Fichamento
ANDERSON, Benedict:Comunidades Imaginadas. So Paulo. Cia das
Letras, 2008.
Introduo.(P.26) Benedict Anderson inicia sua obra buscando
compreender o por que das Guerras entre Vietn, Camboja e China
entre1978 e 1979. A primeira guerra convencional em grande escala
entre pases socialistas e inegavelmente revolucionrios, que em tese
compartilhavam da mesma ideologia.(P.27) interessante notar que
desde a Segunda Guerra Mundial todas as revolues vitoriosas se
definiram em termos nacionais Republica Popular da China, Repblica
Socialista do Vietn, etc e, com isso se afirmaram solidamente em um
espao territorial e social herdado do passado
pr-revolucionrio.(P.28) Hobsbawm afirma que os estados marxistas
esto se tornando, nacionais e nacionalistas. E essa tendncia no se
restringe apenas ao mundo socialista. Todos os anos a ONU admite
membros novos. E muitas naes antigas consolidadas, veem-se
desafiadas por sub-nacionalismos em seu prprio territrio, que
sonham em se tornarem naes.(P.29) Este livro pretende oferecer, a
ttulo de ensaio, algumas ideias para uma interpretao da anomalia do
nacionalismo.(P.30) O ponto de partida de Anderson que tanto a
nacionalidade (ou condio nacional), quanto o nacionalismo so
produtos culturais especficos.(P.31) Conceitos e Definies (P.32)
Ele considera dentro de um esprito antropolgico a seguinte definio
de nao: uma comunidade poltica imaginada e imaginada como sendo
intrinsecamente limitada e ao mesmo tempo soberana. Ela imaginada
por que mesmo os membros das mais minsculas das naes jamais
conhecero, encontraram ou nem sequer ouviro falar de todos os seus
companheiros (compatriotas) embora todos tenham em mente a imagem
viva da comunho entre eles. A nica coisa que pode dizer que uma nao
existe quando muitas pessoas se consideram uma nao.(P.33) Na
verdade, qualquer comunidade maior que uma aldeia primordial do
contato face a face imaginada. At mesmo ela.Imagina-se a nao como
limitada por que at mesmo a maior delas que agregue um bilho de
habitantes, possui fronteiras finitas ainda que elsticas. Nenhuma
delas imagina ter a mesma extenso da humanidade. Nem os
nacionalistas mais messinicos sonham com o dia em que todos os
membros da espcie humana se uniro sua nao.(P.34) Imagina-se a nao
soberana por que o conceito nasceu na poca em que o Iluminismo e a
Revoluo estavam destruindo a legitimidade do reino dinstico
hierrquico da ordem divina. Amadurecendo em uma poca em que mesmo
os adeptos mais fervorosos de qualquer religio se depararam com o
pluralismo de religies no mundo. Notando ento que a nica maneira de
serem livres serem soberanas sobre um pedao determinado de terra.E
por ltimo ela imaginada como uma comunidade por que independente da
desigualdade e da explorao que possam existir dentro dela, a nao
sempre concebida como uma profunda camaradagem horizontal. No fundo
foi essa fraternidade que tornou possvel, nestes ltimos dois
sculos, que tantos milhes de pessoas matassem e morressem por essas
criaes imaginrias e limitadas.Essas mortes nos levam a pensar no
problema central posto pelo nacionalismo: o que faz com que parcas
criaes imaginativas de pouco mais de dois sculos gerem sacrifcios
to descomunais? A resposta est nas razes culturais do
nacionalismo.(P.35) Cap. 1: Razes Culturais.No existem smbolos mais
impressionantes da cultura moderna do nacionalismo do que os
cenotfios e o tmulo do soldado desconhecido. Contudo, estes tmulos
vazios esto carregados de imagens nacionais espectrais.(P.36) Se o
nacionalismo se importa tanto com a morte e a imortalidade, isso
sugere sua grande afinidade com os imaginrios religiosos. Com isso
vale a pena comear a avaliar as razes do nacionalismo pela morte, o
ltimo elemento de uma srie de fatalidades. A morte, assim como a
herana gentica pessoal, nosso sexo, a poca em que viemos, nossas
capacidades fsicas, lngua-materna, etc so fatores contingentes e
inelutveis.(P.37) O grande mrito das religies (fora seu papel na
legitimao do sistema de dominao e explorao) a sua preocupao com o
homem no universo. Ela tenta explicar o por que. A religio se
interessa pelos vnculos entre os mortos e os ainda no
nascidos.(P.38) O sculo XVIII na Europa marca o amanhecer do
nacionalismo e o anoitecer do pensamento religioso. A religio
declinou, mas o sofrimento que ela ajudava a apaziguar no
desapareceu. Admite-se que os estados nacionais so novos e
histricos, ao passo que as naes ao qual elas do expresso poltica
sempre assomam de um passado imemorvel, seguindo a um futuro
ilimitado. a magia do nacionalismo que transforma o acaso em
destino.(P.39) Anderson no est sugerindo que o nacionalismo tenha
substitudo a religio. O que ele est fazendo alinhando o
nacionalismo no a ideologias polticas conscientemente adotadas, mas
a sistemas culturais. Religio e nacionalismo foram estruturados de
forma a serem incontestveis.(P.40) A Comunidade Religiosa.Todas as
comunidades clssicas se consideravam cosmicamente centrais, atravs
de uma lngua sagrada ligada a uma ordem supra-terrena de poder.
