FEAD – FACULDADE DE EDUCAÇÃO A DIST ÂNCIA MARYLANDI CARVALHO ELINES COSTA Trabalho sobre: Renné Descartes RIO DE JANEIRO 2010
FEAD FACULDADE DE EDUCAO A DISTNCIA
MARYLANDI CARVALHO
ELINES COSTA
Trabalho sobre:
Renn Descartes
RIO DE JANEIRO 2010
MARYLANDI CARVALHO
ELINES COSTA
Trabalho sobre:
Renn Descartes
Trabalho apresentado disciplina
Filosofia e tica para obteno de
crditos de aprovao no curso de
graduao em Cincias Contbeis
FEAD Educao a Distncia
Orientador: Prof. Emlia Agnes Assis
de Lima.
RIO DE JANEIRO 2010
SUMRIO
Introduo- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 04
1 Renne Descartes Biografia- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 05
2 Sua Vida- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -06
3 O mtodo- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 09
4 A Metafsica- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 11
5 Deus, Cincias e Livre arbtrio- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -13
6 O Problema do Homem: A moral - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -15
7 - O Programa Cartesiano- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -17
8 Imagens- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -20
Concluso - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 21
Bibliografia- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 22
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INTRODUO
O objetivo desde trabalho analisar o ponto de vista do pensamento de Ren
Descartes e suas afirmaes diante de seus mtodos, apoiando-se nos conceitos
que ele mesmo introduziu e que at hoje so a fundo analisados. Penso, logo existo.
Uma frase na qual toda humanidade se inspira e confirma, mesmo que de uma forma
duvidosa, as anlises diante disso, pois no existiu no mundo ainda, outro ser -
humano que conseguiu contrapor essa idia, a qual tambm tratada neste
trabalho. Em sua obra Discurso do Mtodo, escrita em 1637, percebe-se que
Descartes um filsofo matemtico, sistemtico, claro e distinto, e que acima de
tudo procura manter sua filosofia concreta e positiva. Descartes desenvolveu uma
cincia prtica atravs de seu mtodo matemtico e racionalista, e que hoje algo
universal. Seu estilo pessoal mistura sentenas de carter universal, que dentro da
lgica, confirma sua validade, a partir de suas racionais experincias pessoais.
Vamos analisar com mais detalhes a crise que se estabeleceram em sua poca, o
prprio mtodo de Descartes, as explicaes sobre o cogito, o inatismo do ser -
humano, o dualismo que estabelecido entre o corpo e o esprito, a questo que
envolve e confirma a existncia de Deus em suas teorias, e ainda a subjetividade em
Descartes. De famlia burguesa, Descartes nasceu em La Haye, na Frana, em
maro de 1596. J em 1628, decidiu se isolar na Holanda com a inteno de adquirir
a tranqilidade que precisava para escrever suas obras. Formou-se em direito,
porm nunca exerceu a profisso, teve ento contato com o matemtico Isaac
Beeckman que lhe inspirou para desenvolver a geometria analtica, desenvolvendo
ento, os eixos cartesianos. Descartes escreveu sobre vrios assuntos, entre eles,
sobre a fisiologia e anatomia humana e animal, astronomia, fsica, porm sua grande
habilidade foi matemtica. J em Estocolmo, na Sucia, 1659, Descarte foi
convidado pela rainha Cristina a estabelecer uma Academia de Cincias, e faleceu
no ano de 1660, pois no gozava de uma boa sade e o inverno do local no foi
suportvel. A matemtica a cincia da ordem e a medida, de belas correntes de
raciocnios, todos singelos e fceis." DESCARTES
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1 - RENN DESCARTES
Renn Descartes foi um filsofo, fsico e matemtico francs. Durante a Idade
Moderna tambm era conhecido por seu nome latino Renatus Cartesius. Notabilizou-
se, sobretudo por seu trabalho revolucionrio na filosofia e na cincia, mas tambm
obteve reconhecimento matemtico por sugerir a fuso da lgebra com a geometria
fato que gerou a geometria analtica e o sistema de coordenadas que hoje leva o
seu nome. Por fim, ele foi uma das figuras-chave na Revoluo Cientfica. Descartes,
por vezes chamado de o fundador da filosofia moderna e o pai da matemtica
moderna, considerado um dos pensadores mais importantes e influentes da
Histria do Pensamento Ocidental. Inspirou contemporneas e vrias geraes de
filsofos posteriores; boa parte da filosofia escrita a partir de ento foi uma reao s
suas obras ou a autores supostamente influenciados por ele. Muitos especialistas
afirmam que a partir de Descartes inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna.
