Universidade Federal do Pará Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários HELMINTOFAUNA DE Plasgioscion squamosissimus (HECKEL, 1840) (OSTEICHTHYES: SCIAENIDAE) DA BAÍA DO GUAJARÁ-BELÉM, PARÁ, BRASIL FRANCISCO TIAGO DE VASCONCELOS MELO Belém, Pará 2013
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FRANCISCO TIAGO DE VASCONCELOS MELO - PPGBAIP TIAGO DE... · Plagioscion squamosissimus 3. Amazônia brasileira . 1 ... 1.3.2. Filo Platyhelminthes .....20 1.3.3. Filo Nematoda ...
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Universidade Federal do Pará Instituto de Ciências Biológicas
Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários
HELMINTOFAUNA DE Plasgioscion squamosissimus (HECKEL, 1840) (OSTEICHTHYES: SCIAENIDAE) DA BAÍA DO GUAJARÁ-BELÉM, PARÁ,
BRASIL
FRANCISCO TIAGO DE VASCONCELOS MELO
Belém, Pará
2013
Universidade Federal do Pará Instituto de Ciências Biológicas
Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários
FRANCISCO TIAGO DE VASCONCELOS MELO
HELMINTOFAUNA DE Plasgioscion squamosissimus (HECKEL, 1840) (OSTEICHTHYES: SCIAENIDAE) DA BAÍA DO GUAJARÁ-BELÉM, PARÁ,
BRASIL
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários.
Belém, Pará
2013
Francisco Tiago de Vasconcelos Melo
Helmintofauna de Plasgioscion squamosissimus (HECKEL, 1840) (Osteichthyes:
Scianidae) da Baía do Guajará, Belém, Pará, Brasil; Belém-Pará, 2013, 134p, Tese
de Doutorado em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários.
HELMINTOFAUNA DE Plasgioscion squamosissimus (HECKEL, 1840)
(OSTEICHTHYES: SCIAENIDAE) DA BAÍA DO GUAJARÁ-BELÉM, PARÁ
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários.
Orientadora: Profa Dra. Jeannie Nascimento dos Santos Laboratório de Biologia Celular e Helmintologia ―Profa. Dra. Reinalda Marisa Lanfredi‖ Instituto de Ciências Biológicas - UFPA
Co-Orientadora: Elane Guerreiro Giese (No país) Laboratório de Histologia e Embriologia Animal -Instituto de Saúde e Produção animal, Universidade Rural da Amazônia.
Co-Orientador: Scott Lyell Gardner (No exterior) Harold Manter Laboratory of Parasitology - University of Nebraska Lincoln
Local e Data de Defesa: Belém (PA), 05 de Dezembro de 2013
Banca Examinadora:
______________________________________________________ Dra. Marinete Marins Póvoa (Titular) Laboratório de Pesquisas Básicas em Malária do Instituto Evandro Chagas (IEC) ______________________________________________________ Dra. Viràg Venekey (Titular) Instituto de Ciências Biológicas – ICB – Universidade Federal do Pará
______________________________________________________ Dr. Arnaldo Maldonado Júnior (Titular)
Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios – Instituto Oswaldo Cruz
______________________________________________________ Dr. Adriano Penha Furtado (Titular) Laboratório de Biologia Celular e Helmintologia "Profa. Dra. Reinalda Marisa Lanfredi" ICB -Universidade Federal do Pará
_________________________________________________ Dr. Evonnildo Costa Gonçalves (Suplente) Laboratório de Tecnologia Biomolecular ICB Universidade Federal do Pará
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“Se não trabalharmos para descrever as espécies da atualidade, nossos descendentes ficarão muito decepcionados”
Scott Lyell Gardner
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Dedico este trabalho a meus pais e a toda a
minha família e amigos que me apoiaram
À minha Orientadora
À Reinalda in memorian
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AGRADECIMENTOS/ACKNOWLEDGEMENTS
Primeiramente agradeço a Deus por ter me iluminado e me proporcionado
oportunidades e ter me dado garra para alcançar tudo que conquistei até hoje.
Agradeço a minha família por ter me dado o incentivo, compreensão e amor.
Especialmente a minha mãe e pai que sempre foram muito compreensivos. Eu me
ausentei de casa desde os 18 anos para estudar em Belém. Meu pai fez de TUDO
para me sustentar e me proporcionar uma oportunidade de estudar e ao menos
obter um nível superior. Essa primeira oportunidade me despertou um interesse
muito grande de seguir a carreira acadêmica e cursei posteriormente o mestrado, e
agora doutorado. E tudo isso não seria possível sem o apoio do meu "Velinho" (José
de Sousa Melo) e da minha "Celinha" (Célia Maria de Vasconcelos Melo). Eles que
sempre me entenderam e me apoiaram nos meus estudos. Eu sei que não é tão fácil
pra minha mãe o fato de que eu cresci, sai de casa, e que devido aos meus estudos
me ausentei um pouco e pra ainda me mudei por um ano pra morar nos Estados
Unidos. Meu maninho Diego Melo, que apesar de super chato, sempre foi
compreensível e me apoiou em todas as minhas decisões até o momento; ele
também sofreu com minha ida pro exterior por um ano. Maaaaaaaas mesmo assim
você superaram isso e sempre me deram todo o apoio. AMO MUITO TODOS
VOCÊS!
