FORTALECIMENTO DOS ADOLESCENTES PARA UMA EFETIVA AUTONOMIA NA CULTURA DE PAZ
Autora: Mirian Elise Moraes Passos1
Orientadora: Dulce Dirclair Huf Bais2
Resumo
Esse artigo enfatiza a importância da inserção da cultura de paz na escola, enfocando não as consequências da violência, mas, sim, alternativas para o fomento da cultura de paz, estabelecendo um caminho que resgata valores fundamentais como: solidariedade, humildade, generosidade, amor, respeito e tolerância. Constatou-se que é necessário mostrar aos estudantes que a cultura de paz se faz nas pequenas ações do dia a dia, sendo revelada pelo jeito de nos comunicarmos com os outros, pela valorização de sermos tolerantes, pela maneira com que lidarmos com sentimentos e pela capacidade de reconhecer e valorizar as diferenças. A escola pública como formadora do cidadão deve intervir, a fim de minimizar a intolerância, a discriminação e o preconceito, contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade mais humana. A escola deve rever as suas práticas, propor atividades de enfrentamento às atitudes de violência e de fomento a cultura de paz, para que por meio de reflexões e mudanças de atitudes, seja estabelecido um ambiente escolar sadio e prazeroso.
Abstract
This article emphasizes the importance of integrating the culture of peace in schools, not focusing on the consequences of non-violence, but rather alternatives to fostering the culture of peace by establishing a way that conserves fundamental values such as solidarity, humility, generosity, love, respect and tolerance. It was found that it is necessary to show to students that the culture of peace is made in small acts of everyday life, revealed in the way we communicate with others, the appreciation of being tolerant, by the way that they deal with feelings and ability to recognize and value differences. The public school as teaching of the citizen must intervene in order to reduce intolerance, discrimination and prejudice, contributing to the development of a more humane society. The school should review its practices, proposing activities to confront the attitudes of violence and promoting a culture of peace, so that through reflection and changes in attitudes, been established in the school an healthy and pleasurable environment.
Palavras-chave: Cultura de paz; não-violência; valores; violência; mudanças de
atitudes.
1 Pós-graduada em Educação Ambiental e graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do
Paraná. Professora de Ciências e Biologia na Educação Básica na Escola Oriental República do Uruguai e no
Colégio Estadual Hildebrando de Araújo. 2 Doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná. Professora adjunta da Universidade Federal do
Paraná.
1 Introdução
O crescente contingente de jovens envolvidos em conflitos escolares,
insultos, ameaças, intimidações entre alunos, escolas depredadas, formação de
gangues, agressões físicas, ou ainda psicológicas, como isolamento e rejeição,
favorecem a existência de professores, pais e alunos amedrontados diante dessas
situações que explicitam a banalização da violência, como se esta, fosse a única
solução para resolução de conflitos.
Diariamente através dos meios de comunicação, ouvimos notícias
envolvendo vários tipos de violência dentro ou nos arredores de nossas escolas. A
escola está deixando de ser local prazeroso, e tornando-se um local de tensão e
insegurança.
A violência é a quebra do princípio de convivência, é um sintoma de
desajustes sociais, e quando reflete na escola temos que contê-la. Não podemos
deixar o problema tomar uma grande dimensão, ou pior, ignorar a violência,
deixando que ela se perpetue no ambiente escolar. Desse modo, a escola pública,
instituição formadora do cidadão, é chamada a intervir, a fim de minimizar a
intolerância, a discriminação e o preconceito, contribuindo para o desenvolvimento
de uma sociedade humana. Deve rever suas práticas, trazer as questões do mundo
para a sala de aula, propor atividades de enfrentamento às atitudes de violência e de
fomento a cultura de paz, para que, por meio de reflexões e mudanças de atitudes,
seja estabelecido um ambiente escolar sadio e prazeroso.
Tal realidade exige o desenvolvimento de estratégias de ação e recursos
didáticos adequados, dirigidos ao fortalecimento discente na construção de um
mundo vinculado ‘a cultura de paz. Nessa perspectiva, este artigo relata a
elaboração e a aplicação de material didático de auxílio a professores da educação
básica, a fim de inserir atividades de fomento à cultura de paz, independentemente
da disciplina a ser ministrada.
