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FORTALECIMENTO DOS ADOLESCENTES PARA UMA EFETIVA … · dia. Portanto, é preciso que o trabalho com os estudantes desenvolva a capacidade de discernimento, tolerância e autoestima,

Aug 29, 2019

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FORTALECIMENTO DOS ADOLESCENTES PARA UMA EFETIVA AUTONOMIA NA CULTURA DE PAZ

Autora: Mirian Elise Moraes Passos1

Orientadora: Dulce Dirclair Huf Bais2

Resumo

Esse artigo enfatiza a importância da inserção da cultura de paz na escola, enfocando não as consequências da violência, mas, sim, alternativas para o fomento da cultura de paz, estabelecendo um caminho que resgata valores fundamentais como: solidariedade, humildade, generosidade, amor, respeito e tolerância. Constatou-se que é necessário mostrar aos estudantes que a cultura de paz se faz nas pequenas ações do dia a dia, sendo revelada pelo jeito de nos comunicarmos com os outros, pela valorização de sermos tolerantes, pela maneira com que lidarmos com sentimentos e pela capacidade de reconhecer e valorizar as diferenças. A escola pública como formadora do cidadão deve intervir, a fim de minimizar a intolerância, a discriminação e o preconceito, contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade mais humana. A escola deve rever as suas práticas, propor atividades de enfrentamento às atitudes de violência e de fomento a cultura de paz, para que por meio de reflexões e mudanças de atitudes, seja estabelecido um ambiente escolar sadio e prazeroso.

Abstract

This article emphasizes the importance of integrating the culture of peace in schools, not focusing on the consequences of non-violence, but rather alternatives to fostering the culture of peace by establishing a way that conserves fundamental values such as solidarity, humility, generosity, love, respect and tolerance. It was found that it is necessary to show to students that the culture of peace is made in small acts of everyday life, revealed in the way we communicate with others, the appreciation of being tolerant, by the way that they deal with feelings and ability to recognize and value differences. The public school as teaching of the citizen must intervene in order to reduce intolerance, discrimination and prejudice, contributing to the development of a more humane society. The school should review its practices, proposing activities to confront the attitudes of violence and promoting a culture of peace, so that through reflection and changes in attitudes, been established in the school an healthy and pleasurable environment.

Palavras-chave: Cultura de paz; não-violência; valores; violência; mudanças de

atitudes.

1 Pós-graduada em Educação Ambiental e graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do

Paraná. Professora de Ciências e Biologia na Educação Básica na Escola Oriental República do Uruguai e no

Colégio Estadual Hildebrando de Araújo. 2 Doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná. Professora adjunta da Universidade Federal do

Paraná.

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1 Introdução

O crescente contingente de jovens envolvidos em conflitos escolares,

insultos, ameaças, intimidações entre alunos, escolas depredadas, formação de

gangues, agressões físicas, ou ainda psicológicas, como isolamento e rejeição,

favorecem a existência de professores, pais e alunos amedrontados diante dessas

situações que explicitam a banalização da violência, como se esta, fosse a única

solução para resolução de conflitos.

Diariamente através dos meios de comunicação, ouvimos notícias

envolvendo vários tipos de violência dentro ou nos arredores de nossas escolas. A

escola está deixando de ser local prazeroso, e tornando-se um local de tensão e

insegurança.

A violência é a quebra do princípio de convivência, é um sintoma de

desajustes sociais, e quando reflete na escola temos que contê-la. Não podemos

deixar o problema tomar uma grande dimensão, ou pior, ignorar a violência,

deixando que ela se perpetue no ambiente escolar. Desse modo, a escola pública,

instituição formadora do cidadão, é chamada a intervir, a fim de minimizar a

intolerância, a discriminação e o preconceito, contribuindo para o desenvolvimento

de uma sociedade humana. Deve rever suas práticas, trazer as questões do mundo

para a sala de aula, propor atividades de enfrentamento às atitudes de violência e de

fomento a cultura de paz, para que, por meio de reflexões e mudanças de atitudes,

seja estabelecido um ambiente escolar sadio e prazeroso.

Tal realidade exige o desenvolvimento de estratégias de ação e recursos

didáticos adequados, dirigidos ao fortalecimento discente na construção de um

mundo vinculado ‘a cultura de paz. Nessa perspectiva, este artigo relata a

elaboração e a aplicação de material didático de auxílio a professores da educação

básica, a fim de inserir atividades de fomento à cultura de paz, independentemente

da disciplina a ser ministrada.

