1 17 PREFEITURA DE SÃO PAULO SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO COORDENADORIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO – CS EMEF VARGEM GRANDE TCA FUNK OSTENTAÇÃO: CONTEXTOS Ramon Marques Reis Silva Leonardo Sergio Feijó Professora orientadora Vanessa Gustavo da Silva São Paulo
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FUNK OSTENTAÇÃO: CONTEXTOS · readaptando ao funk ostentação, que alcançou a primeira exibição nacional com o lançamento do videoclipe "Megane", do cantor MC Boy do Charmes,
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Influenciados pela massiva crescente do funk ostentação, os
vereadores Conte Lopes (Partido Trabalhista Brasileiro) e Coronel Camilo (Partido
Social Democrático), ambos da Câmara Municipal de São Paulo, lançaram um
projeto em fevereiro de 2013 que proibiria a realização de eventos do gênero em
vias públicas, parques e praças, além de qualquer outro evento musical não
autorizado pela prefeitura. Aprovado de início em abril, ele seguiu para a segunda
votação em dezembro do mesmo ano onde foi novamente aprovado, e acabou
sendo decidida uma penalização de R$2.500 para o infrator, valor que dobraria a
cada reincidência. Tal projeto não foi bem recebido entre os entusiastas do gênero,
que tacharam-a de uma "lei anti-funk", já que restringia-se apenas a esta vertente
musical, não mencionando qualquer proibição aos outros estilos musicais. No
entanto, para ser sancionado, o projeto necessitava ser aprovado pelo
prefeito Fernando Haddad, o qual recusou e assim, foram retomados os shows em
via pública na cidade. Ele afirmou que o "funk é uma expressão legítima da cultura
urbana jovem, não se conformando com o interesse público sua proibição de
maneira indiscriminada nos logradouros públicos e espaços abertos."
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Como as letras de funk ostentações sugerem um crescimento emergente de
jovens de classe baixa para uma condição melhor de vida, alguns fãs utilizam deste
pressuposto para conseguirem tal objetivo de maneira ilícita, através do crime e
do tráfico de drogas, segundo reportagens. Uma destas relatou que o envolvimento
de meninos de Florianópolis com o tráfico havia aumentado em 3200% nos últimos
três anos, devido à ambição de ter artigos luxuosos, conforme citado
anteriormente. Casos de influência de videoclipes de funk ostentação em sequestros
já foram relatados na região Sul.
Um trecho recorrente mesmo no samba quanto no sertanejo
“Tava de bobeira, no meu carro conversível
Me deu a louca, pra passar no bairro dela
A mina é top, desfilando é a mais bela
Perco a noção, perdi meu chão, naquele olhar
O nosso lance é uma parada de outro nível
Quem ta de fora, diz que a mina é cinderela
Quatro paredes é que ela solta a fera
Mas que tesão, explode o vulcão, vem pra me amar.
Que eu vou chegar bem quente
Te abraçando e te beijando
Mordendo seu pescoço, só pra te arrepiar
No capô do carro vou fazer você se apaixonar
Você vai chamar, i
Gostoso é quando você me lambuza com essa boca
É chantilly no umbigo, perai não vou aguentar
Vai ser um caso sério se a pressão da gente descontrolar
Eu vou fazer, você gritar de novo
E se perder, fugir pra dar um lance bem gostoso
E vai querer, mais lenha nesse fogo
Eu vou fazer, você vai ver”
Turma do pagode “Deu a louca” 2014
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Diferente das letras de Mc Dimenor Dr que são mais explicitas na
questão do ganho e ostentação.
“Na pegada que eles tenta nós 'tamo' vindo Faça seu desejo, que nós atende à pedido Os carro é tunado e os moleque é "paloso" Pra pegar as mais gata, nós não fazemos esforço Chama as Top model, aquelas que fascina Elas vem de fora mulher seja bem vida Longe do declínio, malandro calculista Quem vem da minha terra é a mesma batida O comboio é monstro só, de Hummer pra cima De 'juju' na cara só filmando as felinas Quer fazer valer então, tá feita a aposta Nós faz logo o Hit da sua trilha sonora Nós, não se cansa, eles não alcança A vida mudou e você notou a mudança Nós tá de elantra, as gata se assanha Mexer com sua mente é nossa melhor façanha Chama as Top model, aquelas que fascina Elas vem de fora mulher seja bem vida Longe do declínio, malandro calculista Quem vem da minha terra é a mesma batida O comboio é monstro só, de Hummer pra cima De 'juju' na cara só filmando as felinas Quer fazer valer então, tá feita a aposta Nós faz logo o Hit da sua trilha sonora Nós, não se cansa, eles não alcança A vida mudou e você notou a mudança Nós tá de elantra, as gata se assanha Mexer com sua mente é nossa melhor façanha Mc Dimenor DR, nossa melhor façanha ·.
