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Linguagem em (Dis)curso, Palhoa, SC, v. 10, n. 1, p. 13-42,
jan./abr. 2010
GNEROS TEXTUAIS E REESCRITA: UMA
PROPOSTA DE INTERVENO PARA O ENSINO DE LNGUA MATERNA
Adair Vieira Gonalves*
Resumo: Fundamentos do quadro epistemolgico do interacionismo
sociodiscursivo e dos pressupostos bakhtinianos ressoam neste
artigo, cujo objetivo principal o de averiguar os possveis
benefcios, para o ensino de lngua portuguesa, de dois instrumentos
pedaggicos: sequncia didtica e lista de controle/constataes, que so
ferramentas exploradas pelos pesquisadores de Didtica das Lnguas da
Universidade de Genebra, como potencializadoras do ensino.
Decorrentes deste objetivo, avaliamos as capacidades de ao,
discursivas e lingustico-discursivas de uma produo escrita do gnero
resumo acadmico e as distintas interaes ocorridas durante as
intervenes escritas. A anlise possibilita a concluso de que tais
ferramentas constituem instrumentos didticos da mestria de prticas
de linguagem (re) configuradas em gneros textuais. Palavras-chave:
sequncia didtica; lista de controle/constataes; gneros;
interao.
1 INTRODUO
Este trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla (GONALVES,
2007) desenvolvida no mbito da Lingustica Aplicada, mais
especificamente em relao ao Ensino de Lngua Materna, em que
pretendemos analisar o impacto de Sequncia Didtica (daqui para a
frente, SD), considerando-a ferramenta terico-metodolgica para o
ensino de lnguas (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004), e sua estreita relao com
outra ferramenta, intitulada lista de controle (grille de contrle)
pelo grupo de Genebra. Dadas as peculiaridades deste trabalho
em
* Professor da Universidade Federal da Grande Dourados. Doutor
em Lingustica. Email:
[email protected].
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relao ao europeu, denominamos tal dispositivo de lista de
controle/constataes1.
A partir das questes acima, neste artigo trataremos da reescrita
textual, neste caso especfico, do gnero resumo acadmico. Para
atingirmos tais objetivos, o artigo apresenta a seguinte
configurao: no primeiro tpico, trataremos sucintamente do
dispositivo SD. No segundo, abordaremos as prticas dialgicas de
interveno em textos a partir das listas de controle/constataes, que
so enunciados sintetizadores das atividades e dos mdulos didticos
trabalhados numa SD. Em seguida, analisaremos uma produo escrita e
a sua reescrita, alm de dados coletados (antes e depois da SD);
finalmente, verificaremos as interaes distintas no momento de
reportar-se lista de controle/constataes, quais sejam: interao
professor-aluno, do aluno A com aluno B e, por fim, do aluno
consigo mesmo. Finalmente, apresentaremos os resultados a que
chegamos a partir da anlise efetuada.
2 O DISPOSITIVO PEDAGGICO SEQUNCIA DIDTICA
A denominao Sequncia Didtica (SD) surgiu no Brasil a partir da
publicao dos Parmetros Curriculares Nacionais (1998). Os documentos
oficiais destinados s sries iniciais do Ensino Fundamental (BRASIL,
1998), quando abordam o tratamento didtico dos contedos, exploram,
mesmo que timidamente, noes como as de projetos e atividades
sequenciadas. Cristovo e Machado (2006) afirmam que, quando surgiu
a designao SD, este termo no estava atrelado ao estudo dos gneros,
mas a diferentes objetos do conhecimento.
Uma sequncia didtica, de acordo com Dolz et al. (2004), um
conjunto de atividades planejadas, de maneira sistematizada, em
torno de um gnero textual oral ou escrito. Para Dolz e Schneuwly
(2004, p. 53), as SDs procuram favorecer a mudana e a promoo dos
alunos ao
1 Esta questo j foi discutida por ns a partir de outros gneros,
tais como o Artigo Opinativo e a
Resenha Crtica e at mesmo a partir do gnero Resumo Acadmico (Cf.
GONALVES, 2007, 2008, 2009). Nosso objetivo , aqui, o de apresentar
resultados das pesquisas anteriormente desenvolvidas.
GONALVES Gneros textuais e reescrita...
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domnio dos gneros e das situaes de comunicao. O ponto de partida
para a produo de uma SD deve ser sempre a observao das capacidades
evidenciadas pelos alunos numa produo escrita, por exemplo. Segundo
esses dois autores (2004), as SDs so organizadas a partir de um
projeto de apropriao das dimenses constitutivas de um determinado
gnero textual, neste caso, o resumo acadmico. Os objetivos das SDs
so: i) proporcionar situaes efetivas de comunicao; ii) favorecer a
planificao dos textos; iii) favorecer a produo/leitura/escuta de
atividades diversas em relao aos gneros em estudo; iv) desenvolver
capacidades acionais, discursivas e lingustico-discursivas.
Bronckart (2004) constata que fazer intervenes por meio de SD
conduz a importantes transformaes das atitudes pedaggicas e
constitui um excelente meio de formao de professores. De maneira
sinttica, as capacidades de ao so responsveis pela anlise das
representaes do contexto de produo. As capacidades discursivas
dizem respeito anlise da infraestrutura geral do texto: estrutura
do texto, tipos de discurso e tipos de sequncia. Por fim, as
capacidades lingustico-discursivas correspondem, em sntese, anlise
dos mecanismos de textualizao (coeso verbal e nominal) e dos
mecanismos enunciativos (vozes e modalizao).
3 PRTICA DIALGICA DE INTERVENO EM TEXTOS
Diversos pesquisadores j apontaram os benefcios das interaes
escritas ou orais nas produes dos estudantes, entre estes Ruiz
(2001), Buin (2006, 2007), Gonalves (2007). Com o foco no ensino da
escrita e a nfase na reescrita de textos (BAZARIM; GONALVES, 2009),
o docente pode lanar mo de diferentes instrumentos para fazer as
intervenes nas produes dos estudantes em qualquer nvel de ensino,
tais como: bilhetes orientadores, listas de controle, orientaes
orais tuteladas. Esses instrumentos sero mais ou menos eficientes
dependendo do tipo de articulao entre eles e as prticas
desenvolvidas em sala de aula. Isso, de certa forma, amplia a
concepo de correo de textos tradicionalmente vista como uma
atividade isolada em que o professor apenas marca os erros
cometidos pelos alunos em seus textos, para uma rede de atividades
organizadas e sistematizadas que
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utilizam diversos instrumentos em diferentes momentos da cadeia
de produo textual (BAZARIM; GONALVES, 2009). Acreditamos que a
interveno, independente da modalidade, deve ser interativa. Segundo
Bakhtin e Voloshinov (1997), na interao entre interlocutores que
reside o princpio fundador da linguagem.
O sentido do texto e a significao das palavras dependem da relao
entre sujeitos, ou seja, constroem-se na produo e na interpretao
dos textos; a intersubjetividade anterior subjetividade, pois a
relao entre os interlocutores no apenas funda a linguagem e d
sentido ao texto, como tambm constri os prprios sujeitos produtores
do texto. (BAKHTIN, apud BARROS, 1997, p. 30-31).