Sob o tema ‘construtores da paz’, o desenvolvimento das atividades

propostas neste trabalho teve como objetivo geral sensibilizar os estudantes para a

cultura da paz. O desdobramento do trabalho realizado aconteceu mediante a

definição de objetivos específicos que balizaram as atividades desenvolvidas. Tais

objetivos englobaram a identificação de ícones da paz mundial, pesquisas sobre a

biografia das personalidades ligadas à cultura de paz, correlação entre as ações de

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valorização da paz das personalidades pesquisadas a possíveis ações da cultura de

paz e da não-violência no ambiente escolar, identificação da escola como espaço

próprio de promoção da paz e a análise crítica sobre as causas e consequências de

conflitos e situações de violência associadas a mudanças de comportamentos que

favorecem a cultura de paz.

Dada a natureza do tema e o caráter transversal dos seus conteúdos, as

atividades sugeridas neste trabalho podem ser aplicadas nas áreas de história,

geografia, sociologia, filosofia, artes, língua portuguesa, articulando conteúdos como

direitos humanos e valores como respeito, solidariedade, tolerância, cultura de paz e

não-violência. Paralelamente, o cuidado na escola com a cultura de paz e da não-

violência favorece as discussões coletivas e o aprimoramento da capacidade de

comunicação, do respeito às diferenças individuais e culturais, da resolução de

conflitos de maneira não violenta e do comprometimento com as questões referentes

à paz.

As propostas apresentadas neste artigo surgiram da vivência docente

fundamentadas pelo estudo sistemático e pesquisa exploratória desenvolvidas

durante o processo de formação continuada da autora, proporcionado pelo

Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria do Estado da Educação

do Paraná.

2 DESENVOLVIMENTO

Na Carta de Ottawa, documento firmado em 1986, por ocasião da

Conferência Internacional de Promoção de Saúde no Canadá, representantes de 38

países assumiram o compromisso de reconhecer como sendo condições

fundamentais de saúde: a paz, a moradia, a educação, a alimentação, o salário, a

justiça social e a igualdade de direitos dos cidadãos. Desde então, as iniciativas para

a prevenção da violência e a sedimentação de uma cultura de paz passaram a ser

entendidas como medidas fundamentais dos setores de educação, assistência

social, saúde e segurança pública. Assim, na perspectiva da promoção da saúde, a

paz figura entre os pré-requisitos básicos para a saúde.

Existem algumas datas chaves no esforço pela paz e pela não-violência. Em

1899, foi realizada a Conferência de Haia para a Paz; em 1919, foi estabelecida a

Liga das Nações; e, em 1945, aconteceu a criação da Organização das Nações

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Unidas e sua agência especializada para a educação, a ciência, a cultura e as

comunicações, UNESCO. Desde sua criação ao final da Segunda Guerra Mundial, a

UNESCO tem agido sempre de acordo com os princípios delineados no preâmbulo

de seu ato constitutivo, a saber: "uma vez que as guerras começam na mente dos

homens, é na mente dos homens que as defesas da paz devem ser construídas"

(UNESCO, 2010).

Mesmo trabalhando em uma variedade de campos de atuação, a missão

exclusiva da UNESCO é a construção da paz, conforme preceitua o art. 1 do seu ato

constitutivo que assim versa:

O propósito da Organização é contribuir para a paz e a segurança, promovendo cooperação entre as nações por meio da educação, da ciência e da cultura, visando a favorecer o respeito universal à justiça, ao estado de direito e aos direitos humanos e liberdades fundamentais afirmados aos povos do mundo (UNESCO, 2010).

No entanto, só em 1989, alguns meses antes da queda do muro de Berlim,

durante o Congresso Internacional para a Paz na Mente dos Homens, realizado em

Yamassoukro na Costa do Marfim, que, pela primeira vez, foi expressa a noção de

uma cultura de paz. Desde então, tal ideia tornou-se um movimento mundial.

Consequentemente, em 04 de março de 1999, na preparação do Ano Internacional

da Cultura de Paz em Paris, foi lançado o Manifesto 2000 por uma Cultura de Paz e

Não-Violência, elaborado por personalidades laureadas com o Prêmio Nobel da Paz,

em parceria com as Nações Unidas e a UNESCO.