Essas comunidades clssicas ligadas por lnguas sagradas tinham o
carter diferente das comunidades imaginadas das naes modernas: a
confiana no sacramento nico de usas lnguas e da a aceitao de novos
membros.O rabe para os muulmanos, o latim para os cristos e o
mandarim para os budistas. Apesar destas serem lnguas mortas para a
maioria de seus seguidores, elas funcionavam como smbolos para
todos. Unindo fiis de regies diferentes sob os signos do rabe, do
mandarim e do latim. Uma vez aprendido os smbolos, independente da
regio e da lngua nativa, a pessoa era aceita naquela religio.(P.47)
O Reino Dinstico.(P.48) Hoje em dia, talvez seja difcil sentir
empatia com um mundo onde o reino dinstico aparea como nico sistema
poltico vivel. Pois a monarquia contraria todas as concepes
modernas da vida poltica. A realeza opera tudo de um centro
elevado, tem sua legitimidade por via divina e no da populao, que
composta por sditos e no por cidados.Hoje o Estado opera sobre cada
centmetro quadrado de um territrio legalmente demarcado. Mas
antigamente os Estados eram definidos por centros, com fronteiras
porosas e indistintas. Da o paradoxo da facilidade com que esses
reinos pr-modernos conseguiram manter seu domnio sobre populaes
heterogneas por longo tempo.Deve-se lembrar que esses antigos
Estados se expandiam no s pela guerra como tambm por uma poltica
sexual de casamentos entre dinastias.(P.51) Percepes
Temporais.Contudo, um erro pensar que comunidades imaginadas das
naes teriam simplesmente surgido a partir das comunidades
religiosas e dos reinos dinsticos substituindo-as.(P.52) Por sob o
declnio das comunidades, lnguas e linhagens sagradas estava
ocorrendo uma transformao nos modos de compreender o mundo, que
possibilitou pensar a nao.(P.56) A ideia de um organismo sociolgico
atravessando cronologicamente um tempo vazio e homogneo a analogia
de nao, que tambm concebida como uma comunidade slida percorrendo
constantemente a histria, seja em sentido ascendente ou
descendente. (P.57) Um americano nunca vai conhecer, e nem sequer
saber o nome dos 240 milhes de compatriotas. Ele no tm ideia do que
esto fazendo a cada momento. Mas tem plena confiana na atividade
constante, annima e simultnea deles.(P.69) Recapitulando, Anderson
sustenta que a prpria possibilidade de imaginar a nao s surgiu
historicamente quando, e onde, trs concepes culturais fundamentais
perderam o domnio sobre a mentalidade do homem.A primeira a ideia
de que uma determinada lngua escrita oferece acesso privilegiado
verdade ontolgica.A segunda a crena de que a sociedade se organiza
naturalmente em torno e abaixo de centros elevados (monarcas que
governavam por graa divina).O terceiro uma concepo da temporalidade
em que a cosmologia e a histria se confundem, e as origens do mundo
dos homens so essencialmente as mesmas.O declnio lento e irregular
dessas convices mutualmente entrelaadas, primeiro na Europa
Ocidental e depois em outros lugares, sob o impacto da transformao
econmica, das descobertas sociais e cientficas e do desenvolvimento
de meios de comunicao cada vez mais velozes, levou a uma brusca
clivagem entre cosmologia e histria.(P.70) Desse modo, no admira
que se iniciasse a busca de uma nova maneira de unir
significativamente a fraternidade, o poder e o tempo. O elemento
que mais catalisou e fez frutificar essa busca foi o capitalismo
editorial, que permitiu que as pessoas, em nmeros sempre muito
maiores, viessem a pensar sobre si mesmas e a se relacionar com as
demais de maneiras radicalmente novas.
(P.71) Cap.2: As Origens da Conscincia Nacional.A imprensa foi
determinante para a criao de ideias inteiramente novas sobre a
simultaneidade. E a nao se tornou to popular dentro deste tipo de
comunidade principalmente graas ao capitalismo. (P.73) Pois, sendo
a grfica uma empresa capitalista ela buscava cada vez mais mercado
e imprimia mais e mais livros.(P.75) Trs foram os fatores
vernaculizantes[1] do capitalismo: Primeiro, a mudana do prprio
latim. Segundo, o impacto da Reforma e dos atos de Martinho Lutero.