Dcadas mais tarde, surgiria nas Ilhas Britnicas, um movimento filosfico que, de
certa forma, seria o seu oposto o empirismo, com John Locke e David Hume.
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2 - SUA VIDA
Ren Descartes, nascido em 1596 em La Haye no a cidade dos Pases-Baixos,
mas um povoado da Touraine, numa famlia nobre ter o ttulo de senhor de
Perron, pequeno domnio do Poitou, da o aposto fidalgo poitevino. De 1604 a
1614, estuda no colgio jesuta de La Flche. A gozar de um regime de privilgio,
pois se levanta quando quer, o que o leva a adquirir um hbito que o acompanhar
por toda sua vida: meditar no prprio leito. Apesar de apreciado por seus
professores, ele se declara, no Discurso sobre o Mtodo, decepcionado com o
ensino que lhe foi ministrado: a filosofia escolstica no conduz a nenhuma verdade
indiscutvel, No encontramos a nenhuma coisa sobre a qual no se dispute. S as
matemticas demonstram o que afirmam: As matemticas agradavam-me,
sobretudo por causa da certeza e da evidncia de seus raciocnios. Mas as
matemticas so uma exceo, uma vez que ainda no se tentou aplicar seu
rigoroso mtodo a outros domnios. Eis por que o jovem Descarte, decepcionado
com a escola, parte procura de novas fontes de conhecimento, a saber, longe dos
livros e dos regentes de colgio, a experincia da vida e a reflexo pessoal: Assim
que a idade me permitiu sair da sujeio a meus preceptores, abandonei
inteiramente o estudo das letras; e resolvendo no procurar outra cincia que
aquela que poderia ser encontrada em mim mesmo ou no grande livro do
mundo, empreguei o resto de minha juventude em viajar, em ver cortes e
exrcitos, conviver com pessoas de diversos temperamentos e condies.
Aps alguns meses de elegante lazer com sua famlia em Rennes, onde se ocupa
com equitao e esgrima (chega mesmo a redigir um tratado de esgrima, hoje
perdido), vai encontr-lo na Holanda engajado no exrcito do prncipe Maurcio de
Nassau. Mas um estranho oficial que recusa qualquer soldo, que mantm seus
equipamentos e suas despesas e que se declara menos um ator do que um
espectador: antes ouvinte numa escola de guerra do que verdadeiro militar. Na
Holanda, ocupa-se, sobretudo com matemtica, ao lado de Isaac Beeckman.
dessa poca (tem cerca de 20 anos) que data sua misteriosa divisa Larvatus
prodeo. Eu caminho mascarado. Segundo Pierre Frederix, Descarte quer apenas
significar que um jovem sbio disfarado de soldado.
