Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciências e Tecnologia Mestrado em Tecnologia e Segurança Alimentar Qualidade AIimentar II – 2012/2013 Trabalho efectuado por: Ana Correia nº 38371 Brenda Melo nº 38713 Susana Martins nº 31205 Docente: Joana Rodrigues Determinação de ácidos gordos em produtos de origem animal
GC-MS ácidos gordos; identificação de àcidos gordos; Cromatografia Gasosa; Espectrometria de massa; Salmão; Mexilhão
Welcome message from author
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciências e Tecnologia
Mestrado em Tecnologia e Segurança Alimentar
Qualidade AIimentar II – 2012/2013
Trabalho efectuado por:
Ana Correia nº 38371
Brenda Melo nº 38713
Susana Martins nº 31205
Docente: Joana Rodrigues
Determinação de ácidos
gordos em produtos de
origem animal
Qualidade Alimentar II
1 Relatório de Qualidade Alimentar II, DCTB-FCT-UNL, 2012
1. Introdução
1.1. Ácidos Gordos
Os ácidos gordos são os constituintes básicos dos lípidos ou gorduras. São ácidos carboxílicos com cadeias
hidrocarbonadas de 4 a 36 carbonos (Nelson, 2000). Esta cadeia pode ser totalmente saturada (sem liga-
ções duplas entre os átomos de carbono) ou insaturada, contendo uma ou mais ligações duplas (figura 1)
Relatório de Qualidade Alimentar II, DCTB-FCT-UNL, 2012
5
Todavia, o consumo excessivo de ómega 3 também pode ter efeitos indesejáveis, como por exemplo, difi-
culdades na resposta à infecção e alterações na coagulação sanguínea (Direcção Geral de Saúde, 20005). De
acordo com a mesma fonte, o excesso de ómega 3 é raro e pode ocorrer caso o consumidor tome suple-
mentos de óleos de peixe em simultâneo com uma alimentação rica em gorduras polinsaturadas.
Assim, conhecer o tipo de gordura presente num alimento torna-se talvez mais importante que quantificá-
la. Aliás, cada vez mais o consumidor procura estas informações nutricionais pelo que se torna necessária a
realização de análises alimentares com o objectivo de conhecer o tipo de ácidos gordos presentes. Isto
consegue-se recorrendo a técnicas cromatográficas, principalmente cromatografia gasosa.
O mexilhão e o salmão, sendo dois produtos provenientes do mar, são ricos em proteínas e sais minerais e
pobres em gordura. Porém, a pouca gordura que contêm é maioritariamente polinsaturada, destacando-se
os ácidos gordos ómega 3, pelo que são alternativas saudáveis para a dieta humana (EUFIC, 2008).
1.2. Cromatografia gasosa – espectrofotometria de massas (GC – MS)
O avanço no estudo da química alimentar, está relacionado com o surgimento e aprimoramento da croma-
tografia gasosa (GC) (Milinsk, 2007). Esta é uma técnica que permite a separação de substâncias voláteis
arrastadas por um gás através de uma fase estacionária. A fase estacionária pode ser um sólido ou um lí-
quido que promove a distribuição dos componentes da mistura entre as duas fases, através de processos
físicos e químicos (adsorção, diferenças de solubilidade, volatilidade ou partilha). No caso da fase móvel é
utilizado um gás, denominado gás de arraste, que transporta a amostra através da coluna cromatográfica
até ao detector (Laboratórios virtuais de processos químicos, 2007).
A cromatográfica gasosa é fundamentada pela volatilização das amostras e posterior injecção numa coluna
cromatográfica, isto é, a amostra é injectada com uma seringa numa câmara aquecida, onde evapora, antes
de ser transferida para a coluna (figura 8) (Ricón e Álvarez, n.d.).
Figura 8 - Esquema de um cromatógrafo a gás (http://www.biomedicinabrasil.com/2012/10/metodos-cromatograficos.html).
Qualidade Alimentar II
Relatório de Qualidade Alimentar II, DCTB-FCT-UNL, 2012
6
Para a utilização desta técnica é necessário fazer uma derivatização clássica, que envolve a transesterifi-
cação (figura 9) dos triglicéridos e a esterificação dos ácidos gordos livres a ésteres metílicos de ácidos gor-
dos. Isto é, os ácidos gordos são convertidos em substâncias com maior volatilidade e menor polaridade, de
modo a reduzir a adsorção de solutos no suporte e melhorar a separação dos compostos (Simionato, 2008
e Milinsk,2007).