A aliana entre o protestantismo e o capitalismo editorial,
explorando edies populares baratas, logo criou novos e vastos
pblicos leitores, entre eles comerciantes e mulheres que sabiam
pouco ou quase nada de latim. E o terceiro, foi a difuso lenta,
geograficamente irregular de determinados vernculos como
instrumento de centralizao administrativa. (P.76) A fragmentao da
Europa ps fim do Imprio Romano significava que nenhum soberano
poderia monopolizar o latim (como os imperadores chineses faziam
com o mandarim) e converte-lo em sua lngua oficial, j que o latim
no era centralizado.(P.82) Podemos resumir que a convergncia do
capitalismo e da tecnologia da imprensa sobre a fatal diversidade
da linguagem humana criou a possibilidade de uma nova forma de
comunidade imaginada, a qual, em sua morfologia bsica, montou o
cenrio para a nao moderna.(P.84) Cap. 3: Pioneiros Crioulos[2].Em
primeiro lugar, quer se pense no Brasil, nos EUA ou nos pases
hispnicos, a lngua no era um elemento que os diferenciasse das
respectivas metrpoles imperiais. Todos inclusive os EUA, eram
estados crioulos, formados e liderados por gente que tinha a mesma
lngua e a mesma ascendncia do adversrio a ser combatido. (P.85) Na
verdade, cabe dizer que a lngua nunca se colocou como questo nesses
primeiras lutas de libertao nacional.Em segundo lugar, boa parte do
hemisfrio ocidental no segue a tese de Nairn de que o nacionalismo
moderno esteve ligado ao batismo poltico das classes inferiores
pela classe mdia descontente que tentava canalizar as energias
populares em favor de novos estados. Pelo menos na Amrica Central e
do Sul, a classe mdia ao estilo europeu era insignificante no sculo
XVIII.(P.86) Longe de tentar conduzir as classes inferiores vida
poltica a elite tinha medo dela. Ainda era fresca a lembrana das
revoltas de Tupac Amar no Per e de Toussaint LOuverture no
Haiti.(P.87) O movimento Latino-Americano pela independncia eram de
pouca espessura social e no entanto eram movimentos de independncia
social.(P.88) Eis que surge o enigma: por que foram precisamente as
comunidades crioulas que desenvolveram concepes to precoces sobre
sua condio nacional, bem antes que a maior parte da Europa? Por que
essas colnias, geralmente com grandes populaes oprimidas e que no
falavam o espanhol, geraram crioulos que redefiniram
conscientemente essas populaes como integrantes de uma mesma
nacionalidade e a Espanha como inimigo estrangeiro? Por que o
imprio Hispano-americano que havia existido serenamente por quase
trs sculos se fragmentou em dezoito Estados diferentes?Os dois
fatores geralmente apresentados so, o aumento do controle
madrilenho e a difuso das ideias do iluminismo.(P.89) A vitria das
13 colnias (1770) e o inicio da Revoluo Francesa (1789) tambm
exerceram vigorosa influncia.(P.90) Essas explicaes, apesar de
importantes, no explicam por que Chile, Venezuela e Mxico se
mostraram emocionalmente plausveis e politicamente viveis, e nem
por que San Martn disse que certos aborgenes deviam ser
identificados como peruanos. Tambm no explica os sacrifcios feitos,
pois muitas pessoas perderam propriedades e at mesmo a vida nessa
empreitada.(P.91) A moldagem inicial das unidades administrativas
americanas foi, em certa medida arbitrria e fortuita. E a falta de
comunicao entre elas possibilitou a fragmentao.Alm disso, a poltica
comercial de Madri fez com que as unidades administrativas se
transformassem em zonas econmicas distintas. Sendo ainda o comrcio
entre elas proibido.(P.92) Para entender como as unidades
administrativas puderam, ao longo do tempo, serem vistas como
terras ptrias, no s nas amricas, mas tambm em outras partes do
mundo, preciso observar de que modo as organizaes administrativas
criam significado.(P.93) Durante o perodo das religies, a amplitude
geogrfica de uma religio era determinada pela peregrinao que estes
fiis faziam para Roma, Meca ou Benares. Em Meca encontravam-se
pessoas das mais distantes regies da frica, sia e Europa o que dava
a ideia do alcance do islamismo e a sua amplitude geogrfica.(P.94)
Com a ascenso das monarquias absolutistas e a tentativa deste reis
de unificar o reino que era fragmentado pela nobreza feudal, outro
tipo de viagem surgiu para demarcar o territrio. O mensageiro real,
como funcionrio publico que viajava todo o territrio demarcando-o
conforme o alcance de suas viagens.(P.95) A intercambialidade dos
documentos, que reforava a intercambialidade dos homens, foi
alimentada pelo desenvolvimento de uma lngua oficial padronizada.