Teberosky (2000, p. 23) afirma que a interveno/correo interativa
no s um meio, mas assume a qualidade de um objeto, quando os
usurios no s interpretam ou repetem a mensagem, mas tambm a
produzem ou a contemplam; ento o ato de escrever assume novas
funes. A autora afirma que escrever e escrita melhoram, e o
produtor da escrita se v afetado por seus prprios produtos (2000,
p. 23). Teberosky ainda sustenta que a materializao da mensagem
escrita permite ao estudante ou a qualquer pessoa que escreve
objetivar melhor seu pensamento, uma vez que se cria uma distncia
entre produtor/produto de sua atividade (resumo acadmico, por
exemplo). Assim, devido permanncia temporal da escrita, pode-se
voltar ao texto para retoc-lo e transform-lo seja no lxico, no
contedo e na organizao da mensagem ou na correo da forma
(TEBEROSKY, 2000, p. 23). Por isso, comentrios dialgicos precisos
podem trazer grandes contribuies produo e ao processo incessante de
construo de sentidos (cf. RUIZ, 2001). Bucheton (1995) afirma que,
normalmente, na reescrita de um texto, h maior desenvolvimento da
heterogeneidade do discurso. Tal fato se confirma em nossas
anlises, uma vez que os estudantes se reportam mais ao texto-base
marcando os discursos (seu e do autor) de formas distintas. Ainda
que neste texto tal heterogeneidade no seja modelar, h atribuio de
aes ao autor emprico, alm de uma tentativa de diferenciao entre o
texto de partida (T1) e o texto resumido pelo aluno, ou texto de
chegada (T2). GONALVES Gneros textuais e reescrita...
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Pasquier e Dolz, no declogo para ensinar a escrever (1996, p.
8), afirmam que a reescrita para os jovens estudantes uma espcie de
cegueira [...]. Os alunos introduzem algumas modificaes,
concentram-se em modificaes, em alguns erros superficiais como a
correo de ortografia e a substituio de algumas palavras por outras.
Constatam ainda os autores que tal procedimento de reescrita
ineficaz, na maioria das vezes. O professor coteja duas verses de
um mesmo estudante e as modificaes so mnimas. Pasquier e Dolz
asseguram que a reviso (deve ser) parte integrante da escrita: A
releitura, a reviso e a reescrita de um texto so atividades que
tambm se aprendem (p. 9), opinio compartilhada por ns. Os autores
tambm destacam que deve haver, no processo de escrita de um gnero
textual, um tempo entre a primeira verso e a segunda. Este tempo
necessrio para que os estudantes reflitam sobre sua produo e
construam ferramentas lingustico-discursivas para operar melhor sua
produo. Para os autores, a reviso constitui um dos momentos fortes
da aprendizagem da produo de um texto (PASQUIER; DOLZ, 1996, p. 9).
possvel, com as intervenes interativas, auxiliar os estudantes,
principalmente na modalidade escrita da lngua, a construir e
desconstruir o mundo, os sentidos. Sobretudo, possvel ajud-los
cognitivamente na obteno de conhecimentos adequados ao gnero em
produo: atribuio de aes ao autor do texto original, retomadas
anafricas nominais, etc. Fazemos, pois, emergir a reflexo
bakhtiniana a respeito do movimento dialgico. O autor afirma
que
[...] compreender a enunciao de outrem significa orientar-se em
relao a ela, encontrar o seu lugar adequado no contexto
correspondente. A cada palavra da enunciao que estamos em processo
de compreender, fazemos corresponder uma srie de palavras nossas,
formando uma rplica [...] A compreenso uma forma de dilogo; ela est
para a enunciao assim como uma rplica est para outra no dilogo.
Compreender opor palavra do locutor uma contrapalavra (BAKHTIN,
1997 [1977]p. 131-132).
Rocha (2003) diz que durante a primeira produo de um texto, os
estudantes ficam centrados em questes como: o que dizer, como
dizer,
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que palavras usar2. Constata, principalmente, que, na segunda
verso do texto, o estudante tem aumentadas as possibilidades de
dizer mais, dizer de outro jeito, analisar e/ou corrigir o que foi
dito3, tencionando aumentar sua eficcia lingustica escrita, ideia
comprovada neste artigo. Ges (1993, p.102), ao tratar do processo
de reviso de textos de alunos, menciona que a tendncia que aparece
a de limitar a tarefa de revisar, privilegiando mudanas de
superfcie, que no afetam o significado dos enunciados [...]. A tese
de Ges vai na direo contrria nossa, tendo em vista que, no corpus,
os estudantes, mediados pela SD e pela lista de
controle/constataes, realizaram mudanas significativas em vrios
aspectos: na distribuio das vozes e na utilizao de verbos que
distinguem o falar do texto de partida e do texto do estudante.
A partir das reflexes acima, a lista de controle/constataes,
ferramenta dialgica de interveno dialogada ou escrita, pode
constituir-se em instrumento poderoso para a interao
professor/aluno. Cassany (2000, p.81) assevera que a lista de
controle serve de registro e anlise dos erros cometidos em cada
produo escrita. Trata-se de uma tcnica minuciosa que oferece vrias
possibilidades didticas. Ela serve para estabelecer o progresso
realizado por cada estudante, pela classe, e assim por diante, e
para registrar os erros que se repetem e os que so superados4.
Bain e Schneuwly (1993) defendem a ideia de a lista de
controle/constatao ser uma sntese das atividades desenvolvidas nos
diferentes mdulos de uma SD. Ns acreditamos que ela deve conter as
capacidades de ao, discursivas e lingustico-discursivas
desenvolvidas ao longo da sequncia e, sobretudo, ser uma retomada
das atividades desenvolvidas. Ela pode ser formulada
gradativamente, isto , cada item pode ser a sntese de um mdulo, alm
de poder ser feita pelos alunos e mediada pelo professor.
2 Grifos da autora 3 Grifos da autora. 4 No original: la hoja de
control sirve de registro y anlisis de los errores cometidos en
cada
escrito. Se trata de una tcnica muy minuciosa [...] y que ofrece
varias possibilidades didcticas. Diz ainda que a lista serve para
establecer el progreso realizado por cada alumno, por la clase, etc
y registrar los errores que se repiten y los que se han superado
(Cassany, 2000, p.81. Traduo nossa).
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Gonalves (2007) verificou a necessidade de se construir tantas
listas quantos forem os gneros transpostos didaticamente para a
sala de aula. Principalmente, as listas favorecem a retomada dos
conceitos-chave desenvolvidos e, sobretudo, criam uma espcie de
linguagem comum do gnero em estudo. importante destacar que, antes
de construir a SD e a lista, muito importante que o professor
conhea o modelo didtico do gnero5.
4 ASPECTOS METODOLGICOS
Nesta seo, apresentamos os procedimentos metodolgicos para a
anlise posterior. No primeiro quadro, mostramos o nmero/nome do
mdulo, a data de sua aplicao e, por fim, o seu objetivo principal.
Na segunda, dividimos, esquematicamente, as questes que motivaram a
lista de controle/constataes. Em seguida, apresentamos a lista de
constatao/controle do gnero em anlise e, por fim, a avaliao das trs
capacidades implicadas: de ao, discursivas e
lingustico-discursivas6.
Em sala de aula, depois de aplicadas as SDs e com a primeira
produo em mos, tomamos um cuidado adicional, qual seja, o de
intervir de trs distintas maneiras nas produes escritas. Na
primeira, fizemos a interveno no texto do estudante, (P-A). Na
segunda, o prprio aluno, a partir da lista de constataes, faz a
reescrita (A-A). Na terceira (A1-A2), em duplas, um estudante faz
apontamentos na produo do outro estudante. Portanto, pretendemos
averiguar se, mudando-se a forma de interveno, mudam os resultados.