Figura 9- Em a) Equação geral de uma transesterificação. Em b) Equação geral de transesterificação de um triglicérido.
Os processos de derivatização mais utilizados para análise de ácidos gordos, envolvem uma catálise ácida
ou uma catálise básica1, ou seja, diferentes métodos utilizam catalisadores ácidos ou básicos para reacção
de transesterificação, possibilitando escolher o método que melhor se enquadra ao tipo de amostra que se
pretende trabalhar, como também aos recursos disponíveis de cada laboratório (Simionato, 2008).
Catálise básica
Os reagentes mais utilizados para a transesterificação de triglicéridos utilizando a catálise básica são o hi-
dróxido de sódio ou potássio em metanol e metóxido de sódio (NaOCH3) em metanol (Milinsk, 2007).
A transesterificação utilizando estes reagentes tem a vantagem de ser rápida e poder ser realizada à tem-
peratura ambiente (Milinsk, 2007).
Além disso, esta técnica é considerada de maior confiança para identificação de isómeros conjugados de
ácidos gordos, pois não causa isomerização e reduz as perdas de ácidos gordos de cadeia curta. No entanto,
são relatadas desvantagens como, estes reagentes não converterem ácidos gordos livres em esteres metíli-
1 Neste trabalho prático foi utilizada a catálise básica, deste modo, irá ser dada mais ênfase a esta técnica.
Qualidade Alimentar II
Relatório de Qualidade Alimentar II, DCTB-FCT-UNL, 2012
7
cos de ácidos gordos devido à reacção de saponificação, logo a sua aplicação torna-se limitada quando o
óleo apresenta elevada acidez; ou o hidróxido de potássio não reagir com os ácidos gordos livres, tornando
assim o resultado duvidoso (Simionato, 2008 e Milinsk, 2007).
Catálise ácida
No caso da catálise ácida (mais lenta) é utilizado o trifluoreto de boro em metanol, o ácido clorídrico em
metanol ou ácido sulfúrico em metanol. Nesta técnica os procedimentos utilizam uma única etapa, como
também procedimentos em duas etapas, além disso, é utilizado aquecimento (Milinsk, 2007).
Factores que afectam a análise de ácidos gordos por cromatografia gasosa
O processo para análise da cromatografia de gases, pode gerar problemas associados com a preparação
dos ésteres metílicos de ácidos gordos, tais como (Milinsk, 2007):
Conversão incompleta de lípidos a esteres metílicos de ácidos gordos;
Mudança de ácidos gordos durante a transesterificação;
Formação de compostos que podem ser erradamente identificados como ácidos gordos;
Sobreposição de picos de ésteres metílicos de ácidos gordos na análise por cromatografia gasosa;
Contaminação e dano da coluna cromatográfica resultante de traços de reagente esterificante;
Extracção incompleta de ésteres metílicos de ácidos gordos;
Perda de ésteres metílicos de ácidos gordos de cadeia curta e muito voláteis.
A eficiência de separação dos ácidos gordos por cromatografia de gases depende muito da temperatura de
análise e do comprimento da coluna. Geralmente são utilizadas colunas com 50 a 100 m de comprimento,
contendo uma fase estacionária de elevada polaridade. A separação de ésteres metílicos de ácidos gordos
pode ser realizada em três diferentes tipos de colunas, com fase estacionária apolar, polar e muito polar.
No entanto para análise de ácidos gordos em alimentos as colunas polares são as mais utilizadas pois, per-
mitem uma melhor separação dos isómeros cis e trans presentes na matrizes, com base na volatilidade
desses compostos (Simionato, 2008).
Na análise de lípidos por GC a identificação dos componentes da amostra é feita através do tempo de re-
tenção, isto é, tempo que o composto permanece na coluna. O tempo de retenção de cada composto deve
ser comparado com o tempo de retenção de padrões, que são injectados contendo as substâncias a serem
analisadas. No entanto, este procedimento não é conclusivo, pois compostos diferentes podem ter o mes-
mo tempo de retenção (Simionato, 2008).
