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 FEAD  FACULDADE DE EDUCAÇÃO A DIST ÂNCIA MARYLANDI CARVALHO ELINES COSTA Trabalho sobre: Renné Descartes RIO DE JANEIRO 2010
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FILOSOFIA 12-06-2010

Oct 18, 2015

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  • FEAD FACULDADE DE EDUCAO A DISTNCIA

    MARYLANDI CARVALHO

    ELINES COSTA

    Trabalho sobre:

    Renn Descartes

    RIO DE JANEIRO 2010

  • MARYLANDI CARVALHO

    ELINES COSTA

    Trabalho sobre:

    Renn Descartes

    Trabalho apresentado disciplina

    Filosofia e tica para obteno de

    crditos de aprovao no curso de

    graduao em Cincias Contbeis

    FEAD Educao a Distncia

    Orientador: Prof. Emlia Agnes Assis

    de Lima.

    RIO DE JANEIRO 2010

  • SUMRIO

    Introduo- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 04

    1 Renne Descartes Biografia- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 05

    2 Sua Vida- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -06

    3 O mtodo- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 09

    4 A Metafsica- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 11

    5 Deus, Cincias e Livre arbtrio- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -13

    6 O Problema do Homem: A moral - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -15

    7 - O Programa Cartesiano- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -17

    8 Imagens- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -20

    Concluso - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 21

    Bibliografia- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 22

  • 4

    INTRODUO

    O objetivo desde trabalho analisar o ponto de vista do pensamento de Ren

    Descartes e suas afirmaes diante de seus mtodos, apoiando-se nos conceitos

    que ele mesmo introduziu e que at hoje so a fundo analisados. Penso, logo existo.

    Uma frase na qual toda humanidade se inspira e confirma, mesmo que de uma forma

    duvidosa, as anlises diante disso, pois no existiu no mundo ainda, outro ser -

    humano que conseguiu contrapor essa idia, a qual tambm tratada neste

    trabalho. Em sua obra Discurso do Mtodo, escrita em 1637, percebe-se que

    Descartes um filsofo matemtico, sistemtico, claro e distinto, e que acima de

    tudo procura manter sua filosofia concreta e positiva. Descartes desenvolveu uma

    cincia prtica atravs de seu mtodo matemtico e racionalista, e que hoje algo

    universal. Seu estilo pessoal mistura sentenas de carter universal, que dentro da

    lgica, confirma sua validade, a partir de suas racionais experincias pessoais.

    Vamos analisar com mais detalhes a crise que se estabeleceram em sua poca, o

    prprio mtodo de Descartes, as explicaes sobre o cogito, o inatismo do ser -

    humano, o dualismo que estabelecido entre o corpo e o esprito, a questo que

    envolve e confirma a existncia de Deus em suas teorias, e ainda a subjetividade em

    Descartes. De famlia burguesa, Descartes nasceu em La Haye, na Frana, em

    maro de 1596. J em 1628, decidiu se isolar na Holanda com a inteno de adquirir

    a tranqilidade que precisava para escrever suas obras. Formou-se em direito,

    porm nunca exerceu a profisso, teve ento contato com o matemtico Isaac

    Beeckman que lhe inspirou para desenvolver a geometria analtica, desenvolvendo

    ento, os eixos cartesianos. Descartes escreveu sobre vrios assuntos, entre eles,

    sobre a fisiologia e anatomia humana e animal, astronomia, fsica, porm sua grande

    habilidade foi matemtica. J em Estocolmo, na Sucia, 1659, Descarte foi

    convidado pela rainha Cristina a estabelecer uma Academia de Cincias, e faleceu

    no ano de 1660, pois no gozava de uma boa sade e o inverno do local no foi

    suportvel. A matemtica a cincia da ordem e a medida, de belas correntes de

    raciocnios, todos singelos e fceis." DESCARTES

  • 5

    1 - RENN DESCARTES

    Renn Descartes foi um filsofo, fsico e matemtico francs. Durante a Idade

    Moderna tambm era conhecido por seu nome latino Renatus Cartesius. Notabilizou-

    se, sobretudo por seu trabalho revolucionrio na filosofia e na cincia, mas tambm

    obteve reconhecimento matemtico por sugerir a fuso da lgebra com a geometria

    fato que gerou a geometria analtica e o sistema de coordenadas que hoje leva o

    seu nome. Por fim, ele foi uma das figuras-chave na Revoluo Cientfica. Descartes,

    por vezes chamado de o fundador da filosofia moderna e o pai da matemtica

    moderna, considerado um dos pensadores mais importantes e influentes da

    Histria do Pensamento Ocidental. Inspirou contemporneas e vrias geraes de

    filsofos posteriores; boa parte da filosofia escrita a partir de ento foi uma reao s

    suas obras ou a autores supostamente influenciados por ele. Muitos especialistas

    afirmam que a partir de Descartes inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna.