Dessa forma, antes de cada anlise, apresentam-se, por meio das
siglas, o gnero e a forma de interveno.
5 A respeito de modelo didtico de gneros, ler Schneuwly &
Dolz (2004). 6 Para aprofundamento do leitor a respeito das
capacidades de ao, discursivas e lingustico-
discursiva, remetemo-lo a Schneuwly & Dolz (2004).
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Gnero: Resumo de artigo opinativo/ Nomes dos mdulos
N do mdulo7
Aplicao em sala de aula
Objetivo do mdulo8
1 verso do texto - 26/1/20069 Delimitar as capacidades de que os
alunos dispem e orientar a SD.
O Gnero resumo 1 31/1/2006 Apresentar as caractersticas bsicas
de um resumo e diferenci-las, em termos qualitativos.
O Gnero resumo escolar/acadmico e outros gneros
2 7/2/2006 Mobilizar representaes dos mundos fsico e social
(contexto de produo dos textos) e constatar os possveis suportes do
gnero.
Sumarizao: processo essencial para a produo de resumos
3 7/2/2006 Estudar, por meio de exerccios prticos, um processo
essencial para a produo de resumos: a sumarizao.
A influncia dos objetivos na sumarizao
4 10/2/2006 Trabalhar a interao, isto , escrever para um
interlocutor potencial.
A compreenso global do texto a ser resumido
5 10/2/2006 Estudar neste mdulo a compreenso global de um texto
a ser resumido
A localizao e explicitao das relaes entre as ideias mais
relevantes do texto
6 14/2/2006 Estudar os mecanismos de textualizao: conexo e
segmentao, ou seja, explicitar as relaes entre as ideias mais
relevantes do texto.
Meno ao autor do texto resumido
7 14/2/2006 Avaliar a retomada anafrica, ao referir-se ao autor
do texto (coeso nominal).
Atribuio de atos ao autor do texto resumido
8 17/2/2006 Verificar a atribuio de atos ao autor do texto
(processo de gerenciamento de vozes).
Recapitulao dos procedimentos para a
9 17/2/2006 Discutir, em conjunto com a turma, caractersticas
peculiares
7 A fim de facilitar o trabalho e uniformizar a nomenclatura,
chamamos todas as etapas das SDs de
mdulos, ao contrrio de Machado (2004), que denomina o mesmo fato
de seo. 8 Estes objetivos so atribuies do professor-pesquisador aos
atos de linguagem dos autores da
Sequncia Didtica. 9 As aulas na COEB, Cooperativa de Ensino de
Birigui, local onde foi feita a pesquisa, comearam
no dia 26/1/2006, em virtude da necessidade do cumprimento dos
200 dias letivos. Os nomes das sees foram extrados da SD de
Machado, Lousada e Abreu-Tardelli (2004).
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produo do resumo ao gnero estudado Apresentao e discusso da
lista de constataes/controle
- 20/2/200610 Verificar a aprendizagem do gnero, aps a SD.
Quadro 1 O movimento/objetivos da SD sobre Resumo de artigo
opinativo na sala de aula.
A fim de facilitar o trabalho de anlise dos dados coletados e
seguindo as orientaes terico-prticas do grupo genebrino , a lista
de controle/constataes foi dividida em quatro grupos: questes
relativas ao contexto de produo; questes relativas organizao geral
do resumo; questes referentes textualizao; e questes gramaticais.
Das divises efetuadas a seguir, surgiram 10 (dez) questes que
comporo nosso guia de anlise das produes escritas.
Questes relativas ao contexto de produo.
a) A que questo o autor Marcelo Leite11 responde em seu texto,
isto , qual o contedo temtico?; b) Quem o autor? Para qual jornal
ele escreve e em que seo? Qual o seu papel social?; c) A quem se
enderea o texto?
Questes relativas organizao geral do resumo.
a) H uma parte para apresentar a questo discutida?; b) Como so
ordenadas as informaes prioritrias para este contexto de produo
especfico?; c) O resumo uma unidade de compreenso por si s, isto ,
possvel compreend-lo sem ter de recorrer ao original?; d) O resumo
evita opinies pessoais e est adequado ao professor e, depois, ao
jornal escolar com o intuito de apresentar as informaes essenciais
a pessoas com pouco tempo de leitura para informar-se?
Questes relativas textualizao.
a) O estudante usa verbos de elocuo (ou de dizer) para
referir-se ao discurso de outrem?; b) O estudante diferencia sua
voz da voz do autor resumido?; c) Utiliza organizadores
lgico-discursivos adequadamente?; d) Elimina expresses repetitivas
e desnecessrias?
Questes relativas microestrutura.
H desvios de acentuao, pontuao, concordncia, ortografia,
etc.?
Quadro 2 As questes motivadoras da Lista de
Controle/Constataes.
A partir das questes do Quadro 2, e, sabendo da necessidade de
trabalhar as diferentes capacidades de linguagem (de ao,
discursivas e
10 Neste dia, houve a reescrita de textos em sala de aula. 11 O
texto de Marcelo Leite referenciado no final deste artigo
serviu-nos como texto de partida para
a produo dos resumos acadmicos.
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lingustico-discursivas), apresentamos a Lista que nos serviu
como ferramenta de anlise das produes escritas. Ei-la:
1) Antes de resumir, voc detectou a questo discutida, os
argumentos, o ponto-de-vista defendido, o ponto-de-vista rejeitado
e a concluso?
2) Seu resumo apresenta dados como o nome do autor do texto
resumido e o ttulo do texto original?
3)Voc selecionou as informaes prioritrias, de modo que o
professor possa avaliar sua compreenso global do texto?
4) Seu resumo compreensvel por si mesmo, isto , possvel
compreend-lo sem ler o texto original?
5) Evitou emitir suas prprias opinies?
6) O resumo escolar produzido est adequado ao seu
interlocutor-professor e ao suporte escolar?12 Conseguiu transmitir
o efeito de sentido desejado?
7) Voc atribui, a partir da leitura, diferentes aes ao agir do
autor do texto original? Procurou traduzir estas aes por verbos
adequados? Voc se refere a ele de formas diferentes?
8) Seu resumo mantm as relaes sinttico-semnticas (explicao,
causa, concluso) do texto original?
9) Voc eliminou expresses facilmente inferidas pelo contexto
tais como expresses sinnimas, explicaes ou exemplos?
10) No existem desvios gramaticais tais como pontuao, frases
truncadas/incompletas, erros ortogrficos, etc.?
Na terceira coluna de cada produo13, dividimos os textos
escritos em trs subitens: contexto de produo, planificao e, por
fim,
12 Estamos entendendo como adequado ao professor a produo que
atinge, integralmente, a
consecuo de um resumo acadmico, nos moldes da Lista de
Constataes/Controle e da SD utilizada.
13 As informaes relativas ao contexto de produo, planificao e
questes relativas textualizao servem de parmetros para os docentes
efetuarem anlises e fazerem suas intervenes pedaggicas. Por isso, a
coluna da direita (3) mapeia as capacidades j adquiridas e as
capacidades a serem adquiridas posteriormente. Assim, esta coluna
no direcionada a
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mecanismos de textualizao e enunciativos, atendendo constituio
do folhado textual de Bronckart (2003)14. Assim, foram avaliadas as
seguintes capacidades de linguagem.