Especialmente a minha orientadora Profa. Dra. Jeannie Nascimento dos Santos por
sempre ter acreditado no meu trabalho e potencial, mesmo quando outras pessoas
haviam dito ao contrário. Ela que além de ter me dado a oportunidade de trabalhar
em seu laboratório no início de 2005, me ofereceu todo o seu incentivo,
companheirismo, amizade, compreensão, dedicação, amor por todo o período que
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passamos juntos. Exerceu o papel de Orientadora e Segunda Mãe (Mamãe
Científica), e mesmo nos momentos de dificuldade (pra mim e pra ela) me deu colo,
atenção, me escutou e deus seus conselhos. E me proporcionou umas das melhores
oportunidades e experiências da minha vida(e um dos meus sonhos), que foi estudar
no exterior. Todo este trabalho e minha vida acadêmica-científica, tiveram como
base tudo que você me ensinou até hoje. Atualmente eu posso dizer que me sinto
preparado para seguir a carreira de pesquisador e atuar na área de Parasitologia, e
você foi uma das maiores inspirações para que todas as minhas conquistas até hoje
tenham sido alcançadas. Você é um exemplo de profissionalismo e dedicação e
pretendo continuar trabalhando ao seu lado.Tenho muito orgulho de fazer parte de
sua equipe, aprender cada dia mais com você e compartilhar de momentos
maravilhosos estudando nossos bichinhos!!! Te amo!!
A profa. Dra. Elane Guerreiro GLEISE, ou mais popularmente conhecida e
denominada carinhosamente por mim mesmo de "Gleisinha". Você que sempre
esteve ao meu lado e junto com a professora Jeannie, e vem acompanhando meu
desenvolvimento e crescimento na minha carreira é também um dos meus maiores
exemplos. Gleisinha também é um dos amores da minha vida e minha "mamãezinha
científica". Apesar das diferenças de idade e de personalidade, compartilhamos
muito nossas experiências de vida e ela também foi uma das pessoas que sempre
me apoiou e acreditou no meu potencial e meu trabalho.
Ao prof. Dr. Adriano Penha Furtado, meu amigo "palhaço" (literalmente) que sempre
me deu todo o apoio, atenção, carinho e com o qual fazemos uma ótima equipe de
trabalho.
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Aos todos os meus irmãozinhos do Laboratório de Biologia Celular e Helmintologia
Prof Dra. Reinalda Marisa Lanfredi, ou LBCH "Bom Dia" em especial a Luciana de
Cássia ou carinhosamente denominada por mim mesmo de Cacá, Cacázita ou
Cacáaaaaaaaa (igual a codorninha do lab); Djane Clarys Baia da Silva ou
carinhosamente conhecida e denominada por minha pessoa de Cabeçuda,
Bêbeçuda, Bêbe, Bêbecinha; Hérika Santiago ou Deusa Negra; e a minha Lôra,
O Estado do Pará é banhado por numerosos igarapés e lagos que constituem duas grandes bacias hidrográficas do país. Este ecossistema forma um ambiente complexo com uma alta diversidade de peixes, a qual é explorada pela atividade pesqueira. O Pará contribui com cerca de 40% da produção do pescado do Brasil e dentre os peixes desembarcados nos portos do Estado, a pescada branca Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840) (Sciaenidae) se destaca por sua abundância e importância comercial. No entanto, estudos referentes a helmintos da ictiofauna Amazônica são escassos se comparados com a diversidade de espécies da região. Este trabalho propôs realizar o estudo da diversidade de helmintos parasitos de P. squamosissimus da Baía do Guajará em Belém Estado do Pará, Brasil. No período de um ano foram realizadas coletas de P. squamosissimus nos mercados do Ver-o-Peso, Porto da Palha e Icoaraci, totalizando uma amostragem de 30 pescadas adultas. Os peixes foram levados ao Laboratório de Biologia Celular e Helmintologia "Profa. Dra. Reinalda Marisa Lanfredi" do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará, para busca ativa de helmintos. Deste modo os resultados do estudo da helminto fauna de P. squamosissimus resultou na descrição de uma nova espécie, publicação de três artigos e submissão de mais um artigo em revistas indexadas. A helminto fauna de P. squamosissimus do presente estudo inclui (representado pelas espécies, seguido da prevalência em parênteses): Brasicystis bennetti (43.5%), Neoechinorhynchus veropesoi: (40%), Trematoda: Cryptogonimidae (26%), Diplectanum sp. (30%), Euryhaliotrema sp. (100%), Aetheolabes sp. (25%); Anisakidae - larva - sp.1 (100%), Contracecum sp. -larva (30%); Proteocephalidae - larva (100%) e Trypanorhyncha - larva (14%). Apesar de ser considerado um hospedeiro com helminto fauna conhecida foi possível descrever novas espécies e adicionar novos dados sobre a morfologia das espécies de helmintos parasitos de P. squamosissimus da nossa região. No entanto, ainda será necessário aprofundadas análises para o diagnóstico específico de alguns helmintos encontrados com coleta de espécimes adicionais, e utilização de ferramentas complementares, como a biologia molecular, para a descrição e diagnóstico do epíteto específico.
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ABSTRACT
The Pará State has numerous streams, rivers, lakes that form two of the largests river basins in the country. This ecosystem generate a complex environment with a high biodiversity of fishes which is explored by the fishing activity. The state contributes with 40% of the fishery production and among the fishes disembarked in the ports, the silver croaker Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840) (Scianidae) is known by it's abundance and comercial importance. However, studies about the helminths of the icthyofauna from Amthe diversity azonia still poor when compared the diversity of fishes in the region. The present work proposed the study of helminth diversity of P. squamosissimus from Guajará Bay in Belém, Pará State, Brazil. The specimens of the fishe were cought by a period of one year totalizing 30 adult samples. The fish were transported to Laboratory of Cell Biology and Helinthology "Profa. Dra. Reinalda Marisa Lanfredi" for helminth search. Thus, the results of the study provided the description of one new species of Acanthocephala, and the publication of three papers and submission of one in indexed journals. The helminth fauna of P. squamosissimus in the present study is represented by the species (species/group name followed by the prevalence in parenthesis): Brasicystis bennetti (43.5%), Neoechinorhynchus veropesoi: (40%), Trematoda: Cryptogonimidae (26%), Diplectanum sp. (30%), Euryhaliotrema sp. (100%), Aetheolabes sp. (25%); Anisakidae -larvae - sp.1 (100%), Contracecum sp. -larvae (30%); Proteocephalidae - larvae (100%) and Trypanorhyncha - larvae (14%). Despite the helminth fauna of this host has been consired known, the present work described a new species of helminth parasite and add new data about the morphology of helminth species of P. squamosissimus from our region. However, detailed analysis are required, including collect of specimens and the utilization of complementary tools, as the molecular biology, for the description and diagnosis of the species found.