    Dcadas mais tarde, surgiria nas Ilhas Britnicas, um movimento filosfico que, de

    certa forma, seria o seu oposto o empirismo, com John Locke e David Hume.

  • 6

    2 - SUA VIDA

    Ren Descartes, nascido em 1596 em La Haye no a cidade dos Pases-Baixos,

    mas um povoado da Touraine, numa famlia nobre ter o ttulo de senhor de

    Perron, pequeno domnio do Poitou, da o aposto fidalgo poitevino. De 1604 a

    1614, estuda no colgio jesuta de La Flche. A gozar de um regime de privilgio,

    pois se levanta quando quer, o que o leva a adquirir um hbito que o acompanhar

    por toda sua vida: meditar no prprio leito. Apesar de apreciado por seus

    professores, ele se declara, no Discurso sobre o Mtodo, decepcionado com o

    ensino que lhe foi ministrado: a filosofia escolstica no conduz a nenhuma verdade

    indiscutvel, No encontramos a nenhuma coisa sobre a qual no se dispute. S as

    matemticas demonstram o que afirmam: As matemticas agradavam-me,

    sobretudo por causa da certeza e da evidncia de seus raciocnios. Mas as

    matemticas so uma exceo, uma vez que ainda no se tentou aplicar seu

    rigoroso mtodo a outros domnios. Eis por que o jovem Descarte, decepcionado

    com a escola, parte procura de novas fontes de conhecimento, a saber, longe dos

    livros e dos regentes de colgio, a experincia da vida e a reflexo pessoal: Assim

    que a idade me permitiu sair da sujeio a meus preceptores, abandonei

    inteiramente o estudo das letras; e resolvendo no procurar outra cincia que

    aquela que poderia ser encontrada em mim mesmo ou no grande livro do

    mundo, empreguei o resto de minha juventude em viajar, em ver cortes e

    exrcitos, conviver com pessoas de diversos temperamentos e condies.

    Aps alguns meses de elegante lazer com sua famlia em Rennes, onde se ocupa

    com equitao e esgrima (chega mesmo a redigir um tratado de esgrima, hoje

    perdido), vai encontr-lo na Holanda engajado no exrcito do prncipe Maurcio de

    Nassau. Mas um estranho oficial que recusa qualquer soldo, que mantm seus

    equipamentos e suas despesas e que se declara menos um ator do que um

    espectador: antes ouvinte numa escola de guerra do que verdadeiro militar. Na

    Holanda, ocupa-se, sobretudo com matemtica, ao lado de Isaac Beeckman.

    dessa poca (tem cerca de 20 anos) que data sua misteriosa divisa Larvatus

    prodeo. Eu caminho mascarado. Segundo Pierre Frederix, Descarte quer apenas

    significar que um jovem sbio disfarado de soldado.

  • 7

    Em 1619, ei-lo a servio do Duque de Baviera. Em virtude do inverno, aquartela-se

    s margens do Danbio. Podemos facilmente imagin-lo alojado numa estufa, isto

    , num quarto bem aquecido por um desses fogareiros de porcelana cujo uso

    comea a se difundir, servido por um criado e inteiramente entregue meditao. A

    10 de novembro de 1619, sonhos maravilhosos advertem que est destinado a

    unificar todos os conhecimentos humanos por meio de uma cincia admirvel da

    qual ser o inventor. Mas ele aguardar at 1628 para escrever um pequeno livro em

    latim, as Regras para a direo do esprito (Regulae ad directionem ingenii). A

    idia fundamental que a se encontra a de que a unidade do esprito humano

    (qualquer que seja a diversidade dos objetos da pesquisa) deve permitir a inveno

    de um mtodo universal. Em seguida, Descarte prepara uma obra de fsica, o

    Tratado do Mundo, a cuja publicao ele renuncia visto que em 1633 toma

    conhecimento da condenao de Galileu. certo que ele nada tem a temer da

    Inquisio. Entre 1629 e 1649, ele vive na Holanda, pas protestante. Mas Descartes,