Vida Mais Ou Menos
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Henrique e Diego
Eu disse vem, que aqui tá tudo bem Eu não tô nem aí, o que eu quero é me divertir Dinheiro foi feito pra gastar Se espalham pelo mundo que se vive pra juntar
Eu gosto de mulher, eu gosto de luxar O meu carro é rebaixado, as mina piram pra entrar E elas me abraçam e beijam meu pescoço E dizem, aí que delícia, que safadinho cheiroso
E nessa eu vou vivendo, nessa vida mais ou menos Aí eu vou causando, aí eu tô podendo Vem curtir a vida, vem ver como rico vive Vem andar de Ferrari ou depois de Mustang Usar Dolce Gabbana, Lacoste e Armani E a mulherada chega, e só pegando e tome
Tome, tome, tome, tome Tome, tome, tome Enche um copo de whisky Agora, vire e tome
Além da morte de Daleste, a qual recebeu notoriedade nacional e
internacional, outros cantores de funk foram assassinados, e nenhum dos casos foi
resolvido pela polícia. Além deles, um DJ, conhecido como DJ Chorão, foi morto no
Rio de Janeiro em setembro de 2012 ao ser esquartejado por moradores de uma
favela envolvidos diretamente com o tráfico de drogas. Lula, da dupla Naldo & Lula,
teve o corpo carbonizado e acabou sendo reconhecido em uma arcada dentária; ele
era parceiro de Naldo Benny, que fez sucesso nacional com a canção "Amor de
Chocolate". Entre as outras mortes não resolvidas, estão a dos MCs Felipe Boladão,
Primo e Duda do Marapé. Já o cantor Julio Cesar Ferreira, conhecido pelo nome
artístico MC Neguinho do Kaxeta, foi alvo de uma tentativa de assassinato enquanto
dirigia um carro na Baixada Santista em junho de 2012; apesar de ser atingido por
vários disparos, ele apenas lesionou o braço e conseguiu sobreviver.
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Em 21 de janeiro de 2014, um dos representantes da Baixada Santista do
gênero, Kauan Mariz de Oliveira, o cantor MC Kauan, acabou sendo detido por porte
ilegal de drogas na cidade de São Vicente. Segundo a polícia, Kauan - também
conhecido pela alcunha Koringa - estava com uma sacola plástica contendo
dezenove pacotes de cocaína e vinte e dois de loló; todas as substâncias foram
apreendidas, junto com o celular, uma quantia estimada em R$806,60 e
uma Chrysler 300, ambas de propriedade do funkeiro. Mesmo sendo liberado
poucas horas depois, após liminar da justiça, o ocorrido causou grande veiculação
na mídia, associando o gênero musical ao tráfico e ao crime; Kauan foi acusado de
fazer parte do Primeiro Comando da Capital (PCC), e teve seu repertório de canções
pejorativamente divulgado como "contém músicas que enaltecem a
bandidagem". Na semana seguinte, o cantor concedeu entrevista àRede Record, no
programa Domingo Espetacular, onde tentou demonstrar sua inocência do crime,
além de desmentir qualquer relação com facções criminosas.
2.2. A rivalidade dos estilos musicais
O funk e o rap, em especial o rap brasileiro, sempre tiveram uma ligação
próxima no ponto em que ambos abordavam a cultura da favela de forma humilde, e
que era contra o consumo exagerado de bens. No entanto, este "boom" que o funk
ostentação provocou na música modificou também o cenário do rap no país e
causou inúmeras polêmicas. Os críticos mais conservadores, adeptos do hip hop
alternativo e do gangsta rap, comumente proferem frases como "adeus rap
nacional", e "o rap nacional foi morto". A posição de que os dois ritmos se opõem no
que tange ao conteúdo lírico é defendida por rappers como MV Bill e Carlos Eduardo
Taddeo, ex-Facção Central.