Qualquer lngua escrita em princpio, serviria para essa funo, como
mostra a pomposa sucesso, entre os sculos XI e XIV, do anglo-saxo,
latim, normando e mdio-ingls em Londres. Com a vernaculatizao da
lngua houve um aumento da centralizao, impedindo que funcionrios de
Madri intercambiassem com os de Paris por exemplo. Sendo a expanso
ultramarina europeia uma extenso fracassada deste modelo.A tendncia
absolutista de promover os funcionrio mais pelo mrito do que pelo
bero no foi efetiva nas colnias. Dos 170 vice-reis somente 4 eram
crioulos.(P.97) Alm de barrarem suas peregrinaes. Se um funcionrio
espanhol podia andar todo o continente americano, o funcionrio
crioulo ficava restrito ao seu territrio. Seu movimentos laterais
eram restritos, assim como sua ascenso vertical.(P.100)
Indiretamente, o Iluminismo tambm ajudou a cristalizar uma distino
irreversvel entre metropolitanos e crioulos. Os textos de Rousseau
e Herder de que o clima e a ecologia tinham um impacto decisivo
sobre a formao da cultura e do carter, afastou ainda mais
metropolitanos e crioulos que eram tidos como selvagens e
inadequados para cargos mais elevados.(P.101) At aqui, dedicamos
nossa ateno aos mundos dos funcionrios da Amrica, que apesar de
importantes eram em dimenses muito reduzidas.A peregrinao dos
vice-reis no teria nenhuma consequncia enquanto a extenso
territorial no pudesse ser imaginado como nao e isso s se deu com o
surgimento do capitalismo tipogrfico. (P.102) A imprensa chegou
cedo a Nova Espanha, mas durante dois sculos ficou sobre rgido
controle da Coroa e da Igreja. Na Amrica do Norte a imprensa nem
existia, mas no sculo XVIII houve uma revoluo tipogrfica nos
EUA.Benjamim Franklin est intimamente ligado ao nacionalismo
crioulo na Amrica do Norte. Contudo, deve-se entender que a
imprensa s se desenvolveu nos EUA quando os tipgrafos descobriram
uma nova forma de renda o jornal! Na Amrica Espanhola ocorreram
processos semelhantes, contudo de modo mais lento.(P.103) No incio
estes jornais eram meramente informativos (datas de chegada e
partida de navios, preos vigentes, casamentos, decretos, etc). Foi
s uma questo de tempo at aparecerem elementos polticos.(P.104) Um
trao marcante desses jornais era o seu carter local. E no existia a
ideia de simultaneidade entre as diversas regies do imprio
espanhol. Um mexicano poderia receber informaes sobre os fatos
ocorridos em Buenos Aires, e estes fatos lhe parecerem semelhantes
mas no partes integrantes deles.Nesse sentido, o malogro da
experincia hispano-americana e, criar um nacionalismo para toda
regio reflete o nvel de desenvolvimento capitalista e tecnolgico do
sculo XVIII e o atraso local do capitalismo e da tecnologia
espanhola na administrao do imprio.(P.105) Os crioulos
norte-americanos estavam numa situao mais favorvel para concretizar
a ideia de Amrica. As 13 colnias eram relativamente pequenas e seus
centros estavam em dinmica comunicao, alm de haver traos bastante
fortes entre seus respectivos habitantes, tanto pela imprensa
quanto pelo comrcio. Sem contar que o avano para o oeste foi feito
por pessoas do leste.(P.106) Benedict Anderson quis explicar neste
capitulo que no foi o liberalismo e o iluminismo os criadores da
ideia de nao, mas sim os funcionrio-peregrinos e a imprensa.(P.107)
Cap. 4: Velhas lnguas, novos modelos.O final da era dos movimentos
vitoriosos de libertao nacional nas Amricas coincidiu com o inicio
da era do nacionalismo que entre 1820 e 1920, mudaram a face do
Velho Mundo, dois traos notveis os diferenciam de seus
predecessores.1 Lnguas impressas nacionais: Elas foram de
fundamental importncia ideolgica e poltica (enquanto o espanhol e o
ingls nunca foram questes relevantes na Amrica revolucionria).2
Todos eles funcionaram a partir de modelos deixados por seus
antecessores.Foi assim que na Europa a nao se tornou objeto de
aspirao consciente a ser buscado, e no uma perspectiva de mundo que
ganhou foco aos poucos. Assim veremos que nao foi uma inveno sem
patente copiada e reproduzida vrias e vrias vezes.Neste captulo o
objeto de anlise ser a lngua impressa e sua cpia pirata.(P.108) A
ideia de lngua como propriedade privada de uma nao teve enorme
influncia na Europa oitocentista e na teorizao do
nacionalismo.(P.109) Se durante a Idade Mdia o homem era incapaz de
conceber a distncia temporal entre sua poca (que ele acreditava ser
o fim das eras, pois o Apocalipse era algo iminente) e a Idade
Antiga do Novo e do Velho Testamento. Neste momento surgiu a
histria comparada que levou concepo indita de modernidade que era
contraposta antiguidade.Durante o sculo XVI, a descoberta europeias
de civilizaes grandiosas (China, Japo, ndia) e do Mxico Asteca e do
Per Incaico, mostrou um irremedivel pluralismo humano. De modo
geral essas civilizaes tinham se desenvolvido autonomamente da
Europa, da cristandade, da Antiguidade e at mesmo do homem: pois
suas genealogias no remetiam ao den. Apenas o tempo vazio e
homogneo lhes ofereceu acomodao.(P.110) Com efeito, os
descobrimentos e as conquistas tornou possvel pensar a Europa como
apenas uma entre muitas civilizaes, alm de provocar uma revoluo nas
ideias europeias sobre as lnguas.(P.111) Com o estudo comparado das
lnguas, acabou-se com a ideia de que o hebreu era a nica lngua
antiga ou que possua origem divina. A partir da, as antigas lnguas
sagradas (latim, grego e hebreu) foram obrigadas a se misturar em p
de igualdade com a vastido de lnguas plebeias que agora eram rivais
no mercado editorial. Se todas as lnguas eram mundanas todas
mereciam estudo e admirao. Mas de quem? Logicamente, de seus novos
donos, os falantes e leitores nativos de cada lngua, pois agora
nenhuma pertencia a Deus.(P.112) Segundo Seton-Watson o sculo XIX
na Europa, foi o sculo dos linguistas de todas as reas. Estes
intelectuais foram fundamentais para a formao do nacionalismo
europeu com a criao de seus dicionrios monolngues que eram o
tesouro de cada lngua. J os dicionrios bilngues colocavam em p de
igualdade todas as lnguas. (P.117) claro que todos esses
lexicgrafos, fillogos, gramticos, folcloristas, jornalistas e
compositores no desenvolviam suas atividades revolucionrias no
vazio. (P.118) Afinal produziam para o mercado editorial e assim
para o publico consumidor. Contudo o numero de letrados naquela
poca era pequeno.Na metade do sculo XIX, a Europa aumentou seus
gastos pblicos. Em alguns pases em mais de 90%. A expanso
burocrtica criou mais vagas no Estado e agregou classes sociais
muito variadas. Criando uma grande classe mdia burocrtica em quase
todos os pases europeus.(P.119) J o surgimento de uma burguesia
mercantil e industrial foi algo extremamente irregular.Benedict
Anderson considera a burguesia como a primeira classe a construir
uma solidariedade a partir de uma base essencialmente imaginada.