    de um lado catlico sincero (embora pouco devoto), de outro, ele antes de tudo

    quer fugir s querelas e preservar a prpria paz. Finalmente, em 1637, ele se decide

    a publicar trs pequenos resumos de sua obra cientfica: A Diptrica, Os Meteoros e

    A Geometria. Esses resumos, que quase no so lidos atualmente, so

    acompanhados por um prefcio e esse prefcio foi que se tornou famoso: o

    Discurso sobre o Mtodo. Ele faz ver que o seu mtodo, inspirado nas matemticas,

    capaz de provar rigorosamente a existncia de Deus e o primado da alma sobre o

    corpo. Desse modo, ele quer preparar os espritos para, um dia, aceitarem todas as

    conseqncias do mtodo inclusive o movimento da Terra em torno do Sol! Isto

    no quer dizer que a metafsica seja, para Descartes, um simples acessrio. Muito

    pelo contrrio! Em 1641, aparecem as Meditaes Metafsicas, sua obra-prima,

    acompanhadas de respostas s objees. Em 1644, ele publica uma espcie de

    manual cartesiano. Os Princpios de Filosofia, dedicado princesa palatina

    Elisabeth, de quem ele , em certo sentido, o diretor de conscincia e com quem

    troca importante correspondncia. Em 1644, por ocasio da rpida viagem a Paris,

    Descarte encontra o embaixador da frana junto corte sueca, Chanut, que o pe

    em contato com a rainha Cristina.

    Esta ltima chama Descartes para junto de si. Aps muitas tergiversaes, o filsofo,

    no antes de encarregar seu editor de imprimir, para antes do outono, seu Tratado

  • 8

    das Paixes embarca para Amsterd e chega a Estocolmo em outubro de 1649.

    ao surgir da aurora (5 da manh!) que ele d lies de filosofia cartesiana sua real

    discpula. Descarte, que sofre atrozmente com o frio, logo se arrepende, ele que

    nasceu nos jardins da Touraine, de ter vindo viver no pas dos ursos, entre

    rochedos e geleiras. Mas demasiado tarde. Contrai uma pneumonia e se recusa a

    ingerir as drogas dos charlates e a sofrer sangrias sistemticas (Poupai o sangue

    francs, senhores), morrendo a 9 de fevereiro de 1650. Seu atade, alguns anos

    mais tarde, ser transportado para a Frana. Lus XIV proibir os funerais solenes e

    o elogio pblico do defunto: desde 1662 a Igreja Catlica Romana, qual ele parece

    Ter-se submetido sempre e com humildade, colocar todas as suas obras no Index.

  • 9

    3 - O MTODO

    Descartes querem estabelecer um mtodo universal, inspirado no rigor matemtico e

    em suas longas cadeias de razo.

    1. A primeira regra a evidncia: no admitir nenhuma coisa como verdadeira se

    no a reconheo evidentemente como tal. Em outras palavras, evitar toda

    precipitao e toda preveno (preconceitos) e s ter por verdadeiro o que for

    claro e distinto, isto , o que eu no tenho a menor oportunidade de duvidar. Por

    conseguinte, a evidncia o que salta aos olhos, aquilo de que no posso duvidar,

    apesar de todos os meus esforos, o que resiste a todos os assaltos da dvida,

    apesar de todos os resduos, o produto do esprito crtico. No, como diz bem

    Janklvitch, uma evidncia juvenil, mas quadragenria.

    2. A segunda, a regra da anlise: dividir cada uma das dificuldades em tantas

    parcelas quantas forem possveis.

    3. A terceira, a regra da sntese: concluir por ordem meus pensamentos,

    comeando pelos objetos mais simples e mais fceis de conhecer para, aos poucos,

    ascender, como que por meio de degraus, aos mais complexos.

    4. A ltima a dos desmembramentos to complexos a ponto de estar certo de

    nada ter omitido.

    Se esse mtodo tornou-se muito clebre, foi porque os sculos posteriores viram

    nele uma manifestao do livre exame e do racionalismo.

    a) Ele no afirma a independncia da razo e a rejeio de qualquer autoridade?