Após o crescimento da popularidade do gênero paulista, a opinião
dividiu-se entre os especializados no assunto. DJ Marlboro, um dos principais
representantes da história do funk carioca, considerou em uma entrevista à Folha de
São Paulo que "o Rio não abriu o olho e agora São Paulo está dominando". O
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pesquisador e autor do livro "101 Funks que você tem que ouvir antes de morrer",
Julio Ludemir, afirmou que teme que com a onda da ostentação, o funk desapareça
da favela, como aconteceu com o samba, quando afirma: "o funk está se firmando
no mercado formal, mas é asfixiado na favela, o que atrapalha sua renovação".
Considerado como o maior rapper da história brasileira, Mano Brown foi alvo
de diversas críticas ao participar de um videoclipe de Pablo do Capão, seu
conterrâneo do Capão Redondo, onde não participou de nenhum verso. Membro do
mesmo grupo, os Racionais MC's, o cantor Ice Blue também esteve no meio de uma
polêmica ao participar junto com Sandrão, do RZO, no clipe "Estilo Gangster" do
também rapper Túlio Dek, em uma clara demonstração de influência da
ostentação. Após ser alvo de graves acusações sobre o fato, Blue tentou esclarecer:
"Os moleques se organizaram e perceberam que o funk ostentação dá dinheiro, é o
que abriu a porta, é o que vende o sonho. Caras com dois, três anos de funk já
conquistaram coisas que cara com quinze anos de rap não conquistou. Tem cara do
funk com oito, nove casas, comprou casa para a mãe. Os caras do rap não
conquistaram nem sua própria casa com o rap. E a gente tem que continuar
chancelando isso?" Apesar do surgimento ser o mesmo, o cenário do rap brasileiro
difere muito do visto nos Estados Unidos, e este é o que mais se aproxima com o
funk ostentação. Cantores como 50 Cent, Puff Daddy e Nelly são exemplos de
rappers que utilizam objetos de ouro e portam veículos de luxo, servindo assim de
inspiração para os cantores da ostentação.
O que se sustenta ainda com as falas de Daleste com o esta
Hoje tem baile Funk me tragei no estilo liguei no ID da Bandida Quando der meia noite eu vou te busca Convida Suas amiguinhas tá bom? Conta pra ninguém também não pode tira foto Quando amanhecer vou levar vocês pra da um rolé de Helicóptero a Pegação é lá no ar Aproveita que nós á Bancando. e o enquanto geral tá dormindo ninguém tá sabendo mas eu to lucrando então. refrão(2x) Ostentação Fora do Normal Quem tem Motor faz Amor Quem não tem passa mal.
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Eu Sei como te impressiona boto o cordão pra fora que elas morre Vou de RR trajado de cristian as Mulherada entra em Choque eu sei que elas sabe o que é bom, eu sei que elas sabe o que é bom Vem que é o Daleste e o Léo da baixada e até a santinha desse até o chão Chamei as santinhas chamei as taradas pra dar um rolê em alto mar e quando a lancha para é que a festinha vai começa. e ntão! Refrão(4x) Ostentação Fora do Normal, Quem tem Motor faz Amor, Quem não tem passa mal.
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Capitulo III
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3. Da origem a fama
De acordo com a Veja o funk carioca ganhou merecida má fama nos anos 90,
com letras que faziam apologia de temas como sexo, drogas e violência. Mas uma
nova vertente do gênero, esta criada aqui em São Paulo, abandonou não apenas a
postura agressiva como surpreendeu no discurso, passando a valorizar itens de
consumo, principalmente artigos de luxo como carros importados e roupas de grife.
É feito por uma rapaziada capaz de rimar bolsa Louis Vuitton com batom, como na
canção As Minas do Kit, do MC Nego Blue, um dos expoentes do funk da
ostentação, como foi batizado o gênero. As raízes da onda surgiram em Cidade
Tiradentes há três anos e, de lá para cá, ela extrapolou os limites do bairro da Zona
Leste para emplacar até em casas noturnas badaladas, como Eazy, Club A e Royal.