Gnero Objetivos Planificao Coeso e
mecanismos de conexo
Vozes Modalizao
Resumo acad-mico
a) Enviar texto para destinatrio mltiplo (leitores do jornal15 e
professor). b) Fazer o pblico eventual do jornal tomar conhecimento
dos aspectos prioritrios do texto-base. (objetivo)
a) Apresentar uma parte introdutria em que haja a distino do T1
e do T216, alm de apresentao dos contedos das diferentes partes/
momentos do texto-base. b) H coerncia entre informaes resumidas e o
texto-base? uma parfrase?
a) Presena de organizadores lgico-argumentativos como: j que,
etc. marcando a funo de segmentao, empacotamento, encaixamento e
ligao
a) Trabalha as diferentes vozes, tais como a do prprio estudante
e a do autor emprico do texto-base?
a) Reconhece e utiliza diversas marcas modais (advrbios,
auxiliares, verbos no futuro do pretrito, palavras de valor modal,
etc)?
Quadro 3 Sinopse das capacidades observadas.
estudantes (no caso especfico desta pesquisa), mas aos docentes,
eventuais leitores deste trabalho acadmico.
14 Para aprofundamento dos mecanismos enunciativos que compem o
folhado textual, direcionamos o leitor a Bronckart (2003).
15 Os destinatrios so diversos e podem ser constitudos por
alunos da mesma instituio, professores, diretor de escola, pais; em
sntese, no especialistas. Aqui, retomando Bakhtin (2000) e Garcez
(1998), quando escrevemos, no temos unicamente um leitor concreto e
particular em nossa mente, mas as representaes de leitor/autor com
as quais se almeja identificar, como um conjunto de representaes e
de ideias difuso e complexo com o qual o agente-produtor pretende
contribuir. Esse destinatrio est sempre presente norteando o
trabalho do produtor.
16 O T1 o texto de apoio a partir do qual se gera o T2,
produzido, neste caso, pelo estudante.
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5 ANLISE E RESULTADOS DO CORPUS
5.1 Anlise das produes escritas
Nesta seo do artigo, nosso interesse est focado na anlise de
um17 exemplar do gnero resumo acadmico. Cada produo, como j
alertado, apresenta duas verses: a inicial (antes da aplicao da SD)
e a segunda verso (aps a SD). Em seguida, fazemos uma anlise
interpretativa das duas verses e, por fim, apresentamos dados
qualitativos e quantitativos das dez produes investigadas.
Primeira Produo: Truculncia na internet
Lista de constataes Capacidades presentes e no-presentes
A indstria fonogrfica norte-americana iniciou 261 processos
judiciais contra pessoas que baixaram da internet canes protegidas
por direitos autorais. Nada parece mais correto do que fazer
reverter para o artista o fruto de seu trabalho, mas na vida
prtica, todo direito enfrenta limitaes. Nesse caso como processar
todos que fazem downloads? uma utopia! A justia no abarcaria tanto
processo e isso no reverteria o problema, pois os preos esto
exorbitantes. No entanto, Cary Sherman, presidente da Associao da
Indstria Fonogrfica dos Estados Unidos disse ao jornal
1) No detectou tese, argumentos e concluso adequadamente. 2) No
apresenta dados como nome do autor, seo e local de publicao. 3) No
est adequado a um resumo acadmico; selecionou informaes
no-prioritrias, como o ltimo pargrafo. Fez cpia literal do T1. 4)
compreensvel por si mesmo. 5) No h opinies. 6) No est adequado.
(ver nota de rodap adiante). 7) No h atribuio de aes. No se refere
ao autor de formas diversas; ao contrrio, tudo
Contexto de produo a) No dirige o texto a destinatrios mltiplos.
b) O pblico toma conhecimento das informaes, mas, provavelmente
perguntar-se-: o que isso? Quanto Planificao a) No h distino entre
T1 e T2. As informaes consideradas prioritrias das diversas partes
do texto foram apresentadas. O contedo temtico foi desenvolvido na
ordem em que apareceram os pargrafos do T1. H informaes
no-prioritrias (cpias de alguns trechos do texto) b) H coerncia
parcial (cf.anlise abaixo). cpia do original. Quanto textualizao a)
Organizadores lgicos, em sua maioria, de encaixamento e de ligao
(e, pois, que etc.). Presena de organizadores
17 Nosso corpus composto por 20 exemplares do gnero resumo
acadmico. Em nossa pesquisa de
2007, analisamos dez dessas produes. Para a constatao de todo o
corpus, remetemos o leitor a Gonalves (2007).
GONALVES Gneros textuais e reescrita...
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The New York Times que Ningum gosta de bancar o truculento e ter
de recorrer a processos, mas a justia se tornou o nico meio de
frear essa atividade ilegal, atacando alguns (os que mais copiam).
Contudo, desconsidera que a maioria dos criminosos (os que fazem
downloads) faz isso por hobby e no para fins lucrativos. E que
faz-se necessrio criar uma nova maneira de coibir os
espertinhos.
escrito como se fosse do estudante. 8) Mantm as relaes lgicas do
texto-matriz (pois, no entanto, etc). 9) H expresses desnecessrias,
tais como: nada parece mais correto, que poderiam ser substitudas
por sinnimas; h pargrafo desnecessrio. 10) H desvios relativos
norma padro.
demarcando fases de sequncia (contudo, no entanto). b) No h
distino de vozes. A voz do aluno (expositor) a voz do autor do
texto emprico. Traz apenas a voz de Cary Sherman. c) Presena de
modalizaes lgicas, por ex., em a justia no abarcaria...; ao
levantar a hiptese de a indstria no ser eficiente no combate ao
download de msicas da internet. Alm disso, h modalizao dentica em
faz-se (sic) necessrio... ao apresentar como do domnio da obrigao
social termos de arrumar instrumentos de coibio dos
internautas.
Quadro 4 Produo inicial.
Reescrita: Truculncia na internet
Lista de Constataes Capacidades presentes
Em seu texto Truculncia na internet, Marcelo leite nos informa
que a indstria fonogrfica norte-americana iniciou 261 processos
judiciais contra pessoas que baixaram da internet canes protegidas
por direitos autorais e concorda em fazer reverter para o artista o
fruto de seu trabalho, mas lembra que na vida prtica todo direito
tem limitaes. E diz que a justia no abarcaria tanto processo e que
isso no reverteria o problema, pois os preos dos Cds esto muito
altos. Leite cita Cary Sherman, presidente da Associao da Indstria
Fonogrfica dos Estados Unidos, quando disse
1) Tese, argumentos e concluso de acordo com o texto-matriz. 2)
O estudante apresenta dados como nome do autor, ttulo do texto. 3)
Selecionou as informaes essenciais, demonstrando compreenso global
do texto. 4) Compreensvel por si mesmo. 5) No h opinies do
estudante. 6) Adequado, completamente, ao interlocutor-pesquisador
e ao suporte. 7) H atribuies de aes como: comenta,
Contexto de Produo
a) Texto adequado a mltiplos leitores. b) Atinge seu objetivo:
informar o prioritrio ao pblico leigo. Quanto Planificao
a) Distingue T1 e T2 e planifica o contedo temtico da seguinte
forma: a tese e a ressalva (direito enfrenta limitaes) aparecem no
1 parg. O 2 parg. argumenta em favor da justia para reparar
problemas. O 3 parg. (concluso) afirma ser necessria outra forma de
ganhar dinheiro. b) uma parfrase e h
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ao jornal The New York Times que ningum gosta de bancar o
truculento e recorrer a processos, mas a justia o nico meio de
frear uma atividade ilegal que est causando prejuzo. O autor tambm
comenta a esperteza dos empresrios indo atrs dos que fazem a
distribuio das msicas e no dos que fazem a copiazinha domstica. E
termina seu texto dizendo que essa prtica de baixar msicas da
internet j se tornou mais um vcio do que algo para se lucrar, e
impedi-la soa como censura e que fica cada vez mais difcil
controlar a cpia e o intercmbio de produtos culturais, tornando-se
necessrio uma nova maneira de coibir tais prticas.
