditava que se algum ultrapassasse os 60 km / h se
desintegraria. Depois, mudaram para a barreira do som. Hoje, existe
a barreira da velocidade da luz que a cincia dos ETs simplesmente
ignora o que seja porque eles viajam a velocidades muitas vezes
superiores velocidade da luz [e nunca se desintegraram como crem
nossos cientistas].
Enquanto nossa cincia vive no mundo das cavernas em termos de
conquistas csmicas, os msticos de todos os tempos e pocas sempre
tiveram contato e comunicao com os ETs porque o mstico desenvolve
dentro de si certas habilidades psquicas que o levam naturalmente a
conhecer, ver, investigar e pesquisar dentro das sete dimenses
bsicas da natureza.
Mas, tudo isso bem complicado explicar s mentes cartesianas de
nosso tempo. Nunca iro entender muito menos aceitar essas
realidades que esto bem alm de sua limitada compreenso intelectual
condicionada por uma cincia atesta e materialista.
Dito isto, s nos resta desejar uma boa leitura. Obrigado.
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PREFCIOpor Samael Aun Weor
Conheo Salvador Villanueva Medina h muito tempo. pessoa amiga e
digna de crdito. A bem da verdade enfatizo que se trata de um homem
prtico. No tem nada de extraordinrio. Nunca o vimos em devaneio.
Sempre ganhou a vida como motorista, ultimamente como mecnico de
automveis. Sem dvida, trata-se de uma pessoa exemplar, excelente
pai de famlia, bom amigo.
Entretanto, esse livro s lhe trouxe problemas. Essa obra j foi
traduzida para o alemo, japons, ingls, francs, tendo vendido
milhares de exemplares. O autor limita-se a contar o que viu e
testemunhou. Considera uma obrigao narrar seu caso humanidade. E
diz a verdade, s a verdade.
Medina foi examinado por vrios psiclogos, e esses atestaram que
se trata de uma pessoa lcida, inteligente e equilibrada. O que
aconteceu com ele - ter ido Vnus a bordo de um disco voador -
poderia ter acontecido a qualquer um. A Phillips examinou amostras
de terra e arbustos recolhidos no local onde a nave que levou
Medina Vnus pousou. Os especialistas daquele laboratrio descobriram
uma estranha desordem atmica e molecular. As marcas deixadas pela
nave foram fotografadas. Assim, a narrao de Medina est baseada em
fatos e provas.
O Movimento Gnstico Internacional est de parabns com esse evento
csmico, cujo protagonista principal foi Salvador Medina. Sempre
dissemos que a Terra no o nico mundo habitado, e isso ficou
demonstrado com esse caso vivido por Medina. Vrios terrcolas tm
sido levados a outros mundos como pde evidenciar Medina em Vnus,
onde se avistou com dois franceses, os quais nem por sonho querem
voltar Terra.
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PRLOGOpor Salvador Villanueva Medina
O ms de agosto para mim significativo, pois, nesse ms vim ao
mundo, ainda que daquela data at hoje haja transcorrido quase meio
sculo. Foi tambm no ms de agosto que tive o maior privilgio que
algum poderia desejar. Em ambos os casos, a aventura aconteceu sem
meu conhecimento. Este ltimo difcil de provar, porque nem
testemunhas havia, porm, mais rico em incidentes que o
primeiro.
Disso tudo, o que mais fundas razes lanou em minha mente, foi um
motorista: ele foi a primeira pessoa que se colocou no meu caminho
quando terminava a fantstica aventura. Foi fcil transbordar meu
otimismo, sem imaginar suas conseqncias, que me colocavam no limite
do sublime com o ridculo.
Mas tratei de aproveitar minha experincia com o motorista. Dali
por diante acautelei-me, mesmo que falando a verdade. Confesso que
aps a primeira decepo com as pessoas, com suma facilidade encerrei
dentro de mim a gloriosa experincia, ainda que s pessoas que a
proporcionaram tivesse prometido faz-la pblica. Por dezoito meses
fiz caso omisso de minha promessa para com eles, apoiando-me na
desculpa de que no tinha preparo intelectual. Mas insistiram
assegurando-me que se valeriam de algum meio para me ajudar na
transcendental tarefa.
No me pareceu raro ver nas primeiras pginas dos jornais, notcias
a respeito de pessoas que haviam tido experincias semelhantes,
ainda que menores que a minha. Novamente comeou a mexer em mim a
curiosidade de saber se a populao me acreditaria. Propunha-me a
contar tudo a um intelectual e acredito que fiquei atinado quanto
escolha. Por aqueles dias um colunista que, sob o pseudnimo de
M.G.B., escrevia uma srie de artigos sobre o assunto, chamou-me a
ateno. Pela seriedade com que atuava, decidi fazer contato com ele,
mandando-lhe uma parte do relato, pois, no podia desenterrar de mim
a incerteza que provocara o motorista, e por isso julgo que cometi
outro erro no lhe contando toda a experincia em detalhes.
Agora era ele quem recebia com reservas as minhas palavras, e
ainda que me tivesse dado oportunidade de justificar-me, creio que
no soube aproveitar, agravando as suas desconfianas. Exatamente
naqueles dias estava no Mxico, em viagem de frias, um casal de
norte-americanos que havia tido a oportunidade de ver uma nave
espacial pouca altura. Isso lhes entusiasmou tanto que decidiram
document-la e documentar-se devidamente e ditar algumas
conferncias. No Mxico colocaram-se em contato com o senhor M.G.B. o
qual teve a gentileza de me convidar para assistir a primeira
conferncia ditada por eles na capital asteca.
Compareceram conferncia umas trezentas entusiasmadas pessoas, a
maioria documentada, e algumas, com experincias pessoais. Tambm os
jornalistas fizeram-se presentes, pelo que ficou muito interessante
o novo incidente que iria aumentar meu acervo pessoal.
Em companhia de meu filho mais velho ocupamos uma poltrona do
salo, deixando que a conferncia transcorresse. Esquentaram-se os
nimos; vrias pessoas subiram ao palco para relatar suas
experincias, aumentando o interesse de todos. De repente, o
conferencista, num recurso de oratria, perguntou se algum dos
presentes alguma vez fizera contato com tripulantes de naves
espaciais. A pergunta me fulminou. Sem saber com certeza o alcance
de minha deciso, sentindo que uma extraordinria fora obrigava-me a
isso, levantei a mo, sendo em seguida convidado a ir ao palco ante
a expectativa geral. Alguns passos depois o arrependimento j tomara
conta de mim. Mas fui em frente. Felizmente trataram-me com
cortesia e houve at um grande escritor, Francisco Struk, que
acorreu em defesa de minhas palavras, acalmando o rebulio que elas
provocaram na assistncia.
Os norte-americanos interessaram-se em investigar meu relato, e
com a aquiescncia de M.G.B. convidaram-me para lhes ensinar o
caminho e o lugar onde vira e entrara na nave. Acompanhou-nos um
engenheiro militar, um professor de matemtica americano e Salvador
Gutierrez, experiente fotgrafo da imprensa mexicana. A excurso foi
exitosa. O engenheiro, guiado por minhas palavras, fez clculos e no
demoramos a achar o lugar exato, comprovando-se as dimenses do
aparelho. Isso me fez recobrar a confiana perdida com o motorista
quando lhe contara o episdio. E adquiri nova informao: as naves
aterrissam deixando profundas marcas. No presente caso, como havia
aterrissado num local de vegetao alta, esta ficou queimada de um
modo raro, totalmente desconhecida para ns; e assim encontrava-se
dezoito meses depois.
Tiramos amostras de terra, de dentro e de fora das marcas
deixadas pela nave, que posteriormente foram mandadas para anlise
nos laboratrios da Phillips, quando se comprovou que em ambas as
amostras recolhidas havia uma diferena molecular bastante
acentuada. Pouco depois veio da Califrnia - EUA - Jorge Adamski que
tambm pronunciou uma conferncia no Teatro Insurgentes, asseverando
que tivera numerosos contatos com tripulantes de naves extra-
terrestres.
Fui apresentado a ele na casa do colunista M.G.B. onde me
limitei a responder suas perguntas sem estender-me demasiadamente,
pois, tinha, ento, a firme convico de que nenhuma pessoa que
conhecera
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tivera uma experincia to rica de detalhes e incidentes quanto a
minha; parecia-me que todos buscavam unicamente respostas e
experincias para benefcios pessoais.
Pela capital asteca passou tambm o escritor ingls Desmond Leslie
e tive oportunidade de conhec-lo e acompanh-lo por um dia e meio,
graas ao interesse do agudo investigador e jornalista M.G.B. que no
perdia tempo em aproveitar quantas oportunidades surgissem para
investigar minhas experincias. Esclareo que tampouco a M.G.B.
contara toda minha aventura. Como aos demais, limitara-me em
contar-lhe somente uma parte da experincia, j que o restante
julgava inverossmil; temia que me ridicularizassem, pois, estava
crente que ningum acreditava em algo que no tivessem visto com os
prprios olhos. Contudo, a promessa que fizera aos tripulantes da
nave continuava mordendo minha conscincia. Este o motivo pelo qual
resolvi escrever este relato, amplo e sem as limitaes impostas
pelos jornais. Espero que me perdoem a ousadia.
No final deste trabalho, aos versados em telepatia, relato algo
que tenho tido o martrio de captar sem, contudo, poder decifrar
inteiramente, mas que julgo obrigado a dizer.
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1 O CONTATO
Corria a segunda dezena do ms de agosto de 1953 ... ! Cobrindo
meu turno num carro de aluguel, servi a dois norte-americanos, um
casal, que me pediu recomendar-lhes um motorista que lhes ajudasse
a conduzir um automvel para os Estados Unidos pela estrada de
Laredo. Contra o meu costume, o trabalho me interessou e me
coloquei a seu servio, saindo do Mxico dois dias depois. O
automvel, um Buick modelo 52, ganhava estrada com facilidade. O
casal tinha pressa em chegar e por isso revezvamos no volante.
Havamos percorrido menos de 500 quilmetros - 484 para ser exato -
quando se ouviu um rudo na transmisso do carro. Temerosos de causar
maiores estragos ao veculo, paramos. Meus acompanhantes decidiram
voltar em busca de socorro, j que em plena estrada, sem
ferramentas, era impossvel fazer qualquer conserto. Quando meus
temporrios patres se afastaram peguei o macaco, para investigar de
onde provinha o rudo. Coloquei-o sob o carro, levantando uma roda;
deixei o motor ligado transmisso e deslizei para baixo do veculo
para ouvir melhor. Nesta posio ouvi algum se aproximar, pois,
escutava passos na areia acumulada ao lado da pista. Alarmado -
porque quando meus patres se foram, ao me colocar em baixo do carro
e olhando volta no vira ningum, e o lugar era deserto - tratei de
sair rapidamente de baixo do carro. No terminei meu intento quando
uma voz estranha, em perfeito espanhol, perguntava-me o que
acontecera com o veculo. No respondi sem antes ter deslizado para
fora, ficando sentado e encostado carroceria.
minha frente, a uma distncia de metro e meio, havia um homem de
pequena estatura e estranhamente vestido. No media mais que um
metro e vinte. Vestia-se com um traje feito de material parecido
com a paina ou um tecido de l. Exceto a cabea e o rosto, o resto do
seu corpo estava totalmente coberto. Surpreendentemente, a cor de
seu rosto parecia de marfim. Seus cabelos, prateados e ligeiramente
ondeados, caam at abaixo dos ombros, por trs das orelhas que, em
conjunto com as sobrancelhas, nariz e boca, formava um todo
harmonioso, complementado por um par de olhos verdes, brilhantes,
que me recordavam os de um felino. Sobre o traje trazia um grosso
cinturo, arredondado em suas bordas e cheio de pequenssimas
perfuraes sem ter, aparentemente. um ponto de unio. Trazia tambm um
capacete parecido com os que se usa para jogar futebol americano,
um pouco deformado na parte posterior na altura da nuca, onde havia
um abaulamento do tamanho de um mao de cigarros, coberto, por sua
vez, de perfuraes desvanecidas nas bordas. altura das orelhas,
viam-se dois buracos redondos, medindo um centmetro mais ou menos,
dos quais saa grande quantidade de fios metlicos tremelicantes que,
nivelados sobre as costas do capacete, formava uma circunferncia de
trs polegadas e meia; tanto os fios quanto a protuberncia eram de
uma cor azulada, igual ao cinturo e ao colarinho que arrematava o
traje, que era de cor cinza opaca.