No Brasil, a apropriação do tema cultura de paz e não-violência, pelo setor

de saúde, promoveu uma mudança do enfoque assistencial, passando do plano

curativo para o preventivo, tendo como um dos seus referenciais o documento da

Assembléia Geral das Nações Unidas, redigido em 20 de novembro de 1997. Tal

documento proclamou o ano 2000 como Ano Internacional por uma Cultura de Paz

e, na sequência, em 10 de novembro de 1998, por meio de uma nova resolução foi

proclamada a década de 2001-2010 como a Década Internacional para uma Cultura

de Paz e Não-violência para as Crianças do Mundo, delegando à UNESCO a

responsabilidade de promover a campanha mundial que hoje congrega milhares de

iniciativas pelo mundo todo.

O ano de 2000 foi o marco inicial de uma grande mobilização a favor da paz.

Muitas dessas mobilizações ocorreram em escolas, considerando que as mesmas

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constituem o palco adequado para a busca de novas formas de convivência social e

cultura de paz. É preciso destacar que as Nações Unidas definem cultura de paz

como “um conjunto de valores, atitudes, modos de comportamento e formas de vida

que rejeitam a violência e previnem conflitos ao lidar com suas causas e resolver

problemas pelo diálogo e negociação entre os indivíduos, grupos e nações” (Nações

Unidas A/RES/52/13-1998-1999).

Alguns fatores como a falta da família, o baixo poder aquisitivo, a exclusão

social, a falta de políticas públicas, fazem com que os jovens sintam-se

desprotegidos e fragilizados, fazendo opções incorretas na resolução de conflitos,

permitindo o aumento da violência. Nos dias atuais, o processo de desumanização,

individualismo e intolerância que invade nossa sociedade está refletido na escola e

deve ser acompanhado com atenção pelos educadores, a fim de que estes possam

observar a importância de se discutir o tema paz e não-violência no seu trabalho em

sala de aula. Educar para paz é fundamental para que os estudantes percebam que

é importante a resolução de conflitos de forma madura e saudável, visto que eles

fazem parte do cotidiano de todas as pessoas em todos os tempos e lugares.

O mundo ainda se encontra diante do desafio de transformar a cultura de

violência em cultura de paz, esbarrando na dificuldade de buscar os meios

adequados e necessários para a tentativa da mudança de atitudes, valores e

comportamentos, na promoção da paz. O caminho para construção da cultura da

paz é um exercício diário de transformação e de abandono de velhas posturas.

Educação para a paz é um processo pelo qual se promovem conhecimentos,

habilidades, atitudes e valores necessários para a indução de mudanças

comportamentais que possibilitam as crianças, os jovens e os adultos a prevenir a

violência (tanto em sua manifestação direta como em sua forma estrutural); resolver

conflitos de forma pacífica e criar condições que conduzam à paz (na sua dimensão

intra e interpessoal; ambiental, intergrupal, nacional e /ou internacional).

Referenciais interessantes emergem da definição de educação para a paz. A

educação para a paz é um processo a ser desenvolvido ao longo do vida,

permeando todas as idades, abrangendo um campo de atuação complexo e

multifacetado. Além de acontecer nas escolas, deve estar presente em nosso

cotidiano, através dos meios de comunicação, nas relações pessoais, na

organização das instituições e no meio familiar (DISKIN, ROIZMAN, 2008). Assim, a

escola é um local privilegiado para a construção da cultura de paz. Grande parte dos

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alunos que frequentam regularmente as escolas presenciam no seu cotidiano vários

tipos de violência e acabam banalizando esses atos e incorporando-os no seu dia a

dia. Portanto, é preciso que o trabalho com os estudantes desenvolva a capacidade

de discernimento, tolerância e autoestima, rompendo com o preconceito, a

discriminação e ausência de expectativa de uma vida compatível com a cultura de

paz e não-violência.

A violência na escola não é fato novo, por isso são necessárias novas

formas de intervenção para o enfrentamento de conflitos cada vez mais frequentes.

Educar para a paz na escola envolve mudanças na nossa maneira de pensar e no

nosso sistema de ensino, uma vez que, além da transmissão de saberes, a

educação para a paz visa a formação de uma nova maneira de ser.

Cada escola pode promover a sua cultura de paz, com o auxílio da

comunidade, dos estudantes, dos professores e funcionários. A comunidade e a

família são importantes nessa interação, pois fortalecem o ambiente escolar. A busca

por novas formas de convivência e pela construção de uma cultura de paz na escola

deve estar embasada na conciliação, solidariedade, amor, humildade, respeito,

generosidade. Para despertar em nossos estudantes ações de bem-estar e que

contribuam para a paz global é necessário que a escola inicie trabalhando com a

formação de valores e atitudes do cotidiano escolar, quer seja na hora do intervalo,

na formação da fila, ou em trabalhos em sala. Em contrapartida, o educador deve a

cada dia verificar se os seus procedimentos em sala de aula são condizentes com a

construção de uma cultura de paz.