dizendo, controlar. Refere-se ao autor, de formas variadas:
Leite, o autor, retomadas por elipse, etc. 8) Relaes
sinttico-semnticas de acordo com o original (mas, e), alm de ideias
implcitas. 9) No elimina a ideia da verso anterior tida como
desnecessria, mas atribui-lhe a voz (presidente da Associao
Fonogrfica.) 10) No h desvios de norma padro.
coerncia com as informaes do T1. Quanto Textualizao a)
Prevalecem, como na verso anterior, o encaixamento e a ligao dos
organizadores lgicos (e, que, pois, quando, mas) b) H distino, em
vrios trechos do texto, das vozes. De um lado, a voz do expositor e
de outro a voz do autor emprico. c) H presena de modalizaes lgicas,
evidenciadas pelo futuro do pretrito: abarcaria, reverteria,
servindo para avaliar o contedo temtico.
Quadro 5 Produo final.
No h, na primeira verso, uma explicitao da tese defendida pelo
agente-produtor: o reconhecimento dos direitos autorais e a
dificuldade extrema de coibir a prtica em tempos de informtica
(segundo, terceiro e quarto pargrafos). A segunda verso foi
produzida aps a SD. Houve uma distncia temporal de trs semanas
entre uma verso e outra. A primeira verso data de 26/1/2006; a
segunda, de 20/2/2006. Est evidente, logo no primeiro pargrafo, a
tese defendida por Marcelo Leite no artigo original: reverter os
direitos autorais, mas como coibir a prtica? Ou seja, possvel
compreend-lo, ainda que no tivssemos conhecido o texto-matriz, j
que o agente-produtor deixa claro que se trata de um resumo a
partir de um texto intitulado Truculncia na Internet, de autoria do
articulista da Folha de S. Paulo, Marcelo Leite.
As ideias, na segunda verso, esto todas no texto-matriz e foram
adequadamente reescritas na verso em anlise. As relaes
lgico-semnticas tambm esto explcitas nesta verso. Por ex., no
segundo pargrafo: [...], mas lembra [...], h outros conectivos
como: que, e, GONALVES Gneros textuais e reescrita...
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pois, alm de pronomes relativos. Outro importante crescimento
qualitativo observado refere-se atribuio de aes ao texto resumido.
Na segunda verso, o estudante, no primeiro pargrafo, nos diz: [...]
Marcelo leite nos informa [...]; [...] e concorda [...]; [...] e
diz [...]. No segundo e no terceiro pargrafos h os verbos citar,
dizer, comentar. Ou seja, tal item revela a importncia de trabalhar
a SD, nos termos de Schneuwly e Dolz (2004). Outro benefcio diz
respeito retomada do autor Marcelo Leite. No primeiro pargrafo, h a
nomeao do agente-produtor Marcelo Leite e, por diversas vezes, ele
retomado por elipse. No segundo pargrafo, continua a retomada de
Leite por elipses. No terceiro, h a anfora direta no trecho: O
autor tambm comenta [...] e, novamente, retoma-se por elipses.
Enfim, trata-se de um exemplar do gnero resumo escolar/acadmico
autntico.
Quanto organizao do contedo temtico, o estudante vai resumindo
as informaes de acordo com a ordem de apario, de forma a distribuir
os contedos em trs pargrafos. No primeiro, condensa as informaes
dos seis primeiros; no segundo, condensa as informaes do stimo
pargrafo; na concluso, h condensao dos trs ltimos pargrafos. Outro
fator importante a distino das vozes na segunda verso do texto.
Atribumos esse fato ao mdulo de nmero 8 da SD, em que se procurou
trabalhar a atribuio de aes ao autor emprico do texto. Assim, o
estudante domina satisfatoriamente o contexto de produo, a
planificao e a textualizao. A SD, atrelada lista, foi responsvel,
acreditamos, por essa proficincia qualitativa da verso final.
Geraldi (1995) afirma que a linguagem o lugar de constituio das
relaes sociais. Desta forma, continua o autor, que os falantes se
tornam sujeitos. O texto escrito no tem um sentido nico, ao
contrrio, , como diz Geraldi (1995), fundamental e necessrio produo
de sentidos. O docente-pesquisador, no caso especfico desta
pesquisa, atua preenchendo os espaos em branco da verso anterior da
produo.
5.2 Anlise da ntegra do corpus
Neste item, procuramos sintetizar a anlise das dez produes
escritas do corpus. Em seguida, fazemos uma anlise interpretativa
dos resultados. Com relao ao primeiro item da lista de
controle/constataes detectou a questo discutida, argumentos e
pontos de vista defendidos e rejeitados, houve uma melhoria de 20%
nas
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produes escritas na segunda verso. Creditamos tal melhoria aos
mdulos cinco e seis da SD e a retomada deste item na lista de
controle. Nesta seo, trabalhamos atividades referentes compreenso
global do texto. No mdulo, trabalhou-se a localizao e explicitao
das relaes entre as ideias mais relevantes do texto, mdulo este
tambm de extrema importncia para o desempenho dos estudantes no
item oito da lista. Em se tratando do item relativo a apresentar
dados como o nome do autor do texto resumido e ttulo do T1, 90% das
produes escritas atenderam a esta solicitao. Tal progresso, cremos,
deve-se s atividades desenvolvidas pela SD no mdulo 7, cujo ttulo
ilustra adequadamente o item: meno ao autor do texto resumido. Com
relao a apresentar uma parte introdutria em que haja distino entre
T1 e T2, alm de apresentao dos contedos das diferentes partes do
texto-base, tivemos 80% das produes escritas atendendo a esta
solicitao18. Referindo-nos ao terceiro item da lista, temos
selecionou informaes prioritrias que possam mostrar uma compreenso
global do texto,, creditamos a melhoria de 20%, tambm, SD, mais
especificamente ao mdulo 3, que se intitula Sumarizao: processo
essencial para a produo de resumos.
A respeito do quarto item da lista, resumo compreensvel por si
mesmo, sem a necessidade do texto original, houve, na segunda
verso, 100% de aproveitamento nas produes. As atividades
desenvolvidas no mdulo 2, relativas ao contexto de produo, podem
ter ajudado os estudantes no distanciamento entre o texto de
partida e o texto de chegada, tendo em vista a situao de comunicao
estabelecida. As atividades da SD envolvendo as capacidades de ao
tais como o objetivo do autor do resumo, o veculo de publicao em
que iria circular a produo, podem ter ajudado os estudantes a se
tornarem mais proficientes no item. O quesito de nmero cinco da
lista de controle/constataes refere-se necessidade de no aparecerem
opinies pessoais no resumo. Por conseguinte, cremos serem as
atividades desenvolvidas no mdulo 1, retomadas pela Lista de
Controle posteriormente, os fatores propulsores de tal
aprendizagem. Neste item,
18 O item a que acabamos de fazer referncia coaduna-se com o
item dois da lista de controle. Por
isso, esto analisados conjuntamente. O mesmo ocorrer com os
itens fazer o pblico eventual do jornal tomar conhecimento dos
aspectos prioritrios do texto-base e presena de organizadores
lgicos.