3.1. De onde eles vieram e pra onde eles vão?
Tchudum, tchá, tchá, tchá, tchá, tchudum, tchá, tchá, tchá, tchá, tchudum... São 2 horas da manhã numa casa noturna de São Paulo e os frequentadores estão dançando uma batida eletrônica repetitiva. Dali a uma hora e meia, MC Guimê, o principal nome do funk ostentação, fará seu show, acompanhado de um DJ e de duas dançarinas, e com a participação especial do rapper Emicida. No clube vigora uma saudável mistura social, mais rara em São Paulo, onde centro e periferia são muito distantes, do que no Rio. Encontram-se ali jovens de bairros suburbanos — os meninos com correntes douradas, as meninas com saia bem curtinha, e todos com roupas de grife — e também os chamados “playboys”. Quando Guimê finalmente sobe ao palco, a temperatura da casa parece subir. Por quarenta minutos, ele intercala canções de seu repertório com sucessos de outros funkeiros, canta o rap do quarteto Racionais MC’s e cita o Salmo 23 (“O senhor é meu pastor / Nada me faltará”). Nada falta mesmo: suas letras carregam uma tal profusão de marcas —
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carros, roupas, perfumes, bebidas — que até se poderia suspeitar de vultosos contratos de merchandising. Não é o caso. Para Guimê, natural da periferia de Osasco, cidade da Grande São Paulo, falar desses objetos de consumo — e, acima de tudo, adquiri-los — é uma aspiração realizada, uma senha para a entrada na sociedade. O público não só entende como compartilha o sonho de Guimê: muitos fãs, no meio da dança, erguem garrafas de uísque escocês como se fossem troféus. Festas e shows assim se repetem por outras cidades e clubes. Como tantos gêneros musicais que vieram das áreas urbanas mais pobres, o funk já conquistou parte da classe média. Mas é sobretudo entre a garotada da periferia que ele tem a ressonância de uma Marselhesa: um hino de cidadania e identidade para os jovens das classes C, D e E.
Segundo estudo do Data Popular, instituto especializado em pesquisas de
opinião nos estratos emergentes do país, a “comunidade funk” hoje congrega 10 milhões de brasileiros com mais de 16 anos, a maioria das classes C e D. É um público fiel: 77% deles escutam funk todos os dias e 50% vão a um baile funk pelo menos uma vez por mês. Esse público se divide quando perguntado sobre o sentido que a música tem em sua vida: 22% consideram que o funk é apenas diversão, um ritmo bom de dançar. Mas 26% acreditam que os MCs convidam a ambições que não cabem na pista de dança: o funk seria uma forma de superação. Em bom momento comercial, o funk representa uma possibilidade de carreira para quem sonha em se tornar MC (sigla em inglês de Master of Cerimonies, o cantor do funk e do rap). Uma única canção de sucesso pode garantir boa base financeira, ainda que, como sempre aconteceu no showbiz, existam promessas de estrelato que acabam em fracasso (leia o quadro ao fim da reportagem). Mesmo sem o status de um Naldo ou de um Mr. Catra, um funkeiro de algum talento pode garantir mais do que a subsistência. “Um MC pode fazer trinta bailes por mês ao cachê de 1 000 reais. Em seis meses, terá condições de montar um negocinho na favela, comprar uma casa e um carro”, calcula o DJ Marlboro, um dos precursores do batidão. O sonho de todos, claro, é chegar às alturas. MC Guimê fez fama e dinheiro — ganha em torno de 1,4 milhão de reais por mês e o vídeo de seu Plaquê de 100 tem mais de 42 milhões de visualizações no YouTube — sem comercializar discos. Mas as gravadoras descobriram que o funk é rentável. Naldo Benny e Anitta trocaram o ritmo mais pesado dos “batidões” pelo funk melody — versão, digamos, pacificada do funk da periferia carioca — e com isso alcançaram públicos mais amplos. Naldo produz os próprios discos, mas tem um contrato de distribuição com a Sony Music. Anitta é do cast da Warner, que mais recentemente contratou MC Ludmilla (ex-MC Beyoncé). A Universal tem MC Gui, outro exponente do funk ostentação. Casas de shows como o Barra Music, no Rio, incluíram o funk entre as atrações frequentes. “Hoje existe um cuidado maior do funkeiro com a produção”, diz Marcos Júnior, diretor artístico do espaço.