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Em 1619, ei-lo a servio do Duque de Baviera. Em virtude do inverno, aquartela-se
s margens do Danbio. Podemos facilmente imagin-lo alojado numa estufa, isto
, num quarto bem aquecido por um desses fogareiros de porcelana cujo uso
comea a se difundir, servido por um criado e inteiramente entregue meditao. A
10 de novembro de 1619, sonhos maravilhosos advertem que est destinado a
unificar todos os conhecimentos humanos por meio de uma cincia admirvel da
qual ser o inventor. Mas ele aguardar at 1628 para escrever um pequeno livro em
latim, as Regras para a direo do esprito (Regulae ad directionem ingenii). A
idia fundamental que a se encontra a de que a unidade do esprito humano
(qualquer que seja a diversidade dos objetos da pesquisa) deve permitir a inveno
de um mtodo universal. Em seguida, Descarte prepara uma obra de fsica, o
Tratado do Mundo, a cuja publicao ele renuncia visto que em 1633 toma
conhecimento da condenao de Galileu. certo que ele nada tem a temer da
Inquisio. Entre 1629 e 1649, ele vive na Holanda, pas protestante. Mas Descartes,
de um lado catlico sincero (embora pouco devoto), de outro, ele antes de tudo
quer fugir s querelas e preservar a prpria paz. Finalmente, em 1637, ele se decide
a publicar trs pequenos resumos de sua obra cientfica: A Diptrica, Os Meteoros e
A Geometria. Esses resumos, que quase no so lidos atualmente, so
acompanhados por um prefcio e esse prefcio foi que se tornou famoso: o
Discurso sobre o Mtodo. Ele faz ver que o seu mtodo, inspirado nas matemticas,
capaz de provar rigorosamente a existncia de Deus e o primado da alma sobre o
corpo. Desse modo, ele quer preparar os espritos para, um dia, aceitarem todas as
conseqncias do mtodo inclusive o movimento da Terra em torno do Sol! Isto
no quer dizer que a metafsica seja, para Descartes, um simples acessrio. Muito
pelo contrrio! Em 1641, aparecem as Meditaes Metafsicas, sua obra-prima,
acompanhadas de respostas s objees. Em 1644, ele publica uma espcie de
manual cartesiano. Os Princpios de Filosofia, dedicado princesa palatina
Elisabeth, de quem ele , em certo sentido, o diretor de conscincia e com quem
troca importante correspondncia. Em 1644, por ocasio da rpida viagem a Paris,
Descarte encontra o embaixador da frana junto corte sueca, Chanut, que o pe
em contato com a rainha Cristina.
Esta ltima chama Descartes para junto de si. Aps muitas tergiversaes, o filsofo,
no antes de encarregar seu editor de imprimir, para antes do outono, seu Tratado
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das Paixes embarca para Amsterd e chega a Estocolmo em outubro de 1649.
ao surgir da aurora (5 da manh!) que ele d lies de filosofia cartesiana sua real
discpula. Descarte, que sofre atrozmente com o frio, logo se arrepende, ele que
nasceu nos jardins da Touraine, de ter vindo viver no pas dos ursos, entre
rochedos e geleiras. Mas demasiado tarde. Contrai uma pneumonia e se recusa a
ingerir as drogas dos charlates e a sofrer sangrias sistemticas (Poupai o sangue
francs, senhores), morrendo a 9 de fevereiro de 1650. Seu atade, alguns anos
mais tarde, ser transportado para a Frana. Lus XIV proibir os funerais solenes e
o elogio pblico do defunto: desde 1662 a Igreja Catlica Romana, qual ele parece
Ter-se submetido sempre e com humildade, colocar todas as suas obras no Index.
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3 - O MTODO
Descartes querem estabelecer um mtodo universal, inspirado no rigor matemtico e
em suas longas cadeias de razo.
1. A primeira regra a evidncia: no admitir nenhuma coisa como verdadeira se
no a reconheo evidentemente como tal. Em outras palavras, evitar toda
precipitao e toda preveno (preconceitos) e s ter por verdadeiro o que for
claro e distinto, isto , o que eu no tenho a menor oportunidade de duvidar. Por
conseguinte, a evidncia o que salta aos olhos, aquilo de que no posso duvidar,
apesar de todos os meus esforos, o que resiste a todos os assaltos da dvida,
apesar de todos os resduos, o produto do esprito crtico. No, como diz bem
Janklvitch, uma evidncia juvenil, mas quadragenria.
2. A segunda, a regra da anlise: dividir cada uma das dificuldades em tantas
parcelas quantas forem possveis.
3. A terceira, a regra da sntese: concluir por ordem meus pensamentos,
comeando pelos objetos mais simples e mais fceis de conhecer para, aos poucos,
ascender, como que por meio de degraus, aos mais complexos.
4. A ltima a dos desmembramentos to complexos a ponto de estar certo de
nada ter omitido.
Se esse mtodo tornou-se muito clebre, foi porque os sculos posteriores viram
nele uma manifestao do livre exame e do racionalismo.
a) Ele no afirma a independncia da razo e a rejeio de qualquer autoridade?