    Aristteles disse no mais um argumento sem rplica! S contam a clareza e a

    distino das idias. Os filsofos do sculo XVIII estendero esse mtodo a dois

    domnios de que Descartes, importante ressaltar, o excluiu expressamente: o

    poltico e o religioso (Descartes conservador em poltica e coloca as verdades da

    f ao abrigo de seu mtodo).

  • 10

    b) O mtodo racionalista porque a evidncia de que Descartes parte no , de

    modo algum, a evidncia sensvel e emprica. Os sentidos nos enganam, suas

    indicaes so confusas e obscuras, s as idias da razo so claras e distintas. O

    ato da razo que percebe diretamente os primeiros princpios a intuio. A

    deduo limita-se a veicular, ao longo das belas cadeias da razo, a evidncia

    intuitiva das naturezas simples. A deduo nada mais do que uma intuio

    continuada.

  • 11

    4 - A METAFSICA

    No Discurso sobre o Mtodo, Descartes pensos, sobretudo na cincia. Para bem

    compreender sua metafsica, necessrio ler as Meditaes.

    1. Todos sabem que Descartes inicia seu itinerrio espiritual com a dvida. Mas

    necessrio compreender que essa dvida tem outro alcance que a dvida metdica

    do cientista. Descartes duvida voluntria e sistematicamente de tudo, desde que

    possa encontrar um argumento, por mais frgil que seja. Por conseguinte, os

    instrumentos da dvida nada mais so do que os auxiliares psicolgicos, de uma

    ascese, os instrumentos de um verdadeiro exrcito espiritual. Duvidemos dos

    sentidos, uma vez que eles freqentemente nos enganam, pois, diz Descartes,

    nunca tenho certeza de estar sonhando ou de estar desperto! (Quantas vezes

    acreditei-me vestido com o robe de chambre, ocupado em escrever algo junto

    lareira; na verdade, estava despido em meu leito).

    Duvidemos tambm das prprias evidncias cientficas e das verdades matemticas!

    Mas qu? No verdade quer eu sonhe ou esteja desperto que 2 + 2 = 4? Mas

    se um gnio maligno me enganasse se Deus fosse mau e me iludisse quanto s

    minhas evidncias matemticas e fsicas? Tanto quanto duvido do Ser, sempre

    posso duvidar do objeto (permita-me retomar os termos do mais lcido intrprete de

    Descartes, Ferdinand Alqui).

    2. Existe, porm, uma coisa de que no posso duvidar, mesmo que o demnio

    queira sempre me enganar. Mesmo que tudo o que penso seja falso, resta a certeza

    de que eu penso. Nenhum objeto de pensamento resiste dvida, mas o

    prprio ato de duvidar indubitvel. Penso, cogito, logo existo, ergo sum.

    No um raciocnio (apesar do logo, do ergo), mas uma intuio, e mais slida que

    a do matemtico, pois uma intuio metafsica, matemtica. Ela trata no de um

    objeto, mas de um ser. Eu penso, Ego cogita (e o ego, sem aborrecer Brunschvicg,

    muito mais que um simples acidente gramatical do verbo cogitare). O cogito de

    Descartes, portanto, no como j se disse o ato de nascimento do que, em

    filosofia, chamamos de idealismo (o sujeito pensante e suas idias como o

  • 12

    fundamento de todo conhecimento), mas a descoberta do domnio ontolgico (estes

    objetos que so as evidncias matemticas remetem a este ser que meu

    pensamento).

    3. Nesse nvel, entretanto, nesse momento de seu itinerrio espiritual, Descartes

    solipsista. Ele s tem certeza de seu ser, isto , de seu ser pensante (pois, sempre

    duvido desse objeto que meu corpo; a alma, diz Descartes nesse sentido, mais

    fcil de ser conhecida que o corpo).

    pelo aprofundamento de sua solido que Descartes escapar dessa solido.

    Dentre as idias do meu cogito existe uma inteiramente extraordinria. a idia de

    perfeio, de infinito. No posso t-la tirado de mim mesmo, visto que sou finito e

    imperfeito. Eu, to imperfeito, que tenho a idia de Perfeio, s posso t-la recebido

    de um Ser perfeito que me ultrapassa e que o autor do meu ser. Por conseguinte,

    eis demonstrada existncia de Deus. E nota-se que se trata de um Deus perfeito,

    que, por conseguinte, toda bondade. Eis o fantasma do gnio maligno exorcizado.