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1. INTRODUÇÃO
1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS
O Estado do Pará é banhado por numerosos rios, igarapés e lagos que
contribuem para a formação de duas bacias hidrográficas de grande importância no
país: a Bacia Amazônica constituída pelo rio Amazonas e seus afluentes, e a bacia
dos rios Tocantins e Araguaia que desaguam na Região Norte (Plano Nacional de
Recursos Hídricos, 2010).
Este ecossistema aquático paraense forma um ambiente complexo com alta
produtividade biológica, que comporta biomassa substancial de espécies de peixes
exploradas por frotas artesanais e industriais; estimando-se que cerca de 40% da
produção pesqueira do Brasil seja originada desta área. O Estado do Pará
desempenha, importante papel no cenário da atividade pesqueira nacional, sendo,
portanto, um dos maiores Estados em volume de pescados capturados (Oliveira et
al., 2007).
De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA) (2007), a região Norte do Brasil apresentou uma produção de
132.292,5 t de peixes oriundos da pesca extrativista continental, sendo que deste
total, o Estado do Pará foi o que apresentou maior destaque.
Desse extrativismo, vários são os pescados adquiridos, tais como: crustáceos
da espécie Macrobrachium amazonicum (camarão canela) e grande variedade de
espécies de peixes, Brachyplatystoma vailaintii (Valenciennes, 1840) (piramutaba),
Brachyplatystoma rousseauxii (Castelnau, 1855) (dourada), Pimelodus sp. (mandií) e
Este filo inclui um grande número de espécies parasitas de importância
médica e veterinária e as Classes Monogenea, Trematoda e Cestoda são
comumente encontradas parasitando peixes.
1.3.2.1. Classe Monogenea
A Classe Monogenea é composta de aproximadamente 720 gêneros
distribuídos em 53 famílias. São hermafroditas, comumente ectoparasitas de peixes
de água salgada, doce ou salobra, podendo ser encontrados parasitando brânquias,
fossas nasais e superfícies corpóreas; poucas vezes são encontrados parasitando
estômago, intestino ou ureteres (Yamaguti, 1963).
Dentre as características morfológicas utilizadas na taxonomia destes
parasitos destaca-se um órgão de fixação localizado na porção posterior ou haptor,
uma estrutura achatada em forma de disco e normalmente dotada de estruturas
esclerotizadas denominadas barras, grampos, ganchos e âncoras. Em algumas
espécies o haptor pode apresentar ventosas (Fig. 4) (Smyth, 1995).
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Figura 4: Gyrodactlus superbus (Szidat, 1973) parasito da superfície corporal de Corydora
paleatus (Jenyns, 1842), no qual pode ser observado seus principais órgãos de fixação
Haptor (H) e ventosas (V) e suas estruturas acessórias âncoras (A). Barra: 80 μm. (Fonte:
Popazoglo & Boeger, 2000).
O ciclo de vida destes parasitos diferencia-se de acordo com a espécie, no
entanto, a maioria é direta, sem necessidade de passar por um hospedeiro
intermediário, Algumas espécies ainda podem ser vivíparas (Kyoun & Altunel, 2010).
Os adultos podem ser vivíparos, liberando a larva jovem diretamente ao meio
ambiente, ou ovíparos. As espécies ovíparas liberam os ovos, que ao serem
lançados no ambiente rompem e liberam o oncomiracídio, uma larva ciliada e dotada
de ganchos. Assim, esta larva, nada em busca do seu hospedeiro definitivo e ao
entrar em contato com a superfície do corpo ou brânquias, se aderem e
desenvolvem as formas adultas (Smyth, 1995).
Coehn & Kohn (2008) ao realizarem uma revisão de representantes da Classe
Monogena da América do Sul, relatam a existência de aproximadamente 720
espécies destes parasitos na região; destas, 368 foram descritas em peixes
brasileiros. Estes autores ainda relatam que a Família Dactylogirydae é a que
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representa o maior número de espécies de parasitos de peixes, seguida das famílias
Gyrodactylidae, Diplectanidae e Monocotylidae.
Um aspecto importante é a análise da sazonalidade que algumas espécies
deste grupo podem apresentar. Martins et al. (2000) demonstraram que a
prevalência da espécie Diplectanum piscinarius, parasito de brânquias de
Plagioscion squamosissimus no reservatório de Volta Redonda, Estado do Rio de
Janeiro, apresentam relação direta com os índices de pluviosidade na região.
Recentemente, Boeger & Kritsky (2009) descreveram um novo gênero e uma nova
espécie da Classe Monogena parasitando Plagioscion sp., peixe da região estuarina
no distrito de Mosqueiro, em Belém, Estado do Pará. No entanto, ainda existem
poucos trabalhos referentes a diversidade e sazonalidade de indivíduos da Classe
Monogenea na região Amazônica, tornando-se amplo campo de pesquisa a ser
explorado.
1.3.2.2 Classe Trematoda
Os representantes da Classe Trematoda compõem um grupo de helmintos de
pequeno porte com corpo foliáceo, geralmente de pequeno porte, oval ou tubular,
contudo podem assumir várias outras formas. Possuem o tegumento apresentando
espinhos e normalmente duas ventosas (Fig. 5) (Yamaguti, 1959; Gibson et al.,
2002).
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Figura 5: Aspectos gerais da morfologia de um Digenea. Adaptado de Smyth
(1995).
O ciclo de vida dos trematódeos é complexo envolvendo dois ou quatro
hospedeiros, que abrigam suas fases de vida sexuada e assexuada (Gibson et al.