Aristteles disse no mais um argumento sem rplica! S contam a clareza e a
distino das idias. Os filsofos do sculo XVIII estendero esse mtodo a dois
domnios de que Descartes, importante ressaltar, o excluiu expressamente: o
poltico e o religioso (Descartes conservador em poltica e coloca as verdades da
f ao abrigo de seu mtodo).
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b) O mtodo racionalista porque a evidncia de que Descartes parte no , de
modo algum, a evidncia sensvel e emprica. Os sentidos nos enganam, suas
indicaes so confusas e obscuras, s as idias da razo so claras e distintas. O
ato da razo que percebe diretamente os primeiros princpios a intuio. A
deduo limita-se a veicular, ao longo das belas cadeias da razo, a evidncia
intuitiva das naturezas simples. A deduo nada mais do que uma intuio
continuada.
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4 - A METAFSICA
No Discurso sobre o Mtodo, Descartes pensos, sobretudo na cincia. Para bem
compreender sua metafsica, necessrio ler as Meditaes.
1. Todos sabem que Descartes inicia seu itinerrio espiritual com a dvida. Mas
necessrio compreender que essa dvida tem outro alcance que a dvida metdica
do cientista. Descartes duvida voluntria e sistematicamente de tudo, desde que
possa encontrar um argumento, por mais frgil que seja. Por conseguinte, os
instrumentos da dvida nada mais so do que os auxiliares psicolgicos, de uma
ascese, os instrumentos de um verdadeiro exrcito espiritual. Duvidemos dos
sentidos, uma vez que eles freqentemente nos enganam, pois, diz Descartes,
nunca tenho certeza de estar sonhando ou de estar desperto! (Quantas vezes
acreditei-me vestido com o robe de chambre, ocupado em escrever algo junto
lareira; na verdade, estava despido em meu leito).
Duvidemos tambm das prprias evidncias cientficas e das verdades matemticas!
Mas qu? No verdade quer eu sonhe ou esteja desperto que 2 + 2 = 4? Mas
se um gnio maligno me enganasse se Deus fosse mau e me iludisse quanto s
minhas evidncias matemticas e fsicas? Tanto quanto duvido do Ser, sempre
posso duvidar do objeto (permita-me retomar os termos do mais lcido intrprete de
Descartes, Ferdinand Alqui).
2. Existe, porm, uma coisa de que no posso duvidar, mesmo que o demnio
queira sempre me enganar. Mesmo que tudo o que penso seja falso, resta a certeza
de que eu penso. Nenhum objeto de pensamento resiste dvida, mas o
prprio ato de duvidar indubitvel. Penso, cogito, logo existo, ergo sum.
No um raciocnio (apesar do logo, do ergo), mas uma intuio, e mais slida que
a do matemtico, pois uma intuio metafsica, matemtica. Ela trata no de um
objeto, mas de um ser. Eu penso, Ego cogita (e o ego, sem aborrecer Brunschvicg,
muito mais que um simples acidente gramatical do verbo cogitare). O cogito de
Descartes, portanto, no como j se disse o ato de nascimento do que, em
filosofia, chamamos de idealismo (o sujeito pensante e suas idias como o
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fundamento de todo conhecimento), mas a descoberta do domnio ontolgico (estes
objetos que so as evidncias matemticas remetem a este ser que meu
pensamento).
3. Nesse nvel, entretanto, nesse momento de seu itinerrio espiritual, Descartes
solipsista. Ele s tem certeza de seu ser, isto , de seu ser pensante (pois, sempre
duvido desse objeto que meu corpo; a alma, diz Descartes nesse sentido, mais
fcil de ser conhecida que o corpo).
pelo aprofundamento de sua solido que Descartes escapar dessa solido.
Dentre as idias do meu cogito existe uma inteiramente extraordinria. a idia de
perfeio, de infinito. No posso t-la tirado de mim mesmo, visto que sou finito e
imperfeito. Eu, to imperfeito, que tenho a idia de Perfeio, s posso t-la recebido
de um Ser perfeito que me ultrapassa e que o autor do meu ser. Por conseguinte,
eis demonstrada existncia de Deus. E nota-se que se trata de um Deus perfeito,
que, por conseguinte, toda bondade. Eis o fantasma do gnio maligno exorcizado.