Diferente da nobreza que necessitava se casar para estreitar laos
com outros nobres, a burguesia era ligada apenas por acordos. Os
burgueses no precisavam se conhecer, nem casar seus filhos. Mas
enxergavam a existncia de milhares e milhares e outros parecidos
com eles, atravs de uma lngua impressa, j que uma burguesia
iletrada e quase impossvel.(P.123) Com o aumento da alfabetizao,
por toda parte ficou mais fcil granjear apoio popular, as massas
descobrindo uma nova glria na consagrao das lnguas que elas sempre,
humildemente haviam falado.At certo ponto a formulao de Nairn
correta: de que a nova intelectualidade de classe mdia do
nacionalismo tinha de convidar as massas para a histria; e o
convite deveria ser feito numa lngua que eles entendessem.Mas por
que o convite foi to atraente e por que alianas to diferentes
puderam envi-los. Para responder veremos a questo da cpia
pirata.(P.127) Cap. 5: Imperialismo e Nacionalismo Oficial.No
decorrer do sculo XIX, a revoluo filolgica-lexicogrfica e o
surgimento de movimentos nacionalistas na Europa, frutos no s do
capitalismo mas da elefantase dos estados dinsticos criaram vrias
dificuldades culturais e polticas para muitas dinastias dominantes
que no tinham nacionalidade.(P.128) Na Europa continental, parentes
da mesma famlia dinsticas governavam estados diferentes e at
rivais. Que nacionalidade poderamos atribuir aos Bourbon na Frana e
na Espanha, aos Hohenzollern na Prssia e na Romnia, aos Wittelhach
na Bavria e na Grcia?Vimos tambm que estas dinastias escolheram
como lnguas vernaculares oficiais as mais convenientes para
elas.Contudo na Europa existia a convico de que as lnguas eram
propriedades pessoais de grupos muito especficos e que esses grupos
imaginados como comunidades, tinham o direito de ocupar uma posio
autnoma dentro de uma confraria de iguais.(P.131) A chave para
situar o nacionalismo oficial fuso deliberada entre a nao e o
imprio dinstico lembrar que ele se desenvolveu depois, e em reao
aos movimentos nacionais populares que proliferavam na Europa desde
1820. Se esses nacionalismos tinham se modelado pelas histrias
americana e francesa, agora se tornavam modulares. Bastava apenas
um certo truque para que o imprio se tornasse um travesti nacional
atraente.Anderson analisa trs casos diferentes de nacionalismo
oficial, o Russo, o Ingls e o Japons.(P.160) Concluindo,
sustentamos que, a partir do sculo XIX dentro da Europa
desenvolveram-se nacionalismos oficiais. Nacionalismos
historicamente impossveis antes do surgimento de nacionalismos
lingusticos populares, pois no fundo, foram reaes dos grupos de
poder sobretudo dinsticos e aristocrticos ameaados de excluso ou
marginalizao nas comunidades imaginadas populares.(P.161) Tais
nacionalismos oficiais eram polticas conservadoras, para no dizer
reacionrias, adaptadas do modelo dos nacionalismos populares, em
larga medida espontneos, que os precederam.Em nome do imperialismo,
muitos polticas parecidas foram implantadas pelos mesmos tipos de
grupos nos vastos territrios asiticos e africanos no decorrer do
sculo XIX.Por fim, vimos que refratados em culturas e histrias no
europeias, eles foram adotados e imitados por grupos dirigentes
nativos nas poucas reas (Japo e Sio) que escaparam da sujeio
direta.(P.163) Cap. 6: A ltima Onda.A Primeira Guerra Mundial
trouxe ao fim a era das grandes dinastias. Em 1922, os Habsburgos,
os Hobenzollern, os Romanov e os Otomanos tinham acabado. A partir
da, a nome internacional era o Estado Nacional, de modo que mesmo
as potncias imperiais restantes compareciam Liga das Naes em trajes
nacionais e no mais em uniformes imperiais como nas poca do
Congresso de Berlim.Aps a II Guerra a mar de Estados Nacionais
atingiu seu auge. E em 1970 at o imprio portugus havia se tornado
coisa do passado.Os novos estados do segundo ps-guerra tm sua
prprias caractersticas, que seriam incompreensveis a no ser como
sucessores dos modelos que abordamos anteriormente.(P.164) Os novos
nacionalismos coloniais so semelhantes aos nacionalismos coloniais
de pocas anteriores pelo isomorfismo, entre a extenso territorial
