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REVISTA DA INSTALAÇÃO12
MATÉRIA DE CAPA| CBSPK
Fomento à manutenção
Congresso de sprinklers destaca
necessidade de se manter sistemas
de combate a incêndio em condições
apropriadas e reforça a importância da
qualidade dos produtos.
POR PAULO MARTINS
Legislação, projeto, instalação, tecnologia e normas técnicas
foram alguns dos temas discu-tidos durante a terceira edição
do Congresso Brasileiro de Sprinklers (CBSpk), promovido pela
ABSpk (Asso-ciação Brasileira de Sprinklers), entre os dias 23 e 26
de outubro.
Durante os quatro dias, 180 profis-sionais da área de combate e
prevenção a incêndios de diversos países se reu-niram no Bourbon
Atibaia Convention & Spa Resort, no interior de São Paulo, para
debater temas inerentes à área de prevenção e combate a
incêndio.
Os dias 23 e 24 foram reservados à
capacitação técnica de 140 profissionais, que receberam
treinamento sobre as nor-mas ABNT NBR 17505 (Armazenamento de
Líquidos Inflamáveis e Combustíveis), NFPA 25 (inspeção, teste e
manutenção de sistemas hidráulicos de proteção con-tra incêndios) e
NFPA 20 (bombas de in-cêndio), além de aprofundarem seus
co-nhecimentos no cálculo hidráulico para di-mensionamento de
sistemas de sprinklers com uso do software SprinkCalc.
“Nesta edição ficamos muito sa-tisfeitos com a grande procura
pelos cursos técnicos. No total, treinamos o equivalente a 15% a
mais de pessoal em relação à segunda edição do Con-
gresso”, avalia Felipe Melo, diretor-pre-sidente da ABSpk.
Nos dias 25 e 26 a programação do evento incluiu uma série de
pales-tras e debates sobre temas relaciona-dos à área. No discurso
de abertura das apresentações, Melo destacou que os sistemas de
sprinklers são eficazes no combate a incêndios, porém, requerem
inspeções periódicas.
O executivo da ABSpk observou que muitos motoristas já se
habituaram a fazer manutenção básica em seus ve-ículos, verificando
aspectos como ní-vel do óleo, combustível e pressão dos pneus. De
acordo Melo, é necessário
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que a população estenda esse tipo de prevenção também para os
sistemas de proteção contra incêndio que eventual-mente possuam ou
sejam responsáveis:
“Nossa missão é levar ao mercado e à população a importância da
perfeita manutenção do sistema de chuveiros automáticos para a
garantia da fun-cionalidade de sua operação, quando requerido. Um
projeto elaborado por profissionais capacitados, com instala-ção
cuidadosa e produtos certificados, por si só, não garante seu
funciona-mento, se não for corretamente man-tido”, comenta.
Felipe Melo destacou a importân-cia de se trabalhar em conjunto
para difundir temas como segurança e apro-veitou o CBSpk para
anunciar a criação da Rede Latino-americana de Proteção Contra
Incêndio.
Neste primeiro momento, o grupo é composto pela ABSpk e por
outras duas entidades que representam o setor de sprinklers:
Anraci, da Colômbia (Asocia-ción Nacional de Sistemas de Rociadores
Automáticos Contra Incendios), e Amraci, do México (Asociación
Mexicana de Ro-ciadores Automáticos Contra Incendios).
A intenção do trio de associações é trabalhar ideias e
compartilhar expe-riências. “Acho muito importante essa união. Há
muitos casos de sucesso em cada um dos nossos países, e precisa-mos
compartilhar tudo isso”, diz Melo.
Confira a seguir o resumo de algu-mas das palestras ministradas
durante o CBSpk.
Perfeita manutenção do sistema de chuveiros automáticos é
essencial para garantir a funcionalidade de sua operação, quando
requerido.FELIPE MELO ABSPK
Inspeção e manutençãoDiana de Araújo, diretora Finan-
ceira da ABSpk e sócia da Tecfire Consultoria e Projetos
apresentou o resultado de um projeto desenvolvi-do neste ano
visando o fomento do tema manutenção de sistemas de
combate a incêndio e também a ob-tenção de dados.