Se Deus perfeito, ele no pode ter querido enganar-me e todas as minhas idias
claras e distintas so garantidas pela veracidade divina. Uma vez que Deus existe,
eu ento posso crer na existncia do mundo. O caminho exatamente o inverso do
seguido por So Toms. Compreenda-se que, para tanto, no tenho o direito de
guiar-me pelos sentidos (cujas mensagens permanecem confusas e que s tm um
valor de sinal para os instintos do ser vivo). S posso crer no que me claro e
distinto (por exemplo: na matria, o que existe verdadeiramente o que
claramente pensvel, isto , a extenso e o movimento). Alguns acham que
Descartes fazia um circulo vicioso: a evidncia me conduz a Deus e Deus me
garante a evidncia! Mas no se trata da mesma evidncia. A evidncia ontolgica
que, pelo cogito, me conduz a Deus fundamenta a evidncia dos objetos
matemticos. Por conseguinte, a metafsica tem, para Descartes, uma evidncia
mais profunda que a cincia. ela que fundamenta a cincia (um ateu, dir
Descartes, no pode ser gemetra!).
4. A Quinta meditao apresenta outra maneira de provar a existncia de Deus.
No mais se trata de partir de mim, que tenho a idia de Deus, mas antes da idia de
Deus que h em mim. Apreender a idia de perfeio e afirmar a existncia do ser
perfeito a mesma coisa. Pois uma perfeio no-existente no seria uma perfeio.
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o argumento ontolgico, o argumento de Santo Anselmo que Descartes (que no
leu Santo Anselmo) reencontra: trata-se, ainda aqui, mais de uma intuio, de uma
experincia espiritual (a de um infinito que me ultrapassa) do que de um raciocnio.
5 - DEUS, CINCIA E O LIVRE-ARBTRIO
Para Descartes, o Deus criador transcende radicalmente a natureza. Deus Foi
inteiramente indiferente ao criar as coisas que criou. No se submeteu a nenhuma
verdade prvia. Em virtude do poder de seu livre-arbtrio, criou as verdades. Eis por
que Deus quer que a soma dos ngulos de um tringulo seja igual a dois ngulos
retos.
Acrescentemos que, para Descartes, Deus criou o mundo instante por instante ( a
criao contnua). O tempo descontnuo e a natureza no tem nenhum poder
prprio. As leis da natureza s so o que so a cada momento, em virtude da
vontade do criador. importante compreender que essa transcendncia radical de
Deus possui duas conseqncias fundamentais. O livre-arbtrio humano e a
independncia da cincia.
1. O homem no uma parte de Deus. A transcendncia do criador afasta
qualquer pantesmo. O homem, simples criatura ultrapassada por seu criador
(concebo Deus porque descubro em mim a marca de sua ifinitude, mas no o
compreendo), recebo, assim, uma autonomia que ser perdida no sistema pantesta
de Spinoza. O homem livre, pode dizer sim ou no s ordens de Deus. certo que,
na Quarta Meditao, Descartes fala da liberdade esclarecida, dessa liberdade que
no pode tratar da verdade ou do bem, dessa liberdade que antes um estado de
libertao do que uma deciso pura, situada alm de todas as razes. Mas nos
Princpios e, sobretudo nas cartas ao Pe. Mesland, de 2 de maio de 1644 e 9 de
fevereiro de 1645, Descartes afirma radicalmente o livre-arbtrio, o poder de recusar
a Verdade e o Bem at mesmo na presena da evidncia que se manifesta. Esses
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textos esclarecem a teoria do juzo presente na Quarta meditao. O entendimento
concebe a verdade e a vontade que d as costas a ou afirma essa verdade. Deus
prope e o homem, por intermdio de seu livre-arbtrio, dispe. Desse modo, Deus
no o culpado dos meus erros nem dos meus pecados. Sou eu que me engano,
sou eu que peco. Meu livre-arbtrio me faz merecedor ou culpado.
2. Do mesmo modo, a transcendncia de Deus vai tornar possvel uma cincia
puramente racional e mecanicista da natureza.
a) A natureza, segundo Descartes, j o vimos, no possui dinamismo prprio. Todo
dinamismo pertence ao criador. Na medida em que a natureza despojada de toda
profundidade metafsica, Descartes pode eliminar as noes aristotlicas e
medievais de forma, alma, ato e potncia. Toda finalidade desaparece e a natureza
reduzida a um mecanicismo inteiramente transparente para a linguagem matemtica.