    Se Deus perfeito, ele no pode ter querido enganar-me e todas as minhas idias

    claras e distintas so garantidas pela veracidade divina. Uma vez que Deus existe,

    eu ento posso crer na existncia do mundo. O caminho exatamente o inverso do

    seguido por So Toms. Compreenda-se que, para tanto, no tenho o direito de

    guiar-me pelos sentidos (cujas mensagens permanecem confusas e que s tm um

    valor de sinal para os instintos do ser vivo). S posso crer no que me claro e

    distinto (por exemplo: na matria, o que existe verdadeiramente o que

    claramente pensvel, isto , a extenso e o movimento). Alguns acham que

    Descartes fazia um circulo vicioso: a evidncia me conduz a Deus e Deus me

    garante a evidncia! Mas no se trata da mesma evidncia. A evidncia ontolgica

    que, pelo cogito, me conduz a Deus fundamenta a evidncia dos objetos

    matemticos. Por conseguinte, a metafsica tem, para Descartes, uma evidncia

    mais profunda que a cincia. ela que fundamenta a cincia (um ateu, dir

    Descartes, no pode ser gemetra!).

    4. A Quinta meditao apresenta outra maneira de provar a existncia de Deus.

    No mais se trata de partir de mim, que tenho a idia de Deus, mas antes da idia de

    Deus que h em mim. Apreender a idia de perfeio e afirmar a existncia do ser

    perfeito a mesma coisa. Pois uma perfeio no-existente no seria uma perfeio.

  • 13

    o argumento ontolgico, o argumento de Santo Anselmo que Descartes (que no

    leu Santo Anselmo) reencontra: trata-se, ainda aqui, mais de uma intuio, de uma

    experincia espiritual (a de um infinito que me ultrapassa) do que de um raciocnio.

    5 - DEUS, CINCIA E O LIVRE-ARBTRIO

    Para Descartes, o Deus criador transcende radicalmente a natureza. Deus Foi

    inteiramente indiferente ao criar as coisas que criou. No se submeteu a nenhuma

    verdade prvia. Em virtude do poder de seu livre-arbtrio, criou as verdades. Eis por

    que Deus quer que a soma dos ngulos de um tringulo seja igual a dois ngulos

    retos.

    Acrescentemos que, para Descartes, Deus criou o mundo instante por instante ( a

    criao contnua). O tempo descontnuo e a natureza no tem nenhum poder

    prprio. As leis da natureza s so o que so a cada momento, em virtude da

    vontade do criador. importante compreender que essa transcendncia radical de

    Deus possui duas conseqncias fundamentais. O livre-arbtrio humano e a

    independncia da cincia.

    1. O homem no uma parte de Deus. A transcendncia do criador afasta

    qualquer pantesmo. O homem, simples criatura ultrapassada por seu criador

    (concebo Deus porque descubro em mim a marca de sua ifinitude, mas no o

    compreendo), recebo, assim, uma autonomia que ser perdida no sistema pantesta

    de Spinoza. O homem livre, pode dizer sim ou no s ordens de Deus. certo que,

    na Quarta Meditao, Descartes fala da liberdade esclarecida, dessa liberdade que

    no pode tratar da verdade ou do bem, dessa liberdade que antes um estado de

    libertao do que uma deciso pura, situada alm de todas as razes. Mas nos

    Princpios e, sobretudo nas cartas ao Pe. Mesland, de 2 de maio de 1644 e 9 de

    fevereiro de 1645, Descartes afirma radicalmente o livre-arbtrio, o poder de recusar

    a Verdade e o Bem at mesmo na presena da evidncia que se manifesta. Esses

  • 14

    textos esclarecem a teoria do juzo presente na Quarta meditao. O entendimento

    concebe a verdade e a vontade que d as costas a ou afirma essa verdade. Deus

    prope e o homem, por intermdio de seu livre-arbtrio, dispe. Desse modo, Deus

    no o culpado dos meus erros nem dos meus pecados. Sou eu que me engano,

    sou eu que peco. Meu livre-arbtrio me faz merecedor ou culpado.

    2. Do mesmo modo, a transcendncia de Deus vai tornar possvel uma cincia

    puramente racional e mecanicista da natureza.

    a) A natureza, segundo Descartes, j o vimos, no possui dinamismo prprio. Todo

    dinamismo pertence ao criador. Na medida em que a natureza despojada de toda

    profundidade metafsica, Descartes pode eliminar as noes aristotlicas e

    medievais de forma, alma, ato e potncia. Toda finalidade desaparece e a natureza

    reduzida a um mecanicismo inteiramente transparente para a linguagem matemtica.