2002). Os trematódeos adultos liberam os ovos que serão eliminados de seus
hospedeiros ao meio ambiente, e que originarão uma larva ciliada, o miracício. Esta
larva irá encontrar um molusco e se desenvolverá, formando numerosas larvas,
denominadas cercárias, que migrarão para o meio externo em busca de seu próximo
hospedeiro (Roberts & Janovy Jr., 2008).
A cercária pode penetrar através da pele ou ser ingerida por um próximo
hospedeiro intermediário, no qual perderá sua cauda e gradualmente ir se
transformando no próximo estádio de desenvolvimento, a metacercária. No entanto,
em alguns gêneros de organismos digenéticos, a cercária pode encistar diretamente
na vegetação (Thatcher, 1993; Segade et al., 2011). Ao penetrar os tecidos de um
peixe, a cercárias podem se transformar em metacercárias permanecendo
encistadas na superfície externa, olhos, musculatura e recobrindo os órgãos na
cavidade celomática (Thatcher, 1993).
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A Classe Trematoda é subdividida em duas principais Subclasses:
Aspidogastrea Faust & Tang, 1936 e Digenea Carus, 1863. A primeira composta por
um grupo pequeno de trematódeos parasitas de moluscos, peixes e quelônios;
enquanto a subclasse Digenea compreende um grupo com mais de 2500 gêneros
encontrados parasitando diversos vertebrados e invertebrados (Gibson et al., 2002)
Kohn et al. (2007) ao realizar uma catalogação de espécies da Classe
Trematoda parasitos de peixes da América do Sul, descrevem que a Subclasse
Aspidogastrea é representada por três famílias com 11 espécies conhecidas. A
Subclasse Digenea possui 449 espécies conhecidas distribuídas em 59 gêneros e
42 Famílias. Estes autores relatam ainda que dentre os países da América do Sul, o
Brasil e a Argentina apresentam o maior número de espécies de parasitos de peixes,
sendo 247 descritas no Brasil e 109 espécies na Argentina.
Apesar desta maior biodiversidade de espécies de Trematoda parasitas de
peixes na América do Sul, o ecossistema aquático brasileiro é muito rico e ainda
existe carência de trabalhos referentes a trematódeos.
1.3.2.3. Classe Cestoda
Os cestódeos são conhecidos como helmintos em forma de fita, ou tênias.
São encontrados parasitando órgãos internos (principalmente intestino delgado) de
uma série de vertebrados (Yamaguti, 1959).
Estes parasitos são divididos em três regiões principais: o escólice, onde são
localizados os órgãos de fixação; seguido por uma região não segmentada e
indiferenciada, conhecida por ―pescoço‖, e que pode ser curto ou longo dependendo
da espécie; uma região composta por vários segmentos, ou proglotes, denominada
de estróbilo (Wilmns, 2008).
O sistema reprodutor feminino consiste de ovários e suas estruturas
acessórias, útero também ou estruturas conhecidas por órgãos para-uterinos, que se
desenvolvem ligados ao útero (Smyth, 1995). O sistema reprodutor masculino é
composto de testículos, vasos eferentes, que se unem em um vaso deferente,
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possuindo vesícula seminal como o órgão copulador, denominado de cirro
(Yamaguti, 1959).
Os poros reprodutores normalmente se abrem em uma mesma câmara, o
átrio genital, que pode ser simples ou equipado com espinhos, microtríquias,
estiletes, glândulas, ou outros acessórios, e o poro do cirro se abre na margem da
superfície do tegumento (Smyth, 1995). O átrio genital se abre externamente em um
gonoporo que pode ser lateral ou central, podendo ser duplo lateral ou central, em
algumas espécies o sistema reprodutor é duplo (Fig. 6) (Wilmns, 2008; Melo et al.,
2011).
Figura 6: Representação de um cestódeo adulto onde pode ser observado suas
estruturas de fixação e seus segmentos ou proglotes os quais contém suas
estruturas reprodutoras masculinas e femininas (Adaptado de Smyth, 1995).
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O ciclo biológico na maioria das espécies necessita de um hospedeiro
intermediário, no qual as larvas ou metacestóides irão se desenvolver e encistar na
cavidade abdominal ou musculatura. Devido a dificuldade na identificação das larvas
de cestóideos, Chervy (2002) propõe um sistema de identificação fundamentado
principalmente em características morfológicas dos estágios larvais de cestóide,
como pode ser observado na (Fig. 7).
Figura 7: Representação esquemática de seis formas larvais de cestóides. A-Procercóide,
B-Plerocercóide, C-Merocercóides (redesenhado de Dollfus, 1942), D-Plerocercus
(redesenhado de Dollfus, 1942), E-Cisticercóide (redesenhado de Dollfus, 1942), F-
cisticercus (redesenhado de Dollfus) (Fonte: Adapatado de Chervy, 2002).
Em revisões acerca de cestóides de peixes da América do Sul, Rego et al.
(1999, 2004) relatam 120 espécies de cestódeos pertencentes a seis Ordens.
Destas, 90% são representados por indivíduos da Ordem Proteocephalidea e o
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restante por cestódeos das Ordens Trypanorhyncha, Cyclophyllidea,
Pseudophyllidea e Caryophyllidea.
Durante o ciclo de vida destes parasitos, os peixes podem atuar como
segundo hospedeiro intermediário, ou hospedeiro paratênico albergando os
metacestóides, no entanto não são reportados com freqüência devido ao seu
tamanho reduzido e localização (encistados na parede intestinal, mesentério e
peritôneo de várias espécies) (Scholz & Salgado-Maldonado, 2001).
Os estudos relacionados com a biologia (hospedeiros, ciclos e sazonalidade)
e morfologia de adultos e larvas de cestóides no Brasil, ainda são escassos, o que
evidencia a necessidade de estudos com o objetivo de proporcionar um maior
entendimento da morfologia e biologia destes parasitos.