A ideia inicial era promover uma vistoria em dez edifícios
comerciais de São Paulo (SP), mas, diante da resis-tência mostrada
por alguns proprie-
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tários abordados, o trabalho acabou envolvendo apenas cinco
edifícios comerciais, além de cinco galpões lo-gísticos.
O trabalho foi financiado pela IFSA (International Fire
Suppression Allian-ce) e levou seis meses para ser exe-cutado.
A questão incicial era: no caso de um incêndio, havendo falha no
siste-ma de sprinklers, quais seriam as pos-síveis causas? Nas
vistorias, foram checados aspectos fundamentais para o bom
funcionamento de um sistema de incêndio: procedimentos de
inspe-ção; reservatórios do sistema de incên-dio; bombas de
incêndio; sinalização e alarme; válvulas; condições gerais de
sprinklers e tubulações e impactos da falta de energia.
A lista de problemas detectados in-clui bombas de incêndio sem
óleo die-sel ou inoperantes; falta de croqui da posição das
principais válvulas da rede de incêndio; sprinklers instalados
fora
de norma e falta de estoque de sprinklers de reserva.
Apesar de reconhecer que a amos-tragem é pequena, dado ao porte
da cidade de São Paulo, o estudo conclui que determinadas
edificações que pas-saram por verificação apresentavam
condições precárias de funcionamento. O trabalho defende também
a adoção de uma legislação mais rigorosa para edificações
existentes e a formação de equipes de manutenção especializadas em
sistemas de proteção e combate a incêndio.
O estudo detectou ainda um pon-to de discordância, entre equipe
de manutenção, que entende que a parte de incêndio é de
responsabilidade da brigada específica, e vice-versa. “Este jogo de
‘empurra-empurra’ resulta em manutenção deficiente dos sistemas.
Durante os seis meses de inspeção, os dez empreendimentos trocaram
de equipes de manutenção, o que desfa-vorece uma boa manutenção”,
finaliza o documento.
A fim de contribuir para minimizar os problemas, a ABSpk se
propôs a criar e distribuir, para associações em geral, uma
cartilha para inspeção, teste e ma-nutenção dos Sistemas
Hidráulicos de Proteção e Combate a Incêndio.DIANA DE ARAUJO
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“A qualidade invisível de sprinklers certificados” foi o tema da
palestra apresentada por Felipe Decourt, pre-sidente do Conselho
Consultivo da ABSpk e diretor-executivo da fabri-cante Skop.
O especialista propôs fazer uma si-mulação para encontrar o grau
mínimo de confiabilidade que os sprinklers pre-cisariam ter para
supostamente evitar o chamado flashover (combustão sú-bita
generalizada) em uma rede for-mada por 800 sprinklers. Entretanto,
Decourt ressaltou que se tratava de uma situação hipotética, pois,
na ver-dade, não se deve admitir falhas nes-se tipo de sistema, ou
seja, o grau de confiabilidade deve atingir os 100%.
Após contas matemáticas con-siderando a utilização de dois tipos
de sprinkler (de resposta padrão e de resposta rápida), chegou-se
ao índice médio de 99,58%. Ou seja, se houvesse um teste de
sprinklers em que se admitisse haver alguma falha, ainda assim o
sistema precisaria ter um grau mínimo de confiabilidade de
99,58%.
Na sequência, Decourt listou o que se espera, na prática, de um
sprinkler de qualidade para que ele esteja den-tro do grau mínimo
de confiabilidade de 99,58%: 1) Que resista a esforços me-cânicos
no longo prazo, sem deformar, sem vazar e sem operar na ausência de
calor; 2) Que opere na presença de calor somente na faixa de
temperatura corre-ta e no tempo certo, liberando todas as suas
partes móveis (bulbo, obturador e elemento vedante) e 3) Que
garanta a vazão considerada pelo projetista (fator K) e a
distribuição da água, conforme padrão, para retenção ou supressão
do fogo. “Se o sprinkler não é capaz de fazer isso tudo, não é
sprinkler, vamos chamar de ‘tampão’. Sprinkler é sprinkler
certifi-cado. Sprinkler que não é certificado é tampão”, alerta o
especialista.