O homem levou sua mo direita boca, no caracterstico gesto de
quem pergunta se eu falava. Pareceu-me alucinante a sonoridade e a
musicalidade de sua voz, que saa de uma boca perfeita, marcada por
duas fileiras de pequeninos e branqussimos dentes. Fazendo um
esforo levantei-me, valorizando-me um pouco ao notar minha
superioridade fsica. O indivduo animava-me esboando um sorriso de
plena doura, mas eu no conseguia desfazer a rara impresso que me
produziu a sbita apario daquele tipo to singular. Como no me
sentira obrigado a responder a sua pergunta, perguntei-lhe se era
aviador. Usando de generosa amabilidade, respondeu-me que sim, que
seu avio, como chamvamos, estava perto dali. Reconfortado pela sua
resposta, ocorreu-me convid-lo a subir no carro, pois, fazia um ar
frio bastante desagradvel que aumentava de quando em quando ao
passar um veculo em grande velocidade. A obscuridade comeava
encobrir o homem. Em vez de aceitar meu convite ou de agradec-lo,
arrumou cuidadosamente seu traje, deixando-se ouvir um rudo
parecido como o produzido por um carro em grande velocidade. Nas
perfuraes do cinturo comeou a acender e a apagar com profuso
diversas luzes que aumentavam de intensidade. O homem levantou o
brao direito, como a despedir-se, aproximou-se de um monte de
terra, escalando-o com facilidade de onde saltou para o bosque que
margeava a estrada. Decorrido um momento subi ao mesmo monte e
tratei de localiz-lo, o que fiz pelo seu cinturo que, certa
distncia, se assemelhava a um grupo de numerosos vagalumes.
Permaneci ali at perd-lo de vista na obscuridade do bosque.
Voltei ao carro, retirei o macaco e, por conselho de alguns
patrulheiros rodovirios, tirei o carro do asfalto, colocando-o no
acostamento. Acomodei-me no assento matutando sobre o estranho ser,
pensando que talvez fosse um aviador que havia sofrido algum
acidente ou pane e tivesse destroado o aparelho no bosque. Por fim,
adormeci. Devia ter passado bastante tempo, pois, estava
profundamente adormecido quando ouvi golpes no vidro da porta
dianteira direita que me despertaram. Vi duas pessoas fora do
carro. Imaginei que fossem meus patres que tivessem voltado. Sem
pensar em mais nada, abri a porta. Enorme foi a minha surpresa ao
encontrar meu conhecido acompanhado, agora, de outro indivduo com o
mesmo aspecto e trajado igual ao primeiro. Sem me dar conta
convidei-os a entrar no carro, coisa que aceitaram imediatamente.
Foi assim quando, pela primeira vez, tive a rara sensao de que
aqueles estranhos seres eram algo superiores a mim. Como se fosse
uma premeditada advertncia, ao esticar o brao direito sobre eles
para ajudar a fechar a porta, senti uma dor, seguida de um
entumescimento que o paralisou momentaneamente. Foi to forte a
impresso que, instintivamente, apertei-me contra o veculo para o
lado esquerdo, deixando espao entre eles e eu. Um
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instante depois senti um calorzinho emanado de seus corpos ou de
seus trajes que se tornava agradvel, j que naquela poca a
temperatura da regio era fria.
Sem nenhuma apresentao, meu conhecido, agora sentado na parte
central do banco do automvel, perguntou-me se havia conseguido
arrumar o carro. Disse-lhe que no trazia ferramentas suficientes
para tentar o conserto, de modo que no havia outra sada a no ser
esperar o regresso de meus acompanhantes que tinham ido em busca de
socorro. Seguiu-se um momento de expectativa, quando percebi que
estavam me observando com certo entusiasmo. Acendi as luzes do
interior do carro e s para perguntar-lhes algo, quis saber se eram
europeus. A perfeio de seus traos levaram-me a compreender que no
pertenciam a uma raa ao alcance de meu conhecimento. O do meio, que
conduzia a conversa, sorrindo ligeiramente, disse que eram de um
lugar muito mais distante do que eu conhecia ou podia imaginar. A
questo do lugar dava-me uma sensao esquisita, mas, no me ocorria
pensar em outros planetas; s em outros pases. Nosso lugar, disse,
est muito mais habitado que este. difcil encontrar muito espao
entre pessoa e pessoa.
Ento, o homem comeou a falar tanto que fiquei perplexo. Faziam
contraste os dois: o do meio era a prpria loquacidade; o da
direita, o mutismo em pessoa. Entretanto, este era mais cheio de
rosto e mais robusto de modo geral e s fazia pequenos movimentos
com a cabea, deixando, de vez em quando, seus pequenos dentes
mostra, que se destacavam pela sua alvura; contudo, no dizia uma
palavra. O baixinho seguiu dizendo que sua terra podia ser chamada
de uma cidade contnua, porque cobria tudo. As ruas prolongam-se
infinitamente, nunca se cruzando no mesmo nvel. A quantidade de
veculos e a sua diversidade tanta que facilmente ficaria
pasmado.
Continuando, assegurou que seus veculos no usavam combustveis
minerais, nem vegetais, pois, os gases dessa classe de combustvel
so prejudiciais ao organismo. Disse tambm que a propulso era
proporcionada pelo calor central do planeta e pelo sol - fontes
inesgotveis de energia. Nas suas cidades as pessoas poupavam
esforos porque havia caladas rolantes e que ningum jamais usava o
meio da rua, que era metlico para conduzir a fora de propulso dos
numerosos veculos. Estes so totalmente diferentes dos que vocs
usam; vers que com o material e o espao que vocs usam para
transportar seis pessoas ns levamos 25, e em alguns casos, at 50.
Isso s tio primeiro andar. Enquanto dizia isso, corria os olhos
pelo espaoso interior do veculo onde estvamos. Porm, ns os temos at
com 10 andares.
Tudo isso j estava comeando a me aborrecer. No conhecia nenhum
pas da Terra que usasse tal combustvel em seus veculos. Talvez
fosse verdade que houvesse algum demasiadamente povoado, mas at a
chegava a coisa com relao s suas cidades. Tambm desconhecia que
existia no mundo tal grau de mecanizao. Aqueles homens estavam me
parecendo um par de gozadores. Perguntei como faziam para produzir
legumes, j que so to povoado. Minha pergunta saiu em tom de gozao,
mas ele, tranqilamente, me respondeu: Faz tempo que cultivamos
legumes em maior nmero que os conhecidos por vocs; fazemos
perfuraes, empregando as paredes para esse fim. Nossas hortas so
subterrneas ou interiores.
Alguma coisa do que tinha me dito parecia-me lgico; nem tudo,
porm. Tratando de me orientar, perguntei-lhe se tinham mar.
Respondeu, sem dar importncia minha pergunta: Temos um s, mas trs
vezes mais profundo. A coisa estava me cheirando a mentira e
reprovei seu procedimento. Ento os dois explodiram numa gargalhada
que acabou de me aborrecer, porm pensei que minha ignorncia fosse
maior do que imaginava. Assim, no me ofendi. Diante de minha
impassividade o homenzinho espetou: Espero que entendas que estamos
falando de outro planeta.
De outro planeta?, retruquei entre indignado e espantado.
Sim, homem; um outro mundo, como vocs dizem; creio que sabes que
eles existem
--Claro que sim, apressei-me em responder, porque a pergunta me
pareceu ofensiva. Ora, imagine! Como que no sei da existncia de
outros mundos?!
E para terminar, quis demonstrar meus conhecimentos de
astronomia, asseverando que, segundo nossos cientistas, nenhum
outro planeta alm do nosso, poderia ter habitantes racionais.
O que os leva a pensar assim?, perguntou-me. Acaso os
deficientes meios de que dispem para fazer seus clculos? No lhes
parece demasiada pretenso acreditar que so os nicos seres que
povoam o universo?
Aquilo estava tomando uma direo mais sria do que imaginava. De
repente voltei a me dar conta da dor que ainda sentia em meu brao e
tambm da singularidade daqueles tipos com seus trajes, os cintures,
a rara cor da pele, a expresso de seus olhos, a estranha voz, cujo
som nada podia encontrar de parecido. Para meu pobre intelecto isso
tudo eram provas demais. Decidi seguir resistindo, dizendo que tudo
o que me falavam parecia-me inacreditvel.
-- Certo! inacreditvel para a mentalidade de vocs, mas, me diga
uma coisa: por que?
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2 A NAVE
A pergunta foi to imprevisvel que me deixou confuso. Ao acaso
respondi que o supunha apoiado nos estudos dos nossos cientistas,
astrnomos e matemticos, que diziam que alguns dos planetas que
formam nosso sistema solar so demasiadamente frios e outros
demasiadamente quentes.
Muito bem disse. Vou te dar um exemplo muito simples: vocs, na
Terra, tm lugares extremamente frios, e mesmo assim, neles vivem
pessoas que, sem artifcios e sem auxlio mecnico de espcie alguma,
conseguem sobreviver, valendo-se unicamente de seus prprios
recursos. Agora imagine esses mesmos indivduos dotados dos
elementos necessrios e teis para formar o clima ou ambiente de que
precisam. Que importncia teria para eles a distncia do sol se este
lhes d os recursos necessrios para se protegerem e, ademais,
converterem o negativo em positivo? Outro pequeno exemplo.
Segui escutando.
J percebeste que um indivduo, valendo-se to s de um pequeno
tanque onde armazena o que necessita para respirar, pode estar fora
de seu meio sem perigo para sua integridade fsica?
O exemplo iluminou meu crebro. Sem perder tempo, perguntei:
-- Vocs devem respirar algo diferente que ns!?
-- Claro: respondeu satisfeito.
-- Mas eu no vejo nada adicional ... ?
-- No v nada porque, segundo tua mentalidade, deve ser
adicional; toque aqui.
Enquanto dizia convidava-me a toc-lo no que deveria ser o
estmago e ali dava para sentir uma consistncia semidura, diferente
de como a temos. Em seguida completou a explicao:
-- Ns levamos aqui o que nos d a vida, injetado diretamente nos
pulmes.
-- Isso sim maravilhoso!, exclamei com entusiasmo. Mas, ... que
diabo!...