1.3.3. Filo Nematoda
Os nematódeos representam o maior grupo de parasitas de vertebrados e
invertebrados. Esses animais possuem o corpo cilíndrico, alongado, recoberto por
uma espessa cutícula, apresentam tubo digestivo completo com boca, esôfago,
intestino e ânus e são geralmente dióicos (Smyth, 1995).
Os machos são diferenciados das fêmeas principalmente por seu tamanho
reduzido, região posterior curvada e a presença de estruturas acessórias para a
cópula como: espículos, bolsa copuladora e papilas caudais. As fêmeas possuem o
corpo mais robusto do que o macho, onde pode ser observado a presença dos
ovários, útero, vagina, a qual se abre em uma vulva, normalmente situada no
primeiro terço da região anterior do corpo (Fig. 8) (Smyth, 1995; Roberts & Janovy
Jr., 2008).
O ciclo de vida destes parasitos pode variar de simples aos mais complexos,
com um, dois ou mais hospedeiros intermediários, como invertebrados dos Filos
Molusca e Arthropoda (Moravec, 1994). Os nematódeos representam os helmintos
mais comuns e patogênicos aos peixes, de maior importância médica e comercial,
parasitando órgãos internos de peixes de água doce, salobra e salgada, tanto na
fase adulta como juvenil (Moravec, 1994).
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Figura 8: Aspectos gerais da morfologia de espécimes adultos de machos e fêmeas
de nematódeos assim como da forma larvar destes parasitas. (Adaptado de Smyth,
1995).
No Brasil, existem centenas de nematódeos descritos como parasitos de
peixes, distribuídas em 6 Superfamílias e 17 Famílias (Vicente & Pinto, 1999).
Dentre estas famílias de nematódeos, a família Anisakidae tem sido descrito
frequentemente parasitando peixes no Brasil, como evidenciado por Martins et al.
(2000), Paraguassú et al. (2005), Paraguassú & Luque (2007) e Tavares et al.
(2007).
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A ocorrência de Anisaquídeos possui significado zoonótico e sua identificação
no pescado é de grande importância. Moravec (1998) e Tavares & Alejos (2006)
criaram uma chave de identificação para juvenis de 3º estágio (L3) de gêneros da
família Anisakidae, diferenciando-as pela presença de dente larval; estrutura
esclerotizada que emerge da região entre os lábios do nematódeo, características
referentes a estruturas internas como esôfago, ventrículo, apêndice ventricular e
cecos e caracteres morfológicos encontrados na porção posterior do nematódeo.
No entanto, ainda existem dificuldades no estudo da taxonomia dos
nematódeos anisaquídeos tais como: sinonímias históricas complexas, nomina
dubia, descrições inadequadas, diversidade na utilização de caracteres para a
identificação das larvas e um grande número de nomes estabelecidos para fases
larvais de difícil reconhecimento (Moravec, 1997).
Estudos referentes a nematódeos parasitos de peixe da Amazônia têm
crescido recentemente como observado nos trabalhos de: Giese et al. (2009),
Moravec & Santos (2009), Giese et al. (2010), Melo et al. (2010), Melo et al. (2011),
Melo et al. (2012); porém, comparados com a diversidade da ictiofauna, ainda há
uma carência de estudos referentes a helmintos parasitos de peixes da região.
1.4. HELMINTOFAUNA DE Plagioscion squamosissimus
No Brasil, os parasitos referidos em P. squamosissimus, incluem até o
momento 12 espécies de Monogenea, quatro Digenea, uma espécie de Cestoda,
uma espécie de Acanthocephala e quatro espécies de larvas de Nematoda da
família Anisakidae que tem importância comercial e em Saúde Pública. Apesar da
maioria destas espécies terem sido descritas na região Amazônica, no Pará existe
apenas o registro de uma espécie de Monogenea (Quadro 1) (Tavares et al., 2007;
Boeger & Kritsky, 2009; Paes et al., 2009).
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Quadro 1: Helmintos Parasitos de Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840). Adaptada de Tavares, et al. 2007.
Parasito Localidade País Referência
Cestoda Ptychobothriidae gen. sp.(larva)
Rio Amazonas
Brasil
Woodland (1935)
Digenea Diplostomum compactum (larva)
Rio Paraná
Reservatório de Volta Redonda
Brasil Brasil
Kohn et al. (1995); Martins et al. (2002); Pavanelli et al.
(2004);Machado et al. (2005)
Diplostomum sp. (larva) Reservatório de Volta Redonda Brasil
Martins et al. (1999)
Brasicystis bennetti Rio Amazonas Brasil, Peru Thatcher (1979); Iannacone &
Luque (1993)
Monogenea Aetheolabes goeldiensis Diplectanum decorum D. gymnopeus D. hilum D. pescadae D. piscinarius Euryhaliotrema chaoi E. lovejoyi E.monacanthus E. potamocetes E. succedaneus E. thatcheri Acanthocephala Rhadinorhynchus plagioscionis
Baía do Marajó
Rio Amazonas, Iquitos Rio Amazonas Rio Amazonas
Rio Amazonas, Iquitos Rio Amazonas, Reservatório de Volta Redonda, Rio Paraná,
Iquitos Rio Amazonas
Rio Amazonas e Rio Orinoco Rio Amazonas e Rio Orinoco Rio Amazonas e Rio Orinoco
Rio Paraná e Reservatório de Volta Redonda Reservatório de Volta Redonda
Brasil Brasil Brasil Brasil
Pavanelli et al. (2004) Moravec et al. (1993) Moravec et al. (1993) Martins et al. (2000)
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1.5. HELMINTOS PARASITOS DE PEIXE E SAÚDE PÚBLICA
As zoonoses parasitárias transmitidas por pescado, cada vez mais tem
chamado a atenção de pesquisadores e autoridades sanitárias do mundo inteiro, por
determinarem problemas de saúde na população, que infecta pelo consumo de
pescado cru ou mal cozido. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)
(2009) mais de 18 milhões de pessoas estão infectadas com zoonoses transmitidas
pelo pescado e mais de meio milhão estão em risco.