Novas estratégias são necessárias para facilitar a convivência, promovendo

o diálogo e o empenho na resolução dos conflitos em sala de aula. Uma dessas

estratégias é o conhecimento da ação de pessoas que dedicaram suas vidas a

cultura de paz e ao bem das pessoas, como exemplos de vida que podem inspirar

os estudantes a ações de paz.

É necessário mostrar aos estudantes que a cultura de paz se faz nas

pequenas ações do dia a dia, sendo revelada pelo jeito de nos comunicarmos com

os outros, pela valorização de sermos tolerantes, pela maneira com que lidamos

com sentimentos e pela capacidade de reconhecer e valorizar as diferenças.

Ao longo da história universal, identificam-se várias personalidades, tanto no

ocidente como no oriente, que viveram a paz e mudaram significativamente o rumo

das sociedades de seu tempo, através de ações do seu cotidiano. Trazer esses

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personagens, cujos ideais e histórias de vida foram dedicados à busca pela paz,

para a sala de aula, oportunizando aos estudantes conhecê-los e descobrir o que

essas personalidades fizeram na história da humanidade, pode inspirar e contribuir

para formação de uma consciência pacifista no ambiente escolar. O material

pedagógico desenvolvido teve como base operacional o desenvolvimento da leitura

sobre a vida e as ações de algumas personalidades pacifistas mundiais,

apresentando suas conquistas como exemplo para a construção da paz.

A metodologia participativa foi utilizada em todas as atividades

desenvolvidas e aqui sugeridas como forma de trabalho. A cada atividade foi

atribuído um nome, os objetivos a serem alcançados, a relação dos materiais

utilizados, o tempo necessário e a descrição específica da atividade. Foram

desenvolvidas oito atividades sequenciais e independentes, cujos objetivos

determinaram a ordem de aplicação das mesmas.

A primeira atividade, intitulada paz, consistiu na apresentação do clipe e na

compreensão da letra da música “paz” do grupo musical Roupa Nova, com a

finalidade de apresentar o assunto cultura de paz, favorecendo as discussões sobre

o tema. Para o desenvolvimento desta atividade foi previsto tempo equivalente a

uma aula de 50 minutos. Após a apresentação do clipe e a compreensão da letra da

música supracitada foram lançadas perguntas, com a finalidade de investigar a visão

dos estudantes sobre a paz. Os estudantes foram incentivados a verbalizar o que

sentiram ao ver o clipe e refletir sobre as causas e as conseqüências dos conflitos

sociais e da violência. Em seguida, foram levantados questionamentos para registrar

como as pessoas enxergam a paz, o que falta na nossa vida pessoal e coletiva para

atingir a Paz, o significado da expressão cultura de paz e possíveis ações geradoras

de paz. A atividade foi encerrada com a produção de um texto coletivo sobre o tema

paz.

No planejamento da segunda atividade, intitulada a história da não violência,

foram escolhidos documentários em vídeos de curta duração, nos quais eram

retratados aspectos da vida e ações de vários pacifistas. Esta atividade teve como

objetivo introduzir a ideia de que a paz é resultante da ação de homens

determinados que buscaram solucionar graves conflitos do seu tempo. Após a

exibição do documentário buscou-se as informações pessoais dos pacifistas, a

contextualização da época em que viveram, as ações que culminaram na construção

da não-violência e o resultado da afirmação de suas convicções.

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Surpreendentemente, nesta atividade os alunos apresentaram um baixo grau de

envolvimento, o qual foi justificado pelos alunos como dificuldade de compreensão

do conteúdo dos vídeos. Tal dificuldade foi superada na aula seguinte com a

apresentação do filme “Invictus” que retrata a atitude de Nelson Mandela ao assumir

a presidência da África do Sul, como consequência da sua luta contra a segregação

racial, tendo havido excelente participação discente no levantamento de questões

apresentadas após a projeção do filme sobre a não-violência, o bom resultado de

conflitos resolvidos sem violência e aspectos de vida a serem aprendidos e

apreendidos com as histórias de vida dos pacificadores.