    A natureza nada tem de divino, um objeto criado, situado no mesmo plano da

    inteligncia humana, e, por conseguinte, inteiramente entregue sua explorao.

    Isto consiste, ao mesmo tempo, na rejeio de todo naturalismo pago (a natureza

    no uma deusa) e na fundamentao metafsica do racionalismo cientfico.

    b) Nem tudo tem o mesmo valor na obra cientfica de Descartes. Se sua tica e suas

    consideraes sobre a expresso algbrica das curvas (ele , juntamente com

    Fermat, o inventor da geometria analtica) constituem incontestvel contribuio

    cientfica, sua fsica (dada, alis, mais como uma possibilidade racional do que como

    a verdade certa) no passa de um romance. Mas o esprito dessa fsica e da

    fisiologia cartesiana que no passa de um captulo da fsica nada mais do que

    o esprito do mecanicismo. Quando Descartes declara que os animais so mquinas,

    ele coloca, em princpio, que possvel explicar as funes fisiolgicas por

    intermdio de mecanismos semelhantes queles que fazem mover os autmatos que

    vemos nos jardins de nossos reis. O detalhe das explicaes no passa de um

    sonho. Mas a direo tomada a cincia moderna. Para Descartes, o mundo fsico

    no possui mistrios. As coisas se determinam reciprocamente (leis do choque), por

    contato direto, num espao em que no existe o vazio.

  • 15

    6 - O PROBLEMA DO HOMEM: A MORAL

    1. No Discurso sobre o Mtodo, Descartes adota uma moral provisria pois a

    ao no pode esperar que a filosofia cartesiana engendre uma nova moral!

    Recordemos seus trs preceitos:

    a) Submeter-se aos usos e costumes de seu pas.

    b) Antes mudar os prprios desejos que a ordem do mundo e vencer-se a si prprio

    do que fortuna.

    c) Ser sempre firme e resoluto em suas aes; saber decidir-se mesmo na ausncia

    de toda evidncia, semelhana do viajante perdido na floresta que, ao invs de

    ficar fazendo voltas, adota uma direo qualquer e nela se mantm! (O

    cartesianismo, antes de ser uma filosofia da inteligncia, uma filosofia da vontade).

    2. certo que a moral definitiva de Descartes no apresenta uma unidade perfeita.

    Influncias esticas, epicuristas e crists esto presentes nela. Mas, na realidade,

    essa complexidade reflete a prpria complexidade da condio humana. No plano

    das idias claras e distintas, Descartes separa claramente as duas substncias, alma

    e corpo: a essncia da alma pensar; a do corpo ser um objeto no espao. E, no

    entanto, o pensamento est preso a esse fragmento de extenso. A alma age sobre

    o corpo e este age sobre ela. (Para Descartes, o ponto de aplicao da alma ao

    corpo a glndula pineal, isto , a epfise.) Mas isso no esclarece a unio da alma

    e do corpo, que um fato de experincia, puramente vivido e ininteligvel.

    Na medida em que Descartes considera o homem no que ele tem de essencial,

    enquanto esprito, ou quando se ocupa do composto humano, sua moral assume

    aspectos diferentes:

    a) Consideremos o homem enquanto esprito, enquanto liberdade: o valor supremo

    a generosidade. A verdadeira generosidade que faz com que um homem se estime,

    no ponto mximo em que ele pode legitimamente estimar-se, consiste, em parte, na

    conscincia de que nada lhe pertence verdadeiramente, exceto essa livre disposio

  • 16

    de suas vontades e em parte no sentimento de uma firme e constante resoluo

    de bem us-la, isto , de nunca lhe faltar vontade para empreender e executar todas

    as coisas que julgar melhores, o que seguir a virtude perfeitamente.

    b) Se considerarmos o homem enquanto espritos unidos a um corpo so obrigados

    a levar em conta as paixes, isto , a afetividade em sentido amplo. Paixo , para

    Descartes, tudo o que o corpo determina na alma. E Ele, que nada tem de asceta,

    acha que devemos antes domin-las do que desenvolv-las. Isso porque ele se

    coloca do ponto de vista da felicidade. O bom funcionamento do corpo, as ligaes

    harmoniosas entre os espritos animais e os pensamentos humanos so altamente

    desejveis. A moral surge, ento, como uma tcnica de felicidade e, nessa tcnica, a

    medicina desempenha importante papel. A moral surge aqui como uma aplicao

    direta ao mecanicismo cartesiano.