As dvidas continuavam me assaltando. Ele me advertiu dizendo que
perguntasse tudo que quisesse, que me responderia. Para comear,
perguntei-lhe, j que vinham de outro planeta, que espcie de veculos
usavam. Respondeu-me dizendo o que tinha dito antes: que a sua nave
estava a pouca distncia dali e que logo teria oportunidade de
conhec-la se assim o quisesse. Em minha mente revolvia-se uma
pergunta, mas no encontrava jeito de faze-Ia. Havia me ocorrido que
sendo os adultos to pequenos, como seriam as crianas. Para minha
surpresa, corno se estivesse lendo meus pensamentos, respondeu
minha pergunta mental, meu pensamento, da seguinte maneira:
--Vou te explicar o que quer saber, ou seja, o relacionado com
as crianas. Em nosso mundo no vemos crianas nas ruas. Desde que
nascem, ficam sob a tutela do que poderamos chamar de governo que
se encarrega de seu controle e de sua educao at que atinjam a
maioridade. Ento, so classificadas de acordo com as suas qualidades
fsicas e mentais, encaminhando-as para um lugar onde haja
necessidade. Geralmente realiza-se essa operao por casais, homem e
mulher.
Ocorreu-me, ento, de perguntar-lhe como faziam para aclimatar
uma pessoa de um clima frio para o quente e vice-versa.
-- Como vers, no temos esse problema. Pela simples razo de que
todo nosso mundo dispe de um s clima, uniforme, e este, no natural,
e sim, artificial, criado e feito por ns. Compreendes agora porque
desfrutamos de um s clima benigno sem ter, corno vocs, regies
extremas? Alm do mais, nossa populao no nos permitiria esse
luxo.
Aquilo para mim ia se tornando completamente convincente. Tudo o
que dizia comeava a fazer sentido. Imediatamente minha mente
formulou nova pergunta, relacionada com seu nico mar. No cheguei a
formul-la e ele j cortou meu pensamento, respondendo:
-- J te disse que temos um mar e este contm tanto lquido quanto
os da Terra juntos. Dele tiramos tudo, que precisamos para
construir nossos edifcios, para fabricar nossas roupas, nossos
veculos e sessenta por cento ou mais de nossa alimentao.
Prosseguiu:
-- Nossos barcos atuais no so como os vossos, como vocs concebem
e constroem. Os nossos tanto podem navegar quanto voar ou ir a
qualquer lugar sem oferecer perigo algum. Em nosso mar, grandes
profundidades, existem fbricas descomunais com sistemas diferentes
aos que vocs usam. Esses sistemas atraem a populao marinha que
selecionada e aproveitada cientificamente.
Diante de meu assombro, acrescentou:8
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-- Como compreenders, em nosso mar no h agitaes de nenhum tipo,
pois o temos a nosso servio e sob nosso controle, ficando
eliminadas essas contingncias.
Ficava cada vez mais preocupado. Ansiava saber mais sobre
aquelas pessoas. Perguntei, ento, como que falavam to bem o
espanhol. Respondeu-me que poderiam aprender qualquer idioma, por
mais difcil que fosse, e que em seu mundo, um dia, tambm falaram
muitos idiomas e que agora empregavam um s - uma lngua universal -
formado pelas palavras mais fceis, tendo conseguido tal intento de
um modo simples e eficaz.
Perguntei em seguida se conheciam todo nosso mundo - a Terra.
Asseguraram-me que conheciam no somente sua superfcie como tambm
sua contextura e todos os costumes das diferentes regies, por mais
afastadas que fossem ou que a ns parecessem.
-- Primeiro o conseguimos com nossos aparelhos apropriados, dos
quais esto dotados nossas naves; segundo, com nossa prpria populao,
alguns selecionados que mais se paream com vosso tipo fsico.
Costumamos deix-los bem providos prximo ao lugar que queremos
investigar, recolhendo-os posteriormente no momento propcio.
Brotou em mim a preocupao das finalidades pelas quais perseguiam
nosso mundo. Ao ser perguntado a respeito, ilustrou-me com uma
histria:
-- A etapa que vocs atravessam atualmente h milhes de anos
passamos tambm. Em nosso mundo houve guerras e destruies, atrasos e
progressos. Um belo dia chegou a igualdade. Arrijaram os lderes
polticos e em seus lugares foram colocados sbios e destacados
humanistas. No lugar dos soberbos, ambiciosos e egostas, que s
buscavam o lucro em benefcio pessoal, foram colocados homens que se
interessavam pelo bem de todos indistintamente.
Aps breve pausa:
-- Houve uma mudana total na administrao pblica e pouco a pouco
foi desaparecendo a vaidade que era a maior aliada dos
exploradores. A moral em todos seus profundos aspectos assentou-se
firmemente. Hoje, verdadeiros sbios nos governam, procurando -
sempre - melhor alimentao, melhor vesturio e melhor e uniforme
educao. Acabaram-se os privilgios. Agora, no mesmo lugar educa-se
fsica e mentalmente quem, provavelmente, descende de ricos ou de
pobres. Quem se destaca nessa educao destinado para locais onde
possa desenvolver livremente suas aptides sem qualquer preocupao.
Isso que vocs chamam de nao ou ptria desapareceu totalmente. Somos
cidados de nosso mundo. No usamos bandeira, nem identificao alguma.
Cada criana, ao nascer, tatuada na planta dos ps. como uma ficha
que fala de sua origem e de suas faculdades. Assim cresce sem
complexos, sadia e livre.
As horas transcorreram rapidamente. Comeava a clarear quando
descemos do carro. Para dizer a verdade no sabia se tudo aquilo era
verdade, mas devia ser, pois estava a poucos centmetros daqueles
personagens, disposto a certificar ou confirmar tudo que me haviam
dito. Adiantaram-se um pouco, subindo o monte de terra. De repente
voltaram-se como que querendo surpreender-me num movimento
suspeito. Dei-me conta que de seus capacetes e cintures saam sons
intermitentes e em grande escala, as vezes subindo de tom at doer
os ouvidos.
A curiosidade me invadiu e no tive outra soluo que lhes
perguntar a finalidade de tais cintures. A pergunta parece que os
agradou. O baixinho fixou seus olhos no cinturo. Seu acompanhante s
levou as mos ao seu sem deixar de me observar. Mas sua expresso era
tal que dava a entender que com aquela maravilha, sentiam-se imunes
a qualquer perigo. Pelo menos o que me pareceu. Seus olhos
fulgurantes, brilhantes, demonstravam carinho e segurana.
Finalmente o baixinho levantou os olhos e disse:
-- Este um aparelho que serve para imobilizar qualquer mecanismo
ou inimigo. Diga-me agora, prosseguiu, satisfeita a tua
curiosidade, tens desejo de conhecer nossa mquina? Venha conosco,
ento!
E rubricou o convite com amplo e amvel sorriso. O terreno era
pantanoso. Meus acompanhantes vadeavam o charco buscando lugares
mais firmes. De repente percebi que no lugar onde eles colocavam os
ps, o lodo parecia abrir-se, sem grudar em seus ps, num efeito
parecido ao produzido por ferro quente. Olhei meus sapatos. Estavam
totalmente cobertos de lama, j atingindo as pernas da cala. A
observao deu-me a impresso de estar caminhando atrs de dois
fantasmas e, inconscientemente, comecei a aumentar a distncia entre
eles e eu, sem, contudo, perd-los de vista.
Aquilo foi a primeira de uma srie de surpresas que se gravariam
profundamente em meu crebro. Alguns metros adiante, de chofre, ante
minhas vistas, vi a majestosa nave de que me haviam falado.
Deslumbrante, imergia rodeada das folhagens como gigantesco ovo em
descomunal ninho. Parei em seco e pus-me a contemplar o que tinha
adiante. Uma majestosa esfera achatada que se apoiava em trs ps que
formavam um tringulo. Tinha, na parte superior, uma cabine
ligeiramente inclinada para dentro, como de um metro de altura,
circundada de buracos que se assemelhavam a olhos de boi, como
aqueles que se v nos barcos.
9
-
O conjunto era impressionante e dava a sensao de grande
fortaleza. Era de uma cor parecida com as fascas produzidas pelo ao
contra o esmeril, mas, de uma transparncia difusa. Quando os homens
estavam a um metro e meio da nave, ambos levaram a mo direita
apoiando-a no cinturo e, em seguida, na parte inferior da esfera
surgiu uma abertura que depois converteu-se em escada. guisa de
corrimo, havia dois cabos, elsticos a meu ver, pois se flexionaram
quando os dois se apoiaram neles. Entretanto, eu permanecia a cerca
de sete metros de distncia, mas, como a nave estava numa baixada,
observei que os homens no deixavam nenhuma marca de lodo que
pudesse, eventualmente, estar grudado aos seus sapatos. Pude ver,
tambm, como o mais avantajado se perdia no interior da nave, e o
outro, parado no meio da escada e apoiando-se no corrimo, voltou-se
para mim, convidando-me para me aproximar; e ainda que algo me
impelisse em direo contrria, fiz um esforo e segui caminhando at a
distncia de um metro da nave.
Algo devia ter mudado em mim, pois, o medo ou o receio que
sentia, havia passado, convertendo-se em audcia. Comecei a imaginar
que o que tinha diante de meus olhos, no passava de uma casa de
exploradores, que no era nenhuma nave, e at achei-a parecida com
uma casa convencional. Quando o homem repetiu seu convite,
decididamente avancei e comecei a subir logo atrs dele.
Samos por uma espcie de clarabia ou buraco redondo, de pouco
mais de meio metro de circunferncia, numa plataforma horizontal.
Quando me dei conta, o buraco por onde entrramos, fechara-se em
forma inesperada.
Claro que estava impressionado. Mesmo encerrado dentro daquela
coisa, a luz a atravessava, e a parte que devia dar para a escada
por onde subimos, parecia de cristal, porque dava para se ver fora
com absoluta clareza.
Passei a vista sobre aquilo que se apresentava aos meus olhos no
interior da nave. Uma parede baixava desde o teto fazendo canto com
a plataforma. Nessa parede adivinhava-se algo que bem poderia ser
um espaldar, ainda que parecesse demasiadamente alto. Na juno
daquele disforme espaldar, pois no era outra coisa, estava o que
devia ser um assento, dividido em trs partes vistas de frente, com
algo parecido com tampos, mas esses estavam levantados para os
lados.
Eu devia parecer um bicho numa jaula, pois os homens
limitavam-se a me observar. Finalmente, o que falava espanhol,
convidou-me a passear um pouco, mas pareceu-me que aquilo no ia se
levantar nem um centmetro com meu peso pelo que, ironicamente,
disse que gostaria de experimentar.
Indicaram-me o assento do meio, ficando eles um em cada ponta. O
assento era estofado de uma maneira desconhecida para mim, isso que
passei pelo menos dois teros de minha vida ocupando assentos de
carros. No podia negar o fato de que gostaria de colocar um assento
desses no carro onde trabalho. Se o assento era surpreendentemente
macio, o espaldar era melhor ainda, pois, bastava recostar um pouco
o corpo e facilmente me perdia naquela massa agradavelmente
aconchegante. Baixaram-se os tampos e imediatamente senti uma
ligeira presso sobre minhas pernas e parte de meu abdmen.