Sob o tema ‘construtores da paz’, o desenvolvimento das atividades
propostas neste trabalho teve como objetivo geral sensibilizar os estudantes para a
cultura da paz. O desdobramento do trabalho realizado aconteceu mediante a
definição de objetivos específicos que balizaram as atividades desenvolvidas. Tais
objetivos englobaram a identificação de ícones da paz mundial, pesquisas sobre a
biografia das personalidades ligadas à cultura de paz, correlação entre as ações de
valorização da paz das personalidades pesquisadas a possíveis ações da cultura de
paz e da não-violência no ambiente escolar, identificação da escola como espaço
próprio de promoção da paz e a análise crítica sobre as causas e consequências de
conflitos e situações de violência associadas a mudanças de comportamentos que
favorecem a cultura de paz.
Dada a natureza do tema e o caráter transversal dos seus conteúdos, as
atividades sugeridas neste trabalho podem ser aplicadas nas áreas de história,
geografia, sociologia, filosofia, artes, língua portuguesa, articulando conteúdos como
direitos humanos e valores como respeito, solidariedade, tolerância, cultura de paz e
não-violência. Paralelamente, o cuidado na escola com a cultura de paz e da não-
violência favorece as discussões coletivas e o aprimoramento da capacidade de
comunicação, do respeito às diferenças individuais e culturais, da resolução de
conflitos de maneira não violenta e do comprometimento com as questões referentes
à paz.
As propostas apresentadas neste artigo surgiram da vivência docente
fundamentadas pelo estudo sistemático e pesquisa exploratória desenvolvidas
durante o processo de formação continuada da autora, proporcionado pelo
Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria do Estado da Educação
do Paraná.
2 DESENVOLVIMENTO
Na Carta de Ottawa, documento firmado em 1986, por ocasião da
Conferência Internacional de Promoção de Saúde no Canadá, representantes de 38
países assumiram o compromisso de reconhecer como sendo condições
fundamentais de saúde: a paz, a moradia, a educação, a alimentação, o salário, a
justiça social e a igualdade de direitos dos cidadãos. Desde então, as iniciativas para
a prevenção da violência e a sedimentação de uma cultura de paz passaram a ser
entendidas como medidas fundamentais dos setores de educação, assistência
social, saúde e segurança pública. Assim, na perspectiva da promoção da saúde, a
paz figura entre os pré-requisitos básicos para a saúde.
Existem algumas datas chaves no esforço pela paz e pela não-violência. Em
1899, foi realizada a Conferência de Haia para a Paz; em 1919, foi estabelecida a
Liga das Nações; e, em 1945, aconteceu a criação da Organização das Nações
Unidas e sua agência especializada para a educação, a ciência, a cultura e as
comunicações, UNESCO. Desde sua criação ao final da Segunda Guerra Mundial, a
UNESCO tem agido sempre de acordo com os princípios delineados no preâmbulo
de seu ato constitutivo, a saber: "uma vez que as guerras começam na mente dos
homens, é na mente dos homens que as defesas da paz devem ser construídas"
(UNESCO, 2010).
Mesmo trabalhando em uma variedade de campos de atuação, a missão
exclusiva da UNESCO é a construção da paz, conforme preceitua o art. 1 do seu ato
constitutivo que assim versa:
O propósito da Organização é contribuir para a paz e a segurança, promovendo cooperação entre as nações por meio da educação, da ciência e da cultura, visando a favorecer o respeito universal à justiça, ao estado de direito e aos direitos humanos e liberdades fundamentais afirmados aos povos do mundo (UNESCO, 2010).
No entanto, só em 1989, alguns meses antes da queda do muro de Berlim,
durante o Congresso Internacional para a Paz na Mente dos Homens, realizado em
Yamassoukro na Costa do Marfim, que, pela primeira vez, foi expressa a noção de
uma cultura de paz. Desde então, tal ideia tornou-se um movimento mundial.
Consequentemente, em 04 de março de 1999, na preparação do Ano Internacional
da Cultura de Paz em Paris, foi lançado o Manifesto 2000 por uma Cultura de Paz e
Não-Violência, elaborado por personalidades laureadas com o Prêmio Nobel da Paz,
em parceria com as Nações Unidas e a UNESCO.