A natureza nada tem de divino, um objeto criado, situado no mesmo plano da
inteligncia humana, e, por conseguinte, inteiramente entregue sua explorao.
Isto consiste, ao mesmo tempo, na rejeio de todo naturalismo pago (a natureza
no uma deusa) e na fundamentao metafsica do racionalismo cientfico.
b) Nem tudo tem o mesmo valor na obra cientfica de Descartes. Se sua tica e suas
consideraes sobre a expresso algbrica das curvas (ele , juntamente com
Fermat, o inventor da geometria analtica) constituem incontestvel contribuio
cientfica, sua fsica (dada, alis, mais como uma possibilidade racional do que como
a verdade certa) no passa de um romance. Mas o esprito dessa fsica e da
fisiologia cartesiana que no passa de um captulo da fsica nada mais do que
o esprito do mecanicismo. Quando Descartes declara que os animais so mquinas,
ele coloca, em princpio, que possvel explicar as funes fisiolgicas por
intermdio de mecanismos semelhantes queles que fazem mover os autmatos que
vemos nos jardins de nossos reis. O detalhe das explicaes no passa de um
sonho. Mas a direo tomada a cincia moderna. Para Descartes, o mundo fsico
no possui mistrios. As coisas se determinam reciprocamente (leis do choque), por
contato direto, num espao em que no existe o vazio.
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6 - O PROBLEMA DO HOMEM: A MORAL
1. No Discurso sobre o Mtodo, Descartes adota uma moral provisria pois a
ao no pode esperar que a filosofia cartesiana engendre uma nova moral!
Recordemos seus trs preceitos:
a) Submeter-se aos usos e costumes de seu pas.
b) Antes mudar os prprios desejos que a ordem do mundo e vencer-se a si prprio
do que fortuna.
c) Ser sempre firme e resoluto em suas aes; saber decidir-se mesmo na ausncia
de toda evidncia, semelhana do viajante perdido na floresta que, ao invs de
ficar fazendo voltas, adota uma direo qualquer e nela se mantm! (O
cartesianismo, antes de ser uma filosofia da inteligncia, uma filosofia da vontade).
2. certo que a moral definitiva de Descartes no apresenta uma unidade perfeita.
Influncias esticas, epicuristas e crists esto presentes nela. Mas, na realidade,
essa complexidade reflete a prpria complexidade da condio humana. No plano
das idias claras e distintas, Descartes separa claramente as duas substncias, alma
e corpo: a essncia da alma pensar; a do corpo ser um objeto no espao. E, no
entanto, o pensamento est preso a esse fragmento de extenso. A alma age sobre
o corpo e este age sobre ela. (Para Descartes, o ponto de aplicao da alma ao
corpo a glndula pineal, isto , a epfise.) Mas isso no esclarece a unio da alma
e do corpo, que um fato de experincia, puramente vivido e ininteligvel.
Na medida em que Descartes considera o homem no que ele tem de essencial,
enquanto esprito, ou quando se ocupa do composto humano, sua moral assume
aspectos diferentes:
a) Consideremos o homem enquanto esprito, enquanto liberdade: o valor supremo
a generosidade. A verdadeira generosidade que faz com que um homem se estime,
no ponto mximo em que ele pode legitimamente estimar-se, consiste, em parte, na
conscincia de que nada lhe pertence verdadeiramente, exceto essa livre disposio
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de suas vontades e em parte no sentimento de uma firme e constante resoluo
de bem us-la, isto , de nunca lhe faltar vontade para empreender e executar todas
as coisas que julgar melhores, o que seguir a virtude perfeitamente.
b) Se considerarmos o homem enquanto espritos unidos a um corpo so obrigados
a levar em conta as paixes, isto , a afetividade em sentido amplo. Paixo , para
Descartes, tudo o que o corpo determina na alma. E Ele, que nada tem de asceta,
acha que devemos antes domin-las do que desenvolv-las. Isso porque ele se
coloca do ponto de vista da felicidade. O bom funcionamento do corpo, as ligaes
harmoniosas entre os espritos animais e os pensamentos humanos so altamente
desejveis. A moral surge, ento, como uma tcnica de felicidade e, nessa tcnica, a
medicina desempenha importante papel. A moral surge aqui como uma aplicao
direta ao mecanicismo cartesiano.