Ajustavam-me com tal presso e firmeza que me dava a impresso de
estar metido dentro de uma esponja.
O tampo sobre minhas pernas no era outra coisa que uma mesa de
instrumentos, e tal como a dos lados, as mesas eram geminadas, de
modo que cada um ou qualquer um deles podia operar a nave.
Gostaria de descrever uma dessas mesas de comando. como uma
mesinha retangular, ligeiramente inclinada para mim junto ao
peito.Sobressaindo-se dos demais instrumentos, havia uma tela, no
maior que o farol de um automvel, de superfcie convexa. Era lmpida
e luminosa, de uma claridade mpar. Junto tela, nos seus lados da
parte anterior, havia duas protuberncias redondas, uma branca e
outra negra. Devo esclarecer que as cores de todos os instrumentos
eram luminosas, mais brilhantes que a nossa luz fluorescente.
Na frente, junto tela, havia trs botes: dois colocados em forma
vertical e um no meio, em forma horizontal. Ao lado direito via-se
uma srie de teclas; a primeira larga e as outras estreitas. Na
metade da primeira, este teclado comea na maior, de cor branca, e
conforme se afasta, vai escurecendo at terminar em negro brilhante.
At o extremo oposto e a cada lado havia, ao alcance dos dedos
polegares dos pequenos homens, dois diminutos descansos para os
mesmos (dedos), angulares e para fora. No lado esquerdo, em
fileira, igual ao teclado, surgiam chaves em forma de pequenas
raquetes que se manipulavam para frente. Finalmente, diante da
tela, e aproximadamente no centro do painel, havia quatro peas em
forma de meia lua, tendo a parte inferior circular e a superfcie
plana. Operava pelo centro visto que admitiam em cada um delas
somente dois movimentos. Essas peas formam uma cruz. Esses painis
eram complementados com um cilindro no extremo posterior. Dentro do
cilindro moviam-se cinco sees com diferentes velocidades tendo as
leituras em diagonal. Mudava de cor conforme girava, indo do branco
ao negro. Assim era, mais ou menos, o painel.
Nele se reproduziam os movimentos da mquina vontade do operador.
Observando tudo no percebi quando comeamos a subir. A decolagem foi
suave, lenta e em forma vertical.
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-
3 A NAVE-ME
Pude ver aos meus ps o carro abandonado. Continuamos subindo,
sempre em forma vertical e sempre tendo aos meus ps o carro como
referncia, enxergando-o por ltimo como uma forma borrada e no mais
que do tamanho de um carro de brinquedo. Meus acompanhantes
instruiram-me a operar a tela. Bastava fazer girar qualquer dos
botes laterais do painel, para atrair, de forma ntida e precisa,
tudo que havia fora da nave: da parte superior, da inferior, da
direita e da esquerda. O boto do centro servia para aproximar a
imagem at dar a impresso de ficar a pouco mais de um metro de
distncia.
Antes que me esquea, no extremo direito do painel h uma bola
incrustada num cncavo, terminando numa alavanca redonda, que fazia
mover, em toda a extenso da tela, um ponto negro que serve de mira
quando h necessidade de se usar diferentes armas. que mais tarde
descreverei.
Por fim, tudo ficou coberto de nuvens, e ns continuamos subindo.
Os homens buscavam um buraco nas nuvens para que eu pudesse ver
nosso planeta, pois, acreditavam, e com razo, que aquilo iria me
impressionar. De minha parte sentia-me tranqilo. Tratei de buscar o
motivo dessa tranqilidade, pois, no me parecia normal. Meu
temperamento nervoso por natureza e ainda mais eu que nunca subira
antes em avio, e isso j me parecia motivo mais que suficiente para
ficar nervoso. Recordei que somente momentos antes de entrar na
nave me sentira nervoso. Recordava que o tipo mais avantajado
perdera-se na escada e ansiava o momento que o segundo fizesse o
mesmo para eu voltar voando para a estrada e meter-me no carro,
nico lugar que me dava segurana.
No entanto, de repente todo aquele medo desapareceu de mim e
agora at indiferena sentia pela sorte que o carro podia ter,
abandonado l embaixo.
Uma sombra de preocupao assaltou meu esprito: estar sob domnio
daqueles seres. Mas tratei de afastar a idia da cabea distraindo-me
observando como operavam o painel e olhando para fora atravs das
paredes para comprovar o efeito das manobras. At sentia admirao
pela simplicidade dos comandos daquela nave, que at uma criana
poderia manejar. Quando entramos no espao sem nuvens, fizeram-me
sinal para o que tnhamos sob nossos ps. Confesso que, por mais
ressentido que pudesse estar, alm da convico de que subira na nave
sob estranha influncia, agora isso me parecia coisa perdovel. O que
tinha ao alcance de minhas vistas era um espetculo maravilhoso: uma
esfera ligeiramente opaca, algo fora de foco que por momentos
converteu-se numa massa redonda e sacolejante como inimaginvel
gelatina. Pareceu-me estarmos voando sobre a parte central do
continente americano, j que se divisava, com relativa facilidade, e
perdendo-se num abismo sem fim, as terras americanas conjuntamente
com a parte larga da Repblica Mexicana e a parte estreita do
continente.
Logo, os homens indicaram-me a pequena tela, aconselhando-me a
acionar o boto central. Por que haveria de negar-me? No tenho nem
sinto palavras para expressar o que senti e vi a uns poucos metros
de mim com meus assombrados olhos que, para dar crdito ao que via,
tinha que afast-los da tela e volv-los atravs da parede da nave que
me parecia mais real e mais verossmil. Dentro daquela pequena e
clarssima circunferncia, na qual, a meu capricho e s com um simples
movimento daquele controle, podia trazer e reduzir todo um mundo a
detalhes, at os mais insignificantes; vi o nosso alargado
continente nadar numa massa lquida que se desvanecia em cores azuis
e vermelhas at desaparecerem seus contornos num vazio infinito.
Esse incrvel espetculo gravou-se de tal maneira em minha mente que
muitas vezes tenho despertado sobressaltado, sentindo-me no vazio e
atrado por aquela enorme esfera que uma vez contemplei, qui, sem
minha vontade.
Quando os homens acreditaram que era suficiente (digo
acreditaram porque, se dependesse de minha vontade, olharia sem
parar), porque para eles o tempo contava, imediatamente metemo-nos
numa nuvem de grandes massas, algumas to negras que escureciam o
interior da nave. Aqui tive outra maravilhosa viso. Acabvamos de
sair do ventre obscuro de uma nuvem negra quando,
intempestivamente, uma luz vermelho-sangue invadiu o interior da
nave de forma vivssima. Tudo mudou de aparncia. As fisionomias dos
homens tornaram-se ossudas e espectrais. A minha tambm devia ter
adquirido outro aspecto porque o pequeno homem apressou-se em me
dizer para no ter medo porque era o sol que estava dando esse
aspecto. A mim me pareceu estarmos dentro de um poderoso
refletor.
Repentinamente cessou o movimento, ou melhor dizendo, a sensao
de que amos a aterradoras velocidades. Ficamos suspensos no ar. Em
seguida outra no menos agradvel surpresa. Tratavase de um
gigantesco disco de cor negra, deslumbrante a ponto de cegar.
Andamos lentamente ao seu redor como que o reconhecendo. Os raios
de sol refletiam-se em sua superfcie. Estava imvel como que
deixando-se farejar pelo pequeno aparelho que ocupvamos. Finalmente
voltamos a ficar imveis frente ao gigantesco aparato. Vimos como se
abria na parte superior uma tampa das mesmas dimenses que nossa
nave e tambm como esta comeou a deslizar dentro daquele monstro.
Sentia-se perfeitamente sua parte inferior roar como se estivesse
em trilhos. Terminada a sensao, levantaram-se os tampos da mesa de
controle, deixando-nos novamente livres. Os
11
-
homens convidaram-me a segui-los. Abriu-se uma clarabia e por
ela samos da pequena nave. A porta estava aberta e por ela descemos
a uma enorme abboda, onde no havia mais colunas que as formadas
pelo aparelho onde ficou ajustada nossa pequena nave.
Dentro havia intensa iluminao, sem, contudo, saber-se de onde
vinha a luz. Mais parecia-me que todas as superfcies ao alcance de
nossa vista produziam luz. Os homens dirigiram-se alm do lugar onde
haviam estacionado a nave, onde uma parede cortava a circunferncia.
Eu, atrs deles, com urna indiferena que s em me lembrar hoje, me d
calafrios. Pouco antes de chegar na parede, uma seo de um metro
deslizou para o lado. Seguimos por ali, encontrando-nos agora num
espao em forma de meia lua. A parte semicircular era ocupada por
uma espcie de tela panormica de cinema s que intensamente luminosa.
Ao p da tela, uma mesa comprida coberta materialmente de
instrumentos, entre os quais, grande quantidade de pequenos, porm
incrivelmente visveis, mostradores com diferentes leituras.
Destacavam-se trs fileiras de botes ou teclas semelhantes as de um
piano dispostas para um concerto; grande quantidade de
protuberncias completavam aquele quadro maravilhoso de instrumentos
e, junto este, trs volumosos assentos.
Estava to distrado observando tudo aquilo que no me havia dado
conta de estar rodeado de pessoas que, com meus dois amigos,
somavam oito. Pedi-lhes perdo por meu indiscutvel adormecimento.
Responderam-me que estavam contentes com minha visita ali na sua
nave - o monstro que vira de fora. Algo me chamou a ateno: quatro
daquelas pessoas vestiam-se como meus amigos; os outros dois, no
havia dvida, eram seus superiores, no s pelo seu aspecto geral que
denotava maior idade, como tambm por apresentarem maior
personalidade, sem contar com o traje de cores diferentes - um
marrom brilhante que os tornava distintos dos demais. Como se isso
no bastasse, era s observar a reverncia com que os outros a eles se
dirigiam.
Tudo o que estava me acontecendo desde cedo quando deixramos o
carro na estrada, parecia-me to irreal que comecei a sentir uma
sensao de vazio, temendo ter que voltar novamente e me descobrir no
carro. Mas no era assim! Estava vivo e muito bem desperto! Os
chefes daquela nave convidaram-me a permanecer com eles algum
tempo, pois, disseram-me que sentiam verdadeiro prazer em ter um
homem de minha raa como convidado.
Ao lado direito e em frente a enorme tela, havia uma fileira de
camas. No creio que algum de minha raa, que as visse, fosse pensar
em algo diferente. Lgico que havia algumas diferenas se comparadas
com as nossas, mas somente pela simplicidade, pois reduziam-se a
umas macas de um metro e meio de comprimento, por um metro de
largura e umas duas polegadas de espessura. O material de
estofamento era acolchoado, poroso, suave, e devia estar sustentado
por outro material resistente e pouco elstico. Ao lado da cama
havia dois punhos em forma de mo, os quais, fazendo girar, colocava
a cama em diferentes posies, podendo convert-la em confortvel
poltrona sem ps de nenhum tipo, pois estava fixa na parede.