  • 17

    7 - O PROGRAMA CARTESIANO

    De acordo com o prefcio dos Princpios

    Gostaria de explicar aqui a ordem que, parece-me, devemos seguir para que nos

    instruamos. Primeiramente, o homem que ainda s possui conhecimento vulgar e

    imperfeito, deve, antes de tudo, encarregar-se de formar uma moral que seja

    suficiente para ordenar as aes da vida, porque isso no deve ser adiado e porque

    devemos, sobretudo, procurar viver bem. Aps isso, tambm deve estudar lgica,

    no a da Escola pois ela nada mais do que uma dialtica que ensina os meios

    para fazer entender a outrem as coisas que j se sabe ou ento de emitir opinies,

    sem julgamento, sobre as que no se sabe; desse modo, ela antes corrompe o bom-

    senso do que o desenvolve mas aquela que ensina a bem conduzir a razo na

    descoberta de verdades que se ignora. E porque ela depende muito do uso, bom

    que ele se exercite, por muito tempo, na prtica de regras penitentes a questes

    fceis e simples como as da matemtica. Depois, quando j tiver adquirido o hbito

    de encontrar a verdade nessas questes, ele deve comear a aplicar-se verdadeira

    filosofia cuja primeira parte a metafsica, que contm os princpios do

    conhecimento, entre as quais est explicao dos principais atributos de Deus, da

    imaterialidade de nossas almas e de todas as noes claras e simples que esto em

    ns. A segunda a fsica, na qual, aps ter encontrado os verdadeiros princpios das

    coisas materiais, examinamos em geral como o universo composto; depois, em

    particular, qual a natureza da terra e de todos os corpos que se encontram mais

    comumente em torno dela como o ar, a gua, o fogo, o m e outros minerais. Aps

    o que tambm necessrio examinar em particular a natureza das plantas, dos

    animais e, sobretudo, do homem, a fim de que se seja capaz de, depois, encontrar

    as outras cincias que lhe so teis. Desse modo, a filosofia como uma rvore

    cujas razes so a metafsica, o tronco a fsica e os ramos que da saem todas as

    outras cincias, que se reduzem a trs principais, a saber: a medicina, a mecnica e

    a moral; eu acho que a mais elevada e mais perfeita moral, que pressupe inteiro

    conhecimento das outras cincias, o ltimo grau da sabedoria.

  • 18

    Ora, assim como no das razes nem do tronco que colhemos os frutos, mas da

    extremidade dos ramos, assim a principal utilidade da filosofia depende das

    utilidades de suas partes, as quais s podem aprender por ltimo. Mas, embora eu

    as ignore quase todo o zelo que sempre tive no sentido de prestar algum servio ao

    pblico levou-me a publicar, h uns dez ou doze anos, alguns ensaios sobre as

    coisas que me parecera ter aprendido. A primeira parte desses ensaios foi um

    discurso sobre o mtodo de bem conduzir a razo e procurar a verdade nas cincias,

    na qual apresentei sumariamente as principais regras da lgica e de uma moral

    imperfeita que pode ser seguida provisoriamente, enquanto ainda no se estabelece

    algo de melhor. As outras partes foram trs tratados: um da Diptrica, outro dos

    Meteoros e o ltimo da Geometria. Pela Diptrica, pretendi mostrar que se pode

    avanar bastante em filosofia para se chegar, por seu intermdio, ao conhecimento

    das artes que so teis vida e porque a inveno das lunetas de aproximao, que

    eu a explico, uma das mais difceis das que j foram procuradas. Pelos Meteoros,

    procurei fazer com que se reconhecesse a diferena existente entre a filosofia que

    eu cultivo e aquela ensinada nas escolas em que se tem o hbito de tratar da mesma

    matria. Finalmente, pela Geometria, pretendi demonstrar que eu descobrira vrias

    coisas ignoradas at ento e, desse modo, fazer acreditar que ainda podemos,

    nesse campo, descobrir vrias outras, incitando, dessa forma, todos os homens a

    procurarem a verdade. Depois disso, prevendo a dificuldade que muitos teriam para