GONALVES Gneros textuais e reescrita...
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100% dos estudantes atenderam a ele. Em relao ao tpico de nmero
seis, resumo adequado ao interlocutor, trabalhamos tal capacidade
nos mdulos 2 e 4 da SD e, dessa forma, pode ser esse o fator
responsvel pela proficincia das produes; 50% das produes atenderam
solicitao. Com relao ao item sete, aes do autor traduzidas por
verbos adequados, tal capacidade, sabemos, negligenciada nas
atividades escolares do Brasil. O corpus demonstrou que 100% dos
textos referentes ao gnero resumo acadmico atenderam solicitao de
reportarem-se ao autor do texto-base por meio de verbos que foram
trabalhados na seo oito da SD. Em relao s retomadas anafricas e a
fazer meno ao autor do texto resumido, estas foram mais frequentes
e diversificadas na segunda verso. Bronckart (2003) afirma,
referindo-se s retomadas por meio de anforas nominais, que estas so
frequentes em textos de discurso terico, dado confirmado por
ns.
Referindo-nos ao tpico oito da Lista de Controle/Constataes,
100% dos estudantes mantm as relaes sinttico-semnticas do texto
original. Na SD, tal quesito foi trabalhado na seo seis. Por outro
lado, tal item pertence, dentro do modelo terico desenvolvido por
Bronckart em (2003), s capacidades lingustico-discursivas. A nosso
ver, esse item mais frequente nas atividades escolares e, por isso,
j na primeira verso, 90% dos estudantes o dominavam. Apoiando-nos
no modelo de anlise de textos de Bronckart, no corpus investigado
houve uma prevalncia de organizadores lgicos em funo de
encaixamento e de ligao, seguida por organizadores intitulados de
balizamento. No notamos presena de organizadores em funo de
segmentao e cremos que tal fato ocorreu devido nfase dada nos
organizadores de nvel mais inferior (encaixamento/ligao). Do
corpus, dez produes utilizaram organizadores de encaixamento/ligao,
oito utilizaram organizadores em funo de balizamento e cinco de
empacotamento. Cremos, para as prximas SDs, ser necessrio o
trabalho dos organizadores em suas respectivas funes tendo em vista
a utilizao nas produes escritas.
Em relao ao item eliminao de expresses sinnimas, explicaes ou
exemplos facilmente inferidos pelo contexto, o trabalho se
desenvolveu mais especificamente no mdulo 3 da SD, alm de outros
momentos, de forma menos intensa. Houve 30% de melhoria deste item
na segunda verso. Em relao ao item dez, tambm se
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referindo s capacidades lingustico-discursivas, houve melhora de
20% na segunda verso do texto. Convm destacar que no houve mdulos
para tratar das questes microestruturais. importante frisar que do
declogo de itens da Lista de Controle/Constataes, os itens menos
atendidos foram os relativos ao item um (detectar a questo
discutida, localizar argumentos e pontos de vista) e o dez
(relativo aos desvios microestruturais), hiptese apontada acima.
Desse modo, acreditamos ser necessrio ter desenvolvido na SD
atividades de compreenso global do texto Truculncia na Internet,
utilizado para a produo do resumo, ainda que, na ocasio da aplicao
do referido mdulo, tenhamos retomado o texto do autor e, oralmente,
estabelecido, em sala de aula, os argumentos, a questo discutida e
a concluso a que chega o autor. Para eficcia maior, atividades
orais parecem no ter sido suficientes.
Desse panorama descritivo, podemos concluir que as atividades da
SD, atreladas lista de controle/constataes que resume e retoma a
SD, foram fatores decisivos no maior domnio do gnero resumo
acadmico, j que em todos os aspectos, sejam os relativos ao
contexto de produo, sejam os relativos planificao ou mesmo os
aspectos concernentes aos mecanismos de textualizao/enunciativos,
foram prontamente atendidos. Com relao ao item h coerncia das
informaes resumidas e o texto-base e uma parfrase, 100% das produes
atenderam a esta solicitao. Cremos ser o contato com o T1, seja na
produo inicial, seja na produo final, seja nos momentos de leitura,
etc. o fato que favorece o arquivamento das informaes essenciais do
T1 e, assim, facilita a coerncia no momento de produo do T2.
Com relao ao item trabalha as diferentes vozes [...], houve 100%
de produes com utilizao de vozes. H dois tipos de vozes: a voz do
expositor/aluno e a voz do autor do texto resenhado. Aqui,
constatamos que existe uma preocupao (observada na segunda verso do
texto produzido pelos estudantes) de marcar as diferentes vozes, ou
seja, diferenciar aquilo que do aluno e aquilo que do autor do
resumo. So comuns, por conseguinte, expresses como: Segundo Leite,
Para Leite, etc., seguidas normalmente de uma parfrase do que foi
lido no texto. Os mdulos 2, 7 e 8 contriburam para a utilizao das
vozes, sobretudo os dois ltimos, que se referem respectivamente
atribuio de aes ao autor do T1 e meno do autor do texto
resumido.
GONALVES Gneros textuais e reescrita...
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No que tange ao tpico reconhece e utiliza diversas marcas
modais, destacam-se, pela ordem de presena nos textos, as
modalizaes lgicas que, para Bronckart (2003), consistem em avaliar
elementos do contedo temtico; modalizaes denticas avaliam elementos
do contedo temtico, apoiadas nos valores e nas regras do mundo
social, equivalentes ao mundo social; as modalizaes apreciativas so
ligadas ao mundo das valoraes subjetivas; e, finalmente, as
modalizaes pragmticas.
Nossa pesquisa vai, dessa forma, ao encontro doutros trabalhos
acadmicos j desenvolvidos, tais como o de Schneuwly, Rosat e Dolz
(1889). Tal trabalho mostra que a variao das condies de produo
acarreta repercusses sobre as escolhas feitas pelos produtores,
seja na planificao/apresentao do contedo temtico, seja na utilizao
dos elementos de conexo. Os autores acreditam que as atividades
relativas ao contexto de produo (capacidades de ao) so
imprescindveis para o agente-produtor calcular a pertinncia de tal
ou qual contedo, dos organizadores textuais (que foram mais
frequentes e diversificados na segunda verso), enviar textos para
destinatrios mltiplos e, no caso do resumo acadmico, levar o pblico
leitor a tomar conhecimento dos aspectos prioritrios da questo
tematizada. Vai tambm ao encontro do estudo de Cordeiro e Azevedo
(2004), que, analisando narrativas de aventuras de viagens e tendo
desenvolvido uma SD para trabalhar com o gnero, chegam a resultados
semelhantes aos nossos: diferenciao das vozes, maior organizao da
planificao do contedo temtico. As autoras chegam concluso de que a
aplicao de SD revela transformaes importantes nas capacidades de
linguagem. De nossa parte, acreditamos que a lista de
controle/constataes, associada ao desenvolvimento de SDs, serve
para ajudar os estudantes a compreenderem ou anteciparem os
critrios de apreciao dos textos, alm de favorecer uma linguagem
comum, durante e aps a SD, de funcionar como uma espcie de
acumulador dos conhecimentos desenvolvidos na SD. No dizer de Bain
e Schneuwly (1993), a lista de controle ajuda a estruturar e a
modelar a escrita dos estudantes e fazer a autorregulao de sua
aprendizagem. Sobretudo, com a lista de controle, entremeada pela
SD, possvel a comparao entre o pr-texto e o ps-texto, objeto de
investigao desta pesquisa.