No Brasil, a apropriação do tema cultura de paz e não-violência, pelo setor
de saúde, promoveu uma mudança do enfoque assistencial, passando do plano
curativo para o preventivo, tendo como um dos seus referenciais o documento da
Assembléia Geral das Nações Unidas, redigido em 20 de novembro de 1997. Tal
documento proclamou o ano 2000 como Ano Internacional por uma Cultura de Paz
e, na sequência, em 10 de novembro de 1998, por meio de uma nova resolução foi
proclamada a década de 2001-2010 como a Década Internacional para uma Cultura
de Paz e Não-violência para as Crianças do Mundo, delegando à UNESCO a
responsabilidade de promover a campanha mundial que hoje congrega milhares de
iniciativas pelo mundo todo.
O ano de 2000 foi o marco inicial de uma grande mobilização a favor da paz.
Muitas dessas mobilizações ocorreram em escolas, considerando que as mesmas
constituem o palco adequado para a busca de novas formas de convivência social e
cultura de paz. É preciso destacar que as Nações Unidas definem cultura de paz
como “um conjunto de valores, atitudes, modos de comportamento e formas de vida
que rejeitam a violência e previnem conflitos ao lidar com suas causas e resolver
problemas pelo diálogo e negociação entre os indivíduos, grupos e nações” (Nações
Unidas A/RES/52/13-1998-1999).
Alguns fatores como a falta da família, o baixo poder aquisitivo, a exclusão
social, a falta de políticas públicas, fazem com que os jovens sintam-se
desprotegidos e fragilizados, fazendo opções incorretas na resolução de conflitos,
permitindo o aumento da violência. Nos dias atuais, o processo de desumanização,
individualismo e intolerância que invade nossa sociedade está refletido na escola e
deve ser acompanhado com atenção pelos educadores, a fim de que estes possam
observar a importância de se discutir o tema paz e não-violência no seu trabalho em
sala de aula. Educar para paz é fundamental para que os estudantes percebam que
é importante a resolução de conflitos de forma madura e saudável, visto que eles
fazem parte do cotidiano de todas as pessoas em todos os tempos e lugares.
O mundo ainda se encontra diante do desafio de transformar a cultura de
violência em cultura de paz, esbarrando na dificuldade de buscar os meios
adequados e necessários para a tentativa da mudança de atitudes, valores e
comportamentos, na promoção da paz. O caminho para construção da cultura da
paz é um exercício diário de transformação e de abandono de velhas posturas.
Educação para a paz é um processo pelo qual se promovem conhecimentos,
habilidades, atitudes e valores necessários para a indução de mudanças
comportamentais que possibilitam as crianças, os jovens e os adultos a prevenir a
violência (tanto em sua manifestação direta como em sua forma estrutural); resolver
conflitos de forma pacífica e criar condições que conduzam à paz (na sua dimensão
intra e interpessoal; ambiental, intergrupal, nacional e /ou internacional).
Referenciais interessantes emergem da definição de educação para a paz. A
educação para a paz é um processo a ser desenvolvido ao longo do vida,
permeando todas as idades, abrangendo um campo de atuação complexo e
multifacetado. Além de acontecer nas escolas, deve estar presente em nosso
cotidiano, através dos meios de comunicação, nas relações pessoais, na
organização das instituições e no meio familiar (DISKIN, ROIZMAN, 2008). Assim, a
escola é um local privilegiado para a construção da cultura de paz. Grande parte dos
alunos que frequentam regularmente as escolas presenciam no seu cotidiano vários
tipos de violência e acabam banalizando esses atos e incorporando-os no seu dia a
dia. Portanto, é preciso que o trabalho com os estudantes desenvolva a capacidade
de discernimento, tolerância e autoestima, rompendo com o preconceito, a
discriminação e ausência de expectativa de uma vida compatível com a cultura de
paz e não-violência.
A violência na escola não é fato novo, por isso são necessárias novas
formas de intervenção para o enfrentamento de conflitos cada vez mais frequentes.
Educar para a paz na escola envolve mudanças na nossa maneira de pensar e no
nosso sistema de ensino, uma vez que, além da transmissão de saberes, a
educação para a paz visa a formação de uma nova maneira de ser.
Cada escola pode promover a sua cultura de paz, com o auxílio da
comunidade, dos estudantes, dos professores e funcionários. A comunidade e a
família são importantes nessa interação, pois fortalecem o ambiente escolar. A busca
por novas formas de convivência e pela construção de uma cultura de paz na escola
deve estar embasada na conciliação, solidariedade, amor, humildade, respeito,
generosidade. Para despertar em nossos estudantes ações de bem-estar e que
contribuam para a paz global é necessário que a escola inicie trabalhando com a
formação de valores e atitudes do cotidiano escolar, quer seja na hora do intervalo,
na formação da fila, ou em trabalhos em sala. Em contrapartida, o educador deve a
cada dia verificar se os seus procedimentos em sala de aula são condizentes com a
construção de uma cultura de paz.