de cada nacionalismo e a extenso territorial da unidade
administrativa imperial anterior.A semelhana no mera coincidncia
pois, est relacionada com a geografia das peregrinaes nacionais
anteriores.(P.165) Lembremos que no sculo XVII, a unidade
administrativa imperial adquiriu um significado nacional em parte
por que ela circunscrevia a ascenso dos funcionrio pblicos. O mesmo
vale para o sculo XX.Contudo, em fins do sculo XIX e sobretudo no
XX, essas viagens j no eram feitas apenas por alguns viajantes, e
sim por enormes multides graas a trs fatores:(P.166) 1:
Desenvolvimento e aprimoramento dos transportes. 2: A russificao
imperial tinha o seu lado prtico, alm do lado ideolgico. O enorme
tamanho dos imprios europeus impossibilitava a contratao de
funcionrios pblicos apenas oriundos da metrpole. Sendo necessrio
contratar entre os colonos. 3: Houve uma difuso do ensino moderno,
no s do Estado Colonial, mas tambm particulares, religiosos e
leigos. Essa expanso se deu para completar os cargos pblicos
coloniais e pelo entendimento do colono de que o conhecimento
importante.(P.167) De modo geral, concorda-se que as camadas
intelectuais foram fundamentais para o surgimento do nacionalismo
nos territrios coloniais. Uma vez que era impedido aos nativos
desempenha funes realmente rentveis.(P.170) Um trao interessante
desta intelectualidade nacionalista da colnia era sua juventude. Os
intelectuais era compostos, sobretudo, da primeira gerao
numericamente significativa a receber educao europeia.(P.197)
Revisando: a ltima onda do nacionalismo ocorreu em sua maioria nos
territrios colonizados da frica e da sia e foi uma reao ao novo
tipo de imperialismo mundial, possibilitado pelas realizaes do
capitalismo industrial.O nacionalismo oficial (solda entre o novo
princpio nacional e o velho principio dinstico) levou a russificao
nas colnias extra-europias. Os imprios se tornaram muito extensos
para serem governados por nacionais ento criaram escolas para
educar os nativos e formar quadros de subordinados especializados
para o Estado e para as empresas. Esses sistemas educacionais
criaram novos tipos de peregrinao (a estudantil) e o entrosamento
entre os estudantes peregrinos criou a base territorial para o
surgimento de novas comunidades imaginadas, onde os nativos puderam
se imaginar como nacionais.(P.199) Cap. 7: Patriotismo e
Racismo.Nos capitalismos anteriores Benedict Anderson tentou
delinear os processos pelos quais a nao veio a ser imaginada,
modelada, adaptada e transformada. Agora a hora de explicar porqu
das pessoas se disporem a morrer por tais invenes.Numa poca em que
to comum que intelectuais cosmopolitas e progressistas insistam no
carter quase patolgico do nacionalismo, nas suas razes encravadas
no medo e no dio do outro e nas afinidades com o racismo, cabe
lembrar que as naes inspiram amor, e em um amor de profundo
autosacrifcios.(P.200) Os frutos culturais do nacionalismo (poesia,
monumentos, musicas) mostram esse amor com clareza. Sendo muito
difcil encontrar elementos de dio e de desprezo.(P.202) A ideia de
sacrifcio supremo vem apenas como uma ideia de pureza, atravs da
fatalidade. Morrer pela ptria, assume uma grandeza moral que no se
pode comparar por morrer pelo Partido Trabalhista, ou pela Associao
Mdica Americana, pois esto so entidades nas quais pode-se ingressar
e sair a vontade. A grandeza de morrer pela Revoluo tambm deriva do
grau de sentimento de que ela algo fundamentalmente puro.(P.203)
Aqui voltamos lngua.1 Nota-se o carter primordial da lngua, mesmo
as sabidamente modernas. Ningum capaz de dizer a data em que nasce
uma lngua. Todas se avultam imperceptivelmente de um passado sem
horizonte. Assim, as lnguas se mostram mais enraizadas do que
praticamente qualquer outra coisa e ao mesmo tempo, o que nos liga
afetivamente ao mortos.2 Existe um tipo especfico de comunidade
contempornea que apenas a lngua capaz de sugerir. Tomemos o exemplo
dos hinos nacionais. Por mais banal que seja a letra e medocre a
melodia, h nesse canto uma experincia de simultaneidade.