Aceitando o oferecimento que me faziam de demonstrar o
funcionamento daquele extraordinrio veculo, as camas, mediante
comando, transformaram-se em cadeiras ou poltronas, onde se
sentaram meus amigos, os chefes, e algum mais daqueles que estavam
na nave. Os trs restantes perderam-se nos monstruosos assentos
defronte tela, junto ao painel de instrumentos. Repentinamente
comeou a se ouvir uma espcie de sibilo agudssimo e a tela
dividiu-se em trs sees em todo seu tamanho. Na seo do meio comeou a
surgir umas luzes vermelhas que iniciavam nos mais inesperados
lugares vindo a morrer sempre no extremo, aumentando sua espessura
antes de desaparecer na maioria das vezes. Isso me chamou a ateno.
Perguntei a um dos chefes o que era aquilo (eu ocupava um lugar ao
meio deles). Explicaram-me que eram partculas csmicas que uma
poderosa fora de repulso gerada pela mquina afastava de nosso
trajeto para no prejudicar a nave.
Aquilo era interessante, pois como se cruzavam em diferentes
direes formavam figuras caprichosas que bastariam para me entreter
vrios dias. No havia dvida que muito tempo tinha decorrido, pois
meu estmago assim estava advertindo. Inesperadamente um dos homens
que nos acompanhava parou e dirigindo-se ao lado esquerdo de cada
uma das poltronas mexeu uma pea que formava parte de um comprido e
articulado brao. Logo dirigiu-se ao lugar do canto contrrio que
ocupvamos e voltou com duas pequenas bandejas, uma em cada
brao.
As bandejas formavam um quadro de seis polegadas e estavam
divididas em cinco fundas sees, cada uma repleta de algo
consistente com um sabor to agradvel que era difcil encontrar algo
parecido que houvesse comido anteriormente. No s o sabor era
agradvel, como tambm era muito reconfortante. Pouco depois de haver
comido esses alimentos, senti uma agradvel satisfao de
reconfortante otimismo que borrava de minha mente todos os
problernas e preocupaes. Os olhos fechavam-se. Naturalmente que
isso tinha uma explicao. A noite anterior quase no havia dormido;
guiara por uns trezentos quilmetros. Em seguida, as diferentes
emoes que passara, e, se isso no fosse pouco, agora estava no
interior de uma fantstica nave rodeado de estranhas pessoas. Sim,
estranhas! Mas que me faziam sentir-me o homem mais importante da
Terra. Eram gentis, amveis, como se estivessem em obrigao comigo.
Porque negar: faziam-me sentir insignificante. Por fim, por mais
esforos que fizesse, no pude vencer o sono e no soube de mais nada
por largo tempo.
12
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Quando me despertaram eu estava transformado, ainda que no
tivesse mudado de posio e de lugar. Tudo que levava vestido,
sumira. Agora meu corpo estava coberto com um traje parecido com o
deles, mas sem cinturo. Faltava-me tambm a espcie de colarinho do
pescoo e os sapatos; os que calava, que me haviam colocado, era uma
espcie de galocha que me envolvia at os tornozelos. Levava tambm
uma cala to justa que me lembrava as roupas de um toureiro.
Sentia-a materialmente aderida s pernas sem contudo atrapalhar o
mnimo movimento. Da cintura para cima estava coberto por uma espcie
de pulver desses que se colocam pelo pescoo. As mangas do pulver
iam at os pulsos, e no pescoo, at o pomo de Ado. No tinha nenhuma
daquelas coisas como fechos, botes, bolsos e nem se notava sinal de
costura de nenhuma espcie. O material era grosso, pois algumas
partes o sentia como tendo uma polegada de espessura. De uma
frescura incomparvel. Dava-me a sensao de estar nu.
Ante minha estranheza, os homens explicaram-me que haviam tomado
essa liberdade por ser absolutamente necessrio para minha proteo.
Haviam tentado despertar-me, mas no o conseguiram. Com isso
deixaram-me magoado. Afinal considerava o cmulo trocar de roupa sem
me comunicar. Mas, acreditei porque, uma vez, quando menino, alguns
amigos tinham me tirado de um carro onde estava dormindo e me
colocaram numa rvore. Por que no acreditar no que diziam? Alm do
mais no havia tempo para perder em futilidades. Os homens me
acordaram para que com meus olhos visse o maravilhoso espetculo que
pouco depois iriam me oferecer.
Disseram-me para no tirar os olhos da tela e para no perder
nenhum detalhe. Realmente, pouco depois apareceu uma bola do
tamanho de uma bolinha de gude. Era vista de uma maneira
completamente diferente de tudo o que cruzava a tela em diferentes
direes e com rapidez vertiginosa. A bolinha no mudava de lugar. S
aumentava de tamanho. Agora j apresentava-se das dimenses de uma
bola de golfe. Parecia maravilhosa e vinha em nossa direo em linha
reta.
Mais tarde chegou a atingir o tamanho de uma bola de futebol. No
mudava de cor. Era de um vermelho incandescente como de carvo em
brasa. Pouco depois, era do tamanho de um balo. No mudava de lugar.
Se a coisa continuasse nesse rumo, em pouco tempo invadiria toda a
tela, na qual quase no mais se viam aqueles riscos. Ser que aquela
bola estava me obcecando, hipnotizando, j que no afastava a vista
dela? Comecei a sentir medo. Todos os que permaneciam a bordo tambm
sentiam. Dava para notar em suas fisionomias. Tambm estavam atentos
e creio que preocupados. Nosso objetivo tinha agora pelo menos um
metro de dimetro. Tratei de parar. Os dois chefes ao mesmo tempo me
indicaram que ficasse em meu assento bem quieto, mas ningum fazia
nada para evitar a coliso. Eu os olhava desesperado, mas no me
davam importncia.
Aquela fantstica bola cobria toda a tela agora. Tratei novamente
de deter-me, e desta vez, senti uma presso em minha perna de dois
pequenos, mas poderosos braos. O homem que estava a minha direita
disse que no estvamos correndo nenhum tipo de perigo e que s
estvamos entrando em outro mundo - no mundo no qual viviam - e o
que agora estvamos vendo era somente a camada atmosfrica que o
cobria.
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4 CHEGADA VNUS
O inevitvel chegou. A bola cresceu e cobriu as trs telas.
Comecei a sentir um calor sufocante. Mas, s eu. Os demais
continuavam do mesmo jeito que antes. Atribu essa sensao ao meu
estado psicolgico ou nervoso. A perigosa sensao de choque fora
superada. Agora a tela inferior cobriu-se com quadros pequenos,
divididos em canais profundos e retos. A medida que cresciam eram
distinguidos melhor. Estavam cobertos com algo que parecia arbusto
e sobre eles havia outras coisas. Acabvamos de passar por alguns,
onde se viam naves pequenas, como aquela que trazamos dentro.
Comeamos a descer em forma vertical, indo direto para um dos
quadros divisados na tela inferior de maneira perfeita.
Todos param. Dispomo-nos a sair. Abre-se a porta da cabine. Ao
nosso lado esquerdo h uma coluna grossa, pegada parede que no tinha
visto quando entrara. Gira uma seo ficando a descoberto uma escada
de degraus semi-circulares. Os chefes adiantam-se. Desce um, logo
outro. Perdem-se na coluna oca. Meus amigos fazem sinal para que os
siga. Aquela operao recordou-me a descida em pra-quedas. Ponho um p
num degrau e ao me sujeitar com as mos ao que estava diante de mim,
suavemente comecei a descer como num elevador, parando quando
chegou no piso inferior, cinco metros abaixo da parede inferior da
nave. Agora estamos sob sua barriga. Efetivamente esta negra e
brilhante. Ao meu redor est cheio de pequenas rvores, todas
cobertas de frutas. D para sentir seu aroma. Entre as rvores h
alguns postes grossos de metal tambm negros. Neles descansa nossa
nave. Tambm h corredores em todas as direes que esto, pelo menos,
meio metro sobre o nvel do pavimento. Ao pisarmos nele, soa
ocamente.
As rvores medem pouco mais de dois metros, mas so frondosas.
Seus ramos e galhos no tm folhas. Nem no cho vem-se folhas cadas.
Seus galhos so bastante grossos e no guardam proporo com o tronco.
H frutos em abundncia. Toquei um e me deu a sensao de ter a casca
muito fina. O fruto era macio, como quando est maduro. Cada rvore
estava sustentada pelo tronco com quatro ps que vinham do cho.
Examinei a terra, mas no nada parecida com a nossa. Parece p de
algo como borracha moda ou areia fina. Era negra e estava mida,
muito mida, porm, no de gua, mas de um lquido viscoso. Meus amigos
me garantiram que efetivamente no era terra, mas um produto qumico
e que as rvores no se mantm presas pelas razes e que estas lhes
servem somente de fonte ou canal de alimentao. Dizem tambm que
estamos num terrao, e este, um tanque para conter todo o material
que alimenta sua fruticultura.
Seguimos por uma passarela at a borda. Olho para baixo e me dou
conta que, o que eu acreditava serem canais, so ruas. L em baixo
movem-se vrios veculos, e junto s paredes, h grande quantidade de
pessoas, todas alinhadas. No se encontram, nem se esbarram. Assim
que levanto o rosto para cima, encontro algo verdadeiramente
assombroso: uma abbada altssima e contnua que no se v onde termina.
Meus amigos me dizem que cobre todo seu mundo, mas, no s isso. Ela
canaliza e dirige raios luminosos em todas as direes.
Seguem explicando-me que se trata de uma capa de nuvens
espessas, s quais esto misturadas substncias que, ao receberem os
raios do sol, absorvem seu calor e sua luz, multiplicando-a, e com
ela, iluminam todo o planeta. Garantem-me que no tm noites. O clima
abafado. Comea a me faltar o ar. O que respiro no suficiente.
Sinto-me mal. Estico o colarinho daquela camisa e ela cede.
elstica, mas, no consegui mais ar. O rosto me arde. Creio que vou
desmaiar e apio-me na amurada da plataforma. Os homens que estavam
me cuidando esperavam j essa reao e estavam prevenidos.
Ofereceram-me algo de borracha do tamanho de um charuto, dizendo-me
para chupar como se estivesse fumando.
A reao notvel. A cada tragada recobro as foras at me sentir
normal outra vez. A gola da camisa oprime-me novamente, mas, j no
me incomoda mais.
Sob aquela monumental abbada vem-se infinidades de naves como
aquela que trazamos dentro e muitssimas como a grande. Todas
negras. Cruzam-se rapidamente em diferentes alturas. Noto que,
segundo sua direo, a altura em que operam. H naves de todos os
tipos. Tubulares de vrios tamanhos, compridas e grossas; esfricas
de todos os tamanhos parecendo globos de cristal. Agora, passa uma
sobre ns, que se assemelha a um ovo ou a uma pra. Vai a pouca
altura e desloca-se em pequena velocidade. Asseguram-me que tambm
uma nave de transportes. Uma coisa me chama a ateno: apesar da
velocidade e da quantidade de veculos, estes no se chocam. nossa
frente descia agora uma gigantesca nave. Ao cruzar-se com uma
pequena, esta desviou-se com incrvel rapidez. Creio que os pilotos
no intervieram nesse movimento de desvio. Inquieto, pergunto sobre
o fenmeno. Explicam-me dizendo que todas as mquinas tm fora de
repulso. Aquelas que imprudentemente se colocam no trajeto de
outras, so rechaadas como bola de futebol.
Andamos pela passarela junto amurada, at chegar a um canto do
terrao. Ali esto os elevadores, dispostos em toda extenso desse
lado. No so fechados como os da Terra, mas tm trs fachadas cobertas
por grade macia e rgida, na qual nos encostamos, eu bem preso com
as mos; porm, justamente onde me apio esto os controles.