Há diferenças entre o funk carioca, mais malicioso e sexual (ou mais bandido), e
o paulista, que tem mais influência do hip-hop. O chamado “funk ostentação”, que celebra o consumo e o luxo, é um produto paulista: suas raízes estão na Baixada Santista, no litoral de São Paulo, com as produções do DJ Baphaphinha e com artistas como MC Boy do Charmes. Como tantos gêneros populares — axé, sertanejo, tecnobrega —, o funk, em qualquer lugar, irrita ouvintes que se pretendem mais sofisticados. Agora que o purismo nacionalista caiu de moda, ataca-se o funk
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brasileiro por não ser similar à sua matriz americana. Realmente, não há quase nada de James Brown no funk brasileiro de agora. Mas suas origens estão nos bailes do Rio de Janeiro dos anos 70, onde se tocavam funk e soul, americanos e brasileiros. Com o tempo, a batida sofreu alterações. A princípio, o ritmo mais comum era o chamado Miami Bass, batida acelerada que surgiu na cidade americana da qual recebeu o nome. Hoje, o funk ganhou um batuque brasileiro, que parece saído dos terreiros de umbanda. A essa invenção rítmica se deu o nome de tamborzão. Não, não é uma contribuição para a música popular internacional da estatura da bossa nova — mas tem lá sua originalidade. “Lá fora, o funk é reconhecido como a música eletrônica brasileira”, defende o cantor Mr. Catra. Muitos MCs não têm a mínima noção de tempo, mas há criatividade nas suas produções, sobretudo na conjugação inusitada de samples, que vão do grupo americano Talking Heads ao tema do desenho animado Tom e Jerry. Mais pertinente, ainda que às vezes tingido de moralismo estreito, é o ataque ao conteúdo sexual do funk. Muitas letras são incontestavelmente grosseiras. “Se as pessoas gostam de falar sobre sexo, por que eu não posso cantar a respeito?”, justifica-se Mr. Catra. Ele é o cantor de Negolossauro rex, cuja letra é até publicável: “Vem você, a sua prima, pode chamar a sua amiga / Instinto de leão, pegada de gorila”.
Os bailes funk, por seu caráter improvisado, também configuram um problema urbano. Em São Paulo, a prefeitura proibiu os bailes de rua com carro de som, pela boa razão de que eles perturbavam a paz — as pessoas na periferia, afinal, trabalham e desejam dormir à noite. Ainda mais complicada é a intersecção do funk com a bandidagem, que vigora sobretudo no Rio. Nos anos 90 surgiram nas favelas os chamados “proibidões”, bailes protegidos ou patrocinados por facções criminosas. O “proibidão” tornou-se quase um subgênero do funk, com letras que exaltam criminosos e, de tão recheadas de gíria, parecem falar em código. Um exemplo é “a balinha do Salgueiro” de que fala uma das canções do repertório do Nego do Borel: trata-se de ecstasy. O elogio aberto ao crime arrefeceu com a tomada de favelas pelas Unidades de Polícia Pacificadora. Em alguns casos, a UPP reprimiu bailes funk. Mas muitos sobrevivem, como o Emoções, na favela da Rocinha, que voltou à atividade após um ano parado.
A despeito da profissionalização de suas maiores estrelas, o funk ainda é
uma atividade informal. Os MCs gravam em estúdios caseiros e divulgam músicas e
clipes em redes sociais e sites de vídeo. Muitos empresários não têm o mínimo tino
para negócios. “Geralmente, o primeiro empresário de um funkeiro é o taxista ou o
motorista que o leva para os shows”, diz Kamilla Fialho, empresária de Anitta —
responsável por configurar a música de sua cliente em um formato mais pop, o que
rendeu uma vendagem de 200.000 discos. Leandro Gomes, empresário de Valesca
Popozuda, também faz seus cálculos para agradar ao mercado de classe média.
Mas não cogita suavizar o batidão pesado de sua cliente: “Hoje o funk reflete a
cultura do carioca com muito mais propriedade do que o samba”, diz Gomes. De
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fato, o samba já não traduz a alma da periferia como faz o funk. MC Guimê fala de
marcas, mas também de autoafirmação. MC Smith, que já cantou o “bonde” do crime
no Complexo do Alemão, faz retratos tão realistas da periferia carioca que parecem
roteiros de filme. MC Ludmilla e Valesca Popozuda assumem uma posição de
confronto junto aos homens, sem queimar sutiãs. E, como já fez o samba, o funk
tece o elogio ufanista da brasilidade. Em País do Futebol, que começa com “um
salve à nossa nação”, o paulista Guimê reza ao Cristo Redentor, símbolo carioca. E
proclama: “A rua é nossa, e eu sempre fui dela”. A rua hoje é do funk.