As espécies consideradas zoonóticas podem causar patologias fatais no
sistema nervoso e cardiovascular e seu diagnóstico diferencial é difícil (Chai et al.,
2005). Dentre as zoonoses mais conhecidas estão as anisaquíases, a heterofiíase e
a difilobotríase (Silva & São Clemente, 2001; Chai et al., 2005; Kim et al. 2006).
Os nematódeos da família Anisakiade são potencialmente zoonóticos e
agentes etiológicos da Anisaquíase. No ciclo de vida destes nematódeos, os adultos
são encontrados no estômago de mamíferos e liberam os ovos nas fezes do
hospedeiro, que ao entrar em contato com a água se desenvolvem e liberam a larva.
A larva é ingerida por crustáceos onde desenvolve-se em larva de terceiro estádio
que é infectante para peixes e moluscos. Os peixes se infectam ao ingerirem estes
crustáceos, nestes hospedeiros a larva migra para os tecidos musculares, e através
de predação, a larva é transferida de peixe para peixe. Os peixes mantém a larva de
terceiro estádio a qual é infectante para humanos e mamíferos (Chai et al., 2005).
Os seres humanos são hospedeiros acidentais e podem se infectar ao ingerir
carne de peixe crua ou mal cozida. Após ingestão, a larva de anisaquídeo pode
permanecer no trato gastro intestinal (Fig. 9), onde ocorrerá uma reação inflamatória
intensa ou pode penetrar a mucosa gástrica e intestinal ou órgãos associados,
causando perfurações intestinais ou uma gama de outros sintomas como
desconforto gástrico, náuseas e vômitos (Fumarola et al., 2009).
32
Figura 9: Endoscopia da região duodenal na qual foi observada uma
ulceração de 10 mm , próximo da região onde uma larva de Anisakis estava
penetrada na mucosa duodenal. Fonte: Hawang et al., 2011.
Os trematódeos da Família Heteropyidae são conhecidos por serem agentes
etiológicos da Heterofiíase. O ciclo de vida destes parasitos é semelhante ao dos
demais trematódeos, incluindo sempre um hospedeiro molusco que irá liberar as
cercárias. Estas formas larvais irão nadar ativamente e ao encontrar os peixes,
poderão penetrar e encistar na musculatura ou cavidade celomática, se
transformando em metacercárias (Roberts & Janovy Jr., 2008).
O homem pode atuar neste ciclo como um hospedeiro errático após a
ingestão de carne de peixes crua ou mal cozidas contendo essas metacercárias.
Após a ingestão, a metacercária excista-se, adere a mucosa intestinal e se
transforma nos helmintos adultos (medindo 1 a 1,7 mm). A infecção pode ser
assintomática ou pode incluir uma variedade de sintomas tais como: dores
abdominais, diarréia, hemorragias, obstrução intestinal e ascite (Centro de Controle
e Prevenção de Doenças-CDC, 2013).
33
A Difilobotríase é uma zoonose causada por cestódeos do gênero
Diphyllobothrium. Estes helmintos são parasitas de intestino delgado de grandes
mamíferos, que ao estarem infectados, liberam os ovos nas fezes para o meio
ambiente onde as oncosferas se desenvolvem em um coracídio. Após ingestão por
um crustáceo aquático o coracício desenvolve-se em uma larva procercóide. O ciclo
segue com a ingestão deste copepoda contendo a larva procercóide, por um
segundo hospedeiro intermediário crustáceo, ou pequenos peixes, onde se
desenvolvem em larvas plerocercóides (espargano). A larva plerocercóide é o
estádio infectante para humanos. Como humanos não se alimentam de pequenos
peixes, estes não representam grande risco e/ou fonte de infecção. No entanto,
estes pequenos peixes podem ser ingeridos por peixes maiores. Nesses casos, o
espargano pode migrar para a musculatura destes hospedeiros e os humanos
adquirem a infecção pela ingestão de carne de peixe crua ou mal cozida (CDC,
2013).
Após ingestão do peixe infectado, a larva plerocercóide desenvolve-se em
adultos imaturos e entao em adultos maduros, os quais residem na mucosa
intestinal, os quais podem alcançar mais de 10m em comprimento, com mais de
3.000 proglotes. A apresentação clínica desta doença inclui dores abdominais,
indigestão, surgimento de proglotes nas fezes, fadiga, prurido anal e diarréia
(Arizono et al., 2009).
No Brasil, o aumento no consumo de pescado cru, como o sushi e sashimi, o
ceviche da culinária peruana, o marinado da espanhola e o green hering da
holandesa constituem hábitos crescentes com situações de risco, denotando a
necessidade de ações em vigilância sanitária através da inspeção do pescado, a fim
de identificar, monitorar e inviabilizar a instalação de helmintíases emergentes
(Barros et al., 2006). Devido à gravidade do problema, o Ministério da Saúde, em
recente revisão, incluiu na lista de Classificação de Risco dos Agentes Biológicos,
todos os parasitos de peixes que podem parasitar o homem, indicando a importância
de estudo do tema (Ministério da Saúde, 2010).
No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, um trabalho desenvolvido por
Simões et al. (2010) alertaram para o risco de contaminação da população com
Ascocotyle (Phagicola) longa Ransom, 1920 (Trematoda), que causa a heterofiíase
34
humana, zoonose emergente proveniente do pescado, com 100% de tainhas
examinadas parasitadas.
Em muitos casos, no homem, o parasitismo por anisaquídeos, é ocasionado
pela fase juvenil do parasita e segundo Timi et al. (2001), a determinação específica
dos juvenis de terceiro estádio como por exemplo das espécies de Anisakis, por
métodos morfológicos pode resultar em erros, sendo recomendável a sua
caracterização molecular para o estabelecimento de seu status específico (Tavares
& Alejos, 2006).