    conceber os fundamentos da metafsica, procurei explicar seus pontos principais

    num livro de Meditaes que no grande, mas cujo volume foi aumentado e cuja

    matria foi muito clarificada pelas objees que vrias pessoas muito doutas me

    enviaram sobre o assunto e pelas respostas que lhes dei. Finalmente, quando me

    pareceu que esses tratados procedentes haviam preparado bem o esprito dos

    leitores para receber os Princpios da Filosofia , eu os publiquei ento; dividi o livro

    em quatro partes, das quais a primeira contm os princpios do conhecimento e que

    podemos denominar filosofia primeira ou metafsica. Eis por que, a fim de bem

    compreend-la, preciso ler antes as Meditaes que escrevi sobre o mesmo

    assunto. As outras trs partes contm tudo o que h de mais geral na fsica, a saber,

    a explicao das primeiras leis ou princpios da natureza e a maneira pela qual os

    cus, as estrelas fixas, os planetas, os cometas e o universo em geral so

    compostos; depois, em particular, a natureza desta terra, do ar, da gua, do fogo e

    do m que so os corpos que podemos encontrar mais comumente em torno dela

  • 19

    e de todas as qualidades que observamos nesses corpos como o so a luz, o

    calor, o peso e semelhantes; por meio disso, penso ter comeado a explicar toda a

    filosofia ordenadamente, sem ter admitido nenhuma das coisas que devem preceder

    as ltimas sobre as quais escrevi.

    Filsofo meditando

    Rembrandt (1632)

    Descartes prefere viver solitrio, isolado do mundo, com suas meditaes,

    na busca de uma nova cincia universal. Bem viveu quem bem se escondeu, ele

    diz.

    Capa da edio original das Meditaes 1641

  • 20

    8 IMAGENS

    O relgio, o homem, o animal so mquinas.

    O mundo uma mquina.

    Tanto o corpo como os organismos animais so mquinas, e,

    Portanto, funcionam com base em princpios que regulam seus movimentos e suas

    relaes.

    Colgio jesuta da La Fleche

  • 21

    CONCLUSO

    Descartes inaugurou a maior revoluo intelectual da histria, e junto um novo

    paradigma introduzindo na filosofia um conjunto de problemas e conceitos que

    determinam o rumo da filosofia moderna e contempornea. Duvidou de todas as

    coisas para libertar-se por completo de toda dvida, contudo, a descoberta da

    certeza nasce do exerccio da prpria dvida. O mtodo de Descartes prope provas

    que atacam a confiana que o ser - humano tem nas opinies, mesmo que estas

    sejam apenas ingnuas confianas, dando espao aos sentidos, imaginao e a

    razo, pois no se pode ter certeza sobre os sentidos, j que eles podem nos

    oferecer impresses enganosas, como por exemplo, se tornar pequeno um grande

    objeto que est a distancia de ns. Descartes apresenta no Discurso do Mtodo

    duas importantes idias, que so, a primeira os seres humanos como substancia

    pensante, e a segunda a matria como sendo a prpria extenso em movimento. a

    partir dessas idias que se da inicio ao dualismo cartesiano entre a mente e a

    matria, e graas a Descartes que hoje conseguimos analisar a mente e a matria

    como coisas devidamente separadas e ao mesmo tempo to prximas, presentes no

    universo em que vivemos. Essas provas e as questes que se envolvem diante

    disso, oferecem lugar a inmeras objees, porm a busca do fundamento da

    Cincia, levou Descartes a inaugurar um novo princpio para as investigaes

    filosficas. A frase por ele instituda "penso, logo existo", ilustra o novo paradigma

    oferecido s questes enfrentadas at hoje pela filosofia, e o que prova

    explicitamente isso o anticartesianismo aparente na filosofia contempornea.

    "Apenas desejo a tranqilidade e o descanso, que so os bens que os mais

    poderosos reis da terra no podem conceder a quem os no podemos tomar pelas

    suas prprias mos." DESCARTES.

  • 22

    BIBLIOGRAFIA

    WWW.GENIOS DA HUMANIDADE

    DISCURSO DO MTODO. OS PENSADORES, NOVA CULTURAL; SP. 200

    WWW.VIRGILIO.COM.BR

    DESCARTES, REN, 1596-1650. DISCURSO DO MTODO; TRADUO

    LOURDES NASCIMENTO FRANCO. SO PAULO: CONE, 2006.