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5.3 Anlise das formas distintas de interao
Com relao s formas de interveno pedaggica no momento da
reescrita, como destacado anteriormente, houve trs distintas formas
de interao. Na primeira, o docente-pesquisador analisava as
produes, o que foi marcado pela sigla (P-A); na segunda, o aluno A
analisava a produo do aluno X, marcado pela forma (A1-A2); por fim,
o prprio aluno avaliava a sua produo (A-A). Em termos metodolgicos,
como temos um corpus de dez produes, os alunos numerados 1, 3, 9
sero avaliados na interao (P-A). Os estudantes 6, 8 e 10 sero
avaliados na interao A1-A2 (um aluno intervm na produo do outro
aluno); por fim, os alunos 2, 4, 5 e 7 sero avaliados na interao
A-A, aluno consigo mesmo. Abaixo, num primeiro momento,
apresentamos os resultados da fase em que o professor avalia a
produo escrita dos estudantes pesquisados:
(R/ P-A) Estudante Enviar texto para
destinatrio mltiplo (leitores do jornal e professor)
Fazer o pblico eventual do jornal tomar conhecimento dos
aspectos prioritrios do texto-base (objetivo).
1 - X - X
3 X X X X
9 X X X X
Quadro 6a Resultados da reescrita (Professor-Aluno/P-A).
(R/ P-A) Estudante Apresentar uma parte introdutria em
que haja a distino do T1 e do T2, alm de apresentao dos contedos
das diferentes partes/momentos do texto-base.
H coerncia das informaes resumidas e o texto-base? uma
parfrase?
1 - X X X
3 - X X X
9 X X X X
Quadro 6b Resultados da reescrita (Professor-Aluno/P-A).
GONALVES Gneros textuais e reescrita...
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(R/ P-A) Estudante Presena de
organizadores lgico-argumentativos como j que, marcando a funo
de segmentao, empacotamento, encaixamento e ligao.
Trabalha as diferentes vozes, tais como a do prprio estudante e
a do autor emprico do texto-base?
Reconhece e utiliza diversas marcas modais (advrbios, auxiliares
no futuro do pretrito, palavras de valor modal).
1 X X - X X X 3 X X - X X X 9 X X X X X X
Quadro 6c Resultados da reescrita (Professor-Aluno/P-A).
Pela anlise desses trs quadros, podemos observar que os
estudantes responderam satisfatoriamente a 100% das questes
propostas para reescrita, na interao P-A. Consequentemente, no
houve um item em que os estudantes tiveram maior ou menor
dificuldade. Ou seja, na interao P-A, as capacidades de ao,
capacidades discursivas e lingustico-discursivas foram atingidas
igualmente. A seguir, mostramos resultados em que a interveno no
texto discente ocorreu de forma em que um estudante, denominado A1,
interfere na produo de A2.
(R/ A1-A2)
Estudante Enviar texto para destinatrio mltiplo (leitores do
jornal e professor).
Fazer o pblico eventual do jornal tomar conhecimento dos
aspectos prioritrios do texto-base (objetivo).
6 - - X X 8 - X - - 10 - X X X
Quadro 7a Resultados da reescrita nas interaes A1-A2.
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(R/A1-A2)
Estudante Apresentar uma parte introdutria em que haja a distino
do T1 e do T2, alm de apresentao dos contedos das diferentes
partes/ momentos do texto-base.
H coerncia das informaes resumidas e o texto-base? uma
parfrase?
6 - - - - 8 - X - X 10 - X - X
Quadro 7b Resultados da reescrita nas interaes A1-A2.
(R/A1-A2)
Estudante Presena de organizadores lgico-argumentativos como: j
que, etc. marcando a funo de segmentao, empacotamento, encaixamento
e ligao
Trabalha as diferentes vozes, tais como a do prprio estudante e
a do autor emprico do texto-base?
Reconhece e utiliza diversas marcas modais (advrbios, auxiliares
no futuro do pretrito, palavras de valor modal).
6 X X - - X X 8 X X - X X X 10 X X - X - X
Quadro 7c Resultados da reescrita nas interaes A1-A2.
Pelo que se depreende desses resultados, em quase todos os itens
pesquisados houve melhora na segunda verso do texto. No item enviar
texto para destinatrio mltiplo, em 66,66% das produes escritas o
item foi inteiramente atendido. No houve alterao substancial nos
itens relativos a fazer o pblico leitor eventual do jornal tomar
conhecimento dos aspectos prioritrios do texto-base, tampouco no
relativo a apresentar uma parte introdutria em que haja distino do
T1 e do T2. Em relao a haver coerncia das informaes resumidas e
GONALVES Gneros textuais e reescrita...
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35
o texto-base? uma parfrase? 66,66% das produes sofreram alteraes
substanciais. E, por fim, houve 100% nos itens: aproveitamento
quanto utilizao de organizadores lgicos e utilizao de marcas modais
e 66,66% de aproveitamento no quesito de utilizao de diferentes
vozes. Por conseguinte, temos 66,66% de aproveitamento nas
capacidades de ao e nas capacidades discursivas e 88% de
aproveitamento nas capacidades lingustico-discursivas. Com relao
interveno em que o prprio estudante rev seu texto, temos:
(R/ A-A)
Estudante Enviar texto para destinatrio mltiplo (leitores do
jornal e professor)
Fazer o pblico eventual do jornal tomar conhecimento dos
aspectos prioritrios do texto-base (objetivo).
2 - X - X 4 X X X X 5 - X X X 7 - - X X
Quadro 8a Resultados das interaes A-A.
(R/A-A)
Estudante Apresentar uma parte introdutria em que haja a distino
do T1 e do T2, alm de apresentao dos contedos das diferentes
partes/ momentos do texto-base.
H coerncia das informaes resumidas e o texto-base? uma
parfrase?
2 - X X X 4 X X X X 5 - X X X 7 - - X X
Quadro 8b Resultados das interaes A-A.
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(R/A-A)
Estudante Presena de organizadores lgico-argumentativos como: j
que, etc. marcando a funo de segmentao, empacotamento, encaixamento
e ligao.
Trabalha as diferentes vozes, tais como a do prprio estudante e
a do autor emprico do texto-base?
Reconhece e utiliza diversas marcas modais (advrbios, auxiliares
no futuro do pretrito, palavras de valor modal, etc.)?
2 X X - X X X 4 X X X X X X 5 X X - X X X 7 X X - - X X
Quadro 8c Resultados das interaes A-A.