Qualidade Alimentar II
Relatório de Qualidade Alimentar II, DCTB-FCT-UNL, 2012
8
O método mais directo e preciso para a determinação de massas atómicas e moleculares é a espectrofoto-
metria de massas. O princípio deste método baseia-se essencialmente, no bombardeamento da amostra
gasosa com um feixe electrões de alta energia. Das colisões entre estes electrões e átomos gasosos resul-
tam iões positivos. Estes são acelerados ao passarem por duas placas carregadas de cargas opostas. As par-
tículas aceleradas viajam num caminho curvo em direcção ao detector e quando atingem o detector, este
regista uma corrente eléctrica para cada ião (figura 10) (Chang, 2005).
Figura 10 – Princípio da espectrofotometria de massas (Douglas, n.d.).
Na detecção, é produzido um gráfico com uma serie de picos, cada um representa o valor da massa do
fragmento (Douglas, n.d.).
A análise por espectrofotometria de massa é altamente eficiente se o espectrómetro tiver resolução (capa-
cidade do instrumento para destingir duas moléculas) suficiente, mas esta técnica apresenta algumas limi-
tações, tais como (Douglas, n.d.):
Pressão: se a pressão no interior do instrumento for demasiado elevada pode conduzir a resultados
falsos, pois pode haver a colisão entre fragmentos e formar uma nova partícula;
Resolução: o instrumento fornece resultados mais precisos quanto maior for a sua resolução;
Velocidade de digitalização: quanto maior for a velocidade de digitalização do instrumento mais ra-
pidamente são analisados os compostos, mas em contrapartida a resolução diminui;
Competência do técnico: as bases de dados e bancos podem ajudar mas é necessário que o técnico
tenha alguma habilidade para distinguir entre respostas prováveis e improváveis.
A combinação da espectrofotometria de massas com a cromatografia gasosa é um processo muito sim-
ples uma vez que as características de funcionamento do cromatógrafo a gás são suficientemente com-
patíveis com as necessidades do espectrófometro de massas. Esta combinação é usada, pois a croma-
tografia gasosa não pode ser usada para a identificação fiável de substâncias específicas e a espectrofo-
tometria de massas fornece resultados específicos, embora produza resultados qualitativos incertos.
Tem-se, assim uma relação de complementaridade (Chiaradia, 2008 e Douglas, n.d.).
Qualidade Alimentar II
Relatório de Qualidade Alimentar II, DCTB-FCT-UNL, 2012
9
1.2.1. Métodos alternativos
Como métodos alternativos à cromatografia gasosa – espectrofotometria de massa (GC-MS) existem (Niel-
son,1998):
Cromatografia de Alta eficiência (HPLC) - é mais versátil que GC, já que não se limita a compostos
voláteis e Termo estáveis e também as fases móveis e estacionárias são mais diversificadas;
Cromatografia de camada fina (TLC) – este permite uma análise rápida às várias fracções de lípidos
existentes numa extracção lipídica de um alimento. Embora os ensaios possam ter melhor resolu-
ção usando GC-MS ou HPLC;
O presente trabalho decorre da aplicação de cromatografia gasosa combinada com espectroscopia de massa,
na análise qualitativa de extractos de gordura provenientes de mexilhão e salmão.
2. Resultados e Discussão
Em primeiro lugar, importa referir que apenas se procedeu à identificação presuntiva dos ácidos gordos
detectados nas amostras, mexilhão e salmão. Para tal, foram analisados os cromatogramas e os espectros
de massa, recorrendo ao programa Xcalibur.
Em segundo lugar, torna-se necessário esclarecer os pressupostos que fundamentaram a análise dos resul-
tados obtidos:
Na cromatografia gasosa, a ordem de saída dos ácidos gordos vai depender da sua volatilida-
de/estabilidade. Desta forma, os primeiros a serem volatilizados são os de cadeia mais curta
e, dentro do mesmo grupo, primeiro surgem os ácidos gordos insaturados cis, de seguida os
ácidos gordos insaturados trans e, por último, os ácidos gordos saturados. Por exemplo, se
for identificado um pico correspondente a um C18:1 trans, provavelmente o próximo será
um C18:0 (saturado), salvaguardando a possibilidade de ocorrerem interferências com a co-
luna.