Para alcançar o grau de confiabili-dade mencionado, o caminho é
a busca pela certificação. “Tem que adequar os processos fabris e o
projeto do sprinkler para ser aprovado nos ensaios de nor-mas
sérias, como FM 2000, UL 199, ISO 6182 ou ABNT 16400”, complementa
Decourt.
O diretor da Skop observa que para fabricar um sprinkler
certificado são necessários 150 processos, sendo 20% de ordem
fabril e 80% relaciona-dos ao controle de qualidade sobre o
produto, processo fabril, manutenção, ferramentas, insumos,
equipamentos e instrumentos de medição.
Para destacar a importância de se seguir as normas técnicas,
Decourt
FELIPE DECOURT
Qualidade do sprinkler
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mencionou que esse tipo de documen-to ‘carrega’ consigo um
histórico longo de acidentes nos quais os sprinklers, por exemplo,
não funcionaram. Esse históri-
co gera estudos e novas descobertas que acabando criando um
aprendizado so-bre o tema. “Os ensaios vão avançando. Hoje eles
estão em um nível tal que, se
você passar nesses ensaios, você estará produzindo um sprinkler
cem por cento confiável. As normas são uma referên-cia”,
reforça.
Tubulação pré-fabricadaLuís Fernando dos Santos, gerente
de Engenharia da Alvenius, empresa co-fundadora da ABSpk,
ministrou a pales-tra “Tubulação pré-fabricada”.
De início o especialista destacou que o conceito de
‘fabrication’ (‘obra enxu-ta’) é largamente utilizado na América do
Norte e Europa. Consiste em fazer toda a pré-fabricação e pintura
das tu-bulações em uma planta específica, de forma que a maior
parte dos tubos saia de lá pronta para ser instalada.
O fluxo do processo inclui as seguin-tes etapas: levantamento e
detalhamen-to do projeto em softwares específicos; aprovação do
cliente; elaboração da or-dem de serviço; compra, fabricação ou
recebimento de tubos (beneficiamen-to); execução de ranhura;
solda da meia luva; pintura; identificação (com etique-tas) e
expedição para o cliente.
Os objetivos da tubulação pré-fabri-cada são: industrializar a
mão de obra; facilitar a operação do instalador; mini-mizar
acidentes e riscos ambientais no canteiro de obras; otimizar a
cadeia de fornecimento (engenharia, fabricação e instalação);
identificar precisamente a localização dos materiais na instalação
e reduzir o custo final instalado.
Segundo Santos, o sistema de pré- fabricação de tubulações é
capaz de produzir benefícios como redução do ín-dice de erros em
campo; diminuição do LUIS FERNANDO DOS SANTOS
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espaço necessário na obra; agilização do processo de montagem em
campo e mi-nimização da locação de equipamentos e insumos, além de
garantir a qualidade.
O sistema pré-fabricado pode ser aplicado em galpões logísticos,
shop-pings, edifícios comerciais e indústrias, envolvendo
disciplinas como incêndio,
AVAC-R e utilidades. Santos observa que a técnica é indicada
para áreas do empreendimento onde há configuração padronizada.
Atribuindo responsabilidades José Carlos de Freitas,
procurador
do Ministério Público de São Paulo apresentou a palestra
“Aspectos jurídi-cos da responsabilidade civil e criminal de
projetistas, instaladores e usuários de sistemas de
sprinklers”.
Freitas iniciou sua palestra desta-cando que a conduta do ser
humano é pautada por ação ou omissão, e que a área de Direito faz a
qualificação des-sa atividade: “Alguém pode ser puni-do porque agiu
ou porque não agiu”.
No que se refere à área de sprinklers, Freitas destaca que tanto
projetistas e instaladores quanto proprietários de imóveis ou
inquilino têm suas respon-sabilidades. Existem ainda obrigações que
se aplicam ao Poder Público (esfe-ras federal, estadual e
municipal), como a fiscalização.
Freitas conta que um fator comum com o qual se depara nas
investigações é a omissão de alguém que se preocu-pou apenas em
gastar menos dinhei-
ro. O problema é que essa economia pode, eventualmente, causar
prejuízos a terceiros. “Pela nossa legislação, até aqueles que
empregam equipamentos sem certificação têm suas
responsabi-lidades”, alerta.