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7 - O PROGRAMA CARTESIANO
De acordo com o prefcio dos Princpios
Gostaria de explicar aqui a ordem que, parece-me, devemos seguir para que nos
instruamos. Primeiramente, o homem que ainda s possui conhecimento vulgar e
imperfeito, deve, antes de tudo, encarregar-se de formar uma moral que seja
suficiente para ordenar as aes da vida, porque isso no deve ser adiado e porque
devemos, sobretudo, procurar viver bem. Aps isso, tambm deve estudar lgica,
no a da Escola pois ela nada mais do que uma dialtica que ensina os meios
para fazer entender a outrem as coisas que j se sabe ou ento de emitir opinies,
sem julgamento, sobre as que no se sabe; desse modo, ela antes corrompe o bom-
senso do que o desenvolve mas aquela que ensina a bem conduzir a razo na
descoberta de verdades que se ignora. E porque ela depende muito do uso, bom
que ele se exercite, por muito tempo, na prtica de regras penitentes a questes
fceis e simples como as da matemtica. Depois, quando j tiver adquirido o hbito
de encontrar a verdade nessas questes, ele deve comear a aplicar-se verdadeira
filosofia cuja primeira parte a metafsica, que contm os princpios do
conhecimento, entre as quais est explicao dos principais atributos de Deus, da
imaterialidade de nossas almas e de todas as noes claras e simples que esto em
ns. A segunda a fsica, na qual, aps ter encontrado os verdadeiros princpios das
coisas materiais, examinamos em geral como o universo composto; depois, em
particular, qual a natureza da terra e de todos os corpos que se encontram mais
comumente em torno dela como o ar, a gua, o fogo, o m e outros minerais. Aps
o que tambm necessrio examinar em particular a natureza das plantas, dos
animais e, sobretudo, do homem, a fim de que se seja capaz de, depois, encontrar
as outras cincias que lhe so teis. Desse modo, a filosofia como uma rvore
cujas razes so a metafsica, o tronco a fsica e os ramos que da saem todas as
outras cincias, que se reduzem a trs principais, a saber: a medicina, a mecnica e
a moral; eu acho que a mais elevada e mais perfeita moral, que pressupe inteiro
conhecimento das outras cincias, o ltimo grau da sabedoria.
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Ora, assim como no das razes nem do tronco que colhemos os frutos, mas da
extremidade dos ramos, assim a principal utilidade da filosofia depende das
utilidades de suas partes, as quais s podem aprender por ltimo. Mas, embora eu
as ignore quase todo o zelo que sempre tive no sentido de prestar algum servio ao
pblico levou-me a publicar, h uns dez ou doze anos, alguns ensaios sobre as
coisas que me parecera ter aprendido. A primeira parte desses ensaios foi um
discurso sobre o mtodo de bem conduzir a razo e procurar a verdade nas cincias,
na qual apresentei sumariamente as principais regras da lgica e de uma moral
imperfeita que pode ser seguida provisoriamente, enquanto ainda no se estabelece
algo de melhor. As outras partes foram trs tratados: um da Diptrica, outro dos
Meteoros e o ltimo da Geometria. Pela Diptrica, pretendi mostrar que se pode
avanar bastante em filosofia para se chegar, por seu intermdio, ao conhecimento
das artes que so teis vida e porque a inveno das lunetas de aproximao, que
eu a explico, uma das mais difceis das que j foram procuradas. Pelos Meteoros,
procurei fazer com que se reconhecesse a diferena existente entre a filosofia que
eu cultivo e aquela ensinada nas escolas em que se tem o hbito de tratar da mesma
matria. Finalmente, pela Geometria, pretendi demonstrar que eu descobrira vrias
coisas ignoradas at ento e, desse modo, fazer acreditar que ainda podemos,
nesse campo, descobrir vrias outras, incitando, dessa forma, todos os homens a
procurarem a verdade. Depois disso, prevendo a dificuldade que muitos teriam para
conceber os fundamentos da metafsica, procurei explicar seus pontos principais