Idealmente, os picos fornecidos pelo cromatograma devem ser simétricos, estreitos e sepa-
rados (não sobrepostos). Caso contrário, se os picos forem largos, sobrepostos ou de forma
irregular, deverá pôr-se em causa a fiabilidade dos resultados obtidos pela cromatografia ga-
Qualidade Alimentar II
Relatório de Qualidade Alimentar II, DCTB-FCT-UNL, 2012
10
sosa. Se um pico deformado contém uma frente íngreme e uma cauda longa, isso pode indi-
car traços de água na amostra (Douglas, n.d.).
Apenas foram considerados os picos cromatográficos obtidos a partir dos 20 minutos de re-
tenção, assumindo que estes corresponderiam aos ácidos gordos mais característicos dos
alimentos de origem animal, isto é, de C12 a C24. Considerou-se também que os picos obti-
dos em tempos de retenção inferiores correspondiam a contaminantes.
Para cada pico escolhido, foi feita a comparação do respectivo espectro de massa com a bi-
blioteca do programa Xcalibur. Daqui provém a identificação presuntiva dos ácidos gordos.
Para efeito de distinção entre ácidos gordos saturados e insaturados, consideraram-se os se-
guintes espectros de massa como exemplos de comparação para cada um dos casos:
Figura 11 - Espectro de massa considerado como exemplo de comparação para ácidos gordos saturados (altura dos picos espec-trais alternada).
Figura 12 - Espectro de massa considerado como exemplo de comparação para ácidos gordos insaturados (altura dos picos es-pectrais decrescente, tendo no final 1 ou 2 picos ligeiramente superiores).
Qualidade Alimentar II
Relatório de Qualidade Alimentar II, DCTB-FCT-UNL, 2012
11
2.1. Mexilhão
Pelos resultados da tabela 1 e por observação da imagem 13, a partir dos 20 minutos de retenção é possível
identificar claramente quais os picos correspondentes a ácidos gordos com 12, 14, 16, 18, 20 e 22 carbonos.
Figura 13- Cromatograma do mexilhão.
Qualidade Alimentar II
Relatório de Química e Bioquímica dos Alimentos, DCTB-FCT-UNL, 2011
12
Tabela 1 – Resultados obtidos para a amostra de mexilhão.
26,73 Ácido Mirístico Ácido 12-metiltetradecanóico C14:0, com 1 ramifi-
cação Saturado
28,03 Ácido n-pentadecílico Acido Pentadecanóico C15:0 com 1 ramifi-
cação Saturado Biblioteca não deu correspondência
28,75 - Ácido 11-hexadecenóico C16:1 Insaturado
2 Venter, S. (2003). Estudo da interação de blenda elastomérica sbr-br com cargas particuladas na formação de compósitos. Pós graduação em Química. Univer-
sidade estadual de maringá.
Novello, D. (2005). Avaliação bromatológica e perfil de ácidos graxos da carne de frangos de corte alimentados com rações contendo farinha de peixe ou aveia branca.
Pós graduação em ciências veterinárias. Universidade federal do paraná.
Qualidade Alimentar II
Relatório de Qualidade Alimentar II, DCTB-FCT-UNL, 2012
3 Venter, S. (2003). Estudo da interação de blenda elastomérica sbr-br com cargas particuladas na formação de compósitos. Pós graduação em Química. Univer-
sidade estadual de maringá.
Novello, D. (2005). Avaliação bromatológica e perfil de ácidos graxos da carne de frangos de corte alimentados com rações contendo farinha de peixe ou aveia branca.
Pós graduação em ciências veterinárias. Universidade federal do paraná.
Qualidade Alimentar II
Relatório de Qualidade Alimentar II, DCTB-FCT-UNL, 2012
*Pela observação do espectro de massa corresponde a este àcido, verificou-se que este é um C18 saturado, assim, neste caso, considerou-se que houve interferência da coluna
Qualidade Alimentar II
Relatório de Química e Bioquímica dos Alimentos, DCTB-FCT-UNL, 2011
21
À semelhança do que aconteceu no mexilhão, também no salmão foi apenas detectado um ácido
láurico para um tempo de retenção de 20,93 minutos. Do mesmo modo que apenas se identificou um
ácido miristico aos 24,72 minutos.