Pelo exposto, novamente h produes escritas em que a segunda
verso apresenta melhora. No item enviar textos para destinatrios
diversos, 50% das produes apresentaram melhora em relao ao item
fazer o pblico eventual do jornal tomar conhecimento dos aspectos
prioritrios do texto-base, isto , houve aproveitamento em 25% dos
textos, j que, neste caso especfico e nesta forma de interao, 75%
das produes j atendiam ao quesito. Em apresentar parte introdutria
[...], houve um aumento de 50% das produes escritas, com o item
plenamente atendido. A mesma percentagem ocorreu com o item
trabalha as diferentes vozes, tais como a do prprio estudante. Nos
demais itens, quais sejam, h coerncia das informaes resumidas e o
texto-base?; presena de organizadores lgicos e reconhecer e
utilizar diversas marcas modalizadoras [...] 100% das produes
atenderam aos quesitos. Consequentemente, houve 87,5% de
aproveitamento nas capacidades de ao e nas capacidades discursivas
e 91% de aproveitamento nas capacidades lingustico-discursivas. Em
termos quantitativos, 80% das produes melhoraram no item enviar
texto para mltiplos destinatrios; 90% melhoraram nas atividades
relativas a fazer o pblico leitor tomar conhecimento dos aspectos
prioritrios do texto-base, configurando estas duas questes o
contexto de produo.
GONALVES Gneros textuais e reescrita...
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importante salientar que, na primeira verso do texto, enviar
produo escrita para destinatrios mltiplos era a capacidade no
dominada pela maioria dos estudantes, juntamente com a capacidade
de diferenciar T1 e T2, mas, esta outra, dentro das capacidades
discursivas.
Quanto s questes relativas s capacidades discursivas, apresentar
parte introdutria em que haja distino entre T1 e T2 e coerncia das
informaes resumidas com o texto-base, 80% e 90% das produes,
respectivamente, na segunda verso, mostraram-se mais eficazes. Por
fim, com relao presena de organizadores lgico-discursivos, 100% das
produes escritas atenderam a este quesito, 80% das produes
atenderam necessidade de trabalhar as diferentes vozes e 100% das
produes atenderam solicitao de utilizao das marcas modais. Assim,
houve progresso semelhante nas trs capacidades supracitadas, o que
demonstra a eficcia da SD sobre o gnero resumo no desenvolvimento
equitativo nas trs capacidades. A seguir, no quadro (8 d),
apresentamos os resultados finais das trs formas distintas de
interao.
Tipos de capacidade Interveno P-A
Interveno A1-A2
Interveno A-A
Capacidades de ao 100% 66,66% 87.5% Capacidades discursivas
100% 66,66% 87.5%
Capacidades lingustico-discursivas
100% 88,88% 91%
Quadro 8d Resultados das formas interativas de interveno
pedaggica.
De todo o exposto, acreditamos que, adotando esta perspectiva
terica de trabalho, fazem-se necessrias correes interativas de
textos, por meio de interaes distintas, tais quais as expostas
neste trabalho: P-A; A1-A2; A-A. Pela anlise, nas trs formas de
interao ocorreram melhorias substanciais, sendo que o item em que o
professor interfere na produo a forma com maior quantidade de
alteraes realizadas pelos estudantes (P-A), seguida pelas outras
formas de interveno, A-A e A1-A2, respectivamente. Assim, outras
formas de interveno, que no seja
Ling (Dis)curso, Palhoa, SC, v. 10, n. 1, p. 13-42, jan./abr.
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a do professor corrigindo o texto do estudante, podem ser
instrumentos favorveis/propiciadores de aprendizagem desde que, a
nosso ver, entremeadas por SDs e Listas de Constataes/Controle.
6 CONSIDERAES FINAIS
Rosat, Dolz e Schneuwly (1991), quando tambm estudaram processos
de reescrita a partir de SD, chegaram concluso de que, em processos
tradicionais de interveno pedaggica (cremos, correo indicativa,
resolutiva e classificatria), os estudantes fazem apenas correes de
natureza microestrutural. Rosat et al. defendem a ideia de que as
SD contribuem para favorecer um olhar mais crtico,
instrumentalizando-os para uma maior capacidade de reviso e
reescrita de textos. Entendemos a primeira produo como uma espcie
de andaime por meio do qual os estudantes podem precisar seus
pensamentos, afinar os itens da lista de controle para desenvolver
a clareza da expresso. Para a equipe genebrina, se preciso for, bom
haver atividades complementares de escrita (perodos, pargrafos)
antes de solicitar-lhes a produo final.
Nossa pesquisa retoma/reprisa a teoria bakthiniana (2000),
quando esta explicita que todo autor responde, retoma, concorda,
refuta enunciados anteriores. Neste trabalho, alunos e
professor-pesquisador, com a SD e a lista de controle em mos, foram
respondentes dos problemas encontrados na primeira verso dos textos
e, dessa forma, determinavam respostas futuras desses mesmos
sujeitos pesquisados, das quais, consequentemente, resultaram
produes mais eficazes, do ponto de vista do gnero aqui estudado.
Portanto, dialogamos com os enunciados anteriores prevendo a
continuidade desses enunciados nas atitudes responsivas ativas dos
sujeitos investigados. Nosso trabalho dialgico, j que a lista e as
SDs so instrumentos de responsividade primeira verso do texto.
necessrio retomar aqui que nossa tese central a funo da natureza
mediadora do outro na construo dos sentidos, por meio dos
instrumentos metodolgicos.
O trabalho em questo pode ser ampliado por outros docentes, com
possibilidades reais de resultados semelhantes, ou at melhores,
se,
GONALVES Gneros textuais e reescrita...
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obviamente, a concepo de linguagem adotada for a interacionista.
Por fim, reafirmamos, tal como Schneuwly e Dolz (2004) e Leal e
Morais (2006), a premente necessidade de se levar escola diferentes
propostas de produo de gneros textuais apoiados numa especfica
situao de comunicao, o que acarreta a escolha de um gnero textual
para um determinado contexto de produo e a consequente utilizao de
capacidades discursivas e lingustico-discursivas pertinentes ao
gnero escolhido, j que, por pesquisas anteriores, confirmadas por
esta, estudantes que vivenciam prticas de escrita reais e no
prticas como se tendem a se tornar mais proficientes nos seus
escritos.
Esta pesquisa foi desenvolvida numa instituio cooperada de
ensino, COEB (Cooperativa de Ensino de Birigui); portanto, trata-se
de uma instituio privada de ensino. Mesmo entre instituies do mesmo
segmento, a realidade educacional no seria diferente.
Independentemente da instituio, o trabalho com a reescrita faz-se
necessrio. A reescrita, a nosso ver, demonstra tambm o real
comprometimento do professor em suas atividades docentes, e, tal
como confirmado por Garcez (1998), esse empenho muda a atitude do
educando. Ele nos v como educador comprometido e no apenas como um
mero dador, expositor de aulas, prtica frequente em escolas de
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Title: Genres & rewriting: an intervention proposal for L1
teaching Abstract: Fundamentals of the epistemological framework of
sociodiscursive interactionism and of Bakhtinian presuppositions
rebound in this article, whose main aim is to ascertain the
possible benefits, for the teaching of Portuguese, of two
pedagogical instruments: didactic sequencing and control/findings
list, which are explored, by Language Didactics researchers from
the University of Geneva, as teaching enhancers. Consequently, we
evaluate the discursive and linguistic-discursive capacities of a
written production of the academic genre abstract as t and the
distinct interactions which occurred during the written
interventions. The analysis enables the conclusion that such tools
constitute didactic instruments for the mastery of language
practices (re)figured in textual genres. Keywords: didactic
sequencing, control/findings list, genres, interaction.
GONALVES Gneros textuais e reescrita...