Top Banner
29 À frente de mais de 80 per- nambucanos, 25 dos quais radicados em São Paulo, o cardiologista Enilton Sergio Tabosa do Egito rasgou a fan- tasia no sábado de Carnaval, no comando de um caminhão ale- górico no “Galo da Madruga”, a mais famosa manifestação car- navalesca do Recife. Mas como a zabumba não foi suficiente para elevar a pressão arterial aos níveis almejados, Enilton se mandou na segunda-feira com o seu blo- co, que a essa altura já tinha en- grossado para mais de 100 inte- grantes, para sair no “Boca- Mole”, que desfila perto de Por- to de Galinhas, na Praia de Serrambi. Mais tranqüilo e sério, de vol- ta a seu posto no Hospital do Coração, em São Paulo, Enilton explicou que tan- to a derrapada carnavales- ca como outras manifes- tações folclóricas que co- manda são decorrência do coração pernambucano obrigado a pulsar para sempre na cidade de São Paulo. “Não é tão triste as- sim”, confessa ele em sur- dina, “depois de 32 anos em São Paulo, lugar per- feito para se viver e desen- volver profissionalmente, a gente nem reclama mais do frio...” Pernambucano de Timbaúba, Enilton Egito se formou na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernam- buco e veio fazer residên- cia com Adib Jatene, na Beneficência Portuguesa. “E nunca mais deixei São Paulo”, conta ele, que ainda com Adib foi para o Hospital do Co- ração, onde está muito bem, obri- gado. A saudade de Pernambuco apertava, entretanto, e para afogá- la o cardiologista começou a reu- nir pernambucanos apaulistana- dos. Há uns 20 anos, junto com Luciano Ventura, Lula “Peixi- nho” e apoio do Banorte, reuni profissionais liberais, executivos e gente de todas as profissões que tinham como ponto de conver- gência a saudade de Pernambuco. E foi nessas noitadas de fazer poesia, de cozinhar a comida pernambucana, de cantar as mú- sicas da terra natal, que o grupo foi engrossando. Quando já eram uns cem pernambucanos reunidos no “Chopp do Miguel”, em Moe- ma, e antes que chegassem a 400, nos salões do “Clube Adams” ou no “Dom Fabrizio”, foram registrados os estatutos do que se chama hoje a “Confraria Per- nambucana Príncipe Maurício de Nassau”, em homenagem ao príncipe holandês pernambu- canizado, que em sete anos (1637- 1644) fez mais pelo Estado do que os governantes autóctones tentam fazer há 500 anos, diz ele. Boneco e pífaros A “Confraria” foi ganhando fama, e com o tempo nenhum grupo cultural pernambucano passava por São Paulo sem visitá- la. Veio a “Banda de Pífaros de Caruaru”, vieram Antonio Nóbrega, Antulio Madu- reira ajudar a festejar o cen- tenário do advento do frevo, vieram os maiores forrosistas, os repentistas, violeiros, vêm ainda os poetas populares, de Chico Pedrosa a Jessier Quirino. Vieram também os co- zinheiros, mas só do que Enilton chama de “culiná- ria clássica pernambucana”, que é justamente a das fes- tas de São João. “Haja can- jica, pamonha, arruma- dinho, não pode faltar de- lícia de macaxeira, nem car- ne-seca, e ainda é feita a con- cessão de se aceitar um sururu como tira-gosto.” Com o tempo, a “Con- fraria” ganhou seu símbo- lo oficial, um boneco car- navalesco de três metros, bem ao estilo de Olinda, fora do consultório Cardiologista comanda o “Galo da Madrugada” no Recife que Enilton fez vestir com a rou- pagem de gala de Maurício de Nassau, que ele representa. E de- pois disso, a “Confraria” passou a ser uma espécie de “Embaixada de Pernambuco” na paulicéia. E olhe que a entidade não é “Clube do Bolinha”, tem mu- lher e muita, pois “nós per- nambucanos gostamos mesmo é de mulher”, garante Enilton, no melhor estilo chauvinista pernambucano. A “Confraria” veio para ficar, ele tem certeza, tanto que no Car- naval bastou avisar que ia sair no Recife, para logo arranjar 25 com- panheiros. E o folclore pernam- bucano é tão rico, a cultura regio- nal tão importante, que ele tem certeza de que as reuniões vão se suceder por muitos e muitos anos, sem que haja risco de se- rem repetitivas. Quem quiser tirar a dúvida, pode comparecer, pois, numa concessão especial, os pernambu- canos não exigem passaporte dos paulistas que quiserem conhecer os salões da “Confraria Per- nambucana Príncipe Maurício de Nassau”. Família Tabosa do Egito Maurício de Nassau desce as ruas do bairro Moema em São Paulo JORNAL SBC 80B.pmd 12/04/2007, 10:10 11
1

fora do consultório Cardiologista comanda o “Galo da ...jornal.cardiol.br/2007/mar-abr/outras/fora-consultorio.pdf · Tabosa do Egito rasgou a fan-tasia no sábado de Carnaval,