O procurador explica que, pelo Có-digo Civil, investiga-se a
culpa, ou seja, se uma determinada pessoa agiu com dolo ou não. Já
o Código de Defesa do Consumidor estabelece alguns princí-pios que,
de certa forma, fogem um
pouco da linha tradicional do Código Civil, estabelecendo o que
se chama de responsabilidade objetiva de todos aqueles que fazem
parte de uma ca-deia sucessória (fabricante, importa-dor, produtor,
etc.), desde a produção (de sprinklers, por exemplo) até a
ma-nutenção.
Assim, não será investigada a cul-pa (se alguém agiu com
negligência, imprudência ou imperícia). A investi-gação parte do
ponto que aconteceu
JOSÉ CARLOS DE FREITAS
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REVISTA DA INSTALAÇÃO 21
um fato, que tem uma causa. A ideia, então, é estabelecer um
nexo causal, o que é suficiente para responsabilizar as pessoas que
falharam.
Como exemplo, Freitas observa que o vínculo que se estabelece
entre um shopping e os compradores pode caracterizar uma relação de
consumo, que é regida pelo Código do Consu-midor. Caso haja uma
explosão em um shopping, vitimando consumidores que compravam no
estabelecimento, pode ser configurada a responsabili-dade
objetiva.
No campo criminal, ação ou omis-são também são condutas
penalmente relevantes. “Aquele que age de forma açodada,
imprudente, negligente, que faltou com cuidados em relação à
im-plantação, instalação ou manutenção
de equipamentos de segurança, tam-bém pode ter sua
responsabilidade criminal caracterizada”, complemen-ta Freitas.
Ele destaca que no Brasil existe uma doutrina que trata de dolo
even-tual. Ou seja, não é necessário apresen-tar vontade dirigida
para provocar um acidente e matar alguém. Ao assumir o risco
daquele acidente a pessoa já poderá responder pelo ato.
Portanto, na área de segurança contra incêndio, profissionais do
seg-mento podem responder criminalmen-te por ter assumido
determinados ris-cos. “Um cidadão que elabora projeto sem as
mínimas condições técnicas, que faz a implantação do sistema sem
observar as regras básicas, aquele que instala sprinkler sem
certificação, sem
obedecer normas da ABNT ou outras do gênero, todas essas
pessoas, pensando em gastar menos, estão eventualmen-te assumindo o
risco do resultado”, fi-naliza Freitas.
Em outra palestra, a “Responsabi-lidade do Corpo de Bombeiros
Militar no campo civil e criminal” foi abordada pelo coronel
Eduardo Henrique Briciug Martinez, coordenador Operacional do Corpo
de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
Para ele, na área de projetos e pre-venção contra incêndio, os
bombeiros têm que ter uma atuação como a que se espera de um
árbitro de futebol: quanto menos aparecer, melhor de-sempenha seu
trabalho.
Martinez destacou que a legisla-ção tenta abordar da melhor
forma possível a questão da prevenção, ten-do como primeiro fator a
utilização das técnicas e meios disponíveis, sem inviabilizar os
projetos: “A gente sabe que a prevenção funciona bem quan-do há
composição de sistemas, entre eles, os chuveiros automáticos, e a
nossa participação nisso visa viabili-zar os projetos que os
senhores, como engenheiros e arquitetos fazem, não atrapalhando o
que o mercado possa desenvolver”.
Ele cita como exemplo um galpão de grande porte, que poderia
empregar sistemas distintos, como compartimen-tação ou chuveiros
automáticos. Segun-do Martinez, o Corpo de Bombeiros per-mite quem
está construindo optar por
EDUARDO HENRIQUE BRICIUG MARTINEZ
No Brasil, na área de segurança contra incêndio,
profissionais
do segmento podem responder criminalmente por ter assumido
determinados riscos.
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qualquer uma das duas ações, desde que o resultado final seja a
segurança das instalações.
Martinez disse ainda que falta, na atual legislação, a
regulamen-tação para que os bombeiros fisca-
lizem estabelecimentos quanto às medidas de prevenção e combate
a incêndio.