num livro de Meditaes que no grande, mas cujo volume foi aumentado e cuja
matria foi muito clarificada pelas objees que vrias pessoas muito doutas me
enviaram sobre o assunto e pelas respostas que lhes dei. Finalmente, quando me
pareceu que esses tratados procedentes haviam preparado bem o esprito dos
leitores para receber os Princpios da Filosofia , eu os publiquei ento; dividi o livro
em quatro partes, das quais a primeira contm os princpios do conhecimento e que
podemos denominar filosofia primeira ou metafsica. Eis por que, a fim de bem
compreend-la, preciso ler antes as Meditaes que escrevi sobre o mesmo
assunto. As outras trs partes contm tudo o que h de mais geral na fsica, a saber,
a explicao das primeiras leis ou princpios da natureza e a maneira pela qual os
cus, as estrelas fixas, os planetas, os cometas e o universo em geral so
compostos; depois, em particular, a natureza desta terra, do ar, da gua, do fogo e
do m que so os corpos que podemos encontrar mais comumente em torno dela
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e de todas as qualidades que observamos nesses corpos como o so a luz, o
calor, o peso e semelhantes; por meio disso, penso ter comeado a explicar toda a
filosofia ordenadamente, sem ter admitido nenhuma das coisas que devem preceder
as ltimas sobre as quais escrevi.
Filsofo meditando
Rembrandt (1632)
Descartes prefere viver solitrio, isolado do mundo, com suas meditaes,
na busca de uma nova cincia universal. Bem viveu quem bem se escondeu, ele
diz.
Capa da edio original das Meditaes 1641
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8 IMAGENS
O relgio, o homem, o animal so mquinas.
O mundo uma mquina.
Tanto o corpo como os organismos animais so mquinas, e,
Portanto, funcionam com base em princpios que regulam seus movimentos e suas
relaes.
Colgio jesuta da La Fleche
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CONCLUSO
Descartes inaugurou a maior revoluo intelectual da histria, e junto um novo
paradigma introduzindo na filosofia um conjunto de problemas e conceitos que
determinam o rumo da filosofia moderna e contempornea. Duvidou de todas as
coisas para libertar-se por completo de toda dvida, contudo, a descoberta da
certeza nasce do exerccio da prpria dvida. O mtodo de Descartes prope provas
que atacam a confiana que o ser - humano tem nas opinies, mesmo que estas
sejam apenas ingnuas confianas, dando espao aos sentidos, imaginao e a
razo, pois no se pode ter certeza sobre os sentidos, j que eles podem nos
oferecer impresses enganosas, como por exemplo, se tornar pequeno um grande
objeto que est a distancia de ns. Descartes apresenta no Discurso do Mtodo
duas importantes idias, que so, a primeira os seres humanos como substancia
pensante, e a segunda a matria como sendo a prpria extenso em movimento. a
partir dessas idias que se da inicio ao dualismo cartesiano entre a mente e a
matria, e graas a Descartes que hoje conseguimos analisar a mente e a matria
como coisas devidamente separadas e ao mesmo tempo to prximas, presentes no
universo em que vivemos. Essas provas e as questes que se envolvem diante
disso, oferecem lugar a inmeras objees, porm a busca do fundamento da
Cincia, levou Descartes a inaugurar um novo princpio para as investigaes
filosficas. A frase por ele instituda "penso, logo existo", ilustra o novo paradigma
oferecido s questes enfrentadas at hoje pela filosofia, e o que prova
explicitamente isso o anticartesianismo aparente na filosofia contempornea.
"Apenas desejo a tranqilidade e o descanso, que so os bens que os mais
poderosos reis da terra no podem conceder a quem os no podemos tomar pelas
suas prprias mos." DESCARTES.
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BIBLIOGRAFIA
WWW.GENIOS DA HUMANIDADE
DISCURSO DO MTODO. OS PENSADORES, NOVA CULTURAL; SP. 200
WWW.VIRGILIO.COM.BR
DESCARTES, REN, 1596-1650. DISCURSO DO MTODO; TRADUO
LOURDES NASCIMENTO FRANCO. SO PAULO: CONE, 2006.