Novas estratégias são necessárias para facilitar a convivência, promovendo
o diálogo e o empenho na resolução dos conflitos em sala de aula. Uma dessas
estratégias é o conhecimento da ação de pessoas que dedicaram suas vidas a
cultura de paz e ao bem das pessoas, como exemplos de vida que podem inspirar
os estudantes a ações de paz.
É necessário mostrar aos estudantes que a cultura de paz se faz nas
pequenas ações do dia a dia, sendo revelada pelo jeito de nos comunicarmos com
os outros, pela valorização de sermos tolerantes, pela maneira com que lidamos
com sentimentos e pela capacidade de reconhecer e valorizar as diferenças.
Ao longo da história universal, identificam-se várias personalidades, tanto no
ocidente como no oriente, que viveram a paz e mudaram significativamente o rumo
das sociedades de seu tempo, através de ações do seu cotidiano. Trazer esses
personagens, cujos ideais e histórias de vida foram dedicados à busca pela paz,
para a sala de aula, oportunizando aos estudantes conhecê-los e descobrir o que
essas personalidades fizeram na história da humanidade, pode inspirar e contribuir
para formação de uma consciência pacifista no ambiente escolar. O material
pedagógico desenvolvido teve como base operacional o desenvolvimento da leitura
sobre a vida e as ações de algumas personalidades pacifistas mundiais,
apresentando suas conquistas como exemplo para a construção da paz.
A metodologia participativa foi utilizada em todas as atividades
desenvolvidas e aqui sugeridas como forma de trabalho. A cada atividade foi
atribuído um nome, os objetivos a serem alcançados, a relação dos materiais
utilizados, o tempo necessário e a descrição específica da atividade. Foram
desenvolvidas oito atividades sequenciais e independentes, cujos objetivos
determinaram a ordem de aplicação das mesmas.
A primeira atividade, intitulada paz, consistiu na apresentação do clipe e na
compreensão da letra da música “paz” do grupo musical Roupa Nova, com a
finalidade de apresentar o assunto cultura de paz, favorecendo as discussões sobre
o tema. Para o desenvolvimento desta atividade foi previsto tempo equivalente a
uma aula de 50 minutos. Após a apresentação do clipe e a compreensão da letra da
música supracitada foram lançadas perguntas, com a finalidade de investigar a visão
dos estudantes sobre a paz. Os estudantes foram incentivados a verbalizar o que
sentiram ao ver o clipe e refletir sobre as causas e as conseqüências dos conflitos
sociais e da violência. Em seguida, foram levantados questionamentos para registrar
como as pessoas enxergam a paz, o que falta na nossa vida pessoal e coletiva para
atingir a Paz, o significado da expressão cultura de paz e possíveis ações geradoras
de paz. A atividade foi encerrada com a produção de um texto coletivo sobre o tema
paz.
No planejamento da segunda atividade, intitulada a história da não violência,
foram escolhidos documentários em vídeos de curta duração, nos quais eram
retratados aspectos da vida e ações de vários pacifistas. Esta atividade teve como
objetivo introduzir a ideia de que a paz é resultante da ação de homens
determinados que buscaram solucionar graves conflitos do seu tempo. Após a
exibição do documentário buscou-se as informações pessoais dos pacifistas, a
contextualização da época em que viveram, as ações que culminaram na construção
da não-violência e o resultado da afirmação de suas convicções.
Surpreendentemente, nesta atividade os alunos apresentaram um baixo grau de
envolvimento, o qual foi justificado pelos alunos como dificuldade de compreensão
do conteúdo dos vídeos. Tal dificuldade foi superada na aula seguinte com a
apresentação do filme “Invictus” que retrata a atitude de Nelson Mandela ao assumir
a presidência da África do Sul, como consequência da sua luta contra a segregação
racial, tendo havido excelente participação discente no levantamento de questões
apresentadas após a projeção do filme sobre a não-violência, o bom resultado de
conflitos resolvidos sem violência e aspectos de vida a serem aprendidos e
apreendidos com as histórias de vida dos pacificadores.