Pergunta-me um dos chefes se tenho fome. Fome? No! Nem me lembrava
disso, afirmei. Rindo, disse-me que, casualmente, aquele edifcio em
que estvamos era um restaurante. Efetivamente, ao
14
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descermos, parvamos em cada andar e todos estavam cheios de
gente. Continuamos descendo. Finalmente, num dos andares
descobrimos alguns lugares vazios e saltamos. Reinava grande
harmonia em todos os movimentos das pessoas. No se atrapalhavam,
nem cochichavam. Cada um chegava, pegava sua poro de alimento,
sentava-se, comia e devolvia a bandeja vazia, retirando-se em
seguida.
Dei-me conta que a parede frontal a que ocupvamos ao descer,
tambm estava cheia de elevadores, e as duas restantes, convertidas
em armrios embutidos em toda volta cheios de bandeja iguais as que
usvamos na nave. O piso deste local estava coberto de pequenas
cadeiras que se completavam com um brao reversvel, no qual se
colocava a bandeja. No pude conter uma exclamao de surpresa. Agora
os alimentos eram ainda melhores que os da nave. Meus amigos
ofereceram-me rao dobrada e comi at me dar por satisfeito. Foram
dez sabores diferentes, pois, todos so diferentes. Pude observar
tambm que as bandejas eram de cores diferentes, tantas que me
cansei de contar, e os homens me garantiram que cada cor tem cinco
sabores diferentes, porm, todos tinham a mesma consistncia. As
colherinhas que usavam assemelham-se s nossas colheres rasas, porm
so ligeiramente curvas muito pequenas.
As pessoas que vi nesse edifcio no mediam mais que um metro.
Todos pequenos, mas bem proporcionais. Todos vestiam-se do mesmo
modo, com roupas iguais s que eu trajava, mas de cores diferentes.
Naquele mundo de clima condicionado h uma contnua orgia de cores,
vistas em qualquer direo que se olhe. Homens e mulheres vestem-se
iguais. De frente diferenciam-se apenas pela formas prprias da
mulher. Ao falar, suas vozes soam tranqilas. No so como as nossas:
broncas, grossas e at certo ponto, desagradveis ao ouvido. Todos tm
cabelos prateados e ondulados. E todos chegam a cair nos ombros. A
cor verde dos olhos geral, com tambm o marfim da pele. Meus amigos
explicaram-me que a raa pequena porque assim o querem. um processo
cientfico. Quanto cor dos olhos, pele e cabelos, devido ao clima
reinante no planeta.
No refeitrio havamos ficado meus dois amigos e eu. Os demais
haviam se retirado, pois tinham que fazer o relatrio de sua misso.
Ns ficamos conversando. Era maravilhoso estar entre tantos bonecos
humanos. A eles eu devia parecer um monstro. Samos do refeitrio
pelo mesmo elevador e chegamos ao que devia ser o sub-solo. Esse
pavimento est totalmente vazio. As pessoas cruzam por ele. No h
portas de rua em rua. As paredes frontais que no tm elevadores,
compem-se de uma srie de entradas em forma de arco. No centro h
dois mais espaosos que os demais. Por ali cruzam os veculos. H
muitssima luz, porm, no se sabe a fonte. Pode-se dizer que so as
paredes que a produzem. Caminhamos sobre um piso macio, polido como
metal.
Samos em direo rua e ao chegarmos a parte frontal do prdio,
detemo-nos. As caladas rolantes circulam a uma velocidade moderada.
Esto divididas em trs bandas: duas que se movem em direes contrrias
e uma, a do meio, que se mantm imvel. As pessoas mudam de uma para
outra, em movimento, com agilidade, saltando da em movimento para a
imvel e desta para a outra em sentido contrrio. Ou ento entram num
edifcio. As fachadas dos prdios so lisas. No tm janelas. So lisas
por completo. Suas belas cores parecem de vidro, ou melhor dizendo,
de espelho, pois, nossa imagem reflete-se nitidamente. Percebe-se a
juno do material em cada pavimento, porm formando um todo. Cada
edifcio de uma s cor. Diferenciam-se por elas. No h placas de tipo
algum. Os edifcios-restaurantes so azuis, existentes a cada quatro
quadras. O meio da rua largo, dividido ao centro por um meio-fio
estreito, coberto com algo parecido a tiras de metal: uma estreita
de cor amarela e outra larga de cor marrom-escuro. Descubro s dois
tipos de veculos terrestres, diria, mesmo que a palavra no seja
apropriada. So individuais, pequenos, destinados a uma s pessoa e
est provido de duas rodinhas. No coincidem com a idia de rodas bem
proporcionadas que temos, porque so rechonchudas e largas. Nesses
veculos vai uma s pessoa, porm, h veculos de trs rodas. Nos
primeiros h um assento com encosto, e sobre a roda dianteira s h um
guidom no maior que a mo deles, operado como uma manivela. No
segundo tipo, o assento largo e tambm h encosto e apoio para os ps.
Tambm so operados como o guidom. Esse tipo de veculo encontrvel em
quase todos os edifcios, no sub-solo. E qualquer um que os usa,
deixa em qualquer lugar que quiser. Nos de trs rodas, geralmente,
vo os casais, homem e mulher. So vistos circulando em boa
velocidade e geralmente sobre pistas estreitas. O outro tipo de
veculo terrestre podamos denomin-lo coletivo. So parecidos com
estruturas de edifcios pequenos por terminar. A maioria tem 10
andares, ainda que haja outros com menos. Este tipo de transporte
raro, porque no sobe ou desce s uma pessoa, mas, recolhe e deixa
andares inteiros.
Como o sistema me pareceu interessante, vou descrev-lo em
maiores detalhes. Para isso, vejamos primeiro como so as ruas, para
fazermos melhor idia. Essas sobem e descem, formando passagens em
desnveis em cada esquina, onde os veculos passam, a cada duas
quadras, sob uma ponte, usando o oco desta para alojar as
plataformas que recebem os passageiros.
Vejamos agora como so os veculos que andam a um metro das
caladas. J que falamos delas, vamos completar a sua descrio: correm
em toda sua extenso, separadas do olho da rua por rgido pra-peito.
No que podia ser o meio-fio, est aberta a interminvel boca de um
coletor-aspirador que se encarrega de chupar o p que poderia
produzir no piso o contnuo rodar de veculos, nico desperdcio
admissvel num mundo onde se percebe a limpeza absoluta. Como j
disse, os veculos so armaes que esto presas ou ligadas numa
plataforma que serve de base. Esta por sua vez repousa sobre vrias
fileiras de rodinhas. Geralmente, cada
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fileira tem cinco fortes rodas. Chega a haver at 10 fileiras de
rodinhas. Assim a armao ambulante e exatamente como ela, h duas em
cada parada. Esto sem rodas e dispostas umas atrs das outras.
Tratarei de descrever o complemento, ou seja, onde se sentam os
passageiros. Trata-se de uma caixa que tem at dez assentos corridos
no que cabem cinco ou seis pessoas. Naturalmente pequenas. Cada
caixa todo um mecanismo. O veculo chega na sua parada e se ajusta
com preciso de milmetros. Emparelha com a primeira armao fixa.
Ouve-se um golpe seco e desloca-se uma seo da dita armao fixa.
Caminha uns metros mais at ajustar-se com a armao seguinte e recebe
outra caixa repleta de passageiros. Dizia antes que cada uma dessas
caixas todo um mecanismo, porque os assentos esto montados sobre
uma banda que, enquanto est dentro da armao fixa, comea a girar,
colocando cada assento ao alcance de um tipo de escada de barrotes,
automtico. As pessoa usam tanto as escadas elevadoras, como os
assentos com enorme facilidade. Ditos elevadores conduzem a uns
corredores subterrneos e para abordar um destes veculos, a operao
se faz inversamente.
No h condutores, nem motoristas. No usam trole. Tampouco vo
sobre trilhos. No entanto, so to perfeitas suas paradas que cheguei
a pensar que se uma inteligncia os manobrasse, no conseguiria tal
perfeio. Andam um atrs do outro, algumas vezes em linhas cerradas.
Em determinados lugares alcanam velocidades de at setenta ou mais
quilmetros por hora. Sempre circulam sobre duas das pistas
estreitas.
A luz das ruas proveniente do cu ou da abbada celeste. No to
viva como a que desfrutamos de dia. Assemelha-se mais com a que
brilha ao amanhecer e so vistas brotar de milhares de lugares, como
raios de sol passando atravs de nuvens brancas e prateadas que
formam um infinito refletor. Meus amigos me haviam dito que no
havia luz artificial nas ruas e que tampouco tinham noites e o fato
de nenhum tipo de veculo trazer meios de iluminao, parecia
comprovar o que eles tinham me dito. Porm dentro dos edifcios,
surpreendente a intensidade da luz ali existente, parecendo que
emana das paredes e do teto.
Samos a andar porque ainda que as caladas sejam mveis e dotadas
de assentos as pessoas sentem prazer em usar suas pequenas pernas e
ningum se deixa levar. Ao contrrio, parece que muitos se divertem
saltando de banquinho em banquinho. Eu caminhava devagar e minha
nica preocupao era no pisar em algum, fato que no me perdoaria.
Admirvel a mudana que se operou em mim. Sinto a mente aliviada e
adquiro grande poder de observao. Assimilo com facilidade o que
eles me explicam e sinto tal grau de despreocupao que quase me
esqueo que tenho que voltar ao meu mundo, ainda que meus amigos
venusianos ignorem a data. Nem sequer me havia dado conta que os
dois falam espanhol e s retornei realidade ao ver minha desproporo
com todos os seres que me rodeavam, no s em estatura, como tambm em
feira.
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5 PRIMEIRAS IMPRESSES
Desde que estive a primeira vez num dos seus hortos de terrao vi
algo que me chamou a ateno de forma extraordinria. Tratava-se de
uns edifcios, parecidos com os demais s at a meia altura,
prosseguindo da em forma circular at uma altura de uns duzentos
metros talvez, onde terminavam em forma de cpula, redonda e lisa.
Essa prolongao era de cor negra, brilhante, tal como a das naves
circulares, como aquela que nos trouxe at esse mundo de maravilhas.
Para qualquer lado que se conte, a cada quatro edifcio encontra-se
um desses, ou seja, cada um deles est localizado entre um grupo de
vinte e quatro quadras. So os nicos que possuem sinais ou guias,
porm, essas indicaes, no dizer de meus dois amigos, somente marcam
o nmero da zona que ele controla.
Explicaram meus amigos que esses edifcios eram os mais
importantes, pois, deles se administrava todo o grupo que os cerca,
entre os quais, encontram-se restaurantes, dormitrios, cinemas,
salas de jogos, salas de msica, laboratrios para o preparo de
alimento, central mdica, fbrica de vesturio e lavanderia (que se
assemelha mais a um laboratrio de limpeza de roupa). Controlam
ainda a distribuio de roupas e de alimento, o clima e a iluminao da
zona. Tudo isso de forma automtica.
Asseguraram-me ainda que a partir dessas cpulas, mantinham
comunicao constante com naves e edifcios. Em suas torres so
captados sons provenientes de todas as partes do universo,
estudando-os e classificando-os para materializ-los em seguida.