A terceira atividade, sob o título ‘grandes pacifistas mundais’, foi

desenvolvida em grupo de quatro alunos, consistindo na leitura de fichas biográficas

previamente redigidas pela professora, contendo uma curta história de vida de

alguns pacifistas, enfatizando as suas ações e o contexto histórico e social do

trabalho desenvolvido pelos mesmos. Nas fichas biográficas foram destacadas as

ações de pessoas que se dedicaram à cultura de paz, rejeitando a violência na

resolução de conflitos e disseminando os valores condizentes com uma cultura da

paz. Após a leitura das fichas, os alunos fizeram a análise e a identificação de

alguns dados como: local e ano de nascimento e morte, formação acadêmica,

contexto histórico e contribuições deixadas para a cultura da paz mundial. O

planejamento desta atividade previa a apresentação sintética de fatos mais

interessantes presentes na vida do pacifista estudado. Neste ponto, os alunos

sugeriram a apresentação pretendida mediante uma montagem teatral, simulando o

túnel do tempo, no qual eram chamados os pacifistas um a um que se apresentavam

e relatavam a contribuição do trabalho realizado em prol da paz no seu âmbito de

ação.

A quarta atividade foi intitulada ‘pacifistas, hoje’. A realização da mesma teve

como elemento norteador um modelo de ficha biográfica preparado pela professora

(anexo 1), a ser preenchida pelos alunos em pequenos grupos, partindo de uma lista

sugestiva de personalidades da atualidade que são solidários e realizam o bem para

a humanidade. Para o desenvolvimento desta atividade os alunos se dirigiram ao

laboratório de informática, com a finalidade de buscar informações sobre as ações

dessas personalidades e correlacioná-las a ações de paz a serem registradas nas

fichas biográficas. Foi permitido que os alunos buscassem outros possíveis

pacifistas além da lista sugerida. Tal abertura resultou na criatividade dos alunos em

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avaliar o ‘ser pacifista’, mediante a apresentação de possíveis pacificadores com

perfil distinto dos pacificadores sugeridos pela professora. A lista apresentada pela

professora foi constituída por pacifistas de renome universal, tais como: Madre

Teresa de Calcultá, Gandhi, Dom Hélder, Nelson Mandela, Herbert de Souza, Irmã

Dulce, Zilda Arns, Chico Xavier, entre outros. A preferência dos alunos foi mais

acentuada por pacifistas de abrangência nacional, favorecida pelo modelo midiático

vigente, a saber: Xuxa, Didi, Netinho, Gugu; além do cantor Bono e da atriz Jenifer

Lopes, no contexto internacional. Na sequência, ocorreu a socialização das fichas

biográficas com uma breve apresentação das equipes para todo o grupo. Como

atividade para o encontro posterior, foi solicitada a identificação na comunidade

próxima aos estudantes de uma personalidade cujas ações eram benéficas para a

comunidade e favoráveis à construção da cultura de paz.

A quinta atividade consistiu na construção do mural da paz, com a finalidade

de retratar a compreensão dos alunos sobre a cultura de paz. A montagem deste

mural teve como recurso recortes de revistas, desenhos, frases e textos redigidos

pelos alunos sobre a construção da cultura da paz e da não-violência.

A sexta atividade teve como título ‘um convite para cultivar a paz’. Nesta

atividade cada grupo ou estudante recebeu uma folha com perguntas, um quadro

com um conjunto de valores escritos em folha de papel (anexo 2) e folhas de papel

kraft. As perguntas que constavam na folha foram respondidas, tendo como

referência correlata os valores apresentados na caixa e fixados no papel kraft. Cada

grupo apresentou as suas respostas, seguidas da abertura para a discussão sobre

valores. As perguntas norteadoras foram: 1) Quais os valores que você considera

mais significativos hoje em dia e por quê? 2) Quais os valores que tem o poder de

aproximar, congregar, aglutinar as pessoas? 3) Quais valores, pelo contrário, são

desagregadores, causadores de sofrimento e isolamento entre as pessoas? 4) Quais

valores você acredita possuir e quais desejaria conquistar?

Sob o título ‘conflitos & soluções, a sétima atividade teve como objetivo

relatar um conflito e propor possíveis soluções. Foram formados grupos de cinco

pessoas, nos quais cada aluno relatava uma situação conflituosa e o grupo

apresentava possíveis soluções, práticas e realistas. Tais soluções eram escritas e

entregues à pessoa que descreveu o problema. Sendo o processo repetido para

cada participante, este foi seguido de discussão coletiva quanto a sentimentos

gerados durante a atividade e possíveis soluções encontradas ou formas de

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contribuir na solução de problemas dos colegas.