Jul 03, 2020

Download

Documents

dariahiddleston
Welcome message from author
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
Page 1: fora do consultório Cardiologista comanda o “Galo da ...jornal.cardiol.br/2007/mar-abr/outras/fora-consultorio.pdf · Tabosa do Egito rasgou a fan-tasia no sábado de Carnaval,

29

À frente de mais de 80 per-nambucanos, 25 dos quaisradicados em São Paulo, ocardiologista Enilton Sergio

Tabosa do Egito rasgou a fan-tasia no sábado de Carnaval, nocomando de um caminhão ale-górico no “Galo da Madruga”,a mais famosa manifestação car-navalesca do Recife. Mas como azabumba não foi suficiente paraelevar a pressão arterial aos níveisalmejados, Enilton se mandouna segunda-feira com o seu blo-co, que a essa altura já tinha en-grossado para mais de 100 inte-grantes, para sair no “Boca-Mole”, que desfila perto de Por-to de Galinhas, na Praia deSerrambi.

Mais tranqüilo e sério, de vol-ta a seu posto no Hospital doCoração, em São Paulo,Enilton explicou que tan-to a derrapada carnavales-ca como outras manifes-tações folclóricas que co-manda são decorrência docoração pernambucanoobrigado a pulsar parasempre na cidade de SãoPaulo. “Não é tão triste as-sim”, confessa ele em sur-dina, “depois de 32 anosem São Paulo, lugar per-feito para se viver e desen-volver profissionalmente,a gente nem reclama maisdo frio...”

Pernambucano deTimbaúba, Enilton Egitose formou na Faculdadede Ciências Médicas daUniversidade de Pernam-buco e veio fazer residên-cia com Adib Jatene, naBeneficência Portuguesa.“E nunca mais deixei São

Paulo”, conta ele, que ainda comAdib foi para o Hospital do Co-ração, onde está muito bem, obri-gado.

A saudade de Pernambucoapertava, entretanto, e para afogá-la o cardiologista começou a reu-nir pernambucanos apaulistana-dos. Há uns 20 anos, junto comLuciano Ventura, Lula “Peixi-nho” e apoio do Banorte, reuniprofissionais liberais, executivose gente de todas as profissões quetinham como ponto de conver-gência a saudade de Pernambuco.E foi nessas noitadas de fazerpoesia, de cozinhar a comidapernambucana, de cantar as mú-sicas da terra natal, que o grupofoi engrossando.

Quando já eram uns cempernambucanos reunidos no

“Chopp do Miguel”, em Moe-ma, e antes que chegassem a 400,nos salões do “Clube Adams” ouno “Dom Fabrizio”, foramregistrados os estatutos do quese chama hoje a “Confraria Per-nambucana Príncipe Maurício deNassau”, em homenagem aopríncipe holandês pernambu-canizado, que em sete anos (1637-1644) fez mais pelo Estado doque os governantes autóctonestentam fazer há 500 anos, diz ele.

Boneco e pífaros

A “Confraria” foi ganhandofama, e com o tempo nenhumgrupo cultural pernambucanopassava por São Paulo sem visitá-la. Veio a “Banda de Pífaros de

Caruaru”, vieram AntonioNóbrega, Antulio Madu-reira ajudar a festejar o cen-tenário do advento dofrevo, vieram os maioresforrosistas, os repentistas,violeiros, vêm ainda ospoetas populares, de ChicoPedrosa a Jessier Quirino.

Vieram também os co-zinheiros, mas só do queEnilton chama de “culiná-ria clássica pernambucana”,que é justamente a das fes-tas de São João. “Haja can-jica, pamonha, arruma-dinho, não pode faltar de-lícia de macaxeira, nem car-ne-seca, e ainda é feita a con-cessão de se aceitar umsururu como tira-gosto.”

Com o tempo, a “Con-fraria” ganhou seu símbo-lo oficial, um boneco car-navalesco de três metros,bem ao estilo de Olinda,

fora do consultórioCardiologista comanda o“Galo da Madrugada” no Recife

que Enilton fez vestir com a rou-pagem de gala de Maurício deNassau, que ele representa. E de-pois disso, a “Confraria” passoua ser uma espécie de “Embaixadade Pernambuco” na paulicéia.E olhe que a entidade não é“Clube do Bolinha”, tem mu-lher e muita, pois “nós per-nambucanos gostamos mesmoé de mulher”, garante Enilton,no melhor estilo chauvinistapernambucano.

A “Confraria” veio para ficar,ele tem certeza, tanto que no Car-naval bastou avisar que ia sair noRecife, para logo arranjar 25 com-panheiros. E o folclore pernam-bucano é tão rico, a cultura regio-nal tão importante, que ele temcerteza de que as reuniões vão sesuceder por muitos e muitosanos, sem que haja risco de se-rem repetitivas.

Quem quiser tirar a dúvida,pode comparecer, pois, numaconcessão especial, os pernambu-canos não exigem passaporte dospaulistas que quiserem conheceros salões da “Confraria Per-nambucana Príncipe Maurício deNassau”.

Família Tabosa do Egito

Maurício de Nassau desceas ruas do bairro Moemaem São Paulo

JORNAL SBC 80B.pmd 12/04/2007, 10:1011