A mitologia do pop não pode passar sem artistas de sucesso que caem no
ostracismo. Não é diferente com o funk. Hoje com 32 anos, a mulher que um dia foi
conhecida como MC Vanessa Pikachu voltou a ser Vanessa Ferreira. Pikachu
despontou no início dos anos 2000 com um funk que comparava o insuportável
monstrinho do desenho Pokémon com certa parte da anatomia masculina. Mas suas
músicas seguintes não emplacaram. “O azar de Vanessa foi surgir num período em
que funkeiro fazia show apenas em clubes de subúrbio ou na favela. Nunca tocou
em boates, como a Anitta e o Naldo fazem hoje”, diz o DJ Tubarão, radialista e
produtor. A desilusão de Vanessa com a carreira chegou ao limite quando ela se viu
preterida por outra funkeira na gravação do DVD do MC Bola de Fogo, no qual
cantaria Atoladinha. Ela hoje dá aulas de educação física em uma academia
(embora sua mãe sonhe com o retorno da filha ao batidão). Diz que foi mal
assessorada: “Meu empresário era o DJ que me deu a primeira chance num palco.
Ele não tinha experiência”. O trio Os Originais não desistiu do funk, mas está com a
carreira emperrada em uma disputa judicial. Com outro nome — MC Federado e os
Leleks —, eles estouraram com Passinho do Volante (aquela do “ah lelek lek lek”).
Edmar Santana, o MC Dieddy, o primeiro empresário dos Originais, e Rômulo Costa,
proprietário da equipe de som Furacão 2000, disputam na Justiça os direitos sobre
o Passinho do Volante. Enquanto o caso se arrasta, Paulo Victor, Alan Johnson e
Alex Junior estão impedidos de cantar seu maior sucesso (hoje no repertório de
outro grupo, que assumiu o nome MC Federado e os Leleks). Rebatizados de Os
Originais, eles lançaram a canção Desloca, que esperam ver estourar na Copa do
Mundo. O caso de Vanessa e o dos Originais não estão entre os mais dramáticos do
funk. Goró, da dupla Márcio e Goró, suicidou-se em 2000 porque não conseguia
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repetir o sucesso de A Distância. MC Naldinho, de Um Tapinha Não Dói, largou o
funk pela religião evangélica, trajetória que não é incomum entre artistas dessa
vertente lasciva.
3.2 Como está a juventude ostentação?
Yasmin Oliveira, de 15 anos, é a musa do rolezinho. A jovem de Paraisópolis tem
mais de 100 mil seguidores em uma rede social. Ela acredita que as meninas se
identificam com o que sente e diz, mas não se considera famosa.
Jonathan David, o MC Chaveirinho, compõe e canta funk. Ele é o presidente da
associação dos rolezinhos e diz que busca por locais para realizar os eventos, porque a
polícia repreendia a população que se reunia nas comunidades.
A Liga do Funk é uma organização que se reúne toda semana para falar sobre música e
novos projetos. O grupo, com MCs de vários estilos e idades, já tem mil pessoas
cadastradas.
Nos encontros, o estilo é muito importante. Os jovens usam roupas e tênis de
marca e buscam conhecer novas pessoas.
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Considerações Finais
O Funk Ostentação não quer que as pessoas saião por ai, ignorantes por
terem carros de luxo, roupas de grife, relógios ou acessórios de luxo, ele quer
mostrar como chegaram nesse dia de hoje, com garra, determinação, trabalho, e
esforço. Grandes nomes do Funk Ostentação não querem mostrar sua vida de hoje
mais sim como ele conseguiu, muitos catam sobre sua vida no passado na época
que andavam de bicicleta, em que trabalhavam em feiras, em construções, em
épocas que passavam fome por terem dificuldades econômicas, em épocas que não
tinham dinheiro para si quer comprar roupas ainda mais de grifes.
Bom o que eu quero dizer que o Funk ostentação é como fosse um apoio
aos jovens que ainda estão nessa fase de dificuldades financeiras, e o Funk tenta
influenciar a não desistir de seu sonho para sempre correr atrás daquilo que você
necessita, precisa e sonha.
Eu sei que algumas musicas também fazem apologias, falam sobre crime e
incentivam a desvalorização das mulheres, mais na minha opinião isso afeta as
pessoas que fazem a musica ultrapassar a realidade do momento em que se desliga
do mundo real para a realidade em que a pessoa é a mais importante porque usa tal
tipo de roupa ou porque tem certo tipo de carro.
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Eu gostei muito de fazer esse trabalho porque descobri coisas além da
musica, além de roupas e carros. Mais sim sobre historias de superação, felicidade e
reviravoltas. Encerro esse trabalho muito orgulhoso do potencial que me empenhei.