1.6 BIOLOGIA MOLECULAR DE HELMINTOS
A biologia molecular tem aprimorado muitas pesquisas em Ciências
Biológicas com novas ferramentas, as quais facilitam o diagnóstico e fornecem mais
informações sobre a biologia e relações parasito-hospedeiro (Prichard, 1997; Jabbar
et al., 2005).
Na parasitologia, os dados fornecidos pela biologia molecular tem ganhado
grande importância no desenvolvimento de vacinas, busca de novos agentes
quimioterápicos, entendimento da resistência a drogas, taxonomia e na prevenção e
controle de doenças parasitárias (Prichard & Tait, 2001; Gasser, 2006). O
diagnóstico das doenças parasitárias é complexo visto a difícil obtenção e
manipulação dos parasitos, principalmente quando não há a necropsia do
hospedeiro (Prichard, 1997).
A taxonomia de helmintos também tem sido influenciada pelas técnicas
moleculares. A ―Nova Taxonomia‖ ou ―Taxonomia do DNA‖, como alguns autores
tem denominado (Tautz et al. 2003; Nadler & León, 2011) utilizam as técnicas de
biologia molecular e estão resultando em um aumento nas taxas de descrição de
novas espécies e esclarecimento de grupos confusos em muitos taxa.
Os helmintos são frequentemente identificados e diferenciados com base em
suas características morfológicas, hospedeiro, padrões de transmissão, efeitos
patológicos no hospedeiro ou localização geográfica, no entanto estes critérios por
vezes não são suficientes para realizar a identificação específica (Gasser, 2006).
Entretanto a utilização de características morfológicas na identificação de larvas
35
ainda é um desafio para os taxonomistas, visto que estas formas evolutivas carecem
de estruturas detalhadas necessárias para a identificação específica (Umehara et
al., 2010).
Como exemplo disso, a identificação de larvas de anisaquídeos, que
comumente são encontradas parasitando peixes, ainda é uma problemática a ser
resolvida, visto que existem descrições inadequadas, sinonímias históricas
complexas, infecções mistas e o uso de relações entre diferentes estruturas
morfológicas que induzem ao erro no diagnóstico das espécies (Koie, 1993; Paggi &
Bullini 1994; Iñiguez et al., 2009). As técnicas de biologia molecular têm auxiliado a
identificação dos anisaquídeos e, recentemente, muitos autores tem utilizado estas
ferramentas para um melhor entendimento da sistemática, biodiversidade e relações
filogenéticas destes parasitos (Mattucci et al., 2002; Nadler et al., 2005; Mattucci et
al., 2008, Iñiguez et al., 2009; Umehara et al., 2010).
Dentre os principais marcadores moleculares utilizados para a identificação e
classificação de helmintos destaca-se os genes 18S rRNA, as regiões dos
espaçadores internos (Internal Transcriber Sequences) (ITS1 e ITS2) os quais se
situam ao lado dos genes do rRNA e os genes mitocondriais, como o Citocromo b,
Citocromo Oxidase I e os genes 16S e 12S do rRNA, devido a grande quantidade de
cópias no genoma e por serem altamente conservados, esses genes facilitam a
identificação e diferenciação de espécies (Perkins et al., 2011).
Nos últimos anos foi possível sequenciar o genoma completo de helmintos
como Anisakis simplex, Schistosoma mansoni, Schistosoma japonicum, Brugia
malayi e dezenas de outros, o que tem contribuído para o entendimento das
relações parasito-hospedeiro, assim como das relações filogenéticas entre muitos
grupos de parasitos (Brindley et al. 2009).
De acordo com Tautz et al. (2003) apesar dos bancos de dados terem
incluído até o início desse ano mais de 100.000 sequências de espécies de
eucariotos, não há garantia de que as espécies depositadas foram identificadas
adequadamente. Assim ainda devem ser realizados estudos morfológicos em
associação com a utilização de técnicas moleculares, ainda devem ser realizados
para que haja o fornecimento de informações que auxiliem a identificação e
caracterização da biologia e relações filogenéticas dos helmintos parasitos.
36
Os estudos prévios sobre helmintos de P. squamosissimus no Brasil,
evidenciaram registros de espécies com potencial zoonótico, mas pouco se sabe
sobre os parasitos deste peixe no Estado do Pará. A pescada branca é apreciada
pela população, sendo comercializada em inúmeros mercados e feiras livres do
Estado, portanto este estudo inédito na região dará subsídios aos órgãos
governamentais de Vigilância Sanitária para inspeção do pescado, monitoramento e
prevenção de helmintíases zoonóticas.
Com base nestas premissas, este trabalho propôs-se o estudo da
helmintofauna de P. squamosissimus da Baía do Guajará e do Rio Guamá em
Belém, incluindo a caracterização molecular das espécies com potencial zoonótico.
Este estudo foi desenvolvido dentro dos Programas PROCAD–NF 2009 (Edital
CAPES 2010-2013) e PARASITOLOGIA BÁSICA (Edital CAPES 2010-2014)
gerando contribuição para o estudo da fauna parasitológica de peixes da região
Amazônica.
37
2. OBJETIVOS
2.1. OBJETIVO GERAL
Realizar o estudo da diversidade de helmintos parasitos de Plagioscion
squamosissimus da Baía do Guajará, no município de Belém, Estado do Pará.
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Determinar e identificar as espécies de helmintos que parasitam P.
squamosissimus da Baía do Guajará, Belém, Estado do Pará.
Descrever a morfologia e a ultraestrutura das espécies encontradas
parasitando P. squamosissimus.
Descrever as alterações histopatológicas causadas por helmintos intestinais e
cavitários parasitos encontrados parasitando o hospedeiro.
Realizar a caracterização molecular das espécies de helmintos de P.
squamosissimus.