Precisamente neste momento, pessoas totalmente desconhecidas entre
si pronunciam os mesmo versos seguindo a mesma msica.(P.208) Nairn
se enganou ao dizer que o racismo e o antissemitismo derivam do
nacionalismo.O fato que o nacionalismo pensa em termos de destinos
histricos, ao passo que o racismo sonha com contaminao eternas,
transmitidas desde as origens dos tempos por uma sequencia
interminvel de cpulas abominveis: fora da histria. Os negros devido
nodoa invisvel do sangue, sero sempre negros; os judeus devidos ao
smen de Abrao, sero sempre judeus.(P.209) Os sonhos do racismo tm,
na verdade, a sua origem nas ideologias de classe, e no nas de nao:
sobretudo nas pretenses de divindade entre os dirigentes e nas
pretenses de linhagem e de sangue azul ou branco entre os
aristocratas.(P.210) Onde o racismo se desenvolveu fora da Europa
no sculo XIX, sempre esteve associado com a dominao europeia por
duas razes. 1 Por causa do nacionalismo oficial e do processo de
russificao colonial. 2 O imprio colonial, com seu aparato
burocrtico e suas polticas russificantes permitiu a muitos
burgueses se fazerem aristocratas fora da corte central.(P.216)
Cap. 8: O Anjo da Histria.Comearemos este breve capitulo com as
guerras entre as republicas socialistas do Vietn, Camboja e
China.(P.222) Como foi dito anteriormente e se encaixa
perfeitamente neste caso os revolucionrios vietnamitas, cambojanos
e chineses, assim que conquistam o Estado, fazem uso de todas a
estrutura j existente em seu favor assim como o nacionalismo que j
existia. A guerra entre eles foi uma guerra de chancelaria.(P.226)
Cap. 9: Censo, Mapa e Museu.Na edio original deste livro, Anderson
escreveu que nas polticas de construo da nao dos novos Estados
vemos um grande entusiasmo nacionalista popular atravs dos meios de
comunicao, da educao, da administrao, e assim por diante.O que o
autor supunha em sua viso limitada daquela poca era que o
nacionalismo oficial dos mundos colonizados da frica e da sia
vinham diretamente modelados sobre o nacionalismo oficial dos
estados dinsticos europeus do sculo XIX.Contudo, ele percebeu que a
genealogia prxima deveria ser buscada na criao da imagem do Estado
Colonial.(P.227) Por isso, para entender melhor iremos estudas 3
instituies de poder: o censo, o mapa e o museu. Que Anderson
ressalta o fato de como elas moldaram a forma como as potncias
coloniais viam e tentavam manter o controle sobre suas
colnias.(P.222) O Censo.A ideia fictcia do censo que todos esto
presentes nele, e que todos ocupam um e apenas um lugar
extremamente claro e sem fraes. Essa uma maneira de criar imagens,
adotada pelo Estado colonial tinha origens muito anteriores s do
censos dos anos 1870.(P.236) O Mapa. Aos poucos localidades como
Cairo e Meca deixaram de ser vistas somente como simples
localidades numa geografia muulmana e passaram a ser pontos em
folhas de papel que incluam outros pontos como Caracas, Paris e
Moscou. A relao plana entre estes pontos no tinham relao com a
importncia real destes lugares e sim determinadas
matematicamente.(P.246) O Museu.O museu e a imaginao museolgica so
profundamente polticos. Tentando criar uma imagem gloriosa junto
populao do novo Estado.(P.253) Assim, mutuamente interligados,
censo, mapa e museu iluminam o estilo do pensamento do Estado
colonial tardio em relao a seus domnios. A urdidura desse
pensamento era uma grade classificatria totalizante que podia ser
aplicada com uma flexibilidade ilimitada a qualquer coisa sobre o
controle real ou apenas visual do Estado: povos, regies, religies,
lnguas, objetos produzidos, monumentos, etc. O efeito dessa grade
era sempre poder dizer que tal coisa era isso e no aquilo, que
fazia parte disso e no daquilo. Essa coisa qualquer era delimitada,
determinada e, portanto, enumervel.(P.256) Cap. 10: Memria e
Esquecimento.Espao: Novo e Velho.New York, Nueva Leon, Nouvelle
Orlans, Nova Lisboa, Nieuw Amsterdam. J no sculo XVI, os europeus
tinham comeado a adotar o estranho hbito de denominar lugares
remotos, primeiro nas Amricas e na frica, depois na sia, Austrlia e
Oceania, como novas verses de velhos topnimos em suas terras de
origem. Alm disso, eles mantiveram a tradio mesmo em lugares que
passaram para outros senhores imperiais, de modo que Nouvelle
Orlans se tornou New Orleans e Nieuw Zeeland para Nem
Zeland.(P.257) O que interessante nos nomes americanos dos sculos
XVI a XVIII novo e velho eram entendidos sincronicamente,
coexistindo dentro do tempo vazio e homogneo. Vizcaya ao lado de
Nueva Vizcaya, New London ao lado de London: o que mais indica
rivalidade entre irmos do que uma sucesso hereditria.Essa indita
novidade sincrnica s podia surgir historicamente quando houvesse
grupos considerveis de pessoas em condies de se conceberem vivendo
vidas paralelas s de outros grupos considerveis de gente. Entre
1500 e 1800, a construo de navios e os avanos tecnolgicos tornou
possvel a criao destas imagens. Pois a pessoa poderia morar no
planalto peruano, nos pampas argentinos ou na Nova Inglaterra e
mesmo assim sentir-se ligado a certas regies ou comunidades, a
milhares de quilmetros de distncia.(P.258) Para que esse senso de
paralelismo ou simultaneidade pudesse surgir e tambm ter vastas
consequncias polticas era necessrio que a distncia entre os grupos
paralelos fosse grande, e que o mais novo deles tivesse um tamanho
considervel e fosse estabelecido de forma duradoura, alm de estar
solidamente subordinado ao mais velho. Essas condies foram
encontradas nas Amricas, como nunca ocorrera antes por trs
motivos.1, a imensido do oceano impediram a gradual absoro dos
povos dentro de unidades polticos-culturais mais amplas como a que
submergiu a Esccia dentro do Reino Unido. 2 a migrao europeia para
a Amrica foi gigantesca. (P.259) 3 a metrpole imperial dispunha de
formidveis aparatos burocrticos e ideolgicos que permitiram
subjugar os crioulos por vrios sculos.(P.261) Essas fatores ajudam
a explicar por que o nacionalismo surgiu primeiro no Novo Mundo.