Relativamente aos ácidos gordos com cadeia de 16 carbonos, detectou-se aos 28,70 minutos um
ácido hexadecenóico cis (ácido palmitoléico) e um ácido palmítico aos 28,91 minutos. Verifica-se a ordem
lógica de volatilização dos compostos do mesmo grupo, no entanto não se identificou o ácido hexadece-
nóico trans. Analisando a estrutura química do ácido palmitoléico é possível verificar que a sua última
dupla ligação é no carbono 7, podendo-se assim afirmar que este é um ácido gordo ómega 7. Todos estes
compostos foram detectados tendo em conta o respectivo espectro de massa.
Para os 33,98 minutos surge o ácido linoleico (ómega 6), sendo este um ácido gordo essencial, isto
é, não é sintetizado pelo organismo, sendo necessário a sua ingestão através da dieta. Apesar disso, este
é o ácido gordo diénoico mais abundante nos mamíferos, estando presente em níveis de 15-25% (The
AOCS lipid library). De seguida é identificado um ácido esteárico. Ao contrário do que seria expectável
para o tempo de retenção de 34,34 minutos é identificado através do espectro de massa um ácido octa-
decenóico trans, uma vez que através da biblioteca não foi possível encontrar alguma correspondência.
Estes dois picos não estão em concordância com o que foi anteriormente dito no que refere à ordem de
volatilização, visto que surge um ácido gordo insaturado depois de um ácido gordo saturado. Neste caso
poderá ter ocorrido interferência com a coluna durante o ensaio.
Os ácidos gordos de 20 carbonos surgem aos 40,95 minutos com um ácido eicosenóico cis, aos
41,10 minutos com um ácido eicosenóico trans e aos 41,39 com um ácido gondóico. Por todos estes últi-
mos três picos corresponderem a três ácidos gordos insaturados de 20 carbonos poder-se-á supor a hipó-
tese de estes serem isómeros. Pela observação da estrutura química destes ácidos gordos é possível veri-
ficar que em todos eles a última ligação dupla é no carbono 9, podendo-se assim concluir que serão áci-
dos gordos ómega 9.
Por fim, para os tempos de retenção de 41,73 e 43,05 minutos detectou-se dois ácidos gordos insa-
turados de 22 carbonos, ácido docosatetraenóico e ácido docosatrienóico, respectivamente. O ácido do-
cosatetraenóico é um ácido gordo da família ómega 7, estando assim de acordo com a bibliografia que
menciona a presença desta família ómega em organismos marinhos (The AOCS lipid library).
Pela observação da tabela 2 pode-se concluir que o salmão possui um teor mais elevado de ácidos
gordos insaturados, sendo este facto um claro benefício ao consumo deste alimento. Se por outro lado o
salmão tivesse na sua composição uma maior quantidade de ácidos gordos saturados iria elevar os níveis
de LDL-colesterol e reduzir os níveis de HDL-colesterol, contribuindo assim para o aumento da probabili-
dade de ocorrência de doenças (Bertolino et al, 2006).
Qualidade Alimentar II
Relatório de Qualidade Alimentar II, DCTB-FCT-UNL, 2012
22
Observando a configuração cis ou trans dos ácidos gordos insaturados do salmão, a conclusão pos-
sível é semelhante à do mexilhão, uma vez que não existe uma diferença significativa entre a composição
de ácidos gordos cis e trans.
O salmão é também uma matriz em que os resultados são influenciados por vários factores como a
dieta e variações sazonais. O facto de a matriz ter sido ou não cozinhada não terá muito impacto na ex-
pressão dos resultados (Tonial et al, 2010).
Figura 17 - Composição em ácidos gordos (percentagem de área relativa) em filetes de salmão in natura e grelhado, em que AGS – ácidos gordos saturados, AGMI – ácidos gordos monoinsaturados e AGPI – ácidos gordos polinsaturados (Tonial et al, 2010).
Embora não seja possível fazer uma comparação directa com os resultados expressos na figura 17
encontrados por Tonial et al, 2010, uma vez que os resultados apresentados neste relatório não foram
quantificados, pode-se observar que os AGMI e AGPI foram encontrados em maior quantidade, tal como
aconteceu com a amostra analisada em aula prática. No entanto, os ácidos gordos encontrados em quan-
tidades mais elevadas pelo estudo de Tonial et al,2010 (16:0, 18:1n-9 e 22:6n-3), não foram detectados
neste trabalho prático, à excepção do 16:0. Todos os ácidos gordos ómegas identificados neste relatório
foram também encontrados pelo estudo descrito na figura 17, com excepção do 20:1, 20:2 e 22:4. Estas
diferenças poderão ser justificadas pelas razões mencionadas anteriormente.