Desde suas cpulas controlam e mantm a forma e a altura da sua
abbada atmosfrica, controlando tambm o clima na parte exterior dos
edifcios, e como se tudo isso fosse pouco, em cada um h um arquivo
vivo no qual se pode investigar o passado, ver o presente e at
mesmo o futuro em gestao. Sem precisar sair do mesmo, algum pode
ver os processos de construo de edifcios e a fabricao e a montagem
de toda classe de veculos areos e terrestres. Do mesmo modo, pode
ser vista a preparao do seu alimento e vesturio desde o princpio.
Usa-se um maravilhoso sistema de auto-sono-viso (que valha a
palavra), onde possvel manejar o espetculo vontade do operador. Em
cada uma de suas salas, nas paredes, h umas telas controladas por
manipuladores situados em cada lado da abertura. Apia-se as mos
nesses manipuladores, com os dedos polegares sobre um boto e, de
modo semelhante ao cinema, d uma sensao de incrvel profundidade,
possibilitando a idia de que realmente est vendo homens, materiais,
mquinas e todo seu processo. Com os manipuladores faz-se passar o
espetculo direita e esquerda, ou, se preferir, detm-no, dando a
impresso de se estar percorrendo a regio num veculo. Para isso
basta apertar ditos botes.
Como julgo interessante o que vi em algumas delas, tratarei de
descrever essas interessantes impresses. Comearemos por algo que
todos conhecem: pneus de automvel. Isso coisa do seu passado, pois,
atualmente tem o pavimento com brilho de espelho, usando um sistema
diferente de rodas. Como estava dizendo, no passado usaram um tipo
de roda muito parecida com a nossa, ainda que seu princpio de
fabricao fosse diferente.
Ns, em matria de transportes, tanto areo como terrestre, temos
avanado em velocidade, mas no em segurana. Construmos veculos para
velocidades de duzentos ou mais quilmetros por hora, deixando as
conseqncias disso ao sabor da sorte, pois, num veculo qualquer,
viajamos sobre quatro rodas com cmaras de ar e, sabemos por
experincia prpria que no s a essa velocidade como tambm a um tero
dela, se de forma imprevista estoura o pneu, ou se a roda perde o
ar que a mantm, a vida que vai em cima do veculo depende
exclusivamente da sorte.
Eles no brincavam com a sorte, nem com sua vida, e por isso,
buscavam segurana em algo confivel, na solidez de um material. E os
seus pneus, suas rodas, estavam construdas dentro desse princpio de
confiana. E como vi todo o processo de fabricao, atravs daquele
maravilhoso aparelho, estou em condies de descrev-lo. Espero que
consigam me entender apesar do meu pobre vocabulrio, porque no sei
se consigo expressar-me devidamente. Comearemos pelo ncleo, ou
seja, por aquilo que para ns representa a cmara de ar, base para um
pneu confivel.
Para conseguir isso, fixemos em nossa mente um molde para esse
ncleo, como se quisssemos nele alojar uma de nossas rodas. Dito
molde est aberto em sua parte superior. Alm disso, est dividido em
sua parte longitudinal, no centro, formando assim duas sees iguais
que poderiam abrir-se para desalojar o ncleo uma vez construdo. As
duas paredes que formam o molde esto cobertas de perfuraes em toda
sua extenso. Esse molde gira numa mquina e em seu oco, enrola-se o
material que o formar. Esse material, conforme vi, de trs tipos, a
saber: uma mangueirinha ou tubo do dimetro de um lpis, feito de um
plstico especial, mas que tambm poderia ser borracha (como a que
conhecemos). O tipo que o seguia era a mesma mangueira, s que agora
reforada com fibra, pelo que, tinha maior resistncia. A esse
material, seguia-se outro, que no era oco, mas que tambm no era
slido; era um cordel ou corda do mesmo dimetro que os anteriores,
construdo de fibras, talvez de sisal ou qualquer outro material
fibroso, torcido naturalmente e tratado quimicamente, para que
aceitasse um envolvimento alm do plstico, aqui de borracha,
semelhante s fibras que formam o revestimento dos nossos
pneumticos.
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Muito bem. Uma vez o molde cheio desse material, naturalmente
que sempre com a mesma tenso, quantidade e peso, entra com todo o
conjunto no processo de cozimento, com o objetivo de obter uma
unidade compacta, que no se desfaz quando retirada do molde. Quando
esse ncleo est pronto, ambas sees giram em sentido contrrio sem
retirar-se do material. Assim como o descolam do ncleo sem
estrag-lo. Terminado o processo anterior, temos ento a base para
uma roda semi-slida confivel. Depois disso, passamos ao processo de
fabricao de uma malha de metal, destinada a aumentar a resistncia e
conservar sua forma. Essa malha tecida por uma mquina especial.
Conforme tecida, nela vo entrando ditos ncleos, acompanhado de um
espaador que contm uma ranhura na metade de sua extenso. Essa
necessria porque, seu trajeto, passa por uma cortadeira circular,
que se encarrega de dividir em cada ncleo s o material necessrio.
Pouco depois de cortada a malha, os ncleos se separam dos
espaadores, seguindo estes um caminho e aqueles entrando em uns
canais que se aprofundam cada vez mais at conseguir que dita malha
fique aderida nas paredes laterais, formando uma abertura fixa e
segura. Logo, passam a cobrir o ncleo malhado com o material de
cobertura exterior, no nosso caso, borracha. Dali passam aos moldes
que dar o acabamento. Eles usaram lisas, porm, sigamos com o
processo. Uma vez terminado nosso pneu, nessa fase de acabamento,
no o poderemos montar em nosso tipo atual de roda, que so feitas
para usar cmaras de ar depois de prontas.
Mas podemos usar com vantagens o procedimento que eles usaram,
ou seja, dois discos de lmina de boa espessura, troquelados com a
forma de rodado e unidos pelo centro sobre ele terminado,
concluindo com os furos necessrios para qualquer tipo de automvel.
Poderamos substituir com unidades completas desse tipo nosso atual
e inseguro sistema de rodado. Como vem, esses discos podem ser
terminados com maior beleza, digno dos carros mais luxuosos. Este
sistema tem algumas vantagens e a principal a substituio das
desgastadas pelas recauchutadas. Em nosso mundo seria necessrio
toda uma indstria.
Eles, hoje, usam motores em forma de rodilhos que trabalham ao
inverso dos nossos. Ns fazemos rodar ou girar o centro ou massa
embobinada. Eles fixam o eixo. Como vocs percebem, no muita a
diferena nesse aspecto.
Passemos agora s suas naves. Eles me haviam assegurado que o
princpio que ns usamos para voar incorreto, pois, nossas aeronaves
so frgeis e inseguras, alm de dependerem de combustvel para
propulso, que alm de aumentar o peso, diminui seu raio de ao. Em
troca, aconselham que deveramos construir mquinas que aproveitassem
as foras existentes ao nosso redor, que so incontveis. Por exemplo,
eles, mesmo em pequenas naves, trazem diminutas, porm poderosas
fontes de energia: aproveitam o calor, o frio, a luz, as trevas, as
linhas magnticas e at mesmo as tormentas eltricas. O princpio de
sua maquinaria, em todas as naves, o mesmo, variando s a sua
disposio. Tratarei de transmitir o processo de construo de uma nave
circular pequena, ou seja, essas que ns na Terra chamamos de Disco
Voador.
A primeira coisa que vemos a base, ou seja, a parte inferior.
Vem em bruto. V-se a enorme circunferncia oca. Vem-se tambm suas
trs cavidades, por onde receber os ps de sustentao. Traz tambm
cinco bases onde sero alojados o que seriam coxins selados,
maravilhosos por certo, nos quais so injetados materiais lquidos,
artificiais, produzidos em laboratrio, muito parecido com o
estanho. Cada coxim alojar o extremo de um eixo vertical. Nesta
(nave) haver cinco deles e em cada um rodaro grandes e delgados
volantes unidos a outros pequenos. Em trs desses eixos esto
alojados cinco dos grandes volantes. Nos dois restantes, somente
quatro. Os volantes grandes terminam num ngulo agudssimo que se
alojam numa ranhura do mesmo dimetro em que est o volante pequeno.
Esta parte aguda de que falo est coberta de pequenos crculos, que
podem ser bobinas, pois, os pequenos que os alojam, por sua vez,
esto cobertos de barrinhas ou varetas dispostas em ngulo ao seu
redor.
Aps essa operao segue-se a colocao das fontes de energia, tambm
em nmero de cinco e tm a forma de um recipiente para assar frango.
Tudo est devidamente unido. Segue-se agora a escada interior em
forma tubular. alojada entre as duas sries de volantes. Tudo em
ordem, colocam a cobertura central. Chega entre quatro ps
motorizados que giram, sobem ou descem a vontade dos operadores.
Por sua vez, essa cobertura traz os coxins devidamente colocados
encaixando-se perfeitamente nos eixos, escada e na parte inferior
da nave. Temos ento a sala de mquinas que impulsionar a nave. Ainda
que essa seja a parte mais trabalhosa, tudo feito com facilidade e
preciso.
A mesma mquina que trazia a cobertura central, eleva agora todo
o conjunto, facilitando assim a colocao das balizas de sustentao.
Estas devem ser colocadas e fixadas com preciso, porque quando no
so necessrias, giram perdendo-se em suas cavidades, deixando uma
superfcie contnua com o restante desta parte da nave. Estes
aparelhos contam com dois tipos de escada: circular, que pode
descer por baixo da nave e outra cortada na parte inferior desta,
porm, coincidente com a anterior, que a que leva parte alta da
nave, convertida em sala de controles. A parte superior, que tambm
chega num guindaste (por assim dizer) de quatro ps motorizados,
igual a cobertura central, traz seu pescoo ou coroa, como queiramos
chamar. Essa coroa tem janelinhas redondas em seu redor, subindo ou
baixando a vontade. Ao baixar deixa, tal como as balizas de
sustentao, uma superfcie lisa, prolongando o formato da nave,
oblonga vista de perfil. Essas janelinhas no so de observao direta,
porm telas captadoras para diferentes usos. Assim, a nave j est
pronta. Vmo-la agora ser examinada pelos tcnicos, que testaro tudo.
Contudo falta ainda o mais importante. Nessa altura a
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nave j se movimenta conforme a vontade dos tripulantes: sobe,
baixa, movimenta-se de distintas maneiras e ngulos, mas ainda
inerme.
Atravs de nosso ponto de observao (a tela descrita
anteriormente) seguimos seus movimentos seguintes. Aproxima-se
agora de outro departamento, onde h umas cubas ou tinas tubulares
com capacidade aproximada de duzentos litros. Uma destas se separa
do grupo indo ao encontro da nave, que se aproxima a pouca altura,
at ficar sobre a mesma. Tudo se move sem interveno humana direta. A
nave desce lentamente sobre esse cilindro at dar a impresso de t-lo
tragado. Ao levantar-se novamente, leva-o em suas entranhas,
ficando no solo apenas a plataforma em que era transportado,
retornando esta ao seu lugar de origem. O leitor capaz de imaginar
o que seja esse cilindro? Pois, nada mais, nada menos que uma
terrvel arma, capaz de desintegrar tudo, absolutamente tudo de
qualquer distncia que se conceba. Alm do mais, produz vibraes
capazes de pulverizar edifcios em poucos minutos.