A terceira atividade, sob o título ‘grandes pacifistas mundais’, foi
desenvolvida em grupo de quatro alunos, consistindo na leitura de fichas biográficas
previamente redigidas pela professora, contendo uma curta história de vida de
alguns pacifistas, enfatizando as suas ações e o contexto histórico e social do
trabalho desenvolvido pelos mesmos. Nas fichas biográficas foram destacadas as
ações de pessoas que se dedicaram à cultura de paz, rejeitando a violência na
resolução de conflitos e disseminando os valores condizentes com uma cultura da
paz. Após a leitura das fichas, os alunos fizeram a análise e a identificação de
alguns dados como: local e ano de nascimento e morte, formação acadêmica,
contexto histórico e contribuições deixadas para a cultura da paz mundial. O
planejamento desta atividade previa a apresentação sintética de fatos mais
interessantes presentes na vida do pacifista estudado. Neste ponto, os alunos
sugeriram a apresentação pretendida mediante uma montagem teatral, simulando o
túnel do tempo, no qual eram chamados os pacifistas um a um que se apresentavam
e relatavam a contribuição do trabalho realizado em prol da paz no seu âmbito de
ação.
A quarta atividade foi intitulada ‘pacifistas, hoje’. A realização da mesma teve
como elemento norteador um modelo de ficha biográfica preparado pela professora
(anexo 1), a ser preenchida pelos alunos em pequenos grupos, partindo de uma lista
sugestiva de personalidades da atualidade que são solidários e realizam o bem para
a humanidade. Para o desenvolvimento desta atividade os alunos se dirigiram ao
laboratório de informática, com a finalidade de buscar informações sobre as ações
dessas personalidades e correlacioná-las a ações de paz a serem registradas nas
fichas biográficas. Foi permitido que os alunos buscassem outros possíveis
pacifistas além da lista sugerida. Tal abertura resultou na criatividade dos alunos em
avaliar o ‘ser pacifista’, mediante a apresentação de possíveis pacificadores com
perfil distinto dos pacificadores sugeridos pela professora. A lista apresentada pela
professora foi constituída por pacifistas de renome universal, tais como: Madre
Teresa de Calcultá, Gandhi, Dom Hélder, Nelson Mandela, Herbert de Souza, Irmã
Dulce, Zilda Arns, Chico Xavier, entre outros. A preferência dos alunos foi mais
acentuada por pacifistas de abrangência nacional, favorecida pelo modelo midiático
vigente, a saber: Xuxa, Didi, Netinho, Gugu; além do cantor Bono e da atriz Jenifer
Lopes, no contexto internacional. Na sequência, ocorreu a socialização das fichas
biográficas com uma breve apresentação das equipes para todo o grupo. Como
atividade para o encontro posterior, foi solicitada a identificação na comunidade
próxima aos estudantes de uma personalidade cujas ações eram benéficas para a
comunidade e favoráveis à construção da cultura de paz.
A quinta atividade consistiu na construção do mural da paz, com a finalidade
de retratar a compreensão dos alunos sobre a cultura de paz. A montagem deste
mural teve como recurso recortes de revistas, desenhos, frases e textos redigidos
pelos alunos sobre a construção da cultura da paz e da não-violência.
A sexta atividade teve como título ‘um convite para cultivar a paz’. Nesta
atividade cada grupo ou estudante recebeu uma folha com perguntas, um quadro
com um conjunto de valores escritos em folha de papel (anexo 2) e folhas de papel
kraft. As perguntas que constavam na folha foram respondidas, tendo como
referência correlata os valores apresentados na caixa e fixados no papel kraft. Cada
grupo apresentou as suas respostas, seguidas da abertura para a discussão sobre
valores. As perguntas norteadoras foram: 1) Quais os valores que você considera
mais significativos hoje em dia e por quê? 2) Quais os valores que tem o poder de
aproximar, congregar, aglutinar as pessoas? 3) Quais valores, pelo contrário, são
desagregadores, causadores de sofrimento e isolamento entre as pessoas? 4) Quais
valores você acredita possuir e quais desejaria conquistar?
Sob o título ‘conflitos & soluções, a sétima atividade teve como objetivo
relatar um conflito e propor possíveis soluções. Foram formados grupos de cinco
pessoas, nos quais cada aluno relatava uma situação conflituosa e o grupo
apresentava possíveis soluções, práticas e realistas. Tais soluções eram escritas e
entregues à pessoa que descreveu o problema. Sendo o processo repetido para
cada participante, este foi seguido de discussão coletiva quanto a sentimentos
gerados durante a atividade e possíveis soluções encontradas ou formas de
contribuir na solução de problemas dos colegas.