A atividade oitava atividade teve como título ‘resolução de conflitos’,

objetivando identificar na escola situações de conflitos e buscar soluções. Os

estudantes fizeram um levantamento, junto ao setor de orientação educacional da

escola, sobre as ocorrências de violência ou depredação ocorridas ao longo do ano.

Em pequenos grupos, os estudantes analisaram as ocorrências, na tentativa de

buscar informações para responder questões sobre como a situação conflituosa foi

desencadeada, como começou, como poderia ter sido evitada e como foi resolvida.

Esta atividade permitiu aos alunos compreender situações conflituosas do cotidiano

escolar, pessoas envolvidas e diferentes soluções a serem adotadas e diferentes

modos de atuar. Na finalização da atividade, cada grupo desenvolveu um

planejamento de ações dirigidas a possíveis soluções para os problemas

apresentados, no sentido de reverter a situação de depredação e violência

encontrados na escola, seguindo os conceitos da cultura de paz. As propostas de

resolução foram registradas e serviram de base para a confecção de um painel

contendo, de um lado as causas dos conflitos e do outro, as propostas de ações

para resolução. Esse painel foi exposto para que todos os integrantes da

comunidade escolar visualizassem as diferentes maneiras de se resolver conflitos,

mediante ações da não-violência.

3 CONCLUSÃO

Para a implementação de uma cultura de paz na escola é necessário que

todos os responsáveis pela educação acreditem na possibilidade de novas relações

no ambiente escolar e que as ações a serem realizadas considerem a afetividade, o

amor, o gosto pela vida e o aguçamento do sentimento de pertencimento à

comunidade escolar, como uma semente, a ser colocada na vida de nossos

estudantes para que esses percebam que são capazes de atuar como agentes na

desconstrução da violência escolar. Educar para paz é fundamental para que os

estudantes percebam a importância da resolução de conflitos de forma madura e

saudável, visto que situações conflituosas fazem parte do cotidiano de todas as

pessoas, em todos os tempos e lugares.

Ao falarmos de cultura da paz, não falamos de grandes propostas

salvadoras, mas sim, de propostas de ensino que viabilizem a possibilidade de

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transformação do estudante que está carente de valores em uma sociedade que

valoriza mais o ter do que o ser. Percebeu-se também a importância do educador

que se proponha a trabalhar com a cultura de paz e a não violência tenha teoria e

práticas condizentes com a proposta defendida.

No projeto desenvolvido, a partir das reflexões sobre valores e conduta, as

ações realizadas tiveram como base atividades de âmbito preventivo e de

enfrentamento às atitudes de violência e fomento a cultura de paz. Além das fichas

biográficas, outras atividades foram desenvolvidas, no intuito de facilitar para os

educadores a inclusão do tema paz, conflito e violência no seu trabalho em sala de

aula.

Desse modo, outras atividades pedagógicas propostas para o trabalho com

a cultura da paz e não-violência podem envolver a interpretação de imagens, textos,

filmes e atividades que estimulem a reflexão, a revisão de valores, atitudes e

comportamentos, conduzindo os discentes a adotar novas formas de ser e conviver.

Tal prática exige a necessidade da constância do trabalho desenvolvido pelos

profissionais da educação comprometidos com a cultura de paz e a não-violência,

como tarefa contínua, não sendo possível visualizar resultados imediatos, bem

como, resultados a serem colhidos ao longo da vida de cada participante envolvido

no processo de transformação social.

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Promoção da Cultura de Paz e Não Violência em Benefício das Crianças do Mundo. Brasília: UNESCO; São Paulo: Associação Palas Athena, 2010.

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Anexo 1

FICHAS BIOGRÁFICAS CONSTRUTORES DA PAZ

Nome: Data e local de nascimento: Data e local de morte: História de vida: Contexto histórico: Ações para a Paz/Bem: Conseqüências Mundiais:

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Anexo 2

Quadro de valores a ser utilizado pelo estudantes como resposta.

SÁUDE MISÉRIA VÍCIO

IGNORÂNCIA JUSTIÇA LIBERDADE

SOLIDÃO FADIGA AMOR

DEPENDÊNCIA SOFRIMENTO CONHECIMENTO

COVARDIA ÓCIO SANTIDADE

POBREZA FAMA TRABALHO

SEGURANÇA RIQUEZA INTELIGÊNCIA

ÓDIO FELICIDADE PECADO

INDEPENDÊNCIA BELEZA DESGRAÇA

COMPREENSÃO FRAQUEZA DOENÇA

DESONESTIDADE