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3. ARTIGOS
No período de um ano foram realizadas coletas de Plagioscion
squamosissimus nos mercados do Ver-o-Peso, do Porto da Palha e de Icoaraci,
totalizando uma amostragem de 30 espécimes adultos. Os peixes foram levados ao
laboratório de Biologia Celular e Helmintologia "Profa. Dra. Reinalda Marisa Lanfredi"
para serem analisados para helmintos.
Treinamentos com técnicas para a identificação taxonômica de helmintos
foram realizados, gerando a caracterização de uma espécie nova:
Neoechinorhynchus veropesoi (Artigo 1). Posteriormente, iniciou-se a identificação
de um trematódeo encontrado no opérculo da pescada branca. Porém, foi
necessária a realização de um treinamento com técnicas de biologia molecular,
utilizando-se amostras de outro helminto Trematoda parasito de Colomesus
psittacus (Bloch et Schneider, 1801), um outro peixe hospedeiro; o que também
resultou na descrição de uma nova espécie com elaboração de um segundo artigo
(Artigo 2) e, posteriormente ao treinamento com técnicas de biologia molecular, foi
então realizada a redescrição e revalidação do gênero e da espécie Brasicystis
bennetti (Artigo 3) parasita de P. squamosissimus.
Ao final do segundo ano de realização do curso de Doutorado, foi realizado
um estágio sanduíche, por doze meses nos Estados Unidos da América, no Harold
Manter Laboratory of Parasitology - Nebraska State Museum - University of
Nebraska Lincoln, coordenado pelo professor Dr. Scott Lyell Gardner.
Nesse período foram realizados vários treinamentos que, além de incluirem
técnicas de identificação taxonômica, incluíram o aprendizado de técnicas de
administração, elaboração, manutenção e curadoria de coleções parasitológicas,
sistemática e análise filogenética, e a codificação e uso de dados morfológicos para
o estudo filogenético (APÊNDICE I).
Durante o período de realização do doutorado sanduíche, houve a
participação nos seminários semanais como ouvinte e como palestrante no
laboratório Harold Manter Laboratory of Parasitology, apresentando resumos sobre o
projeto de Doutorado; além da participação em eventos locais divulgando os
resultados parciais, através de apresentações orais na "46th Annual Meeting of the
39
Southwestern Association of Parasitologists" e "44th Annual Rocky Mountain
Conference of Parasitology". Neste último, o trabalho apresentado foi contemplado
com o prêmio "Datus M Hammond" de melhor apresentação oral (APÊNDICE II).
Para os treinamentos em técnicas de sistemática filogenética, Dr. Scott Lyell
Gardner propôs a escolha de um gênero de helminto encontrado parasitando P.
squamosissimus no Estado do Pará, para então codificar os caracteres morfológicos
para a elaboração da filogenia do grupo. Contuto, a complexa taxonomia do gênero
Diplectanum, escolhido, apresenta dados confusos na literatura e, foi então
desenvolvido um projeto para realização da revisão taxonômica desses parasitos.
Assim, essa proposta foi contemplada com o prêmio "Ernst Mayr Travel Grant
in Animal Systematics", oferecido pela Harvard University, que financiou a visita ao
Museu de Historia Natural em Paris, coordenado pelo Dr. Jean-Lou Justine e ao
Laboratório de Helmintos Parasitas, da Academia Russa de Ciências, coordenado
pelo Dr. Pavel Gerasev (APÊNDICE III).
As colaborações com o Dr. Scott Lyell Gardner resultaram na elaboração e
submissão de mais um artigo científico (Artigo 4) e a visita ao museu de História
Natural em Paris, gerou a elaboração de outro artigo científico em colaboração com
Dr. Jean-Lou Justine, o qual está em processo de finalização e submissão (Artigo
5).
Deste modo os resultados do estudo da helmintofauna de Plagioscion
squamosissimus resultaram na descrição de uma nova espécie e identificação das
espécies demonstradas no Quadro 2 a seguir.
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Quadro 2: Quadro parasitológico dos helmintos identificados parasitando Plagioscion squamosissimos de Belém, Pará, Brasil.
GRUPO/ESPÉCIE SÍTIO DE INFECÇÃO
PREVALÊNCIA RESULTADO DA ANÁLISE
Acanthocephala
Neoechinorhynchus veropesoi Intestino Delgado
39,1%
Artigo 1 (Publicado) MELO, F.T.V.; COSTA, P.A.F.B., GIESE, E.G, GARDNER, S.L., SANTOS, J.N. A description of Neoechinorhynchus (Neoechinorhynchus) veropesoi n. sp. (Acanthocephala: Neoechinorhynchidae) from the intestine of the silver croaker fish Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840) (Osteichthyes: Sciaenidae) off the east coast of Brazil. Journal of Helminthology, DOI: http://dx.doi.org/10.1017/S0022149X13000564 (2013)
Cestoda
- Larvas da Ordem Proteocephalidea
- Larvas da Ordem Trypanorhyncha
Cavidade Celomática
100% 13,1%
Artigo 4 (Publicado)
MELO, F.T.V., RODRIGUES, R.A.R., GIESE, E.G., GARDNER, S.L., SANTOS, J.N. Histopathological Aspects in Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1940) induced by Neoechinorhynchus veropesoi, metacestodes and Anisakidae Juveniles. Brazilian Journal of Veterinary Parasitology. (2013)
lamellodisc or squamodisc? A redescription of the enigmatic Diplectanum jerbuae Gupta & Khanna, 1974. Acta Parasitologica (ISSN: 1896-1851)
Digenea
Brasicystis benetti Opérculo 43,5%
Artigo 3 (Publicado) MELO, F.T.V.; SILVA, J. P. E.; GONCALVES, E. C.; FURTADO, A. P.; GIESE, E.G; SANTOS, C.P.; SANTOS, J.N. Taxonomic status and redescription of the genus Brasicystis Thatcher, 1979 (Digenea: Didymozoidae). Parasitology International 62 (2): 208-214, 2013.
Família Criptogonimidae Estômago 26% Em elaboração