A atividade oitava atividade teve como título ‘resolução de conflitos’,
objetivando identificar na escola situações de conflitos e buscar soluções. Os
estudantes fizeram um levantamento, junto ao setor de orientação educacional da
escola, sobre as ocorrências de violência ou depredação ocorridas ao longo do ano.
Em pequenos grupos, os estudantes analisaram as ocorrências, na tentativa de
buscar informações para responder questões sobre como a situação conflituosa foi
desencadeada, como começou, como poderia ter sido evitada e como foi resolvida.
Esta atividade permitiu aos alunos compreender situações conflituosas do cotidiano
escolar, pessoas envolvidas e diferentes soluções a serem adotadas e diferentes
modos de atuar. Na finalização da atividade, cada grupo desenvolveu um
planejamento de ações dirigidas a possíveis soluções para os problemas
apresentados, no sentido de reverter a situação de depredação e violência
encontrados na escola, seguindo os conceitos da cultura de paz. As propostas de
resolução foram registradas e serviram de base para a confecção de um painel
contendo, de um lado as causas dos conflitos e do outro, as propostas de ações
para resolução. Esse painel foi exposto para que todos os integrantes da
comunidade escolar visualizassem as diferentes maneiras de se resolver conflitos,
mediante ações da não-violência.
3 CONCLUSÃO
Para a implementação de uma cultura de paz na escola é necessário que
todos os responsáveis pela educação acreditem na possibilidade de novas relações
no ambiente escolar e que as ações a serem realizadas considerem a afetividade, o
amor, o gosto pela vida e o aguçamento do sentimento de pertencimento à
comunidade escolar, como uma semente, a ser colocada na vida de nossos
estudantes para que esses percebam que são capazes de atuar como agentes na
desconstrução da violência escolar. Educar para paz é fundamental para que os
estudantes percebam a importância da resolução de conflitos de forma madura e
saudável, visto que situações conflituosas fazem parte do cotidiano de todas as
pessoas, em todos os tempos e lugares.
Ao falarmos de cultura da paz, não falamos de grandes propostas
salvadoras, mas sim, de propostas de ensino que viabilizem a possibilidade de
transformação do estudante que está carente de valores em uma sociedade que
valoriza mais o ter do que o ser. Percebeu-se também a importância do educador
que se proponha a trabalhar com a cultura de paz e a não violência tenha teoria e
práticas condizentes com a proposta defendida.
No projeto desenvolvido, a partir das reflexões sobre valores e conduta, as
ações realizadas tiveram como base atividades de âmbito preventivo e de
enfrentamento às atitudes de violência e fomento a cultura de paz. Além das fichas
biográficas, outras atividades foram desenvolvidas, no intuito de facilitar para os
educadores a inclusão do tema paz, conflito e violência no seu trabalho em sala de
aula.
Desse modo, outras atividades pedagógicas propostas para o trabalho com
a cultura da paz e não-violência podem envolver a interpretação de imagens, textos,
filmes e atividades que estimulem a reflexão, a revisão de valores, atitudes e
comportamentos, conduzindo os discentes a adotar novas formas de ser e conviver.
Tal prática exige a necessidade da constância do trabalho desenvolvido pelos
profissionais da educação comprometidos com a cultura de paz e a não-violência,
como tarefa contínua, não sendo possível visualizar resultados imediatos, bem
como, resultados a serem colhidos ao longo da vida de cada participante envolvido
no processo de transformação social.
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Anexo 1
FICHAS BIOGRÁFICAS CONSTRUTORES DA PAZ
Nome: Data e local de nascimento: Data e local de morte: História de vida: Contexto histórico: Ações para a Paz/Bem: Conseqüências Mundiais:
Anexo 2
Quadro de valores a ser utilizado pelo estudantes como resposta.
SÁUDE MISÉRIA VÍCIO
IGNORÂNCIA JUSTIÇA LIBERDADE
SOLIDÃO FADIGA AMOR
DEPENDÊNCIA SOFRIMENTO CONHECIMENTO
COVARDIA ÓCIO SANTIDADE
POBREZA FAMA TRABALHO
SEGURANÇA RIQUEZA INTELIGÊNCIA
ÓDIO FELICIDADE PECADO
INDEPENDÊNCIA BELEZA DESGRAÇA
COMPREENSÃO FRAQUEZA DOENÇA
DESONESTIDADE