Edificações históricasO engenheiro Marcelo Lima, dire-
tor geral do Instituto Sprinkler Brasil (ISB), abordou aspectos
envolvendo a legislação brasileira de proteção con-tra incêndios em
edificações do patri-mônio histórico e cultural.
Os incêndios envolvendo esse tipo de edificação constituem um
problema recorrente, no Brasil, conforme intro-duziu o diretor do
ISB. O mais recente envolveu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro.
Lima citou, entre outros casos, os incêndios que atingiram o Museu
da Língua Portuguesa (São Paulo-SP, 2015), o Teatro Ouro Verde
(Londrina- PR, 2012) e a Igreja Nossa Senhora do Carmo (Mariana-MG,
1999).
Em sua apresentação, Lima aler-tou para um “mito” que estaria
sendo criado no mercado. No seu entendi-mento, a atual legislação
sobre incên-dio classifica a água como algo que vai causar
problemas - a um museu, por exemplo -, e não como um recurso que
poderá proteger o bem contra a ação do fogo. “Há sempre essa preo-
cupação: a água vai danificar, e não
(se diz) que a água vai controlar o in-cêndio”, lamenta.
O dirigente observa que existem legislações que chegam a citar a
exis-tência de “incompatibilidade” entre acervo e água. “Não se
fala nem uma vez em acervos incompatíveis com o fogo. O que é algo
interessante, por-que é possível secar um livro do ano 1600, mas um
livro de 2010, quei-mado, não serve mais para nada. A água tem que
deixar de ser vis-ta como algo que vai causar dano”, apela Lima,
que citou vários exemplos de museus e bibliotecas nos Estados
Unidos e Europa que, segundo ele, utilizam sprinklers.
Como contribuições para o tema Marcelo Lima sugere a revisão da
legis-lação de incêndio, a adoção de uma nor-ma técnica única e
abrangente (ABNT) e a realização de ações via Frente Par-lamentar
de Segurança contra Incêndio.
A professora Rosaria Ono apresen-tou a palestra “Proteção contra
incên-dios em edifícios históricos - exemplos do Japão”. Rosaria
coordena o Grupo de Fomento à Segurança contra In-cêndio
(GSI) do Núcleo de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo
(NUTAU) da Universidade de São Paulo (USP).
O patrimônio preservado do Japão inclui templos, castelos e
vilas rurais históricas. Também naquele país há registros de
incêndios nesses tipos MARCELO LIMA
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de edificações. Inclusive, depois de um acidente ocorrido em
1949, criou- se o Dia Nacional de Prevenção con-tra Incêndios em
Patrimônio Cultural.
Assim, todo 26 de janeiro é marcado pela realização de
treinamentos e si-mulações.
O Japão dispõe hoje de uma ampla estrutura de proteção contra
incêndio. São vários formatos e recursos, que incluem desde
estratégias rudimenta-res até sistemas mais elaborados. As soluções
vão desde baldes de água pendurados no lado externo dos mo-numentos
tombados até unidades mó-veis de pequeno porte projetadas para
circular por ruas estreitas. Além disso, brigadistas fazem uma
ronda notur-na avisando população para desati-var fontes de calor,
na hora de dormir.
A vasta rede de proteção envolve também recursos como sistema de
de-tecção e alarme automático de incên-dio; detectores de chamas;
hidrantes e mangotinhos; extintores; hidrantes prediais e urbanos;
canhões de água;
drenchers (chuveiros tipo dilúvio); sistemas compostos
(drenchers e ca-nhões de água) e bicos de água nebu-lizada. Também
são realizados treina-mentos periódicos e testes do sistema de
proteção contra incêndio.
Em suas considerações finais, Ro-saria diz que os riscos de
incêndio e a importância do patrimônio cultural variam e diferem de
caso para caso. Desta forma, aponta ela, é necessá-rio elaborar,
implementar e manter um plano de proteção contra incên-dio para
cada situação, contando, para isso, com tecnologia e suporte de
téc-nicos e especialistas da área. Rosario defende ainda o empenho
de grande esforço para fortalecer os vínculos en-tre patrimônio
cultural e sociedade no que se refere ao risco de incêndios, a fim
de garantir sua preservação para as gerações futuras.
ROSARIA ONO
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