3. Conclusão
O conhecimento da composição química, particularmente a composição de ácidos gordos no con-
teúdo lipídico de produtos marinhos, tem vindo a despertar grande interesse, pois está directamente
relacionada com a saúde humana. Além disso, pode fornecer dados para avaliar a qualidade nutricional
Qualidade Alimentar II
Relatório de Qualidade Alimentar II, DCTB-FCT-UNL, 2012
23
lipídica em função dos teores de ácidos gordos saturados, monoinsaturados e polinsaturados, bem como
ácidos gordos ómega 3 e 6.
Comparando as duas matrizes analisadas é possível concluir que o salmão é um alimento muito
mais benéfico para a saúde do Homem, quer pela sua composição rica em ácidos gordos insaturados,
quer pelo seu teor em ácidos gordos ómega.
O método para determinação dos ácidos gordos por cromatografia deverá ser feita com compostos
padrão, mesmo assim fornece um resultado pouco conclusivo, portanto, para garantir a caracterização é
essencial o uso do espectrómetro de massas e dos padrões dos ácidos de interesse, pois diminui a hipóte-
se de identificação duvidosa de compostos e isómeros.
4. Referências bibliográficas
Aveiro, M., Arellano, D. e Tramonte, V. (2009). Composição lipídica do molusco marinho berbigão Anoma-
locardia brasiliana (Gmelin, 1791) “in natura” e cozido. Organo Oficial de la Sociedad Latinoamericana de
Nutrición. 59: 340.
Bertolino, C., Castro, T., Sartorelli, D., Ferreira, S. e Cardoso, M. (2006) Influência do consumo alimentar
de ácidos graxos trans no perfil de lipídios séricos em nipo-brasileiro de Bauru, São Paulo, Brasil. Cad.
Saúde Pública, 22:357-358.
Chang R. (2005) Química. 8ª Edição, The MacGraw-Hill Companies, Inc.
Chiaradia, M., Collins, C. e Jardim, I. (2008) O estado da arte da cromatografia associada à espectrometria
de massas acoplada à Espectrometria de massas na análise de compostos tóxicos em alimentos. Quim.
Nova, 31: 623-636.
Douglas, S (n.d) GC/MS Analysis, http://www.scientific.org/tutorials/articles/gcms.html. Consultado a
05/12/2012.
Ekin, I., Bashan, M. e Sesen, R. (2010) A comparison of the fatty acid composition of the phospholipid and
neutral lipid of Unio elongatulus (Bourguignat, 1860) (Bivalvia: Unionidae) mussels from 4 diff erent locali-
ties in southeastern Anatolia, Turkey. Turk J Zool, 35: 838:847.
Garrido, J. e Medina, I. (n.d.). Identification of Minor Fatty Acids from Mussels (Mytilus galloprovincialis) by GC-MS of their 2-alkenyl-4,4 dimethyloxazoline derivatives. C.S.I.C. 10901:9.
Laboratórios virtuais de processos químicos (2007). Classificação dos processos cromatográficos
Relatório de Qualidade Alimentar II, DCTB-FCT-UNL, 2012
24
Schacker, R. (2007). Avaliação do perfil dos ácidos graxos da série ômega 3 em mexilhões da espécie per-
na-perna (l.) por cromatografia gasosa e espectrometria de massas. Dissertação de mestrado em Química.
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. 21-57 pp.
Simionato, M. (2008). Composição química e quantificação de ácidos graxos com ênfase ao ácido linoléico conjugado (CLA) em leite e derivados. Pós graduação em Química, Universidade estadual de maringá. 25-30 pp.
The AOCS lipid library - Fatty acids and eicosanoids. Acesso a 6 de Dezembro de 2012.
http://lipidlibrary.aocs.org/Lipids/fa_eic.html
Tonial, I., Oliveira, D., Bravo, C., Souza, N., Matsushita, M. e Viserntainer, J. (2010). Caracterização físico-
química e perfil lipídico do salmão (Salmo salar L.). Alim.Nutr. 21:93-97.
EUFIC - A importância dos ácidos gordos ómega 3 e ómega 6. Acesso a 6 de Dezembro de 2012.