Alm de elucidar duas caractersticas peculiares das guerras
revolucionrias que assolaram o Novo Mundo entre 1776 e 1825. Pois
nenhum revolucionrio Crioulo sonhou em manter o imprio intacto
apenas transferindo a metrpole de uma sede europeia para uma sede
americana. Ou seja, no desejava-se que Nem London sucedesse Old
London, mas sim salvaguardar o paralelismo entre elas.(P.262) Alm
disso, apesar das guerras serem extremamente sangrentas, os
crioulos no precisavam temer o extermnio fsico nem a escravido, ao
contrrio do que ocorreu com tantos outros povos que estavam no
caminho do imperialismo europeu. Afinal, eles eram brancos, cristos
e falavam espanhol ou ingls, alm de serem os intermedirios entre as
colnias e o imprio. Eram guerras entre parentes, o que garantiu que
aps um certo perodo de ressentimento, fosse possvel reatar laos
culturais, as vezes polticos e econmicos.Tempo: Novo e Velho.Para
os crioulos do Novo Mundo, os estranhos topnimos discutidos acima
representam sua capacidade de se imaginarem como comunidades
paralelas e comparveis s da Europa; contudo alguns acontecimentos
sbitos em fins do sculo XVIII, conferiram a essa novidade um
significado inteiramente novo.(P.263) O primeiro foi a Declarao de
Independncia das Treze Colnias em 1776, e a sua defesa militar
republicana. Essa independncia e o fato dela ter sido republicana,
foi visto como algo inteiramente indito. Logo depois, em 1789,
houve a exploso no Velho Mundo com a Revoluo Francesa.Ambas, no
criaram um sentimento de continuidade, mas sim uma sensao de
ruptura radical com o passado. Nada exemplifica melhor isso do que
a abolio do calendrio cristo e a adoo do calendrio secular.(P.266)
Na Europa, os novos nacionalismos comearam a se imaginar
despertando de um sono. Imagem totalmente diferente do que ocorreu
na Amrica. Pois enquanto os nacionalistas das Amricas olhavam para
o futuro, os nacionalistas europeus buscavam suas glrias no
passado. Contudo, com o tempo essa duplicidade desapareceu e os
americanos comearam a buscar sua origem aborgene.(P.271) O
Fratricdio Tranquilizador.Enquanto Michelet, o historiador da
Revoluo Francesa, buscava resgatar as pessoas que morreram durante
Revoluo Francesa do esquecimento, evitando assim o seu
desaparecimento nas correntezas da histria, Renan surgiu com a
ideia da necessidade de esquecer certas coisas.(P.273) Para Renan,
j ter esquecido antigas tragdias um dever cvico contemporneo de
primeira importncia.O fratricdio tranquilizador a forma do Estado
criar uma capa sobre assuntos desconcertantes para ele. Como
massacres, guerras e crimes contra a humanidade. Contudo, o ato
deve ser distante temporalmente dos contemporneos. Um exemplo a
Guerra Civil Norte Americana, ensinada hoje nas escolas como uma
guerra entre irmos, algo que seria representado de maneira
diferente caso o pas estivesse dividido ao meio ainda hoje.(P.278)
A Biografia das Naes.(P.279) Assim como com as pessoas modernas, as
naes precisam gerar uma narrativa de identidade. Entretanto, na
histria secular de uma pessoa, h um comeo e um fim, j as naes no
possuem data de nascimento claramente identificada, e sua morte
(quando acontece) nunca natural. Como no h um criador original
praticamente impossvel criar uma genealogia de geraes, sendo a nica
maneira moldar a biografia das naes os recuos no tempo do presente
para o passado.