A parte grossa das paredes da nave mede umas dez ou mais
polegadas de espessura. O material transparente, tendo maior
visibilidade em sua parte inferior, na qual, em alguns casos, v-se
o giro dos volantes de suas maquinarias. So esses volantes que
produzem luminiscncias que aumentam ou diminuem de intensidade
segundo a zona em que operam. Esses volantes giram a diferentes
velocidades e os inferiores so os mais lentos.
Nossa nave, essa que seguimos os passos de sua fabricao, est
semi-acabada, faltando agora o polimento. Para esse processo vmo-la
flutuar suavemente e dirigir-se, assim, para outro departamento, at
chegar e situar-se no centro de uma gigantesca mquina provida de
uma srie de discos que giram grandes velocidades, movendo-se em
todas as direes at cobrir totalmente a nave, fazendo-a sumir-se da
nossa vista. Terminada essa operao, nossa nave est flamejante,
brilhante e pronta para qualquer tipo de prova. Sai ento ao espao
livre onde faz toda classe possvel de testes, evolucionando de
maneira incrvel. S vendo para acreditar, dentro de nossa
mentalidade.
As naves tubulares tm dispostas duas sries de volantes em todo
seu cumprimento, e segundo a sua longitude, chegam a ter at vinte
em cada eixo de grandes dimenses. Uma de suas caractersticas,
segundo meus amigos, quando lhes perguntei o que faziam quando
perdiam, em suas incurses, algumas delas, e eles garantiram que
assim acontece, que fazem-nas explodir sobre o mar depois de
recolher seus tripulantes, com o objetivo de evitar que os restos
caiam em mos ambiciosas. Cada nave, todas elas, tem sua maquinaria
composta de volantes de diferentes tamanhos, segundo as propores do
veculo. Acredito que no final, o princpio que utilizaremos para
propulsar as naves terrenas ser esse. H um dado interessante que
pode servir para nossos cientistas: de acordo com o tamanho da nave
o nmero e o dimetro de seus volantes e o nmero de fontes de
energia. No caso da pequena nave descrita acima, como dizia, no
maior que um assador de frango e a parte exterior ou cobertura est
coberta de pequenas perfuraes.
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6 EXAMINANDO O PASSADO
Prosseguindo com a narrao, vamos dar uma olhada no processo de
preparao dos alimentos. Dividi-lo-emos em duas partes, porque
efetivamente assim; so independentes, ou seja: uma parte do
material proveniente do mar e a outra, dos hortos de terrao.
Contudo, toda alimentao preparada em laboratrios. Comecemos com o
mar. So grandes fbricas flutuantes e cada uma delas conta com
viveiros formados por redes que as cercam at a grandes
profundidades; h tambm um lugar destinado, nos viveiros, para os
grandes peixes, algo que em nosso mundo vem se assemelhar a um
bebedouro, s que no nosso caso do viveiro, um lugar oxigenado. So
nesses grandes viveiros que se captam os peixes para estudo e
alimentao. Nessa mesma zona os peixes so alimentados com dietas
especiais que proporcionam magnficos resultados. Durante todo o
tempo que fiquei a observar o processo atravs daquela tela no
edifcio descrito anteriormente, no vi ser industrializado nenhum
peixe com menos de dois metros, mas, no foram poucos os que mediam
mais de quatro metros. Tambm no vi vrias espcies, como existem em
nossos mares da Terra. Todos os que vi sendo capturados tinham a
figura de um gigantesco salmo, de branca e sugestiva carne. Esses
enormes peixes passam, em seguida, por todo um processo que me
pareceu maravilhoso. Ao final do mesmo, saam convertidos numa
impalpvel farinha. Com isso j temos uma das matrias primas.
Como disse, a outra matria proveniente dos hortos de terrao.
Vamos explicar melhor. Eles conseguiram criar e desenvolver um tipo
de fruta, geralmente redonda e no maior que uma laranja pequena.
como as nossas frutas carnosas, mas sem fibras. Sua casca fina como
a da ameixa, mas sem caroo. Assim tinham me dito e eu comprovei
depois. Para resumir, essas frutas tambm acabam convertidas em
finssima farinha. A seguir ambas as farinhas so convertidas em
lquido, sendo transportado aos laboratrios atravs de um sistema de
tubulao e dali aos locais de consumo.
Foi num desses edifcios onde tambm vi o processo de construo dos
mesmos. Meus dois amigos asseguraram-me que naquele planeta haviam
mais indivduos da minha raa. Ao entrar no mesmo, dei-me conta que o
edifcio estava crescendo ou despregando-se do solo. Explicaram-me
que s o estavam aumentando. Seu processo de aumentar edifcios
inverso do nosso na Terra, coisa por demais lgica, pois, eles usam
os terraos como horto e campo de pouso para naves. Para que eu
pudesse ver, ao natural, o processo de aumento de edifcio,
levaram-me ao poro, lugar onde se leva a cabo essa operao. Percebi
ento, que esses no so mais que ruas subterrneas, atravs das quais
transitam veculos que movem os materiais destinados a construo.
Tambm por a que correm grossas tubulaes negras, atravs das quais,
so transportadas roupas, alimentos e tudo que necessrio para seus
habitantes. Mas sigamos com o edifcio. A todos os pores atravessam
umas colunas de umas vinte polegadas de espessura e so essas que
formam as armaes para os edifcios. No lugar em que nos
encontrvamos, tudo estava pronto para ser aumentado. Em cada uma
das colunas est colocado um macaco com formato de meia-cana,
abraado mesma, presa por meio de umas ranhuras. Esses ganchos
compem-se de vrias sees interiores; so pneumticos e conectam-se em
unies flexveis. Quando tudo est pronto, uma pequena mquina aplica
uma fora em todos e o edifcio levanta-se sobre eles. Os lances ou
segmentos de coluna, com uns dois metros de altura, por umas vinte
polegadas de espessura, so macios e em cada canto tm um acoplamento
que se ajusta com preciso. So sumamente levianos, a ponto de algum
poder lev-los debaixo do brao. Colocamnos um a um em cada buraco
mostra ao levantar o edifcio, ficando firmemente presos ali.
Depois, tiram a fora dos ganchos e o edifcio baixa, ficando
aumentado. Entram em cena agora os rematadores que colocam a caixa
dos elevadores, unidades autnomas providas de rodinhas em seus
lados, que rodam num cubo, acoplado em sees, semelhante as colunas.
No usam os perigosos e desajeitados cabos. Na parte exterior, s
desliza a cobertura em forma de arco e o oco descoberto recheado.
Saem os aparelhos carregados de material. um verdadeiro espetculo
ver-se um daqueles homenzinhos, comodamente sentado em cima de um
aparelho que me lembra uma aranha gigante e de assombrosa
maneabilidade. Acerca-se com segurana do lugar exato com seu rolo
de material. Outro homem montado num aparelho semelhante, mas sem
rolo algum e s provido de um pequeno instrumento que sujeita com ua
mo, ajustando com a outra o extremo do material no lugar em que ser
soldado, por que isso que fazem, nem mais nem menos. Com os ps
movem os controles de seus aparelhos que o sobe e desce em seu
cmodo assento. Quando o extremo do rolo trazido pela primeira
mquina ficou preso, os dois aparelhos caminham, um levando o rolo e
o outro soldando-o em seu lugar. Assim em menos tempo que levo para
contar isso, eles terminam sua tarefa.
Pois bem. Tudo o que vi aqui, pessoalmente, vi de novo, depois,
num dos edifcios de controle, s que aqui, em forma de projeo,
estudando o trabalho realizado em diferentes ngulos, algo que
interessante pelos detalhes que mostra. Ainda nesse mesmo edifcio
de controle localizaram e falaram com os dois outros terrestres e
prontificaram-se em fazer uma entrevista com eles, algo que serviu
para aquilatar o grau de eficincia de suas comunicaes. Comprovei
depois, que os dois indivduos da Terra estavam no outro lado do
planeta, algo assim como do Mxico a China. Ficaram sabendo que os
dois no eram espanhis, mas franceses que tinham chegado ao planeta
cinco anos antes.
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Num desses edifcios tambm pude admirar algo que me chamou a
ateno. Era algo relacionado com o seu passado e seu sistema de
transportes e alimentao. 0 primeiro referia-se a uma bola
transportadora e foi o tipo que culminou em eficincia e rapidez.
Depois dela, veio o transporte areo capaz de cobrir grandes
distncias. Esse meio passou a histria. Tratava-se de uma bola
gigante, maior que a nave esfrica que usamos. Dividia-se em trs
sees, e as duas unies que a fechavam, era sua superfcie de
rolamento. Circulava nuns canais que alojavam mais da metade do
transporte. Em razo de sua enorme circunferncia, devia alcanar
grandes velocidades, pois os trilhos eram sumamente lisos. Porm a
coisa no pra a. Podia-se chamar a esse meio de transporte
velocidade por inrcia, pois no usavam qualquer tipo de propulso.
Meus amigos fizeram-me uma demonstrao com um modelo pequeno e o vi
subir a uma altura de quatro metros. Teria subido quinhentos se, a
demonstrao no terminasse a. As estaes de paradas eram cubos do
mesmo dimetro que a bola, parando pela ao do ar que era comprimido
dentro dele. Esse cubo, ou tnel, estava provido de comportas e
vlvulas para dar sada ao aparato.
Outra coisa que me chamou a ateno foi seu primitivo meio de
produzir legumes em tempos remotos. Eles tinham me dito que houve
uma poca em que cultivaram maior nmero de legumes que ns
conhecemos. Assim, quando tive oportunidade, perguntei-lhe, se no
haveria maneira de conhecer os meios que se valiam para
consegui-lo. Como tnhamos pouco tempo disponvel, entramos num
edifcio de controle, buscando uma reproduo daquele antigo meio.
Disseram-me que veria ali em modelo, mas que me demonstrariam
depois se houvesse tempo. Produziam legumes perfurando o solo na
profundidade que quisessem. Ali faziam cortes em circunferncia,
dando uma forma de ngulo ou de repiso, de modo a parecer uma srie
de cones superpostos com a parte estreita para cima. Esse tipo de
horta possua vrias janelas, sendo que a principal colocava os
legumes ali cultivados a salvo dos raios solares, por que naquele
tempo ainda no sabiam se proteger dos mesmos. A segunda vantagem
desse sistema era que, numa superfcie pequena, conseguiam grandes
produes e com pouco esforo, j que desde os tempos primitivos usavam
- com eficincia - sistema de elevadores. Segundo meus amigos eles
tiveram hortas desse tipo, com centenas de pisos.
Relatarei agora algumas coisas relacionadas com o mar. Comearei
com alguns modelos de barco. Dizia antes que eles no se parecem com
os nossos. Mais de uma vez cheguei a pensar que a diferena entre os
deles e os nossos veculos martimos deve-se ao fato de o mar daquele
planeta ser mais denso ou mais leve. No perguntei isso a meus dois
amigos, por que quando l estava no tinha me ocorrido essa hiptese.
Percebi um modelo, cujo casco era plano, mais semelhante a um
lancho rudimentar de lento velejar que um navio de grandes
velocidades. Esse tipo foi desenhado para cargas, e compe-se de
galerias que correm em seu comprimento, havendo entre uma e outra,
uma parede fechada e oca, cujas sees esto